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ALONGAMENTO MUSCULAR: UMA

VERSÃO ATUALIZADA

Adélia Oliveira da Conceição 1

George Alberto da Silva Dias 2

RESUMO:
O presente artigo apresenta-se como revisão bibliográfica sobre alongamento muscular, abor-
dando seus principais conceitos, as características dos tecidos corporais envolvidos, principais
métodos e alguns cuidados necessários para a boa aplicação da terapia. Dessa forma o objetivo
do texto é desmistificar alguns aspectos sobre o assunto que possam interferir na boa pratica das
técnicas, favorecendo, assim, um melhor conhecimento sobre o assunto para os profissionais
da área da saúde, em especial aos fisioterapeutas.

*
Acadêmica do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitora das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
**
Acadêmico do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitor das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
***
Artigo realizado sob orientação da docente Mônica Cardoso da Cruz do curso de Fisioterapia na disciplina Cinésioterapia e Especialista
em Fisioterapia Neurofuncional.

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 1


INTRODUÇÃO do a lesões cumulativas do apa- PROPRIEDADES DOS
relho locomotor (ALLSEN, TECIDOS MOLES
1999).
O alongamento é uma
manobra terapêutica utilizada As atividades de flexibi-
lidade são comumente recomen- Os métodos de alonga-
para aumentar o comprimento mento empregados nas disci-
(alongar) de tecidos moles que dadas como atividade pré-aque-
plinas de atletismo, dança, fisi-
estejam encurtados (KISNER, cimento ou como procedimento
pós-aquecimento conforme é oterapia e ioga podem variar
1998), podendo ser definido tam- bastante. Contudo, determinado
bém como técnica utilizada para recomendado pelos autores
(BRANDY, 2003), (HALL; conhecimento é necessário em
aumentar a extensibilidade todas essas disciplinas. Um co-
músculotendinosa e do tecido BRODY, 2001) e
nhecimento básico do mecanis-
conjuntivo periarticular, de tal (ALLSEN,1999), são utilizados
também para manter o funcio- mo neuromuscular normal, in-
modo contribuindo para aumen- cluindo desenvolvimento motor,
tar a flexibilidade articular namento normal do músculo evi-
tando lesões, melhorar o desem- anatomia, neurofisiologia e
(HALL; BRODY, 2001). cinesiologia, é muito útil, se não
penho de atletas e auxiliar na
A flexibilidade sofre in- essencial. Além disso, qualquer
reabilitação pós lesão. Como
fluência de três fatores princi- conduta terapêutica é indicado que seja o método de alongamen-
pais: a estrutura óssea da arti- to usado, o profissional da área
para aumentar a amplitude arti-
culação, a quantidade de tecido cular, quando a causa de restri- da saúde deve estar completa-
periarticular e a extensibilidade mente familiarizado com a es-
ção de ADM for o componente
de tendões, ligamentos e tecido trutura e a função da articula-
musculotendineo (BRADY,
muscular que cruzam a articu- 2003). ção em questão. O profissional
lação (ALLSEN, 1999). Com a deve saber não somente o grau
Tendo em vista estes de limitação do movimento, mas
diminuição da extensibilidade o
músculo perde a capacidade de aspectos, as manobras de flexi- também quais tecidos são res-
se deformar, restringindo a am- bilidade articular são de grande ponsáveis pelas limitações
plitude articular na direção do utilidade na pratica diária da fi- (ALTER, 1999).
movimento do qual é antagonis- sioterapia, já que constantemen-
te estes profissionais lidam com Os tecidos moles vari-
ta (BRANDY, 2003), assim am em características físicas e
como hábitos sedentários são um pacientes que apresentam res-
mecânicas. Tanto os tecidos
dos maiores responsáveis pela trição de amplitude articular
decorrentes de fatores intrínse- contráteis como os não-
perda de flexibilidade, pois a contráteis são extensíveis e elás-
falta de uso da estrutura em ar- cos ou extrínsecos, por isso se
faz necessário o conhecimento ticos, mas os tecidos contráteis
cos extremos de movimento ar- também são contraíveis.
ticular resulta na adaptação dos claro e objetivo deste assunto,
Contratilidade é a habilidade de
tecidos conjuntivos a compri- esclarecendo pontos de vista ou
pensamentos errôneos a respei- um músculo para encurtar e
mentos menores com conse- desenvolver tensão ao longo de
qüente perda da extensibilidade. to desta técnica, que possam in-
terferir na boa prática das ma- sua extensão. Distensibilidade
Além disso, a redução da flexi- (comumente conhecida como
bilidade sendo responsável por nobras que podem ser utilizadas
extensibilidade) é a proprieda-
movimentos corporais incorre- para o ganho de flexibilidade
articular. de do tecido muscular em au-
tos contribui para o uso viciosos mentar o comprimento em res-
da estrutura anatômica gerando posta a uma força aplicada ex-
estresse mecânico e predispon- ternamente (ALTER, 1999).

2 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


Assim quanto menor a capazes de um leve grau de haja adaptação das fibras ao novo
distensibilidade de um tecido extensibilidade. Elas são, con- comprimento.Nessa posição
mole, maior deve ser a força tudo muito resistente ao estresse uma leve tensão deve ser per-
que pode produzir um alonga- de tração. Logo, são os princi- cebida, o alongamento progride,
mento. Um tecido de alta pais constituintes de estruturas, aumentando de intensidade, à
distensibilidade não pode resis- como ligamentos e tendões que medida que o paciente se adapta
tir a uma força de alongamen- são submetidos a uma força de a posição para então adquirir um
to, assim como um tecido que é tração (ALTER, 1999). Portan- novo posicionamento.
muito rígido, e precisará de uma to de acordo com as modifica- Dentre as vantagens do
força maior que o tecido me- ções ocorridas no tecido conjun- alongamento estático Allsen
nos rígido para produzir o mes- tivo derivam de tensões a ele
(1999), descreve que contribui
mo grau de deformação. As- impostas, se a tensão for pro- para o alivio das dores muscu-
sim, os tecidos moles com mai- longada e contínua as molécu-
lares e para melhora da flexibi-
or rigidez são menos suscetí- las e os feixes do tecido conjun- lidade, já Hall e Brody (2001)
veis a lesões como distensões e tivo se alongam (BIENFAIT, acrescentam que reduzem o gas-
entorses (ALTER, 1999). 1995).
to de energia global, diminuem
Os tecidos moles não a possibilidade de ultrapassar a
são perfeitamente elásticos. extensibilidade tecidual e dimi-
MÉTODOS DE
Além do seu limite elástico, eles nui a possibilidade de causar
não podem retornar a seu com- ALONGAMENTO dores musculares, Brandy
primento original uma vez que (2003) afirma também que ele
a força de alongamento é remo- reduz a atividade dos fusos mus-
Existem três tipos bási-
vida. A diferença entre o com- culares e aumenta consideravel-
cos de alongamento, o estático,
primento original e o novo com- mente a atividade dos órgãos
o balístico e por facilitação
primento é chamada de disposi- tendinosos de golgi (OTG).
neuromuscular proprioceptiva
ção permanente (alongamento O alongamento Balís-
(FNP). No método de alonga-
plástico ou deformação) e
mento estático, músculos e te- tico, o músculo é levado a se
correlaciona-se a uma lesão contrair e relaxar de forma rá-
cidos são estirados e mantidos
tecidual menor (ALTER, 1999).
em posição estacionária em seu pida e repetida, levando a
Os tecidos não maior comprimento possível por deflagração de estímulos que
contráteis são constituídos prin- um período de 15 a 60 segundos mandam o músculo contrair ao
cipalmente por colágeno, uma (HALL, BRODY, 2001). Já de invés de relaxar (reflexo de
proteína mais abundante nos acordo com Brandy (2003), o estiramento), aumentando a pos-
mamíferos que é um componen- procedimento realizado é alon- sibilidade de causar micro lesões
te estrutural principal do tecido gar o músculo de forma lenta e que posteriormente podem inter-
vivo. Nos vertebrados, por gradual. A baixa velocidade de ferir no bom funcionamento do
exemplo, o colágeno constitui alongamento do músculo evita a músculo. Apesar disso, esse tipo
um terço ou mais das proteínas resposta neurológica do reflexo de técnica tem eficácia para
totais do corpo. As fibras do estiramento e estimula a ati- melhora da flexibilidade de uma
colagenosas aparecem sem cor vidade dos órgãos tendinosos de população restrita (atletas), uma
e esbranquiçadas. Elas são ar- golgi facilitando o alongamento vez que para um bom rendimen-
ranjadas em feixes e, exceto sob muscular, o arco de movimento to em atividades dinâmicas são
tensão, atravessam um cami- de ser mantido por um tempo de necessárias atividades balísti-
nho caracteristicamente ondu- no mínimo 15 segundos e no cas. Para tanto se sugere um
lado. As fibras colágenas só são máximo 60 segundos, para que programa de flexibilidade dinâ-

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 3


mico em que o individuo passa de movimento em ambas as ve- contração do agonista. Além
por uma serie de alongamentos locidades, rápida e lenta disso, às vezes, se usa o mesmo
balísticos, onde se varia a velo- (STAMFORD, 1981). Há, con- termo para diferentes técnicas
cidade (lento – rápido) e a am- tudo, uma quantidade considerá- de alongamento por FPN, por-
plitude de movimento (arco vel de pesquisas indicando que tanto três técnicas de alonga-
completo ou incompleto), sendo ambos os métodos, balístico e mento por FPN vão ser defini-
que antes desse programa o estático, são eficazes no desen- das como: manter-relaxar, con-
individuo passa por uma serie de volvimento da flexibilidade trair-relaxar e manter em rever-
alongamentos estáticos até pro- (CORBIN e NOBLE, 1980; são lenta-relaxar (ALLSEN,
gredir para as atividades balís- LOGAN e EGSTROM, 1961; 1999).
ticas de baixa, média e alta ve- SADY, WORTMAN e
Na técnica manter-relaxar, o
locidade (BRADY, 2003). BLANKE, 1982; STAMFORD, profissional move passivamen-
1981; WEBER e KRAUS, 1949,
Allsen (1999), concorda te o membro a ser alongado até
com o autor quando ele se refe- apud ALTER, 1999). o final da amplitude de movi-
re à reação muscular ao alon- O alongamento por fa- mento. Uma vez atingido o final
gamento balístico e possibilida- cilitação proprioceptiva da amplitude de movimento, o
de de lesões, mas acrescenta neuromuscular é a outra técni- paciente aplica uma contração
que seus efeitos benéficos podem ca utilizada, que de acordo com isométrica, no músculo que se
ser potencializados quando rea- Knott e Voss, as técnicas de quer alongar, contra resistência
lizados como atividade pós- FPN são métodos “para promo- imposta pelo profissional por 6s,
aquecimento, pois a temperatu- ver ou acelerar a resposta de um após a remoção da contração o
ra dos tecidos encontram-se mecanismo neuromuscular pela músculo relaxa-se e o profissio-
mais elevada, tornando-os mais estimulação de nal aplica alongamento, manten-
maleáveis e menos passiveis de proprioceptores”. Com base do-o por cerca de 10 a 20s. Sem
lesão. Acredita-se, também, nesses conceitos de influenciar abaixar o membro, pode-se re-
que o condicionamento possa a resposta muscular, podem-se petir este processo de três a cin-
afrouxar as conexões de actina- usar as técnicas de FPN para co vezes, para então retorná-lo
miosina aumentando a eficácia fortalecer os músculos e aumen- ao seu posicionamento inicial. A
do alongamento (HALL; tar sua flexibilidade articular contração isométrica do músculo
BRODY, 2001). (ALLSEN, 1999). que está sendo alongado acarre-
Um dos tópicos mais Uma contração breve ta um aumento da tensão nesse
músculo, o que estimula o ór-
controversos da ciência dos es- antes de um alongamento estáti-
portes é o valor relativo dos pro- co do músculo é o ponto chave gão tendinoso de golgi. O OTG
causa então um relaxamento re-
gramas de alongamento balístico para as técnicas de FPN para
flexo do músculo (inibição
versus estático para desenvolver aumentar a flexibilidade muscu-
a flexibilidade. A controvérsia lar. A terminologia usada para autógena) antes que o músculo
seja movido a uma nova posição
é complicada pela falta de pes- descrever as atividades de alon-
quisa sobre a flexibilidade balís- gamento por FPN tem variado de alongamento e alongado pas-
sivamente (ALLSEN, 1999).
tica. O alongamento balístico é consideravelmente, incluindo o
difícil de avaliar por causa da uso de novos termos como: con- Uma outra técnica utili-
necessidade de equipamento trair-relaxar, manter-relaxar, zada é contrair-relaxar, em que
elaborado e habilidade técnica manter em reversão lenta-rela- se faz o mesmo procedimento
na mensuração da força que é xar, contração do agonista, con- da técnica anterior, assim o
requerida para mover a articu- trair—relaxar com contração do profissional solicita ao paciente
lação através de sua amplitude agonista e manter—relaxar com para tentar executar uma con-

4 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


tração concêntrica do músculo alongamento, o profissional so- um tecido em se moldar às ten-
oposto ao músculo que está sen- licita ao paciente relaxar e man- sões diminui a probabilidade de
do alongado, causando um alon- ter a posição por 10 a 20 s. Sem lesão), auxílio na recuperação
gamento maior, ou seja, em retornar a posição inicial, pode- muscular após uma atividade fí-
qualquer grupo muscular se repetir a técnica três a cinco sica, desenvolvimento de cons-
sinérgico uma contração do vezes e depois retornar ao ciência corporal, benefício a
agonista causa um relaxamento posicionamento inicial. Portan- coordenação por tornar os mo-
reflexo do músculo antagonista, to as técnicas de alongamento vimentos mais soltos e fáceis e
possibilitando ao músculo anta- por FPN são eficazes em au- a ativação da circulação.
gonista relaxar para um alonga- mentar a flexibilidade muscular,
As técnicas de FNP po-
mento mais eficaz (inibição re- a escolha da técnica depende da
dem ter melhores resultados que
cíproca). Enquanto o paciente situação apresentada pelo paci-
as estáticas ou balísticas para
executa a contração concêntri- ente (ALLSEN, 1999).
produzir efeitos agudos sobre a
ca do músculo, causando um
amplitude dinâmica de movi-
alongamento maior, o profissi-
EFEITOS DO mento (HALL; BRODY, 2001).
onal aproveita qualquer ampli-
tude de movimento que tenha ALONGAMENTO
sido ganha, mantendo, assim, o
INDICAÇÕES DO
membro na nova posição de
Os efeitos do alonga- ALONGAMENTO
alongamento, o profissional
pede ao paciente a relaxar e mento se dividem em agudos e
manter a posição por 10 a 20 s. crônicos, pois os agudos ou ime-
Segundo Kisner (1998)
Sem abaixar o membro, pode- diatos são resultado da
as indicações do alongamento
se repetir a técnica de três a cin- flexibilização do componente
são quando a amplitude de mo-
co vezes para retorná-la a posi- elástico da unidade
vimento está limitada como re-
ção inicial (ALLSEN, 1999). musculotendinosa, obtidos com
sultado de contraturas, adesões
exercícios sistemáticos de alon-
A técnica de manter em e formações de tecido
gamento. Os efeitos crônicos ou
reversão lenta-relaxar segue os cicatricial, levando ao encurta-
a longo prazo são o acréscimo
mesmos procedimentos das téc- mento de músculos, tecido
no número de sarcômeros que
nicas anteriores, em que o paci- conectivo e pele; quando as li-
implica o aumento do compri-
ente aplica uma força isométrica mitações podem levar a defor-
mento muscular. Estes efeitos
contra o profissional por 6s, con- midades estruturais que podem
podem permanecer por determi-
traindo assim o músculo a ser ser prevenidas; quando as
nado período após a interrupção
alongado (inibição autógena). contraturas interferem com as
dos exercícios (HALL;
Depois da contração isométrica atividades funcionais cotidianas;
BRODY,2001).
do músculo, o profissional soli- quando existe fraqueza muscu-
cita ao paciente para tentar exe- De acordo com lar e retração nos tecidos opos-
cutar uma contração concêntri- Sobierajski (2004) existem ou- tos. Os músculos retraídos de-
ca do músculo oposto, causando tros efeitos promovidos pelos vem ser alongados antes que os
um alongamento maior (inibição exercícios de alongamento músculos fracos possam ser efe-
recíproca), aproveitando qual- como: redução de tensões tivamente fortalecidos.
quer amplitude de movimento musculares,prevenção de lesões
que tenha sido ganha, mantendo como as distensões,
o membro na nova posição de estiramentos (a capacidade de

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 5


CONTRA-INDICAÇÕES dem ser comparadas em rela- REFERÊNCIAS:
ção ao seu grau de eficiência .
segundo Hall e Brody (2001), as
Existem algumas con- técnicas de FNP são mais efi- ALLSEN, P. E; HARRINSON,
tra-indicações para o uso das cazes, quando comparadas às J. M; BARBARA, V. Exercí-
técnicas de alongamento segun- técnicas estáticas ou balísticas. cio e qualidade de vida: uma
do Kisner (1998) quando um blo- No entanto, não existem estudos abordagem personalizada. 6.
queio ósseo limita a mobilidade concretos que comprovem tal ed. São Paulo: Manole, 1999.
articular ou após uma fratura eficiência.
recente, evidências de proces- ALTER, M. J. Ciência da fle-
Outro ponto a ser anali- xibilidade. 2.ed. Porto Alegre:
sos inflamatórios ou infeccioso
sado é o emprego do alongamen- Artmed, 1999.
agudo intra ou extra-articular e
to balístico como forma de tera-
sensação de dor, trauma nos te- BANDY, D. W; SANDRES, B.
pia, ainda muito questionada em
cidos ou quando existem Exercícios terapêuticos: técni-
relação a sua real eficácia du-
contraturas ou os tecidos moles cas para intervenção. Rio de
rante o programa de tratamen-
encurtados estiverem promoven- Janeiro: Guanabara Koogan,
to. Apesar dos questionamentos
do aumento na estabilidade arti- 2003.
relacionados aos seus efeitos le-
cular em substituição a estabili-
sivos, essa técnica pode ser per- BIENFAIT, M. Os
dade estrutural normal ou quan-
feitamente aplicável a uma po- desequilíbrios estáticos. 3. ed.
do forem a base de habilidade
pulação específica (atletas), que São Paulo: Summus, 1995.
funcionais, principalmente em
possuem estrutura do aparelho
pacientes com paralisia ou fra- _________. Fisiologia da tera-
locomotor preparado para rece- pia manual. São Paulo:
queza muscular.
ber esse tipo de atividade. Sen-
Summus, 1989.
do assim, ao contrabalançar
seus efeitos gerais, os benéficos HALL, M. C; BRODY, T. L.
CONSIDERAÇÕES
são relativamente maiores que Exercícios terapêuticos: na
FINAIS busca da função.Rio de Janeiro:
os lesivos.
Guanabara Koogan, 2001
Logo, se faz necessário
Os conhecimentos so- o conhecimento real a respeito KISNER, C; COLBY, L. A.
bre a biomecânica dos tecidos das várias técnicas levando-se Exercícios terapêuticos: funda-
moles são de grande valia para em consideração itens como: mentos e técnicas. 3. ed. São
a aplicação das técnicas de alon- procedimentos, precauções e Paulo: Manole, 1998.
gamento muscular em vários aplicabilidade; para que assim SOBIERAJSKI, F. Efeito do
casos. se possa obter sucesso ao trata- alongamento. Disponível em:
Apesar da variabilidade mento empregado. <http//: www.corpohumano.
de técnicas cada uma possui sua hpg. ig.com.br.> Acesso em:
particularidade, não havendo um 13.abr.2004.
ponto comum entre elas, e po-

6 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


ALONGAMENTO MUSCULAR: UMA
VERSÃO ATUALIZADA

Adélia Oliveira da Conceição 1

George Alberto da Silva Dias 2

RESUMO:
O presente artigo apresenta-se como revisão bibliográfica sobre alongamento muscular, abor-
dando seus principais conceitos, as características dos tecidos corporais envolvidos, principais
métodos e alguns cuidados necessários para a boa aplicação da terapia. Dessa forma o objetivo
do texto é desmistificar alguns aspectos sobre o assunto que possam interferir na boa pratica das
técnicas, favorecendo, assim, um melhor conhecimento sobre o assunto para os profissionais
da área da saúde, em especial aos fisioterapeutas.

*
Acadêmica do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitora das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
**
Acadêmico do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitor das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
***
Artigo realizado sob orientação da docente Mônica Cardoso da Cruz do curso de Fisioterapia na disciplina Cinésioterapia e Especialista
em Fisioterapia Neurofuncional.

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 1


INTRODUÇÃO do a lesões cumulativas do apa- PROPRIEDADES DOS
relho locomotor (ALLSEN, TECIDOS MOLES
1999).
O alongamento é uma
manobra terapêutica utilizada As atividades de flexibi-
lidade são comumente recomen- Os métodos de alonga-
para aumentar o comprimento mento empregados nas disci-
(alongar) de tecidos moles que dadas como atividade pré-aque-
plinas de atletismo, dança, fisi-
estejam encurtados (KISNER, cimento ou como procedimento
pós-aquecimento conforme é oterapia e ioga podem variar
1998), podendo ser definido tam- bastante. Contudo, determinado
bém como técnica utilizada para recomendado pelos autores
(BRANDY, 2003), (HALL; conhecimento é necessário em
aumentar a extensibilidade todas essas disciplinas. Um co-
músculotendinosa e do tecido BRODY, 2001) e
nhecimento básico do mecanis-
conjuntivo periarticular, de tal (ALLSEN,1999), são utilizados
também para manter o funcio- mo neuromuscular normal, in-
modo contribuindo para aumen- cluindo desenvolvimento motor,
tar a flexibilidade articular namento normal do músculo evi-
tando lesões, melhorar o desem- anatomia, neurofisiologia e
(HALL; BRODY, 2001). cinesiologia, é muito útil, se não
penho de atletas e auxiliar na
A flexibilidade sofre in- essencial. Além disso, qualquer
reabilitação pós lesão. Como
fluência de três fatores princi- conduta terapêutica é indicado que seja o método de alongamen-
pais: a estrutura óssea da arti- to usado, o profissional da área
para aumentar a amplitude arti-
culação, a quantidade de tecido cular, quando a causa de restri- da saúde deve estar completa-
periarticular e a extensibilidade mente familiarizado com a es-
ção de ADM for o componente
de tendões, ligamentos e tecido trutura e a função da articula-
musculotendineo (BRADY,
muscular que cruzam a articu- 2003). ção em questão. O profissional
lação (ALLSEN, 1999). Com a deve saber não somente o grau
Tendo em vista estes de limitação do movimento, mas
diminuição da extensibilidade o
músculo perde a capacidade de aspectos, as manobras de flexi- também quais tecidos são res-
se deformar, restringindo a am- bilidade articular são de grande ponsáveis pelas limitações
plitude articular na direção do utilidade na pratica diária da fi- (ALTER, 1999).
movimento do qual é antagonis- sioterapia, já que constantemen-
te estes profissionais lidam com Os tecidos moles vari-
ta (BRANDY, 2003), assim am em características físicas e
como hábitos sedentários são um pacientes que apresentam res-
mecânicas. Tanto os tecidos
dos maiores responsáveis pela trição de amplitude articular
decorrentes de fatores intrínse- contráteis como os não-
perda de flexibilidade, pois a contráteis são extensíveis e elás-
falta de uso da estrutura em ar- cos ou extrínsecos, por isso se
faz necessário o conhecimento ticos, mas os tecidos contráteis
cos extremos de movimento ar- também são contraíveis.
ticular resulta na adaptação dos claro e objetivo deste assunto,
Contratilidade é a habilidade de
tecidos conjuntivos a compri- esclarecendo pontos de vista ou
pensamentos errôneos a respei- um músculo para encurtar e
mentos menores com conse- desenvolver tensão ao longo de
qüente perda da extensibilidade. to desta técnica, que possam in-
terferir na boa prática das ma- sua extensão. Distensibilidade
Além disso, a redução da flexi- (comumente conhecida como
bilidade sendo responsável por nobras que podem ser utilizadas
extensibilidade) é a proprieda-
movimentos corporais incorre- para o ganho de flexibilidade
articular. de do tecido muscular em au-
tos contribui para o uso viciosos mentar o comprimento em res-
da estrutura anatômica gerando posta a uma força aplicada ex-
estresse mecânico e predispon- ternamente (ALTER, 1999).

2 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


Assim quanto menor a capazes de um leve grau de haja adaptação das fibras ao novo
distensibilidade de um tecido extensibilidade. Elas são, con- comprimento.Nessa posição
mole, maior deve ser a força tudo muito resistente ao estresse uma leve tensão deve ser per-
que pode produzir um alonga- de tração. Logo, são os princi- cebida, o alongamento progride,
mento. Um tecido de alta pais constituintes de estruturas, aumentando de intensidade, à
distensibilidade não pode resis- como ligamentos e tendões que medida que o paciente se adapta
tir a uma força de alongamen- são submetidos a uma força de a posição para então adquirir um
to, assim como um tecido que é tração (ALTER, 1999). Portan- novo posicionamento.
muito rígido, e precisará de uma to de acordo com as modifica- Dentre as vantagens do
força maior que o tecido me- ções ocorridas no tecido conjun- alongamento estático Allsen
nos rígido para produzir o mes- tivo derivam de tensões a ele
(1999), descreve que contribui
mo grau de deformação. As- impostas, se a tensão for pro- para o alivio das dores muscu-
sim, os tecidos moles com mai- longada e contínua as molécu-
lares e para melhora da flexibi-
or rigidez são menos suscetí- las e os feixes do tecido conjun- lidade, já Hall e Brody (2001)
veis a lesões como distensões e tivo se alongam (BIENFAIT, acrescentam que reduzem o gas-
entorses (ALTER, 1999). 1995).
to de energia global, diminuem
Os tecidos moles não a possibilidade de ultrapassar a
são perfeitamente elásticos. extensibilidade tecidual e dimi-
MÉTODOS DE
Além do seu limite elástico, eles nui a possibilidade de causar
não podem retornar a seu com- ALONGAMENTO dores musculares, Brandy
primento original uma vez que (2003) afirma também que ele
a força de alongamento é remo- reduz a atividade dos fusos mus-
Existem três tipos bási-
vida. A diferença entre o com- culares e aumenta consideravel-
cos de alongamento, o estático,
primento original e o novo com- mente a atividade dos órgãos
o balístico e por facilitação
primento é chamada de disposi- tendinosos de golgi (OTG).
neuromuscular proprioceptiva
ção permanente (alongamento O alongamento Balís-
(FNP). No método de alonga-
plástico ou deformação) e
mento estático, músculos e te- tico, o músculo é levado a se
correlaciona-se a uma lesão contrair e relaxar de forma rá-
cidos são estirados e mantidos
tecidual menor (ALTER, 1999).
em posição estacionária em seu pida e repetida, levando a
Os tecidos não maior comprimento possível por deflagração de estímulos que
contráteis são constituídos prin- um período de 15 a 60 segundos mandam o músculo contrair ao
cipalmente por colágeno, uma (HALL, BRODY, 2001). Já de invés de relaxar (reflexo de
proteína mais abundante nos acordo com Brandy (2003), o estiramento), aumentando a pos-
mamíferos que é um componen- procedimento realizado é alon- sibilidade de causar micro lesões
te estrutural principal do tecido gar o músculo de forma lenta e que posteriormente podem inter-
vivo. Nos vertebrados, por gradual. A baixa velocidade de ferir no bom funcionamento do
exemplo, o colágeno constitui alongamento do músculo evita a músculo. Apesar disso, esse tipo
um terço ou mais das proteínas resposta neurológica do reflexo de técnica tem eficácia para
totais do corpo. As fibras do estiramento e estimula a ati- melhora da flexibilidade de uma
colagenosas aparecem sem cor vidade dos órgãos tendinosos de população restrita (atletas), uma
e esbranquiçadas. Elas são ar- golgi facilitando o alongamento vez que para um bom rendimen-
ranjadas em feixes e, exceto sob muscular, o arco de movimento to em atividades dinâmicas são
tensão, atravessam um cami- de ser mantido por um tempo de necessárias atividades balísti-
nho caracteristicamente ondu- no mínimo 15 segundos e no cas. Para tanto se sugere um
lado. As fibras colágenas só são máximo 60 segundos, para que programa de flexibilidade dinâ-

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 3


mico em que o individuo passa de movimento em ambas as ve- contração do agonista. Além
por uma serie de alongamentos locidades, rápida e lenta disso, às vezes, se usa o mesmo
balísticos, onde se varia a velo- (STAMFORD, 1981). Há, con- termo para diferentes técnicas
cidade (lento – rápido) e a am- tudo, uma quantidade considerá- de alongamento por FPN, por-
plitude de movimento (arco vel de pesquisas indicando que tanto três técnicas de alonga-
completo ou incompleto), sendo ambos os métodos, balístico e mento por FPN vão ser defini-
que antes desse programa o estático, são eficazes no desen- das como: manter-relaxar, con-
individuo passa por uma serie de volvimento da flexibilidade trair-relaxar e manter em rever-
alongamentos estáticos até pro- (CORBIN e NOBLE, 1980; são lenta-relaxar (ALLSEN,
gredir para as atividades balís- LOGAN e EGSTROM, 1961; 1999).
ticas de baixa, média e alta ve- SADY, WORTMAN e
Na técnica manter-relaxar, o
locidade (BRADY, 2003). BLANKE, 1982; STAMFORD, profissional move passivamen-
1981; WEBER e KRAUS, 1949,
Allsen (1999), concorda te o membro a ser alongado até
com o autor quando ele se refe- apud ALTER, 1999). o final da amplitude de movi-
re à reação muscular ao alon- O alongamento por fa- mento. Uma vez atingido o final
gamento balístico e possibilida- cilitação proprioceptiva da amplitude de movimento, o
de de lesões, mas acrescenta neuromuscular é a outra técni- paciente aplica uma contração
que seus efeitos benéficos podem ca utilizada, que de acordo com isométrica, no músculo que se
ser potencializados quando rea- Knott e Voss, as técnicas de quer alongar, contra resistência
lizados como atividade pós- FPN são métodos “para promo- imposta pelo profissional por 6s,
aquecimento, pois a temperatu- ver ou acelerar a resposta de um após a remoção da contração o
ra dos tecidos encontram-se mecanismo neuromuscular pela músculo relaxa-se e o profissio-
mais elevada, tornando-os mais estimulação de nal aplica alongamento, manten-
maleáveis e menos passiveis de proprioceptores”. Com base do-o por cerca de 10 a 20s. Sem
lesão. Acredita-se, também, nesses conceitos de influenciar abaixar o membro, pode-se re-
que o condicionamento possa a resposta muscular, podem-se petir este processo de três a cin-
afrouxar as conexões de actina- usar as técnicas de FPN para co vezes, para então retorná-lo
miosina aumentando a eficácia fortalecer os músculos e aumen- ao seu posicionamento inicial. A
do alongamento (HALL; tar sua flexibilidade articular contração isométrica do músculo
BRODY, 2001). (ALLSEN, 1999). que está sendo alongado acarre-
Um dos tópicos mais Uma contração breve ta um aumento da tensão nesse
músculo, o que estimula o ór-
controversos da ciência dos es- antes de um alongamento estáti-
portes é o valor relativo dos pro- co do músculo é o ponto chave gão tendinoso de golgi. O OTG
causa então um relaxamento re-
gramas de alongamento balístico para as técnicas de FPN para
flexo do músculo (inibição
versus estático para desenvolver aumentar a flexibilidade muscu-
a flexibilidade. A controvérsia lar. A terminologia usada para autógena) antes que o músculo
seja movido a uma nova posição
é complicada pela falta de pes- descrever as atividades de alon-
quisa sobre a flexibilidade balís- gamento por FPN tem variado de alongamento e alongado pas-
sivamente (ALLSEN, 1999).
tica. O alongamento balístico é consideravelmente, incluindo o
difícil de avaliar por causa da uso de novos termos como: con- Uma outra técnica utili-
necessidade de equipamento trair-relaxar, manter-relaxar, zada é contrair-relaxar, em que
elaborado e habilidade técnica manter em reversão lenta-rela- se faz o mesmo procedimento
na mensuração da força que é xar, contração do agonista, con- da técnica anterior, assim o
requerida para mover a articu- trair—relaxar com contração do profissional solicita ao paciente
lação através de sua amplitude agonista e manter—relaxar com para tentar executar uma con-

4 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


tração concêntrica do músculo alongamento, o profissional so- um tecido em se moldar às ten-
oposto ao músculo que está sen- licita ao paciente relaxar e man- sões diminui a probabilidade de
do alongado, causando um alon- ter a posição por 10 a 20 s. Sem lesão), auxílio na recuperação
gamento maior, ou seja, em retornar a posição inicial, pode- muscular após uma atividade fí-
qualquer grupo muscular se repetir a técnica três a cinco sica, desenvolvimento de cons-
sinérgico uma contração do vezes e depois retornar ao ciência corporal, benefício a
agonista causa um relaxamento posicionamento inicial. Portan- coordenação por tornar os mo-
reflexo do músculo antagonista, to as técnicas de alongamento vimentos mais soltos e fáceis e
possibilitando ao músculo anta- por FPN são eficazes em au- a ativação da circulação.
gonista relaxar para um alonga- mentar a flexibilidade muscular,
As técnicas de FNP po-
mento mais eficaz (inibição re- a escolha da técnica depende da
dem ter melhores resultados que
cíproca). Enquanto o paciente situação apresentada pelo paci-
as estáticas ou balísticas para
executa a contração concêntri- ente (ALLSEN, 1999).
produzir efeitos agudos sobre a
ca do músculo, causando um
amplitude dinâmica de movi-
alongamento maior, o profissi-
EFEITOS DO mento (HALL; BRODY, 2001).
onal aproveita qualquer ampli-
tude de movimento que tenha ALONGAMENTO
sido ganha, mantendo, assim, o
INDICAÇÕES DO
membro na nova posição de
Os efeitos do alonga- ALONGAMENTO
alongamento, o profissional
pede ao paciente a relaxar e mento se dividem em agudos e
manter a posição por 10 a 20 s. crônicos, pois os agudos ou ime-
Segundo Kisner (1998)
Sem abaixar o membro, pode- diatos são resultado da
as indicações do alongamento
se repetir a técnica de três a cin- flexibilização do componente
são quando a amplitude de mo-
co vezes para retorná-la a posi- elástico da unidade
vimento está limitada como re-
ção inicial (ALLSEN, 1999). musculotendinosa, obtidos com
sultado de contraturas, adesões
exercícios sistemáticos de alon-
A técnica de manter em e formações de tecido
gamento. Os efeitos crônicos ou
reversão lenta-relaxar segue os cicatricial, levando ao encurta-
a longo prazo são o acréscimo
mesmos procedimentos das téc- mento de músculos, tecido
no número de sarcômeros que
nicas anteriores, em que o paci- conectivo e pele; quando as li-
implica o aumento do compri-
ente aplica uma força isométrica mitações podem levar a defor-
mento muscular. Estes efeitos
contra o profissional por 6s, con- midades estruturais que podem
podem permanecer por determi-
traindo assim o músculo a ser ser prevenidas; quando as
nado período após a interrupção
alongado (inibição autógena). contraturas interferem com as
dos exercícios (HALL;
Depois da contração isométrica atividades funcionais cotidianas;
BRODY,2001).
do músculo, o profissional soli- quando existe fraqueza muscu-
cita ao paciente para tentar exe- De acordo com lar e retração nos tecidos opos-
cutar uma contração concêntri- Sobierajski (2004) existem ou- tos. Os músculos retraídos de-
ca do músculo oposto, causando tros efeitos promovidos pelos vem ser alongados antes que os
um alongamento maior (inibição exercícios de alongamento músculos fracos possam ser efe-
recíproca), aproveitando qual- como: redução de tensões tivamente fortalecidos.
quer amplitude de movimento musculares,prevenção de lesões
que tenha sido ganha, mantendo como as distensões,
o membro na nova posição de estiramentos (a capacidade de

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 5


CONTRA-INDICAÇÕES dem ser comparadas em rela- REFERÊNCIAS:
ção ao seu grau de eficiência .
segundo Hall e Brody (2001), as
Existem algumas con- técnicas de FNP são mais efi- ALLSEN, P. E; HARRINSON,
tra-indicações para o uso das cazes, quando comparadas às J. M; BARBARA, V. Exercí-
técnicas de alongamento segun- técnicas estáticas ou balísticas. cio e qualidade de vida: uma
do Kisner (1998) quando um blo- No entanto, não existem estudos abordagem personalizada. 6.
queio ósseo limita a mobilidade concretos que comprovem tal ed. São Paulo: Manole, 1999.
articular ou após uma fratura eficiência.
recente, evidências de proces- ALTER, M. J. Ciência da fle-
Outro ponto a ser anali- xibilidade. 2.ed. Porto Alegre:
sos inflamatórios ou infeccioso
sado é o emprego do alongamen- Artmed, 1999.
agudo intra ou extra-articular e
to balístico como forma de tera-
sensação de dor, trauma nos te- BANDY, D. W; SANDRES, B.
pia, ainda muito questionada em
cidos ou quando existem Exercícios terapêuticos: técni-
relação a sua real eficácia du-
contraturas ou os tecidos moles cas para intervenção. Rio de
rante o programa de tratamen-
encurtados estiverem promoven- Janeiro: Guanabara Koogan,
to. Apesar dos questionamentos
do aumento na estabilidade arti- 2003.
relacionados aos seus efeitos le-
cular em substituição a estabili-
sivos, essa técnica pode ser per- BIENFAIT, M. Os
dade estrutural normal ou quan-
feitamente aplicável a uma po- desequilíbrios estáticos. 3. ed.
do forem a base de habilidade
pulação específica (atletas), que São Paulo: Summus, 1995.
funcionais, principalmente em
possuem estrutura do aparelho
pacientes com paralisia ou fra- _________. Fisiologia da tera-
locomotor preparado para rece- pia manual. São Paulo:
queza muscular.
ber esse tipo de atividade. Sen-
Summus, 1989.
do assim, ao contrabalançar
seus efeitos gerais, os benéficos HALL, M. C; BRODY, T. L.
CONSIDERAÇÕES
são relativamente maiores que Exercícios terapêuticos: na
FINAIS busca da função.Rio de Janeiro:
os lesivos.
Guanabara Koogan, 2001
Logo, se faz necessário
Os conhecimentos so- o conhecimento real a respeito KISNER, C; COLBY, L. A.
bre a biomecânica dos tecidos das várias técnicas levando-se Exercícios terapêuticos: funda-
moles são de grande valia para em consideração itens como: mentos e técnicas. 3. ed. São
a aplicação das técnicas de alon- procedimentos, precauções e Paulo: Manole, 1998.
gamento muscular em vários aplicabilidade; para que assim SOBIERAJSKI, F. Efeito do
casos. se possa obter sucesso ao trata- alongamento. Disponível em:
Apesar da variabilidade mento empregado. <http//: www.corpohumano.
de técnicas cada uma possui sua hpg. ig.com.br.> Acesso em:
particularidade, não havendo um 13.abr.2004.
ponto comum entre elas, e po-

6 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


ALONGAMENTO MUSCULAR: UMA
VERSÃO ATUALIZADA

Adélia Oliveira da Conceição 1

George Alberto da Silva Dias 2

RESUMO:
O presente artigo apresenta-se como revisão bibliográfica sobre alongamento muscular, abor-
dando seus principais conceitos, as características dos tecidos corporais envolvidos, principais
métodos e alguns cuidados necessários para a boa aplicação da terapia. Dessa forma o objetivo
do texto é desmistificar alguns aspectos sobre o assunto que possam interferir na boa pratica das
técnicas, favorecendo, assim, um melhor conhecimento sobre o assunto para os profissionais
da área da saúde, em especial aos fisioterapeutas.

*
Acadêmica do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitora das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
**
Acadêmico do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitor das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
***
Artigo realizado sob orientação da docente Mônica Cardoso da Cruz do curso de Fisioterapia na disciplina Cinésioterapia e Especialista
em Fisioterapia Neurofuncional.

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 1


INTRODUÇÃO do a lesões cumulativas do apa- PROPRIEDADES DOS
relho locomotor (ALLSEN, TECIDOS MOLES
1999).
O alongamento é uma
manobra terapêutica utilizada As atividades de flexibi-
lidade são comumente recomen- Os métodos de alonga-
para aumentar o comprimento mento empregados nas disci-
(alongar) de tecidos moles que dadas como atividade pré-aque-
plinas de atletismo, dança, fisi-
estejam encurtados (KISNER, cimento ou como procedimento
pós-aquecimento conforme é oterapia e ioga podem variar
1998), podendo ser definido tam- bastante. Contudo, determinado
bém como técnica utilizada para recomendado pelos autores
(BRANDY, 2003), (HALL; conhecimento é necessário em
aumentar a extensibilidade todas essas disciplinas. Um co-
músculotendinosa e do tecido BRODY, 2001) e
nhecimento básico do mecanis-
conjuntivo periarticular, de tal (ALLSEN,1999), são utilizados
também para manter o funcio- mo neuromuscular normal, in-
modo contribuindo para aumen- cluindo desenvolvimento motor,
tar a flexibilidade articular namento normal do músculo evi-
tando lesões, melhorar o desem- anatomia, neurofisiologia e
(HALL; BRODY, 2001). cinesiologia, é muito útil, se não
penho de atletas e auxiliar na
A flexibilidade sofre in- essencial. Além disso, qualquer
reabilitação pós lesão. Como
fluência de três fatores princi- conduta terapêutica é indicado que seja o método de alongamen-
pais: a estrutura óssea da arti- to usado, o profissional da área
para aumentar a amplitude arti-
culação, a quantidade de tecido cular, quando a causa de restri- da saúde deve estar completa-
periarticular e a extensibilidade mente familiarizado com a es-
ção de ADM for o componente
de tendões, ligamentos e tecido trutura e a função da articula-
musculotendineo (BRADY,
muscular que cruzam a articu- 2003). ção em questão. O profissional
lação (ALLSEN, 1999). Com a deve saber não somente o grau
Tendo em vista estes de limitação do movimento, mas
diminuição da extensibilidade o
músculo perde a capacidade de aspectos, as manobras de flexi- também quais tecidos são res-
se deformar, restringindo a am- bilidade articular são de grande ponsáveis pelas limitações
plitude articular na direção do utilidade na pratica diária da fi- (ALTER, 1999).
movimento do qual é antagonis- sioterapia, já que constantemen-
te estes profissionais lidam com Os tecidos moles vari-
ta (BRANDY, 2003), assim am em características físicas e
como hábitos sedentários são um pacientes que apresentam res-
mecânicas. Tanto os tecidos
dos maiores responsáveis pela trição de amplitude articular
decorrentes de fatores intrínse- contráteis como os não-
perda de flexibilidade, pois a contráteis são extensíveis e elás-
falta de uso da estrutura em ar- cos ou extrínsecos, por isso se
faz necessário o conhecimento ticos, mas os tecidos contráteis
cos extremos de movimento ar- também são contraíveis.
ticular resulta na adaptação dos claro e objetivo deste assunto,
Contratilidade é a habilidade de
tecidos conjuntivos a compri- esclarecendo pontos de vista ou
pensamentos errôneos a respei- um músculo para encurtar e
mentos menores com conse- desenvolver tensão ao longo de
qüente perda da extensibilidade. to desta técnica, que possam in-
terferir na boa prática das ma- sua extensão. Distensibilidade
Além disso, a redução da flexi- (comumente conhecida como
bilidade sendo responsável por nobras que podem ser utilizadas
extensibilidade) é a proprieda-
movimentos corporais incorre- para o ganho de flexibilidade
articular. de do tecido muscular em au-
tos contribui para o uso viciosos mentar o comprimento em res-
da estrutura anatômica gerando posta a uma força aplicada ex-
estresse mecânico e predispon- ternamente (ALTER, 1999).

2 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


Assim quanto menor a capazes de um leve grau de haja adaptação das fibras ao novo
distensibilidade de um tecido extensibilidade. Elas são, con- comprimento.Nessa posição
mole, maior deve ser a força tudo muito resistente ao estresse uma leve tensão deve ser per-
que pode produzir um alonga- de tração. Logo, são os princi- cebida, o alongamento progride,
mento. Um tecido de alta pais constituintes de estruturas, aumentando de intensidade, à
distensibilidade não pode resis- como ligamentos e tendões que medida que o paciente se adapta
tir a uma força de alongamen- são submetidos a uma força de a posição para então adquirir um
to, assim como um tecido que é tração (ALTER, 1999). Portan- novo posicionamento.
muito rígido, e precisará de uma to de acordo com as modifica- Dentre as vantagens do
força maior que o tecido me- ções ocorridas no tecido conjun- alongamento estático Allsen
nos rígido para produzir o mes- tivo derivam de tensões a ele
(1999), descreve que contribui
mo grau de deformação. As- impostas, se a tensão for pro- para o alivio das dores muscu-
sim, os tecidos moles com mai- longada e contínua as molécu-
lares e para melhora da flexibi-
or rigidez são menos suscetí- las e os feixes do tecido conjun- lidade, já Hall e Brody (2001)
veis a lesões como distensões e tivo se alongam (BIENFAIT, acrescentam que reduzem o gas-
entorses (ALTER, 1999). 1995).
to de energia global, diminuem
Os tecidos moles não a possibilidade de ultrapassar a
são perfeitamente elásticos. extensibilidade tecidual e dimi-
MÉTODOS DE
Além do seu limite elástico, eles nui a possibilidade de causar
não podem retornar a seu com- ALONGAMENTO dores musculares, Brandy
primento original uma vez que (2003) afirma também que ele
a força de alongamento é remo- reduz a atividade dos fusos mus-
Existem três tipos bási-
vida. A diferença entre o com- culares e aumenta consideravel-
cos de alongamento, o estático,
primento original e o novo com- mente a atividade dos órgãos
o balístico e por facilitação
primento é chamada de disposi- tendinosos de golgi (OTG).
neuromuscular proprioceptiva
ção permanente (alongamento O alongamento Balís-
(FNP). No método de alonga-
plástico ou deformação) e
mento estático, músculos e te- tico, o músculo é levado a se
correlaciona-se a uma lesão contrair e relaxar de forma rá-
cidos são estirados e mantidos
tecidual menor (ALTER, 1999).
em posição estacionária em seu pida e repetida, levando a
Os tecidos não maior comprimento possível por deflagração de estímulos que
contráteis são constituídos prin- um período de 15 a 60 segundos mandam o músculo contrair ao
cipalmente por colágeno, uma (HALL, BRODY, 2001). Já de invés de relaxar (reflexo de
proteína mais abundante nos acordo com Brandy (2003), o estiramento), aumentando a pos-
mamíferos que é um componen- procedimento realizado é alon- sibilidade de causar micro lesões
te estrutural principal do tecido gar o músculo de forma lenta e que posteriormente podem inter-
vivo. Nos vertebrados, por gradual. A baixa velocidade de ferir no bom funcionamento do
exemplo, o colágeno constitui alongamento do músculo evita a músculo. Apesar disso, esse tipo
um terço ou mais das proteínas resposta neurológica do reflexo de técnica tem eficácia para
totais do corpo. As fibras do estiramento e estimula a ati- melhora da flexibilidade de uma
colagenosas aparecem sem cor vidade dos órgãos tendinosos de população restrita (atletas), uma
e esbranquiçadas. Elas são ar- golgi facilitando o alongamento vez que para um bom rendimen-
ranjadas em feixes e, exceto sob muscular, o arco de movimento to em atividades dinâmicas são
tensão, atravessam um cami- de ser mantido por um tempo de necessárias atividades balísti-
nho caracteristicamente ondu- no mínimo 15 segundos e no cas. Para tanto se sugere um
lado. As fibras colágenas só são máximo 60 segundos, para que programa de flexibilidade dinâ-

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 3


mico em que o individuo passa de movimento em ambas as ve- contração do agonista. Além
por uma serie de alongamentos locidades, rápida e lenta disso, às vezes, se usa o mesmo
balísticos, onde se varia a velo- (STAMFORD, 1981). Há, con- termo para diferentes técnicas
cidade (lento – rápido) e a am- tudo, uma quantidade considerá- de alongamento por FPN, por-
plitude de movimento (arco vel de pesquisas indicando que tanto três técnicas de alonga-
completo ou incompleto), sendo ambos os métodos, balístico e mento por FPN vão ser defini-
que antes desse programa o estático, são eficazes no desen- das como: manter-relaxar, con-
individuo passa por uma serie de volvimento da flexibilidade trair-relaxar e manter em rever-
alongamentos estáticos até pro- (CORBIN e NOBLE, 1980; são lenta-relaxar (ALLSEN,
gredir para as atividades balís- LOGAN e EGSTROM, 1961; 1999).
ticas de baixa, média e alta ve- SADY, WORTMAN e
Na técnica manter-relaxar, o
locidade (BRADY, 2003). BLANKE, 1982; STAMFORD, profissional move passivamen-
1981; WEBER e KRAUS, 1949,
Allsen (1999), concorda te o membro a ser alongado até
com o autor quando ele se refe- apud ALTER, 1999). o final da amplitude de movi-
re à reação muscular ao alon- O alongamento por fa- mento. Uma vez atingido o final
gamento balístico e possibilida- cilitação proprioceptiva da amplitude de movimento, o
de de lesões, mas acrescenta neuromuscular é a outra técni- paciente aplica uma contração
que seus efeitos benéficos podem ca utilizada, que de acordo com isométrica, no músculo que se
ser potencializados quando rea- Knott e Voss, as técnicas de quer alongar, contra resistência
lizados como atividade pós- FPN são métodos “para promo- imposta pelo profissional por 6s,
aquecimento, pois a temperatu- ver ou acelerar a resposta de um após a remoção da contração o
ra dos tecidos encontram-se mecanismo neuromuscular pela músculo relaxa-se e o profissio-
mais elevada, tornando-os mais estimulação de nal aplica alongamento, manten-
maleáveis e menos passiveis de proprioceptores”. Com base do-o por cerca de 10 a 20s. Sem
lesão. Acredita-se, também, nesses conceitos de influenciar abaixar o membro, pode-se re-
que o condicionamento possa a resposta muscular, podem-se petir este processo de três a cin-
afrouxar as conexões de actina- usar as técnicas de FPN para co vezes, para então retorná-lo
miosina aumentando a eficácia fortalecer os músculos e aumen- ao seu posicionamento inicial. A
do alongamento (HALL; tar sua flexibilidade articular contração isométrica do músculo
BRODY, 2001). (ALLSEN, 1999). que está sendo alongado acarre-
Um dos tópicos mais Uma contração breve ta um aumento da tensão nesse
músculo, o que estimula o ór-
controversos da ciência dos es- antes de um alongamento estáti-
portes é o valor relativo dos pro- co do músculo é o ponto chave gão tendinoso de golgi. O OTG
causa então um relaxamento re-
gramas de alongamento balístico para as técnicas de FPN para
flexo do músculo (inibição
versus estático para desenvolver aumentar a flexibilidade muscu-
a flexibilidade. A controvérsia lar. A terminologia usada para autógena) antes que o músculo
seja movido a uma nova posição
é complicada pela falta de pes- descrever as atividades de alon-
quisa sobre a flexibilidade balís- gamento por FPN tem variado de alongamento e alongado pas-
sivamente (ALLSEN, 1999).
tica. O alongamento balístico é consideravelmente, incluindo o
difícil de avaliar por causa da uso de novos termos como: con- Uma outra técnica utili-
necessidade de equipamento trair-relaxar, manter-relaxar, zada é contrair-relaxar, em que
elaborado e habilidade técnica manter em reversão lenta-rela- se faz o mesmo procedimento
na mensuração da força que é xar, contração do agonista, con- da técnica anterior, assim o
requerida para mover a articu- trair—relaxar com contração do profissional solicita ao paciente
lação através de sua amplitude agonista e manter—relaxar com para tentar executar uma con-

4 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


tração concêntrica do músculo alongamento, o profissional so- um tecido em se moldar às ten-
oposto ao músculo que está sen- licita ao paciente relaxar e man- sões diminui a probabilidade de
do alongado, causando um alon- ter a posição por 10 a 20 s. Sem lesão), auxílio na recuperação
gamento maior, ou seja, em retornar a posição inicial, pode- muscular após uma atividade fí-
qualquer grupo muscular se repetir a técnica três a cinco sica, desenvolvimento de cons-
sinérgico uma contração do vezes e depois retornar ao ciência corporal, benefício a
agonista causa um relaxamento posicionamento inicial. Portan- coordenação por tornar os mo-
reflexo do músculo antagonista, to as técnicas de alongamento vimentos mais soltos e fáceis e
possibilitando ao músculo anta- por FPN são eficazes em au- a ativação da circulação.
gonista relaxar para um alonga- mentar a flexibilidade muscular,
As técnicas de FNP po-
mento mais eficaz (inibição re- a escolha da técnica depende da
dem ter melhores resultados que
cíproca). Enquanto o paciente situação apresentada pelo paci-
as estáticas ou balísticas para
executa a contração concêntri- ente (ALLSEN, 1999).
produzir efeitos agudos sobre a
ca do músculo, causando um
amplitude dinâmica de movi-
alongamento maior, o profissi-
EFEITOS DO mento (HALL; BRODY, 2001).
onal aproveita qualquer ampli-
tude de movimento que tenha ALONGAMENTO
sido ganha, mantendo, assim, o
INDICAÇÕES DO
membro na nova posição de
Os efeitos do alonga- ALONGAMENTO
alongamento, o profissional
pede ao paciente a relaxar e mento se dividem em agudos e
manter a posição por 10 a 20 s. crônicos, pois os agudos ou ime-
Segundo Kisner (1998)
Sem abaixar o membro, pode- diatos são resultado da
as indicações do alongamento
se repetir a técnica de três a cin- flexibilização do componente
são quando a amplitude de mo-
co vezes para retorná-la a posi- elástico da unidade
vimento está limitada como re-
ção inicial (ALLSEN, 1999). musculotendinosa, obtidos com
sultado de contraturas, adesões
exercícios sistemáticos de alon-
A técnica de manter em e formações de tecido
gamento. Os efeitos crônicos ou
reversão lenta-relaxar segue os cicatricial, levando ao encurta-
a longo prazo são o acréscimo
mesmos procedimentos das téc- mento de músculos, tecido
no número de sarcômeros que
nicas anteriores, em que o paci- conectivo e pele; quando as li-
implica o aumento do compri-
ente aplica uma força isométrica mitações podem levar a defor-
mento muscular. Estes efeitos
contra o profissional por 6s, con- midades estruturais que podem
podem permanecer por determi-
traindo assim o músculo a ser ser prevenidas; quando as
nado período após a interrupção
alongado (inibição autógena). contraturas interferem com as
dos exercícios (HALL;
Depois da contração isométrica atividades funcionais cotidianas;
BRODY,2001).
do músculo, o profissional soli- quando existe fraqueza muscu-
cita ao paciente para tentar exe- De acordo com lar e retração nos tecidos opos-
cutar uma contração concêntri- Sobierajski (2004) existem ou- tos. Os músculos retraídos de-
ca do músculo oposto, causando tros efeitos promovidos pelos vem ser alongados antes que os
um alongamento maior (inibição exercícios de alongamento músculos fracos possam ser efe-
recíproca), aproveitando qual- como: redução de tensões tivamente fortalecidos.
quer amplitude de movimento musculares,prevenção de lesões
que tenha sido ganha, mantendo como as distensões,
o membro na nova posição de estiramentos (a capacidade de

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 5


CONTRA-INDICAÇÕES dem ser comparadas em rela- REFERÊNCIAS:
ção ao seu grau de eficiência .
segundo Hall e Brody (2001), as
Existem algumas con- técnicas de FNP são mais efi- ALLSEN, P. E; HARRINSON,
tra-indicações para o uso das cazes, quando comparadas às J. M; BARBARA, V. Exercí-
técnicas de alongamento segun- técnicas estáticas ou balísticas. cio e qualidade de vida: uma
do Kisner (1998) quando um blo- No entanto, não existem estudos abordagem personalizada. 6.
queio ósseo limita a mobilidade concretos que comprovem tal ed. São Paulo: Manole, 1999.
articular ou após uma fratura eficiência.
recente, evidências de proces- ALTER, M. J. Ciência da fle-
Outro ponto a ser anali- xibilidade. 2.ed. Porto Alegre:
sos inflamatórios ou infeccioso
sado é o emprego do alongamen- Artmed, 1999.
agudo intra ou extra-articular e
to balístico como forma de tera-
sensação de dor, trauma nos te- BANDY, D. W; SANDRES, B.
pia, ainda muito questionada em
cidos ou quando existem Exercícios terapêuticos: técni-
relação a sua real eficácia du-
contraturas ou os tecidos moles cas para intervenção. Rio de
rante o programa de tratamen-
encurtados estiverem promoven- Janeiro: Guanabara Koogan,
to. Apesar dos questionamentos
do aumento na estabilidade arti- 2003.
relacionados aos seus efeitos le-
cular em substituição a estabili-
sivos, essa técnica pode ser per- BIENFAIT, M. Os
dade estrutural normal ou quan-
feitamente aplicável a uma po- desequilíbrios estáticos. 3. ed.
do forem a base de habilidade
pulação específica (atletas), que São Paulo: Summus, 1995.
funcionais, principalmente em
possuem estrutura do aparelho
pacientes com paralisia ou fra- _________. Fisiologia da tera-
locomotor preparado para rece- pia manual. São Paulo:
queza muscular.
ber esse tipo de atividade. Sen-
Summus, 1989.
do assim, ao contrabalançar
seus efeitos gerais, os benéficos HALL, M. C; BRODY, T. L.
CONSIDERAÇÕES
são relativamente maiores que Exercícios terapêuticos: na
FINAIS busca da função.Rio de Janeiro:
os lesivos.
Guanabara Koogan, 2001
Logo, se faz necessário
Os conhecimentos so- o conhecimento real a respeito KISNER, C; COLBY, L. A.
bre a biomecânica dos tecidos das várias técnicas levando-se Exercícios terapêuticos: funda-
moles são de grande valia para em consideração itens como: mentos e técnicas. 3. ed. São
a aplicação das técnicas de alon- procedimentos, precauções e Paulo: Manole, 1998.
gamento muscular em vários aplicabilidade; para que assim SOBIERAJSKI, F. Efeito do
casos. se possa obter sucesso ao trata- alongamento. Disponível em:
Apesar da variabilidade mento empregado. <http//: www.corpohumano.
de técnicas cada uma possui sua hpg. ig.com.br.> Acesso em:
particularidade, não havendo um 13.abr.2004.
ponto comum entre elas, e po-

6 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


ALONGAMENTO MUSCULAR: UMA
VERSÃO ATUALIZADA

Adélia Oliveira da Conceição 1

George Alberto da Silva Dias 2

RESUMO:
O presente artigo apresenta-se como revisão bibliográfica sobre alongamento muscular, abor-
dando seus principais conceitos, as características dos tecidos corporais envolvidos, principais
métodos e alguns cuidados necessários para a boa aplicação da terapia. Dessa forma o objetivo
do texto é desmistificar alguns aspectos sobre o assunto que possam interferir na boa pratica das
técnicas, favorecendo, assim, um melhor conhecimento sobre o assunto para os profissionais
da área da saúde, em especial aos fisioterapeutas.

*
Acadêmica do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitora das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
**
Acadêmico do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitor das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
***
Artigo realizado sob orientação da docente Mônica Cardoso da Cruz do curso de Fisioterapia na disciplina Cinésioterapia e Especialista
em Fisioterapia Neurofuncional.

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 1


INTRODUÇÃO do a lesões cumulativas do apa- PROPRIEDADES DOS
relho locomotor (ALLSEN, TECIDOS MOLES
1999).
O alongamento é uma
manobra terapêutica utilizada As atividades de flexibi-
lidade são comumente recomen- Os métodos de alonga-
para aumentar o comprimento mento empregados nas disci-
(alongar) de tecidos moles que dadas como atividade pré-aque-
plinas de atletismo, dança, fisi-
estejam encurtados (KISNER, cimento ou como procedimento
pós-aquecimento conforme é oterapia e ioga podem variar
1998), podendo ser definido tam- bastante. Contudo, determinado
bém como técnica utilizada para recomendado pelos autores
(BRANDY, 2003), (HALL; conhecimento é necessário em
aumentar a extensibilidade todas essas disciplinas. Um co-
músculotendinosa e do tecido BRODY, 2001) e
nhecimento básico do mecanis-
conjuntivo periarticular, de tal (ALLSEN,1999), são utilizados
também para manter o funcio- mo neuromuscular normal, in-
modo contribuindo para aumen- cluindo desenvolvimento motor,
tar a flexibilidade articular namento normal do músculo evi-
tando lesões, melhorar o desem- anatomia, neurofisiologia e
(HALL; BRODY, 2001). cinesiologia, é muito útil, se não
penho de atletas e auxiliar na
A flexibilidade sofre in- essencial. Além disso, qualquer
reabilitação pós lesão. Como
fluência de três fatores princi- conduta terapêutica é indicado que seja o método de alongamen-
pais: a estrutura óssea da arti- to usado, o profissional da área
para aumentar a amplitude arti-
culação, a quantidade de tecido cular, quando a causa de restri- da saúde deve estar completa-
periarticular e a extensibilidade mente familiarizado com a es-
ção de ADM for o componente
de tendões, ligamentos e tecido trutura e a função da articula-
musculotendineo (BRADY,
muscular que cruzam a articu- 2003). ção em questão. O profissional
lação (ALLSEN, 1999). Com a deve saber não somente o grau
Tendo em vista estes de limitação do movimento, mas
diminuição da extensibilidade o
músculo perde a capacidade de aspectos, as manobras de flexi- também quais tecidos são res-
se deformar, restringindo a am- bilidade articular são de grande ponsáveis pelas limitações
plitude articular na direção do utilidade na pratica diária da fi- (ALTER, 1999).
movimento do qual é antagonis- sioterapia, já que constantemen-
te estes profissionais lidam com Os tecidos moles vari-
ta (BRANDY, 2003), assim am em características físicas e
como hábitos sedentários são um pacientes que apresentam res-
mecânicas. Tanto os tecidos
dos maiores responsáveis pela trição de amplitude articular
decorrentes de fatores intrínse- contráteis como os não-
perda de flexibilidade, pois a contráteis são extensíveis e elás-
falta de uso da estrutura em ar- cos ou extrínsecos, por isso se
faz necessário o conhecimento ticos, mas os tecidos contráteis
cos extremos de movimento ar- também são contraíveis.
ticular resulta na adaptação dos claro e objetivo deste assunto,
Contratilidade é a habilidade de
tecidos conjuntivos a compri- esclarecendo pontos de vista ou
pensamentos errôneos a respei- um músculo para encurtar e
mentos menores com conse- desenvolver tensão ao longo de
qüente perda da extensibilidade. to desta técnica, que possam in-
terferir na boa prática das ma- sua extensão. Distensibilidade
Além disso, a redução da flexi- (comumente conhecida como
bilidade sendo responsável por nobras que podem ser utilizadas
extensibilidade) é a proprieda-
movimentos corporais incorre- para o ganho de flexibilidade
articular. de do tecido muscular em au-
tos contribui para o uso viciosos mentar o comprimento em res-
da estrutura anatômica gerando posta a uma força aplicada ex-
estresse mecânico e predispon- ternamente (ALTER, 1999).

2 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


Assim quanto menor a capazes de um leve grau de haja adaptação das fibras ao novo
distensibilidade de um tecido extensibilidade. Elas são, con- comprimento.Nessa posição
mole, maior deve ser a força tudo muito resistente ao estresse uma leve tensão deve ser per-
que pode produzir um alonga- de tração. Logo, são os princi- cebida, o alongamento progride,
mento. Um tecido de alta pais constituintes de estruturas, aumentando de intensidade, à
distensibilidade não pode resis- como ligamentos e tendões que medida que o paciente se adapta
tir a uma força de alongamen- são submetidos a uma força de a posição para então adquirir um
to, assim como um tecido que é tração (ALTER, 1999). Portan- novo posicionamento.
muito rígido, e precisará de uma to de acordo com as modifica- Dentre as vantagens do
força maior que o tecido me- ções ocorridas no tecido conjun- alongamento estático Allsen
nos rígido para produzir o mes- tivo derivam de tensões a ele
(1999), descreve que contribui
mo grau de deformação. As- impostas, se a tensão for pro- para o alivio das dores muscu-
sim, os tecidos moles com mai- longada e contínua as molécu-
lares e para melhora da flexibi-
or rigidez são menos suscetí- las e os feixes do tecido conjun- lidade, já Hall e Brody (2001)
veis a lesões como distensões e tivo se alongam (BIENFAIT, acrescentam que reduzem o gas-
entorses (ALTER, 1999). 1995).
to de energia global, diminuem
Os tecidos moles não a possibilidade de ultrapassar a
são perfeitamente elásticos. extensibilidade tecidual e dimi-
MÉTODOS DE
Além do seu limite elástico, eles nui a possibilidade de causar
não podem retornar a seu com- ALONGAMENTO dores musculares, Brandy
primento original uma vez que (2003) afirma também que ele
a força de alongamento é remo- reduz a atividade dos fusos mus-
Existem três tipos bási-
vida. A diferença entre o com- culares e aumenta consideravel-
cos de alongamento, o estático,
primento original e o novo com- mente a atividade dos órgãos
o balístico e por facilitação
primento é chamada de disposi- tendinosos de golgi (OTG).
neuromuscular proprioceptiva
ção permanente (alongamento O alongamento Balís-
(FNP). No método de alonga-
plástico ou deformação) e
mento estático, músculos e te- tico, o músculo é levado a se
correlaciona-se a uma lesão contrair e relaxar de forma rá-
cidos são estirados e mantidos
tecidual menor (ALTER, 1999).
em posição estacionária em seu pida e repetida, levando a
Os tecidos não maior comprimento possível por deflagração de estímulos que
contráteis são constituídos prin- um período de 15 a 60 segundos mandam o músculo contrair ao
cipalmente por colágeno, uma (HALL, BRODY, 2001). Já de invés de relaxar (reflexo de
proteína mais abundante nos acordo com Brandy (2003), o estiramento), aumentando a pos-
mamíferos que é um componen- procedimento realizado é alon- sibilidade de causar micro lesões
te estrutural principal do tecido gar o músculo de forma lenta e que posteriormente podem inter-
vivo. Nos vertebrados, por gradual. A baixa velocidade de ferir no bom funcionamento do
exemplo, o colágeno constitui alongamento do músculo evita a músculo. Apesar disso, esse tipo
um terço ou mais das proteínas resposta neurológica do reflexo de técnica tem eficácia para
totais do corpo. As fibras do estiramento e estimula a ati- melhora da flexibilidade de uma
colagenosas aparecem sem cor vidade dos órgãos tendinosos de população restrita (atletas), uma
e esbranquiçadas. Elas são ar- golgi facilitando o alongamento vez que para um bom rendimen-
ranjadas em feixes e, exceto sob muscular, o arco de movimento to em atividades dinâmicas são
tensão, atravessam um cami- de ser mantido por um tempo de necessárias atividades balísti-
nho caracteristicamente ondu- no mínimo 15 segundos e no cas. Para tanto se sugere um
lado. As fibras colágenas só são máximo 60 segundos, para que programa de flexibilidade dinâ-

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 3


mico em que o individuo passa de movimento em ambas as ve- contração do agonista. Além
por uma serie de alongamentos locidades, rápida e lenta disso, às vezes, se usa o mesmo
balísticos, onde se varia a velo- (STAMFORD, 1981). Há, con- termo para diferentes técnicas
cidade (lento – rápido) e a am- tudo, uma quantidade considerá- de alongamento por FPN, por-
plitude de movimento (arco vel de pesquisas indicando que tanto três técnicas de alonga-
completo ou incompleto), sendo ambos os métodos, balístico e mento por FPN vão ser defini-
que antes desse programa o estático, são eficazes no desen- das como: manter-relaxar, con-
individuo passa por uma serie de volvimento da flexibilidade trair-relaxar e manter em rever-
alongamentos estáticos até pro- (CORBIN e NOBLE, 1980; são lenta-relaxar (ALLSEN,
gredir para as atividades balís- LOGAN e EGSTROM, 1961; 1999).
ticas de baixa, média e alta ve- SADY, WORTMAN e
Na técnica manter-relaxar, o
locidade (BRADY, 2003). BLANKE, 1982; STAMFORD, profissional move passivamen-
1981; WEBER e KRAUS, 1949,
Allsen (1999), concorda te o membro a ser alongado até
com o autor quando ele se refe- apud ALTER, 1999). o final da amplitude de movi-
re à reação muscular ao alon- O alongamento por fa- mento. Uma vez atingido o final
gamento balístico e possibilida- cilitação proprioceptiva da amplitude de movimento, o
de de lesões, mas acrescenta neuromuscular é a outra técni- paciente aplica uma contração
que seus efeitos benéficos podem ca utilizada, que de acordo com isométrica, no músculo que se
ser potencializados quando rea- Knott e Voss, as técnicas de quer alongar, contra resistência
lizados como atividade pós- FPN são métodos “para promo- imposta pelo profissional por 6s,
aquecimento, pois a temperatu- ver ou acelerar a resposta de um após a remoção da contração o
ra dos tecidos encontram-se mecanismo neuromuscular pela músculo relaxa-se e o profissio-
mais elevada, tornando-os mais estimulação de nal aplica alongamento, manten-
maleáveis e menos passiveis de proprioceptores”. Com base do-o por cerca de 10 a 20s. Sem
lesão. Acredita-se, também, nesses conceitos de influenciar abaixar o membro, pode-se re-
que o condicionamento possa a resposta muscular, podem-se petir este processo de três a cin-
afrouxar as conexões de actina- usar as técnicas de FPN para co vezes, para então retorná-lo
miosina aumentando a eficácia fortalecer os músculos e aumen- ao seu posicionamento inicial. A
do alongamento (HALL; tar sua flexibilidade articular contração isométrica do músculo
BRODY, 2001). (ALLSEN, 1999). que está sendo alongado acarre-
Um dos tópicos mais Uma contração breve ta um aumento da tensão nesse
músculo, o que estimula o ór-
controversos da ciência dos es- antes de um alongamento estáti-
portes é o valor relativo dos pro- co do músculo é o ponto chave gão tendinoso de golgi. O OTG
causa então um relaxamento re-
gramas de alongamento balístico para as técnicas de FPN para
flexo do músculo (inibição
versus estático para desenvolver aumentar a flexibilidade muscu-
a flexibilidade. A controvérsia lar. A terminologia usada para autógena) antes que o músculo
seja movido a uma nova posição
é complicada pela falta de pes- descrever as atividades de alon-
quisa sobre a flexibilidade balís- gamento por FPN tem variado de alongamento e alongado pas-
sivamente (ALLSEN, 1999).
tica. O alongamento balístico é consideravelmente, incluindo o
difícil de avaliar por causa da uso de novos termos como: con- Uma outra técnica utili-
necessidade de equipamento trair-relaxar, manter-relaxar, zada é contrair-relaxar, em que
elaborado e habilidade técnica manter em reversão lenta-rela- se faz o mesmo procedimento
na mensuração da força que é xar, contração do agonista, con- da técnica anterior, assim o
requerida para mover a articu- trair—relaxar com contração do profissional solicita ao paciente
lação através de sua amplitude agonista e manter—relaxar com para tentar executar uma con-

4 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


tração concêntrica do músculo alongamento, o profissional so- um tecido em se moldar às ten-
oposto ao músculo que está sen- licita ao paciente relaxar e man- sões diminui a probabilidade de
do alongado, causando um alon- ter a posição por 10 a 20 s. Sem lesão), auxílio na recuperação
gamento maior, ou seja, em retornar a posição inicial, pode- muscular após uma atividade fí-
qualquer grupo muscular se repetir a técnica três a cinco sica, desenvolvimento de cons-
sinérgico uma contração do vezes e depois retornar ao ciência corporal, benefício a
agonista causa um relaxamento posicionamento inicial. Portan- coordenação por tornar os mo-
reflexo do músculo antagonista, to as técnicas de alongamento vimentos mais soltos e fáceis e
possibilitando ao músculo anta- por FPN são eficazes em au- a ativação da circulação.
gonista relaxar para um alonga- mentar a flexibilidade muscular,
As técnicas de FNP po-
mento mais eficaz (inibição re- a escolha da técnica depende da
dem ter melhores resultados que
cíproca). Enquanto o paciente situação apresentada pelo paci-
as estáticas ou balísticas para
executa a contração concêntri- ente (ALLSEN, 1999).
produzir efeitos agudos sobre a
ca do músculo, causando um
amplitude dinâmica de movi-
alongamento maior, o profissi-
EFEITOS DO mento (HALL; BRODY, 2001).
onal aproveita qualquer ampli-
tude de movimento que tenha ALONGAMENTO
sido ganha, mantendo, assim, o
INDICAÇÕES DO
membro na nova posição de
Os efeitos do alonga- ALONGAMENTO
alongamento, o profissional
pede ao paciente a relaxar e mento se dividem em agudos e
manter a posição por 10 a 20 s. crônicos, pois os agudos ou ime-
Segundo Kisner (1998)
Sem abaixar o membro, pode- diatos são resultado da
as indicações do alongamento
se repetir a técnica de três a cin- flexibilização do componente
são quando a amplitude de mo-
co vezes para retorná-la a posi- elástico da unidade
vimento está limitada como re-
ção inicial (ALLSEN, 1999). musculotendinosa, obtidos com
sultado de contraturas, adesões
exercícios sistemáticos de alon-
A técnica de manter em e formações de tecido
gamento. Os efeitos crônicos ou
reversão lenta-relaxar segue os cicatricial, levando ao encurta-
a longo prazo são o acréscimo
mesmos procedimentos das téc- mento de músculos, tecido
no número de sarcômeros que
nicas anteriores, em que o paci- conectivo e pele; quando as li-
implica o aumento do compri-
ente aplica uma força isométrica mitações podem levar a defor-
mento muscular. Estes efeitos
contra o profissional por 6s, con- midades estruturais que podem
podem permanecer por determi-
traindo assim o músculo a ser ser prevenidas; quando as
nado período após a interrupção
alongado (inibição autógena). contraturas interferem com as
dos exercícios (HALL;
Depois da contração isométrica atividades funcionais cotidianas;
BRODY,2001).
do músculo, o profissional soli- quando existe fraqueza muscu-
cita ao paciente para tentar exe- De acordo com lar e retração nos tecidos opos-
cutar uma contração concêntri- Sobierajski (2004) existem ou- tos. Os músculos retraídos de-
ca do músculo oposto, causando tros efeitos promovidos pelos vem ser alongados antes que os
um alongamento maior (inibição exercícios de alongamento músculos fracos possam ser efe-
recíproca), aproveitando qual- como: redução de tensões tivamente fortalecidos.
quer amplitude de movimento musculares,prevenção de lesões
que tenha sido ganha, mantendo como as distensões,
o membro na nova posição de estiramentos (a capacidade de

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 5


CONTRA-INDICAÇÕES dem ser comparadas em rela- REFERÊNCIAS:
ção ao seu grau de eficiência .
segundo Hall e Brody (2001), as
Existem algumas con- técnicas de FNP são mais efi- ALLSEN, P. E; HARRINSON,
tra-indicações para o uso das cazes, quando comparadas às J. M; BARBARA, V. Exercí-
técnicas de alongamento segun- técnicas estáticas ou balísticas. cio e qualidade de vida: uma
do Kisner (1998) quando um blo- No entanto, não existem estudos abordagem personalizada. 6.
queio ósseo limita a mobilidade concretos que comprovem tal ed. São Paulo: Manole, 1999.
articular ou após uma fratura eficiência.
recente, evidências de proces- ALTER, M. J. Ciência da fle-
Outro ponto a ser anali- xibilidade. 2.ed. Porto Alegre:
sos inflamatórios ou infeccioso
sado é o emprego do alongamen- Artmed, 1999.
agudo intra ou extra-articular e
to balístico como forma de tera-
sensação de dor, trauma nos te- BANDY, D. W; SANDRES, B.
pia, ainda muito questionada em
cidos ou quando existem Exercícios terapêuticos: técni-
relação a sua real eficácia du-
contraturas ou os tecidos moles cas para intervenção. Rio de
rante o programa de tratamen-
encurtados estiverem promoven- Janeiro: Guanabara Koogan,
to. Apesar dos questionamentos
do aumento na estabilidade arti- 2003.
relacionados aos seus efeitos le-
cular em substituição a estabili-
sivos, essa técnica pode ser per- BIENFAIT, M. Os
dade estrutural normal ou quan-
feitamente aplicável a uma po- desequilíbrios estáticos. 3. ed.
do forem a base de habilidade
pulação específica (atletas), que São Paulo: Summus, 1995.
funcionais, principalmente em
possuem estrutura do aparelho
pacientes com paralisia ou fra- _________. Fisiologia da tera-
locomotor preparado para rece- pia manual. São Paulo:
queza muscular.
ber esse tipo de atividade. Sen-
Summus, 1989.
do assim, ao contrabalançar
seus efeitos gerais, os benéficos HALL, M. C; BRODY, T. L.
CONSIDERAÇÕES
são relativamente maiores que Exercícios terapêuticos: na
FINAIS busca da função.Rio de Janeiro:
os lesivos.
Guanabara Koogan, 2001
Logo, se faz necessário
Os conhecimentos so- o conhecimento real a respeito KISNER, C; COLBY, L. A.
bre a biomecânica dos tecidos das várias técnicas levando-se Exercícios terapêuticos: funda-
moles são de grande valia para em consideração itens como: mentos e técnicas. 3. ed. São
a aplicação das técnicas de alon- procedimentos, precauções e Paulo: Manole, 1998.
gamento muscular em vários aplicabilidade; para que assim SOBIERAJSKI, F. Efeito do
casos. se possa obter sucesso ao trata- alongamento. Disponível em:
Apesar da variabilidade mento empregado. <http//: www.corpohumano.
de técnicas cada uma possui sua hpg. ig.com.br.> Acesso em:
particularidade, não havendo um 13.abr.2004.
ponto comum entre elas, e po-

6 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


ALONGAMENTO MUSCULAR: UMA
VERSÃO ATUALIZADA

Adélia Oliveira da Conceição 1

George Alberto da Silva Dias 2

RESUMO:
O presente artigo apresenta-se como revisão bibliográfica sobre alongamento muscular, abor-
dando seus principais conceitos, as características dos tecidos corporais envolvidos, principais
métodos e alguns cuidados necessários para a boa aplicação da terapia. Dessa forma o objetivo
do texto é desmistificar alguns aspectos sobre o assunto que possam interferir na boa pratica das
técnicas, favorecendo, assim, um melhor conhecimento sobre o assunto para os profissionais
da área da saúde, em especial aos fisioterapeutas.

*
Acadêmica do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitora das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
**
Acadêmico do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitor das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
***
Artigo realizado sob orientação da docente Mônica Cardoso da Cruz do curso de Fisioterapia na disciplina Cinésioterapia e Especialista
em Fisioterapia Neurofuncional.

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 1


INTRODUÇÃO do a lesões cumulativas do apa- PROPRIEDADES DOS
relho locomotor (ALLSEN, TECIDOS MOLES
1999).
O alongamento é uma
manobra terapêutica utilizada As atividades de flexibi-
lidade são comumente recomen- Os métodos de alonga-
para aumentar o comprimento mento empregados nas disci-
(alongar) de tecidos moles que dadas como atividade pré-aque-
plinas de atletismo, dança, fisi-
estejam encurtados (KISNER, cimento ou como procedimento
pós-aquecimento conforme é oterapia e ioga podem variar
1998), podendo ser definido tam- bastante. Contudo, determinado
bém como técnica utilizada para recomendado pelos autores
(BRANDY, 2003), (HALL; conhecimento é necessário em
aumentar a extensibilidade todas essas disciplinas. Um co-
músculotendinosa e do tecido BRODY, 2001) e
nhecimento básico do mecanis-
conjuntivo periarticular, de tal (ALLSEN,1999), são utilizados
também para manter o funcio- mo neuromuscular normal, in-
modo contribuindo para aumen- cluindo desenvolvimento motor,
tar a flexibilidade articular namento normal do músculo evi-
tando lesões, melhorar o desem- anatomia, neurofisiologia e
(HALL; BRODY, 2001). cinesiologia, é muito útil, se não
penho de atletas e auxiliar na
A flexibilidade sofre in- essencial. Além disso, qualquer
reabilitação pós lesão. Como
fluência de três fatores princi- conduta terapêutica é indicado que seja o método de alongamen-
pais: a estrutura óssea da arti- to usado, o profissional da área
para aumentar a amplitude arti-
culação, a quantidade de tecido cular, quando a causa de restri- da saúde deve estar completa-
periarticular e a extensibilidade mente familiarizado com a es-
ção de ADM for o componente
de tendões, ligamentos e tecido trutura e a função da articula-
musculotendineo (BRADY,
muscular que cruzam a articu- 2003). ção em questão. O profissional
lação (ALLSEN, 1999). Com a deve saber não somente o grau
Tendo em vista estes de limitação do movimento, mas
diminuição da extensibilidade o
músculo perde a capacidade de aspectos, as manobras de flexi- também quais tecidos são res-
se deformar, restringindo a am- bilidade articular são de grande ponsáveis pelas limitações
plitude articular na direção do utilidade na pratica diária da fi- (ALTER, 1999).
movimento do qual é antagonis- sioterapia, já que constantemen-
te estes profissionais lidam com Os tecidos moles vari-
ta (BRANDY, 2003), assim am em características físicas e
como hábitos sedentários são um pacientes que apresentam res-
mecânicas. Tanto os tecidos
dos maiores responsáveis pela trição de amplitude articular
decorrentes de fatores intrínse- contráteis como os não-
perda de flexibilidade, pois a contráteis são extensíveis e elás-
falta de uso da estrutura em ar- cos ou extrínsecos, por isso se
faz necessário o conhecimento ticos, mas os tecidos contráteis
cos extremos de movimento ar- também são contraíveis.
ticular resulta na adaptação dos claro e objetivo deste assunto,
Contratilidade é a habilidade de
tecidos conjuntivos a compri- esclarecendo pontos de vista ou
pensamentos errôneos a respei- um músculo para encurtar e
mentos menores com conse- desenvolver tensão ao longo de
qüente perda da extensibilidade. to desta técnica, que possam in-
terferir na boa prática das ma- sua extensão. Distensibilidade
Além disso, a redução da flexi- (comumente conhecida como
bilidade sendo responsável por nobras que podem ser utilizadas
extensibilidade) é a proprieda-
movimentos corporais incorre- para o ganho de flexibilidade
articular. de do tecido muscular em au-
tos contribui para o uso viciosos mentar o comprimento em res-
da estrutura anatômica gerando posta a uma força aplicada ex-
estresse mecânico e predispon- ternamente (ALTER, 1999).

2 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


Assim quanto menor a capazes de um leve grau de haja adaptação das fibras ao novo
distensibilidade de um tecido extensibilidade. Elas são, con- comprimento.Nessa posição
mole, maior deve ser a força tudo muito resistente ao estresse uma leve tensão deve ser per-
que pode produzir um alonga- de tração. Logo, são os princi- cebida, o alongamento progride,
mento. Um tecido de alta pais constituintes de estruturas, aumentando de intensidade, à
distensibilidade não pode resis- como ligamentos e tendões que medida que o paciente se adapta
tir a uma força de alongamen- são submetidos a uma força de a posição para então adquirir um
to, assim como um tecido que é tração (ALTER, 1999). Portan- novo posicionamento.
muito rígido, e precisará de uma to de acordo com as modifica- Dentre as vantagens do
força maior que o tecido me- ções ocorridas no tecido conjun- alongamento estático Allsen
nos rígido para produzir o mes- tivo derivam de tensões a ele
(1999), descreve que contribui
mo grau de deformação. As- impostas, se a tensão for pro- para o alivio das dores muscu-
sim, os tecidos moles com mai- longada e contínua as molécu-
lares e para melhora da flexibi-
or rigidez são menos suscetí- las e os feixes do tecido conjun- lidade, já Hall e Brody (2001)
veis a lesões como distensões e tivo se alongam (BIENFAIT, acrescentam que reduzem o gas-
entorses (ALTER, 1999). 1995).
to de energia global, diminuem
Os tecidos moles não a possibilidade de ultrapassar a
são perfeitamente elásticos. extensibilidade tecidual e dimi-
MÉTODOS DE
Além do seu limite elástico, eles nui a possibilidade de causar
não podem retornar a seu com- ALONGAMENTO dores musculares, Brandy
primento original uma vez que (2003) afirma também que ele
a força de alongamento é remo- reduz a atividade dos fusos mus-
Existem três tipos bási-
vida. A diferença entre o com- culares e aumenta consideravel-
cos de alongamento, o estático,
primento original e o novo com- mente a atividade dos órgãos
o balístico e por facilitação
primento é chamada de disposi- tendinosos de golgi (OTG).
neuromuscular proprioceptiva
ção permanente (alongamento O alongamento Balís-
(FNP). No método de alonga-
plástico ou deformação) e
mento estático, músculos e te- tico, o músculo é levado a se
correlaciona-se a uma lesão contrair e relaxar de forma rá-
cidos são estirados e mantidos
tecidual menor (ALTER, 1999).
em posição estacionária em seu pida e repetida, levando a
Os tecidos não maior comprimento possível por deflagração de estímulos que
contráteis são constituídos prin- um período de 15 a 60 segundos mandam o músculo contrair ao
cipalmente por colágeno, uma (HALL, BRODY, 2001). Já de invés de relaxar (reflexo de
proteína mais abundante nos acordo com Brandy (2003), o estiramento), aumentando a pos-
mamíferos que é um componen- procedimento realizado é alon- sibilidade de causar micro lesões
te estrutural principal do tecido gar o músculo de forma lenta e que posteriormente podem inter-
vivo. Nos vertebrados, por gradual. A baixa velocidade de ferir no bom funcionamento do
exemplo, o colágeno constitui alongamento do músculo evita a músculo. Apesar disso, esse tipo
um terço ou mais das proteínas resposta neurológica do reflexo de técnica tem eficácia para
totais do corpo. As fibras do estiramento e estimula a ati- melhora da flexibilidade de uma
colagenosas aparecem sem cor vidade dos órgãos tendinosos de população restrita (atletas), uma
e esbranquiçadas. Elas são ar- golgi facilitando o alongamento vez que para um bom rendimen-
ranjadas em feixes e, exceto sob muscular, o arco de movimento to em atividades dinâmicas são
tensão, atravessam um cami- de ser mantido por um tempo de necessárias atividades balísti-
nho caracteristicamente ondu- no mínimo 15 segundos e no cas. Para tanto se sugere um
lado. As fibras colágenas só são máximo 60 segundos, para que programa de flexibilidade dinâ-

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 3


mico em que o individuo passa de movimento em ambas as ve- contração do agonista. Além
por uma serie de alongamentos locidades, rápida e lenta disso, às vezes, se usa o mesmo
balísticos, onde se varia a velo- (STAMFORD, 1981). Há, con- termo para diferentes técnicas
cidade (lento – rápido) e a am- tudo, uma quantidade considerá- de alongamento por FPN, por-
plitude de movimento (arco vel de pesquisas indicando que tanto três técnicas de alonga-
completo ou incompleto), sendo ambos os métodos, balístico e mento por FPN vão ser defini-
que antes desse programa o estático, são eficazes no desen- das como: manter-relaxar, con-
individuo passa por uma serie de volvimento da flexibilidade trair-relaxar e manter em rever-
alongamentos estáticos até pro- (CORBIN e NOBLE, 1980; são lenta-relaxar (ALLSEN,
gredir para as atividades balís- LOGAN e EGSTROM, 1961; 1999).
ticas de baixa, média e alta ve- SADY, WORTMAN e
Na técnica manter-relaxar, o
locidade (BRADY, 2003). BLANKE, 1982; STAMFORD, profissional move passivamen-
1981; WEBER e KRAUS, 1949,
Allsen (1999), concorda te o membro a ser alongado até
com o autor quando ele se refe- apud ALTER, 1999). o final da amplitude de movi-
re à reação muscular ao alon- O alongamento por fa- mento. Uma vez atingido o final
gamento balístico e possibilida- cilitação proprioceptiva da amplitude de movimento, o
de de lesões, mas acrescenta neuromuscular é a outra técni- paciente aplica uma contração
que seus efeitos benéficos podem ca utilizada, que de acordo com isométrica, no músculo que se
ser potencializados quando rea- Knott e Voss, as técnicas de quer alongar, contra resistência
lizados como atividade pós- FPN são métodos “para promo- imposta pelo profissional por 6s,
aquecimento, pois a temperatu- ver ou acelerar a resposta de um após a remoção da contração o
ra dos tecidos encontram-se mecanismo neuromuscular pela músculo relaxa-se e o profissio-
mais elevada, tornando-os mais estimulação de nal aplica alongamento, manten-
maleáveis e menos passiveis de proprioceptores”. Com base do-o por cerca de 10 a 20s. Sem
lesão. Acredita-se, também, nesses conceitos de influenciar abaixar o membro, pode-se re-
que o condicionamento possa a resposta muscular, podem-se petir este processo de três a cin-
afrouxar as conexões de actina- usar as técnicas de FPN para co vezes, para então retorná-lo
miosina aumentando a eficácia fortalecer os músculos e aumen- ao seu posicionamento inicial. A
do alongamento (HALL; tar sua flexibilidade articular contração isométrica do músculo
BRODY, 2001). (ALLSEN, 1999). que está sendo alongado acarre-
Um dos tópicos mais Uma contração breve ta um aumento da tensão nesse
músculo, o que estimula o ór-
controversos da ciência dos es- antes de um alongamento estáti-
portes é o valor relativo dos pro- co do músculo é o ponto chave gão tendinoso de golgi. O OTG
causa então um relaxamento re-
gramas de alongamento balístico para as técnicas de FPN para
flexo do músculo (inibição
versus estático para desenvolver aumentar a flexibilidade muscu-
a flexibilidade. A controvérsia lar. A terminologia usada para autógena) antes que o músculo
seja movido a uma nova posição
é complicada pela falta de pes- descrever as atividades de alon-
quisa sobre a flexibilidade balís- gamento por FPN tem variado de alongamento e alongado pas-
sivamente (ALLSEN, 1999).
tica. O alongamento balístico é consideravelmente, incluindo o
difícil de avaliar por causa da uso de novos termos como: con- Uma outra técnica utili-
necessidade de equipamento trair-relaxar, manter-relaxar, zada é contrair-relaxar, em que
elaborado e habilidade técnica manter em reversão lenta-rela- se faz o mesmo procedimento
na mensuração da força que é xar, contração do agonista, con- da técnica anterior, assim o
requerida para mover a articu- trair—relaxar com contração do profissional solicita ao paciente
lação através de sua amplitude agonista e manter—relaxar com para tentar executar uma con-

4 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


tração concêntrica do músculo alongamento, o profissional so- um tecido em se moldar às ten-
oposto ao músculo que está sen- licita ao paciente relaxar e man- sões diminui a probabilidade de
do alongado, causando um alon- ter a posição por 10 a 20 s. Sem lesão), auxílio na recuperação
gamento maior, ou seja, em retornar a posição inicial, pode- muscular após uma atividade fí-
qualquer grupo muscular se repetir a técnica três a cinco sica, desenvolvimento de cons-
sinérgico uma contração do vezes e depois retornar ao ciência corporal, benefício a
agonista causa um relaxamento posicionamento inicial. Portan- coordenação por tornar os mo-
reflexo do músculo antagonista, to as técnicas de alongamento vimentos mais soltos e fáceis e
possibilitando ao músculo anta- por FPN são eficazes em au- a ativação da circulação.
gonista relaxar para um alonga- mentar a flexibilidade muscular,
As técnicas de FNP po-
mento mais eficaz (inibição re- a escolha da técnica depende da
dem ter melhores resultados que
cíproca). Enquanto o paciente situação apresentada pelo paci-
as estáticas ou balísticas para
executa a contração concêntri- ente (ALLSEN, 1999).
produzir efeitos agudos sobre a
ca do músculo, causando um
amplitude dinâmica de movi-
alongamento maior, o profissi-
EFEITOS DO mento (HALL; BRODY, 2001).
onal aproveita qualquer ampli-
tude de movimento que tenha ALONGAMENTO
sido ganha, mantendo, assim, o
INDICAÇÕES DO
membro na nova posição de
Os efeitos do alonga- ALONGAMENTO
alongamento, o profissional
pede ao paciente a relaxar e mento se dividem em agudos e
manter a posição por 10 a 20 s. crônicos, pois os agudos ou ime-
Segundo Kisner (1998)
Sem abaixar o membro, pode- diatos são resultado da
as indicações do alongamento
se repetir a técnica de três a cin- flexibilização do componente
são quando a amplitude de mo-
co vezes para retorná-la a posi- elástico da unidade
vimento está limitada como re-
ção inicial (ALLSEN, 1999). musculotendinosa, obtidos com
sultado de contraturas, adesões
exercícios sistemáticos de alon-
A técnica de manter em e formações de tecido
gamento. Os efeitos crônicos ou
reversão lenta-relaxar segue os cicatricial, levando ao encurta-
a longo prazo são o acréscimo
mesmos procedimentos das téc- mento de músculos, tecido
no número de sarcômeros que
nicas anteriores, em que o paci- conectivo e pele; quando as li-
implica o aumento do compri-
ente aplica uma força isométrica mitações podem levar a defor-
mento muscular. Estes efeitos
contra o profissional por 6s, con- midades estruturais que podem
podem permanecer por determi-
traindo assim o músculo a ser ser prevenidas; quando as
nado período após a interrupção
alongado (inibição autógena). contraturas interferem com as
dos exercícios (HALL;
Depois da contração isométrica atividades funcionais cotidianas;
BRODY,2001).
do músculo, o profissional soli- quando existe fraqueza muscu-
cita ao paciente para tentar exe- De acordo com lar e retração nos tecidos opos-
cutar uma contração concêntri- Sobierajski (2004) existem ou- tos. Os músculos retraídos de-
ca do músculo oposto, causando tros efeitos promovidos pelos vem ser alongados antes que os
um alongamento maior (inibição exercícios de alongamento músculos fracos possam ser efe-
recíproca), aproveitando qual- como: redução de tensões tivamente fortalecidos.
quer amplitude de movimento musculares,prevenção de lesões
que tenha sido ganha, mantendo como as distensões,
o membro na nova posição de estiramentos (a capacidade de

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 5


CONTRA-INDICAÇÕES dem ser comparadas em rela- REFERÊNCIAS:
ção ao seu grau de eficiência .
segundo Hall e Brody (2001), as
Existem algumas con- técnicas de FNP são mais efi- ALLSEN, P. E; HARRINSON,
tra-indicações para o uso das cazes, quando comparadas às J. M; BARBARA, V. Exercí-
técnicas de alongamento segun- técnicas estáticas ou balísticas. cio e qualidade de vida: uma
do Kisner (1998) quando um blo- No entanto, não existem estudos abordagem personalizada. 6.
queio ósseo limita a mobilidade concretos que comprovem tal ed. São Paulo: Manole, 1999.
articular ou após uma fratura eficiência.
recente, evidências de proces- ALTER, M. J. Ciência da fle-
Outro ponto a ser anali- xibilidade. 2.ed. Porto Alegre:
sos inflamatórios ou infeccioso
sado é o emprego do alongamen- Artmed, 1999.
agudo intra ou extra-articular e
to balístico como forma de tera-
sensação de dor, trauma nos te- BANDY, D. W; SANDRES, B.
pia, ainda muito questionada em
cidos ou quando existem Exercícios terapêuticos: técni-
relação a sua real eficácia du-
contraturas ou os tecidos moles cas para intervenção. Rio de
rante o programa de tratamen-
encurtados estiverem promoven- Janeiro: Guanabara Koogan,
to. Apesar dos questionamentos
do aumento na estabilidade arti- 2003.
relacionados aos seus efeitos le-
cular em substituição a estabili-
sivos, essa técnica pode ser per- BIENFAIT, M. Os
dade estrutural normal ou quan-
feitamente aplicável a uma po- desequilíbrios estáticos. 3. ed.
do forem a base de habilidade
pulação específica (atletas), que São Paulo: Summus, 1995.
funcionais, principalmente em
possuem estrutura do aparelho
pacientes com paralisia ou fra- _________. Fisiologia da tera-
locomotor preparado para rece- pia manual. São Paulo:
queza muscular.
ber esse tipo de atividade. Sen-
Summus, 1989.
do assim, ao contrabalançar
seus efeitos gerais, os benéficos HALL, M. C; BRODY, T. L.
CONSIDERAÇÕES
são relativamente maiores que Exercícios terapêuticos: na
FINAIS busca da função.Rio de Janeiro:
os lesivos.
Guanabara Koogan, 2001
Logo, se faz necessário
Os conhecimentos so- o conhecimento real a respeito KISNER, C; COLBY, L. A.
bre a biomecânica dos tecidos das várias técnicas levando-se Exercícios terapêuticos: funda-
moles são de grande valia para em consideração itens como: mentos e técnicas. 3. ed. São
a aplicação das técnicas de alon- procedimentos, precauções e Paulo: Manole, 1998.
gamento muscular em vários aplicabilidade; para que assim SOBIERAJSKI, F. Efeito do
casos. se possa obter sucesso ao trata- alongamento. Disponível em:
Apesar da variabilidade mento empregado. <http//: www.corpohumano.
de técnicas cada uma possui sua hpg. ig.com.br.> Acesso em:
particularidade, não havendo um 13.abr.2004.
ponto comum entre elas, e po-

6 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


ALONGAMENTO MUSCULAR: UMA
VERSÃO ATUALIZADA

Adélia Oliveira da Conceição 1

George Alberto da Silva Dias 2

RESUMO:
O presente artigo apresenta-se como revisão bibliográfica sobre alongamento muscular, abor-
dando seus principais conceitos, as características dos tecidos corporais envolvidos, principais
métodos e alguns cuidados necessários para a boa aplicação da terapia. Dessa forma o objetivo
do texto é desmistificar alguns aspectos sobre o assunto que possam interferir na boa pratica das
técnicas, favorecendo, assim, um melhor conhecimento sobre o assunto para os profissionais
da área da saúde, em especial aos fisioterapeutas.

*
Acadêmica do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitora das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
**
Acadêmico do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitor das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
***
Artigo realizado sob orientação da docente Mônica Cardoso da Cruz do curso de Fisioterapia na disciplina Cinésioterapia e Especialista
em Fisioterapia Neurofuncional.

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 1


INTRODUÇÃO do a lesões cumulativas do apa- PROPRIEDADES DOS
relho locomotor (ALLSEN, TECIDOS MOLES
1999).
O alongamento é uma
manobra terapêutica utilizada As atividades de flexibi-
lidade são comumente recomen- Os métodos de alonga-
para aumentar o comprimento mento empregados nas disci-
(alongar) de tecidos moles que dadas como atividade pré-aque-
plinas de atletismo, dança, fisi-
estejam encurtados (KISNER, cimento ou como procedimento
pós-aquecimento conforme é oterapia e ioga podem variar
1998), podendo ser definido tam- bastante. Contudo, determinado
bém como técnica utilizada para recomendado pelos autores
(BRANDY, 2003), (HALL; conhecimento é necessário em
aumentar a extensibilidade todas essas disciplinas. Um co-
músculotendinosa e do tecido BRODY, 2001) e
nhecimento básico do mecanis-
conjuntivo periarticular, de tal (ALLSEN,1999), são utilizados
também para manter o funcio- mo neuromuscular normal, in-
modo contribuindo para aumen- cluindo desenvolvimento motor,
tar a flexibilidade articular namento normal do músculo evi-
tando lesões, melhorar o desem- anatomia, neurofisiologia e
(HALL; BRODY, 2001). cinesiologia, é muito útil, se não
penho de atletas e auxiliar na
A flexibilidade sofre in- essencial. Além disso, qualquer
reabilitação pós lesão. Como
fluência de três fatores princi- conduta terapêutica é indicado que seja o método de alongamen-
pais: a estrutura óssea da arti- to usado, o profissional da área
para aumentar a amplitude arti-
culação, a quantidade de tecido cular, quando a causa de restri- da saúde deve estar completa-
periarticular e a extensibilidade mente familiarizado com a es-
ção de ADM for o componente
de tendões, ligamentos e tecido trutura e a função da articula-
musculotendineo (BRADY,
muscular que cruzam a articu- 2003). ção em questão. O profissional
lação (ALLSEN, 1999). Com a deve saber não somente o grau
Tendo em vista estes de limitação do movimento, mas
diminuição da extensibilidade o
músculo perde a capacidade de aspectos, as manobras de flexi- também quais tecidos são res-
se deformar, restringindo a am- bilidade articular são de grande ponsáveis pelas limitações
plitude articular na direção do utilidade na pratica diária da fi- (ALTER, 1999).
movimento do qual é antagonis- sioterapia, já que constantemen-
te estes profissionais lidam com Os tecidos moles vari-
ta (BRANDY, 2003), assim am em características físicas e
como hábitos sedentários são um pacientes que apresentam res-
mecânicas. Tanto os tecidos
dos maiores responsáveis pela trição de amplitude articular
decorrentes de fatores intrínse- contráteis como os não-
perda de flexibilidade, pois a contráteis são extensíveis e elás-
falta de uso da estrutura em ar- cos ou extrínsecos, por isso se
faz necessário o conhecimento ticos, mas os tecidos contráteis
cos extremos de movimento ar- também são contraíveis.
ticular resulta na adaptação dos claro e objetivo deste assunto,
Contratilidade é a habilidade de
tecidos conjuntivos a compri- esclarecendo pontos de vista ou
pensamentos errôneos a respei- um músculo para encurtar e
mentos menores com conse- desenvolver tensão ao longo de
qüente perda da extensibilidade. to desta técnica, que possam in-
terferir na boa prática das ma- sua extensão. Distensibilidade
Além disso, a redução da flexi- (comumente conhecida como
bilidade sendo responsável por nobras que podem ser utilizadas
extensibilidade) é a proprieda-
movimentos corporais incorre- para o ganho de flexibilidade
articular. de do tecido muscular em au-
tos contribui para o uso viciosos mentar o comprimento em res-
da estrutura anatômica gerando posta a uma força aplicada ex-
estresse mecânico e predispon- ternamente (ALTER, 1999).

2 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


Assim quanto menor a capazes de um leve grau de haja adaptação das fibras ao novo
distensibilidade de um tecido extensibilidade. Elas são, con- comprimento.Nessa posição
mole, maior deve ser a força tudo muito resistente ao estresse uma leve tensão deve ser per-
que pode produzir um alonga- de tração. Logo, são os princi- cebida, o alongamento progride,
mento. Um tecido de alta pais constituintes de estruturas, aumentando de intensidade, à
distensibilidade não pode resis- como ligamentos e tendões que medida que o paciente se adapta
tir a uma força de alongamen- são submetidos a uma força de a posição para então adquirir um
to, assim como um tecido que é tração (ALTER, 1999). Portan- novo posicionamento.
muito rígido, e precisará de uma to de acordo com as modifica- Dentre as vantagens do
força maior que o tecido me- ções ocorridas no tecido conjun- alongamento estático Allsen
nos rígido para produzir o mes- tivo derivam de tensões a ele
(1999), descreve que contribui
mo grau de deformação. As- impostas, se a tensão for pro- para o alivio das dores muscu-
sim, os tecidos moles com mai- longada e contínua as molécu-
lares e para melhora da flexibi-
or rigidez são menos suscetí- las e os feixes do tecido conjun- lidade, já Hall e Brody (2001)
veis a lesões como distensões e tivo se alongam (BIENFAIT, acrescentam que reduzem o gas-
entorses (ALTER, 1999). 1995).
to de energia global, diminuem
Os tecidos moles não a possibilidade de ultrapassar a
são perfeitamente elásticos. extensibilidade tecidual e dimi-
MÉTODOS DE
Além do seu limite elástico, eles nui a possibilidade de causar
não podem retornar a seu com- ALONGAMENTO dores musculares, Brandy
primento original uma vez que (2003) afirma também que ele
a força de alongamento é remo- reduz a atividade dos fusos mus-
Existem três tipos bási-
vida. A diferença entre o com- culares e aumenta consideravel-
cos de alongamento, o estático,
primento original e o novo com- mente a atividade dos órgãos
o balístico e por facilitação
primento é chamada de disposi- tendinosos de golgi (OTG).
neuromuscular proprioceptiva
ção permanente (alongamento O alongamento Balís-
(FNP). No método de alonga-
plástico ou deformação) e
mento estático, músculos e te- tico, o músculo é levado a se
correlaciona-se a uma lesão contrair e relaxar de forma rá-
cidos são estirados e mantidos
tecidual menor (ALTER, 1999).
em posição estacionária em seu pida e repetida, levando a
Os tecidos não maior comprimento possível por deflagração de estímulos que
contráteis são constituídos prin- um período de 15 a 60 segundos mandam o músculo contrair ao
cipalmente por colágeno, uma (HALL, BRODY, 2001). Já de invés de relaxar (reflexo de
proteína mais abundante nos acordo com Brandy (2003), o estiramento), aumentando a pos-
mamíferos que é um componen- procedimento realizado é alon- sibilidade de causar micro lesões
te estrutural principal do tecido gar o músculo de forma lenta e que posteriormente podem inter-
vivo. Nos vertebrados, por gradual. A baixa velocidade de ferir no bom funcionamento do
exemplo, o colágeno constitui alongamento do músculo evita a músculo. Apesar disso, esse tipo
um terço ou mais das proteínas resposta neurológica do reflexo de técnica tem eficácia para
totais do corpo. As fibras do estiramento e estimula a ati- melhora da flexibilidade de uma
colagenosas aparecem sem cor vidade dos órgãos tendinosos de população restrita (atletas), uma
e esbranquiçadas. Elas são ar- golgi facilitando o alongamento vez que para um bom rendimen-
ranjadas em feixes e, exceto sob muscular, o arco de movimento to em atividades dinâmicas são
tensão, atravessam um cami- de ser mantido por um tempo de necessárias atividades balísti-
nho caracteristicamente ondu- no mínimo 15 segundos e no cas. Para tanto se sugere um
lado. As fibras colágenas só são máximo 60 segundos, para que programa de flexibilidade dinâ-

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 3


mico em que o individuo passa de movimento em ambas as ve- contração do agonista. Além
por uma serie de alongamentos locidades, rápida e lenta disso, às vezes, se usa o mesmo
balísticos, onde se varia a velo- (STAMFORD, 1981). Há, con- termo para diferentes técnicas
cidade (lento – rápido) e a am- tudo, uma quantidade considerá- de alongamento por FPN, por-
plitude de movimento (arco vel de pesquisas indicando que tanto três técnicas de alonga-
completo ou incompleto), sendo ambos os métodos, balístico e mento por FPN vão ser defini-
que antes desse programa o estático, são eficazes no desen- das como: manter-relaxar, con-
individuo passa por uma serie de volvimento da flexibilidade trair-relaxar e manter em rever-
alongamentos estáticos até pro- (CORBIN e NOBLE, 1980; são lenta-relaxar (ALLSEN,
gredir para as atividades balís- LOGAN e EGSTROM, 1961; 1999).
ticas de baixa, média e alta ve- SADY, WORTMAN e
Na técnica manter-relaxar, o
locidade (BRADY, 2003). BLANKE, 1982; STAMFORD, profissional move passivamen-
1981; WEBER e KRAUS, 1949,
Allsen (1999), concorda te o membro a ser alongado até
com o autor quando ele se refe- apud ALTER, 1999). o final da amplitude de movi-
re à reação muscular ao alon- O alongamento por fa- mento. Uma vez atingido o final
gamento balístico e possibilida- cilitação proprioceptiva da amplitude de movimento, o
de de lesões, mas acrescenta neuromuscular é a outra técni- paciente aplica uma contração
que seus efeitos benéficos podem ca utilizada, que de acordo com isométrica, no músculo que se
ser potencializados quando rea- Knott e Voss, as técnicas de quer alongar, contra resistência
lizados como atividade pós- FPN são métodos “para promo- imposta pelo profissional por 6s,
aquecimento, pois a temperatu- ver ou acelerar a resposta de um após a remoção da contração o
ra dos tecidos encontram-se mecanismo neuromuscular pela músculo relaxa-se e o profissio-
mais elevada, tornando-os mais estimulação de nal aplica alongamento, manten-
maleáveis e menos passiveis de proprioceptores”. Com base do-o por cerca de 10 a 20s. Sem
lesão. Acredita-se, também, nesses conceitos de influenciar abaixar o membro, pode-se re-
que o condicionamento possa a resposta muscular, podem-se petir este processo de três a cin-
afrouxar as conexões de actina- usar as técnicas de FPN para co vezes, para então retorná-lo
miosina aumentando a eficácia fortalecer os músculos e aumen- ao seu posicionamento inicial. A
do alongamento (HALL; tar sua flexibilidade articular contração isométrica do músculo
BRODY, 2001). (ALLSEN, 1999). que está sendo alongado acarre-
Um dos tópicos mais Uma contração breve ta um aumento da tensão nesse
músculo, o que estimula o ór-
controversos da ciência dos es- antes de um alongamento estáti-
portes é o valor relativo dos pro- co do músculo é o ponto chave gão tendinoso de golgi. O OTG
causa então um relaxamento re-
gramas de alongamento balístico para as técnicas de FPN para
flexo do músculo (inibição
versus estático para desenvolver aumentar a flexibilidade muscu-
a flexibilidade. A controvérsia lar. A terminologia usada para autógena) antes que o músculo
seja movido a uma nova posição
é complicada pela falta de pes- descrever as atividades de alon-
quisa sobre a flexibilidade balís- gamento por FPN tem variado de alongamento e alongado pas-
sivamente (ALLSEN, 1999).
tica. O alongamento balístico é consideravelmente, incluindo o
difícil de avaliar por causa da uso de novos termos como: con- Uma outra técnica utili-
necessidade de equipamento trair-relaxar, manter-relaxar, zada é contrair-relaxar, em que
elaborado e habilidade técnica manter em reversão lenta-rela- se faz o mesmo procedimento
na mensuração da força que é xar, contração do agonista, con- da técnica anterior, assim o
requerida para mover a articu- trair—relaxar com contração do profissional solicita ao paciente
lação através de sua amplitude agonista e manter—relaxar com para tentar executar uma con-

4 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


tração concêntrica do músculo alongamento, o profissional so- um tecido em se moldar às ten-
oposto ao músculo que está sen- licita ao paciente relaxar e man- sões diminui a probabilidade de
do alongado, causando um alon- ter a posição por 10 a 20 s. Sem lesão), auxílio na recuperação
gamento maior, ou seja, em retornar a posição inicial, pode- muscular após uma atividade fí-
qualquer grupo muscular se repetir a técnica três a cinco sica, desenvolvimento de cons-
sinérgico uma contração do vezes e depois retornar ao ciência corporal, benefício a
agonista causa um relaxamento posicionamento inicial. Portan- coordenação por tornar os mo-
reflexo do músculo antagonista, to as técnicas de alongamento vimentos mais soltos e fáceis e
possibilitando ao músculo anta- por FPN são eficazes em au- a ativação da circulação.
gonista relaxar para um alonga- mentar a flexibilidade muscular,
As técnicas de FNP po-
mento mais eficaz (inibição re- a escolha da técnica depende da
dem ter melhores resultados que
cíproca). Enquanto o paciente situação apresentada pelo paci-
as estáticas ou balísticas para
executa a contração concêntri- ente (ALLSEN, 1999).
produzir efeitos agudos sobre a
ca do músculo, causando um
amplitude dinâmica de movi-
alongamento maior, o profissi-
EFEITOS DO mento (HALL; BRODY, 2001).
onal aproveita qualquer ampli-
tude de movimento que tenha ALONGAMENTO
sido ganha, mantendo, assim, o
INDICAÇÕES DO
membro na nova posição de
Os efeitos do alonga- ALONGAMENTO
alongamento, o profissional
pede ao paciente a relaxar e mento se dividem em agudos e
manter a posição por 10 a 20 s. crônicos, pois os agudos ou ime-
Segundo Kisner (1998)
Sem abaixar o membro, pode- diatos são resultado da
as indicações do alongamento
se repetir a técnica de três a cin- flexibilização do componente
são quando a amplitude de mo-
co vezes para retorná-la a posi- elástico da unidade
vimento está limitada como re-
ção inicial (ALLSEN, 1999). musculotendinosa, obtidos com
sultado de contraturas, adesões
exercícios sistemáticos de alon-
A técnica de manter em e formações de tecido
gamento. Os efeitos crônicos ou
reversão lenta-relaxar segue os cicatricial, levando ao encurta-
a longo prazo são o acréscimo
mesmos procedimentos das téc- mento de músculos, tecido
no número de sarcômeros que
nicas anteriores, em que o paci- conectivo e pele; quando as li-
implica o aumento do compri-
ente aplica uma força isométrica mitações podem levar a defor-
mento muscular. Estes efeitos
contra o profissional por 6s, con- midades estruturais que podem
podem permanecer por determi-
traindo assim o músculo a ser ser prevenidas; quando as
nado período após a interrupção
alongado (inibição autógena). contraturas interferem com as
dos exercícios (HALL;
Depois da contração isométrica atividades funcionais cotidianas;
BRODY,2001).
do músculo, o profissional soli- quando existe fraqueza muscu-
cita ao paciente para tentar exe- De acordo com lar e retração nos tecidos opos-
cutar uma contração concêntri- Sobierajski (2004) existem ou- tos. Os músculos retraídos de-
ca do músculo oposto, causando tros efeitos promovidos pelos vem ser alongados antes que os
um alongamento maior (inibição exercícios de alongamento músculos fracos possam ser efe-
recíproca), aproveitando qual- como: redução de tensões tivamente fortalecidos.
quer amplitude de movimento musculares,prevenção de lesões
que tenha sido ganha, mantendo como as distensões,
o membro na nova posição de estiramentos (a capacidade de

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 5


CONTRA-INDICAÇÕES dem ser comparadas em rela- REFERÊNCIAS:
ção ao seu grau de eficiência .
segundo Hall e Brody (2001), as
Existem algumas con- técnicas de FNP são mais efi- ALLSEN, P. E; HARRINSON,
tra-indicações para o uso das cazes, quando comparadas às J. M; BARBARA, V. Exercí-
técnicas de alongamento segun- técnicas estáticas ou balísticas. cio e qualidade de vida: uma
do Kisner (1998) quando um blo- No entanto, não existem estudos abordagem personalizada. 6.
queio ósseo limita a mobilidade concretos que comprovem tal ed. São Paulo: Manole, 1999.
articular ou após uma fratura eficiência.
recente, evidências de proces- ALTER, M. J. Ciência da fle-
Outro ponto a ser anali- xibilidade. 2.ed. Porto Alegre:
sos inflamatórios ou infeccioso
sado é o emprego do alongamen- Artmed, 1999.
agudo intra ou extra-articular e
to balístico como forma de tera-
sensação de dor, trauma nos te- BANDY, D. W; SANDRES, B.
pia, ainda muito questionada em
cidos ou quando existem Exercícios terapêuticos: técni-
relação a sua real eficácia du-
contraturas ou os tecidos moles cas para intervenção. Rio de
rante o programa de tratamen-
encurtados estiverem promoven- Janeiro: Guanabara Koogan,
to. Apesar dos questionamentos
do aumento na estabilidade arti- 2003.
relacionados aos seus efeitos le-
cular em substituição a estabili-
sivos, essa técnica pode ser per- BIENFAIT, M. Os
dade estrutural normal ou quan-
feitamente aplicável a uma po- desequilíbrios estáticos. 3. ed.
do forem a base de habilidade
pulação específica (atletas), que São Paulo: Summus, 1995.
funcionais, principalmente em
possuem estrutura do aparelho
pacientes com paralisia ou fra- _________. Fisiologia da tera-
locomotor preparado para rece- pia manual. São Paulo:
queza muscular.
ber esse tipo de atividade. Sen-
Summus, 1989.
do assim, ao contrabalançar
seus efeitos gerais, os benéficos HALL, M. C; BRODY, T. L.
CONSIDERAÇÕES
são relativamente maiores que Exercícios terapêuticos: na
FINAIS busca da função.Rio de Janeiro:
os lesivos.
Guanabara Koogan, 2001
Logo, se faz necessário
Os conhecimentos so- o conhecimento real a respeito KISNER, C; COLBY, L. A.
bre a biomecânica dos tecidos das várias técnicas levando-se Exercícios terapêuticos: funda-
moles são de grande valia para em consideração itens como: mentos e técnicas. 3. ed. São
a aplicação das técnicas de alon- procedimentos, precauções e Paulo: Manole, 1998.
gamento muscular em vários aplicabilidade; para que assim SOBIERAJSKI, F. Efeito do
casos. se possa obter sucesso ao trata- alongamento. Disponível em:
Apesar da variabilidade mento empregado. <http//: www.corpohumano.
de técnicas cada uma possui sua hpg. ig.com.br.> Acesso em:
particularidade, não havendo um 13.abr.2004.
ponto comum entre elas, e po-

6 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


ALONGAMENTO MUSCULAR: UMA
VERSÃO ATUALIZADA

Adélia Oliveira da Conceição 1

George Alberto da Silva Dias 2

RESUMO:
O presente artigo apresenta-se como revisão bibliográfica sobre alongamento muscular, abor-
dando seus principais conceitos, as características dos tecidos corporais envolvidos, principais
métodos e alguns cuidados necessários para a boa aplicação da terapia. Dessa forma o objetivo
do texto é desmistificar alguns aspectos sobre o assunto que possam interferir na boa pratica das
técnicas, favorecendo, assim, um melhor conhecimento sobre o assunto para os profissionais
da área da saúde, em especial aos fisioterapeutas.

*
Acadêmica do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitora das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
**
Acadêmico do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitor das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
***
Artigo realizado sob orientação da docente Mônica Cardoso da Cruz do curso de Fisioterapia na disciplina Cinésioterapia e Especialista
em Fisioterapia Neurofuncional.

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 1


INTRODUÇÃO do a lesões cumulativas do apa- PROPRIEDADES DOS
relho locomotor (ALLSEN, TECIDOS MOLES
1999).
O alongamento é uma
manobra terapêutica utilizada As atividades de flexibi-
lidade são comumente recomen- Os métodos de alonga-
para aumentar o comprimento mento empregados nas disci-
(alongar) de tecidos moles que dadas como atividade pré-aque-
plinas de atletismo, dança, fisi-
estejam encurtados (KISNER, cimento ou como procedimento
pós-aquecimento conforme é oterapia e ioga podem variar
1998), podendo ser definido tam- bastante. Contudo, determinado
bém como técnica utilizada para recomendado pelos autores
(BRANDY, 2003), (HALL; conhecimento é necessário em
aumentar a extensibilidade todas essas disciplinas. Um co-
músculotendinosa e do tecido BRODY, 2001) e
nhecimento básico do mecanis-
conjuntivo periarticular, de tal (ALLSEN,1999), são utilizados
também para manter o funcio- mo neuromuscular normal, in-
modo contribuindo para aumen- cluindo desenvolvimento motor,
tar a flexibilidade articular namento normal do músculo evi-
tando lesões, melhorar o desem- anatomia, neurofisiologia e
(HALL; BRODY, 2001). cinesiologia, é muito útil, se não
penho de atletas e auxiliar na
A flexibilidade sofre in- essencial. Além disso, qualquer
reabilitação pós lesão. Como
fluência de três fatores princi- conduta terapêutica é indicado que seja o método de alongamen-
pais: a estrutura óssea da arti- to usado, o profissional da área
para aumentar a amplitude arti-
culação, a quantidade de tecido cular, quando a causa de restri- da saúde deve estar completa-
periarticular e a extensibilidade mente familiarizado com a es-
ção de ADM for o componente
de tendões, ligamentos e tecido trutura e a função da articula-
musculotendineo (BRADY,
muscular que cruzam a articu- 2003). ção em questão. O profissional
lação (ALLSEN, 1999). Com a deve saber não somente o grau
Tendo em vista estes de limitação do movimento, mas
diminuição da extensibilidade o
músculo perde a capacidade de aspectos, as manobras de flexi- também quais tecidos são res-
se deformar, restringindo a am- bilidade articular são de grande ponsáveis pelas limitações
plitude articular na direção do utilidade na pratica diária da fi- (ALTER, 1999).
movimento do qual é antagonis- sioterapia, já que constantemen-
te estes profissionais lidam com Os tecidos moles vari-
ta (BRANDY, 2003), assim am em características físicas e
como hábitos sedentários são um pacientes que apresentam res-
mecânicas. Tanto os tecidos
dos maiores responsáveis pela trição de amplitude articular
decorrentes de fatores intrínse- contráteis como os não-
perda de flexibilidade, pois a contráteis são extensíveis e elás-
falta de uso da estrutura em ar- cos ou extrínsecos, por isso se
faz necessário o conhecimento ticos, mas os tecidos contráteis
cos extremos de movimento ar- também são contraíveis.
ticular resulta na adaptação dos claro e objetivo deste assunto,
Contratilidade é a habilidade de
tecidos conjuntivos a compri- esclarecendo pontos de vista ou
pensamentos errôneos a respei- um músculo para encurtar e
mentos menores com conse- desenvolver tensão ao longo de
qüente perda da extensibilidade. to desta técnica, que possam in-
terferir na boa prática das ma- sua extensão. Distensibilidade
Além disso, a redução da flexi- (comumente conhecida como
bilidade sendo responsável por nobras que podem ser utilizadas
extensibilidade) é a proprieda-
movimentos corporais incorre- para o ganho de flexibilidade
articular. de do tecido muscular em au-
tos contribui para o uso viciosos mentar o comprimento em res-
da estrutura anatômica gerando posta a uma força aplicada ex-
estresse mecânico e predispon- ternamente (ALTER, 1999).

2 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


Assim quanto menor a capazes de um leve grau de haja adaptação das fibras ao novo
distensibilidade de um tecido extensibilidade. Elas são, con- comprimento.Nessa posição
mole, maior deve ser a força tudo muito resistente ao estresse uma leve tensão deve ser per-
que pode produzir um alonga- de tração. Logo, são os princi- cebida, o alongamento progride,
mento. Um tecido de alta pais constituintes de estruturas, aumentando de intensidade, à
distensibilidade não pode resis- como ligamentos e tendões que medida que o paciente se adapta
tir a uma força de alongamen- são submetidos a uma força de a posição para então adquirir um
to, assim como um tecido que é tração (ALTER, 1999). Portan- novo posicionamento.
muito rígido, e precisará de uma to de acordo com as modifica- Dentre as vantagens do
força maior que o tecido me- ções ocorridas no tecido conjun- alongamento estático Allsen
nos rígido para produzir o mes- tivo derivam de tensões a ele
(1999), descreve que contribui
mo grau de deformação. As- impostas, se a tensão for pro- para o alivio das dores muscu-
sim, os tecidos moles com mai- longada e contínua as molécu-
lares e para melhora da flexibi-
or rigidez são menos suscetí- las e os feixes do tecido conjun- lidade, já Hall e Brody (2001)
veis a lesões como distensões e tivo se alongam (BIENFAIT, acrescentam que reduzem o gas-
entorses (ALTER, 1999). 1995).
to de energia global, diminuem
Os tecidos moles não a possibilidade de ultrapassar a
são perfeitamente elásticos. extensibilidade tecidual e dimi-
MÉTODOS DE
Além do seu limite elástico, eles nui a possibilidade de causar
não podem retornar a seu com- ALONGAMENTO dores musculares, Brandy
primento original uma vez que (2003) afirma também que ele
a força de alongamento é remo- reduz a atividade dos fusos mus-
Existem três tipos bási-
vida. A diferença entre o com- culares e aumenta consideravel-
cos de alongamento, o estático,
primento original e o novo com- mente a atividade dos órgãos
o balístico e por facilitação
primento é chamada de disposi- tendinosos de golgi (OTG).
neuromuscular proprioceptiva
ção permanente (alongamento O alongamento Balís-
(FNP). No método de alonga-
plástico ou deformação) e
mento estático, músculos e te- tico, o músculo é levado a se
correlaciona-se a uma lesão contrair e relaxar de forma rá-
cidos são estirados e mantidos
tecidual menor (ALTER, 1999).
em posição estacionária em seu pida e repetida, levando a
Os tecidos não maior comprimento possível por deflagração de estímulos que
contráteis são constituídos prin- um período de 15 a 60 segundos mandam o músculo contrair ao
cipalmente por colágeno, uma (HALL, BRODY, 2001). Já de invés de relaxar (reflexo de
proteína mais abundante nos acordo com Brandy (2003), o estiramento), aumentando a pos-
mamíferos que é um componen- procedimento realizado é alon- sibilidade de causar micro lesões
te estrutural principal do tecido gar o músculo de forma lenta e que posteriormente podem inter-
vivo. Nos vertebrados, por gradual. A baixa velocidade de ferir no bom funcionamento do
exemplo, o colágeno constitui alongamento do músculo evita a músculo. Apesar disso, esse tipo
um terço ou mais das proteínas resposta neurológica do reflexo de técnica tem eficácia para
totais do corpo. As fibras do estiramento e estimula a ati- melhora da flexibilidade de uma
colagenosas aparecem sem cor vidade dos órgãos tendinosos de população restrita (atletas), uma
e esbranquiçadas. Elas são ar- golgi facilitando o alongamento vez que para um bom rendimen-
ranjadas em feixes e, exceto sob muscular, o arco de movimento to em atividades dinâmicas são
tensão, atravessam um cami- de ser mantido por um tempo de necessárias atividades balísti-
nho caracteristicamente ondu- no mínimo 15 segundos e no cas. Para tanto se sugere um
lado. As fibras colágenas só são máximo 60 segundos, para que programa de flexibilidade dinâ-

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 3


mico em que o individuo passa de movimento em ambas as ve- contração do agonista. Além
por uma serie de alongamentos locidades, rápida e lenta disso, às vezes, se usa o mesmo
balísticos, onde se varia a velo- (STAMFORD, 1981). Há, con- termo para diferentes técnicas
cidade (lento – rápido) e a am- tudo, uma quantidade considerá- de alongamento por FPN, por-
plitude de movimento (arco vel de pesquisas indicando que tanto três técnicas de alonga-
completo ou incompleto), sendo ambos os métodos, balístico e mento por FPN vão ser defini-
que antes desse programa o estático, são eficazes no desen- das como: manter-relaxar, con-
individuo passa por uma serie de volvimento da flexibilidade trair-relaxar e manter em rever-
alongamentos estáticos até pro- (CORBIN e NOBLE, 1980; são lenta-relaxar (ALLSEN,
gredir para as atividades balís- LOGAN e EGSTROM, 1961; 1999).
ticas de baixa, média e alta ve- SADY, WORTMAN e
Na técnica manter-relaxar, o
locidade (BRADY, 2003). BLANKE, 1982; STAMFORD, profissional move passivamen-
1981; WEBER e KRAUS, 1949,
Allsen (1999), concorda te o membro a ser alongado até
com o autor quando ele se refe- apud ALTER, 1999). o final da amplitude de movi-
re à reação muscular ao alon- O alongamento por fa- mento. Uma vez atingido o final
gamento balístico e possibilida- cilitação proprioceptiva da amplitude de movimento, o
de de lesões, mas acrescenta neuromuscular é a outra técni- paciente aplica uma contração
que seus efeitos benéficos podem ca utilizada, que de acordo com isométrica, no músculo que se
ser potencializados quando rea- Knott e Voss, as técnicas de quer alongar, contra resistência
lizados como atividade pós- FPN são métodos “para promo- imposta pelo profissional por 6s,
aquecimento, pois a temperatu- ver ou acelerar a resposta de um após a remoção da contração o
ra dos tecidos encontram-se mecanismo neuromuscular pela músculo relaxa-se e o profissio-
mais elevada, tornando-os mais estimulação de nal aplica alongamento, manten-
maleáveis e menos passiveis de proprioceptores”. Com base do-o por cerca de 10 a 20s. Sem
lesão. Acredita-se, também, nesses conceitos de influenciar abaixar o membro, pode-se re-
que o condicionamento possa a resposta muscular, podem-se petir este processo de três a cin-
afrouxar as conexões de actina- usar as técnicas de FPN para co vezes, para então retorná-lo
miosina aumentando a eficácia fortalecer os músculos e aumen- ao seu posicionamento inicial. A
do alongamento (HALL; tar sua flexibilidade articular contração isométrica do músculo
BRODY, 2001). (ALLSEN, 1999). que está sendo alongado acarre-
Um dos tópicos mais Uma contração breve ta um aumento da tensão nesse
músculo, o que estimula o ór-
controversos da ciência dos es- antes de um alongamento estáti-
portes é o valor relativo dos pro- co do músculo é o ponto chave gão tendinoso de golgi. O OTG
causa então um relaxamento re-
gramas de alongamento balístico para as técnicas de FPN para
flexo do músculo (inibição
versus estático para desenvolver aumentar a flexibilidade muscu-
a flexibilidade. A controvérsia lar. A terminologia usada para autógena) antes que o músculo
seja movido a uma nova posição
é complicada pela falta de pes- descrever as atividades de alon-
quisa sobre a flexibilidade balís- gamento por FPN tem variado de alongamento e alongado pas-
sivamente (ALLSEN, 1999).
tica. O alongamento balístico é consideravelmente, incluindo o
difícil de avaliar por causa da uso de novos termos como: con- Uma outra técnica utili-
necessidade de equipamento trair-relaxar, manter-relaxar, zada é contrair-relaxar, em que
elaborado e habilidade técnica manter em reversão lenta-rela- se faz o mesmo procedimento
na mensuração da força que é xar, contração do agonista, con- da técnica anterior, assim o
requerida para mover a articu- trair—relaxar com contração do profissional solicita ao paciente
lação através de sua amplitude agonista e manter—relaxar com para tentar executar uma con-

4 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


tração concêntrica do músculo alongamento, o profissional so- um tecido em se moldar às ten-
oposto ao músculo que está sen- licita ao paciente relaxar e man- sões diminui a probabilidade de
do alongado, causando um alon- ter a posição por 10 a 20 s. Sem lesão), auxílio na recuperação
gamento maior, ou seja, em retornar a posição inicial, pode- muscular após uma atividade fí-
qualquer grupo muscular se repetir a técnica três a cinco sica, desenvolvimento de cons-
sinérgico uma contração do vezes e depois retornar ao ciência corporal, benefício a
agonista causa um relaxamento posicionamento inicial. Portan- coordenação por tornar os mo-
reflexo do músculo antagonista, to as técnicas de alongamento vimentos mais soltos e fáceis e
possibilitando ao músculo anta- por FPN são eficazes em au- a ativação da circulação.
gonista relaxar para um alonga- mentar a flexibilidade muscular,
As técnicas de FNP po-
mento mais eficaz (inibição re- a escolha da técnica depende da
dem ter melhores resultados que
cíproca). Enquanto o paciente situação apresentada pelo paci-
as estáticas ou balísticas para
executa a contração concêntri- ente (ALLSEN, 1999).
produzir efeitos agudos sobre a
ca do músculo, causando um
amplitude dinâmica de movi-
alongamento maior, o profissi-
EFEITOS DO mento (HALL; BRODY, 2001).
onal aproveita qualquer ampli-
tude de movimento que tenha ALONGAMENTO
sido ganha, mantendo, assim, o
INDICAÇÕES DO
membro na nova posição de
Os efeitos do alonga- ALONGAMENTO
alongamento, o profissional
pede ao paciente a relaxar e mento se dividem em agudos e
manter a posição por 10 a 20 s. crônicos, pois os agudos ou ime-
Segundo Kisner (1998)
Sem abaixar o membro, pode- diatos são resultado da
as indicações do alongamento
se repetir a técnica de três a cin- flexibilização do componente
são quando a amplitude de mo-
co vezes para retorná-la a posi- elástico da unidade
vimento está limitada como re-
ção inicial (ALLSEN, 1999). musculotendinosa, obtidos com
sultado de contraturas, adesões
exercícios sistemáticos de alon-
A técnica de manter em e formações de tecido
gamento. Os efeitos crônicos ou
reversão lenta-relaxar segue os cicatricial, levando ao encurta-
a longo prazo são o acréscimo
mesmos procedimentos das téc- mento de músculos, tecido
no número de sarcômeros que
nicas anteriores, em que o paci- conectivo e pele; quando as li-
implica o aumento do compri-
ente aplica uma força isométrica mitações podem levar a defor-
mento muscular. Estes efeitos
contra o profissional por 6s, con- midades estruturais que podem
podem permanecer por determi-
traindo assim o músculo a ser ser prevenidas; quando as
nado período após a interrupção
alongado (inibição autógena). contraturas interferem com as
dos exercícios (HALL;
Depois da contração isométrica atividades funcionais cotidianas;
BRODY,2001).
do músculo, o profissional soli- quando existe fraqueza muscu-
cita ao paciente para tentar exe- De acordo com lar e retração nos tecidos opos-
cutar uma contração concêntri- Sobierajski (2004) existem ou- tos. Os músculos retraídos de-
ca do músculo oposto, causando tros efeitos promovidos pelos vem ser alongados antes que os
um alongamento maior (inibição exercícios de alongamento músculos fracos possam ser efe-
recíproca), aproveitando qual- como: redução de tensões tivamente fortalecidos.
quer amplitude de movimento musculares,prevenção de lesões
que tenha sido ganha, mantendo como as distensões,
o membro na nova posição de estiramentos (a capacidade de

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 5


CONTRA-INDICAÇÕES dem ser comparadas em rela- REFERÊNCIAS:
ção ao seu grau de eficiência .
segundo Hall e Brody (2001), as
Existem algumas con- técnicas de FNP são mais efi- ALLSEN, P. E; HARRINSON,
tra-indicações para o uso das cazes, quando comparadas às J. M; BARBARA, V. Exercí-
técnicas de alongamento segun- técnicas estáticas ou balísticas. cio e qualidade de vida: uma
do Kisner (1998) quando um blo- No entanto, não existem estudos abordagem personalizada. 6.
queio ósseo limita a mobilidade concretos que comprovem tal ed. São Paulo: Manole, 1999.
articular ou após uma fratura eficiência.
recente, evidências de proces- ALTER, M. J. Ciência da fle-
Outro ponto a ser anali- xibilidade. 2.ed. Porto Alegre:
sos inflamatórios ou infeccioso
sado é o emprego do alongamen- Artmed, 1999.
agudo intra ou extra-articular e
to balístico como forma de tera-
sensação de dor, trauma nos te- BANDY, D. W; SANDRES, B.
pia, ainda muito questionada em
cidos ou quando existem Exercícios terapêuticos: técni-
relação a sua real eficácia du-
contraturas ou os tecidos moles cas para intervenção. Rio de
rante o programa de tratamen-
encurtados estiverem promoven- Janeiro: Guanabara Koogan,
to. Apesar dos questionamentos
do aumento na estabilidade arti- 2003.
relacionados aos seus efeitos le-
cular em substituição a estabili-
sivos, essa técnica pode ser per- BIENFAIT, M. Os
dade estrutural normal ou quan-
feitamente aplicável a uma po- desequilíbrios estáticos. 3. ed.
do forem a base de habilidade
pulação específica (atletas), que São Paulo: Summus, 1995.
funcionais, principalmente em
possuem estrutura do aparelho
pacientes com paralisia ou fra- _________. Fisiologia da tera-
locomotor preparado para rece- pia manual. São Paulo:
queza muscular.
ber esse tipo de atividade. Sen-
Summus, 1989.
do assim, ao contrabalançar
seus efeitos gerais, os benéficos HALL, M. C; BRODY, T. L.
CONSIDERAÇÕES
são relativamente maiores que Exercícios terapêuticos: na
FINAIS busca da função.Rio de Janeiro:
os lesivos.
Guanabara Koogan, 2001
Logo, se faz necessário
Os conhecimentos so- o conhecimento real a respeito KISNER, C; COLBY, L. A.
bre a biomecânica dos tecidos das várias técnicas levando-se Exercícios terapêuticos: funda-
moles são de grande valia para em consideração itens como: mentos e técnicas. 3. ed. São
a aplicação das técnicas de alon- procedimentos, precauções e Paulo: Manole, 1998.
gamento muscular em vários aplicabilidade; para que assim SOBIERAJSKI, F. Efeito do
casos. se possa obter sucesso ao trata- alongamento. Disponível em:
Apesar da variabilidade mento empregado. <http//: www.corpohumano.
de técnicas cada uma possui sua hpg. ig.com.br.> Acesso em:
particularidade, não havendo um 13.abr.2004.
ponto comum entre elas, e po-

6 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


ALONGAMENTO MUSCULAR: UMA
VERSÃO ATUALIZADA

Adélia Oliveira da Conceição 1

George Alberto da Silva Dias 2

RESUMO:
O presente artigo apresenta-se como revisão bibliográfica sobre alongamento muscular, abor-
dando seus principais conceitos, as características dos tecidos corporais envolvidos, principais
métodos e alguns cuidados necessários para a boa aplicação da terapia. Dessa forma o objetivo
do texto é desmistificar alguns aspectos sobre o assunto que possam interferir na boa pratica das
técnicas, favorecendo, assim, um melhor conhecimento sobre o assunto para os profissionais
da área da saúde, em especial aos fisioterapeutas.

*
Acadêmica do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitora das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
**
Acadêmico do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitor das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
***
Artigo realizado sob orientação da docente Mônica Cardoso da Cruz do curso de Fisioterapia na disciplina Cinésioterapia e Especialista
em Fisioterapia Neurofuncional.

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 1


INTRODUÇÃO do a lesões cumulativas do apa- PROPRIEDADES DOS
relho locomotor (ALLSEN, TECIDOS MOLES
1999).
O alongamento é uma
manobra terapêutica utilizada As atividades de flexibi-
lidade são comumente recomen- Os métodos de alonga-
para aumentar o comprimento mento empregados nas disci-
(alongar) de tecidos moles que dadas como atividade pré-aque-
plinas de atletismo, dança, fisi-
estejam encurtados (KISNER, cimento ou como procedimento
pós-aquecimento conforme é oterapia e ioga podem variar
1998), podendo ser definido tam- bastante. Contudo, determinado
bém como técnica utilizada para recomendado pelos autores
(BRANDY, 2003), (HALL; conhecimento é necessário em
aumentar a extensibilidade todas essas disciplinas. Um co-
músculotendinosa e do tecido BRODY, 2001) e
nhecimento básico do mecanis-
conjuntivo periarticular, de tal (ALLSEN,1999), são utilizados
também para manter o funcio- mo neuromuscular normal, in-
modo contribuindo para aumen- cluindo desenvolvimento motor,
tar a flexibilidade articular namento normal do músculo evi-
tando lesões, melhorar o desem- anatomia, neurofisiologia e
(HALL; BRODY, 2001). cinesiologia, é muito útil, se não
penho de atletas e auxiliar na
A flexibilidade sofre in- essencial. Além disso, qualquer
reabilitação pós lesão. Como
fluência de três fatores princi- conduta terapêutica é indicado que seja o método de alongamen-
pais: a estrutura óssea da arti- to usado, o profissional da área
para aumentar a amplitude arti-
culação, a quantidade de tecido cular, quando a causa de restri- da saúde deve estar completa-
periarticular e a extensibilidade mente familiarizado com a es-
ção de ADM for o componente
de tendões, ligamentos e tecido trutura e a função da articula-
musculotendineo (BRADY,
muscular que cruzam a articu- 2003). ção em questão. O profissional
lação (ALLSEN, 1999). Com a deve saber não somente o grau
Tendo em vista estes de limitação do movimento, mas
diminuição da extensibilidade o
músculo perde a capacidade de aspectos, as manobras de flexi- também quais tecidos são res-
se deformar, restringindo a am- bilidade articular são de grande ponsáveis pelas limitações
plitude articular na direção do utilidade na pratica diária da fi- (ALTER, 1999).
movimento do qual é antagonis- sioterapia, já que constantemen-
te estes profissionais lidam com Os tecidos moles vari-
ta (BRANDY, 2003), assim am em características físicas e
como hábitos sedentários são um pacientes que apresentam res-
mecânicas. Tanto os tecidos
dos maiores responsáveis pela trição de amplitude articular
decorrentes de fatores intrínse- contráteis como os não-
perda de flexibilidade, pois a contráteis são extensíveis e elás-
falta de uso da estrutura em ar- cos ou extrínsecos, por isso se
faz necessário o conhecimento ticos, mas os tecidos contráteis
cos extremos de movimento ar- também são contraíveis.
ticular resulta na adaptação dos claro e objetivo deste assunto,
Contratilidade é a habilidade de
tecidos conjuntivos a compri- esclarecendo pontos de vista ou
pensamentos errôneos a respei- um músculo para encurtar e
mentos menores com conse- desenvolver tensão ao longo de
qüente perda da extensibilidade. to desta técnica, que possam in-
terferir na boa prática das ma- sua extensão. Distensibilidade
Além disso, a redução da flexi- (comumente conhecida como
bilidade sendo responsável por nobras que podem ser utilizadas
extensibilidade) é a proprieda-
movimentos corporais incorre- para o ganho de flexibilidade
articular. de do tecido muscular em au-
tos contribui para o uso viciosos mentar o comprimento em res-
da estrutura anatômica gerando posta a uma força aplicada ex-
estresse mecânico e predispon- ternamente (ALTER, 1999).

2 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


Assim quanto menor a capazes de um leve grau de haja adaptação das fibras ao novo
distensibilidade de um tecido extensibilidade. Elas são, con- comprimento.Nessa posição
mole, maior deve ser a força tudo muito resistente ao estresse uma leve tensão deve ser per-
que pode produzir um alonga- de tração. Logo, são os princi- cebida, o alongamento progride,
mento. Um tecido de alta pais constituintes de estruturas, aumentando de intensidade, à
distensibilidade não pode resis- como ligamentos e tendões que medida que o paciente se adapta
tir a uma força de alongamen- são submetidos a uma força de a posição para então adquirir um
to, assim como um tecido que é tração (ALTER, 1999). Portan- novo posicionamento.
muito rígido, e precisará de uma to de acordo com as modifica- Dentre as vantagens do
força maior que o tecido me- ções ocorridas no tecido conjun- alongamento estático Allsen
nos rígido para produzir o mes- tivo derivam de tensões a ele
(1999), descreve que contribui
mo grau de deformação. As- impostas, se a tensão for pro- para o alivio das dores muscu-
sim, os tecidos moles com mai- longada e contínua as molécu-
lares e para melhora da flexibi-
or rigidez são menos suscetí- las e os feixes do tecido conjun- lidade, já Hall e Brody (2001)
veis a lesões como distensões e tivo se alongam (BIENFAIT, acrescentam que reduzem o gas-
entorses (ALTER, 1999). 1995).
to de energia global, diminuem
Os tecidos moles não a possibilidade de ultrapassar a
são perfeitamente elásticos. extensibilidade tecidual e dimi-
MÉTODOS DE
Além do seu limite elástico, eles nui a possibilidade de causar
não podem retornar a seu com- ALONGAMENTO dores musculares, Brandy
primento original uma vez que (2003) afirma também que ele
a força de alongamento é remo- reduz a atividade dos fusos mus-
Existem três tipos bási-
vida. A diferença entre o com- culares e aumenta consideravel-
cos de alongamento, o estático,
primento original e o novo com- mente a atividade dos órgãos
o balístico e por facilitação
primento é chamada de disposi- tendinosos de golgi (OTG).
neuromuscular proprioceptiva
ção permanente (alongamento O alongamento Balís-
(FNP). No método de alonga-
plástico ou deformação) e
mento estático, músculos e te- tico, o músculo é levado a se
correlaciona-se a uma lesão contrair e relaxar de forma rá-
cidos são estirados e mantidos
tecidual menor (ALTER, 1999).
em posição estacionária em seu pida e repetida, levando a
Os tecidos não maior comprimento possível por deflagração de estímulos que
contráteis são constituídos prin- um período de 15 a 60 segundos mandam o músculo contrair ao
cipalmente por colágeno, uma (HALL, BRODY, 2001). Já de invés de relaxar (reflexo de
proteína mais abundante nos acordo com Brandy (2003), o estiramento), aumentando a pos-
mamíferos que é um componen- procedimento realizado é alon- sibilidade de causar micro lesões
te estrutural principal do tecido gar o músculo de forma lenta e que posteriormente podem inter-
vivo. Nos vertebrados, por gradual. A baixa velocidade de ferir no bom funcionamento do
exemplo, o colágeno constitui alongamento do músculo evita a músculo. Apesar disso, esse tipo
um terço ou mais das proteínas resposta neurológica do reflexo de técnica tem eficácia para
totais do corpo. As fibras do estiramento e estimula a ati- melhora da flexibilidade de uma
colagenosas aparecem sem cor vidade dos órgãos tendinosos de população restrita (atletas), uma
e esbranquiçadas. Elas são ar- golgi facilitando o alongamento vez que para um bom rendimen-
ranjadas em feixes e, exceto sob muscular, o arco de movimento to em atividades dinâmicas são
tensão, atravessam um cami- de ser mantido por um tempo de necessárias atividades balísti-
nho caracteristicamente ondu- no mínimo 15 segundos e no cas. Para tanto se sugere um
lado. As fibras colágenas só são máximo 60 segundos, para que programa de flexibilidade dinâ-

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 3


mico em que o individuo passa de movimento em ambas as ve- contração do agonista. Além
por uma serie de alongamentos locidades, rápida e lenta disso, às vezes, se usa o mesmo
balísticos, onde se varia a velo- (STAMFORD, 1981). Há, con- termo para diferentes técnicas
cidade (lento – rápido) e a am- tudo, uma quantidade considerá- de alongamento por FPN, por-
plitude de movimento (arco vel de pesquisas indicando que tanto três técnicas de alonga-
completo ou incompleto), sendo ambos os métodos, balístico e mento por FPN vão ser defini-
que antes desse programa o estático, são eficazes no desen- das como: manter-relaxar, con-
individuo passa por uma serie de volvimento da flexibilidade trair-relaxar e manter em rever-
alongamentos estáticos até pro- (CORBIN e NOBLE, 1980; são lenta-relaxar (ALLSEN,
gredir para as atividades balís- LOGAN e EGSTROM, 1961; 1999).
ticas de baixa, média e alta ve- SADY, WORTMAN e
Na técnica manter-relaxar, o
locidade (BRADY, 2003). BLANKE, 1982; STAMFORD, profissional move passivamen-
1981; WEBER e KRAUS, 1949,
Allsen (1999), concorda te o membro a ser alongado até
com o autor quando ele se refe- apud ALTER, 1999). o final da amplitude de movi-
re à reação muscular ao alon- O alongamento por fa- mento. Uma vez atingido o final
gamento balístico e possibilida- cilitação proprioceptiva da amplitude de movimento, o
de de lesões, mas acrescenta neuromuscular é a outra técni- paciente aplica uma contração
que seus efeitos benéficos podem ca utilizada, que de acordo com isométrica, no músculo que se
ser potencializados quando rea- Knott e Voss, as técnicas de quer alongar, contra resistência
lizados como atividade pós- FPN são métodos “para promo- imposta pelo profissional por 6s,
aquecimento, pois a temperatu- ver ou acelerar a resposta de um após a remoção da contração o
ra dos tecidos encontram-se mecanismo neuromuscular pela músculo relaxa-se e o profissio-
mais elevada, tornando-os mais estimulação de nal aplica alongamento, manten-
maleáveis e menos passiveis de proprioceptores”. Com base do-o por cerca de 10 a 20s. Sem
lesão. Acredita-se, também, nesses conceitos de influenciar abaixar o membro, pode-se re-
que o condicionamento possa a resposta muscular, podem-se petir este processo de três a cin-
afrouxar as conexões de actina- usar as técnicas de FPN para co vezes, para então retorná-lo
miosina aumentando a eficácia fortalecer os músculos e aumen- ao seu posicionamento inicial. A
do alongamento (HALL; tar sua flexibilidade articular contração isométrica do músculo
BRODY, 2001). (ALLSEN, 1999). que está sendo alongado acarre-
Um dos tópicos mais Uma contração breve ta um aumento da tensão nesse
músculo, o que estimula o ór-
controversos da ciência dos es- antes de um alongamento estáti-
portes é o valor relativo dos pro- co do músculo é o ponto chave gão tendinoso de golgi. O OTG
causa então um relaxamento re-
gramas de alongamento balístico para as técnicas de FPN para
flexo do músculo (inibição
versus estático para desenvolver aumentar a flexibilidade muscu-
a flexibilidade. A controvérsia lar. A terminologia usada para autógena) antes que o músculo
seja movido a uma nova posição
é complicada pela falta de pes- descrever as atividades de alon-
quisa sobre a flexibilidade balís- gamento por FPN tem variado de alongamento e alongado pas-
sivamente (ALLSEN, 1999).
tica. O alongamento balístico é consideravelmente, incluindo o
difícil de avaliar por causa da uso de novos termos como: con- Uma outra técnica utili-
necessidade de equipamento trair-relaxar, manter-relaxar, zada é contrair-relaxar, em que
elaborado e habilidade técnica manter em reversão lenta-rela- se faz o mesmo procedimento
na mensuração da força que é xar, contração do agonista, con- da técnica anterior, assim o
requerida para mover a articu- trair—relaxar com contração do profissional solicita ao paciente
lação através de sua amplitude agonista e manter—relaxar com para tentar executar uma con-

4 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


tração concêntrica do músculo alongamento, o profissional so- um tecido em se moldar às ten-
oposto ao músculo que está sen- licita ao paciente relaxar e man- sões diminui a probabilidade de
do alongado, causando um alon- ter a posição por 10 a 20 s. Sem lesão), auxílio na recuperação
gamento maior, ou seja, em retornar a posição inicial, pode- muscular após uma atividade fí-
qualquer grupo muscular se repetir a técnica três a cinco sica, desenvolvimento de cons-
sinérgico uma contração do vezes e depois retornar ao ciência corporal, benefício a
agonista causa um relaxamento posicionamento inicial. Portan- coordenação por tornar os mo-
reflexo do músculo antagonista, to as técnicas de alongamento vimentos mais soltos e fáceis e
possibilitando ao músculo anta- por FPN são eficazes em au- a ativação da circulação.
gonista relaxar para um alonga- mentar a flexibilidade muscular,
As técnicas de FNP po-
mento mais eficaz (inibição re- a escolha da técnica depende da
dem ter melhores resultados que
cíproca). Enquanto o paciente situação apresentada pelo paci-
as estáticas ou balísticas para
executa a contração concêntri- ente (ALLSEN, 1999).
produzir efeitos agudos sobre a
ca do músculo, causando um
amplitude dinâmica de movi-
alongamento maior, o profissi-
EFEITOS DO mento (HALL; BRODY, 2001).
onal aproveita qualquer ampli-
tude de movimento que tenha ALONGAMENTO
sido ganha, mantendo, assim, o
INDICAÇÕES DO
membro na nova posição de
Os efeitos do alonga- ALONGAMENTO
alongamento, o profissional
pede ao paciente a relaxar e mento se dividem em agudos e
manter a posição por 10 a 20 s. crônicos, pois os agudos ou ime-
Segundo Kisner (1998)
Sem abaixar o membro, pode- diatos são resultado da
as indicações do alongamento
se repetir a técnica de três a cin- flexibilização do componente
são quando a amplitude de mo-
co vezes para retorná-la a posi- elástico da unidade
vimento está limitada como re-
ção inicial (ALLSEN, 1999). musculotendinosa, obtidos com
sultado de contraturas, adesões
exercícios sistemáticos de alon-
A técnica de manter em e formações de tecido
gamento. Os efeitos crônicos ou
reversão lenta-relaxar segue os cicatricial, levando ao encurta-
a longo prazo são o acréscimo
mesmos procedimentos das téc- mento de músculos, tecido
no número de sarcômeros que
nicas anteriores, em que o paci- conectivo e pele; quando as li-
implica o aumento do compri-
ente aplica uma força isométrica mitações podem levar a defor-
mento muscular. Estes efeitos
contra o profissional por 6s, con- midades estruturais que podem
podem permanecer por determi-
traindo assim o músculo a ser ser prevenidas; quando as
nado período após a interrupção
alongado (inibição autógena). contraturas interferem com as
dos exercícios (HALL;
Depois da contração isométrica atividades funcionais cotidianas;
BRODY,2001).
do músculo, o profissional soli- quando existe fraqueza muscu-
cita ao paciente para tentar exe- De acordo com lar e retração nos tecidos opos-
cutar uma contração concêntri- Sobierajski (2004) existem ou- tos. Os músculos retraídos de-
ca do músculo oposto, causando tros efeitos promovidos pelos vem ser alongados antes que os
um alongamento maior (inibição exercícios de alongamento músculos fracos possam ser efe-
recíproca), aproveitando qual- como: redução de tensões tivamente fortalecidos.
quer amplitude de movimento musculares,prevenção de lesões
que tenha sido ganha, mantendo como as distensões,
o membro na nova posição de estiramentos (a capacidade de

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 5


CONTRA-INDICAÇÕES dem ser comparadas em rela- REFERÊNCIAS:
ção ao seu grau de eficiência .
segundo Hall e Brody (2001), as
Existem algumas con- técnicas de FNP são mais efi- ALLSEN, P. E; HARRINSON,
tra-indicações para o uso das cazes, quando comparadas às J. M; BARBARA, V. Exercí-
técnicas de alongamento segun- técnicas estáticas ou balísticas. cio e qualidade de vida: uma
do Kisner (1998) quando um blo- No entanto, não existem estudos abordagem personalizada. 6.
queio ósseo limita a mobilidade concretos que comprovem tal ed. São Paulo: Manole, 1999.
articular ou após uma fratura eficiência.
recente, evidências de proces- ALTER, M. J. Ciência da fle-
Outro ponto a ser anali- xibilidade. 2.ed. Porto Alegre:
sos inflamatórios ou infeccioso
sado é o emprego do alongamen- Artmed, 1999.
agudo intra ou extra-articular e
to balístico como forma de tera-
sensação de dor, trauma nos te- BANDY, D. W; SANDRES, B.
pia, ainda muito questionada em
cidos ou quando existem Exercícios terapêuticos: técni-
relação a sua real eficácia du-
contraturas ou os tecidos moles cas para intervenção. Rio de
rante o programa de tratamen-
encurtados estiverem promoven- Janeiro: Guanabara Koogan,
to. Apesar dos questionamentos
do aumento na estabilidade arti- 2003.
relacionados aos seus efeitos le-
cular em substituição a estabili-
sivos, essa técnica pode ser per- BIENFAIT, M. Os
dade estrutural normal ou quan-
feitamente aplicável a uma po- desequilíbrios estáticos. 3. ed.
do forem a base de habilidade
pulação específica (atletas), que São Paulo: Summus, 1995.
funcionais, principalmente em
possuem estrutura do aparelho
pacientes com paralisia ou fra- _________. Fisiologia da tera-
locomotor preparado para rece- pia manual. São Paulo:
queza muscular.
ber esse tipo de atividade. Sen-
Summus, 1989.
do assim, ao contrabalançar
seus efeitos gerais, os benéficos HALL, M. C; BRODY, T. L.
CONSIDERAÇÕES
são relativamente maiores que Exercícios terapêuticos: na
FINAIS busca da função.Rio de Janeiro:
os lesivos.
Guanabara Koogan, 2001
Logo, se faz necessário
Os conhecimentos so- o conhecimento real a respeito KISNER, C; COLBY, L. A.
bre a biomecânica dos tecidos das várias técnicas levando-se Exercícios terapêuticos: funda-
moles são de grande valia para em consideração itens como: mentos e técnicas. 3. ed. São
a aplicação das técnicas de alon- procedimentos, precauções e Paulo: Manole, 1998.
gamento muscular em vários aplicabilidade; para que assim SOBIERAJSKI, F. Efeito do
casos. se possa obter sucesso ao trata- alongamento. Disponível em:
Apesar da variabilidade mento empregado. <http//: www.corpohumano.
de técnicas cada uma possui sua hpg. ig.com.br.> Acesso em:
particularidade, não havendo um 13.abr.2004.
ponto comum entre elas, e po-

6 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


ALONGAMENTO MUSCULAR: UMA
VERSÃO ATUALIZADA

Adélia Oliveira da Conceição 1

George Alberto da Silva Dias 2

RESUMO:
O presente artigo apresenta-se como revisão bibliográfica sobre alongamento muscular, abor-
dando seus principais conceitos, as características dos tecidos corporais envolvidos, principais
métodos e alguns cuidados necessários para a boa aplicação da terapia. Dessa forma o objetivo
do texto é desmistificar alguns aspectos sobre o assunto que possam interferir na boa pratica das
técnicas, favorecendo, assim, um melhor conhecimento sobre o assunto para os profissionais
da área da saúde, em especial aos fisioterapeutas.

*
Acadêmica do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitora das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
**
Acadêmico do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitor das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
***
Artigo realizado sob orientação da docente Mônica Cardoso da Cruz do curso de Fisioterapia na disciplina Cinésioterapia e Especialista
em Fisioterapia Neurofuncional.

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 1


INTRODUÇÃO do a lesões cumulativas do apa- PROPRIEDADES DOS
relho locomotor (ALLSEN, TECIDOS MOLES
1999).
O alongamento é uma
manobra terapêutica utilizada As atividades de flexibi-
lidade são comumente recomen- Os métodos de alonga-
para aumentar o comprimento mento empregados nas disci-
(alongar) de tecidos moles que dadas como atividade pré-aque-
plinas de atletismo, dança, fisi-
estejam encurtados (KISNER, cimento ou como procedimento
pós-aquecimento conforme é oterapia e ioga podem variar
1998), podendo ser definido tam- bastante. Contudo, determinado
bém como técnica utilizada para recomendado pelos autores
(BRANDY, 2003), (HALL; conhecimento é necessário em
aumentar a extensibilidade todas essas disciplinas. Um co-
músculotendinosa e do tecido BRODY, 2001) e
nhecimento básico do mecanis-
conjuntivo periarticular, de tal (ALLSEN,1999), são utilizados
também para manter o funcio- mo neuromuscular normal, in-
modo contribuindo para aumen- cluindo desenvolvimento motor,
tar a flexibilidade articular namento normal do músculo evi-
tando lesões, melhorar o desem- anatomia, neurofisiologia e
(HALL; BRODY, 2001). cinesiologia, é muito útil, se não
penho de atletas e auxiliar na
A flexibilidade sofre in- essencial. Além disso, qualquer
reabilitação pós lesão. Como
fluência de três fatores princi- conduta terapêutica é indicado que seja o método de alongamen-
pais: a estrutura óssea da arti- to usado, o profissional da área
para aumentar a amplitude arti-
culação, a quantidade de tecido cular, quando a causa de restri- da saúde deve estar completa-
periarticular e a extensibilidade mente familiarizado com a es-
ção de ADM for o componente
de tendões, ligamentos e tecido trutura e a função da articula-
musculotendineo (BRADY,
muscular que cruzam a articu- 2003). ção em questão. O profissional
lação (ALLSEN, 1999). Com a deve saber não somente o grau
Tendo em vista estes de limitação do movimento, mas
diminuição da extensibilidade o
músculo perde a capacidade de aspectos, as manobras de flexi- também quais tecidos são res-
se deformar, restringindo a am- bilidade articular são de grande ponsáveis pelas limitações
plitude articular na direção do utilidade na pratica diária da fi- (ALTER, 1999).
movimento do qual é antagonis- sioterapia, já que constantemen-
te estes profissionais lidam com Os tecidos moles vari-
ta (BRANDY, 2003), assim am em características físicas e
como hábitos sedentários são um pacientes que apresentam res-
mecânicas. Tanto os tecidos
dos maiores responsáveis pela trição de amplitude articular
decorrentes de fatores intrínse- contráteis como os não-
perda de flexibilidade, pois a contráteis são extensíveis e elás-
falta de uso da estrutura em ar- cos ou extrínsecos, por isso se
faz necessário o conhecimento ticos, mas os tecidos contráteis
cos extremos de movimento ar- também são contraíveis.
ticular resulta na adaptação dos claro e objetivo deste assunto,
Contratilidade é a habilidade de
tecidos conjuntivos a compri- esclarecendo pontos de vista ou
pensamentos errôneos a respei- um músculo para encurtar e
mentos menores com conse- desenvolver tensão ao longo de
qüente perda da extensibilidade. to desta técnica, que possam in-
terferir na boa prática das ma- sua extensão. Distensibilidade
Além disso, a redução da flexi- (comumente conhecida como
bilidade sendo responsável por nobras que podem ser utilizadas
extensibilidade) é a proprieda-
movimentos corporais incorre- para o ganho de flexibilidade
articular. de do tecido muscular em au-
tos contribui para o uso viciosos mentar o comprimento em res-
da estrutura anatômica gerando posta a uma força aplicada ex-
estresse mecânico e predispon- ternamente (ALTER, 1999).

2 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


Assim quanto menor a capazes de um leve grau de haja adaptação das fibras ao novo
distensibilidade de um tecido extensibilidade. Elas são, con- comprimento.Nessa posição
mole, maior deve ser a força tudo muito resistente ao estresse uma leve tensão deve ser per-
que pode produzir um alonga- de tração. Logo, são os princi- cebida, o alongamento progride,
mento. Um tecido de alta pais constituintes de estruturas, aumentando de intensidade, à
distensibilidade não pode resis- como ligamentos e tendões que medida que o paciente se adapta
tir a uma força de alongamen- são submetidos a uma força de a posição para então adquirir um
to, assim como um tecido que é tração (ALTER, 1999). Portan- novo posicionamento.
muito rígido, e precisará de uma to de acordo com as modifica- Dentre as vantagens do
força maior que o tecido me- ções ocorridas no tecido conjun- alongamento estático Allsen
nos rígido para produzir o mes- tivo derivam de tensões a ele
(1999), descreve que contribui
mo grau de deformação. As- impostas, se a tensão for pro- para o alivio das dores muscu-
sim, os tecidos moles com mai- longada e contínua as molécu-
lares e para melhora da flexibi-
or rigidez são menos suscetí- las e os feixes do tecido conjun- lidade, já Hall e Brody (2001)
veis a lesões como distensões e tivo se alongam (BIENFAIT, acrescentam que reduzem o gas-
entorses (ALTER, 1999). 1995).
to de energia global, diminuem
Os tecidos moles não a possibilidade de ultrapassar a
são perfeitamente elásticos. extensibilidade tecidual e dimi-
MÉTODOS DE
Além do seu limite elástico, eles nui a possibilidade de causar
não podem retornar a seu com- ALONGAMENTO dores musculares, Brandy
primento original uma vez que (2003) afirma também que ele
a força de alongamento é remo- reduz a atividade dos fusos mus-
Existem três tipos bási-
vida. A diferença entre o com- culares e aumenta consideravel-
cos de alongamento, o estático,
primento original e o novo com- mente a atividade dos órgãos
o balístico e por facilitação
primento é chamada de disposi- tendinosos de golgi (OTG).
neuromuscular proprioceptiva
ção permanente (alongamento O alongamento Balís-
(FNP). No método de alonga-
plástico ou deformação) e
mento estático, músculos e te- tico, o músculo é levado a se
correlaciona-se a uma lesão contrair e relaxar de forma rá-
cidos são estirados e mantidos
tecidual menor (ALTER, 1999).
em posição estacionária em seu pida e repetida, levando a
Os tecidos não maior comprimento possível por deflagração de estímulos que
contráteis são constituídos prin- um período de 15 a 60 segundos mandam o músculo contrair ao
cipalmente por colágeno, uma (HALL, BRODY, 2001). Já de invés de relaxar (reflexo de
proteína mais abundante nos acordo com Brandy (2003), o estiramento), aumentando a pos-
mamíferos que é um componen- procedimento realizado é alon- sibilidade de causar micro lesões
te estrutural principal do tecido gar o músculo de forma lenta e que posteriormente podem inter-
vivo. Nos vertebrados, por gradual. A baixa velocidade de ferir no bom funcionamento do
exemplo, o colágeno constitui alongamento do músculo evita a músculo. Apesar disso, esse tipo
um terço ou mais das proteínas resposta neurológica do reflexo de técnica tem eficácia para
totais do corpo. As fibras do estiramento e estimula a ati- melhora da flexibilidade de uma
colagenosas aparecem sem cor vidade dos órgãos tendinosos de população restrita (atletas), uma
e esbranquiçadas. Elas são ar- golgi facilitando o alongamento vez que para um bom rendimen-
ranjadas em feixes e, exceto sob muscular, o arco de movimento to em atividades dinâmicas são
tensão, atravessam um cami- de ser mantido por um tempo de necessárias atividades balísti-
nho caracteristicamente ondu- no mínimo 15 segundos e no cas. Para tanto se sugere um
lado. As fibras colágenas só são máximo 60 segundos, para que programa de flexibilidade dinâ-

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 3


mico em que o individuo passa de movimento em ambas as ve- contração do agonista. Além
por uma serie de alongamentos locidades, rápida e lenta disso, às vezes, se usa o mesmo
balísticos, onde se varia a velo- (STAMFORD, 1981). Há, con- termo para diferentes técnicas
cidade (lento – rápido) e a am- tudo, uma quantidade considerá- de alongamento por FPN, por-
plitude de movimento (arco vel de pesquisas indicando que tanto três técnicas de alonga-
completo ou incompleto), sendo ambos os métodos, balístico e mento por FPN vão ser defini-
que antes desse programa o estático, são eficazes no desen- das como: manter-relaxar, con-
individuo passa por uma serie de volvimento da flexibilidade trair-relaxar e manter em rever-
alongamentos estáticos até pro- (CORBIN e NOBLE, 1980; são lenta-relaxar (ALLSEN,
gredir para as atividades balís- LOGAN e EGSTROM, 1961; 1999).
ticas de baixa, média e alta ve- SADY, WORTMAN e
Na técnica manter-relaxar, o
locidade (BRADY, 2003). BLANKE, 1982; STAMFORD, profissional move passivamen-
1981; WEBER e KRAUS, 1949,
Allsen (1999), concorda te o membro a ser alongado até
com o autor quando ele se refe- apud ALTER, 1999). o final da amplitude de movi-
re à reação muscular ao alon- O alongamento por fa- mento. Uma vez atingido o final
gamento balístico e possibilida- cilitação proprioceptiva da amplitude de movimento, o
de de lesões, mas acrescenta neuromuscular é a outra técni- paciente aplica uma contração
que seus efeitos benéficos podem ca utilizada, que de acordo com isométrica, no músculo que se
ser potencializados quando rea- Knott e Voss, as técnicas de quer alongar, contra resistência
lizados como atividade pós- FPN são métodos “para promo- imposta pelo profissional por 6s,
aquecimento, pois a temperatu- ver ou acelerar a resposta de um após a remoção da contração o
ra dos tecidos encontram-se mecanismo neuromuscular pela músculo relaxa-se e o profissio-
mais elevada, tornando-os mais estimulação de nal aplica alongamento, manten-
maleáveis e menos passiveis de proprioceptores”. Com base do-o por cerca de 10 a 20s. Sem
lesão. Acredita-se, também, nesses conceitos de influenciar abaixar o membro, pode-se re-
que o condicionamento possa a resposta muscular, podem-se petir este processo de três a cin-
afrouxar as conexões de actina- usar as técnicas de FPN para co vezes, para então retorná-lo
miosina aumentando a eficácia fortalecer os músculos e aumen- ao seu posicionamento inicial. A
do alongamento (HALL; tar sua flexibilidade articular contração isométrica do músculo
BRODY, 2001). (ALLSEN, 1999). que está sendo alongado acarre-
Um dos tópicos mais Uma contração breve ta um aumento da tensão nesse
músculo, o que estimula o ór-
controversos da ciência dos es- antes de um alongamento estáti-
portes é o valor relativo dos pro- co do músculo é o ponto chave gão tendinoso de golgi. O OTG
causa então um relaxamento re-
gramas de alongamento balístico para as técnicas de FPN para
flexo do músculo (inibição
versus estático para desenvolver aumentar a flexibilidade muscu-
a flexibilidade. A controvérsia lar. A terminologia usada para autógena) antes que o músculo
seja movido a uma nova posição
é complicada pela falta de pes- descrever as atividades de alon-
quisa sobre a flexibilidade balís- gamento por FPN tem variado de alongamento e alongado pas-
sivamente (ALLSEN, 1999).
tica. O alongamento balístico é consideravelmente, incluindo o
difícil de avaliar por causa da uso de novos termos como: con- Uma outra técnica utili-
necessidade de equipamento trair-relaxar, manter-relaxar, zada é contrair-relaxar, em que
elaborado e habilidade técnica manter em reversão lenta-rela- se faz o mesmo procedimento
na mensuração da força que é xar, contração do agonista, con- da técnica anterior, assim o
requerida para mover a articu- trair—relaxar com contração do profissional solicita ao paciente
lação através de sua amplitude agonista e manter—relaxar com para tentar executar uma con-

4 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


tração concêntrica do músculo alongamento, o profissional so- um tecido em se moldar às ten-
oposto ao músculo que está sen- licita ao paciente relaxar e man- sões diminui a probabilidade de
do alongado, causando um alon- ter a posição por 10 a 20 s. Sem lesão), auxílio na recuperação
gamento maior, ou seja, em retornar a posição inicial, pode- muscular após uma atividade fí-
qualquer grupo muscular se repetir a técnica três a cinco sica, desenvolvimento de cons-
sinérgico uma contração do vezes e depois retornar ao ciência corporal, benefício a
agonista causa um relaxamento posicionamento inicial. Portan- coordenação por tornar os mo-
reflexo do músculo antagonista, to as técnicas de alongamento vimentos mais soltos e fáceis e
possibilitando ao músculo anta- por FPN são eficazes em au- a ativação da circulação.
gonista relaxar para um alonga- mentar a flexibilidade muscular,
As técnicas de FNP po-
mento mais eficaz (inibição re- a escolha da técnica depende da
dem ter melhores resultados que
cíproca). Enquanto o paciente situação apresentada pelo paci-
as estáticas ou balísticas para
executa a contração concêntri- ente (ALLSEN, 1999).
produzir efeitos agudos sobre a
ca do músculo, causando um
amplitude dinâmica de movi-
alongamento maior, o profissi-
EFEITOS DO mento (HALL; BRODY, 2001).
onal aproveita qualquer ampli-
tude de movimento que tenha ALONGAMENTO
sido ganha, mantendo, assim, o
INDICAÇÕES DO
membro na nova posição de
Os efeitos do alonga- ALONGAMENTO
alongamento, o profissional
pede ao paciente a relaxar e mento se dividem em agudos e
manter a posição por 10 a 20 s. crônicos, pois os agudos ou ime-
Segundo Kisner (1998)
Sem abaixar o membro, pode- diatos são resultado da
as indicações do alongamento
se repetir a técnica de três a cin- flexibilização do componente
são quando a amplitude de mo-
co vezes para retorná-la a posi- elástico da unidade
vimento está limitada como re-
ção inicial (ALLSEN, 1999). musculotendinosa, obtidos com
sultado de contraturas, adesões
exercícios sistemáticos de alon-
A técnica de manter em e formações de tecido
gamento. Os efeitos crônicos ou
reversão lenta-relaxar segue os cicatricial, levando ao encurta-
a longo prazo são o acréscimo
mesmos procedimentos das téc- mento de músculos, tecido
no número de sarcômeros que
nicas anteriores, em que o paci- conectivo e pele; quando as li-
implica o aumento do compri-
ente aplica uma força isométrica mitações podem levar a defor-
mento muscular. Estes efeitos
contra o profissional por 6s, con- midades estruturais que podem
podem permanecer por determi-
traindo assim o músculo a ser ser prevenidas; quando as
nado período após a interrupção
alongado (inibição autógena). contraturas interferem com as
dos exercícios (HALL;
Depois da contração isométrica atividades funcionais cotidianas;
BRODY,2001).
do músculo, o profissional soli- quando existe fraqueza muscu-
cita ao paciente para tentar exe- De acordo com lar e retração nos tecidos opos-
cutar uma contração concêntri- Sobierajski (2004) existem ou- tos. Os músculos retraídos de-
ca do músculo oposto, causando tros efeitos promovidos pelos vem ser alongados antes que os
um alongamento maior (inibição exercícios de alongamento músculos fracos possam ser efe-
recíproca), aproveitando qual- como: redução de tensões tivamente fortalecidos.
quer amplitude de movimento musculares,prevenção de lesões
que tenha sido ganha, mantendo como as distensões,
o membro na nova posição de estiramentos (a capacidade de

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 5


CONTRA-INDICAÇÕES dem ser comparadas em rela- REFERÊNCIAS:
ção ao seu grau de eficiência .
segundo Hall e Brody (2001), as
Existem algumas con- técnicas de FNP são mais efi- ALLSEN, P. E; HARRINSON,
tra-indicações para o uso das cazes, quando comparadas às J. M; BARBARA, V. Exercí-
técnicas de alongamento segun- técnicas estáticas ou balísticas. cio e qualidade de vida: uma
do Kisner (1998) quando um blo- No entanto, não existem estudos abordagem personalizada. 6.
queio ósseo limita a mobilidade concretos que comprovem tal ed. São Paulo: Manole, 1999.
articular ou após uma fratura eficiência.
recente, evidências de proces- ALTER, M. J. Ciência da fle-
Outro ponto a ser anali- xibilidade. 2.ed. Porto Alegre:
sos inflamatórios ou infeccioso
sado é o emprego do alongamen- Artmed, 1999.
agudo intra ou extra-articular e
to balístico como forma de tera-
sensação de dor, trauma nos te- BANDY, D. W; SANDRES, B.
pia, ainda muito questionada em
cidos ou quando existem Exercícios terapêuticos: técni-
relação a sua real eficácia du-
contraturas ou os tecidos moles cas para intervenção. Rio de
rante o programa de tratamen-
encurtados estiverem promoven- Janeiro: Guanabara Koogan,
to. Apesar dos questionamentos
do aumento na estabilidade arti- 2003.
relacionados aos seus efeitos le-
cular em substituição a estabili-
sivos, essa técnica pode ser per- BIENFAIT, M. Os
dade estrutural normal ou quan-
feitamente aplicável a uma po- desequilíbrios estáticos. 3. ed.
do forem a base de habilidade
pulação específica (atletas), que São Paulo: Summus, 1995.
funcionais, principalmente em
possuem estrutura do aparelho
pacientes com paralisia ou fra- _________. Fisiologia da tera-
locomotor preparado para rece- pia manual. São Paulo:
queza muscular.
ber esse tipo de atividade. Sen-
Summus, 1989.
do assim, ao contrabalançar
seus efeitos gerais, os benéficos HALL, M. C; BRODY, T. L.
CONSIDERAÇÕES
são relativamente maiores que Exercícios terapêuticos: na
FINAIS busca da função.Rio de Janeiro:
os lesivos.
Guanabara Koogan, 2001
Logo, se faz necessário
Os conhecimentos so- o conhecimento real a respeito KISNER, C; COLBY, L. A.
bre a biomecânica dos tecidos das várias técnicas levando-se Exercícios terapêuticos: funda-
moles são de grande valia para em consideração itens como: mentos e técnicas. 3. ed. São
a aplicação das técnicas de alon- procedimentos, precauções e Paulo: Manole, 1998.
gamento muscular em vários aplicabilidade; para que assim SOBIERAJSKI, F. Efeito do
casos. se possa obter sucesso ao trata- alongamento. Disponível em:
Apesar da variabilidade mento empregado. <http//: www.corpohumano.
de técnicas cada uma possui sua hpg. ig.com.br.> Acesso em:
particularidade, não havendo um 13.abr.2004.
ponto comum entre elas, e po-

6 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


ALONGAMENTO MUSCULAR: UMA
VERSÃO ATUALIZADA

Adélia Oliveira da Conceição 1

George Alberto da Silva Dias 2

RESUMO:
O presente artigo apresenta-se como revisão bibliográfica sobre alongamento muscular, abor-
dando seus principais conceitos, as características dos tecidos corporais envolvidos, principais
métodos e alguns cuidados necessários para a boa aplicação da terapia. Dessa forma o objetivo
do texto é desmistificar alguns aspectos sobre o assunto que possam interferir na boa pratica das
técnicas, favorecendo, assim, um melhor conhecimento sobre o assunto para os profissionais
da área da saúde, em especial aos fisioterapeutas.

*
Acadêmica do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitora das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
**
Acadêmico do 3° ano do Curso de Fisioterapia. Monitor das Disciplinas Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais.
***
Artigo realizado sob orientação da docente Mônica Cardoso da Cruz do curso de Fisioterapia na disciplina Cinésioterapia e Especialista
em Fisioterapia Neurofuncional.

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 1


INTRODUÇÃO do a lesões cumulativas do apa- PROPRIEDADES DOS
relho locomotor (ALLSEN, TECIDOS MOLES
1999).
O alongamento é uma
manobra terapêutica utilizada As atividades de flexibi-
lidade são comumente recomen- Os métodos de alonga-
para aumentar o comprimento mento empregados nas disci-
(alongar) de tecidos moles que dadas como atividade pré-aque-
plinas de atletismo, dança, fisi-
estejam encurtados (KISNER, cimento ou como procedimento
pós-aquecimento conforme é oterapia e ioga podem variar
1998), podendo ser definido tam- bastante. Contudo, determinado
bém como técnica utilizada para recomendado pelos autores
(BRANDY, 2003), (HALL; conhecimento é necessário em
aumentar a extensibilidade todas essas disciplinas. Um co-
músculotendinosa e do tecido BRODY, 2001) e
nhecimento básico do mecanis-
conjuntivo periarticular, de tal (ALLSEN,1999), são utilizados
também para manter o funcio- mo neuromuscular normal, in-
modo contribuindo para aumen- cluindo desenvolvimento motor,
tar a flexibilidade articular namento normal do músculo evi-
tando lesões, melhorar o desem- anatomia, neurofisiologia e
(HALL; BRODY, 2001). cinesiologia, é muito útil, se não
penho de atletas e auxiliar na
A flexibilidade sofre in- essencial. Além disso, qualquer
reabilitação pós lesão. Como
fluência de três fatores princi- conduta terapêutica é indicado que seja o método de alongamen-
pais: a estrutura óssea da arti- to usado, o profissional da área
para aumentar a amplitude arti-
culação, a quantidade de tecido cular, quando a causa de restri- da saúde deve estar completa-
periarticular e a extensibilidade mente familiarizado com a es-
ção de ADM for o componente
de tendões, ligamentos e tecido trutura e a função da articula-
musculotendineo (BRADY,
muscular que cruzam a articu- 2003). ção em questão. O profissional
lação (ALLSEN, 1999). Com a deve saber não somente o grau
Tendo em vista estes de limitação do movimento, mas
diminuição da extensibilidade o
músculo perde a capacidade de aspectos, as manobras de flexi- também quais tecidos são res-
se deformar, restringindo a am- bilidade articular são de grande ponsáveis pelas limitações
plitude articular na direção do utilidade na pratica diária da fi- (ALTER, 1999).
movimento do qual é antagonis- sioterapia, já que constantemen-
te estes profissionais lidam com Os tecidos moles vari-
ta (BRANDY, 2003), assim am em características físicas e
como hábitos sedentários são um pacientes que apresentam res-
mecânicas. Tanto os tecidos
dos maiores responsáveis pela trição de amplitude articular
decorrentes de fatores intrínse- contráteis como os não-
perda de flexibilidade, pois a contráteis são extensíveis e elás-
falta de uso da estrutura em ar- cos ou extrínsecos, por isso se
faz necessário o conhecimento ticos, mas os tecidos contráteis
cos extremos de movimento ar- também são contraíveis.
ticular resulta na adaptação dos claro e objetivo deste assunto,
Contratilidade é a habilidade de
tecidos conjuntivos a compri- esclarecendo pontos de vista ou
pensamentos errôneos a respei- um músculo para encurtar e
mentos menores com conse- desenvolver tensão ao longo de
qüente perda da extensibilidade. to desta técnica, que possam in-
terferir na boa prática das ma- sua extensão. Distensibilidade
Além disso, a redução da flexi- (comumente conhecida como
bilidade sendo responsável por nobras que podem ser utilizadas
extensibilidade) é a proprieda-
movimentos corporais incorre- para o ganho de flexibilidade
articular. de do tecido muscular em au-
tos contribui para o uso viciosos mentar o comprimento em res-
da estrutura anatômica gerando posta a uma força aplicada ex-
estresse mecânico e predispon- ternamente (ALTER, 1999).

2 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


Assim quanto menor a capazes de um leve grau de haja adaptação das fibras ao novo
distensibilidade de um tecido extensibilidade. Elas são, con- comprimento.Nessa posição
mole, maior deve ser a força tudo muito resistente ao estresse uma leve tensão deve ser per-
que pode produzir um alonga- de tração. Logo, são os princi- cebida, o alongamento progride,
mento. Um tecido de alta pais constituintes de estruturas, aumentando de intensidade, à
distensibilidade não pode resis- como ligamentos e tendões que medida que o paciente se adapta
tir a uma força de alongamen- são submetidos a uma força de a posição para então adquirir um
to, assim como um tecido que é tração (ALTER, 1999). Portan- novo posicionamento.
muito rígido, e precisará de uma to de acordo com as modifica- Dentre as vantagens do
força maior que o tecido me- ções ocorridas no tecido conjun- alongamento estático Allsen
nos rígido para produzir o mes- tivo derivam de tensões a ele
(1999), descreve que contribui
mo grau de deformação. As- impostas, se a tensão for pro- para o alivio das dores muscu-
sim, os tecidos moles com mai- longada e contínua as molécu-
lares e para melhora da flexibi-
or rigidez são menos suscetí- las e os feixes do tecido conjun- lidade, já Hall e Brody (2001)
veis a lesões como distensões e tivo se alongam (BIENFAIT, acrescentam que reduzem o gas-
entorses (ALTER, 1999). 1995).
to de energia global, diminuem
Os tecidos moles não a possibilidade de ultrapassar a
são perfeitamente elásticos. extensibilidade tecidual e dimi-
MÉTODOS DE
Além do seu limite elástico, eles nui a possibilidade de causar
não podem retornar a seu com- ALONGAMENTO dores musculares, Brandy
primento original uma vez que (2003) afirma também que ele
a força de alongamento é remo- reduz a atividade dos fusos mus-
Existem três tipos bási-
vida. A diferença entre o com- culares e aumenta consideravel-
cos de alongamento, o estático,
primento original e o novo com- mente a atividade dos órgãos
o balístico e por facilitação
primento é chamada de disposi- tendinosos de golgi (OTG).
neuromuscular proprioceptiva
ção permanente (alongamento O alongamento Balís-
(FNP). No método de alonga-
plástico ou deformação) e
mento estático, músculos e te- tico, o músculo é levado a se
correlaciona-se a uma lesão contrair e relaxar de forma rá-
cidos são estirados e mantidos
tecidual menor (ALTER, 1999).
em posição estacionária em seu pida e repetida, levando a
Os tecidos não maior comprimento possível por deflagração de estímulos que
contráteis são constituídos prin- um período de 15 a 60 segundos mandam o músculo contrair ao
cipalmente por colágeno, uma (HALL, BRODY, 2001). Já de invés de relaxar (reflexo de
proteína mais abundante nos acordo com Brandy (2003), o estiramento), aumentando a pos-
mamíferos que é um componen- procedimento realizado é alon- sibilidade de causar micro lesões
te estrutural principal do tecido gar o músculo de forma lenta e que posteriormente podem inter-
vivo. Nos vertebrados, por gradual. A baixa velocidade de ferir no bom funcionamento do
exemplo, o colágeno constitui alongamento do músculo evita a músculo. Apesar disso, esse tipo
um terço ou mais das proteínas resposta neurológica do reflexo de técnica tem eficácia para
totais do corpo. As fibras do estiramento e estimula a ati- melhora da flexibilidade de uma
colagenosas aparecem sem cor vidade dos órgãos tendinosos de população restrita (atletas), uma
e esbranquiçadas. Elas são ar- golgi facilitando o alongamento vez que para um bom rendimen-
ranjadas em feixes e, exceto sob muscular, o arco de movimento to em atividades dinâmicas são
tensão, atravessam um cami- de ser mantido por um tempo de necessárias atividades balísti-
nho caracteristicamente ondu- no mínimo 15 segundos e no cas. Para tanto se sugere um
lado. As fibras colágenas só são máximo 60 segundos, para que programa de flexibilidade dinâ-

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 3


mico em que o individuo passa de movimento em ambas as ve- contração do agonista. Além
por uma serie de alongamentos locidades, rápida e lenta disso, às vezes, se usa o mesmo
balísticos, onde se varia a velo- (STAMFORD, 1981). Há, con- termo para diferentes técnicas
cidade (lento – rápido) e a am- tudo, uma quantidade considerá- de alongamento por FPN, por-
plitude de movimento (arco vel de pesquisas indicando que tanto três técnicas de alonga-
completo ou incompleto), sendo ambos os métodos, balístico e mento por FPN vão ser defini-
que antes desse programa o estático, são eficazes no desen- das como: manter-relaxar, con-
individuo passa por uma serie de volvimento da flexibilidade trair-relaxar e manter em rever-
alongamentos estáticos até pro- (CORBIN e NOBLE, 1980; são lenta-relaxar (ALLSEN,
gredir para as atividades balís- LOGAN e EGSTROM, 1961; 1999).
ticas de baixa, média e alta ve- SADY, WORTMAN e
Na técnica manter-relaxar, o
locidade (BRADY, 2003). BLANKE, 1982; STAMFORD, profissional move passivamen-
1981; WEBER e KRAUS, 1949,
Allsen (1999), concorda te o membro a ser alongado até
com o autor quando ele se refe- apud ALTER, 1999). o final da amplitude de movi-
re à reação muscular ao alon- O alongamento por fa- mento. Uma vez atingido o final
gamento balístico e possibilida- cilitação proprioceptiva da amplitude de movimento, o
de de lesões, mas acrescenta neuromuscular é a outra técni- paciente aplica uma contração
que seus efeitos benéficos podem ca utilizada, que de acordo com isométrica, no músculo que se
ser potencializados quando rea- Knott e Voss, as técnicas de quer alongar, contra resistência
lizados como atividade pós- FPN são métodos “para promo- imposta pelo profissional por 6s,
aquecimento, pois a temperatu- ver ou acelerar a resposta de um após a remoção da contração o
ra dos tecidos encontram-se mecanismo neuromuscular pela músculo relaxa-se e o profissio-
mais elevada, tornando-os mais estimulação de nal aplica alongamento, manten-
maleáveis e menos passiveis de proprioceptores”. Com base do-o por cerca de 10 a 20s. Sem
lesão. Acredita-se, também, nesses conceitos de influenciar abaixar o membro, pode-se re-
que o condicionamento possa a resposta muscular, podem-se petir este processo de três a cin-
afrouxar as conexões de actina- usar as técnicas de FPN para co vezes, para então retorná-lo
miosina aumentando a eficácia fortalecer os músculos e aumen- ao seu posicionamento inicial. A
do alongamento (HALL; tar sua flexibilidade articular contração isométrica do músculo
BRODY, 2001). (ALLSEN, 1999). que está sendo alongado acarre-
Um dos tópicos mais Uma contração breve ta um aumento da tensão nesse
músculo, o que estimula o ór-
controversos da ciência dos es- antes de um alongamento estáti-
portes é o valor relativo dos pro- co do músculo é o ponto chave gão tendinoso de golgi. O OTG
causa então um relaxamento re-
gramas de alongamento balístico para as técnicas de FPN para
flexo do músculo (inibição
versus estático para desenvolver aumentar a flexibilidade muscu-
a flexibilidade. A controvérsia lar. A terminologia usada para autógena) antes que o músculo
seja movido a uma nova posição
é complicada pela falta de pes- descrever as atividades de alon-
quisa sobre a flexibilidade balís- gamento por FPN tem variado de alongamento e alongado pas-
sivamente (ALLSEN, 1999).
tica. O alongamento balístico é consideravelmente, incluindo o
difícil de avaliar por causa da uso de novos termos como: con- Uma outra técnica utili-
necessidade de equipamento trair-relaxar, manter-relaxar, zada é contrair-relaxar, em que
elaborado e habilidade técnica manter em reversão lenta-rela- se faz o mesmo procedimento
na mensuração da força que é xar, contração do agonista, con- da técnica anterior, assim o
requerida para mover a articu- trair—relaxar com contração do profissional solicita ao paciente
lação através de sua amplitude agonista e manter—relaxar com para tentar executar uma con-

4 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.


tração concêntrica do músculo alongamento, o profissional so- um tecido em se moldar às ten-
oposto ao músculo que está sen- licita ao paciente relaxar e man- sões diminui a probabilidade de
do alongado, causando um alon- ter a posição por 10 a 20 s. Sem lesão), auxílio na recuperação
gamento maior, ou seja, em retornar a posição inicial, pode- muscular após uma atividade fí-
qualquer grupo muscular se repetir a técnica três a cinco sica, desenvolvimento de cons-
sinérgico uma contração do vezes e depois retornar ao ciência corporal, benefício a
agonista causa um relaxamento posicionamento inicial. Portan- coordenação por tornar os mo-
reflexo do músculo antagonista, to as técnicas de alongamento vimentos mais soltos e fáceis e
possibilitando ao músculo anta- por FPN são eficazes em au- a ativação da circulação.
gonista relaxar para um alonga- mentar a flexibilidade muscular,
As técnicas de FNP po-
mento mais eficaz (inibição re- a escolha da técnica depende da
dem ter melhores resultados que
cíproca). Enquanto o paciente situação apresentada pelo paci-
as estáticas ou balísticas para
executa a contração concêntri- ente (ALLSEN, 1999).
produzir efeitos agudos sobre a
ca do músculo, causando um
amplitude dinâmica de movi-
alongamento maior, o profissi-
EFEITOS DO mento (HALL; BRODY, 2001).
onal aproveita qualquer ampli-
tude de movimento que tenha ALONGAMENTO
sido ganha, mantendo, assim, o
INDICAÇÕES DO
membro na nova posição de
Os efeitos do alonga- ALONGAMENTO
alongamento, o profissional
pede ao paciente a relaxar e mento se dividem em agudos e
manter a posição por 10 a 20 s. crônicos, pois os agudos ou ime-
Segundo Kisner (1998)
Sem abaixar o membro, pode- diatos são resultado da
as indicações do alongamento
se repetir a técnica de três a cin- flexibilização do componente
são quando a amplitude de mo-
co vezes para retorná-la a posi- elástico da unidade
vimento está limitada como re-
ção inicial (ALLSEN, 1999). musculotendinosa, obtidos com
sultado de contraturas, adesões
exercícios sistemáticos de alon-
A técnica de manter em e formações de tecido
gamento. Os efeitos crônicos ou
reversão lenta-relaxar segue os cicatricial, levando ao encurta-
a longo prazo são o acréscimo
mesmos procedimentos das téc- mento de músculos, tecido
no número de sarcômeros que
nicas anteriores, em que o paci- conectivo e pele; quando as li-
implica o aumento do compri-
ente aplica uma força isométrica mitações podem levar a defor-
mento muscular. Estes efeitos
contra o profissional por 6s, con- midades estruturais que podem
podem permanecer por determi-
traindo assim o músculo a ser ser prevenidas; quando as
nado período após a interrupção
alongado (inibição autógena). contraturas interferem com as
dos exercícios (HALL;
Depois da contração isométrica atividades funcionais cotidianas;
BRODY,2001).
do músculo, o profissional soli- quando existe fraqueza muscu-
cita ao paciente para tentar exe- De acordo com lar e retração nos tecidos opos-
cutar uma contração concêntri- Sobierajski (2004) existem ou- tos. Os músculos retraídos de-
ca do músculo oposto, causando tros efeitos promovidos pelos vem ser alongados antes que os
um alongamento maior (inibição exercícios de alongamento músculos fracos possam ser efe-
recíproca), aproveitando qual- como: redução de tensões tivamente fortalecidos.
quer amplitude de movimento musculares,prevenção de lesões
que tenha sido ganha, mantendo como as distensões,
o membro na nova posição de estiramentos (a capacidade de

Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, jun, 2004. 5


CONTRA-INDICAÇÕES dem ser comparadas em rela- REFERÊNCIAS:
ção ao seu grau de eficiência .
segundo Hall e Brody (2001), as
Existem algumas con- técnicas de FNP são mais efi- ALLSEN, P. E; HARRINSON,
tra-indicações para o uso das cazes, quando comparadas às J. M; BARBARA, V. Exercí-
técnicas de alongamento segun- técnicas estáticas ou balísticas. cio e qualidade de vida: uma
do Kisner (1998) quando um blo- No entanto, não existem estudos abordagem personalizada. 6.
queio ósseo limita a mobilidade concretos que comprovem tal ed. São Paulo: Manole, 1999.
articular ou após uma fratura eficiência.
recente, evidências de proces- ALTER, M. J. Ciência da fle-
Outro ponto a ser anali- xibilidade. 2.ed. Porto Alegre:
sos inflamatórios ou infeccioso
sado é o emprego do alongamen- Artmed, 1999.
agudo intra ou extra-articular e
to balístico como forma de tera-
sensação de dor, trauma nos te- BANDY, D. W; SANDRES, B.
pia, ainda muito questionada em
cidos ou quando existem Exercícios terapêuticos: técni-
relação a sua real eficácia du-
contraturas ou os tecidos moles cas para intervenção. Rio de
rante o programa de tratamen-
encurtados estiverem promoven- Janeiro: Guanabara Koogan,
to. Apesar dos questionamentos
do aumento na estabilidade arti- 2003.
relacionados aos seus efeitos le-
cular em substituição a estabili-
sivos, essa técnica pode ser per- BIENFAIT, M. Os
dade estrutural normal ou quan-
feitamente aplicável a uma po- desequilíbrios estáticos. 3. ed.
do forem a base de habilidade
pulação específica (atletas), que São Paulo: Summus, 1995.
funcionais, principalmente em
possuem estrutura do aparelho
pacientes com paralisia ou fra- _________. Fisiologia da tera-
locomotor preparado para rece- pia manual. São Paulo:
queza muscular.
ber esse tipo de atividade. Sen-
Summus, 1989.
do assim, ao contrabalançar
seus efeitos gerais, os benéficos HALL, M. C; BRODY, T. L.
CONSIDERAÇÕES
são relativamente maiores que Exercícios terapêuticos: na
FINAIS busca da função.Rio de Janeiro:
os lesivos.
Guanabara Koogan, 2001
Logo, se faz necessário
Os conhecimentos so- o conhecimento real a respeito KISNER, C; COLBY, L. A.
bre a biomecânica dos tecidos das várias técnicas levando-se Exercícios terapêuticos: funda-
moles são de grande valia para em consideração itens como: mentos e técnicas. 3. ed. São
a aplicação das técnicas de alon- procedimentos, precauções e Paulo: Manole, 1998.
gamento muscular em vários aplicabilidade; para que assim SOBIERAJSKI, F. Efeito do
casos. se possa obter sucesso ao trata- alongamento. Disponível em:
Apesar da variabilidade mento empregado. <http//: www.corpohumano.
de técnicas cada uma possui sua hpg. ig.com.br.> Acesso em:
particularidade, não havendo um 13.abr.2004.
ponto comum entre elas, e po-

6 Lato& Sensu, Belém, v.5, n.1, p. 6, jun, 2004.

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