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Jequié/BA
abril- 2009
Marshall Berman, escritor, intelectual, autor, dentre outros, do livro Tudo o que é sólido
desmancha no ar (1986), o qual servirá de base para esse estudo, aborda nesta obra as
questões referentes à modernidade e suas implicações. Expõe que sua intenção é esclarecer
algumas das dimensões de sentido, as aventuras e horrores, as ambigüidades e ironias da
vida moderna.
Achei conveniente colocar nessas primeiras linhas um conceito sobre a vida moderna que
Berman só vem expor para seus leitores já no finalzinho de seu livro. É um conceito que
considero o mais completo e abrangente por englobar três pontos essências para a
concretização desse estudo- moderno, modernismo, modernização.
“Ser moderno, eu dizia, é experimentar a existência pessoal e social como um torvelinho, ver o
mundo e a si próprio em perpétua desintegração e renovação, agitação e angústia, ambigüidade e
contradição: é ser parte de um universo em que tudo o que é sólido desmancha no ar. Ser um
modernista é sentir-se de alguma forma em casa em meio ao redemoinho, fazer seu o ritmo dele,
movimentar-se entre suas correntes em busca de novas formas de realidade, beleza, liberdade,
justiça, permitidas pelo seu fluxo ardoroso e arriscado. [...] O processo de modernização, ao mesmo
tempo que nos explora e nos atormenta, nos impele a apreender e a enfrentar o mundo que a
modernização constrói e a lutar por torná-lo o nosso mundo” (328- 330).
Partindo de uma vasta conceituação aplicada por esse escritor ao estilo de época
consagrado de Modernismo, será possível demonstrar como se desenvolveu o Modernismo
brasileiro dentro das abrangentes questões que envolvem a modernidade no seu aspecto
mais geral.
A modernidade é ‘o transitório, o efêmero’, disse Baudelaire, sendo assim o que pode ser
moderno para uma época ou região não necessariamente será para outra. A exemplo disso,
Nelson Werneck Sodré no livro História da Literatura Brasileira, demonstra que há uma
distinção entre o modernismo aqui do Brasil e os de fora devido as características
peculiares de cada um. Para completar o entendimento ele afirma que “entre os povos de
língua portuguesa ‘Modernismo’ é o movimento de após a Grande Guerra de 1914- 1918,
nascido em reação contra o estado de decadência parnasiana” (2002, p. 580).
Mas em relação as características que especificam e se aplicam a todo ser que se diga
moderno Berman, coloca que: “A experiência ambiental da modernidade anula todas as
fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse
sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana (...) são todos movidos ao
mesmo tempo, pelo desejo de mudança (...)” (p.13-15).
O autor assinala sequencialmente no seu texto que “ser moderno é viver uma vida de
paradoxo e contradição (...) é ser revolucionário e conservador.”
Afrânio Coutinho, referindo-se à crítica literária brasileira, deixa claro que também houve
muitas contradições nesse aspecto. Ele argumenta que “Ocorre, então, nas origens do
movimento, um duplo paradoxo: por um lado, é um processo de criação realizado por
espíritos críticos; por outro lado, nenhum desses espíritos críticos levou a efeito, no período
heróico, uma notável tarefa crítica” (2004, p. 591).
Quando enfatiza esse estado transformador, destruidor, desintegrador, que ameaça romper
com as estruturas do passado, o autor, consegue bem transcrever a atmosfera de um mundo
em conflito, o ambiente em que surgiu a modernidade.
O Brasil vem adentrar na modernidade esteticamente falando, quando assume seu caráter
livre, principalmente, libertação dos modelos acadêmicos que serviram de base aos estilos
literários anteriores. Uma libertação que abrange vários rumos e setores, tanto no
vocabulário, na sintaxe, na escolha dos temas, como na própria maneira de ver o mundo, na
busca de uma expressão mais coloquial próxima do modo de falar do brasileiro (Cândido,
1975, p.10).
Afrânio Coutinho em A literatura no Brasil explora mais essa situação relatando que
“Entre 1922 e 1928, a história do Modernismo se resume na história de sua poesia (...) que obedecia,
como é sabido, a duas palavras de ordem: reforma técnica e temática; abandono da regularidade
metrificadora dos parnasianos e de suas fontes de inspiração, substituição do soneto pelo poema
desarticulado, do verso regular pelo verso livre, e da ‘Grécia’ pelo ‘Brasil’” (2004, p.593).
Nisso concordam muitos autores, que é na linguagem que se caracteriza o mais importante
processo de ruptura e radicalização do estilo modernista.
Coutinho diverge de Sodré nas demarcações das fases, dividindo em três momentos o
Modernismo brasileiro. Considera que além de uma primeira e segunda fases, as quais
intitula, respectivamente, de fase de ruptura e fase de extensão, há um terceira fase que
começa a partir de 1945 chamada de fase esteticista. Para Coutinho 1928 é um marco na
história do Modernismo e na evolução de suas idéias críticas (2004, p. 593).
A paródia do passado, segundo Berman, fez parte da mentalidade moderna. Exemplo disso,
Mário de Andrade, notável representante modernista brasileiro, apresenta na obra
Macunaíma. No estilo de narrar de Macunaíma, Mário de Andrade toma o andamento
parnasiano típico e anterior a 22 (Bosi, 353).
Com enfoque sobre Mário de Andrade chamo atenção para uma outra obra sua intitulada de
Paulicéia Desvairada, considerada a base do Modernismo brasileiro por ser o primeiro
livro de poesia totalmente nova que foi apresentada ao público na Semana de Arte Moderna
de 22. “Mário foi assertor de uma linguagem que transpusesse para o registro da arte a
prosódia, o ritmo, o léxico e a sintaxe coloquial”, palavras de Alfredo Bosi.
Juntamente com Mário de Andrade veio Oswald de Andrade que, segundo o próprio Mário
declara “Oswald de Andrade, a meu ver a figura mais característica e dinâmica do
movimento.” Foram destaque, também, muitos outros escritores e poetas que ajudaram a
promover a Semana de Arte Moderna e, consequentemente, o Modernismo no Brasil. Bosi
esclarece que “Os promotores da Semana traziam idéias estéticas originais em relação às
nossas ultimas correntes literárias – Parnasianismo e Simbolismo.” Todos com sua
significativa contribuição, todos imbuídos pelo espírito de ruptura e transformação,
desejosos de renovação artística e cultural, de uma arte que fosse autenticamente brasileira.
“O que os unificava era um grande desejo de expressão livre e a tendência para transmitir
(...) a emoção pessoal e a realidade do país” (Cândido & Castelo, 1975, p. 9).
Assim, Marshall Berman, nas ultimas linhas do fragmento exposto, sintetiza o que de fato
melhor exprime o Modernismo, sua liberdade criadora e transformadora, no qual o passado
não tenha que deixar de existir, apenas se desintegrar para dar lugar a recriação e a
inovação.
Referências Bibliográficas
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade.
São Paulo: Companhia da Letras, 1986.
COUTINHO, Afranio. A Literatura no Brasil: Era Modernista. 7ª Ed. Vol. 5. São Paulo:
Global, 2004.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Literatura Brasileira. 10ª Ed. Rio de Janeiro:
Gaphia, 2002.
HARVEY, David. Condição pós-moderna. 7ª Ed. São Paulo: Edições Loyola, 1998.