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Neste âmbito foram construídas, a fundo perdido, infra-estruturas essenciais, ligadas, por
exemplo, ao saneamento básico ou à recolha e tratamento de resíduos, equipamentos de apoio à
actividade produtiva e equipamentos colectivos, ligados ao desporto, lazer e cultura, assim
como foram levadas a cabo inúmeras acções de reabilitação e renovação urbana.
O reforço da acessibilidade e da
articulação da rede urbana pressupõe
também a especialização funcional, valorizando a complementaridade, de modo a permitir uma
gestão mais eficaz dos recursos disponíveis, sobretudo no que se refere às funções mais raras e
especializadas (Doc. 1).
Adaptado de: Portugal: Política de cidades POLIS XXI 2007-2013, MAOTDR, 2008
A inserção na rede urbana europeia
Integrado na União Europeia e num mundo cada vez mais global, importa equacionar a
capacidade de afirmação, de projecção e de competição que Portugal detém ao nível
internacional e principalmente ao nível europeu.
Uma vez que são os centros urbanos que dinamizam as regiões onde se integram e que
essa dinamização é tanto maior quanto maior a sua capacidade polarizadora, isto é, de
atracção de população e actividades económicas, facilmente se depreende que o
desenvolvimento do país e a projecção da sua imagem no exterior depende de uma rede
urbana policêntrica, com um número equilibrado de centros urbanos de diferentes
dimensões, distribuídos harmoniosamente pelo território.
A afirmação internacional exige,
igualmente, a existência de cidades
que exerçam funções de nível
superior, que lhes permita
desempenhar um papel com
relevância ao nível económico,
tecnológico, cultural e científico,
no cenário internacional.
Portugal não possui nenhuma
cidade com capacidade de
afirmação a esse nível. Quer
Lisboa quer o Porto ocupam
posições secundárias nesse
contexto e essa situação tende a
agravar-se com o alargamento da
UE a leste.
Algumas cidades dos novos países
aderentes apresentam, nesta
matéria, mais possibilidades para
se afirmarem na primeira linha da
rede urbana europeia do que as
cidades portuguesas, face a uma
maior proximidade geográfica ao eixo central de desenvolvimento europeu [FIG. 5].
Lisboa: demasiado grande para o país mas excessivamente pequena a nível internacional?
A ideia de que a área de Lisboa concentra um volume exagerado de recursos nacionais - sejam eles humanos ou
institucionais, físicos ou imateriais - contrasta, paradoxalmente, com os resultados de diversos estudos que lhe
atribuem uma posição de alguma modéstia em termos internacionais: a capital do país ocupará uma posição de 5."
ou 6.8 ordem na hierarquia urbana europeia e um lugar de segundo nível, próximo de Barcelona e atrás de Madrid,
no seio da rede ibérica. Ou seja, uma visão internacional de Lisboa sublinha a sua pequenez, não a sua excessiva
dimensão. Por outro lado, é sabido que as novas oportunidades e exigências associadas à adesão de Portugal à
Comunidade Europeia beneficiaram sobretudo a capital do país, através das dinâmicas públicas e privadas que por
essa via foram reforçadas ou mesmo criadas de novo. No final do século XX, Lisboa é a única cidade portuguesa
onde é possível reconhecer, com significado, as tendências mais marcantes dos processos contemporâneos da
globalização, das migrações internacionais ao sistema financeiro, das práticas culturais à sociedade da informação.
Pode pois afirmar-se que, de um ponto de vista funcional, Lisboa é grande ao nível nacional, periférica em termos
europeus e quase inexistente no mundo global.
Fonte: João Ferrão - "Rede urbana portuguesa: uma visão internacional (I)", Janus 2001
A hierarquização das cidades na rede internacional avalia-se através de vários critérios, entre os
quais se salienta o total de população, o número de feiras e exposições de cariz internacional
realizadas, o tráfego aéreo, o desenvolvimento de actividades de carácter cultural, a presença de
sedes de multinacionais, entre várias a enunciar.
A análise dos vários critérios permite concluir que as cidades portuguesas não apresentam
capacidade de afirmação na rede internacional. Como principal causa desta situação,
aponta-se, tradicionalmente, a perificidade do nosso território, situação que pode,
entretanto, alterar-se, com o desenvolvimento dos transportes e das telecomunicações. A
localização geográfica de Portugal no extremo sudoeste da Europa poderá transformar-se
numa vantagem comparativa, se o território nacional passar a funcionar como uma porta
de comunicação entre a Europa e o resto do Mundo. Portugal poderá transformar-se
numa plataforma intercontinental de prestação de serviços, nomeadamente ao nível dos
transportes, capaz de atrair investimentos, actividades, população.
Para projectar as principais cidades portuguesas na rede internacional, quer ao nível ibérico
quer europeu ou até mundial, é necessário continuar a investir, de forma a tomá-las mais
atractivas e dinâmicas. Da mesma forma, as cidades de média dimensão devem continuar a ser
objecto de programas e projectos, de preferência inovadores, que contribuam para aumentar a
sua dinâmica e o seu papel polarizador na região, reforçando, dessa forma, a coesão nacional. A
rede de transportes deve também continuar a ser melhorada, permitindo uma maior ligação
entre os centros da rede nacional e os da rede internacional.
As parcerias entre cidades e o mundo rural
O espaço urbano e o espaço rural são indissociáveis, já que se organizam e estruturam o
território através do estabelecimento de um conjunto de relações de complementaridade
funcional.
A ideia de um mundo rural não agrícola que importa preservar - ou que se vende - em
virtude do seu valor patrimonial vem alterar, uma vez mais, as relações urbano-rurais. Pelo
menos ao nível simbólico e do discurso político, a "cidade", ou melhor, a franja mais
escolarizada da população urbana, recupera o velho mundo rural, crescente mente reduzido,
no entanto, a um dos elementos da velha tetralogia que tradicionalmente o caracterizou: a
paisagem. Esta perspectiva vai deixando, ainda que de forma implícita, um indício claro: é
na procura urbana que parece residir o essencial da evolução futura das áreas rurais onde a
actividade agrícola orientada para o mercado não alcança uma expressão significativa.
Fonte: João Ferrão - "Rede urbana portuguesa: uma visão internacional (I)", Janus 2001
O crescimento harmonioso do país passa pela redução das disparidades internas e estas pelo
desenvolvimento das áreas rurais, que se desejam mais equipadas e infra-estruturadas, de forma
a oferecer à população residente condições de vida mais atractivas e com mais qualidade. É
também fundamental promover a implantação de serviços e potencializar os recursos
endógenos, de modo a aumentar a dinâmica económica destes espaços.
A valorização das áreas rurais, a diminuição das assimetrias e o desenvolvimento do país
assentam numa articulação eficiente entre políticas de ordenamento do território e de
conservação da natureza, de desenvolvimento rural, de desenvolvimento regional e de
desenvolvimento urbano.
Por comparação com o passado recente, torna-se evidente que a reformulação das relações
que se estabelecem entre os mundo rural e urbano depende, crescentemente, da capacidade de
identificar e concretizar soluções organizacionais adequadas.
(. .. ) Esta abordagem implica uma visão de conjunto das áreas geográficas de intervenção,
uma forte capacidade de diálogo institucional e ainda a existência de condições humanas,
técnicas e financeiras de monitorização das soluções concretizadas.
A ênfase atribuída à componente organizacional e institucional impõe, ainda, que se
abandonem as abordagens tradicionais baseadas exclusivamente numa óptica de procura ou
de oferta.
(. .. ) A alternativa a estas duas abordagens reside na gestão da procura. Importa alterar
atitudes e comportamentos por parte das pessoas e das organizações e melhorar as condições
reais de acesso, não apenas físico (distância geográfica e distância-tempo) mas também
económico (distância-custo) e social (distância cultural), a infra-estruturas, equipamentos e
serviços não locais mas de proximidade sub-regional ou até regional.
Fonte: João Ferrão - "Rede urbana portuguesa: uma visão internacional (I)", Janus 2001
Nas grandes cidades tem-se assistido, nos últimos anos, à realização de feiras de produtos
biológicos e à abertura de lojas da especialidade.