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República de Moçambique

Instituto Superior de Relações Internacionais

Tese de Licenciatura em Relações Internacionais e Diplomacia

O Papel das Multinacionais na Promoção do


Desenvolvimento das Comunidades Locais: o Caso
da MOZAL em Moçambique

Paulo Mateus António Wache1

Maputo, Maio de 2008

1
Licenciado em Relações Internacionais e Diplomacia, pelo Instituto Superior de Relações Internacionais
de Moçambique e Mestre em Estudos diplomáticos pela Academia Diplomática de Londres (DAL) na
Universidade de Westminster. Docente de política Externa, Geopolítica e Estudos da União Europeia.

1
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema, “O papel das multinacionais na promoção do


desenvolvimento das comunidades locais: o caso da MOZAL em Moçambique”. E
abrange o período que vai de 1998, ano da construção da Mozambique Aluminium
(MOZAL), a 2007 ano em que se realizou a pesquisa deste estudo. Pretende-se com o
mesmo, compreender a contribuição das multinacionais na promoção do
desenvolvimento das comunidades locais em Moçambique. Este compreende o espaço
afectado pela actividade da MOZAL em Moçambique, com particular destaque para
região do Município de Matola e dos distritos de Boane e Moamba.

O estudo do papel das multinacionais torna-se importante na medida em que possibilita


uma avaliação do seu contributo no desenvolvimento dos países em vias de
desenvolvimento. No caso vertente, o estudo da MOZAL poderá trazer alguns subsídios
para uma compreensão da contribuição desta companhia em Moçambique. Como afirma
Kassotche (1999: 66-67), as multinacionais por um lado promovem o desenvolvimento
do Sul, fornecendo formação e conhecimentos de gestão, capital e tecnologia. Por outro
lado exploram e estorvam o seu desenvolvimento aumentando os desequilíbrios entre
ricos e pobres. Encontrar elementos que consubstanciem tanto uma como outra posição é
o desafio que se impõe a este trabalho, com vista a no futuro melhorar-se o que hoje não
concorre para o desenvolvimento.

O aparecimento da MOZAL em Moçambique enquadra-se num contexto mais amplo


denominado Consenso de Washington, que segundo Rosário (2005: 38) aconteceu na
década de 80, entre o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM).
Este consenso plasmou o que considerou de políticas apropriadas para o ajustamento
estrutural das economias dos Países em Vias de Desenvolvimento (PVD’s). Tendo
identificado dez medidas das quais se destacam as seguintes: a disciplina fiscal, a
reformulação das prioridades das despesas públicas, a reforma fiscal, a liberalização da
taxa de juros, da taxa de câmbios, do comércio, do Investimento Directo Estrangeiro e as
privatizações.

2
É na sequência das recomendações do Consenso de Washington que Moçambique
embarcou no ajustamento estrutural e reformulou a sua legislação a fim de melhorar a sua
performance económica. No caso vertente a MOZAL é fruto do Investimento Directo
Estrangeiro (IDE), que é uma das recomendações das instituições de Breton Woods. Daí
que se pode dizer que o Consenso de Washington criou um ambiente propício para o
investimento directo em Moçambique.

O preâmbulo da lei do investimento descreve as transformações decorrentes do


ajustamento estrutural nos seguintes termos:
As profundas transformações que se têm vindo a operar no mundo em geral, e no país em
particular, especialmente as decorrentes da implementação das medidas do Programa de
Reabilitação Económica e da entrada em vigor da nova Constituição da República,
associada à pertinente exigência em se adoptar uma política económica mais aberta,
objectiva e que privilegie uma maior participação, complementaridade e igualdade de
tratamento dos investimentos nacionais e estrangeiros determinam a necessidade de
revisão da legislação existente sobre esta matéria (Lei n˚ 3/93, de 24 de Junho)2.

O esforço do Estado Moçambicano, no sentido de tornar a economia mais aberta,


permitiu com o aparecimento da MOZAL em 1998. A MOZAL é uma fábrica de
fundição de alumínio, instalada na Zona Franca Industrial de Beluluane. Esta empresa
tem como accionistas a BHP Billiton com 47%, a Mitsubishi Corporation com 25%,
International Development Corporation (IDC) com 24% e o Governo da República de
Moçambique com 4%. Volvidos nove anos, é legítimo procurar compreender o papel
desta Multinacional, no desenvolvimento do país, muito em particular das comunidades
circunvizinhas, sabido que Moçambique pertence aos Países em Vias de
Desenvolvimento e toda a tentativa de revisão da legislação visa impulsionar o
desenvolvimento para conferir ao cidadão um nível de vida aceitável.

2
A primeira lei sobre Investimentos nacionais e estrangeiros foi a lei n˚4/84, de 18 de Agosto, e o primeiro
regulamento de Investimento Directo Estrangeiro foi estabelecido pelo decreto n˚ 8/87, de 30 de Janeiro.

3
A construção da MOZAL ocorreu em duas fases tendo a primeira iniciado em 19983 e
começado a operar em Dezembro de 2000, produzindo 250 mil toneladas de alumínio por
ano. De salientar que é na sequência da instalação da MOZAL que surgiu o Parque
Industrial de Beluluane, inaugurado a 12 de Setembro de 2000. Os accionistas do Parque
são a Chiefton e o governo Moçambicano, que é representado pelo Centro de Promoção
de Investimento (CPI). Até Julho de 2007 cerca de vinte empresas a funcionavam no
parque, todas com capital estrangeiro, excepto a ÓMEGA que é completamente nacional.
Para além das empresas que estão no recinto do parque, mais cinco funcionam à margem
da ZFI4.

A segunda fase visava a duplicação da produção, o que veio a acontecer em 2004,


passando a produzir 500 mil toneladas de alumínio por ano. A matéria prima para o
funcionamento da fábrica é importada de dois países, nomeadamente: da Austrália de
onde se obtém a alumina e dos EUA de onde se obtém o cocke. Segundo Rungo (18 de
Julho de 2007), actualmente a empresa produz 560 mil toneladas, isto é, está acima da
capacidade instalada. Este fenómeno deve-se ao facto da empresa ter adoptado a
“Business Improviment Process”. 5

A MOZAL faz parte das cinco maiores fábricas mundiais como ilustra a Tabela1. É esta
dimensão que justifica o alto nível de demanda de serviços de outros sectores que a
empresa tem, o que cria a integração Intersectorial. Mas pode questionar-se o facto de
nenhuma delas encontrarem-se nos países mais ricos.

3
No dia 22 de Maio de 1998 fez-se em Beluane o lançamento da primeira pedra para a construção da
MOZAL A construção da terceira fase está dependente da disponibilidade de energia eléctrica o que até ao
momento ainda não tem solução à vista.
4
Alto funcionário do CPI, 27 de Julho de 2007.
5
Este processo consiste na racionalização de recursos e de custos sem ferir a qualidade do produto.

4
Tabela 1: Maiores fábricas mundiais de alumínio

Fundição Localização Capacidade


(ton/ano)
Bratsk Siberia 955 000
krasnoyark Siberia 920 000
Dubai Dubai 680 000
Hillside África do Sul 640 000
MOZAL Moçambique 535 0006
Fonte: Informação obtida na reunião da MOZAL com as partes interessadas e afectadas, apresentada por
Piter Wishaw, director geral a 18 de Março de 2004.

1.1 Problematização
Na compreensão do papel das multinacionais questiona-se o papel que estas
desempenham no desenvolvimento das comunidades locais. Procura-se entender o
motivo pelo qual os países pobres como Moçambique optam por aceitar o
estabelecimento de multinacionais como a MOZAL. As respostas a estas perguntas
vêm-nos de autores como Barros (2004:15) que diz:
Os Mega projectos podem ser contribuintes significativos para o desenvolvimento,
incluindo o crescimento do PIB, geração de receitas de exportação, algum nível de
criação de emprego. Para além destes benefícios, os mega projectos têm tido outros
benefícios em Moçambique. Isto inclui a colocação de Moçambique no mapa como um
destino para o investimento, estabelecendo e elevando os padrões de qualidade e
apoiando os serviços comunitários/sociais.
Kassotche (1999: 67) citando Spiegel afirma que as multinacionais substituíram o sistema
colonial como meio de penetração e extracção de riqueza do Sul.

Barros e Kassotche representam duas perspectivas opostas, enquanto Barros encontra nas
multinacionais uma tábua de salvação a caminho do desenvolvimento. Kassotche
representa a classe dos cépticos que vêm nas multinacionais uma espécie de

6
Os dados actualizados apontam para uma produção 560 mil toneladas por ano (Rungo 18 de Julho de
2007).

5
neocolonialismo. A divergência de opiniões entre os autores mostra que não existe uma
única percepção do papel das multinacionais na promoção do desenvolvimento das
comunidades locais. Portanto, é importante que cada caso seja estudado para daí se retirar
as devidas ilações. Por esta razão torna-se importante estudar o papel da MOZAL na sua
qualidade de multinacional para se inferir a real contribuição desta companhia no
desenvolvimento.

1.2 Objectivos
O presente trabalho foi conduzido por um objectivo geral que se desdobrou em três
objectivos específicos. Sendo objectivo geral:
· Compreender a contribuição da MOZAL no desenvolvimento de Moçambique.
Os objectivos específicos são os seguintes:
· Analisar a contribuição económica da MOZAL no desenvolvimento de
Moçambique.
· Explicar até que ponto a MOZAL pode ser considerada ponto de articulação para
as integrações Intersectorial e Espacial da economia Moçambicana
· Analisar a política interna da MOZAL com relação ao desenvolvimento das
comunidades circunvizinhas.

1.3 Hipóteses
Com base nos objectivos específicos acima enunciados foram estabelecidas as seguintes
hipóteses:
· A presença da MOZAL em Moçambique estimula o desenvolvimento deste país.
· A MOZAL como ponto de articulação estimula as integrações Intersectorial e
Espacial na região onde se localiza.
· A política interna da MOZAL estimula o desenvolvimento das comunidades
circunvizinhas.

6
1.4 Questões de Pesquisa
O trabalho procura responder às seguintes questões de pesquisa:
· Até que ponto a presença da MOZAL em Moçambique estimula o
desenvolvimento deste país?
· Até que ponto a MOZAL serve de ponto de articulação de modo a estimular as
integrações intersectorial e espacial?
· Terá a MOZAL uma política interna para estimular o desenvolvimento das
comunidades circunvizinhas?

1.5 Metodologia do Trabalho


Para o presente trabalho foram utilizados três métodos, nomeadamente: método
comparativo, método monográfico e método estatístico. O método Comparativo foi usado
para cruzar informações comparando diferentes categorias, tais como tempo e espaço
procurando compreender o antes e o depois da região em estudo. Este método é relevante
para este trabalho porque a partir deste poderemos compreender o impacto da MOZAL
na região onde está estabelecida e por extensão em todo o país. O método monográfico
ou estudo de caso foi usado para fazer um estudo profundo sobre a MOZAL para melhor
compreender o seu papel no desenvolvimento local. E o método estatístico foi usado para
mostrar de forma simples as informações sobre as diversas actividades exercidas pela
MOZAL com vista ao desenvolvimento do país, através de gráficos. A estes métodos
foram ajuntados a técnica documental que, baseando-se na revisão bibliográfica, ajudou a
dar um conteúdo consistente ao trabalho. A técnica de entrevista presencial, foi usada
para recolher opiniões de especialistas na área económica e de pessoas envolvidas com as
actividades da companhia em estudo.

1.6 Estrutura do Trabalho


O tema é explanado em cinco capítulos: O primeiro é a introdução que apresenta o
contexto, a problematização, os objectivos, as hipóteses, as questões de pesquisa e a
metodologia. O capítulo subsequente tem como título: Aspectos Teóricos e Conceptuais,

7
nele apresenta-se a teoria de integração que serve de instrumento de análise. Em seguida
procura-se definir os conceitos chaves deste trabalho de modo a que o leitor seja capaz de
seguir a discussão, tomando como base a compreensão dos conceitos segundo o autor. O
terceiro capítulo é dedicado ao impacto da MOZAL na economia Moçambicana,
começando-se por se debater o binómio MOZAL e a Legislação Moçambicana e logo
depois o que a MOZAL significa na economia Moçambicana. O quarto capítulo é
intitulado: MOZAL e a Comunidade, divide-se em duas subunidades, a primeira é
denominada: Associação MOZAL para o Desenvolvimento da Comunidade. Nesta
secção são tratados temas como: o desenvolvimento de pequenos negócios, a educação e
formação, a saúde e o meio ambiente, o desporto e a cultura e as infra-estruturas
comunitárias. A segunda e última secção é a alternativa de desenvolvimento da
comunidade local, onde se propõe a mudança do modus operandi, da Associação
MOZAL para o Desenvolvimento da Comunidade.

Finalmente, são apresentadas as conclusões e as recomendações, para melhorar a vida das


populações que residem na área em estudo, e por essa via o melhoramento das condições
de vida de todo o país. Esperando-se que através de partilha de experiências todos os
Países em Vias de Desenvolvimento, onde operem multinacionais, sejam beneficiados.
Contribuindo-se assim, para o desenvolvimento destes países.

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CAPÍTULO 2: ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEPTUIAIS

Este capítulo vai tratar do referencial teórico e dos conceitos mais importantes para a
compreensão deste estudo. No tocante ao referencial teórico, foi usada a teoria de
integração económica que preconiza as integrações intersectorial e espacial. Num
segundo momento são definidos conceitos como: Investimento Directo Estrangeiro,
Multinacional, Crescimento Económico, Desenvolvimento, Países em vias de
Desenvolvimento e Zona Franca Industrial. A sua compreensão no contexto deste
trabalho evitará a multiplicidade de interpretações do conteúdo aqui abordado.

2.1 Teoria da Integração Económica


A teoria que responde os objectivos deste estudo é a teoria da Integração Económica7.
Esta teoria na perspectiva que se pretende dar neste trabalho tem como teórico Robert
ERBES (1966) na sua obra L’integration economique international (SOUSA, 1995:161).
Segundo este autor, a integração económica compreende Integração Intersectorial e
Integração Espacial (Ibid.).

1. Integração Intersectorial é aquela em que há ligações entre sectores de


actividade, o que possibilita a expansão directa ou indirecta da produção das actividades
que se ligam tecnologicamente e via demanda final com outras actividades da área. O
aumento do grau de integração intersectorial desenvolve-se de três maneiras principais:

a) Pontos de articulação - um sector é ponto de articulação quando liga dois sectores


de actividade até então isolados um do outro, ele serve de lugar de passagem dos efeitos
de encadeamento provenientes de actividade de cada subconjunto.

b) Redução da vulnerabilidade dos complexos – reduz-se a vulnerabilidade quando se


implantam ramos capazes de funcionar como pontos de articulação adicionais. Se o
complexo tiver apenas um ponto de articulação, será vulnerável porque a redução da
7
Esta teoria é também abordada por Bela BALASSA (1982:13) na perspectiva restrita onde a Integração
Económica se reveste de várias formas, no campo internacional: Zonas de Livre Comércio, União
Aduaneira, Mercado Comum, União Económica e União Política.

9
produção ou o desaparecimento do ponto da articulação colocará em crise todo o
complexo.

c) Extensão de redes – esta compreende a implantação de pontos de articulação e


introdução de uma actividade de integração. As novas ligações permitem a retenção dos
efeitos de satélites ligados às actividades-chave como sectores mais tradicionais,
agricultura e os serviços.

A criação de actividades interdependentes em áreas menos desenvolvidas torna-se


possível inicialmente, pela implantação de actividades ligadas a agricultura e às
actividades extractivas.

2. Integração espacial acontece quando há um aumento de circulação de bens no


espaço originando uma integração entre diferentes regiões do mesmo país e do exterior.
O grau de integração espacial de uma economia pode ser medido a partir de um quadro
de comércio inter-regional entre as várias regiões em conexão. A importância da
integração espacial reflecte-se quando o crescimento surge num ponto do espaço de
regiões interdependentes e em crescimento. Todas as regiões podem beneficiar-se,
porém, o prejuízo de uma crise terá um efeito englobante. Contudo a intensidade da crise
dependerá do nível da integração da região; se esta estiver bem integrada a nível interno,
as crises externas não serão intensas exceptuando o caso de depressões generalizadas.

O tema foi lido tendo em conta a Integração intersectorial e a Integração espacial. No que
se refere a integração intersectorial, analisou-se as relações que a MOZAL estabelece
com outras empresas que oferecem serviços a esta companhia. No tocante a integração
espacial fez-se a interpretação das actividades da AMDC, na criação do bem estar das
comunidades locais. Assim, a avaliação da integração económica foi feita em duas
vertentes a empresarial e a comunitária.

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2.2 Aspectos Conceptuais

O primeiro conceito a ter em conta é o de Investimento Directo Estrangeiro (IDE).


Designa-se por Investimento Directo Estrangeiro aos “fluxos internacionais de capital
pelos quais uma empresa em um país cria ou expande uma filial em outro” (Krugman &
Obstfeld, 2001:175). O que significa que a filial faz parte da estrutura organizacional da
empresa-mãe.

Em Moçambique, a Lei do Investimento define o IDE como:


Qualquer das formas de contribuição de capital estrangeiro susceptível de avaliação
pecuniária, que constitua capital ou recursos próprios [...]do exterior e destinados à sua
incorporação no investimento para a realização de um projecto de actividade económica,
através de uma empresa registada em Moçambique e a operar a partir do território
Moçambicano (Lei n˚ 3/93, de 24 de Junho).
Portanto, o IDE é a transferência de capital dum país para o outro, com finalidade de
realizar actividades económicas a partir do país da chegada do capital.

Multinacional é também um conceito que aparece com frequência neste estudo. Segundo
Namburete, Multinacional (MTN) é “uma companhia que é dona ou controla de forma
significativa actividades em, pelo menos, dois países” (2002:166). De salientar que as
multinacionais são uma consequência directa do investimento directo estrangeiro. Assim,
a Multinacional é uma empresa que tem o controle significativo de actividades
económicas que são executadas em dois ou mais países.

Sabendo-se que as multinacionais podem ter como um dos seus benefícios o Crescimento
Económico de um país, é preciso ter clareza sobre o seu significado, pelo menos neste
trabalho. Para Abramowitz, crescimento económico é o aumento global da produtividade
das nações (1989:24). Dornbusch acrescenta que a causa do crescimento económico é o
aumento da quantidade de insumos disponíveis, como mão-de-obra, capital e avanços
tecnológicos (2003:39). Assim, o crescimento económico de um país é o aumento do PIB
desse mesmo país motivado pelo aumento da quantidade de insumos disponíveis.

11
Os conceitos acima definidos, seriam vazios se deixássemos de lado o conceito de
desenvolvimento, que é o mais importante de todos os outros, pois advém do objecto do
estudo. É preciso salientar que não há consenso na definição do desenvolvimento, porém,
duas correntes se destacam: A primeira corrente representada pelos modelos da tradição
neoclássica, como o de Meade e o de Harrod e Domar, define o desenvolvimento como
sinónimo do crescimento económico, valorizando-se assim a dimensão quantitativa em
detrimento da qualitativa (Sousa, 1995:16). A segunda corrente representada por
economistas de inspiração Marxista, Prebisch e Furtado, “encara o crescimento
económico como uma simples variação quantitativa do produto, enquanto o
desenvolvimento envolve mudanças qualitativas no modo de vida das pessoas, nas
instituições e nas estruturas produtivas” (ibid). É nesta última perspectiva que o PNUD
define o desenvolvimento como aquele processo cujo objectivo básico “é criar um
ambiente adequado para que as pessoas possam gozar duma vida longa, saudável e
criativa” (1998:7).8 Assim, desenvolvimento é o crescimento económico contínuo
acompanhado de mudanças qualitativas do modo de vida das pessoas, das instituições e
das estruturas produtivas.9

Um outro conceito que merece atenção é o de Países em vias de Desenvolvimento10. São


países em vias de desenvolvimento todos aqueles com:
· um padrão de vida próximo do nível de subsistência, e grande parte do orçamento
familiar usado para alimentação,

8
Para o PNUD não se pode discutir a noção de desenvolvimento sem ter em conta a noção de
desenvolvimento humano. E aqui o desenvolvimento é dar prioridade aos pobres ampliando as suas
oportunidades e escolhas fazendo com que participem mais nas decisões que afectam as suas vidas. Assim
o desenvolvimento deve favorecer as camadas vulneráveis principalmente a mulher.
9
É preciso salientar que o crescimento económico continua a ser o indicador mais importante do
desenvolvimento porque as mudanças qualitativas só existem se houver crescimento económico.
10
Os países em vias de desenvolvimento são também denominados países subdesenvolvidos ou países do
terceiro mundo. Neste trabalho optou-se pelo termo paises em vias de desenvolvimento porque parece mais
adequado pois tem um sentido evolutivo o que é típico do desevolvimento. Ao contrário do termo países
subdesenvolvidos, que transminte a ideia de algo acabado e estático. O termo países do terceiro mundo foi
preterido pelo facto de estar descontextualizado, pois este surgiu no periodo da guerra fria, na era bipolar
onde os países do primeiro mundo eram os países capitalistas, os países do segundo mundo eram os países
socialista e os do terceiro mundo eram os que neste trabalho denominam-se países em vias de
desenvolvimento.

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· baixas taxas de urbanização, habitação precária, população dedicada ao sector
primário,
· altas taxas de analfabetismo, baixa esperança de vida a nascença, mortalidade
infantil altíssima, nutrição, saúde pública e condições sanitárias deficientes,
· altos índices de desemprego, baixo uso de tecnologias modernas, poupança e
investimento quase inexistentes. Portanto, estes países são instáveis e
dependentes da ajuda dos países desenvolvidos tanto a nível económico como a
nível tecnológico.

E por fim, é importante definir o termo Zona Franca Industrial (ZFI). Segundo o
Decreto n˚16/2002, de 27 de Junho ZFI é:
Uma área ou unidade geograficamente delimitada ou série de unidades de actividade
industrial, isto é, conglomerado de empresas situadas numa área fisicamente delimitada
[...] onde os bens nela entrados são considerados como não estando no território
aduaneiro no que respeita aos direitos e outras imposições devidas.
O artigo 5, ponto 1 do mesmo Decreto afirma que a criação duma ZFI só é possível se
houver pelo menos 500 postos de emprego permanentes para moçambicanos em toda a
ZFI e que cada empresa nela existente deve empregar no mínimo 20 trabalhadores (Ibid).
As empresas instaladas nesta área deverão produzir para a exportação de 85% da sua
produção podendo vender no mercado interno os restantes 15%.

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CAPÍTULO 3: A MOZAL NA ECONOMIA MOÇAMBICANA

O presente capítulo pretende analisar como a MOZAL cria ligações entre sectores de
actividade, possibilitando a expansão directa ou indirecta da produção das actividades
que se ligam tecnologicamente e via demanda final com outras actividades da área,
criando a integração Intersectorial. O capítulo divide-se em duas partes: a primeira parte
situa a MOZAL no âmbito da Legislação Moçambicana. Aqui procura-se entender as
bases jurídicas que orientam a acção da MOZAL em Moçambique. A segunda parte
procura analisar a contribuição desta empresa na economia moçambicana e a sua
relevância no processo de Integração Intersectorial.

3.1 A MOZAL e a Legislação Moçambicana


Nesta secção pretende-se discutir a legislação que regula as actividades da MOZAL. Esta
necessidade leva-nos à lei do investimento, que é a Lei n˚3/93, de 24 de Junho e ao
regulamento das Zonas Francas Industriais que foi aprovado pelo decreto n˚ 62/99, de 21
de Setembro com as alterações aprovadas pelo decreto n˚ 35/2000 de 17 de Outubro e
pelo Decreto n˚ 16/2002, de 27 de Junho. Pretende-se perceber até que ponto estas duas
leis regulam as actividades do Investimento Directo Estrangeiro como é o caso da
MOZAL, por forma a que esta companhia promova o desenvolvimento das comunidades
locais.

A lei do investimento no seu artigo 7 na alínea a) afirma claramente que o investimento


tem como um dos seus objectivos “a implantação, reabilitação, expansão ou
modernização de infra-estruturas económicas destinadas à exploração de actividade
produtiva ou à prestação de serviços indispensáveis para o apoio à actividade económica
produtiva e do desenvolvimento do país” e na alínea o) acrescenta como um dos
objectivos “a redução e substituição de importações”.

Quanto ao primeiro objectivo verifica-se que a MOZAL é de facto um gigante que tem
dado algum dinamismo económico. Mas questiona-se o segundo que é a redução e a
substituição de importações, pois a sua matéria prima é importada da Austrália, a

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alumina, e dos EUA, o cocke. Na prática a MOZAL importa o equivalente ao que
exporta, não contribuindo desta forma para a substituição das importações.

O efeito das importações é nefasto para a economia nacional, pelo facto de o


Regulamento das Zonas francas Industriais (Decreto n˚16/2002, de 27 de Junho) afirmar
no seu artigo 38 n˚1 que
Os operadores de zonas francas industriais gozam de isenção de direitos na importação,
de materiais de construção, máquinas, equipamentos, acessórios, peças sobressalentes
acompanhantes e outros bens destinados à prossecução da actividade licenciada nas zonas
francas industriais.
O que na prática faz com que as importações que a MOZAL e outras companhias das
zonas francas industriais fazem não contribuam para a balança de pagamentos, pois estes
operadores têm isenção de direitos na importação. Um outro aspecto negativo nos é dado
pela USAID, ao afirmar que “o facto de os mega projectos obterem insumos importados
com isenção de direitos desencoraja a aquisição dentro do mercado interno” (2004:9)
enfraquecendo-se assim o empresariado nacional. Como tal, questiona-se o seu papel
para a economia nacional.

Um outro aspecto que atrai o investimento para Moçambique é a permissividade da


legislação no tocante aos aspectos financeiros como ilustram os artigos 30, 31 e 32 n˚1
(Decreto n˚16/2002, de 27 de Junho). O artigo 30 reza que “é permitido aos operadores e
as empresas de ZFI's abrir, manter e movimentar contas em moeda estrangeira no país e
no exterior”. O que deixa o estado sem nenhum controlo efectivo do capital das
companhias estrangeiras, principalmente a operarem nas ZFI's, para efeitos de
pagamentos de impostos. O artigo 31 afirma que “a importação de capitais para a
constituição ou aumento de capital social das entidades abrangidas por este regulamento
deve ser registada mediante a apresentação de documentação comprovativa, no Banco de
Moçambique, o qual emitirá os documentos certificativos do registo”. Para em seguida o
artigo 32 n˚1 afirmar que “a transferência de lucros e dividendos poderá ser efectuada
desde que observado o disposto no artigo anterior, mediante comprovação do
cumprimento das obrigações fiscais e após confirmação pelo Ministério do Plano e

15
Finanças do valor do lucro exportável.” Questiona-se os mecanismos de garantia que o
país possui para se assegurar que os lucros apresentados são realmente aqueles, sabendo-
se que as multinacionais possuem contas no país e no estrangeiro.

A legislação Moçambicana, a lei de investimento e o regulamento das Zonas Francas


Industriais, não prevendo deveres específicos para promoção do desenvolvimento das
comunidades locais, confia na boa fé dos operadores. E regula de forma explícita os
benefícios que estes operadores têm no exercício das suas actividades no território
nacional como sejam: abrir, manter e movimentar contas em moedas estrangeiras no país
e no exterior. Porém esta liberdade só dificulta a actividade fiscalizadora do estado não
chegando a saber o real montante de imposto que deve receber da multinacional, devido a
facilidade da circulação do capital.

Às facilidades legais acrescenta-se a denúncia mencionada por Kassotche (1999: 67)


segundo o qual as multinacionais evitam pagar os impostos inventando truques de
contabilidade para aumentar os lucros e diminuir os encargos fiscais. O que a ser
verdade o país com a MOZAL e outras companhias com o mesmo estatuto perde
duplamente. Perde porque tem uma legislação facilitadora e perde porque a é ludibriado
contabilisticamente.

Na realidade, o que esta legislação expressa são duas grandes preocupações legítimas de
um país em vias de desenvolvimento: A primeira é a necessidade que o país tem, de a
todo custo sair das estatísticas desabonatórias que indicam Moçambique como um dos
países menos desenvolvidos do planeta. Moçambique faz parte dos 50 países menos
desenvolvido e mais marginalizados, dos quais 34 são africanos, com níveis de pobreza
bastante altos (in Notícias, 11/07/2007: 24). A segunda, é percepção de que uma
legislação facilitadora, que em nenhum momento prevê a responsabilidade social11 destas
companhias das ZFI's, irá atrair muitas industrias para o solo nacional e por essa via mais
desenvolvimento para o país. Uma percepção partilhada por Barros (2004:15) que

11
Neste trabalho a responsabilidade social deve ser entendida como o dever que as empresas tem com a
sociedade pelos prejuízos ambientais, morais e sociais que o estabelecimento duma determinada empresa
causa.

16
defende que os Mega projectos colocam Moçambique no mapa como um destino para o
investimento externo.

A actual legislação reguladora das actividades das multinacionais e no caso vertente da


MOZAL, carece de dispositivos promotores de desenvolvimento, especificamente do
desenvolvimento das comunidades locais afectadas pelo estabelecimento do
empreendimento. Ao mesmo tempo que ela facilita a manipulação dos resultados
advenientes das actividades das multinacionais. Acresce-se a estes dois pontos, o facto
de não contribuir para as receitas fiscais, pois estão isentas de direitos aduaneiros nas
suas importações tanto de matéria prima como de todo o material para o seu
funcionamento, aumentando assim o fosso entre as importações e as exportações. Ou
seja, as quantidades de alumínio exportadas resultam das quantidades da matéria prima
importada (alumina e cocke). Mas as importações superam as exportações na medida em
que para além da matéria prima também outros materiais para o seu funcionamento estão
isentos de direitos aduaneiros.

3.2 A MOZAL e a Economia Moçambicana


Uma empresa da dimensão da MOZAL é resultado de investimentos altos e como tal com
capitais também altos. Conhecer os seus capitais próprios e os seus resultados ajuda a
perceber a contribuição que uma companhia deste nível pode dar a um país em vias de
desenvolvimento. É sobretudo o seu impacto na macroeconomia Moçambicana que faz
da MOZAL uma empresa a ser estudada.

3.2.1 Capital e resultados da MOZAL


A Tabela 2 mostra que das cem maiores empresas existentes em Moçambique em 2005 a
MOZAL é aquela que tinha os maiores capitais próprios. Pois esta empresa possuía vinte
e quatro mil setecentos e setenta e quatro biliões, seiscentos e cinquenta e quatro milhões
de meticais. (24,774,654 x 106 Meticais). Esta quantia representa um acréscimo de quatro
mil seiscentos e trinta e dois biliões, setecentos e sessenta e oito milhões de meticais

17
(4,632,768 x 106 Meticais), em relação ao ano anterior. Isto significa que a MOZAL é
uma empresa economicamente forte com capital em crescimento.

Tabela 2: Os Maiores por Ordem de Capitais Próprios

Rank Empresa / Company Activo Líquido (106 MZM)


2005 2005 2004
1 MOZAL, SARL 24,774,654 20,141,886
2 CFM - Portos e Caminhos de Ferro De Moçambique, E.P 19,957,285 19,258,011
3 Sasol Petroleum Temane, Lda 4,611,298 -
4 TDM- Telecomunicações de Moçambique,EP 3,467,806 2,977,988
5 EDM – Electricidade de Moçambique, EP 1,876,996 2,139,639
6 BIM – Banco Internacional de Moçambique, SARL 1,448,784 1,297,330
7 Motraco, SARL 1,229,365 857,952
8 Cervejas de Moçambique, SARL 1,187,163 990,712
9 Standard Bank, SARL 1,039,988 662,951
10 Cimentos de Moçambique, SARL 922,562 842,522
Fonte: KPMG, 2006a:104

A Tabela 3 mostra que a MOZAL teve os resultados líquidos mais altos na quantia de
sete mil sessenta e cinco biliões, dezanove milhões de meticais (7,065,019 x 106
Meticais). Representando um aumento de mil novecentos e noventa e nove biliões,
setecentos e oitenta e quatro milhões de meticais (1,999,784 x 106 Meticais), em relação
ao ano anterior. Estes resultados tornam-na a maior empresa Moçambicana e por essa
razão o ponto de articulação para a Integração Intersectorial.

Tabela 3: Os Maiores Resultados Líquidos


Rank Empresa / Company MZM
Activo Líquido (106 )

2005 2005 2004


1 MOZAL, SARL 7,065,019 5,065,235
2 Cerveja de Moçambique, SARL 439,502 347,216
3 BIM – Banco Internacional de Moçambique, SARL 343,577 201,641
4 Standard Bank, SARL 274,751 168,751
5 BCI–Banco Comercial e de Investimento–Fomento, SARL 223,009 133,129
6 Moçambique Celular, Lda (mcel), SARL 165,224 660,024
7 BP Moçambique, Lda 144,805 167, 644
8 Cornelder de Moçambique, SARL 142,263 70,976
9 TDM – Telecomunicações de Moçambique E.P 110,423 193,545
10 SIM – Segurança Internacional de Moçambique, SARL 102,875 14,876

Fonte: KPMG, 2006a:104

18
Os altos resultados da MOZAL são fruto dum grande investimento. Para a instalação
desta empresa foram investidos dois biliões de dólares, tendo na fase da construção
gerado 5.033 postos de trabalho, dos quais, 3.525 foram ocupados por trabalhadores
Moçambicanos (Barros, 2004: 13). Segundo Rungo12, actualmente a MOZAL emprega
1150 trabalhadores dos quais 95% são moçambicanos e o salário mínimo é de 15.600
meticais. Este número exclui os trabalhadores das 250 empresas com contractos activos
com a companhia, que são 1250, porém para estes últimos, o salário obedece os padrões
nacionais. Significando isto que uma parte considerável (1250) dos trabalhadores
recebem salários baixos em relação àqueles que a MOZAL oferece aos seus
trabalhadores. Apesar desta diferença é preciso realçar que as 250 empresas representam
para a MOZAL um custo mensal de USD 8.000.000 (oito milhões de dólares), o que
perfaz um total de USD 96.000.000 (noventa e seis milhões de dólares) anuais que são
transferidos para os cofres das empresas que operam em Moçambique (Ibid).

3.2.2 O Impacto da MOZAL na Macroeconomia


A nível macroeconómico pode-se constatar, por exemplo, que em 2002 o crescimento do
PIB real de Moçambique foi 8% e a MOZAL contribuiu com 2% deste crescimento. Isto
é apenas uma amostra de como a MOZAL afecta a economia Moçambicana. O Gráfico 1
também mostra que o PIB nominal tem estado em contínuo aumento o que por força das
estatísticas eleva o PIB per capita deixando uma impressão de uma economia estável e
em contínuo crescimento.

12
18 de Julho de 2007

19
Gráfico 1: Evolução do PIB nominal e do PIB per capta.

1996=100

180000
160000
milhares de meticais

140000
PIB (precos correntes 10^9
120000
Mt)
100000 PIB (per capta 10^3 Mt)
80000
60000
40000
20000
0
96

97

98

99

00

01

02

03

04

05
19

19

19

19

20

20

20

20

20

Anos 20

Fonte: dados compilados pelo autor com base nos anuários estatísticos do INE de 2000: 129, 2003:125 e
2005:142.

Segundo Barros (2004:13), em 2002 a MOZAL contribuiu para um impacto positivo


líquido da balança de pagamentos que foi de 100 milhões de dólares. As exportações de
2000 a 2001 aumentaram de 310 milhões de dólares para 662 milhões com a
contribuição da MOZAL. Porém esta constatação peca por exaltar a questão das
exportações não visualizando o que sucede com as importações. Estas aumentaram mais
do que as exportações no mesmo período, em parte por causa das importações da matéria
prima e das máquinas para o funcionamento da MOZAL, como se pode constatar no
gráfico da evolução da balança comercial.

O Gráfico 2 mostra o comportamento das exportações de alumínio que em 1999


Contribuíam com USD 42.000 (quarenta e dois mil dólares). Em 2005 as exportações de
alumínio atingiram a cifra de USD 1.022. 386 milhões. Este valor correspondia a 58,6%
das exportações totais de Moçambique naquele ano. (INE, 2005:110). Verifica-se com
este facto que a MOZAL tem liderado as exportações do alumínio.

20
Gráfico 2:Comportamento das exportações de alumínio

1200000

1000000
Valores em dolares

800000
Exportacoes de aluminio
600000 manifestadas nas
alfandegas em 10^3 USD
400000

200000

0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
anos

Fonte: dados compilados pelo autor com base nos anuários estatísticos do INE de 1999:106, 2000:103,
2001: 97, 2002:105, 2003:98, 2004:98 e 2005:110.

Apesar do aumento das exportações do alumínio, o Gráfico 3 mostra que a balança


comercial de Moçambique “em finais de 2005, [...] indicava um agravamento na ordem
dos 30% ao registar um défice de USD 497 milhões contra USD 345.8 milhões em 2004”
(K PMG, 2006a:88). É preciso questionar se as exportações que a MOZAL faz ajudam
ou não a reduzir o défice. A KPMG (Ibid) acrescenta que o “saldo deficitário da balança
comercial resulta do crescimento do volume externo de USD 3,987.6 milhões,
equivalente a exportações no valor de USD 1,745.3 milhões [...] e importações no valor
de USD 2,242.3 milhões” representando um défice de USD 497 milhões na balança
comercial de Moçambique. É de destacar que a Holanda é o principal mercado para as
exportações Moçambicanas, devido ao facto da MOZAL exportar para aquele país
100% da sua produção (Ibid).

21
Gráfico 3: Evolução da Balança Comercial

Fonte: K PMG, 2006a:88

O Gráfico 4 mostra que quando se analisa a situação industrial de Moçambique,


constata-se que a produção da MOZAL corresponde a 62,1% da produção, sobrando
para os outros ramos industriais apenas 27,9%, dos quais 23,6% é pertença da indústria
de produtos alimentares (INE 2005:66).

Gráfico 4: Produção Industrial incluindo a MOZAL


couros e peles em pelos Estrutura em % do valor da producao
pasta, papel e cartao e seus artigos das actividades industriais, com MOZAL, 2005
artigos de borracha e mateirais materiais, plasticos

produtos de outras industrias extrativas


0.1 0.21 0.2 0.20.3 1 1 .2
4 .2

produtos metalicos transformados 6 .5

madeiras e obras de madeira e cortica


material impresso, suportes gravados

outros produtos indutriais transformados


industria de tabaco

produtos quimicos 2 3.6

outros produtos minerais nao metalicos 62 .1

petroleo bruto e gas natural


produtos alimentares e bebidas

metais nao ferroso

Fonte: dados compilados pelo autor com base no anuário estatístico do INE de 2005:66

22
O Gráfico 5 mostra uma análise sem a inclusão da MOZAL, e constata-se que a indústria
de produtos alimentares lidera a lista com 62,2% do total. O que significa em outras
palavras que Moçambique como muitos estados pobres, tem um parque industrial virado
a alimentação. Portanto, com o aparecimento da MOZAL a indústria pesada passa a
liderar o ramo industrial em Moçambique.

Gráfico 5: Produção industrial excluindo a MOZAL


ESTRUTURA EM %DO VALOR DA PRODUCAO maquinas e equipamentos
DAS ACTIVIDADES INDUSTRIAIS,
SEM A MOZAL, 2005.
vest uario e artigos de peles com pelos

couro e pele sem pelo

past a, papel e cartao e seus artigos

artigos de borracha e materias


plast icas
000
.0.1.2 . 5. 50 . 50 . 60 . 8
.130 0 2. 7
3.1 produtos de outras indust rias
11. 3
ext rativas
produtos metalicos transf ormados

madeira e obras de madeira e cortico

mat erial impresso, suportes gravados

outros produtos da indust ria


17
6 2.2 transf ormadora
indust ria de tabaco

produtos quimicos

outros minerais nao metalicos

petroleo bruto e gas natural

produtos alimentares e bebidas

Fonte: dados compilados pelo autor com base no anuário estatístico do INE de 2005:69

Do debate feito sobre a MOZAL pode-se reter os seguintes aspectos: que a MOZAL é o
ponto de articulação ligando vários sectores de actividades em torno de si, reduzindo as
vulnerabilidades financeiras de diversas empresas ao despender noventa e seis milhões de
dólares anuais para as 250 empresas com contrato activo. E sobretudo possibilitando que
novas empresas de prestação de serviços surjam, estendendo assim, a rede de sectores de
actividades. Os aspectos mencionados dão origem a uma integração intersectorial que é
uma realidade no Parque Industrial de Beluluane, alcançando as cidades de Maputo e
Matola.

23
O crescimento económico gerado pela MOZAL suscita dúvidas aos mais atentos,
chegando mesmo a pensar-se que este não beneficia a economia na sua globalidade
devido a transferência dos lucros para o país onde se encontra a empresa mãe, tornando
as estatísticas Moçambicanas ilusórias. Pois os números não correspondem ao dinheiro
físico existente no país onde a produção acontece, no caso em Moçambique. Apesar de a
USAID (2004:9) afirmar que:
Moçambique atraiu investimento estrangeiro significativo em mega projectos de capital
intensivo a partir de 1998. Estes grandes projectos estão a contribuir para um aumento
rápido das exportações e estão a ligar cada vez mais a economia ao mercado global,
trazendo para o país tecnologia, gestão e formação da força de trabalho.
Porém, partindo do princípio de que nos PVD’s, como Moçambique, há baixo uso de
tecnologias modernas, e constatando-se que a MOZAL usa tecnologia de ponta pode-se
perceber que a maior parte do pessoal técnico especializado vem do exterior, apenas o
pessoal menor é que se beneficia da formação.

Os salários, que são a principal forma de distribuição da renda, abrangem um número


reduzido de trabalhadores (1150) devido ao uso intensivo de capital e tecnologia. Os
outros trabalhadores ligados a empresas que prestam serviços à MOZAL recebem
salários segundo os padrões nacionais sendo relativamente baixos. Mantendo-se assim a
disparidade entre as estatísticas e os benefícios económicos advenientes deste mega
projecto.

24
CAPÍTULO 4: A MOZAL E A COMUNIDADE

“Mozal, Mozal, donde Vens?


Mozal, Mozal, nós somos o grupo de dança de Boane
Vens para melhorar a nossa vida e para trazer-nos boas mudanças
Damos-te as boas vindas Mozal e agradecemos
A tua ajuda em construir um novo Moçambique
De tudo o que foi destruído pela guerra
Mozal, Mozal, tu trazes um novo futuro
Melhor e mais forte, para nos tornar de novo orgulhosos.”
(AMDC, 2000:3)

O trecho acima, mostra os sonhos, os anseios e as esperanças, que as populações onde a


MOZAL se estabeleceu tinham e têm, não só para a sua comunidade mas para
Moçambique como um todo. Estará a MOZAL a ir ao encontro destes desejos? Este
capítulo procurará analisar como a MOZAL cria o aumento de circulação de bens no
espaço originando a Integração Espacial, isto é, irá analisar o papel que a MOZAL tem na
comunidade local. E para tal recorrer-se-á ao estudo das actividades da Associação
MOZAL para o Desenvolvimento da Comunidade, como um braço social da MOZAL, e
na óptica deste trabalho, a entidade responsável pela criação da Integração Espacial.

4.1 Associação MOZAL para o Desenvolvimento da Comunidade


A Associação MOZAL para o Desenvolvimento da Comunidade (AMDC) foi criada em
Novembro de 1999 por decisão do conselho de administração da MOZAL. A AMDC foi
lançada oficialmente em Fevereiro de 2000 com um investimento inicial de 1,7 milhões
de dólares. Segundo a AMDC (2000:6) a sua primeira actividade foi o reassentamento
das populações que se localizavam na área de interesse da MOZAL. Este programa foi
gerido pelo governo Moçambicano em conformidade com os requisitos do Banco
Mundial (BM), nomeadamente: garantir que as populações deslocadas pela MOZAL
recebessem a respectiva indemnização; permitir que as pessoas afectadas fossem

25
concedidas projectos de desenvolvimento; evitar e mitigar efeitos potencialmente
adversos nas pessoas afectadas; e fazer consultas activas e contínuas nas comunidades em
causa (Ibid:4) O que se pode questionar é se a AMDC é uma iniciativa genuína da
MOZAL, ou é cumprimento dos requisitos do Banco Mundial.

Quando se analisa os requisitos do BM em nenhum momento se fala da promoção do


desenvolvimento. O único requisito que menciona o termo desenvolvimento afirma que
se devia “assegurar que as pessoas afectadas beneficiassem de projectos de
desenvolvimento” (Ibid.). Ora, requisito deste género da origem a várias interpretações,
principalmente na determinação da duração desses projectos. Chegando mesmo a
terminar-se projectos de agricultura, sem se deixar infra-estruturas nem meios para a sua
continuidade.

No cumprimento parcial dos requisitos do BM, a AMDC distribuiu nos finais de Maio de
2000, 1500 terrenos com um tamanho de 0,5 hectares para as famílias afectadas. Para a
agricultura foram distribuídos 750 hectares já desmatados e lavrados. Foram também
distribuídos materiais de cultivo. Quanto ao reassentamento, 80 casas novas de nível
equivalente foram distribuídas aos afectados tendo lhes sido dado o transporte para a
efectivação das mudanças. Foram também transferidas 113 sepulturas (Ibid.). Na
realidade o processo de reassenamento prejudicou as populações na medida em que essas
perderam o Habitat com o qual tinham afinidades afectivas, acima de tudo quando se
afirma que as casas distribuídas eram de nível equivalente as que as populações já
tinham. Assim a mudança das populações das suas aldeias para os novos sítios propostos
pela MOZAL representou uma perda para as populações da região em apreço.

A Associação até 2006 trabalhava com as comunidades localizadas num raio de 10km a
partir da fábrica e investia segundo Rungo13 um total de dois milhões e quinhentos mil
dólares (USD 2. 500.000) por ano em projectos de desenvolvimento da comunidade. A
partir de 2007, o valor duplicou passando para cinco milhões de dólares (USD
5.000.000), e o raio de acção passou a ser de 20km. Em determinados casos são

13
18 de Julho de 2007

26
considerados também projectos da Matola e da Cidade de Maputo. Se se tomar em conta
que um dos requisitos do BM é “evitar e mitigar efeitos potencialmente adversos nas
pessoas afectadas” (AMDC, 2000:4), a AMDC tem sido um fiel cumpridor. Porém, este
requisito visa evitar e mitigar, significando isso, que a promoção do desenvolvimento não
cabe neste requisito. Pois a promoção do desenvolvimento visa solucionar problemas de
pobreza das comunidades locais.

A necessidade de evitar e mitigar efeitos nefastos faz com que o financiamento


disponível seja disperso em várias áreas nomeadamente: Desenvolvimento de Pequenos
Negócios, Educação e Formação, Saúde e Meio Ambiente, Desporto e Cultura e Infra-
estruturas Comunitárias. A observação das áreas de actividade da AMDC recorda o velho
provérbio popular: “quem muito abarca pouco aperta”. Os recursos que são aplicados às
cinco áreas poderiam ser aplicadas a uma única actividade que seria o móbil do
desenvolvimento das outras áreas.

4.1.1 Desenvolvimento de Pequenos Negócios


O título suscita algumas dúvidas do real papel da MOZAL, através da AMDC, na
promoção do desenvolvimento das comunidades locais. Questionando-se por essa via o
porquê de pequenos negócios se quem financia é um mega Projecto com lucros
altíssimos. A responsabilidade social do mega projecto em relação às comunidades onde
se localiza, deveria ser tão notável quanto o são os seus resultados líquidos.

A AMDC (Ibid:10) afirma que “foram introduzidos no foro mundial económico dois
princípios a saber: “comércio em vez de ajuda” e “construir empreendedores em vez de
postos de trabalho”. E acrescenta que a associação MOZAL adopta estes princípios na
sua actuação pois acredita que os pequenos empreendimentos representam uma fonte de
rendimento e de emprego e são móbeis de desenvolvimento comunitário (Ibid). O que se
pode questionar, pois sabendo-se que os recursos são limitados, o financiamento desses
pequenos negócios pode ser feito a custa de descriminação, apoiando-se as viúvas em

27
detrimento de mulheres cujos maridos não trabalham ou simplesmente estão muito tempo
fora de casa, como os que trabalham na vizinha África do Sul.

4.1.1.1 O Apoio a Agricultura


Em Março de 2000 a AMDC criou o Programa de Desenvolvimento Agrícola (PDA).
Segundo a AMDC (2003:9), o PDA tinha como objectivo primário assistir os 1200
camponeses reassentados por causa da instalação da MOZAL naquela região. Tinha
como objectivos complementares: Melhorar a produção agrícola, e promover a produção
de subsistência. Estes objectivos demonstram que a grande preocupação da AMDC, não é
o “Empowerment” das populações, para serem auto suficientes, pois procura promover a
agricultura de subsistência ao invés da agricultura comercial, que pode dar riqueza às
populações. E por essa via acaba não cumprindo com o princípio: “comércio em vez de
ajuda”(Ibid.),que afirma ter sido introduzido pelo foro económico mundial.

Segundo Banze14, o PDA criou a associação de camponeses de Bematchome, que até


2005 tinha 1200 membros. Porém actualmente conta com apenas cerca de 600 membros
devido à desistência de alguns membros por incapacidade financeira para pagamento das
quotas e das taxas. Durante cinco anos (2000 - 2005) a AMDC através do PDA afirma ter
apoiado a Associação de Bematchome15 em sementes, tractores para lavrar os campos e
fertilizantes. Porém, quando o projecto chega ao fim os camponeses estavam
descapitalizados por causa das secas cíclicas naquela região, o que não permitiu que os
camponeses arcassem com as despesas da produção.

A AMDC (2003:11) descreveu a produção daquela região nos seguintes moldes:


· 1999 (antes do PDA) ------------------400kg/ano/família
· 1˚ ano do PDA 2000/01----------------1,5 ton/ano/família
· 2˚ ano do PDA 2001/2 -----------------1,9 ton/ano/família
· 3˚ ano do PDA 2002/3 ----------------- produção nula

14
18 de Julho de 2007
15
A associação BEMATCHOME tem título de uso e aproveitamento de 700 hectares.

28
Segundo Banze16, as secas continuaram nas duas campanhas seguintes 2003/4 e 2004/5,
tendo melhorado na época 2005/6. É preciso salientar que o PDA terminou na campanha
2004/5, tendo abandonado os camponeses na altura em que mais precisavam dos seus
préstimos.

A questão é se a altura em que o programa acabou era a melhor, tendo em conta que
visava melhorar a vida dos camponeses. Na realidade o programa deixou as populações
numa situação pior do que quando o programa começou. Em outras palavras o programa
no lugar de potenciar a comunidade criou dependência porque não conferiu melhores
condições em relação as encontradas no inicio do programa. Constata-se aqui, que muitos
projectos são apenas cumprimento de planos poucos claros e pouco interessados com o
verdadeiro desenvolvimento das comunidades locais.

A principal causa da desistência dos membros da associação de Bematchome é a questão


das quotas e da taxa que cada membro em cada época deveria pagar para fazer face as
despesas do tractor para lavrava os campos. Segundo Banze (Ibid.), estes valores
começaram a ser pagos em 2001, num valor de 500.00 MT por membro, em 2003 este
valor ascendeu para 1250.00 MT o que fez com que muitos membros não conseguissem
pagar este valor e por consequência no ano 2004 não houve pagamentos. Em 2005 o
valor decresceu para 710.00 MT, em 2006 o valor a pagar era de 810,00 MT e em 2007 o
valor é 860.00 MT. Ora, estes valores são altíssimos para uma comunidade camponesa
que durante três épocas consecutivas sofreu secas cíclicas e para o cúmulo o PDA
termina quando a comunidade mais precisa dele.

Na visão de Banze ( Ibid.), as grandes dificuldades que a associação enfrenta são:


· Ausência de tractores e seus acessórios para trabalhar a terra, o que significa
que a associação deve alugar, e com as subidas de preço do combustível a actividade
agrária torna-se insustentável para muitos agricultores membros. Esta dificuldade parece
contradizer os relatórios da AMDC (2003:11) que afirmam ter disponibilizado um tractor
e um reboque para ajudar os camponeses a transportarem os seus bens até a paragem de

16
18 de Julho de 2007

29
autocarros. A AMDC (Ibid.) acrescenta que foi oferecida aos mesmos uma pequena
moageira. Mas observando-se a Figura 1 percebe-se de que tractor se trata e de que
moageira a AMDC se refere. É caso para questionar a real utilidade do tractor oferecido
pela AMDC.
· A dependência total da chuva, o que torna os camponeses vulneráveis a secas
cíclicas.
· A falta de meio de transporte para escoar os produtos em caso de boas
colheitas.
· O facto da ligação com a AMDC ser indirecta, no caso a companhia de
desenvolvimento de Moçambique (CODEMO), representante do estado, era o
intermediário entre o financiador e o financiado. Isto dificulta a comunicação e
consequentemente a realização mais adequada dos objectivos dos projectos.

O rol das dificuldades apresentadas pela presidente da associação Bematchome


demonstram o quanto a AMDC está a actuar como mitigadora. É preciso recordar que
esta mitigação resulta do cumprimento dos requisitos impostos pelo BM à MOZAL. Isto
significa que a AMDC possui políticas internas para a promoção do desenvolvimento
local, porém a sua implementação carece de melhoramentos, como a concentração da
actividade da associação numa só área e na região que se propõe a zelar por ela.
Figura 1 : Oferta da AMDC às comunidades locais
reboque moageira tractor

Fonte: AMDC (2003:10)


30
A AMDC financiou uma formação dos camponeses nas seguintes áreas: gestão da própria
associação, preparação da terra, sistema de cultivo da terra e nutrição das plantas, uso e
aplicação de fertilizantes, controlo da peste e da erva daninha, comercialização da
colheita, registo de terras, finanças e orçamento e colheita e armazenagem. Contudo,
como é frequente, as secas cíclicas vieram deitar abaixo os conhecimentos adquiridos
nesta formação, pois sem chuva não era possível aplicá-los. O que em outras palavras
quer significar que os financiamentos deste género devem ser feitos num projecto mais
amplo e sustentável como é o caso de campos com garantia de irrigação.

O apoio à cooperativa “25 de Setembro17” de Boane ocorreu no biénio 2003/4 e segundo


Lhamanguana18, a AMDC através da CODEMO reabilitou as valas de irrigação, reparou
duas motobombas e um tractor. A AMDC (2003:11) acrescenta que ensinou aos
camponeses melhores formas de cultivo, uso e aplicação de fertilizantes e
comercialização da produção.

A AMDC reparou as motobombas e o tractor, o que equivale dizer que se pós um


remendo novo em pano velho, pois as motobombas e o tractor são da década de 1980,
estando neste momento obsoletos. A reparação não trouxe grandes melhorias, porque
segundo Lhamanguane (Ibid), para irrigar uma parcela de um hectare precisa-se de 20
litros de combustível, e tem que ser uma pessoa por cada vez, num universo de 41
associados, enquanto, 20 litros serviriam para 10 famílias irrigarem as suas parcelas
simultaneamente, se as motobombas estivessem em boas condições.

Se a AMDC substituísse as duas motobombas obsoletas por outras tantas novas


reduziria o tempo que cada associado leva para chegar a sua vez de irrigar a sua parcela.
Reduziria também os custos em termos de combustíveis, pois cada associado gasta
actualmente 20 litros por cada irrigação, mas se as motobombas fossem novas gastaria
apenas 2 litros por cada rega uma vez que segundo Lhamanguane (Ibid.), 20 litros dariam

17
A cooperativa 25 de Setembro foi criada como machamba colectiva a 25 de Setembro de 1975, e
transformada em cooprerativa de camponeses 25 de Setembro a 22 de julho de 1981 e tem na sua posse 160
hectares, estando em uso apenas 40 hectares.
18
17 de Julho de 2007

31
para 10 famílias irrigarem suas parcelas concomitantemente. Em suma a produção da
associação seria eficiente e por conseguinte a vida dos camponeses melhoraria.

Salienta-se que na altura que se fez o presente estudo estava em curso o apoio a
associação dos Regantes de Manguiza, em Boane que estava a expandir o sistema de
regadio e atribuir os primeiros quites de produção e fertilizantes. Segundo o
Extencionista19, esta associação tem uma área de 10 hectares. E acrescenta que o grande
problema destes projectos é a sua sustentabilidade.

4.1.1.2 O Apoio a outras áreas produtivas


O fabrico de blocos faz parte do leque das iniciativas apoiadas pela AMDC. O apoio foi
prestado a um homem de negócios sedeado em Djuba, Boane. Este indivíduo foi
oferecido uma máquina de fabrico de blocos aumentando a sua capacidade de 800 para
1800, por dia. Actualmente produz 2600 por dia como resultado da compra de uma nova
máquina. É preciso afirmar que este projecto está a gerar algum emprego para algumas
famílias, mas deixa de lado a maioria que não pode ser absorvida pelo empreendimento.

No referente ao aviário de Bematchome, a AMDC (2005:9) afirma que este projecto


surge devido ao insucesso na produção agrícola durante os cinco anos da vigência do
PDA. Foi assim que a AMDC financiou a construção de dois de pavilhões. Um pavilhão
é para criação de frangos e tem uma capacidade de dois mil frangos. O outro, é destinado
às poedeiras e tem a mesma capacidade que o primeiro. Segundo a AMDC (Ibid.) são
produzidos diariamente 650 ovos que são colocados no mercado local e formal.

Segundo Banze (Ibid.), o aviário começou a sua actividade em 2002 com dois mil frangos
e em Dezembro de 2004 foram alocados para a segunda capoeira mil poedeiras. Contudo
devido a má gestão, até 2006, as capoeiras tanto as de frangos como as de poedeiras
estavam vazias. Diante deste facto, a primeira medida foi afastar a direcção e a segunda
foi recomeçar a criação. Em Agosto de 2006, foi instalada uma nova direcção e

19
17 de Julho de 2007

32
recomeçou a criação de frangos com 500 aves. Até Julho de 2007 a capoeira tinha 1200
frangos e ainda não se tinha retomado a criação de poedeiras.

Segundo Banze (Ibid.) os custos de produção são extremamente altos e tomam como
exemplo o lote de frangos de 01 de Maio a 01de Junho de 2007, cujo total de despesa foi
62.520 MT. Atendendo que a receita total foi de 79.000 MT, o lucro antes de pagamento
dos salários20 era de 16.480 MT. Esta importância tinha de ser repartida entre os salários
e a aquisição de mais pintos para aumentar o volume de produção. Para revitalizar a
produção de ovos, a AMDC propôs-se apoiar a associação na aquisição de poedeiras e
vai assistir durante três meses (de Agosto a Outubro de 2007). Questiona-se a eficiência
do projecto, posto que o tempo de duração da assistência é bastante reduzido.

É fundamental recordar que a associação dos camponeses de Bematchome começou em


2000 com 1200 membros e contava em 2007 com 600 membros. A forma de distribuição
do rendimento da associação é através da prestação de serviços no aviário, criando as
aves, e a sua posterior venda. Só depois da venda é que se aufere uma remuneração
inferior ou igual a 1500,00MT. O período que separa um lote de frangos do outro é de 45
dias no mínimo. E em cada lote apenas podem trabalhar quatro associados, que só
voltarão a trabalhar depois dos restantes 596 terem trabalhado.

Perante a situação acima descrita é de notar que a fórmula encontrada não cria incentivos
à participação. Segundo a fórmula temos a seguinte situação:
(1) 600 membro/4 membros por cada lote de frangos = 150 lotes de frangos.
O que quer dizer que os primeiros só voltarão a trabalhar depois de 149 lotes de frango.
E como cada lote de frango dura no mínimo 45 dias, e teríamos:
(2) 150 lotes de frangos x 45 dias = 6750 dias.
Em termos de dias é preciso passar 6750 dias para que o primeiro grupo volte a
beneficiar do salário da associação. Transformando esses dias em anos teríamos:
(3) 6750 dias/365 dias = 18,49 anos.

20
Por questões éticas Banze não quis informar ao autor o valor dos salários dos associados que prestaram
serviços no lote em causa.

33
Portanto é preciso esperar 18 anos para voltar a ter acesso aos rendimentos provenientes
da associação e se se tomar em conta que a associação já teve 1200 membros, então
seriam precisos 36 anos de espera paciente. É caso para dizer que os membros desta
associação não encontram incentivos neste empreendimento. Ao mesmo tempo que se
constata que este empreendimento não está promovendo o desenvolvimento das
comunidades locais.

Para além da situação descrita no parágrafo anterior, a associação de Bematchome


enfrenta dificuldades de transporte para as actividades de produção e comercialização
dos frangos. Assim, nos moldes em que aquele aviário funciona não capitaliza aquelas
comunidades de modo a terem uma qualidade de vida melhor que antes da instalação da
MOZAL naquela região.

O mercado de Beluluane construído pela AMDC é descrito como tendo 100 bancas das
quais 70 podem ser usadas para diferentes tipos de negócio e 30 especialmente para
venda de legumes. A AMDC diz que “o mercado está a gerar benefícios resultantes das
receitas aqui produzidas e beneficia cerca de 100 famílias” (AMDC, 2005:7). Porém a
realidade constatada na entrevista com Mahumane (16 de Julho de 2007) é sombria e
diverge dalgum modo com a informação bastante optimista da AMDC. Das 100 bancas
apenas 15 estão em funcionamento. Esta situação justifica-se pela falta de clientes, pois o
grosso da clientela era constituído pelos trabalhadores que estavam a construir a
MOZAL. Após a construção o negócio tornou-se insustentável, pois as populações locais
estão descapitalizadas.

Para Mahumana (Ibid.), a MOZAL trouxe benefícios na região na medida em que trouxe
energia e água potável. Mas o mercado não representa uma vantagem de vulto na medida
em que tanto os comerciantes, os poucos que existem, como o resto da população estão
descapitalizados. E acrescenta que esta situação deve-se ao facto de a MOZAL não ter
criado postos de trabalhos para os locais nem financiado projectos que capitalizassem as
comunidades locais.

34
4.1.2 Educação e Formação

Nesta área a AMDC afirma apoiar os ensinos primário, secundário e universitário em


diversos aspectos (AMDC, 2003:13). No ensino primário a associação afirma que tem
distribuído material escolar às escolas que se encontram no raio de 10km em volta da
fábrica. De salientar que a partir de 2007 o raio de acção da AMDC passou para 20km.
Em conjunto com a MAD GROUP, grupo de esposas de funcionários estrangeiros da
MOZAL, a AMDC apoia os professores da sua área de acção em material didáctico e
realiza convívios em todas as festividades do dia internacional das crianças.

No ensino secundário destaca-se a oferta de 20 computadores à Escola Secundária Josina


Machel e a reabilitação de dois campos polivalentes da mesma escola. A Biblioteca da
Escola Secundária da Matola foi reabilitada. A Escola Industrial e Comercial da Matola
também recebeu um equipamento de soldar e livros para a biblioteca. À Escola Nelson
Mandela foi concedido um lote de 42 computadores e à Escola Secundária da Polana
foram concedidos outros 30 computadores. E no ensino superior apenas a Universidade
Eduardo Mondlane (UEM) beneficia de 20 bolsas atribuídas a estudantes desfavorecidos.

4.1.3 Saúde e Ambiente


O programa da Malária, a distribuição de redes mosquiteiras impregnadas, apoio ao
Instituto de Coração, ao Hospital Central de Maputo (HCM) e ao centro da terceira idade
são actividades mencionadas pela AMDC nesta área. Porém, o programa do combate à
malária denominado Libombo Spatial Development Initiative (LSDI) é da iniciativa dos
governos de Moçambique, da Suazilândia e da África do Sul, embora a AMDC co-
financie. Esta iniciativa através da Medical Research council, está a levar a cabo uma
campanha de pulverização que através 2005 estava na 8˚ ronda o que tinha baixado a taxa
de infecção pela malária de 86.8% para 8% (AMDC, 2005:15). Se o programa é da
iniciativa de três países é auto sustentável não se tornando necessária a intervenção da
AMDC que devia dedicar-se exclusivamente ao desenvolvimento das comunidades
locais.

35
A AMDC diz ter financiado o programa de malária da LSDI na pulverização de
Beluluane e Matola no valor de 600,000 USD. E que a partir de Junho de 2004, 650.000
USD foram doados anualmente, num período de três anos consecutivos, pela BHP
Billiton à Medicine for Malaria Venture (MMV), uma ONG (Organização Não
Governamental), que pesquisa medicamentos para malária que custem menos de um
dólar para África (Ibid.). Ainda no combate à malária a AMDC (2005: 15) afirma ter
distribuído 5.571 redes mosquiteiras para 3,323 famílias. Estas redes são cosidas por
viúvas e mães solteiras que depois vendem-nas a AMDC que as distribui a comunidade.

A saúde é de facto uma questão prioritária mas ela não deriva apenas da prevenção da
malária. Elementos como dieta alimentar, higiene pessoal e colectiva são
importantíssimos. A questão da dieta torna-se pertinente quando a AMDC afirma que as
redes são produzidas pelas viúvas e pelas mães solteiras e compradas pela AMDC. O
equivalente a dizer que este grupo social tem um tratamento privilegiado e de certa forma
tem renda. Ora, as mulheres casadas são simplesmente excluídas como se ter esposo
fosse equivalente a ter renda. Este critério, independentemente dos princípios que o
sustentam, pode a longo prazo destruir a família, pois as mulheres poderão preferir ser
mães solteiras a permanecer casadas com homens desempregados.

A AMDC afirma ter financiado o Instituto de Coração no valor de 700.000 MT, nos anos
2002 e 2003 para ajudar as crianças que sofrendo de problemas cardíacos não tinham
recursos financeiros para fazer o devido tratamento. A AMDC ofereceu igualmente
equipamento de diagnóstico cardiovascular ao Hospital central em 2005. Estas doações
são de grande valor humanitário, mas desviam a AMDC da sua área de actuação que é
um raio de vinte quilómetros a partir do local da localização da fábrica. É nesta área que
em primeiro lugar deve realizar grandes projectos de desenvolvimento comunitário e só
depois as outras áreas.

Constata-se que as actividades relatadas estão directamente ligadas a saúde, dizendo


pouco ou quase nada sobre o meio ambiente, embora a própria AMDC considere a Saúde
e Meio Ambiente como uma das cinco áreas da sua actividade (AMDC, 2003:5). Portanto

36
o meio ambiente é tido aqui no seu sentido lato, uma vez que o combate a malária pode
ser tido como um acto pró-ambiente, na medida em que a ausência de pandemias é
associada a um ambiente são.

4.1.4 Desporto e Cultura


No que se refere ao desporto a AMDC diz apoiar as iniciativas nesta área dando mais
atenção ao Voleibol, ao futebol e ao basquetebol. O caso do voleibol, por exemplo, as
equipas apoiadas pela Associação MOZAL participaram por seis vezes nos torneios da
federação da modalidade na praia Miramar (AMDC, 2003:19). Quanto ao futebol, a
Associação MOZAL patrocina a equipa comunitária denominada Ndhopfu, que está a
participar no campeonato provincial de Maputo. Diz ter apoiado também o basquetebol
nos torneios inter-escolares ao nível do ensino médio decorridos em 2002 e 2003 na
Escola Industrial da Matola.

Quanto à cultura, a AMDC (2005:21), durante os anos de 2004 e 2005, patrocinou


catorze exposições de obras de arte. Mas as populações locais não podem ser a
beneficiárias de tais exposições, porque sofrendo de secas cíclicas não têm condição para
contemplarem a arte enquanto as suas necessidades básica não encontram resposta
adequada. Esta constatação só reforça a ideia de que a aposta no sector agrário traria mais
benefícios às comunidades locais.

4.1.5 Infra-estruturas Comunitárias


A AMDC afirma que tem comparticipado na construção e reabilitação de algumas Infra-
estruturas da comunidade. São exemplos da sua comparticipação no redimensionamento
de estabelecimentos de ensino os seguintes locais: 8 salas de aulas em Beluluane, 9 salas
de aulas em Jonasse, 3 salas em 1 de Junho, 4 salas de aulas em Djuba, 2 salas em
Tchonissa e 2 salas em Mussumbuluco (2003:21).

Em parceria com a International Finance Corporation (IFC), a Associação MOZAL está,


desde 2003, a construir a Escola Secundária Nelson Mandela na Matola Rio. Está,
também a co-financiar a construção do Centro de formação da LSDI em Namaacha. A

37
AMDC construiu a esquadra de Beluluane, e reabilitou o comando provincial da Polícia
de Maputo, reabilitou também a clínica de Saúde Materno Infantil (SMI) da Matola 700 e
aquando do acidente de Tenga em 2002 a AMDC reabilitou o edifício de serviços de
urgência e laboratório do Hospital de Moamba, tendo construído também um centro de
fisioterapia (Ibid.:23).

O que se pode constatar é que as actividades feitas pela MOZAL através da AMDC não
estão a criar a Integração Espacial. Esta situação deve-se em parte porque a AMDC não
concebe projectos em prol da comunidade local, mas sim, aprova projectos que são
submetidos junto a si, pedindo patrocínio. Estes projectos embora de alguma forma
beneficiem a comunidade não têm uma íntima relação entre si, porque foram pensados
isoladamente, para fins díspares. Excepção seja feita para o caso do PDA que durou
apenas 5 anos. Um outro factor que fragiliza o impacto das actividades da AMDC é o
facto de estar a actuar em cinco áreas e apoiar entidades que se encontram fora da sua
área de actuação. Uma única área produziria mais resultados, e essa área devia ser a
agricultura.

4.2 Alternativa de Desenvolvimento da Comunidade Local

(Matola, Boane e Moamba)

Este sub capítulo é uma proposta para tornar possível a Integração Espacial na região em
que a MOZAL se encontra. E tendo em conta que Moçambique é um país com cerca de
20 milhões de habitantes e com aproximadamente 36 milhões de hectares de terra arável,
dos quais apenas 9 milhões estão sendo aproveitados para a produção. E que deste
universo 3.3 milhões de hectares de terra tem potencial para a irrigação dos quais apenas
55 mil hectares são actualmente irrigados.

Sabendo-se que os agricultores em Moçambique subdividem-se em sector tradicional e


sector comercial. O primeiro é basicamente constituído pelos agricultores de subsistência

38
e o segundo por empresas que produzem em escala. A conjugação destes grupos dá
origem a três tipos de agentes agrários nomeadamente: pequenos, médios e grandes
produtores como mostra a tabela 4 (Rosário, 2005:111).

Tabela 4: Sectores de Agricultura em Moçambique


Variável Camponês de Orientado para o Comercial
subsistência mercado
Objectivo da produção Virada principalmente para Auto consumo e também Virado para o mercado
o auto consumo para o mercado, integração
parcial no mercado
também imperfeito
Tecnologia usada Tradicional, pouca Alguma tecnologia Melhorada e avançada.
utilização de insumos e melhorada, contudo a Níveis de produção e
mecanização agrícola, produção e produtividade/ha elevados
baixa produção e produtividade/ha é ainda
produtividade/ha baixa.

Tamanho da machamba Reduzido e de pequena Pequena escala e por vezes Óptima combinação entre
escala, uso predominante alguma preocupação em a economia de escala da
de mão de obra familiar combinar a escala da machamba e do tamanho
machamba e o tamanho da da mesma com vista a
mesma maximizar a
produtividade/hae lucro
comercial
Actividades Produz essencialmente Produz culturas especializada
desenvolvidas culturas alimentares, alimentares e algumas de
dedica-se a pecuária rendimento para o
principalmente animais de mercado. Dedica-se ainda
pequeno porte e algum a pecuária tanto para
gado bovino e caprino. alimentação como para o
Fraco maneio e gestão mercado
desta actividade.
Atitude perante o risco É adverso ao risco É cauteloso à assumpção Assume o risco
do risco
Nível de predominância Predominante e o principal Ainda pouco desenvolvido Muito pouco desenvolvido
no país no país no país em Moçambique,
praticamente inexistente.
Fonte: Rosário, 2005:114.

39
Conhecidos os três tipos de agricultura praticados em Moçambique e sabendo-se que a
região de Boane e Moamba é atravessada por dois rios nomeadamente: Umbeluzi e
Incomati, o que torna a região passível de ser irrigada desde que haja interesse nesse
sentido. Tomando-se em conta que a MOZAL disponibiliza anualmente cinco milhões de
dólares para o desenvolvimento da comunidade geridos pela AMDC num raio de 20 km,
e sobretudo estando conscientes de que a agricultura e a pecuária, constituem a base para
o desenvolvimento das comunidades locais, as quais não têm melhorado com a chegada
da MOZAL, urge portanto, mudar de estratégia de modo a melhorar realmente a vida
daquelas comunidades.

Para tornar a AMDC uma instituição de desenvolvimento e não de mitigação, como o que
acontece actualmente, é fundamental concentrar os seus esforços na agricultura e não em
cinco áreas como actualmente procede. A AMDC deveria apostar numa MEGA
ASSOCIAÇÃO de agricultores que praticasse uma agricultura mecanizada com uma
grande extensão de terras (3 000 hectares) que se estendessem de Boane a Moamba.

As terras seriam obtidas em coordenação com o governo local21. O projecto seria


financiado durante 15 anos consecutivos. O financiamento seria directo, isto é, o
financiamento deveria ser alocado para a comissão de gestão da Associação. Seriam
membros da comissão membros idóneos da comunidade, e pessoal técnico da AMDC.
Esta comissão seria encarregue de criar um regadio, comprar paulatinamente tractores (1
por ano), Motobombas (1 de 2 em 2 anos) e camiões (1 em de 3 em 3 anos)22, construir
armazéns para efeitos de conservação da produção, disponibilizar fertilizantes, conceder
as terras aos agricultores23 e lavrá-las, contactar o mercado para a colocação dos produtos
e sua consequente venda.

21
É preciso realçar que a associação dos camponeses de BEMATCHOME tem o título de uso e
aproveitamento de 700 hectares, porém, estas terras não estão a produzir devido a dependência extrema da
chuva.
22
No fim do mandato da AMDC a associação teria 15 tractores, 7 motobombas e 5 camiões de 10
toneladas, o que dotaria a associação duma capacidade de continuidade.
23
Esta concessão refere-se a terras que tenham já consedidas a AMDC para o efeito.

40
Seriam membros da associação todos os cidadãos (camponeses) que manifestassem
interesse e que residissem no perímetro da acção da Associação MOZAL para o
desenvolvimento da comunidade. Estes teriam a missão de cuidar cada um da sua parcela
desde a sementeira, a sacha, a pulverização, a fertilização da terra, a colheita e a
conservação. Os produtos seriam entregues à comissão que venderia no mercado
anteriormente identificado, de salientar que cada camponês deveria pesar o seu produto
de modo a saber o valor a receber.

Depois da venda, 40% do valor obtido por cada camponês fica com a comissão para o
funcionamento da MEGA ASSOCIAÇÃO sendo 60% para o trabalhador da terra. As
culturas a serem produzidas seriam o milho e ou o feijão por serem produtos que ficam
muito tempo após a produção e o que permite uma melhor negociação do preço sem o
risco de deterioração. Um outro motivo da produção destes produtos é o facto de o
Zimbabwe que era o maior produtor de milho na região encontrar-se em crise económica
o que facilitaria a colocação do produto no mercado regional em integração.

A acontecer a criação da MEGA ASSOCIAÇÃO teria como efeitos:


· Fim da completa dependência da quantidade da chuva a cair para ter uma boa
produção.
· Aumento da renda e florescimento do comércio das populações locais,
· Surgimento de empresários provenientes da acumulação de capital,
· Contribuição para a auto-suficiência alimentar a nível interno e regional,
· Aumento da qualidade de vida e aquisição do poder de compra de serviços de
saúde e educação pelas populações locais.
· Redução dos índices de pobreza, principalmente das mulheres e das crianças que
são as mais atingidas.
· Surgimento de postos de emprego que pela natureza do trabalho beneficia as
comunidades locais ao contrário do que acontece com o trabalho na fábrica da MOZAL.

41
Findo o período de 15 anos a AMDC retirar-se-ia deixando a continuidade do projecto
com a comissão de gestão, que já teria uma experiência de 15 anos, a continuar com o
projecto. Assim, teríamos por um lado uma comunidade local realmente beneficiada com
a instalação desta multinacional, e por outro lado, capitalizar-se-ia a vontade financiadora
da MOZAL, passando de medidas paleativas e de mitigação para uma acção geradora do
desenvolvimento. criando a Integração Espacial que neste momento é inexistente. É
preciso salientar que para que a AMDC consiga levar a cabo este projecto precisaria
também duma colaboração atenta por parte do governo de Moçambique.

42
CONCLUSÕES

· A MOZAL está a criar uma integração sectorial devido à quantidade de serviços


que esta companhia solicita às empresas nacionais e estrangeiras. Um exemplo desta
integração é o parque industrial de Beluluane que actualmente congrega vinte empresas
que produzem bens para exportação,24o que significa que a economia tira proveitos do
estabelecimento desta multinacional, mas este proveito é mais notório no crescimento
económico e menos no desenvolvimento do país.

· A legislação Moçambicana é omissa em relação àquilo que as multinacionais em


geral e a MOZAL em particular devem fazer em prol das comunidades locais.

· A MOZAL é um ponto de articulação, sobre o qual vários sectores de actividade


interagem criando a integração sectorial. Porém esta integração é vulnerável, pois
depende duma única unidade, no caso a MOZAL. Se esta companhia (MOZAL) falir a
integração chega ao fim, porque não há pontos de articulação adicionais.

· O crescimento económico que se verifica em Moçambique com a contribuição da


MOZAL é ilusório, pois os lucros não ficam no território nacional, mas contam no BIP.
Esta é uma das razões que leva a disparidade entre o crescimento económico e o
desenvolvimento em Moçambique.

· A AMDC faz um financiamento indirecto usando intermediários, como é o caso


da CODEMO, o que faz com que os fundos realmente aplicados ao projecto sejam
reduzidos ou até mesmo desviados para pagar salários dos funcionários da empresa
intermediária.

24
Os bens produzidos 85% devem ser para exportação e 15% podem ser vendidos no mercado nacional.

43
· A presença da MOZAL em Moçambique melhorou algumas infra-estruturas como
o porto da Matola, as vias de acesso para a fábrica. Contudo este facto tornou a região
mais concorrida, fazendo com que os detentores de capital passem a comprar (adquirir os
títulos de uso e aproveitamento) a terra das populações pobres, que se tornam cada vez
mais pobres e se afastam das zonas que habitaram durante décadas. O que significa que
os pobres ficaram mais pobres e mais distantes do centro urbano, no caso, da Matola.

· As políticas internas da MOZAL em relação as populações circunvizinhas, são


mais de mitigação e não necessariamente de Desenvolvimento, razão pela qual, as
condições de vida não têm registado grandes melhorias, exceptuando-se os benefícios
trazidos pelo fornecimento da água e energia.

· Nos moldes em que a MOZAL através da AMDC opera na sua relação com a
comunidade local não possibilita uma integração espacial. Pois não há criação de riqueza
para a comunidade, que no caso vertente seria possível se houvesse uma aposta numa
agricultura mecanizada.

· Ausência da distribuição da renda para as populações situadas na área da


localização da Multinacional, sendo este fenómeno causado pela fraca instrução destas, o
que não permite a sua integração nas vagas de emprego criadas pela multinacional,
transferindo-se assim os rendimentos para profissionais qualificados provenientes das
grandes cidades e do estrangeiro. Significando isto que não há melhoria de vida das
populações e por conseguinte a MOZAL não está a criar Desenvolvimento na região
onde se encontra e muito menos a nível nacional. Pois beneficia os beneficiados e
prejudica os prejudicados.

· O papel da MOZAL no desenvolvimento da região em que se encontra, e de


Moçambique em geral, é de Mitigador da pobreza, pois através da AMDC, não
desenvolve projectos criadores da integração espacial e por conseguinte impulsionadores
do desenvolvimento.

44
RECOMENDAÇÕES

· A AMDC deve actuar numa única área, a agricultura, ao invés de fazê-lo em


cinco áreas. Pois dispersa os esforços e recursos e os resultados têm pouco impacto sobre
a vida das comunidades.

· A AMDC deve criar projectos que sejam fonte de rendimento seguro na área de
agricultura. Para tal é preciso que os projectos sejam de longa duração para permitir a
instrução das populações envolvidas. Sendo por isso, imperioso criar uma mega
associação de camponeses, alocar infra-estruturas, meios e dar uma assistência técnica e
financeira prolongadas.

· O governo deve melhorar a legislação sobre o Investimento Directo Estrangeiro,


clarificando os sistemas de controlo tanto da importação como da exportação de capital
por parte das multinacionais.

· É preciso eliminar o financiamento indirecto, que tem sido actualmente a prática


da AMDC através da CODEMO, passando a financiar directamente a associação dos
agricultores.

· As multinacionais, no caso a MOZAL, devem exigir das empresas que lhes


prestam serviços simples, como seja as de limpeza e de segurança, a integração de
trabalhadores menos instruídos da comunidade local, como forma de criar distribuição de
renda, e consequentemente uma integração espacial.

· O governo deve eliminar paulatinamente as facilidades legais concedidas às


Multinacionais de modo a que as importações feitas por estas passem a pagar os direitos
aduaneiros melhorando-se a situação económica nacional.

45
· A AMDC deve evitar o uso de critérios que beneficiam apenas minorias como é
o caso de viúvas e mulheres solteira, passando a privilegiar critérios inclusivos.

· Em suma, é urgente que a MOZAL tome atitudes pró-desenvolvimento das


comunidades locais, e no caso o ponto de partida seria a agricultura mecanizada.

46
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49
ENTREVISTAS

1. BANZE, A., Presidente de Camponeses de BEMATCHOME, entrevistada em 18 de


Julho de 2007, Maputo
2. LHALANGUANA, A. M., Camponês da Cooperativa 25 de Setembro de Boane,
entrevistado em17 de Julho de 2007, Maputo.
3. MAHUMANE, A. L., Comerciante do Mercado de Beluluane, entrevistado em 16 de
Julho de 2007, Maputo.
4. RUNGO, T., Superitendente de Recursos Humanos da MOZAL, entrevistado em 18
de Julho de 2007, Maputo.
5. Extensionista, supervisor da Associação dos Regantes de Manguiza, entrevistado em
17 de Julho de 2007, Maputo.
6. ALTO FUNCIONÁRIO DO CPI – responsável do departamento de arquitectura do
Parque Industria de Beluluane, entrevistado em 27 de Julho de 2007
7. RODRIGUEZ, A.W. – Consultor da MOKORO, Economista e especialista em gestão
das finanças públicas, 16 de Novembro 2007

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