You are on page 1of 6

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL

DISCIPLINA: LITERATURA BRASILEIRA III

DOCENTE: VALÉRIA LESSA MOTA

CURSO: LETRAS IV SEMESTRE – NOTURNO

DISCENTE: REJANE PEREIRA LIMA

Trabalho sobre o Modernismo no Brasil


fundamentado nas bases conceituais do escritor
Marshall Berman com fins avaliativos,
apresentado à docente Valéria Lessa, pela
discente Rejane.

Jequié/BA

abril- 2009
Marshall Berman, escritor, intelectual, autor, dentre outros, do livro Tudo o que é sólido
desmancha no ar (1986), o qual servirá de base para esse estudo, aborda nesta obra as
questões referentes à modernidade e suas implicações. Expõe que sua intenção é esclarecer
algumas das dimensões de sentido, as aventuras e horrores, as ambigüidades e ironias da
vida moderna.

Achei conveniente colocar nessas primeiras linhas um conceito sobre a vida moderna que
Berman só vem expor para seus leitores já no finalzinho de seu livro. É um conceito que
considero o mais completo e abrangente por englobar três pontos essências para a
concretização desse estudo- moderno, modernismo, modernização.

“Ser moderno, eu dizia, é experimentar a existência pessoal e social como um torvelinho, ver o
mundo e a si próprio em perpétua desintegração e renovação, agitação e angústia, ambigüidade e
contradição: é ser parte de um universo em que tudo o que é sólido desmancha no ar. Ser um
modernista é sentir-se de alguma forma em casa em meio ao redemoinho, fazer seu o ritmo dele,
movimentar-se entre suas correntes em busca de novas formas de realidade, beleza, liberdade,
justiça, permitidas pelo seu fluxo ardoroso e arriscado. [...] O processo de modernização, ao mesmo
tempo que nos explora e nos atormenta, nos impele a apreender e a enfrentar o mundo que a
modernização constrói e a lutar por torná-lo o nosso mundo” (328- 330).

Partindo de uma vasta conceituação aplicada por esse escritor ao estilo de época
consagrado de Modernismo, será possível demonstrar como se desenvolveu o Modernismo
brasileiro dentro das abrangentes questões que envolvem a modernidade no seu aspecto
mais geral.

A modernidade é ‘o transitório, o efêmero’, disse Baudelaire, sendo assim o que pode ser
moderno para uma época ou região não necessariamente será para outra. A exemplo disso,
Nelson Werneck Sodré no livro História da Literatura Brasileira, demonstra que há uma
distinção entre o modernismo aqui do Brasil e os de fora devido as características
peculiares de cada um. Para completar o entendimento ele afirma que “entre os povos de
língua portuguesa ‘Modernismo’ é o movimento de após a Grande Guerra de 1914- 1918,
nascido em reação contra o estado de decadência parnasiana” (2002, p. 580).

Mas em relação as características que especificam e se aplicam a todo ser que se diga
moderno Berman, coloca que: “A experiência ambiental da modernidade anula todas as
fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse
sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana (...) são todos movidos ao
mesmo tempo, pelo desejo de mudança (...)” (p.13-15).

O autor assinala sequencialmente no seu texto que “ser moderno é viver uma vida de
paradoxo e contradição (...) é ser revolucionário e conservador.”

A transposição do fragmento acima, se justifica para comprovar a ambiguidade


característica da vida moderna. Essa questão se desdobrará em obras de diferentes autores
que se dedicaram a falar sobre o modernismo. Um desses autores (Harvey, 1998, p.31)
expõe que “o modernismo internalizou seu próprio turbilhão de ambigüidades, de
contradições e de mudanças estéticas pulsantes, ao mesmo tempo que buscava afetar a
estética da vida diária.” Críticos brasileiros também ratificam essa idéia paradoxal e
ambígua comum da modernidade. Alfredo Bosi vem relatar que o Modernismo brasileiro
estava “dividido entre a ânsia de acertar o passo com a modernidade da Segunda Revolução
Industrial, de que o futurismo foi testemunho vibrante, e a certeza de que as raízes
brasileiras, em particular, indígenas e negras, solicitavam um tratamento estético,
necessariamente primitivista (1994, p.341). Sodré conclui com muito esmero esclarecendo
que as contradições do modernismo, principalmente as estéticas, acompanham e
confrontam as contradições da sociedade brasileira do período e acrescenta que é nessas
contradições que reside muito de sua autenticidade (2002, p. 591).

Afrânio Coutinho, referindo-se à crítica literária brasileira, deixa claro que também houve
muitas contradições nesse aspecto. Ele argumenta que “Ocorre, então, nas origens do
movimento, um duplo paradoxo: por um lado, é um processo de criação realizado por
espíritos críticos; por outro lado, nenhum desses espíritos críticos levou a efeito, no período
heróico, uma notável tarefa crítica” (2004, p. 591).

Na medida em que se desenvolve a obra de Berman, outros conceitos sobre o modernismo


vão surgindo à complementar os já expostos. Numa nova formulação conceitual o autor
expressa que:

“Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria,


crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor- mas ao mesmo tempo
ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. [...] ela nos
despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e
contradição, de ambiguidade e angustia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual,
como disse Marx, “tudo o que é sólido desmancha no ar” (p. 15).

Quando enfatiza esse estado transformador, destruidor, desintegrador, que ameaça romper
com as estruturas do passado, o autor, consegue bem transcrever a atmosfera de um mundo
em conflito, o ambiente em que surgiu a modernidade.

Dentro dessas perspectivas ‘futuristas’ da modernidade, situa-se a estética modernista no


Brasil. Como declara o crítico e historiador Mário de Andrade no ensaio O Movimento
Modernista: “O modernismo, no Brasil, foi uma ruptura, foi um abandono de princípios e
de técnicas conseqüentes (...) o nosso sentido era especificamente destruidor” (p. 235).

O Brasil vem adentrar na modernidade esteticamente falando, quando assume seu caráter
livre, principalmente, libertação dos modelos acadêmicos que serviram de base aos estilos
literários anteriores. Uma libertação que abrange vários rumos e setores, tanto no
vocabulário, na sintaxe, na escolha dos temas, como na própria maneira de ver o mundo, na
busca de uma expressão mais coloquial próxima do modo de falar do brasileiro (Cândido,
1975, p.10).

Afrânio Coutinho em A literatura no Brasil explora mais essa situação relatando que

“Entre 1922 e 1928, a história do Modernismo se resume na história de sua poesia (...) que obedecia,
como é sabido, a duas palavras de ordem: reforma técnica e temática; abandono da regularidade
metrificadora dos parnasianos e de suas fontes de inspiração, substituição do soneto pelo poema
desarticulado, do verso regular pelo verso livre, e da ‘Grécia’ pelo ‘Brasil’” (2004, p.593).

Nisso concordam muitos autores, que é na linguagem que se caracteriza o mais importante
processo de ruptura e radicalização do estilo modernista.

Tratando-se de uma demarcação cronológica, Sodré declara que a autenticidade nas


manifestações literárias brasileira só veio a partir da terceira década do século XX, sendo
assim, fica evidente a posição do autor em relação a Semana da Arte Moderna que ocorreu
um pouco antes, em 1922, a qual, para ele, não passou de um simples episódio. Ele divide o
Modernismo em duas fases, na primeira (1917-1929) situa a Semana da Arte Moderna.
Passando do nível estético para o nível do conteúdo com predomínio da prosa, está a
segunda fase (1930-1945), a qual ele defende ser o sentido nacional da revolução do
modernismo brasileiro. Sua explicação está no fato de que a primeira fase, fase heróica, traz
a presença de influências externas, mais precisamente, das vanguardas européias. Na
segunda fase isso não acontece- conclui o autor (p. 571-589).

Coutinho diverge de Sodré nas demarcações das fases, dividindo em três momentos o
Modernismo brasileiro. Considera que além de uma primeira e segunda fases, as quais
intitula, respectivamente, de fase de ruptura e fase de extensão, há um terceira fase que
começa a partir de 1945 chamada de fase esteticista. Para Coutinho 1928 é um marco na
história do Modernismo e na evolução de suas idéias críticas (2004, p. 593).

Aliado a essa nova linguagem, o movimento modernista também é caracterizado pelo


nacionalismo exacerbado. Nesse momento, era comum a paródia de textos do passado, o
humor e a irreverência.

A paródia do passado, segundo Berman, fez parte da mentalidade moderna. Exemplo disso,
Mário de Andrade, notável representante modernista brasileiro, apresenta na obra
Macunaíma. No estilo de narrar de Macunaíma, Mário de Andrade toma o andamento
parnasiano típico e anterior a 22 (Bosi, 353).

Com enfoque sobre Mário de Andrade chamo atenção para uma outra obra sua intitulada de
Paulicéia Desvairada, considerada a base do Modernismo brasileiro por ser o primeiro
livro de poesia totalmente nova que foi apresentada ao público na Semana de Arte Moderna
de 22. “Mário foi assertor de uma linguagem que transpusesse para o registro da arte a
prosódia, o ritmo, o léxico e a sintaxe coloquial”, palavras de Alfredo Bosi.
Juntamente com Mário de Andrade veio Oswald de Andrade que, segundo o próprio Mário
declara “Oswald de Andrade, a meu ver a figura mais característica e dinâmica do
movimento.” Foram destaque, também, muitos outros escritores e poetas que ajudaram a
promover a Semana de Arte Moderna e, consequentemente, o Modernismo no Brasil. Bosi
esclarece que “Os promotores da Semana traziam idéias estéticas originais em relação às
nossas ultimas correntes literárias – Parnasianismo e Simbolismo.” Todos com sua
significativa contribuição, todos imbuídos pelo espírito de ruptura e transformação,
desejosos de renovação artística e cultural, de uma arte que fosse autenticamente brasileira.
“O que os unificava era um grande desejo de expressão livre e a tendência para transmitir
(...) a emoção pessoal e a realidade do país” (Cândido & Castelo, 1975, p. 9).

Nesse contexto ideológico de ruptura e desintegração firmam-se os modernistas do


passado, presente e futuro.

“Se conseguir um dia se livrar de seus restos e andrajos e dos desconfortáveis


vínculos que o unem ao passado, o modernismo perderá todo o seu peso e
profundidade, e o turbilhão da vida moderna o alijará irreversivelmente. É somente
mantendo vivos esses laços que o ligam às modernidades do passado — laços ao
mesmo tempo estreitos e antagônicos — que o modernismo pode auxiliar os
modernos do presente e do futuro a serem livres” (BERMAN, p. 329).

Assim, Marshall Berman, nas ultimas linhas do fragmento exposto, sintetiza o que de fato
melhor exprime o Modernismo, sua liberdade criadora e transformadora, no qual o passado
não tenha que deixar de existir, apenas se desintegrar para dar lugar a recriação e a
inovação.

Referências Bibliográficas
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade.
São Paulo: Companhia da Letras, 1986.

CANDIDO, Antonio e Castello, José Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira. 5ª Ed.


São Paulo - Rio de Janeiro: Difel, 1975.

COUTINHO, Afranio. A Literatura no Brasil: Era Modernista. 7ª Ed. Vol. 5. São Paulo:
Global, 2004.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da Literatura Brasileira. 10ª Ed. Rio de Janeiro:
Gaphia, 2002.

HARVEY, David. Condição pós-moderna. 7ª Ed. São Paulo: Edições Loyola, 1998.

BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade: o pintor da vida moderna. Rio de


Janeiro: Paz e Terra, 1996.

You might also like