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Esta visão é incorreta, em minha opinião, por vários motivos. Em primeiro lugar, as
diferenças de renda média entre os diversos estados brasileiros não são tão grandes quanto
parecem. As grandes diferenças de renda e PIB per capita nominais entre os estados são
bastante reduzidas quando levamos em conta as diferenças de custo de vida entre eles.
Assim, ao examinarmos as diferenças de renda per capita entre os estados do sudeste e do
nordeste, por exemplo, observamos que, em termos nominais, os primeiros têm uma renda
em torno de duas vezes maior. Mas, quando levamos em conta as diferenças de custo de
vida entre os estados destas duas regiões, esta diferença se reduz para cerca de 56%.
Mas se a diferença de renda entre os estados não é tão grande, porque então a
pobreza é significativamente maior na região nordeste, atingindo 51% da população, do que
no Sudeste, que tem “somente” 18% de pobres? A diferença está na desigualdade de renda
que prevalece no interior destes estados. Enquanto o índice de Gini em São Paulo é 0,53,
por exemplo, no Piauí e no Rio Grande do Norte Ceará ele atinge 0,60. Assim, parece-me
que o problema não é de transferência de renda entre estados, mas sim de transferência de
renda entre as pessoas que moram dentro dos estados. O que sempre ocorreu no Nordeste é
a existência de uma elite política e econômica com rendimentos elevados convivendo com
situações de pobreza extrema.
Mas, afinal de contas, quais são os principais fatores que determinam a diferença de
renda entre as regiões? Grande parte desta diferença decorre das diferenças de capital
humano entre as populações. Enquanto a população dos estados do sudeste tem cerca de 9
anos de escolaridade (dados da PNAD de 2006), os nordestinos têm apenas 7. Como cada
ano adicional de escolaridade aumenta o salário em cerca de 11% no Brasil, ao levarmos
em conta as diferenças de educação entre os estados, o diferencial de renda entre essas duas
regiões cai para apenas 26%. Além disto, a qualidade da educação oferecida nos estados do
Nordeste é substancialmente inferior à dos estados do sudeste. No último exame de
matemática do SAEB (Sistema de Avaliação do Ensino Básico), por exemplo, a nota média
das escolas do Nordeste foi 166, enquanto no Sudeste foi de 196 (18% maior).
Diante deste quadro, qual seria então que a solução para diminuir a pobreza no
Nordeste? Será que deveríamos incentivar o nascimento de novas indústrias, fornecendo
subsídios para que elas permaneçam na região e criando zonas especiais de exportação?
Claramente não. Políticas deste tipo geram vários problemas. Em primeiro lugar, políticas
protecionistas distorcem os preços relativos, protegendo setores que de outra forma não
conseguiriam sobreviver. Além disto, o tipo de atividade escolhida para receber o subsídio
fica a cargo do estado (ou das agências de fomento), e não há garantias de que o Estado
tenha uma visão clara de que setores teriam alguma vantagem comparativa na região, o que
em alguns casos acaba gerando corrupção. Finalmente, estas políticas custam caro em
termos de recursos da sociedade, os benefícios são bastante duvidosos e as indústrias
tendem a se retirar da região assim que os subsídios terminam. Assim, a região fica
eternamente dependente dos subsídios, como no caso da Zona Franca de Manaus.
Mas o mais perverso de tudo isto é que é a elite local (donos de empresas e
fazendas) que acaba se beneficiando mais dos subsídios, sendo que a população mais pobre
continua pobre. A prova disto é que já temos quase meio século de políticas de
desenvolvimento regional, sem que a pobreza nem a desigualdade tenham se reduzido no
Nordeste de forma mais acelerada do que no resto do Brasil.