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Inter-relações entre Fotografia e Design

no mundo Pós-moderno
por Clara Állyegra Lyra
“A fotografia é, em síntese, uma linguagem universal, sem tradução específica, constituída
por uma leitura livre, sem normas e formalismos. Ela é intrinsecamente uma cópia virtual,
constituída de tempos fragmentados em uma realidade ocasional ou dirigida, obtida pelo
fotógrafo-autor. Poderíamos dizer que é uma verdade com autoria.”
Mário Bitt-Monteiro

“Com o daguerreotipo, todos poderão ter o seu próprio retrato - antes, eram só as
pessoas proeminentes; e ao mesmo tempo tudo é feito para nos dar um aspecto
exatamente igual - de sorte que só precisaremos de um retrato.”
Kierkgaard, 1854

Você ainda lembra do tempo em que a referência em


fotografia era a Kodak e a palavra Polaroid era sinônimo de
imagem instantânea? A fotografia nasce no momento em que a
representação do real fidedigno era uma novidade, um
momento este que contrasta radicalmente com as mais
variadas e populares formas de atuar sobre a imagem que
agora se propagam.

A fotografia evolui de um meio de trabalho de apropriação


exclusiva dos fotógrafos, que realizavam seu ofício de maneira
um pouco mágica e secreta, para a uma popularização e
democratização dos meios digitais. A atuação da empresa
Kodak foi determinante nesta caminhada, com seu slogan:
“Você clica e nós fazemos o resto por você”, ela explorava a
possibilidade de cada pessoa registrar suas próprias
lembranças, o que ocasionou um número infinito de imagens,
feito este impossível em outros tempos.
“Os meios de comunicação tomaram o lugar do mundo antigo. Mesmo que quiséssemos
recuperar esse mundo antigo, só poderíamos fazê-lo por meio de um estudo intensivo das
maneiras como os meios de comunicação o engoliram.”
Marshall McLuhan

Com a chegada da câmera digital, resultado de um mundo


cada vez mais imagético, a imagem digitalizada ganha ainda
mais popularidade devido as suas grandes e novas
possibilidades: câmeras portáteis, até mesmo dentro de
celulares, câmeras de baixo custo, independência do filme e do
processo de revelação, armazenamento de grande quantidade
de fotos em um computador, recriação de imagens e
distribuição das mesmas para qualquer lugar do mundo em
instantes.
Desta forma, o processo de captação da imagem se torna de
fácil utilização e de maneira independente. Agora, qualquer
pessoa, mesmo sem formação acadêmica, pode criar,
modificar e enviar imagens. Até mesmo os meios de
comunicação, volta e meia utilizam imagens captadas pelo
público comum. Este fato termina por abalar a credibilidade
dos fotógrafos e designers que atuam na área visual, pois a
imagem capturada se torna algo corriqueiro e trivial.
Contudo, esta mesma facilidade de captar e manipular as
imagens atua também em sentido inverso. Se por um lado,
atualmente, é fácil refazer imagens e torná-las mais atrativas,
por outro, o observador já não acredita mais que a imagem
que está sendo vista é uma expressão fiel da realidade.
O público que consome revistas femininas sabe, ou no mínimo
acredita que as fotos que exercitam seu imaginário foram
retocadas e modificadas para expressarem o padrão de
consumo do momento. Antigamente as revistas retratavam o
que era real e o que era imagem era uma verdade indiscutível.
A situação se repete nas embalagens e divulgação de
produtos. As primeiras publicidades mostravam o produto
real e exatamente este era encontrado no balcão das
mercearias. Hoje, o apelo estético se sobrepõe a veracidade
do produto, tanto que acreditamos ser normal a frase:
“imagens meramente ilustrativas”, mesmo que as mesmas não
sejam precisas com o produto adquirido.

Assim, o irreal se torna subliminarmente o “real aceito”. Mas


qual seria o caminho para aumentar a relação de valorização e
credibilidade da imagem? Muitas alternativas são viáveis, mas
todas passam pela mudança de atitude dos designers e
fotógrafos que demonstrando suas modificações nas imagens,
experimentando abusar das modificações ou clicando
pessoas reais (sem retoques) podem explorar e trazer para o
público a beleza e força da verdade e da realidade e a ilusão do
mundo imaginário e fantástico de suas mentes.
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