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PREPARATÓRIO PARA OAB

DISCIPLINA: DIREITO CIVIL


Professor: Dr. Flávio Tartuce

Capítulo 8 Aula 1
DIREITO DAS COISAS

Coordenação: Dr. Flávio Tartuce


Aula 1

Introdução e Posse

Quanto às principais diferenciações entre os direitos pessoais e o direito das coisas, interessante visualizar o
seguinte quadro comparativo:

DIREITO PESSOAL DIREITO DAS COISAS

1. Dualidade de Sujeitos: 1. Apenas um Sujeito:

a) Ativo (credor) a) Ativo

b) Passivo (devedor)

2. Regido pelo princípio da autonomia privada. 2. Regido pelo princípio da publicidade.

3. Segue rol exemplificativo, reconhecendo o 3. Segue rol taxativo (“ numerus clausus”) que
art. 425 NCC a possibilidade de novos consta no art. 1.225 do novo Código Civil.
contratos, criados pela vontade humana.
4. Eficácia “erga omnes”.
4. Eficácia “inter partes”.
Exemplo.: Propriedade
Exemplo.: Contratos

As obrigações reais ou "propter rem" (em razão da coisa) situam-se em uma zona intermediária entre o direito
real e o direito obrigacional, sendo conceituadas como obrigações "híbridas" (Sílvio de Salvo Venosa).
Surgem como obrigações pessoais de um devedor, por ser ele titular de um direito real, mas acabam
aderindo mais à coisa do que ao seu eventual titular, caso da dívida de condomínio, conforme art. 1.345 do
novo Código.

2. Da posse

2. 1. conceitos INICIAIS

Existem duas grandes escolas que procuram delimitar o conceito de posse.

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).”
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A) Teoria subjetivista ou subjetiva, cujo principal defensor foi Savigny. A posse, para essa corrente, possui dois
elementos:

- "Corpus" - elemento material, poder físico ou de disponibilidade sobre a coisa.

- “Animus domini" - intenção de ter a coisa para si, de exercer sobre ela o direito de propriedade.

O novo Código Civil não adotou essa corrente.

B) Teoria objetivista ou objetiva, cujo principal defensor foi Rudolf Von Ihering. Para constituir a posse, basta
dispor fisicamente da coisa ou mera possibilidade de exercer esse contato. Dispensa a intenção de ser dono.

A posse possui apenas um elemento, o "corpus", elemento material.

Entendemos que o novo Código Civil adotou parcialmente a teoria objetivista de Ihering, de acordo com o
que consta do artigo 1.196 da atual codificação. Dessa forma, o locatário, o comandatário, entre outros,
para o nosso direito, são possuidores e como tais podem utilizar as ações possessórias, inclusive contra o
proprietário.

O art. 1.196 do Código Civil define a posse como sendo o exercício pleno ou não de alguns dos poderes
inerentes à propriedade. Portanto posse não depende de propriedade. O Código atual perdeu a
oportunidade de trazer uma teoria mais avançada quanto à posse, aquela que considera a sua função Social
(Raymond Saleilles). Entretanto, já adiantamos que tal teoria consta do Projeto nº 6.960/02, de autoria do
Deputado Ricardo Fiúza, pelo qual o artigo 1.196 terá a seguinte redação: "considera-se possuidor todo
aquele que tem poder fático de ingerência sócio-econômica, absoluto ou relativo, direto ou indireto, sobre
determinado bem da vida, que se manifesta através do exercício ou possibilidade de exercício inerente à
propriedade ou outro direito real suscetível de posse". A função social da posse, ademais, é implícita na
codificação emergente, pela valorização da "posse trabalho", conforme arts. 1.238, Parágrafo Único;
1.242, Parágrafo Único; e 1.228, §4º e 5º, todos do novo Código Civil.

Não se pode confundir a posse com a detenção. O detentor ou fâmulo de posse detém a coisa apenas em
virtude de uma situação de dependência econômica ou de um vínculo de subordinação.

2. 2. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE.

- Posse direta (ou imediata) - aquela que é exercida por quem detém materialmente a coisa; poder físico
imediato.

- Posse indireta (ou mediata) - exercida através de outra pessoa, havendo mero exercício de direitos.

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).”
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- Posse justa - é a que não é violenta, clandestina ou precária, adquirida de forma legítima, sem vício jurídico
externo (art. 1.200 do nCC)

- Posse injusta - é a posse adquirida viciosamente, por meio de violência, clandestinidade ou precariedade.
São suas espécies:

a) Posse violenta - é a obtida através de esbulho, for força física ou violência moral. Assemelha-se ao crime de
roubo.

b) Posse clandestina - é a obtida às escondidas, às ocultas; assemelhada ao furto.

c) Posse precária - é a obtida com abuso de confiança, não restituindo a coisa ao final do contrato. Tem forma
assemelhada ao crime de estelionato ou à apropriação indébita.

ATENÇÃO: A posse violenta e a posse clandestina podem ser convalidadas, conforme art. 1.208, segunda
parte, do nCC. A regra não se aplica à posse precária. Tal convalidação, para a posse violenta e clandestina,
ocorrerá caso o possuidor anterior não ingresse com a ação possessória cabível no prazo de um ano e dia da
ocorrência do esbulho ou turbação.

- Posse de boa-fé - quando o possuidor ignora os vícios ou os obstáculos que lhe impedem a aquisição da
coisa ou do direito possuído.

- Posse de má-fé - situação em que alguém sabe do vício que acomete a coisa, mas mesmo pretende exercer
domínio fático sobre a mesma, tendo o possuidor ciência do vício.

- Posse com título ("jus possidendi") - situação em que há um documento representativo da transmissão da
posse, como ocorre na vigência de um contrato de locação ou de comodato, por exemplo.

- Posse sem título ("jus possessionis") - situação em que não há documento representativo da transmissão do
domínio fático, como ocorre quando alguém acha um tesouro.

- Posse nova - é a que conta com menos de um ano e um dia. Processualmente, se a invasão ocorreu há
menos de um ano e um dia poderá o prejudicado ingressar com a ação de reintegração de posse pelo rito
especial, pleiteando liminar "inaudita altera par" para desocupação - ação de força nova espoliativa
(art. 924 CPC).

- Posse velha - é a que conta com pelo menos um ano e um dia. Se a turbação, a ameaça e o esbulho forem
"velhos", não caberá a "ação de força nova espoliativa", de rito especial e com pedido liminar, mas tão
somente a "ação de força velha espoliativa", de rito ordinário, não cabendo o pedido liminar (art. 924 CPC).

- Posse "ad interdicta" - consistindo regra geral, é a que pode ser defendida pelas ações possessórias, mas
não conduz usucapião.

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
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- Posse "ad usucapionem" - exceção à regra, é a que se prolonga por determinado lapso temporal previsto na
lei, admitindo-se a aquisição do domínio pelo usucapião, desde que obedecidos os requisitos legais. É
aquela posse com "olhos à usucapião", pela presença dos seus elementos.

2. 3. EFEITOS PRINCIPAIS DECORRENTES DA POSSE.

A) Faculdade de invocar os interditos: os interditos são as ações possessórias diretas. O possuidor tem a
faculdade de propor ações possessórias objetivando mantê-lo na posse ou ser-lhe restituída a posse. Para
tanto devem ser observadas as regras processuais previstas a partir do art. 920 do CPC, para o caso das
ações de rito especial. São ações possessórias diretas:

- Interdito proibitório: proteção preventiva da posse, ante a ameaça de turbação ou esbulho, visando impedir
que se consume a violência. Geralmente, comina-se pena pecuniária em caso de transgressão da ordem
judicial.

- Manutenção da posse: se o possuidor sofre turbação, denominado como o ato que embaraça, que
incomoda, que molesta o livre exercício da posse, poderá ingressar com ação visando impedir que o esbulho
se concretize.

- Reintegração de posse: se o possuidor for esbulhado ou despojado da posse, por violência,


clandestinidade, ou atos cumulados. O esbulho pode então ser conceituado como a privação, a subtração
da posse.

B) Faculdade da legítima defesa da posse e do desforço imediato: previstas no art. 1.210, §1º, do nCC,
também são denominadas autotutela, autodefesa, defesa "incontinenti" ou defesa direta.

C) Efeitos quanto aos frutos e benfeitorias.

Frutos Benfeitorias

Possuidor de boa-fé (ex: SIM Benfeitorias necessárias e


locatário do imóvel) úteis (direito de retenção e
indenização). Poderá ainda
levantar as voluptuárias, não
havendo prejuízo ao bem
principal.

Possuidor de má-fé (ex: NÃO. Responde pelos frutos Benfeitorias necessárias


invasor do imóvel). não colhidos. (somente direito de
indenização, não de retenção)

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2. 4. COMPOSSE OU COMPOSSESSÃO.

A composse é a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios
sobre a mesma coisa (art. 1.199 do nCC). Trata-se de posse em comum, por duas ou mais pessoas, sobre a
mesma coisa.

"Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A
violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do
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