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Apontamentos de História 11º ano

O legado do Liberalismo na primeira metade do século XIX


Liberalismo  Doutrina política, social, económica e cultural difundida na Europa e na América que,
fundando-se na primazia do individuo sobre a sociedade, defende a propriedade privada, a liberdade
individual, a igualdade de todas as pessoas perante a lei e o respeito pelos direitos do cidadão.

O Liberalismo surgiu na primeira metade do século XIX, como consequência da ideologia das Luzes
(Iluminismo) e das Revoluções Liberais (Americana, Francesa, etc.).
 opunha-se ao absolutismo ou qualquer outra forma de tirania política;
 defendia a livre iniciativa;
 promovia as classes burguesas.

A ideologia liberal é centrada na defesa dos direitos do indivíduo (direitos naturais, inerentes á
condição humana):

 IGUALDADE PERANTE A LEI;


 LIBERDADE INDIVIDUAL;
 PROPRIEDADE PRIVADA

A nível individual, defendia-se a liberdade civil, religiosa, política ou económica.

Liberdade Política (Liberalismo Político)

O Homem podia participar activamente na vida do país, pois era considerado um cidadão que podia
intervir na governação. A intervenção política podia-se dar de diversas formas:
 através do exercício de voto para escolha dos governantes;
 ao exercer os cargos para os quais tenha sido eleito;
 participando com a opinião em movimentos cívicos, etc.

No entanto, havia restrições ao exercício pleno da cidadania. O direito ao voto apenas estava reservado
aos possuidores de rendimento suficientes para pagar impostos (sufrágio censitário), logo não era
muito democrático. Seria necessário a adopção do voto universal em vez do voto censitário, pois muita
população era posta de parte.

O Estado como garante da ordem liberal

O principal objectivo do regime político durante o Liberalismo foi a consagração dos direitos do
indivíduo. Para evitar o exercício do despotismo, o liberalismo político elaborou formas para limitar o
poder. Este deveria fundamentar-se em textos constitucionais, funcionar na base da separação de
poderes e da soberania nacional exercida por uma representação e proceder á secularização das
instituições.

 Textos Constitucionais: O poder político é legitimado através dos textos constitucionais. Resulta em
dois processos, as Constituições (se forem votadas pelos representantes da Nação) e as Cartas
Constitucionais (se elaboradas pelo rei);

 Separação dos poderes: O Liberalismo defende a separação dos poderes, para evitar que o poder se
concentre, resvalando o despotismo. Assim, distribuiu-se os poderes (legislativo, executivo, judicial) pelos
diferentes órgãos de soberania.

 Soberania nacional: O Liberalismo pôs em prática o princípio iluminista da soberania nacional, no


entanto a Nação não o exercia de forma directa, mas esse poder era confiado a uma representação
„‟mais sensata‟‟.

 Secularização das instituições: O Estado libertou-se da influência religiosa, secularizando as


instituições, isto é, separação dos assuntos da Igreja em relação aos dos Estado (de modo a emancipar o
individuo e o Estado da tutela da Igreja). O principal objectivo do Liberalismo era a liberdade civil,
portanto defendiam a liberdade religiosa (não se ser coagido a seguir determinada religião, cada um
escolhe a sua fé). As principais medidas foram o registo civil, a nacionalização dos bens da Igreja, a
politica de descristianização, etc.
Liberdade económica (Liberalismo económico)

Liberalismo económico  Doutrina económica impulsionada por Adam Smith que defende a
propriedade privada, a liberdade de iniciativa e a livre concorrência, pelo que o funcionamento do mercado
seria garantido pela lei da oferta e da procura, competindo ao Estado o papel de garante destes princípios
e não de intervenção directa na economia.

 defesa da iniciativa individual;


 ausência estatal de intervenção na economia;
 supressão de monopólios;
 livre concorrência;
 liberdade comercial;
 abolição dos entraves ao comércio internacional.
 combate ao mercantilismo

Teoria de Adam Smith

Adam Smith considerava que o trabalho era a fonte da riqueza. É em função da produtividade do
trabalho que uns países são mais ricos do que os outros. Smith queria demonstrar que a riqueza de um
país resultava da actuação de indivíduos, que movidos pela livre iniciativa e o seu próprio interesse,
promoviam o crescimento económico do país. O Homem, desde que não transgrida as leis da justiça,
deve ter a liberdade para realizar o seu interesse pessoal da forma que mais lhe convier, pondo o seu
trabalho e o capital em concorrência com os outros homens. Logo, o Estado teria que abdicar de qualquer
intervenção na economia.

De que maneira o liberalismo económico impulsionou a Segunda Revolução Industrial? (Mais á frente..)

O Romantismo, expressão da ideologia liberal

Romantismo  movimento cultural do século XIX inspirado nas ideias liberais da época que, recusando
a racionalidade clássica, valoriza a liberdade de pensamento, as emoções, os sentimentos, a natureza e
o gosto pelos ambientes exóticos e medievais.

O Romantismo foi a expressão da ideologia liberal nas artes e nas letras. Na realidade, ao
racionalismo, à ordem e à harmonia clássicas, o romântico contrapôs o indivíduo, o sentimento, a emoção,
a imaginação e o nacionalismo. Defende a liberdade até ao limite e a independência nacional contra
a opressão estrangeira. Preferência pelo mistério, sonho, imaginação, o estranho, a noite, o herói,
pitoresco.
A liberdade tornou-se a temática principal do Romantismo, fosse liberdade politica, social, económica, etc.

Esta corrente cultural espalhou-se pelos vários países da Europa.


 em relação á musica, fugiram á rigidez da musica clássica, procurando a transmissão de sensações,
sonhos, paixões;
 ao nível da pintura, recusaram as regras clássicas, apreciando o movimento e a cor, as situações
exóticas, a morte e o drama.
 Na literatura, foi a época dos grandes romances.

No Romantismo, há uma revalorização das raízes históricas das nacionalidades, e um elevado


interesse pela Idade Média, tão desprezada pelos Renascentistas, como forma de encontrarem o seu
património cultural.
As transformações económicas na Europa e no Mundo

Ao longo do século XIX, a revolução industrial conheceu um forte impulso devido à utilização de novas
fontes de energia e ao aparecimento de outros sectores de ponta. Tendo iniciado a sua industrialização
nos finais do século XVIII, a Inglaterra manteve a hegemonia no século XIX, embora ameaçada por outros
países que também se industrializaram.

A expansão da revolução industrial


Na segunda metade do século XIX, ocorreram profundas transformações na indústria, vulgarmente
conhecidas como a “segunda revolução industrial”: foram descobertas fontes de energia como a
electricidade e o petróleo, novos produtos como o aço ou os produtos sintéticos e inventos técnicos como
o motor a explosão. O aumento da produção e a expansão dos mercados, favorecidos pela renovação dos
transportes, originou grandes concentrações industriais e financeiras.

A ligação ciência-técnica
Estas inovações assentaram na estreita articulação entre a técnica e a ciência. Na realidade, se o
desenvolvimento técnico da primeira fase da revolução industrial se deveu sobretudo à capacidade
criadora de operários, nesta segunda fase os inventos resultaram da acção de cientistas que, formados
em Universidades, actuavam em estreita ligação com as fabricas nos laboratórios. Deste modo, a
investigação cientifica e tecnológica acumulou conhecimentos e desenvolveu aplicações cada vez mais
aperfeiçoadas, num processo em que teoria e prática se alimentaram mutuamente, gerando
progressos cumulativos ( expressão utilizada para designar as relações estabelecidas entre a ciência
e a técnica os finais do século XIX, caracterizadas pela interacção entre o problema surgido na fábrica, a
sua resolução pela investigação efectuada em laboratório e a aplicação da solução pela empresa), o que
permitiu vencer a concorrência e conquistar mercados.

Novos inventos e novas formas de energia

A industria siderúrgica e a industria química

A siderurgia (fornecedora de maquinas, carris e outros equipamentos) tornou-se na industria de ponta


da segunda revolução industrial. Quanto á industria química, centrou-se especialmente em industrias de
explosivos, produtos farmacêuticos, fertilizantes e produtos sintéticos.

Novas formas de energia

A electricidade e o petróleo constituíram as principais fontes energéticas utilizadas nesta segunda


fase da revolução industrial. O petróleo foi descoberto em 1859 e foi inicialmente utilizado para
iluminação, só mais tarde como combustível no motor de explosão. Os derivados do petróleo tornam-se
nos combustíveis do futuro.
O aproveitamento industrial da electricidade deveu-se a uma série de invenções que permitiram a sua
produção e transportes a grandes distancias. Tornou-se possível a utilização da electricidade na
iluminação, que veio substituir o gás. A electricidade foi das conquistas mais marcantes da Revolução
Industrial.

A aceleração dos transportes

Os transportes foram um elemento fundamental á industrialização. Os meios de transporte


acompanharam o progresso tecnológico, adoptando desde logo uma das principais inovações da Revolução
Industrial: a máquina a vapor. A principal inovação consistiu na aplicação da máquina a vapor na
navegação e nos transportes ferroviários. Assistiu-se á expansão dos transportes ferroviários, que
constituíram a principal maneira de transportes na segunda metade do século XIX.
O êxito da máquina a vapor foi tão grande que os inventores tentaram aplicá-la ao transporte por estrada:
em 1870 apresenta-se o primeiro protótipo de um carro a vapor, contudo, foi o motor de explosão que se
revelou mais adequado. Em 1886, os automóveis rolavam pelas estradas a anunciar os novos tempos.
Concentração Industrial e Bancária

É a partir de 1870 que podemos falar, com propriedade, de uma “civilização industrial”. A era do
capitalismo industrial aproxima-se do auge.

Capitalismo Industrial  Sistema económico caracterizado pela concentração dos meios de produção
(as fabricas) nas mãos de grandes proprietários que, dispondo de capital e recorrendo á exploração da
mão-de-obra, transformaram a industria na principal fonte de obtenção de lucros.

O desenvolvimento da industrialização provocou quer o crescimento das fábricas, quer a tendência


para a sua concentração. A concentração industrial acelera-se na segunda metade do século.
Constituíram-se dois tipos de concentrações:
 a concentração horizontal, caracterizada pelo agrupamento de um conjunto de empresas que
operava num sector especifico sob a mesma direcção (objectivo de evitar a concorrência);
 a concentração vertical, caracterizada pela integração na mesma empresa de todas as fases da
produção.

O sistema bancário integra-se na dinâmica do mundo industrial, assistindo-se a um forte crescimento.


Esta relação provocou a evolução do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro.

A racionalização do trabalho

Produzir com qualidade e produzir a baixo preço tornaram-se as questões fundamentais a fim de obter do
trabalho a máxima rentabilização.
Frederick Taylor expôs o seu método para a optimização do rendimento da fábrica, que ficou conhecido
por taylorismo. Assentava na divisão máxima do trabalho, seccionando-o em pequenas tarefas
elementares e encadeadas. A cada operário caberia executar, repetidamente, apenas uma destas
tarefas, que o trabalhador seguinte continuava. Cada operário seria treinado para uma única tarefa,
especializando-se na sua execução.
Henry Ford pôs em pratica as ideias de Taylor, aplicando-o à estandardização ( Padronização do
processo de produção e dos produtos obtidos, conseguida pelo fabrico em série, com vista a tornar
possível a produção em massa) da produção de automóveis, que foi um tremendo sucesso, apesar
deste método ser alvo de criticas.

A geografia da Industrialização
Até meados do século XIX, a Inglaterra deteve a hegemonia económica a nível mundial pelos seguintes
factores:
 dispunha de mais potência em maquinas a vapor;
 liderava a produção mundial do carvão, ferro e aço;
 possuía a maior frota comercial do mundo;
 etc.

Sectores industriais mais avançados da Inglaterra: Têxtil, Siderurgia e Metalurgia

A afirmação de novas potencias


Na Europa, a Franca, a Alemanha, a Bélgica e a Suiça colocam-se no grupo dos países mais
industrializados. Na América, agigantam-se os EUA. Na Ásia, o Japão é o único pais a industrializar-se.

A agudização das diferenças

O livre-cambismo

Livre-cambismo  Defendia a não intervenção do Estado na economia, e a liberdade do comercio


sem quaisquer restrições, designadamente barreiras alfandegárias.

A expansão da revolução industrial foi acompanhada pelo triunfo das ideias livre-cambistas. No entanto, a
liberdade de concorrência provocou a proliferação de produtos a baixo preço, o que afectou a economia.
As crises cíclicas constituíram sistemáticos sobressaltos económicos e simultaneamente, fizeram crescer
as desigualdades sociais. As crises capitalistas (geralmente de 10 em 10 anos) deviam-se essencialmente
a um excesso de investimentos e de produção industrial.
Crises cíclicas  situação periódica de mau estar a nível da economia provocada por uma subida ou
descida anormal dos preços, dos salários ou da produção. As crises contemporâneas são de
superprodução: a procura diminui, a oferta aumenta, os preços e os salários baixam, aumenta o
desemprego e diminui o nível de vida.

A violência das crises e sobretudo os seus efeitos sociais puseram em evidencia as fragilidades do
capitalismo liberal. Os mecanismos de resposta ás crises traduziram-se pelo incremento de politicas
proteccionistas e pelo aumento da intervenção do estado na regulação da vida económica e social.

A sociedade industrial e urbana

A explosão populacional
Explosão demográfica  Forte aceleração da taxa de crescimento da população mundial verificada a
partir dos finais do século XVIII, relacionada sobretudo com a significativa redução da taxa de
mortalidade.

No século XIX, verificou-se um crescimento muito rápido e acentuado da população mundial e, em


especial, da Europa industrializada, falando-se assim de uma explosão demográfica. Impôs-se assim, um
novo modelo demográfico, que tinha como características:
- o recuo da mortalidade;
- o declínio da elevada natalidade;
- aumento da esperança media de vida;
- descida da idade do casamento

A expansão da Revolução Industrial correspondeu a uma expansão da população, pelo que foram
os países industrializados que revelaram mais cedo estas características demográficas.

Factores da explosão populacional:


- melhores cuidados médicos;
- maior abundância de bens alimentares;
- os progressos na higiene

Expansão urbana
As alterações demográficas e económicas originaram uma forte expansão urbana. Os principais
factores da expansão foram:
- o êxodo rural (as alterações na produção agrícola, ao dispensarem parte da mão-de-obra, levam a que
o habitante da província procure a cidade)
- a emigração (a população europeia foi responsável por diversas vagas de partida para as colónias
dos continentes africano, americano e oceânico)
- o crescimento dos sectores terciário e secundário (estes concentram-se nas cidades e requerem
cada vez mais efectivos. A população activa dedicada ao sector primário diminui.)

O intenso crescimento das cidades revelou um conjunto de novos problemas urbanos: o


superpovoamento, a ausência de redes de esgoto e de abastecimento de água, o agravamento de
fenómenos como a miséria, delinquência, prostituição, mendicidade.

Migrações internas e emigração

No século XIX ocorreram intensos movimentos populacionais.

Migrações internas:
- Deslocações sazonais (realizadas apenas em certas alturas do ano para locais onde era necessário um
acréscimo da mão-de-obra);
- Êxodo rural (movimento campo-cidade, fosse porque uma agricultura mecanizada dispensava mão-
de-obra ou porque uma agricultura de subsistência fornecia insuficientes rendimentos)

Os Europeus espalharam-se pelo mundo fora em sucessivas vagas de emigração. Na origem deste
fluxo migratório terão estado os seguintes factores:
- a pressão populacional (os governos apoiavam politicas migratórias devido á excessiva concentração
populacional);
- os problemas no mundo rural;
- os problemas ligados á industrialização;
- a revolução dos transportes (que embarateceu o preço das passagens);
- a idealização dos países de destino (como por exemplo os E.U.A., que era visto como a terra das
oportunidades);
- a fuga a perseguições politicas e religiosas.

Unidade e diversidade da sociedade oitocentista

Uma sociedade de classes


A sociedade de ordens do Antigo Regime, na qual o nascimento era o principal factor de distinção
social, deu lugar á sociedade de classes da Época Contemporânea, em que os cidadãos, embora iguais
perante a lei, se distinguem pelo dinheiro e por todas as vantagens que este permite conquistar. Na
sociedade de classes, a mobilidade ascensional é mais frequente podendo ser conquistada por mérito
individual. Nesta destacavam-se dois grandes grupos:
- Burguesia (detentora do capital e dos meios de produção);
- Proletariado (classe mais baixa que fornece o trabalho à organização industrial)

Entre ambas, existe ainda as classes médias.

Condição Burguesa

Alta Burguesia

A alta burguesia conquistou um poder equiparável ao seu estatuto económico pois alem de controlar os
pontos-chave da economia, exercia cargos políticos. Ao nível dos comportamentos, os burgueses
tentavam aproximar-se da aristocracia.
A burguesia foi, pouco a pouco, definindo e impondo os seus próprios valores, tais como o apreço pelo
trabalho, o sentido de poupança, a perseverança e a solidariedade familiar. Passou, então, a demonstrar
orgulho pelo estilo de vida burguês (surgimento da consciência de classe, consciencialização
colectiva em relação à posição ocupada por um estrato na hierarquia social).

Classes médias
As classes médias constituem o grupo mais heterogéneo e situam-se entre a alta burguesia e o
proletariado. Englobam o conjunto de profissões que não dependem do trabalho físico, isto é, o chamado
sector dos serviços. A sua composição integrava:
- pequenos empresários da industria;
- empregados comerciais;
- profissionais liberais (em vez de terem um patrão, trabalhavam por conta própria. Ex: médicos,
advogados, etc.)
As classes médias eram defensoras dos valores da burguesia no intuito de permanecerem dentro
desta classe. Tornaram-se assim, as classes mais conservadoras.

Condição operária
Proletariado  Classe operária que, sem meios de produção, vende a sua força de trabalho em troca
de um salário.

Os operários enfrentavam grandes problemas dentro e fora do seu local de trabalho:


- elevado risco de acidentes de trabalho e doenças;
- ausência de medidas de apoio social (sem direito a férias, o horário era puxado, não tinham
subsídios de desemprego, velhice ou doença);
- contratação de mão-de-obra infantil;
- espaços de trabalho pouco saudáveis;
- espaços de habitação sobrelotados e insalubres;
- pobreza e todos os problemas a esta associados (desnutrição, doenças, prostituição, consumo elevado
de bebidas alcoólicas, mendicidade)

O movimento operário
As primeiras reacções dos operários contra a sua condição miserável foram pouco organizadas. Com o
passar do tempo, o movimento operário organizou-se para se tornar mais eficaz, revestindo duas
formas:
- Associativismo (criação de associações que apoiavam os operários mediante o pagamento duma
quota)
- Sindicalismo (os sindicatos utilizavam como meios de pressão as manifestações e greves. A
reivindicação do dia de trabalho de 8 horas, melhoria dos salários, direito ao descanso semanal,
eram alguns dos objectivos que foram verificados em finais do século XIX.

As propostas socialistas
Socialismo  Ideologia surgida no século XIX como reacção ás desigualdades sociais geradas pela
revolução industrial que, defendendo a abolição da propriedade privada, a gestão democrática aos
meios de produção, procurava alcançar a igualdade no plano social.

As condições de miséria em que viviam os proletários despertaram a vontade de intervenção social de


pensadores da época. No séc. XIX a doutrina socialista criticava o sistema capitalista e propunha
uma sociedade mais igualitária. Pode-se distinguir duas abordagens ao socialismo:
- Socialismo Utópico (Proudhon defendia que os operários deviam trabalhar uns para os outros em vez
de trabalharem para um patrão. Abolindo a propriedade privada e o Estado, pôr-se-ia fim á exploração
de “homem para homem”.
- Socialismo Marxista (Karl Marx analisou historicamente os modos de produção, tendo concluído que a
luta de classes é um fio condutor que atravessa todas as épocas. Baseado neste pressuposto, expôs um
plano de acção para atingir uma sociedade sem classes e sem Estado – o comunismo.

Princípios do Marxismo:
- a luta de classes é um traço fundamental de toda a História;
- a sociedade burguesa será destruída quando o proletariado instaurar a “ditadura do
proletariado”;
- o Proletariado retirará o capital á burguesia e o capitalismo será destruído, pois todos os
instrumentos de produção estarão nas mãos do Estado, e assim se construirá o comunismo.
- os operários devem unir-se internacionalmente para fazer a revolução comunista.

Apesar de chocar ideologicamente com outras propostas de remodelação da sociedade (como o


proudhonismo), a doutrina marxista prevaleceu viva.

ESQUEMA SINTESE!

Século XIX

População Sociedade Ideologia

Revolução Demográfica Sociedade de Classes Socialista

- explosão populacional - hierarquização pelo estatuto económico - Movimento operário


- novo modelo demográfico - mobilidade social - Socialismo Utópico
- migrações internas - miséria da classe operária e marxista
- emigração europeia - ascensão das classes medias
- expansão urbana - afirmação político-social da burguesia
A Evolução democrática, nacionalismo e imperialismo

As transformações politicas
Desde o século XVIII foi implantado um sistema liberal moderado em vários países da Europa. Tratou-
se da eliminação dos regimes absolutistas e da sua substituição por monarquias constitucionais.
A partir do terceiro quartel do séc. XIX, surgiu um novo entendimento do sistema liberal que daria origem
às democracias representativas (demoliberalismo).

Demoliberalismo  Sistema politico em vigor nos países da Europa Ocidental desde os finais do séc.
XIX, que é caracterizado sobretudo por ser mais democrático através da extensão do direito de voto
a camadas mais vastas da população.

 Alguns países substituíram o sistema monárquico por um regime politico republicano (caso de
Portugal, em 1910);
 O sufrágio censitário foi substituído pelo sufrágio universal( direito de todos os cidadãos, sem
distinção de sexo, raça, fortuna, votarem em eleições)
 Para aperfeiçoar o sistema representativo, a idade do voto foi antecipada, o voto passou a ser secreto e
os cargos políticos passaram a ser remunerados.

Os afrontamentos imperialistas

Imperialismo  Domínio que um Estado exerce sobre outros países, a titulo militar, politico,
económico e cultural.

Colonialismo  Domínio total exercido sobre territórios não-independentes (colónias).

A Europa dominava o mundo. A expansão europeia insere-se numa estratégia de controlo de uma
vasta extensão territorial com vista á satisfação das necessidades económicas das metrópoles.
O caso mais evidente de imperialismo e de colonialismo ocorreu relativamente à ocupação do
continente africano.

Na Conferencia de Berlim (1884-85), os chefes de Estado europeus repartiram entre si o território


africano sem atender ás fronteiras definidas pelos povos locais e impuseram o seu domínio. Definiram
que a colonização só poderia assentar no princípio de ocupação efectiva e não pela primazia da
descoberta (direito histórico). O objectivo era enriquecer os países mais poderosos pois as colónias
eram fornecedoras de matéria-prima.

Portugal, uma sociedade capitalista dependente

Uma nova etapa politica

Em 1851, instaurou-se uma nova etapa politica, designada por Regeneração. Este movimento
estendeu-se até à implantação da Republica (1910) e procurava inverter o percurso de decadência
que o país verificava até então.

 Pretendia-se o progresso material do país, com o fomento do capitalismo aplicado ás actividades


económicas;
 Pretendia-se o estabelecimento da concórdia social e politica.

O Fontismo e a política de obras públicas


A politica de obras públicas no período da Regeneração foi designada por Fontismo devido á acção do
ministro Fontes Pereira de Melo.
Preocupado em recuperar o país do atraso económico, Fontes encetou uma politica de instalação de
infra-estruturas e equipamentos, tais como estradas, caminhos-de-ferro, carros eléctricos, pontes,
telefones, etc.

Houve três grandes vantagens/resultados do investimento em transportes e meios de comunicação:


 a criação de um mercado único nacional;
 o fomento o agrícola e industrial;
 alargamento das relações entre Portugal e a Europa evoluída.
A dinamização da actividade produtiva

Linhas de força do fomento económico

 O fomento económico assentou na doutrina livre-cambista. Fontes era defensor da redução das
tarifas aduaneiras argumentando que só a entrada de matérias-primas a baixo preço poderia favorecer
a produção portuguesa.

 A aplicação do liberalismo económico favoreceu a agricultura, onde a exploração capitalista se fazia


sentir (o objectivo era aumentar a superfície cultivada e aproveitar mais as terras):
- o desbravamento de terras;
- a redução do pousio;
- a abolição dos pastos comuns;
- a introdução de maquinaria nos trabalhos agrícolas;
- uso de adubos químicos.

 Apesar do atraso económico de Portugal em relação a outros países desenvolvidos da Europa,


registaram-se alguns progressos na indústria:
- difusão da máquina a vapor;
- desenvolvimento de diversos sectores da industria;
- aumento da população operária;
- aplicação da energia eléctrica á industria (já no século XX)

No entanto, a economia padecia de alguns problemas que impediriam o crescimento industrial:


- falta de certas matérias-primas;
- carência da população activa no sector secundário;
- falta de formação do operariado;
- dependência do capital estrangeiro;
- fraca competitividade internacional.

A crise financeira de 1880-1890

A Regeneração assentou o fomento económico sobre bases instáveis, o que originou uma crise
financeira:

 Livre-cambismo (abriu caminho á entrada de produtos industrializados a baixo preço, no entanto, não
tinha condições de competitividade, pois a industrialização foi lenta e tardia. Em resultado, a balança
comercial era negativa.)
 Investimentos externos (grande parte do desenvolvimento português fez-se á custa de investidores
estrangeiros, logo, as receitas originadas por esses investimentos não revestiram a favor de Portugal).
 Empréstimos (o défice das finanças publicas agravou-se, e devido aos sucessivos empréstimos no
país e no exterior, a divida publica duplicou. Com a falência do banco inglês, Portugal deixou de ter
meios de lidar com a divida, declarando a bancarrota (ruína financeira) em 1892.

O surto industrial
No final do século XIX, a crise obrigou a uma reorientação da economia portuguesa que apostou nos
seguintes vectores:
 retorno á doutrina proteccionista (abandonando o Livre cambismo);
 concentração industrial (através da criação de grandes companhias);
 valorização do mercado colonial;
 expansão tecnológica.

As transformações do regime politico

As principais razões que causaram a crise na monarquia foram:


 a crise do rotativismo partidário (havia uma alternância, á frente do Governo, dos principais partidos
monárquicos, o que, havendo uma falta de um programa coerente do Governo, desgastou a imagem da
política.)
 A questão do Ultimato Inglês (em tempos de imperialismo, opuseram-se dois projectos de ocupação
em África: o inglês, que pretendia unir os territórios ligando o Cairo ao Cabo, e o “Mapa cor-de-rosa”
português, que pretendia ocupar os territórios entre as colónias de Angola e Moçambique. As intenções
portuguesas chocavam com as intenções inglesas. A Inglaterra, assim, dirigiu um Ultimatum (última
ordem) a Portugal, em 1890, em que impunha a retirada das forças portuguesas da zona em disputa.
O governo português cedeu. A questão do Ultimato foi considerada um insulto ao orgulho nacional e
contribuiu para criar, entre a opinião publica, a ideia de que a monarquia era incapaz de defender os
interesses do país. Em 1891, houve uma primeira tentativa de derrubar a monarquia, porém,
falhada);

 A crise económica (o facto de se estar perante uma crise económica e irregularidades financeiras,
provocou um grande descontentamento. Apesar do fomento industrial baseado no proteccionismo, os
problemas estruturais mantinham-se como o atraso agrícola e a dependência externa.);

 A difusão da ideologia republicana (o Partido Republicano foi fundado em 1876 e rapidamente


conquistou a adesão das classes médias, vitimas da crise económica e descrentes da politica. Criticava
profundamente o rei e o governo.)

 A ditadura de João Franco (que governava com plenos poderes, pois D. Carlos dissolveu o
Parlamento. Isto apenas veio reforçar o descontentamento com a monarquia.);

 O regicídio (o assassinato do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, em 1908, mostrou,
em evidencia, o total descrédito em que havia caído a monarquia. Após um golpe tão violento, foi
impossível para D. Manuel II dar continuidade á monarquia. Foi o ultimo rei de Portugal.)

A 4 de Outubro de 1910, eclodiu uma revolta republicana, e no dia seguinte, 5 de Outubro, foi
proclamada a 1ª Republica Portuguesa.

ESQUEMA SINTESE

PORTUGAL – REGENERAÇAO (1851-1910)

FINAL DO SÉCULO XIX: SURTO


FONTISMO INDUSTRIAL (INSUFICIENTE)
(1851-1886)

- Politica de obras publicas - Proteccionismo económico


- Livre-cambismo - Concentração empresarial
- Industrialização - Expansão da revolução industrial
- Capitalismo agrícola - Comércio com as colónias

CONTEXTO FAVORAVEL À 5-10-1910


MECANISMOS DE INSTAURAÇAO
QUEDA DA MONARQUIA
DEPENDÊNCIA DA RÉPUBLICA
EM PORTUGAL
- Investimentos externos - Crise económica de 1880-90
- Competição dos países desenvolvidos - Ultimato Inglês
- Empréstimos - Difusão republicana e Regicídio

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