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Marilena Chaui
ConviLe à Filosofia

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Em certas sociedades tribais,o sistema de alianças en"


ara todoS. e uma natureza humana diferenciada por es,
Pédes, à maneira da diferença entre várias espécies de tre as tribos, que determina as relações de parentesco que
organizam e conservam a comunidade, exige que, ao nas·

o mundo da prática :lantaS ou de animais: uma natureza feminina, uma mas·


culina, uma brasileira, uma francesa, uma japonesa, uma
negra,uma branca, uma judaica, uma ariana, ete.

mono
Emoutras palavras, a natureza teria feito o gênero hu·
universal e as espécies humanas particulares, de mo·
cer, a criança seja levada à irmã do pai, que deverá respon-
sabilizar·se pela vida e pela educação da criança, Em ou·
tras, o sistema de parentesco exige que a criança seja
entregue à irmã da mãe. Nos dois casos, a relação princi·
pai da criança é eSlabelecida com a tia e não com a mãe
do que certos sentimentos, comportamentos, Idéias e va·
biológica, Se assim é, como fica a afirmação de que as mu-
lares seriam os mesmos para todo o gênero humano
lheres amam naturalmente os seus filhos e que é desnatu-
(seriamnaturais para todos os humanos) enquanto outros
rada a mulher que não demonstra esse amor ficando com
variariam para cada espécie (ou sexo, ou raça, ou tipo, ou
os filhos e cuidando deles?
grupO,ou classe social). Dizer que alguma coisa é natural
Em certas sociedades, considera·se que a mulher é im-
ou pornatureza significa dizer que essa coisa existe neces-
sariamente (ou seja, não pode deixar de existir nem pode pura para lidar com a terra e com os alimentos. Por esse

serdiferente do que é) e universalmente (em todos os tem· motivo, o cultivo da terra, o preparo dos alimentos e oscul-
dados com a casa são da responsabilidade dos homens,
pos e lugares) porque ela é efeito de uma causa necessá·
ria e universal. Essa causa é a natureza. que é sempre a cabendo às mulheres a guerra e o comando da comunida-
:;j mesmaem toda parte. Significa dizer, portanto, que tal cai· de. Se assim é. como fica a frase que afirma que o homem
,
I,",
sa,por ser natural. não depende da ação e intenção dos se-
é forte, feito para o que exige força e coragem, para o co-
(~' reshumanos e sim das operações necessárias e universais
mando e a guerra, enquanto a mulher foi feita para a ma·
I~ realizadas pela natureza. Assim como é da natureza dos
ternidade, a casa, o trabalho doméstico, as atividades de
"

um ser frágile sensível? Ou seja, se os homens eas mulhe-


corpos serem governados por uma lei natural, a lei da gra-
,rI
I res possuem certas características naturais, estas devem
vitação universal, como é da natureza da água ser campos'
ser obrigatoriamente necessárias e universais. e as mes-
ta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, ou co-
mas em todos os tempos e lugares (pois a natureza opera
mo é da natureza da abelha produzir mel e da roseira
em toda parte e em todo tempo sempre da mesma manei-
produzir rosas, também seria por natureza que os homens
ra), de sorte que será impossível que uma sociedade atri·
sentem. pensam e agem; e por isso haveria uma natureza
bua aos homens tarefas que uma outra sociedade consi-
humana. Que aconteceria com as frases que mencionamos
dere naturalmente femininas, e vice·versa, que atribua às
acima se mostrássemos que, havendo uma natureza hu-
mulheres tarefas que uma outra sociedade considere na-

Ii
mana. algumas delas são contraditórias e outras não cor·
turalmente masculinas.
respondem aos fatos da realidade?
Assim. por exemplo, dizer que "é natural chorar na tris- Sabe-se que os colonizadores europeus brancos, ao
teza" entra em contradição com a idéia de que "homem instituírem a escravidão na América, escolheram os africa-
não chora". pois, se isso fosse verdade, o homem teria de nos como escravos preferenciais por considerarem que os
ser considerado um ser que não possui natureza humana negros possuíam extraordinária força física. grande capa·
CAPITULO 1
e que escapa das leis da natureza, já que chorar é conside· cidade de trabalho e muita inteligênCia para realizar tare·
e racionais, feitos para o comando e para a vida pública",: '
rado natural. O mesmo se passa com as frases sobre o me- fas com objetos técnicos, como o engenho de açúcar.
A cultura donde, como conseqüência, esta outra frase: "Fulana nem '
Com freqüência ouvimos dizer: Veja
"Os homens sãoque
fortes
parece mulher. Veja como se veste! o emprego I'
ar·_" do e a coragem: nelas é dito que o medo é natural, mas que Se assim é, se a escravidão dos africanos foi instituI·
uma certa pessoa é admirável porque não tem medo. Nes· da por causa de sua grande capacidade e inteligência pa·
te caso. estamos diante de uma contradição. De fato, fala- ra o trabalho da agricultura e do engenho de açúcar, como
Natureza humana? se de uma coisa natural- o medo - e se diz que ele po- fica a afirmação de que a natureza fez os negros indolen"
os judeus são naturalmente avarentos, os árabes são na·. '
de deixar de existir ou de acontecer - uma pessoa tes, preguiçosos e malandros?
turalmente comerciantes espertos, os franceses são natu', •
E muito comum ouvirmos e dizermos frases do tipo admirável não tem medo - mas isso é impossível, pois tu- Ora. os historiadores brasileiros mostram que a abo·
ralmente
lentes porinteressados em sexo
natureza, os pobres e os
são ingleses são,
naturalmente por na· ","
violentos, c,

"Chorar ê próprio da natureza humana" e "Homem não ranjou!". Não ê raro escutarmos que os negros são indO'" do o que é natural é necessário. ou seja, acontece sempre lição da escravatura (pela qual muitos negros lutarar" e
tureza. fleumáticos. •••
chora". Ou então "E da natureza humana ter medo do des· necessariamente. uma vez que o natural é o que não de· morreram) só foi realizada pelo Estado brasileiro quan:)
conhecido" e "Ela é corajosa, não tem medo de nada". Tam" Frases como essas, e muitas outras, pressupõem. por' pende de uma intervenção ou de uma decisão dos seres a elite econômica considerou mais lucrativo o uso da r.:">:-
humanos. Além de ser contraditório dizer que o medo é na· de-obra imigrante para um certo tipo de agricultura (; c,·
bém é comum a frase "As mulheres são naturalmente frá-
geis e sensíveis, porque nasceram para a maternidade", todos
um lado.
os tempos
que existe
e lugares
uma natureza
e, por outro,
humana,
que existe
a mesma
uma em,.
di:
ferença de natureza entre homens e mulheres. pobres e ri- ~
1f' tural e que há pessoas que não têm medo, ainda parece·
mos ter admiração por quem, misteriosamente, escapa da
fé) e para a Indústria nascente. Foi, portanto, por riEÔ0;
econômicas que a classe dominante brasileira do séc!.>l0
bem como esta outra, "Fulana é uma desnaturada, pois não cos, negros, índios, judeus, árabes, franceses ou Ingleses. lei da natureza. que consegue não ter ou não sentir algo XIX admitiu a abolição da escravatura. o que acarretw a
tem o menor amor aos filhos". Haveria, assim, uma natureza humana universal. a mesma natural, Isto ê; medo. substituição dos escravos africanos pelos imigrantes e'l-

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llliP'"HJ,J':1 o mundo da
-,
priliq .
J
-
A (ultura

I
mentos fixos entre as coisas, isto é, de relações de cau-
ropeus. A abolição fez com que o mercado de trabalho fos· fala·se em tere não tercultura, serou não ser culto. A pos- sa" como "destinada à massa", e o mesmo pode ser dito
se ocupado pelos trabalhadores brancos imigrantes e que salidade entre elas. Em outros termos, a natureza é a oro
se de cultura é vista como algo positivo, enquanto "Ser 111- .dacultura de elite. ou seja, pode significar "originada na
dem e a conexão universal e necessária entre as coisas,
a maioria dos escravos libertados ficasse sem emprego, elite" ou "destinada à elite".
sem habitação, sem alimentação e sem nenhum direito so· finalmente, a última frase que mencionamos como expressas em leis naturais. Trata-se da natureza tal como
cial, econômico e político. Em outras palavras, os ex·escra· estudada pelas ciências ditas naturais (fisica. química,
posto
entrever
ou que
cargo,
"ter pois
cultura"
"não habilita
ter cultura"
alguém
significa
a ocupar nãoalgum
estar •. ; exemploapresenta um sentido totalmente diverso dos ano
vos foram impedidos de trabalhareomo trabalhadores li· culto" é considerado algo posição
negativo.ouAfunção.
segundaNessas
frase deÍlli biologia, astronomia, ete.);
preparado para uma certa duas :.• teriores no que toca à palavra cultura. fala·se agora na cul·
vres e foram mantidos como eram em estado de cativeiro, primeiras frases, a palavra cultura sugere também prestl. J tura dos guaranis e esta aparece em duas manifestações: • tudo o que existe no Universo sem a intervenção da von-
isto é, sem direitos. Não houve preguiça natural nem indo· a guerra e a religião (que. portanto, nada têm a ver com a tade e da ação humanas. Nesse sentido. natureza ou na-
lência natural e sim condições sociais e econômicas que mesmo que "ser importante", "ser superior". possede conhecimentos. com atividade artística ou com a tural opõe-se a artificial, artefato, artifício, técnico e tec-
causaram desemprego, e falta de garantias para a sobrevi· Ora, quando passamos à terceira frase, a cultura já não' divisãosocial entre massa e elite). Nessa última frase, a cul· nol6gico. Natural é tudo quanto se produz e se desenvolve
vência e impedimento de condições de vida dignas (mora' parece ser uma propriedade que o indivíduo possa ter, mas' . tura aparece não s6 como algo pr6prio dos guaranis. mas sem nenhuma interferência humana;
dia, vestuário, alimentação, instrução escolar, etc.). gio e respeito, como se "ter cultura" ou "ser culto" fosse o " também como alguma coisa que não se limita ao campo
a qualidade de uma coletividade - franceses, alemães,·' • conjunto de tudo quanto existe e é percebido pelos hu·
Poderíamos examinar muito do que dizemos ou ouvi· dosconhecimentos e das artes, pois se refere à relação dos manos como o meio ambiente no qual vivem. A natureza,
brasileiros. Também é interessante observ~r que a coleU.,••
mos em nosso cotidiano notando o quanto naturalizamos vldade aparece como um adJetiVOqualificativo para dislin. 'ft guaraniscom o sagrado (a religião) e com o conflito e amor· aqui, tanto significa o conjunto das condições flsicas em
os seres humanos, naturalizando seus comportamentos, te (a guerra). que vivemos como as coisas que contemplamos com
guir tipos de cultura: a francesa, a alemã, a brasileira. Nes. ~
Idéias, valores, formas de viver e de agir. Veríamos então sa frase, a cultura surge como algo que existe em si e por .. Vemos, assim, que passar da natureza à cultura quan- emoção (a paisagem. o mar, o céu, as estrelas, terremo·
como, em cada caso, os fatos desmentem tal naturaliza- do ralamos dos seres humanos não resolve nossas dificul· tos, eclipses, tufões, erupções vulcãnicas, etc.). A nature·
ção. Veríamos como os seres humanos variam em conse· si mesma e que pode ser comparada (cultura superior, cul· »;. dades de compreensão desses seres, uma vez que, agora, za é o mundo visrvel como meio ambiente e como aquilo
i, qüêncla das condições sociais, econômicas, politicas, his- Além disso, na frase, cultura aparece representada por :. precisamos perguntar o que queremos dizer quando afiro que existe fora de n6s e que provoca Idéias e sentimentos
I ~. t6ricas em que vivem. Veríamos que somos seres cuja ação uma atividade artística, a música popular. Isso permite es" . mamos que os seres humanos são seres culturais, visto emn6s;
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determina nosso modo de ser, agir e pensar e que a Idéia quea palavra cultura possui muitos sentidos, alguns deles
• para as ciências contemporãneas, a natureza não é ape'
de um gênero humano natural e de espécies humanas na· duas primeiras frases: contradit6rios entre si.
nas a realidade externa. dada e observada, percebida di-
turais não possui fundamento na realidade. Veríamos que 1. de fato, a terceira
tabelecerduas frase.
relações como a primeira,
diferentes da terceiraidentifica cul· ~.
frase comas·'
a idéia de natureza humana como algo universal, intempo-
tura inferior).
tura e artes (entender de arte e literatura. na primeira .;
I retamente por n6s, mas é um objeto de conhecimento
elaborado pelas operações científicas para explicar a rea·
ral e existente em si e por si mesma não se sustenta. Por frase; a música popular brasileira, na terceira); • Natureza e cultura Iidade externa.
quê? Porque os seres humanos são culturais ou hist6ricos.
2. no entanto, algo curioso acontece quando passamos"
No pensamento ocidental, natureza possui vários sen· Quanto à cultura, dois são seus significados iniciais:
meiras "culto" e "inculto" surgiam como diferençass~, tidos: 1. Vinda do verbo latino calere. que tem o sentido de "cul·
Culto, incrJto: cultura cials. Num país como o nosso, dizer que alguém é Incul·: : • princfpio devida ou princfplo ativo que anima e movimen·
tlvar", "criar", "tomar conta" e "cuidar". cultura signifi-
to porque é semi·analfabeto deixa transparecer que' ta os seres. Nesse sentido, fala·se em Mdeixar agir a na· cava, na Antiguidade romana. o cuidado do homem com
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das duas primeiras frases à terceira, pois nas duas Prll·. _.
"Pedro é muito culto, conhece várias línguas, entende
de arte e de literatura."

"Imaginei ~ claro que o luís não pode ocupar o cargo


sociais socialmente privilegiadas, enquanto a incultura
está do lado dos não-privilegiados socialmente, portan·
li tureza" ou "seguir a natureza" para significar que se tra-
ta de uma força espontãnea, capaz de gerar e de cuidar
de todos os seres por ela gerados. ~ este o sentido da pa·
a natureza - donde agricultura. Tinha o sentido talO'
bém de "cuidado dos homens com os deuses" - dono
de a palavra culto para se referir aos ritos religiosos -.
e o de "cuidado com a alma e o corpo das crianças". com
que pleíteia. Não tem cultura nenhuma. ~ ~emi·analfabeto!" to. do lado do povo e do popular. Entretanto, a terceira • lavra grega physis com a qual, como vimos, se Inicia a In·

l..
sua educação e formação - donde a palavra puericul·
"Não creio que a cultura francesa 01.: alemã sejam suo frase afirma que a cultura brasileira não é inferior à fran· iA' vestigação filos6fica;
tura (em latim. puer significa "menino" e puera. "meni·
periores à b, asilelra. Você acha que há al;:uma coisa supe- cesa ou à alemã
estaríamos por de
diante causa
umade nossa músicaComo
contradição? popular. Não jti;
poderia • essência pr6pria de um ser ou aquilo que um ser é neces· na"). Nessa última acepção, cultura era o cultivo ou a
rior à nossa música popular?"
"Ouvi urna conferência que criticava 3 cultura de mas·
haver cultura popular (a música), se o popular é inculto?
Já a quarta frase (a que se refere à conferência sobre
f'
4i
sariamente em si mesmo. Nesse aspecto, a natureza de
alguma coisa é o conjunto de qualidades. propriedades
educação do espírito das crianças para tornarem·se
membros excelentes ou virtuosos da sociedade pelo
sa, mas me pareceu que a conferencista defendia a cultu· (: .:..t.-;~:;:.,:;;)qi.i\;: ~ dzfinem pr=;:,r!amtnt~ Nocasodosse- aperfeiçoamento e refinamento das qualidades naturais
ra de elite. Por isso, não concordei inteiramente com ela." re~vivos. é sua lndole ou disposição Inata, espontãnea; (carãter,lndole. temperamento). Com esse sentido, cul·
lavra cultura. Nela não se trata mai, de pessoas cultas ou .•
"O livro de Silva sobre a cultura dos guaranis é bem In· e, no caso dos seres h-manos, essa disposição Inata é tura correspondia ao que os gregos chamavam de pai·
teressante. Aprendí que o modo como entendem a religião incultas nem de uma coletividade que possui uma ativida· . .:. seu l.:mper~", ••~to ou seu carãter. Aqui, natural ou Inato dila, a formação ou educação do corpo e do espírito dos
de cultural que possa ser comparada à de outras. Agora,
e a guerra é multo diferente do nosso." cultura
estamosdediante
massa)
da introduz um no,l.)
idéia de que numa :;ignificado para a pa'l
mesma coletividade i opõem·se ao que é acidental (o que pode ser ou deixar membros da sociedade (de paidi/avem
pedagogia).
a nossa palavra

Essas frases e muitas outras que fazem parte do nos- ou numa mesma sociedade pode haver dois tipos de cul· : . de ser) e ao que é adquirido por costume ou pela re:J~ão
com o ambiente e com as circunstãnclas de vida; Nessa primeira acepção a cultura era o aprimoramen·
so dia·a-dia indicam que empregamos a palavra cultura (ou tura: a de massa e a de elite. "
seus derivados, como culto, inculto) em sentidos muito di· A frase não nos diz oque é a cultura (seria posse de co: • organização universal e necessãria dos seres segundo to da natureza humana pela .educação em sentido amplo,
ferentes e, por vezes, contradit6rios. nheclmentos ou seria atividade artística?). Entretanto, i·. uma ordem reglda por leis universais e necessãrlas. Nes· Isto é, como formação das crianças não s6 pela alfabetl·

frase nos informa sobre uma oposição entre formas de cul· se sentido a natureza se caracteriza pelo ordenamento zação mas também pela Iniciação à vida da coletividade
Na primeira e na segunda frase que mencionamos aci· .'!!"
dos seres, pela regularidade dos fenômenos ou dos fa· por meio do aprendizado da dança e da ginástica (para a
ma. cultura é identificada com a posse de certos conheci· tura, dependendo de sua origem e de sua destinação. pois'
mentos (línguas, arte, literatura, ser alfabetizado). Nelas, cultura de massa tanto pode significar "originada na mas- tos, pela freqüência, constãncla e repetição de encadea· educação ou formação do corpo, preparando'o para as

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omundOd.~' dades racionais. A partir de então. a separação entre reino
atividades da guerra). e de exercícios mentais, com o À medida que este segundo sentido foi prevalecendo.
cios. as artes, a religião. as ciências, a filosofia. a vida .", da necessidade e reina da liberdade foi interpretada como
aprendizado de gramática. poesia, orat6ria ou eloqüên· moral e avida política ou o Estado. Torna·se sinônimo de ~. além de civilização. cultura passou também a significar a
separação entre natureza e cultura.
cia. história. cíênc ias e filo>ofi,l (para,' educação ou for· relação que os seres humanos socialmente organizados
mação da espírita. preparando-o pare,as atividades da (Isto é. civilizados) estabelecem com o tempo e com o es- Hegel. no entanto. compreendeu essa separação de
sultados da formação·educação se manifestam com', : maneira bastante diversa. Para acompanharmos seu pen-
política). A pessoa culta era a pessoa fisicamente bem pre- civilização porquc os pcnsadores julgavam que os re- ~;I:, paço,com os outros seres humanos e com a natureza. re·
maior clareza e nitidez nas formas de organização da vi-.,'
parada, moralmente virtuosa. politicamente consciente e laçõesque se transformam no tempo e variam conforme as samento precisamos. por um momento, retomar a noção
da social e política ou na vida civil. pois a palavra CiVIl'"
condiçôesdo meio ambiente. Agora. cultura torna-se sinô· de dialética. que vimos em outras Unidades deste livro.
participante. intelectualmente desenvolvida pelo conhe· vem do latim cives, que quer dizer "cidadão". de onde J.
cimento das ciências, das artes e da filosofia. nimo de história.

Podcmos observar quc.nessc primeiro scntldo, cul·


vem civitas. a cidade·Estado. donde civilização. j. A dlstlnçlo entre natureza e cultura passa. então, ale· A história hegeliana
tura e natureza não se opunham. Os humanos são con· var em conta a maneira como o tempo se realiza: na natu·
Platão e !\rlstóteles. divergindo quanto ao papel da
reZao tempo é repetição (o dia sempre sucede a noite. as
siderados seres naturais, embora dife, '.:,les dos animais teriormente,
Nessa scgunda
a oposição
acepçáo
entretem
natureza
inicio aeseparação
cultura. Os
e. peq.
poSo, 'I' dialética no conhecimento. concordavam porém num pon-
e das plantas porque são dota: , de linguagem e de sador~s consideram que há entre o homem e a natureza ';~, estações do ano se sucedem sempre da mesma maneira.
to: a dialética é o lógos (isto é. o pensamento e o discurso
pensamento. isto é. porque possuem espírito. Sua na· as espécies vegetais e animais se reproduzem sempre da
uma .d~ferença
cessaria essencial:
ou de acordo com esta opera.arias
leis nec~' por causalidade ne- ~
de causa e efei- G. expressos numa proposição ou num juízo) dividido em pre-
tureza, porém. não pode ser deixada por conta pr6pria, mesmamaneira. os astros realizam sempre os mesmos mo·
to, mas o homem é dotado:o ::uerdade e razão, agindo por, !, vimentos. etc.); o tempo da cultura, o da transformação (is· dicados opostos ou contrários. como. por exemplo: "a co'
porque tenderá a ser agressiva, destrutiva. ignorante.
escolha, de acordo com valores e fins estabelecidos porele ~ to é. das mudanças nos costumes, nas leis. nas emoções, ragem é uma virtude" e"a coragem não é uma virtude"; "o

i
precisando por isso ser educada, formada, cultivada de homem é um animal racional" e"o homem não é um ani·
acordo com os ideais de sua sociedade. A cultura é uma pr6prio. Porconseguinte a natureza é o campo da necessi- .~ noSpensamentos. nas técnicas. no vestuário. na alimenta·
mal racional". Ou seja. na dialética, o sujeito de uma pro-
segunda natureza que a educação e os costumes acres- dade causal O~J de séries ordenadas de causas e efeitos que ção,na linguagem. nas Instituições sociais e políticas. etc.).
Para vários fil6sofos e historiadores. a cultura surge posição ou de um juízo aparece dividido internamente por

~!
:\t
centam à natureza de cada um, isto é. uma natureza ad· operam por SI mesmos, sem derender da vontade de ai· predicados contradit6rios - "a coragem é e não é uma vir·
quirida, que melhora. aperfeiçoa e desenvolve a nature- quando os homens produzem as primeiras transformações
tude"; "o homem é e não é racional".
za inata de cada um. tUldo agente;
gu.m pela açao
~mdos
contrapartida,
homens. que a cultura
agem escolhendo
ê o campo insti-
livre- ';I) na natureza pela ação do trabalha. Com o trabalho. os se·
mente seus atos. dando a eles sentido. finalidade e valor "t res humanos produzem objetos inexistentes na natureza Ora. dizem dois fil6sofos. a realidade e a verdade obe·
2. A partir do século XVIII. cultura passa a significar os re· porque instituem as distinções 0nexistentes na natureza) :~ (casa,utensRios. instrumentos). organizam·se socialmen· decem ao princlpio de identidade e excluem a contradição.
sultadas e as conseqüências daquela formação ou edu- Esta é considerada irreal (do ponto de vista da realidade)
entre bom e mau, verdadeiro e falso, útil e nocivo. justo e R te para realizá·lo. dividindo as tarefas entre homens e mu·
cação dos seres humanos, resultados expressos em injusto. belo e feio, legítimo e ilegítimo, possível e impos- " lheres. adultos e crianças. Para aumentar os recursos pro- e impossível (do ponto de vista da verdade). pois ê irreal e
obras, feitos, ações e instituições: as técnicas e os ofi- sivel, sagrado e profano. duzidos. instituem a familia e as relações de parentesco. impossível que uma coisa seja e não seja ela mesma ao
as aldeias e vilas. Para protegê·las. inventam as armas e a mesmo tempo e na mesma relação. Em outras palavras. al-
guerra. Para conseguir sempre condições favoráveis para go é real e verdadeiro quando: 1) podemos conhecer o con·
o trabalho e para a melhoria do que produzem. invocam e junto de seus predicados positivos. Isto é. as qualidades e
adoram forças divinas. instituindo a religião. Os vários propriedades que constituem sua essência; e 2) podemos
agrupamentos humanos. nascidcs do trabalho e dos siste· afastar os predicados negativos. que são contrários aos po·
mas de parentesco. trocam entre si produtos de seus tra- sitivos e que, se estiverem presentes. destroem a identida-
balhos.lnvpntando o comércio. As desigualdades surgem de ou a essência da coisa. Em resumo. predicados positi-

quando uma parte da comunidade toma para si. como pro· vos e negativos não podem estar juntos num mesmo
priedade privada. terras. animais. águas: começa a divisão sujeito ou numa mesma coisa. pois essa união dos contrá·
social de onde surgirão as classes sociais e os conflitos e. rios é uma contradição e a contradição destr6i a realidade
destes. a instituição do poder. de uma coisa ou de uma essência.
Piatão e Arist6teles se enganaram. julga Hegel. Para
ele. a dialética é a única maneira pela qual podemos alcan-
Cultura e história çar a realidade e a verdade não pela elimlnaçãa dos con-
traditórios, mos compreendendo que o real e o verdadeiro
Com Kant. consolida·se a idéia de que a natureza é o nado mais são da que o movimento interno da contradi·
reino da causalidade ou da necessidade enquanto a cultu· ção, pois. como lá dissera sabiamente Heráclito. a realido·
ra é o reino da vontade humana. da ação dotada de finali· de é o fluxo dos contraditórios. No entanto. diz Hegel. He-

dade e da liberdade. tais como se exprimem na ética, na ráclito também se enganou porque julgara que 05 termv;

politlca. nas artes. nas ciências e na filosofia. contradlt6rlos eram pares de termos positivos opo~:os
(quente-frio. seco-úmido. claro·escuro. doce·amargo. ~1-
Em outras palavras. Kant distinguiu entre o reino da
dio.doente, vivo-morto. etc.). Averdadelra contradição di]'
natureza - isto é, das coisas submetidas às leis naturais
lética possui duas características principais:
de causalidade. que são universais e necessárias - e o rei·
1. Os termos contradlt6rios não slo dois termos positivo ~
na da morol - ou seja, das ações humanas realizadas por
contrários ou opostos. mas dois predlcados contradit.~-
I na
AJém ~ conquistado
SOCiedade diredoao
brasileira,de perliJvoto "Y" à condiçãoda mulher
terr.inno. o moIIirnentosutragistaproporcionouum avanr<'o
palriarcaI.
uma escolha voluntária ou por liberdade e segundo finali-

.'
-
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. ···---j24BI'i1,,!iU':1 o mundo da pri~ ~lura

rios do mesmo sujeito e que só existem negando um ao paz de reflexão, isto é, de voltar·se sobre si mesmo e de.o- montanha, não existe em si, mas existe paro mim, isto é, pos- O tempo, portanto, é vida do Espírito, o modo como o
outro. Em lugar de dizer quente-frio, seco-úmido, doce· nhecer-se a si mesmo. sui um sentido em minha experiência. Ou seja, não vemos a Espírito se põe a si mesmo e se desenvolve. O tempo cultu-
amargo, material-espiritual. natural-cultural, devemos O que é essa reflexão? O movimento no qual o Espíri. naturezadar nomes a si mesma e às coisas naturais. Somos ral é o tempo das obras e instituições humanas - religião,
compreender que, di,1/etiúll11fnte, é preciso dizer: quen· to se coloca a si mesmo corno espfrito, produzindo o tem•• n6sque as nomeamos, dizendo como existem para nós. artes, ciências, filosofia, Instituições sociais, Instituições po-
te'não quente, frio· não frio, doce·não do.:e, amargo-não po e a história. Suponhamos agora que eu pertença a uma comunida- líticas. A cada período de sua temporalidade o Espírito se
amargo, material-não material, espiritual·não espiritual, O Espírito começa seu percurso temporal como um su- . de cuja religião seja politeísta, que acredite que os deuses, apresenta na forma de uma cultura determinada, que expri·
natural·não natural, cultural-não cultural; jeito do qual a natureza é um predicado contraditório. Ou superiores aos homens, mas dotados de forma humana, ha- me o estágio de desenvolvimento espiritual ou racional da
2. o negativo (o não de não·doce, não·frio, não-material, seja, o Espírito é interioridade e não·interioridade. Como· bitam os lugares altos. Para mim, agora, uma montanha não humanidade e na qual cada cultura particular se exprime
não·cultural, etc.), portanto, não é um termo positivo con· não·inlerioridade ele é natureza, o não-Espírito. No Infeio ê mais uma simples coisa, mas a morada sagrada dos deu- com um caráter próprio que é negado e ultrapassado pelos
trário a outro positivo, mas é verdadeiramente o negati· do percurso histórico-temporal, portanto, o Espírito é não- . ses.Ou, então, imaginemos que somos uma empresa capi- estágios seguintes, num progresso contínuo.
vo de um positivo. Se eu disser, por exemplo, "o caderno Espírito, pois é natureza ou pura exterioridade. Aexteriori_ . talista exploradora de minérios e que haja uma jazida de fer-

não é a árvore", esse não não é um verdadeiro negativo, zação do Espírito como natureza é obra sua, mas essa obra. ronamontanha. (omo empresários, compramos a montanha
A história em Marx
pois o caderno e a árvore continuam como dois termos é sua negação como Espírito porque ele. que é imateria~ . para explorá-Ia. Novamente, ela deixou de ser uma simples
se apresenta na pura materialidade da natureza ou como •• coisanatural para tomar·se propriedade privada, local de tra- Marx, que também concebe a cultura como história,
positivos. Esse não, simplesmente, significa que ocader·
no e a árvore são duas coisas diferentes, cada qual com balho e capital. Imaginemos. por fim, que somos pintores e critica a concepção hegelíana, ou o idealismo espiritualis-
suas propriedades e qualidades prówias, cada qual exis-
o conjunto
cha temporaldaspondo-se
coisas naturais. O Espírito
a si mesmo inicia (substãn.
como coisa sua mar. , j; quevamos pintar a montanha. Nessecaso, ela não é nem mo- ta de Hegel. Para ele, a cultura não é manifestação do Es-

I.
i tindo perfeitamente um sem o outro. Essenão,diz Hegel,
é mera negação externa, na qual qualquer coisa pode ser
a negação de qualquer outra (o caderno não é: a árvore,
etc.). Ele é terra, quantidade,
cia, qualidade, água, ar, fogo, céu, astros,
relações mares,
de causa mine-
e efeito,

Para conservar-se vivo, cada ser natural (ou cada coisa) .' .
,tj
radados deuses, nem propriedade privada capitalista, nem
localde trabalho, mas forma, cor,volume ,linhas, profundida-
de - um campo de visibilidade.
Sob essas quatro formas - "isto é uma montanha",
pírito e sim o modo como, em condições determinadas
não escolhidas por eles, os homens produzem material-
mente (pelo trabalho, pela organização econômica) sua
e

a mesa, a bola, o menino, João, a porta, etc.), pois cada existência e dão sentido a essa produção material. A histó-
coisa pode ser percebida e pensada positivamente sem precisa consumir os seres que o rodeiam: os animais conso-'. "morada dos deuses", "jazida de minério de ferro/proprieda- ria não narra o movimento temporal do Espírito, mas as lu-
I rais,
memvegetais, outros animais, ar, calor, luz; as plantas '1~
animais.
água, plantas, .' de privada/capital" e "campo de visibilidade a ser pintado"
I as outras. Na noção externa dizemos que "A" não é "B", tas reais dos seres humanos reais que produzem e repro-
I "C" ou "O", e cada um desses termos é um outro com re-
lação aos demais. O verdadeiro negativo é uma negação
Interna, na qual o termo negado não é um outro qualquer,
matéria, ete.calor,
consomem Ora, água,
isso significa que o Espirito
luz; os astros consomemenquanto
tureza nega·se a si mesmo consumindo·se a si mesmo.
na-
energia e
••
I
.1
-, a montanha como coisa natural desapareceu, foi negada
como mera coisa pela consciência. Tornou-se não-coisa por-
quetornou·se montanha ·para ·nós, significação, um ente cul·
tural. Em termos hegelianos, o Espírito negou-se como natu·
duzem suas condições materiais de existência,
produzem e reproduzem as relações sociais, pelas quais
se distinguem da natureza e nas quais são Instituídas as
isto é,

mas o outra do sujeito ou o seu outro. Na negação inter- divisões sociais, isto é, as classes sociais contraditórias.
transformadora, pois ela se realiza apenas para conservar' rezatransformando-se na não-natureza, isto é, na cultura.
na dizemos que "A" é ao mesmo tempo e na mesma re- Cada cultura exprime a maneira como nela se definem a
lação "A e não-A". Por exemplo, sabemos que um cader- as coisas naturais. Entretanto, o Espírito não manifesta A natureza é o serem si.,a negação efetuada pela cons- propriedade e a divisão social do trabalho, se organizam
no é feito de papel e que o papel vem das árvores; ciência a transformou em ser para n6s ou ser para a cons- as instituições sociais e políticas que visam à conservação
dialetlcamente, não diremos "o caderno não é a árvore"
e sim que "o caderno é uma não árvore".
tureza,
apenas mas
seu predicado
Essa
dicado
também manifesta
da negação
negativo, um
a não-interioridade
de si d,l natureza
não exterioridade,
outro predicado, ou
que negapelo
a exterioridade
natureza. Esse predicado da não-exterioridade
consumo nãoda êl
o pre·
na·

é a cons·
. ciência. Visto quea consciência é reflexiva, isto é, consciên-
cia de si ou um saber sobre si, ela é para si. Podemos dizer
da forma existente da propriedade e são produzidas
idéias com que as classes sociais explicam para si mesmas
as

que o movimento temporal de negação realizado pelo Es- o sentido da formação social em que vivem.
Na negação interna há contradição propriamente dita
ciência com que o Espírito põe-se a si mesmo como Inte- pírito é a passagem do em si ao para si e que essa passa·
e a dialética, que constitui o tempo e a história, é o movi- As diferentes formações sociais são determinadas pe·
rioridade ou não-exterioridade. Como natureza, o Espírito " gem é o movimento que leva o Espírito da natureza à cul·
mento pelo qual há posição, supressão e superação das 10modo de produção e de reprodução da vida material dos
é a interioridade que se afirma como não·interioridade ou - tura. Devemos compreender que a negação dialética não
contradições. Em outras palavras, em lugar da contradição homens; essas formaçôes sociais são constituídas porcon-
pura exterioridade; como consciência, o Espírito é a não- significa a destruição empírica ou material de coisas (a
ser a destruição pura e simples de um sujeito, ela é o mo- tradições internas entre os homens divididos em classes
exterioridade ou negação da exterioridade natural. (omo igua, o ar, a terra, o fogo, a matéria, a energia, os corpos
vimento de sua realização verdadeira. sociais contrárias e em luta. O movimento da hist6ria-cul·
natureza, o Espírito nega sua interioridade, existindo sob naturais continuam existindo), e sim a destruição de seu
A contradição dialética nos revela que em lugar de to· a forma dos corpos naturais; como consciência, afirma·se . tura, portanto, é realizado pela luta das classes sociais pa-
sentida imediato que é superado por um sentido novo, por
marmos dois sujeitos contrários, cada qual com seus pre- diferente da natureza e nega a exterioridade natural. O Es· ra manter ou para vencer formas de exploração econômi-
um significado novo que elas passam a ter para n6s, signi-
dicados positivos próprios, e examinarmos a oposição en- pírito produz assim a contradição entre a sua existência co- ficado que é posto pelo pr6prio Espírito como consciência, ca, opre;:;;;ü social, dominação política. O fim dessas lutas
tre eles, devemos compreender que um só e mesmo sujeito mo coisa e sua existência como consciência, e das contradições dependerá da capacidade de organiza-
Ao reconhecer-se como movimento inteillo ae posição,
é constituído por predicados contraditórios, por uma afir- Como os seres natur,lis, a consciência também busca ção política e de consciência da última classe social explo-
negação e supressão de seus predicados contraditórios
mação e uma negação Interna, e que o trabalho que o su- conservar-se. mas o faz não pelo simples consumo dascol- (natureza e não-natureza ou consciência; consciência e rada (o proletariado. produzido pelo capitalismo IndustrlaQ
Jeito realiza para superar essa contradição é o movimento sas naturais, mas pela negação da mera naturalidade de- não-consciência ou natureza), o Espírito se reconhece co- para eliminar a desigualdade e injustiça históricas.
do próprio tempo, é a própria história. las. O que é essa negação? ·i. mo suJeito que se produz a si mesmo e que ele não é senão
Quem é esse sujeito que realiza o movimento da posi- Quando digo "Isto é uma montanha", tenho a impressão _. o movimento de autoprodução de si mesmo. Esse movi-
ção e superação de predicados contraditórios ou das con- de que me refiro a uma coisa natura~ diferente de mim,.' mento em que o Espírito se exterioriza na natureza e se in- Cultura e antropologia
tradições? Hegel o chama de o Esprrito. Por que o sujeito tente em si mesma e com características positivas pr6prlas, terioriza na cultura é a história não como seqüência tem-
dos predicados contraditórios é o Espírito? forque o movi- Entretanto, o simples fato de que eu chame uma coisa de poral de acontecimentos e de causas e efeitos, mas como A palavra antropologia é composta de duas palavras
mento da história é reflexivo e somente um espírito é ca- "montanha" indica que ela, enquanto montanha ou como vida do Espírito. gregas: antrapas, que significa "homem", e logra, Mestu-
ô:·,>

i 250'1I''''tul':1
Omundoda~ ~tura GIMI"22lj
do" (palavra derivada de 16gos. que significa ·pensamen·
to ou razão". "linguagem ou discurso"). A antropologia es·
tuda os seres humanos na condição de seres culturais. O
antropólogo procura. antes de mais nada. determinar em A cultura é instituída no momento em que os humanos
determinam para si mesmos regras e normas de conduta
que momento e de que maneira os humanos instituem sua
que asseguram a existência e conservação da comunida.
diferença em relação à natureza. fazendo assim surgir o
mundo cultural. de e por isso devem ser obedecidas sob pena de punição
(que pode irdesde um castigo ou a expulsão para longe do
Os filósofos. a partir do século XVIII. consideraram que grupo de origem até a morte).
os humanos diferem da natureza graças ao pensamento. à O que é a lei hum.II1.1?fllt'i humana é um mandamen.
Iinguo'gern. ao lIolb.,lho 'oà ação voluntãria Iivr\!.
to social que organiza tod,) a vida dos Individuos e da co.
Os antropólogos. a partir do século XX. sem negar a munidade. tanto porque determina o modo de estabeleci.
afirmação dos filósofos. procuram aquela ação com a qual mento dos costumes e de sua transmissão de geração a
os seres humanos instituem a cultura propriamente dita. geração como porque preside as ações que criam as insti.
Ou seja. como os filósofos. os antropólogos também con· tuições sociais (religião. famllia. formas de trabalho. guer.
sideram que as condições para que haja cultcra são o peno ra e paz. distribuição das tarefas. formas de poder. etc.). A
samento. a linguagem. o trabalho e a ação voluntária. po· lei não é uma simples proibição para certas coisas e abri.
rém Julgam que não basta apontar essas condições e que gação para outras. mas é a afirmação de que os humanos
é preciso dizer que ação os homens praticara" ou que de. são capazes de criar uma ordem de existéncia que não é
cisão tomaram que os fizeram passar da pos.;ibilidade da simplesmente natural (fisica. biológica). Essaordem éaor.
cultura à realidade efetiva dela. dem simbólica.

Se. para muitos historiadores. essa ação foi o traba· Aordem simbólica consiste na capacidade humana pa.
I ra dar às coisas um sentido que está além de sua presen.
lho. para muitos antropólogos a cultura foi instituída quan·
J
do os humanos marcaram simbolicamente sua diferença ça material. isto é. na capacidade de atribuir significações
com relação à natureza, decretando uma lei que não pode. e valores às coisas e aos homens. distinguindo entre bem
ria ser transgredida e. se o fosse. a comunidade exigiria re· e mal. verdade e falsidade. beleza e feiúra; determinando Estrela-de-da·A. simbolo judaiCO, em sinagoga de Budapeste, Hungria, em 1979

'"
I paração com a morte do transgressor. A diferença entre ho.
mem e natureza. que dá origem à cultura. surge com a lei
se uma coisa ou uma ação é justa ou injusta. legítima ou
ilegítima. possível ou impossível. ~ essa dimensão simbó.
da proibição do incesto. lei inexistente entre os animais. Iica que é instituída com a lei da proibição do incesto e a lei
Essalei dá início à sexualidade propriamente humana. que da proibição do cru. dade e formas de relação com o poder. etc.). aos acon· de no decorrer do tempo. A esse sentido amplo podemos
;11
não é apenas a satisfação imediata de uma r ecessidade Graças à linguagem e ao trabalho. os seres humanos tecimentos (significado da guerra. da peste. da fome. do acrescentar um outro, restrito. proveniente do antigo sen-
II biológica. mas é definida por regras que insWuem o proi. tomam consciência do tempo e das diferenças temporais nascimento e da morte. obrigação de enterrar os mar· tido de cultivo do espírito: a cultura como criação de obras
I ; bido e o permitido na expressão do desejo. Os "eres huma. (passado. presente. futuro). tomam consciência da morte tos. etc.);
da sensibilidade e da imaginação - as obras de arte - e
nos dão sentido à sexualidade. e lhe dão um sentido; organizam o espaço. humanizando. 2. criação de uma ordem simbólica da sexualidade, da lin· como criação de obras da inteligência e da reflexão - as
I
Para alguns antropólogos. além dessa lei. a diferença o Osto é. dando sentido ao próximo e ao distante, ao alto e guagem, do trabalho. do espaço. do tempo. do sagrado e obras de pensamento, isto é, a ciência e a filosofia.

, '
,. entre homem e natureza também é estabelecida quando ao baixo. ao grande e ao pequeno). ao visível e ao invisivel. do profano. do visivel e do invisível. Os símbolos surgem
~ esse segundo sentido que leva o senso comum a
os humanos definem uma outra lei que. se transgredida. A diferenciação temporal e espacial permite que os seres tanto para representar como para interpretar a realidade,
identificar cultura e escola (educação formal). de um lado,
humanos se relacionem com o ausente diferenciando não dando·lhe sentido pela presença do humano no mundo;
causa a ruína da comunidade e do indivíduo: a lei que se·
e. de outro, a Identificar cultura e belas-artes (música, pino
para o cru e o cozido. lei também inexistente entre os ani. só o presente do passado e do futuro e o próximo do dis·
3. conjunto de pr6ticas, comportamentos. ações e institui-
tura. escultura. dança, literatura. teatro. cinema. etc.). ~
mais. A separação entre o cru e o cozido e a exigência de tante mas também distinguindo o sagrado e o profano, os ções pelas quais os humanos se relacionam entre si e
deuses e os homens. também esse sentido que leva à distinção entre cultos e in·
que os humanos comam alimentos que passaram pelo fo. com a natureza e dela se distinguem. agindo sobre ela
cultos. entendida respectivamente como "escolarmente
gocolocam a culinária no ponto inicial da cultura. Assim co. ou através dela. modificando-a (rituais do trabalho, ri·
Podemos. então. definir a cultura como tendo três sen·
Instruídos" e "sem instrução escolar".
mo a sexualidade humana. também a alimentação huma. tidos principais: tuais religiosos. construção de habitações. fabricação
na não é apenas a satisfação de uma necessidade biológica de utensflios e Instrumentos, culinãria. tecelagem. ves-
1. criação da ordem simbólica da lei. isto é. de sistemas de
de sobrevivência. mas está ligada a regras que lhe dão um tuário, formas de guerra e de paz, dança, música. pintu·
interdições e obrigações estabelecidos a partir da atri·
sentido propriamente humano. ra. escultura, formas de autoridade. etc.). A Filosofia e as
buição de valores às coisas (boas. más. perigosas, sa·
Essas duas primeiras leis estruturam o mundo huma.
no a partir da oposição entre puro (permitido) e impuro
gradas. diabólicas), aos humanos e suas relações (dife- Na realidade. não existe a cultura. no singular, mas cul· manifestações culturais
rença sexual. significado da virgindade. fertilidade, turas, no plural. pois os sistemas de proibição e permissão.
(proibido). oposição inexistente para todo o restante da na. virilidade; diferença etária e forma de tratamento das as instituições sociais. religiosas. políticas. os valores. as A Filosofia se Interessa por todas as manifestações cul·
tureza. Sexualidade e culinária introduzem a dimensão sim.
crianças. dos mais velhos e mais jovens; formas de tra· crenças. os comportamentos variam de formação social pa- turals, pois. como escreveu o filósofo Montalgne. "nada do
bólica da vida humana.
tamento dos amigos e dos inimigos; formas de autorl· ra formaçlo social e podem variar numa mesma socleda· que é humano me é estranho".

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o mundo da pr~ ~ja do sagrado e a instituiçao da religjão.

lI, ri il1.í!"lis campos filosóficos relativos às manifesta, Quando i,,<!íc.lInos os principais tra~os da cultura. ob. ga. agnos (puro) eagios (intocável), e na rama".:. 5(}t ('r(,k-
vamente a um determinado ser quanto algo que ele pode
~0e, cultulais são: a Filosofia das ciências (que vimos na teo, servamos que nela e por ela 05 homens fazem a descober. dicado à divindade) e sanctus (inviolável) constituem a es-
possuíre perder, n~o tere adquirir. O sagrado éa ex~er~ên-
ria do conhecimento). da religião. das artes. da existência éti· ta do tempo. ou têm a experiência do tempo. isto é. de uma fera do sagrado.
da simbólica da diferença entre os seres, da supenonda-
ca e davida política. Além disso. a Filosofia ocupa·setambêm diferenciação no interior de sua vida com respeito ao que de de alguns sobre outros, do poderio de alguns sobre ou· Sagrado é, pois, a qualidade excepcioo1al- boa ou má.
com a crítica das ideologias que se originam na vida politica. já aconteceu e ao que está acontecendo. Vimos também trOS- superioridade e poder sentidos como espantosos, benéfica ou maléfica, protetora ou ameaçadora - que um
mas se estendem para todas as manifesta~ões da cultura. que um outro aspecto fundamental da cultura é a ativida. misteriosos, desejados e temidos. ser possui e que o separa e distingue de todos os outros.
de do trabalho. Ora. ao trabalhar. 05 homens se relacionam Asacralidade introduz uma ruptura entre natural e so- embora. em muitas culturas, todos 05 seres possuam algo
com um tempo que não é o presente e sim o futuro. poiso brenatural. mesmo que 05 seres sagrados sejam naturais sagrado, pelo que se diferenciam uns dos outros.
trabalho ê feito em vista de algo que ainda não existe no
(comOa água, o fogo, o vulcão): é sobrenatural a força ou O sagrado pode suscitar devoção e amor, repulsa e
presente e que virá a existir no futuro.
potência para realizar aquilo que 05 humanos julgam im- ódio. Esses sentimentos suscitam um outro: o respeito fei-
Vimos também, ao estudarmos a memória. que ela é possível efetuar contando apenas com as forças e capaci- to de temor. Nascem. aqui, o sentimento religioso e a ex-
CAPiTULO 2 responsável pelo sentimento da identidade pessoal e da dades humanas. Assim, por exemplo, em quase todas as periência da religião.
continuidade de uma vida que transcorre no tempo. A per- culturas. um guerreiro cuja força, destreza e invencibilida-
A religiâo pressupõe que, além do sentimento da dife-
cep~ão do tempo. o trabalho e a memória fazem com que de são espantosas, é considerado habitado por uma po·
A experiência do sagrado e a 05 homel1:>:>ejalll capazes de estabelecer relações com o têncla sagrada. Um animal feroz, astuto. veloz e invencível
rença entre natural e sobrenatural. haja o sentimento da

Instituição da religião ausente: o passado lembrado. o futuro esperado. também é assim considerado. Por sua forma e ação miste-
separação entre os humanos e o sagrado, mesmo que es-
te habite nos humanos e na natureza.
Se reunirmos numa única experiéncia o sentimento do riosas, benévolas e malévolas. o fogo é um dos principais
entes sagrados. Em regiões desérticas, a sacralização con-
.
::,,"

tempo e o da identidade pessoal notaremos que 05 huma.


nos são conscientes de que há seres e coisas que desapa. centra-se nas águas, raras e necessárias.

Se excetuarmos as atividades culturais ligadas direta· recem no tempo e outras que surgem no tempo, e que eles O sagrado opera o encantamento do mundo. habita- ___________ A_ religião
permanecem durante um certo tempo porque são capazes do por forças maravilhosas e poderes admiráveis que agem
mente à sobrevivência do indivíduo e da espécie (coleta e
de ligar passado. presente c futuro, isto é, são capazes de A palavra religiãa vem do latim religio, formada pelo
preparo de alimentos. proteção contra as intempéries. cui- magicamente. Criam vínculos de simpatia·atração e de an-
perceber que existem e que possuem identidade. Mas tam- prefixo re ("outra vez, de novo") e o verbo ligare ("ligar. unir,
dado com os recém-nascidos. instrumentos simples para a tipatia-repulsão entre todos os seres, agem a distância, en-
bém são conscientes de que podem desaparecer um dia. vincular"). A religião é umvínculo. Quais as partes vincula-
luta contra inimigos). podemos dizer que a religião é a ativi· laçam entes diferentes com laços secretos e eficazes.
Ou seja. sabem que morrem. das? O mundo profano e o mundo sagrado, isto é, a natu-
dade cultural mais antiga e que.existe em todas as culturas. Todas as culturas possuem vocábulos para exprimir o
reza (água, fogo, ar, animais, plantas. astros, pedras, me-
Ora. o fato de que somos conscientes do tempo como sagrado como força sobrenatural que habita o mundo. As-
Porquê? tais, terra, humanos) e as divindades que habitam a
uma presença (o presente) situada entre duas ausências sim. nas culturas da Polinésia e da Melanésia, a palavra que
Porque descobrimos que somos humanos quando te· natureza ou um lugar separado da natureza.
(o passado e o futuro) e que somos conscientes de nossa designa o sagrado é mana (e suas variantes). Nas culturas
mos a experiência de que somos conscientes das coisas, Identidade e da identidade de nossos semelhantes nos le- Nas várias culturas. essa ligação é simbolizada no mo-
das tribos norte-americanas fala-se em orenda (e suas va·
dos outros e de nós mesmos. Se a consciência é a desco· mento de fundação de uma aldeia, vila ou cidade: o guia
va a conceber a permanência dessa identidade num tem- rlantes), referindo-se ao poder mágico possuído por todas
berta de nossa humanidade, se a descobrimos porque nos po futuro. isto é. a conceber uma existência futura, num ou- religioso traça figuras no châo (círculo. quadrado, triãngu-
as coisas, que Ihes dá vida, vontade e ação, força que se
diferenciamos dos outros seres da natureza, graças à lin- 10) e repete o mesmo gesto no ar (na direção do céu. ou do
tro lugar ou num outro mundo. para onde vamos após a pode roubar de outras coisas para si, que se pode perder
guagem e ao trabalho. podemos atribuir ao fato de sermos mar, ou da floresta, ou do deserto). Esses dois gestos deli-
morte. Esse outro mundo tanto pode ser um lugar separa- quando roubada por outros seres, que se pode impor a ou-
dotados de consciência a condição e a causa primordial do do, existente noutro espa~o e noutro tempo, como pode mitam um espaço novo, sagrado (no ar) e consagrado (no
tros mais fracos.
sursimento da religiosidade. ser a parte invbível deste nosso mundo. Acrença numa vi- solo). Nesse novo espaço erguem'se o santuário (em latim,
Entre as culturas dos índios sul-americanos, o sagrado é
De fato. desde muito cedo os seres humanos perce· da futura explica por que uma das primeiras manifestações templum, "templo") e à sua volta 05 edifícios da nova co-
designado por palavras como tunpa e aigres. Nas africanas,
bem regularidades na natureza e sabem que não são a cau· religiosas em todas as culturas são os rituais fúnebres, o munidade.
há centenas de termos, dependendo da língua e da relação
sa delas; percebem também que há na natureza coisas cuidado com os mortos (que não devem ser deixados sem Como se acredita que a fundação do espaço coletivo
mantida com o sobrenatural. mas o termo fundamental, em-
úteis e nocivas. boas e ameaçadoras e reconhecem que sepultura). que asseguram sua entrada na vida futura .•• a foi feita pelos ancestrais guiados por deuses protetores. o
bOíd tOm _J; iü.ntes de p:vnúnc:a, ~ n~u.Mforça universal em
também não são os criadores delas. A percepção da reali· busca de meios para comunkal·se com eles. vínculo se estabelece não só entre 05 homens e os deuses
que coincidem aquilo que é e aquilo que existe".
dade exterior como algo independente da a~ão humana, Acrença em divindades e numa outra vida após a mor- mas também entre os descendentes e os antepassados. os
Na cultura hcbralca. dois termos designavam o sagra-
de uma ordem externa e de coisas de que podemos nos te define o núcleo da religiosidade e se exprime na expe- fundadores. Por esse motivo, em inúmeras religiões há cul-
do: qados e he'em, significando aqueles seres ou coisas
apossar para o uso ou de que devemos fugir porque são riência do sagrado. tos não só para as divindades mas também para os ances-
que são separados por Deus pam seu culto, serviço. sacri-
destrutivas nos conduz à crença em poderes superiores ao trais, que vivem uma vida num outro mundo e podem in-
fício. e também as que são separadas de toaa~ as outras
humano e à busca de meios para omunicar·nos com eles terceder Junto aos deuses em nome de seus descendentes.
para receber uma punição. Por serem coisas separadas por
para que sejam propicias à nossa v:da humana. Nasce, as-
sim. a crença na(s) divindade(s).
o sagrado Deus, não podem ser tacadas pelo homem para seu uso e
s6 podem ser tacadas ritualmente por aqueles que Deus
A cerimônia da ligação fundadora aparece, por exem-
plo. na religião judaica. quando Jeová doa ao povo o lugar
A consciência também é respo lsável pela descoberta O sagrado é a experiência da presença de uma potên· autoriza ou autorizou. Assim, a Arca da Alíança. onde esta- onde deve habitar - a Terra Prometida -. indica o espaço
da morte. Um filósofo disse que Sl·mente os seres huma- cia ou de uma força sobrenatural que habita algum ser - vam guardados os textos sagrados, era qados e. portanto, onde o templo deverá ser ediflcado. orienta a maneira co-
nos sabem que são mortais e um (Iutro escreveu: "O ani- planta. animal. humano, coisas. ventos, águas. fogo. Essa intocâveL Também os prisioneiros de uma guerra santa per- mo deve ser edificado e determina sua finalidade. isto é,
mal acaba, mas o homem morre". () que isso quer dizer? potência é tanto um poder que pertence própria e definiti- tenciam a Deus. sendo declarados herem. Na cultura gre· nele serão feitos os sacrifícios e nele será colocada a Arca

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