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Universidade do Minho

Escola de Engenharia
Departamento de Engenharia Civil

ESTRUTURAS DE BETÃO I
EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

FOLHA 1
(DRAFT Nº1)

Miguel Azenha, Isabel Valente, Ana Paula Assis e Eduardo Pereira

Setembro de 2009
Folhas de Apoio às Aulas Práticas

INDICE

1 Enunciado ........................................................................................................................................ 3
2 Exercício 1........................................................................................................................................ 6
2.1 Combinação para estado limite último de resistência em compressão ..................................... 6
2.2 Combinação para estado limite último de resistência em tracção............................................. 6
3 Exercício 2........................................................................................................................................ 7
3.1 Quantificação das acções .......................................................................................................... 7
3.1.1 Acções permanentes ......................................................................................................... 7
3.1.2 Acções variáveis ................................................................................................................ 7
3.2 Combinação de acções – Estados Limite Últimos ..................................................................... 7
3.3 Momento flector máximo no vão inermédio – Estados Limite de Utilização............................ 14
4 Exercício 3...................................................................................................................................... 16
4.1 Classe de resistência e propriedades aos 28 dias (a) ............................................................. 16
4.2 Variação de comprimento elástica e após fluência (b) ............................................................ 16
4.3 Extensão de retracção a tempo infinito (c)............................................................................... 17
4.4 Recobrimento necessário para a peça (d) ............................................................................... 18

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1 ENUNCIADO
Exercício 1
Considere um pilar sujeito a três acções independentes que geram os esforços axiais com os valores
característicos indicados na Figura 1. Na resolução deste problema considere sinal positivo para as
compressões e negativo para as tracções.

Nota: Os esforços NG,k e NQ1,k são sempre de compressão, enquanto que NQ2,k pode ser de
compressão ou de tracção.

a) Determine o esforço axial de cálculo para verificação do estado limite último de resistência
em compressão.

b) Determine o esforço axial de cálculo para verificação do estado limite último de resistência
em tracção.

Figura 1 – Esquema de cargas aplicadas ao pilar

Exercício 2
Na Figura 2 representa-se uma viga que se repete a cada 6.25m, apoiando uma laje maciça com
20cm de espessura. O sistema estrutural descrito corresponde a uma laje de cobertura de uma
garagem que funciona como terraço para o edifício de habitação contíguo. A viga tem secção
30cm×70cm de acordo com o indicado na figura.

Para estimativa das acções sobre a viga, considere a solução construtiva para revestimento da
cobertura inclui: 3cm de camada de regularização em betão simples; emulsão betuminosa de
impermeabilização; ladrilho de 1cm de espessura.

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Figura 2 – Cortes da viga

a) Determine os valores característicos das acções actuantes sobre a viga e determine a


envolvente dos diagramas de esforços de cálculo MEd e VEd correspondentes ao Estado
Limite Último de Resistência.

b) Para o vão intermédio, calcule o momento flector positivo máximo para a combinação quase
permanente.

Exercício 3
Considere a peça em betão simples representada na Figura 3, em contacto com uma base rígida na
sua face inferior, de 40cm×40cm, e podendo sofrer carregamento na sua face superior (oposta).
Sabe-se que o betão que compõe a peça pertence a uma classe do EC2 cuja resistência
característica inferior à tracção (quantilho 5%) é de 2.2MPa. A peça encontra-se num ambiente com
temperatura de 20ºC e humidade relativa de 80%. A classe de exposição é XC3. Considere que o tipo
de cimento utilizado na mistura deste betão é CEM 42,5N.

Figura 3 – Peça em betão simples

a) Qual a classe de resistência do betão desta peça? Para essa mesma classe de betão,
indique as seguintes propriedades aos 28 dias de idade: resistência média à compressão em
cilindros; resistência característica à compressão em cilindros; resistência característica à
compressão em cubos; resistência média à tracção, módulo de elasticidade, coeficiente de
Poisson e coeficiente de dilatação térmica linear.

b) Supondo que a peça é carregada aos 28 dias de idade com uma força axial de compressão
com valor de 1600kN, indique a variação de comprimento aquando do carregamento, bem
como a variação de comprimento total esperada a tempo infinito. Nota: na resposta a esta
alínea ignore os efeitos da retracção.

c) Calcule a variação de comprimento que será de esperar devido à retracção nesta peça a
tempo infinito. Indique qual o valor da força que, aplicada aos 28 dias de idade, provocaria a

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mesma variação de comprimento na peça. Calcule também o abaixamento de temperatura


que, aplicado aos 28 dias de idade, provocaria a mesma variação de comprimento na peça.

d) Calcule o recobrimento necessário e represente a secção transversal da peça na hipótese


de estar armada com 4 varões longitudinais de Ø20mm nos cantos e cintas transversais
quadrangulares de Ø8mm.

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2 EXERCÍCIO 1
2.1 Combinação para estado limite último de resistência em compressão
Trata-se de uma verificação à rotura de um elemento estrutural, pelo que são usados os critérios
correspondentes à verificação STR definida no EC0 em 6.4.1(1). A forma genérica de combinação
para este caso está definida em EC0 (6.10), e representa-se abaixo devidamente adaptada ao caso
da existência de uma única acção permanente e duas acções variáveis independentes (omitindo a
parcela relativa ao pré-esforço, que não existe neste problema):
γ G Gk "+ " γ Q,1 Qk ,1 "+ " γ Q,2 ψ 0,Q 2 Qk ,2
Sendo que o efeito pretendido na combinação é a compressão máxima, qualquer esforço de tracção
é considerado uma acção favorável, pelo que a hipótese de NQ2,k ser de tracção não será
contemplada nesta alínea (γQ =0).
No que diz respeito ao coeficiente γG, dado que NG,k é um esforço de compressão (logo desfavorável,
visto que aumenta o efeito da compressão), fica γG =1.35 de acordo com a Nota 3 do Quadro EC0-
NA-A1.2(B). Quanto às acções variáveis, de acordo com o mesmo Quadro γQ =1.5. Há agora que
definir qual das duas acções variáveis é a acção de base, e qual é a acompanhante. Tendo em conta
que a acção acompanhante será afectada do coeficiente ψ0 (logo reduzida), e sabendo que se
pretende maximizar o valor final da compressão obtido pela combinação, opta-se por considerar que
a acção variável de base é NQ2,k (compressão) e a acção variável acompanhante é NQ1,k. Os esforços
podem então ser directamente combinados na forma:

NSd ,compressão = 1.35 × NGk + 1.5 × NQcompr


2,k
.
+ 1.5 × 0.8 × NQ1k

NSd ,compressão = 1.35 × 620 + 1.5 × 600 + 1.5 × 0.8 × 500 = 2337 kN

2.2 Combinação para estado limite último de resistência em tracção


Tendo em vista a combinação mais desfavorável para a tracção (i.e., aquela que maximiza a tracção),
o esforço axial NG,k (de compressão) é considerado uma acção favorável, pelo que será afectado do
coeficiente γG =1.0 de acordo com a Nota 3 do Quadro EC0-NA-A1.2(B). O esforço axial NQ1,k. (de
compressão) e o esforço NQ2,k.de compressão não são considerados por provocarem efeitos
favoráveis. Assim sendo, a única acção variável a considerar é NQ2,k (em tracção), afectada do
coeficiente γQ =1.5. A combinação dos esforços a adoptar é:

NSd ,tracção = 1.0 × NGk + 1.5 × NQtrac


2,k
.

NSd ,compressão = 1.0 × 620 − 1.5 × 600 = − 280 kN

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3 EXERCÍCIO 2
3.1 Quantificação das acções

3.1.1 Acções permanentes

Peso próprio da laje


Considera-se que γbetão armado = 25 kN/m3 de acordo com EC1 (Tabela A.1), e sabendo que a largura
de influência da viga é 6.25m..................................................................... 0.20×6.25×25 = 31.25 kN/ml

Peso próprio da viga


Considera-se apenas a parcela da viga que é saliente da laje (evitando duplicação da consideração
da zona de intersecção laje/viga)........................................................................ 0.3×0.5×25=3.75kN/ml

Revestimentos sobre a laje


Camada de regularização, espessura média 3.0 cm, γbetão = 24 kN/m3......... 0.03×6.25×24 = 4.5 kN/ml

Tela líquida (0.05kN/m2 de acordo com Tabelas Técnicas) ............................. 0.05×6.25=0.3125 kN/ml
Ladrilho de 1.0 cm de espessura, incluindo cimento cola para assentamento (0.75 kN/m2 de acordo
com Tabelas Técnicas) ..................................................................................... 0.75×6.25=4.6875 kN/ml

De acordo com EC1-3.2(2): “o peso próprio total dos elementos estruturais e não estruturais deve ser
tido em conta nas combinações de acções como uma carga independente”.
Total de cargas permanentes aplicadas na viga...................................................................... 44.5 kN/ml

3.1.2 Acções variáveis


O terraço é acessível, corresponde à categoria I do quadro 6.9 do EC1. Uma vez que este serve
habitações, a utilização específica equivale a actividades domésticas e residenciais (Categoria A –
Quadro NA-6.2 -> qk=2.0kN/m2). Ressalva-se que, por simplificação, está a ser ignorada a
possibilidade de aplicação de um coeficiente redutor das sobrecargas αA de acordo com EC1-
NA6.3.1.2(10).

• Sobrecarga aplicada à viga................................................................................ 2.0×6.25=12.5 kN/ml

3.2 Combinação de acções – Estados Limite Últimos


Os critérios para combinação de acções em estado limite último estão explanados na cláusula 6.4.3
do Eurocódigo 0. No presente caso, dadas as acções em consideração (cargas permanentes e
sobrecargas) e o tipo de verificação em causa (STR, de acordo com 6.4.1), serão as definidas em
6.4.3.2 – “Combinações de acções para situações de projecto persistentes ou transitórias
(combinações fundamentais)”. Para o presente caso (em que não existe a acção do pré-esforço nem

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acções variáveis acompanhantes), a equação (6.10) que exprime a forma de combinar as acções
pode ser re-escrita como:
γ G Gk "+ " γ Q,1 Qk ,1
Sendo que os factores parciais para combinação destas acções podem ser encontrados na tabela
EC0-NA-A1.2(B).
O esquema estrutural a considerar para a definição das combinações de acções é o representado na
Figura 4.

Figura 4 – Esquema estrutural da viga

Os valores das cargas permanentes e das acções variáveis actuantes nos três vãos foram já
apurados, tendo os valores:
Gk = 44.5kN / ml

Qk = 12.5kN / ml

Relativamente aos coeficientes parciais a adoptar, há que efectuar raciocínio separado para as
cargas permanentes e para as acções variáveis. De acordo com a Nota 3 do Quadro EC0-NA-
A1.2(B), “os valores característicos de todas as acções permanentes com a mesma origem são
multiplicados por γG,sup, caso o efeito total das acções resultante seja desfaforável, e por γG,inf, caso o
efeito total das acções resultante seja favorável.”. Aplicado ao caso em questão, isto significa que a
acção permanente deverá ter o mesmo coeficiente de segurança γG,sup =1.35 ou γG,inf =1.00
simultaneamente em todos os vãos. Dado que a aplicação do coeficiente de segurança mais elevado
conduz à partida a esforços mais condicionantes, opta-se pela adopção em todos os vãos e todas as
combinações de γG,sup =1.35.
Nota: Caso se tratasse de uma verificação EQU, seria admissível a utilização de diferentes valores de
γG para vãos adjacentes de acordo com EC0-6.4.3.1(4).

Relativamente às sobrecargas, o EC1 indica em 6.2.1(1): “Para o projecto de uma estrutura de um


pavimento de piso ou de cobertura, a sobrecarga deve ser tida em conta como uma acção livre
aplicada na zona mais desfavorável da área de influência dos efeitos da acção considerados.”.
Deverá então colocar-se a sobrecarga no local (ou locais) mais desfavorável para maximizar o efeito
(ou esforço) que se pretende analisar. Sendo que a sobrecarga em consideração é uma carga
uniformemente distribuída, considera-se três zonas de actuação da mesma (vão 1; vão 2; vão 3) que
poderão ser combinadas de acordo com o efeito pretendido. A análise do efeito da alternância de
sobrecargas poderá ser apoiada com base nas linhas de influência de momentos flectores e esforços
transversos das Figuras 5 e 6.

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Figura 5 – Linhas de influência de momentos flectores

Figura 6 – Linhas de influência de esforços transversos

Independentemente da leitura que pode ser feita a partir das linhas de influência, é usual adoptar
como primeira combinação aquela que congrega todas as cargas em consideração assumidas como
desfavoráveis em todos os vãos. Surge então a combinação 1, representada na Figura 7.

Figura 7 – Esquema de aplicação de cargas para a Combinação 1

Para maximização do efeito “momento flector a meio vão do primeiro vão”, pode observar-se de
acordo com a Figura 5 que a sobrecarga deverá ser aplicada nos 1º e 3º vãos. A aplicação de
sobrecarga no vão nº2 provocaria diminuição efeito pretendido, pelo que para este efeito a
sobrecarga no vão nº2 é considerada favorável; assim, de acordo com a o Quadro EC0-NA-A1.2(B),
dever-se-á adoptar para a sobrecarga neste vão o coeficiente parcial γQ=0 (i.e., a sobrecarga neste
vão não é considerada). Resulta assim a combinação nº2 representada na Figura 8 que maximiza o
“momento flector a meio vão do primeiro vão”. Por análise das linhas de influência do esforço

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transverso (Figura 6), constata-se nesta combinação também que será maximizado o esforço
transverso no primeiro apoio.

Figura 8 – Esquema de aplicação de cargas para a Combinação 2

Para maximização do momento flector positivo no vão intermédio, adopta-se o esquema de


carregamento da combinação 3, representado na Figura 9.

Figura 9 – Esquema de aplicação de cargas para a Combinação 3

A combinação 4 representada na Figura 10 permite a maximização dos valores do momento flector e


do esforço transverso sobre o segundo apoio da estrutura (ver linhas de influência).

Figura 10 – Esquema de aplicação de cargas para a Combinação 4

Para obtenção de efeitos simétricos aos da Combinação 4, efectua-se a combinação 5 representada


na Figura 11.

Figura 11 – Esquema de aplicação de cargas para a Combinação 5

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Os diagramas de esforços transversos e momentos flectores correspondentes às combinações que


acabam de ser explicitadas estão representados na Figura 12 e na Figura 13.

Figura 12 – Diagramas de esforços transversos para as cinco combinações

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Figura 13 – Diagramas de momentos flectores para as cinco combinações

A representação conjunta dos diversos diagramas de esforços transversos encontra-se na Figura 14,
onde estão também identificados os máximos locais e a combinação correspondente. Na Figura 15
está representada a contribuição das diversas combinações para a envolvente de esforços
transversos. Pode confirmar-se as tendências já identificadas pelas linhas de influência dos esforços

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transversos: a combinação 2 proporcionou esforço máximo no primeiro e quarto apoios; a


combinação 4 conduziu a esforço máximo no segundo apoio; a combinação 5 originou máximos para
o terceiro apoio. Ainda que marginalmente, a combinação 3 contribuiu também para a envolvente de
esforços transversos em dois pequenos troços localizados nos primeiro e terceiro vãos (situação que
não havia sido antecipada com o raciocínio baseado em linhas de influência).

Figura 14 – Envolvente dos diagramas de esforços transversos

Figura 15 – Contribuição das diversas combinações para a envolvente dos diagramas de esforços transversos

No que diz respeito a momentos flectores, a sobreposição dos diversos diagramas está representada
na Figura 16, e a envolvente com discriminação das diversas combinações pode ser observada na
Figura 17. Assim como no caso dos esforços transversos, constata-se a confirmação das
expectativas criadas com o raciocínio baseado nas linhas de influência utilizado na escolha das
combinações: a combinação 2 causa momentos máximos positivos nos primeiro e terceiro vãos; a
combinação 3 causa momento máximo positivo no vão intermédio; a combinação 4 causa momento
máximo negativo no segundo apoio; a combinação 5 causa momento máximo positivo no terceiro
apoio. Constata-se também a relevância adicional das combinações 2 e 3 no lado negativo
envolvente dos momentos flectores, aumentando a extensão da mesma em todos os vãos. Apesar de
este comportamento não ter sido antecipado com o raciocínio baseado em linhas de influência, a
justificação do mesmo é relativamente simples: por exemplo, para a combinação 3, cujo objectivo
essencial era a maximização dos momentos positivos no vão intermédio, é compreensível que como
consequência os momentos positivos nos primeiro e terceiro vãos fiquem mais baixos e logicamente

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o comprimento do troço em que existe momento negativo nesses vãos fique mais comprido (logo
contribuindo para a envolvente). Pelo motivo que acaba de ser enunciado é então compreensível a
plausibilidade de integrar na estratégia de elaboração de combinações a existência de combinações
que à partida se sabe que não contribuirão para os esforços máximos, mas que podem
eventualmente contribuir para a envolvente por efeito de “alargamento” dos diagramas. Este
“alargamento” foi constatado com as combinações 2 e 3, mas poderia ter sido também obtido caso
tivessem sido efectuadas combinações em que as acções permanentes fossem consideradas como
favoráveis (i.e. com γG,inf =1.00 em todos os vãos).
Uma constatação curiosa neste problema em particular é o facto da combinação 1, que é aquela em
que a viga está sujeita a maior carga, não ter tido qualquer contributo nem para a envolvente de
esforços transversos, nem para a envolvente de momentos flectores.

Figura 16 – Envolvente dos diagramas de momentos flectores

Figura 17 – Contribuição das diversas combinações para a envolvente dos diagramas de momentos flectores

3.3 Momento flector máximo no vão inermédio – Estados Limite de Utilização


Os critérios para combinação de acções em estado limite de utilização estão explanados na cláusula
6.5.3 do Eurocódigo 0. Pretende-se a combinação quase permanente em que, para o presente caso
(em que não existe a acção do pré-esforço nem acções variáveis acompanhantes), a equação (6.16b)
que exprime a forma de combinar as acções (e que está de acordo com o Quadro A1.4 do EC0) pode
ser re-escrita como:

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∑G
j ≥1
k, j "+ " ψ 2,1 Qk ,1

O terraço é acessível, corresponde à categoria I do quadro 6.9 do EC1. Uma vez que este serve
habitações, a utilização específica equivale a actividades domésticas e residenciais (Categoria A –
Quadro NA-6.2), os valores ψ a adoptar serão os correspondentes à categoria A, definidos no Quadro
A1.1 do EC0: ψ0=0.7; ψ1=0.5; ψ2=0.3.
Dado que se pretende o momento máximo do vão intermédio, e tendo em conta as conclusões
obtidas na alínea anterior da resolução deste problema, será suficiente efectuar uma combinação
com posicionamento de sobrecargas análogo à Combinação 3 do estado limite último. Os valores de
Gk e Qk são os mesmos da alínea anterior: Gk = 44.5kN / ml ; Qk = 12.5kN / ml . A ilustração do
esquema de aplicação da carga correspondente à combinação encontra-se na Figura 18.

Figura 18 – Esquema de aplicação de cargas para a Combinação quase permanente

O diagrama de momentos flectores correspondente à combinação quase permanente em causa está


representado na Figura 19. Pode então constatar-se que o momento flector pedido no enunciado tem
o valor de 89.2 kN.m.

Figura 19 – Diagrama de momentos flectores para a Combinação quase permanente

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4 EXERCÍCIO 3
4.1 Classe de resistência e propriedades aos 28 dias (a)
De acordo com o quadro 3.1 do EC2, a classe de resistência à qual corresponde fctk,0.05=2.2MPa é a
C35/45. Segue-se uma tabela com as propriedades requeridas na alínea a):

Designação
Propriedade Cláusula EC2 Valor e Unidades
abreviada
Resistência média à compressão em
fcm Quadro 3.1 43 MPa
cilindros
Resistência característica à compressão
fck Quadro 3.1 35 MPa
em cilindros
Resistência característica à compressão
fck,cube Quadro 3.1 45 MPa
em cubos
Resistência média à tracção fctm Quadro 3.1 3.2 MPa
Módulo de elasticidade Ecm Quadro 3.1 34 GPa
Coeficiente de Poisson ν 3.1.3 (4) 0.2
Coeficiente de dilatação térmica linear α 3.1.3 (5) 10×10-6 K-1

4.2 Variação de comprimento elástica e após fluência (b)


De acordo com a Lei de Hooke, e sabendo que a carga aplicada é de 1600kN sobre uma peça com
0.4×0.4m2 com módulo de elasticidade de 34GPa, tem-se:

1600 × 103
σ c = Ecm × ε ⇔ = 34 × 109 × ε ⇔ ε = 2.94118 × 10 −4
0.4 × 0.4
Tendo conhecimento do comprimento total da peça (80cm), obtém-se o encurtamento instantâneo
pela definição de ε:
ΔL ΔL
ε= ⇔ 2.94118 × 10−4 = ⇔ ΔL = 0.000235m = 0.235mm
L 0.8
Tendo concluído que o encurtamento instantâneo é de 0.235mm, há que calcular o encurtamento
adicional por fluência.
A tensão a que está sujeito o betão aquando da aplicação da carga (t=28 dias) é de
N 1600 × 103
σc = = = 10 × 106 Pa = 10 MPa
A 0.4 × 0.4

Uma vez que 0.45×fck(28dias)=0.45×35=15.75MPa é maior que σc=10MPa, não é necessária a


consideração dos fenómenos de fluência não linear previstos em EC2-3.1.4(4). Assim sendo, a
determinação dos efeitos da fluência é efectuada com base na equação (3.6) de ponto 3.1.4(3) do
EC2:
σc
ε cc ( ∞, t0 ) = ϕ ( ∞, t0 ) ×
Ec

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O cálculo de ϕ ( ∞,t0 ) pode ser feito com base na Figura 3.1 do EC2 e requer o conhecimento da

espessura equivalente h0 de acordo com 3.1.4(5):


2 × Ac 2 × 0.4 × 0.4
h0 = = = 0.2m = 200mm
u 4 × 0.4
Estão então reunidos todos os parâmetros para obtenção do coeficiente de fluência a partir da Figura
3.1 do EC2: t0=28 dias; h0=200mm; C35/45; classe N (ver tipo de cimento no enunciado); HR=80%.
Através da aplicação do procedimento indicado na Figura 3.1 do EC2, obtém-se a construção aqui
representada na Figura 20, que permitiu a obtenção de ϕ ( ∞,28 ) = 1.6 .

Figura 20 – Construção executada para obtenção do coeficiente de fluência

Pode agora ser calculada a extensão de fluência de acordo com equação (3.6) de ponto 3.1.4(3) do
EC2 já referida acima:
σc 10 × 106
ε cc ( ∞,28 ) = ϕ ( ∞,28 ) × = 1.6 × = 4.706 × 10 −4
Ec 34 × 109
A extensão total a tempo infinito corresponderá à soma da extensão elástica com a extensão de
fluência:
ε ∞ = ε t = 28d + ε cc ( ∞,28 ) = 2.94118 × 10 −4 + 4.706 × 10 −4 = 7.647 × 10 −4
Pelo que o encurtamento total da peça após fluência será de:
ΔL
7.647 × 10 −4 = ⇔ ΔL = 0.000612m = 0.612mm
0.8
Após um encurtamento inicial elástico de 0.235mm aos 28 dias, o betão sofreu encurtamento
adicional por fluência até um total de 0.612mm a tempo infinito.

4.3 Extensão de retracção a tempo infinito (c)


A extensão total de retracção é constituída por duas componentes (retracção de secagem e retração
autogénea) – EC2 – 3.1.4(6):
ε cs = ε cd + ε ca
De acordo com 3.1.4(6), ε cd ,∞ = kh × ε cd ,0 . Sendo h0=200mm, kh toma o valor de 0.85 (ver Quadro 3.3

do EC2). O valor de ε cd ,0 pode ser obtido de forma simplificada a partir do Quadro 3.2, uma vez que o

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cimento utilizado é da classe N. Uma vez que a classe do betão em análise (C35/45) não está
contemplada no Quadro 3.2, efectua-se uma interpolação linear com base em fck, obtendo-se para
HR=80% um valor interpolado de ε cd ,0 = 0.255 1000 . Obtém-se então o valor de ε cd ,∞ :

0.255
ε cd ,∞ = 0.85 × = 216.75 × 10−6
1000
A retracção autogénea a tempo infinito pode ser obtida a partir da expressão (3.12) do EC2:
ε ca ( ∞ ) = 2.5 × ( fck − 10 ) × 10−6 = 2.5 × ( 35 − 10 ) × 10 −6 = 62.5 × 10 −6
Então, a retracção total a tempo infinito terá o valor:
ε cs,∞ = 216.75 × 10−6 + 62.5 × 10−6 = 279.25 × 10 −6
Pode-se então determinar o encurtamento da peça devido à retracção a tempo infinito
ΔL
279.25 × 10 −6 = ⇔ ΔL = 0.000223m = 0.223mm
0.8

A força que aplicada aos 28 dias causaria o mesmo encurtamento pode ser calculada pela lei de
Hooke:
N
σ c = Ecm × ε ⇔ = 34 × 109 × 279.25 × 10 −6 ⇔ N = 1519kN
0.4 × 0.4
Trata-se de uma força muito elevada, correspondendo a cerca de 152 toneladas força.

O abaixamento de temperatura que causaria o mesmo tipo de encurtamento é


ε = α × ΔT ⇔ 279.25 × 10 −6 = 10 × 10 −6 × ΔT ⇔ ΔT = 27.9 K

4.4 Recobrimento necessário para a peça (d)


O recobrimento nominal cnom é definido como um recobrimento mínimo cmin adicionado de uma
margem de cálculo para as tolerâncias de execução Δcdev (ver EC2 – 4.4.1.1(2)).
Calcula-se inicialmente cmin de acordo com 4.4.1.2:

{
cmin = max cmin,b ; cmin,dur + Δcdur ,γ − Δcdur ,st − Δcdur ,add ;10mm }
Com cmin,b=20mm (utilização de varões longitudinais Ø20mm) – Quadro 4.2 – EC2
Presumindo tratar-se de uma estrutura de classe estrutural S4 com tempo de vida útil do projecto de
50 anos, obtém-se o cmin,dur a partir do Quadro NA.I do Anexo Nacional do EC2 (tendo em conta a
classe de exposição XC3): cmin,dur =25mm.
De acordo com as cláusulas 4.4.1.2 (6), 4.4.1.2 (7) e 4.4.1.2 (8) obtém-se:
Δcdur ,γ = Δcdur ,st = Δcdur ,add = 0mm

Então cmin pode ser calculado:


cmin = max {20mm ;25mm ;10mm} = 25mm

O EC2 recomenda para Δcdev o valor de 10mm (ver 4.4.1.3).


Pode então calcular-se o recobrimento nominal:
cnom = cmin + Δcdev = 25 + 10 = 35mm

Miguel Azenha, Isabel Valente, Ana Paula Assis, Eduardo Pereira 18


Folhas de Apoio às Aulas Práticas

A representação da secção transversal da peça de betão pode ser vista na Figura 21.

Figura 21 – Secção transversal da peça de betão

Miguel Azenha, Isabel Valente, Ana Paula Assis, Eduardo Pereira 19

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