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“Sangrando”
Eunice Mendes, (fonoaudióloga), resume e engloba todo o significado e poder que nós
humanos do terceiro milênio, apesar ainda das dificuldades, temos como símbolo da nossa
evolução: A VOZ.
“Que som é este que sai de mim, ora como murmúrio ora como risada?
Que som é este que passa pelas veias da minha pele e se espalha pelo meu corpo como música
em noite de festa?
Que som é este que sabe de mim mais de que eu mesmo e conta ao mundo os meus desejos
mais secretos?
Que som é este que sendo a minha voz imprime em cada fala o meu traço, o meu riso, a
minha dor e o meu compasso?
Que esta voz, que sou eu, me represente com a sensibilidade dos poetas e a alegria das
crianças que brincam de roda nas calçadas do mundo!
Que esta voz, que sou eu, me represente com a sensibilidade dos poetas e a alegria das
crianças que brincam de roda nas calçadas do mundo!
Que esta voz, tão particular e tão minha, seja a ponte certa até à mente e o coração das
pessoas!
A voz é o espelho vocal da personalidade humana. É o símbolo que nos apresenta ao mundo
por meio dos sons. É a nossa carteira de identidade vocal. Ela é a única em suas vibrações,
cor, tons, sabor, textura e musicalidade.
Por meio da voz traduzimos quem somos, o que sentimos e como enxergamos o mundo. Por
meio dela é possível detectar as sombras e a luminosidade de cada um. A voz é uma arma
poderosa.
Ela é um dos instrumentos de influência mais eficaz nas condições humanas, junto com os
gestos. É muito poder para ser desperdiçado.
Conhecer a própria voz é conhecer um pouquinho da própria alma. A voz desnuda nossas
angústias, sonho, alegrias e intenções. Ela imprime publicamente uma parte do território das
características individuais. Quem busca autoconhecimento tem na voz que o integra ao mundo
uma ferramenta especial que mostra traços importantes de seu ser.
Utilizando a voz como instrumento, construímos a nossa fala com todos os matizes que nos
distinguem como personagens únicos da nossa história.
Se a voz que temos hoje não nos agrada por estar desvitalizada e insegura, isso não precisa ser
eterno. Somos julgados e avaliados a cada instante da nossa vida, também pelos sons que
emitimos. Precisamos buscar uma voz que agrade nossos ouvidos e os ouvidos alheios.
Resgatar a voz verdadeira, com todo o potencial que ampliará as habilidades de comunicação
é realizar um inventário pessoal que pode nos fornecer trilhas altamente significativas para o
encontro de uma imagem vencedora.”
Eunice Mendes
A VOZ NO TEMPO: ASPECTOS HISTÓRICOS
Introdução
A voz é uma das extensões mais fortes da nossa personalidade, nosso sentido
de inter-relação na comunicação interpessoal, um meio essencial de atingir o outro. Nada
assusta mais do que encontrar pelas ruas alguém que fala sozinho. Imediatamente é
considerado louco, única e exclusivamente porque não existe o outro. E a voz só existe
porque existe o outro.
Sendo, portanto a comunicação humana individual, sob nenhum aspecto ela é tão
individual quanto na maneira de falar.
Conceito
Histórico
Elementos da Voz
Fala
• Avaliação, prevenção e tratamento de disfagias, dislatias, disfemias,
disfluências, disartrias e alterações miofuncionais.
Higiene da Voz
Para se comunicar verbalmente, o ser humano faz uso de seu aparelho fonador,
de sua voz (além de usar gestos corporais e faciais). Alterações vocais podem levar o
indivíduo a ter dificuldades ou ser impossibilitado de se comunicar através da voz.
Com o objetivo de prevenir o aparecimento ou o agravamento de alterações
vocais, fonoaudiólogos costumam alertar seus pacientes utilizando-se das normas da Higiene
Vocal.
Cabe ressaltar aqui que “Normas de Higiene Vocal, segundo Naidich (1989),
se referem à prevenção de problemas que possam afetar a voz, não limitando-se só aos
cuidados do aparelho vocal, mas também aos de outros órgãos e funções que possam interferir
indiretamente, colaborando em seu bom funcionamento.
Geralmente as recomendações mais mencionadas aos pacientes são:
• Hidratação do Organismo – é imprescindível que o profissional da voz tenha
sempre a seu alcance um copo d’água, em temperatura ambiente, durante suas
performances (a quantidade ideal é a ingestão de 7 a 8 copos por dia). Um
corpo permanentemente hidratado significa pregas vocais hidratadas e com
melhor flexibilidade e vibração.
• Gritar sem Suporte Respiratório – Se houver necessidade de gritar, deve-se
inspirar profundamente, sentindo seu abdômen expandir, juntamente com suas
costelas, e dar o seu recado em forte intensidade, sincronizando a contração da
musculatura abdominal com o fechamento das pregas vocais. Procedendo desta
maneira, o falante libera uma maior quantidade de ar para as pregas vocais, que
estarão fortemente aproximadas, causando uma espécie de explosão do som.
• Golpe de Glote – significa falar com ataques vocais bruscos, golpeando uma
prega vocal contra a outra. Isto ocorre principalmente nos inícios de frases ou
palavras iniciadas por vogais. Para evitar o golpe de glote é necessário um bom
suporte respiratório, com apoio do ar no músculo diafragma (músculo
respiratório mais importante) e intercostais externos (músculos entre as
costelas, que dão sustentação às mesmas).
• Tossir ou Pigarrear Excessivamente – A prática constante destes dois
procedimentos acaba ferindo as pregas vocais, que reagem ao atrito constante,
causando um aumento da produção de muco para se protegerem contra o
impacto. O melhor meio de eliminar a vontade de pigarrear é reduzindo a
produção de muco e, para tal, a única maneira é parar de produzir o atrito entre
as pregas vocais, parando de pigarrear.
• Falar em Ambientes Ruidosos ou Abertos – Automaticamente aumentamos a
intensidade de nossas vozes diante de ruídos intensos ou ambientes ao ar livre.
No primeiro caso falamos mais intensamente porque perdemos o retorno
auditivo de nossas próprias vozes e, no segundo caso, porque a onda sonora se
dissipa com mais facilidade. A melhor maneira de produzir uma fala audível
em ambientes ruidosos ou abertos é aumentando o seu volume e, para tal, deve-
se: articular os sons precisamente; projetar a voz na máscara (na região da face,
dando uma característica vocal mais metálica à voz – postura facial
discretamente em sorriso com elevação das laterais da língua, auxiliam nesta
produção) e elevar a freqüência da voz (tom), levemente em direção aos
agudos.
• Utilizar Tom Grave ou Agudo Demais – Em situações de fala usual, espera-se
de um individuo normal e saudável que ele fale com um tom médio, habitual,
por volta da terceira ou quarta nota musical acima da nota mais grave que ele
consegue produzir. Segundo várias pesquisas esta é a região de maior conforto
para o falante. Nenhum extremo vocal grave (abaixo da terceira nota) é
erroneamente confundido com falar em fraca intensidade. O ouvido humano é
pouco sensível aos graves; o paciente falando neste tom passa a não ser
entendido e, muitas vezes, lança mão do aumento da intensidade,
sobrecarregando suas pregas vocais. No entanto, se ele aumentar o tom de voz
em uma ou duas notas acima do seu tom habitual (quinta ou sexta nota acima
da sua emissão mais grave) isto não acarretará problemas (desde que não esteja
produzindo tensão), já que uma pessoa normal tem pelo menos uma oitava
inteira de notas acima do seu tom habitual.
• Falar Excessivamente Durante Quadros Gripais ou Crises Alérgicas – Durante
as gripes fortes e crises alérgicas, é freqüente o aparecimento de quadros de
rouquidão e obstrução nasal. Isto ocorre porque há um inchaço das mucosas
que revestem o trato respiratório. Nesta ocasião, é altamente recomendável o
aumento da hidratação, para auxiliar na fluidificação das secreções, além da
economia da voz. Vocalizar excessivamente sobre o tecido inchado pode ser
extremamente prejudicial, causando danos irreversíveis à mucosa que reveste
as pregas vocais, como por exemplo, os pólipos (pequenas vesículas,
semelhantes a bolhas d’’água, que correspondem a distensões localizadas de
tecido associadas ao abuso vocal nestas situações).
• Praticar Exercícios Físicos Falando – A prática de atividades físicas
concomitantemente à fonação deve ser evitada, pois, durante o esforço físico,
ocorre um aumento no fechamento das pregas vocais e este mecanismo, aliado
à fonação, pode gerar sobrecarga, principalmente se o falante estiver ao al livre
ou em ambientes ruidosos (professor de academias de ginástica, por exemplo).
• Fumar ou Falar Muito em Ambientes de Fumantes – O cigarro, além de nocivo
à saúde, é altamente irritante às mucosas do trato vocal. O fumante, além de
sofrer os efeitos da nicotina prejudiciais à saúde, ainda destrói os cílios do trato
respiratório responsáveis pela varredura do muco retido nas suas paredes,
aumentando a sensação de pigarro. Além disto, a fumaça resseca as pregas
vocais, dificultando sua vibração. O efeito acaba sendo o mesmo permanecendo
em ambientes de fumantes.
• Utilizar Álcool em Excesso – O álcool, além de irritante, tem um efeito
anestésico, que mascara a dor de garganta (a dor ao falar é um poderoso fator
de alerta ao profissional da voz e indicativo de que o abuso vocal está
machucando as pregas vocais). Sprays e pastilhas de garganta têm efeitos
semelhantes ao álcool neste aspecto. Além disto, o etilismo age no sistema
nervoso central, interferindo no controle vocal e articulatório, causando a fala
típica do érbrio, com entonações alteradas e articulação imprecisa.
• Falar ou Cantar Abusivamente em Período Pré-Menstrual – Durante a fase pré-
menstrual ocorre um aumento seguido de uma redução do nível de estrogênio
no corpo da mulher, causando o inchaço de várias regiões do corpo. Assim
como os seios entumecem, as pregas vocais também podem sofrer o mesmo
processo, gerando uma voz mais grave e profunda neste período.
• Falar Demasiadamente – Falar demais causa sobrecarga vocal. Não devemos
nos esquecer que as pregas vocais são músculos, e como qualquer outro
músculo do corpo têm um limite, podendo fatigar.
• Rir Alto – Geralmente apoiamos naturalmente o riso na musculatura
respiratória. Podemos observar isto claramente, pois quando estamos rindo
realizamos movimentos ritmados do abdômen. Como no grito, o riso não fará
mal se não for em excesso ou em intensidade exagerada.
• Falar Muito Após Ingerir Grandes Quantidades de Aspirinas, Calmantes ou
Diuréticos – A aspirina causa aumento da circulação sanguínea na periferia das
pregas vocais. Com a associação do atrito de uma prega contra a outra, há um
aumento da fragilidade capilar, ocasionando o extravazamento de sangue para
fora dos tecidos. Os diuréticos e os calmantes ressecam as mucosas, sendo que
os últimos também causam imprecisão articulatória.
• Discutir com Freqüência – Durante brigas e discussões, a pessoa perde
completamente o controle voluntário sobre os aspectos vocais orientados, pois
está sob o domínio das emoções. Evitar situações de discussão é o único meio
de controlar os abusos vocais nestas circunstâncias. Contrair a musculatura
abdominal pode auxiliar, mas não resolve a sobrecarga causada pela tensão
muscular gerada pelo estresse.
• Cantar Inadequada ou Abusivamente e Fazer Parte de Corais sem preparo
Vocal – Aulas de canto são extremamente benéficas à saúde vocal do
profissional da voz, desde que não haja patologia laríngea. O canto sem preparo
e técnica pode ser extremamente prejudicial ao aparato vocal, causando sérios
distúrbios orgânicos secundários. Quando o abuso vocal é cometido por
atividades extraprofissionais, como gritar durante atividades esportivas, o
profissional da voz deve ser orientado quanto às precauções a serem tomadas
para proteger-se contra os prejuízos causados. Estes abusos vocais devem ser
completamente modificados ou, então, eliminados.
• Alimentação – De maneira geral, as dietas devem ser ricas em proteínas
visando vigor e força muscular. Entretanto, evite alimentos pesados e
condimentados, principalmente se são comuns sintomas como azia, má
digestão e refluxo de substâncias gástricas. Estas secreções podem banhar as
pregas vocais (e isto geralmente ocorre à noite quando estamos dormindo),
causando irritação das mesmas.
Gonçalves, Neide
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