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SEM MISTÉRIOS
1ª EDIÇÃO
2005
CÓPIA É CRIME !!!
ÍNDICE
TÉCNICAS AVANÇADAS
EXEMPLOS DE MÚSICAS
DICIONÁRIO DE ACORDES
UMA PALAVRA AOS AMIGOS
Você acaba de adquirir o curso “VIOLA CAIPIRA SEM MISTÉRIOS”, que visa
ensinar os princípios básicos e intermediários da viola caipira à todos os
interessados de um modo sem complicação. É claro que todos aprendizado tem
seus percalços, porém este método tenta simplificar o ensino da viola o máximo
possível, não deixando, entretanto, que aspectos teóricos e práticos importante
passem despercebidos.
Assim como conhecer o instrumento é muito importante, conhecer sua história faz
parte do aprendizado. Pensando nisto, esta apostila contém grande material
histórico e sobre a cultura caipira e da viola.
O Autor
Rafael Gomes Mariano, violeiro, comecei tocando violão, aprendi gaita de boca e
hoje me aventuro também na viola caipira, instrumento mágico que desperta em
quem a toca ou ouve seu som pela primeira vez, um grande fascínio. A algum
tempo venho tentando desenvolver um método de aprendizado da viola que fosse
simples e direto, porém que abordasse todos os itens importantes à este
instrumento. O resultado você tem em mãos e a qualidade do método sua própria
viola, quando você estiver tocando, pode falar.
Com a invasão árabe na península ibérica por volta do ano 650 de nossa
era, toda cultura árabe foi despejada na região que conhecemos hoje por Portugal
e Espanha. Com ela vieram a música e os instrumentos típicos. O Alaúde teve
como alteração apenas o adicionamento de trastes, enquanto a Guitarra Mourisca
começou a passar por uma lenta transformação. Primeiramente seu corpo passou
a ganhar um leve acinturamento na região central, e seu bojo curvo começou a
perder esta característica ( fato que levou por volta de mil anos ) ganhando forma
plana. Já por volta do ano 1000, temos um instrumento com quatro pares de corda
chamado Guitarra Latina ( mais tarde conhecido por Guitarra Renascentista ). Por
volta do ano 1400 surgiram na Espanha dois instrumentos derivados da Guitarra
Renascentista: a Guitarra Barroca com cinco pares de corda e a Vihuela com seis
pares de cordas.
Na década de 50, surgiu um nome que iria mudar o conceito até então de
música caipira. Era José Dias Nunes que foi imortalizado com o apelido de Tião
Carreiro. Ele revolucionou o modo de tocar o instrumento, estando para a Viola o
que Hendrix foi para a Guitarra elétrica. Na década de 60, com o êxodo rural,
milhares de famílias que viviam em zonas rurais vieram para as cidades,
principalmente as capitais, e cessou-se então um ciclo de aprendizado. Até então
os ensinamentos da Viola Caipira eram passados de pai para filho. O instrumento
passou a ser colocado em um segundo plano. Também nesta década, as várias
influências de músicas de outros países, como os ritmos paraguaios, mexicanos
deram ênfase a outros instrumentos como a sanfona e os metais ( trumpetes, por
exemplo ).
A dança de São Gonçalo faz parte dos ritos difundidos pelo Catolicismo rural brasileiro. Ela
foi introduzida no Brasil e registrada pela primeira vez no século XVIII. Inicialmente era
apresentada no interir das igrejas, mas, sendo proibida, continuou nas áreas rurais.
A dança é realizada em qualquer lugar. O instrumental que a acompanha se compõe de
viola e tambor. É um ritual religioso destinado especialmente a pagar promessas. É dança
sagrada. Quando realizada para pagar promessa inclui o almoço, a procissão, e a dança
que é realizada no decorrer de um dia.
A dança de São Gonçalo consta de doze jornadas, série de versos cantados sem
interrupção. Os versos são quadras decoradas, algumas improvisadas alusivas ao culto.
O Grupo de São Gonçalo do povoado Mussuca de Laranjeiras, é formado unicamente por
homens (negros na sua maioria).
UM POUCO DE APRENDIZADO TEÓRICO DE MÚSICA
Como este método não pretende transformar o aluno em um expert em teoria musical,
iremos aqui abordar somente o necessário para o entendimento do restante do curso. E
como já foi dito, este método tende a ser simples e fácil, a teoria aqui apresentada também
será bastante sucinta.
Desde pequenos já aprendemos. Em música temos 7 notas musicais: DO, RÉ, MI, FÁ,
SOL, LÁ, SI. Porém estas são notas MAIORES. Além disto, existe um sistema em que
cada nota é representada por uma letra, sendo: DO (C), RÉ (D), MI (E), FÁ (F), SOL (G),
LÁ (A), SI (B).
Em música, cada uma destas notas possue uma infinidade de variantes, como os
sustenidos, os bemóis, as sétimas, os aumentados, dentre outros. Vamos à algumas
definições:
Bemol (b): acontece quando diminuímos meio-tom de uma nota. Se temos, por exemplo,
um lá e diminuímos meio tom, encontramos o lá bemol (Ab).
Sétima (7): usada normalmente na preparação para um refrão, a nota com sétima é
representada pelo acorde maior adicionado da sétima nota deste acorde maior contando a
partir deste acorde raiz, ou seja, se temos o mi maior, devemos adicionar ao acorde a nota
ré (D), ficando a representação da nota, E7. Sendo a nota MI o primeiro acorde da lista, o
RE se torna a sétima nota da lista, seguindo-se a hierarquia já proposta acima (DO, RE,
MI, FÁ, SOL, LÁ, SI, DÓ).
A viola caipira, como já sabemos, é um instrumento que permite ao músico uma liberdade
de criação muito grande, com a possibilidade de no mesmo instrumento se obter inúmeros
sons devido às múltiplas afinações que a mesma suporta. Porém, como o intuito desta
apostila é mostrar a viola caipira “sem mistérios” somente será abordada a afinação
conhecida como CEBOLÃO em MI, que é a mais utilizada atualmente, pois dá uma
sonoridade agradável à viola e mantém a tensão das cordas de um modo também
agradável de se tocar.
Deste modo, acompanhando a figura abaixo, vemos que a viola caipira na afinação
cebolão em MI, é composta da seguinte configuração:
(Deve-se ter consciência que a contagem das cordas é feita de BAIXO para CIMA, ou seja,
as primeiras cordas são as primeiras de baixo)
Todo ritmo, tem uma batida diferente. Isto também não quer dizer que uma batida que se
encaixe, mas não seja própria do ritmo, possa ser usada em uma música qualquer. Irei
abordar neste capítulo os ritmos mais comuns na viola caipira.
Para este capítulo ser estudado de modo conveniente, deve-se aliar as figuras abaixo com
o vídeo sobre os ritmos. As legendas das figuras significam: P (POLEGAR), I
(INDICADOR) E R (TODOS OS DEDOS DA MÃO). Quando se observa a legenda I, pode-
se padronizar sempre utilizar TODOS os dedos da mão, o que confere um som mais
“cheio”. As flechas para cima e para baixo servem para se saber em que direção a mão
deve ir.
PAGODE
CURURU
TOADA
VALSA
Como a grande maioria das músicas sertanejas raiz são de origem popular, há um
predomínio de grande simplicidade nas mesmas. Isto quer dizer que, quase em sua
totalidade estas músicas são compostas normalmente de 2 ou 3 acordes aparecendo no
máximo 4 acordes.
Assim, o estudante sabendo os 4 acordes mais comuns estará pronto para ter em sua
mente um repertório enorme.
Estes acordes são: MI Maior, SI Maior, Lá Maior e Ré Maior. Por convenção e até como
modo de “enfeitar” certas músicas, o Mi Maior com Sétima acaba entrando neste “time” de
acordes importantes.
O estudante conseguindo entender a figura abaixo, tocar a viola caipira se tornará mais
fácil ainda:
Tocando a viola caipira com todas as cordas soltas temos o mi maior. Tocando com uma
pestana no primeiro traste (o dedo indicador sobre todas as cordas do espaço) temos o fá
maior. Com uma pestana sobre o segundo traste temos o fá sustenido. Com uma pestana
sobre o terceiro traste temos o sol maior e assim por diante. É só acompanhar a gravura e
tocar!
D (RÉ MAIOR)
Ao se tocar diferentes ritmos na viola caipira, o estudante se depara com sons que
aparentemente são difíceis de se fazer na viola, como a rabanada (muito comum nas
introduções de pagodes), o harmônico (comum nas introduções de modas de viola) dentre
outros. Esta parte do curso visa desmistificar esta crença e mostrar o quanto é fácil e
simples executar tais efeitos, tudo isto sem mistérios!
A RABANADA
A rabanada é uma técnica muito utilizada nos pagodes de viola, onde aparece com grande
freqüência e também com muitas variantes. A forma mais comum será abordada neste
capítulo. Utiliza-se com a mão direita o ritmo de pagode (que você já deve estar dominado)
e com a mão esquerda se efetua os acordes (no total de 3) da tablatura abaixo, tal qual se
observa nas fotos abaixo e no vídeo deste capítulo.
O harmônico é um som suave muito presente no inicio e fim de pagodes e modas de viola,
utilizado como introdução ou preparação para entrada na música. Deve-se colocar de
forma leve os dedos no espaço de nº 12 de todos os pares de cordas da viola caipira e
tocar, também suavemente todas as cordas ao mesmo passo que se tira os dedos do
espaço 12, tal qual pode se observar na figura abaixo e no vídeo referente à este capítulo.
PREPARAÇÃO PARA MODA DE VIOLA
Este efeito é muito utilizado nas modas de viola antes de se iniciar a cantoria. Utilizando-se
na mão direita o ritmo de pagode que você já aprendeu, efetue os acordes abaixo, tal qual
no vídeo “Técnicas Avançadas”. Repare que esta técnica utiliza grande número de
pestanas (observe os “7” em todas as cordas da viola caipira).
(O acorde utilizado)
SOM DE ANIMAL
Efeito muito utilizado nas introduções de pagodes, a palma da mão direita fica pressionada
sobre as cordas antes do orifício da viola (como na figura abaixo), porém sem dar muita
pressão, conseguindo-se assim um som abafado.
Porém, devido aos direitos autorais, nos exemplos de músicas não foi
possível colocar a música inteira tocada, mesmo estas estando
destinadas somente para os estudos. Porém as músicas escolhidas são
de grande conhecimento do público em geral e não haverá problemas
em distingui-las e lembrar de sua melodia. Bom proveito !
PAGODE EM BRASÍLIA – INTRODUÇÃO
RITMO: PAGODE
E
Quem tem mulher que namora
B7
quem tem burro impacador
E B7
Tem prisioneiro inocente no fundo de uma prisão
E
tem muita sogra increnqueira e tem violeiro embruião
E7 A
pro prisioneiro inocente eu arranjo advogado
B7 E
e a sogra increnqueira eu dou de laço dobrado
B7 E (B7, A , E )
e o violeiro embruião com meus versos estão quebrados
E
Bahia deu Rui Barbosa
B7
Rio Grande deu Getúlio
E B7
No Estado de Goiás meu pagode estou mandando
E
No Bazar do Vardomiro em Brasília o soberano
E7 A
No repique da viola balancei o chão goiano
B7 E
Vou fazer a retirada e despedir dos paulistano
B7 E (B7, A , E )
Adeus que eu já vou me embora que Goiás tá me chamando
RITMO: CURURU
Chico Mineiro
Tom: E
E B7
Fizemos a última viagem
E
Foi lá pro sertão de Goiás.
B7
Foi eu e o Chico Mineiro
E
também foi um capataz.
A
Viajemo muitos dia
B7 E
pra chegar em Ouro Fino
C#7 F#m
aonde nós passemo a noite
B7 E
numa festa do Divino.
E B7
A festa estava tão boa
E
mas antes não tivesse ido
B7
o Chico foi baleado
E
por um homem desconhecido.
A
Larguei de comprar boiada.
B7 E
Mataram meu companheiro.
C#7 F#m
Acabou-se o som da viola,
B7 E
acabou-se o Chico Mineiro.
E B7
Depois daquela tragédia
E
fiquei mais aborrecido.
B7
Não sabia da nossa amizade
E
porque nós dois era unido.
A
Quando vi seus documento
B7 E
me cortou o coração
C#7 F#m
de sabê que o Chico Mineiro
B7 E
era meu legítimo irmão.
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