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fau usp. trabalho final de graduação . francisco toledo barros . orientação reginaldo ronconi
set 2004
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“Não há beleza em nenhum tecido se ele causa fome e infelicidade.”
Gadhi
“O homem deve ser sujeito de sua própria educação. Não pode ser objeto dela. Por isso ninguém educa ninguém”.
Paulo Freire
“A arte deve ser feita pelo e para o povo, como uma benção para quem a faz e para quem a desfruta”
William Morris
“Os operários passavam por exames de seleção que comprovassem: “ter ossos, dedos, jurar trabalhar bem e diretamente a serviço de deus e sua majestade”
regras para ser ‘oficial manual de obras’, Brasil, 1591, em Bardi
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para e gracias às mana e aos mano
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se a obra vem de vários,
dois carregam, três empilham,
quatro amarram, cinco torcem,
seis carregam, sete empilham,
oito amarram, nove torcem...
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indice
apresentação 06
questão 07
não é 07
bibliografia visitada 52
desenhos - pergunta 53
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apresentação
Não.
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questão não é
é!
as coisas, de início, parecem já ter terminado,
antes.
vejamos então o fazer do ser...
vive-se o amarrado certo do fim no durante.
mas como?
o pote não pode quebrar-se para vermos os cacos diversos,
se se vê apenas o ser,
(re) colados poderiam ser-vir de outra coisa,
sem o fazer do ser,
nariz de palhaço, estilingue, barbante.
como então é?
o jantar não está nem cozido e já se fala em não dar gorjeta.
não é!
dizem que a estrada já foi bem traçada,
há mapas, manuais e muletas.
questão.
talvez.
se nos prepusermos,
sempre,
ao diálogo,
a olhar de outros pontos de vista,
a cada dia,
a cada evento, situação,
o fazer em “talvez”,
pode gerar outras saídas,
sempre.
um paço atrás,
muitos pra frente?
de início,
o fim,
em aberto,
já foi outro.
em forma de questão,
pergunta.
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origens: da vaca amarela
é difícil delimitar uma origem deste trabalho, a origem mesmo parece ser de antes,
recortar um algo, único e pontual. estava tudo meio escuro,
a chuva batia no mato,
parte de emaranhado, foi quando não mais resolveram mudar-se,
de muitos, não estava dando mais certo,
de conversa nas rampas, nos bares, a cada saída deixavam tudo,
é de muitos. e aquele lugar era bom,
tudo tão bem feitinho...
por exemplo,
mais por aqui, não saíram mais e veio mais gente.
à noite em que preenchia o formulário da fuvest: mais gente, mais gente, deu briga, deu tudo,
e resolveram organizar, em fazeres separados,
onde moram as pessoas? cada um com sua responsabilidade, pensar, fazer... cidade.
na cidade... quem trabalha com a cidade?
arquiteto e urbanista! nem sabem nem mais nada dos por quês,
estavam lá, já, há anos.
pronto.
vejam só que chegou até a ser um tfg
foi bem isso, apenas. que iria projetar a divisão de casas burguesas do morumbi,
o campo ainda estava aquém. dividindo a hidráulica de uma para quatro famílias...
pode ter sido também na volta de cuba, no avião, como toda parte de processo de formação,
repleto de guloseimas revolucionárias, há principalmente as mudanças de caminho,
mas que podem manter e reforçar o rumo inicial,
e pensamos juntos: (re) avaliação.
temos de realizar trabalhos que contribuam
para a revolução popular brasileira!! hoje,
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arquitetura e formação: tiroteio
buscamos agora,
e com cuidado,
contribuir para um outro olhar
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arquitetura e formação: tiroteio
é escravidão alienada.
e vem o papel:
carrega o peão a construir, inerte, a cidade.
parece que um caminhar e observar simplório pelos espaços das parece que o genérico assistir de aulas de um curso de arquitetura ele faz, sabe que faz,
cidades e campos seria suficiente como justificativa: e urbanismo seria suficiente como justificativa: mas sem entender o quê faz.
por quê faz...
vive-se um desastre. é parcial.
de um lado papais e mamães com seus filhinhos em carros não que não se deva teorizar, pensar, riscar, pintar, escrever e
blindados, projetar.
de outro filhinhos sem papais e mamães em olhos inchados.
o problema, é que só se faz isso:
seguimos embebidos n’um sistema perfeito, e nada de realizar.
uma roda dentada que gira e gira sem parar para ver,
e enxergar o que ocorre; não que estejamos proibidos
nem cheirar, apalpar, provar, ou ouvir a que vai isso tudo nos levar. de ir ao lame ou canteiro fazer e armar.
é escravidão alienada.
é isso aí !
que vai vendê !
mas que belo e rebuscado,
em estilo neo-burguês!
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I - a educação como instrumento de reprodução da barbárie no sistema
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I - a educação como instrumento de reprodução da barbárie no sistema
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I - a educação como instrumento de reprodução da barbárie no sistema
sociedade com prestadora de serviços às empresas privadas, com conhecimento público, capitalizado pelas empresas privadas para
total descaso pela pesquisa fundamental e de longo prazo”. aumentar a renda de seus proprietários através das parcerias com
(Idem:9) as fundações? Não seria ainda mais grave? O que se faz?
Incentivo às parcerias e apenas criminalização ostensiva dos
Tal hegemonia presente na mente universitária ocorre segundo as elementares roubos “visíveis” de máquinas e vacas: mais guardas
regras do capitalismo atual: “A ciência e a tecnologia tornaram-se e o encobertar dos roubos maiores, “invisíveis”.11
forças produtivas, deixando de ser mero suporte do capital para se
converter em agentes de sua acumulação. Conseqüentemente, Outro aspecto da atual reforma universitária, em pretenso debate,
mudou o modo de inserção dos cientistas e técnicos na sociedade reafirma o vigente modelo de financiamento educacional,
porque tornaram-se agentes econômicos diretos, e a força e o justificado pela postura de pagamento incondicional de nossos
poder capitalistas encontram-se no monopólio dos conhecimentos credores internacionais, ou dívida externa (nada mudou, para
e da informação”. (Idem:4) quem pensava que mudaria). Diz-se não haver recursos para
investimentos significativos nas universidades públicas. A saída
Infelizmente tal cenário não se alterou muito desde 1997 para cá, tomada para o necessário incremento do acesso às universidades
quando entrei na faculdade, a atual proposta do governo federal foi a intensificação da privatização direta do ensino, ocupando as
de reforma universitária baseia-se nas fundações privadas como vagas ociosas deficitárias do “business educacional”, com o
imagem do meganegócio na educação
meio de “maior relacionamento” (leia-se prestação de serviços)das Prouni, programa que concede vagas gratuitas para estudantes de
universidades com a sociedade (inclusive tomando as fundações baixa renda, mediante renúnicia fiscal das Universidades privadas.
da USP como exemplo) a fim de também preencher seu déficit
orçamentário. Vejamos os gastos do governo federal em 2003 com o ensino
superior:
É interessante notar que ao mesmo tempo em que é apontado o
relacionamento da universidade com a sociedade (empresas e R$ 1, 089 bilhões para o financiamento educacional de bolsas nas
órgãos governamentais) como uma das formas de captação de universidades privadas e isenção fiscal, e R$ 695 milhões para as
recursos para as universidades públicas, a Folha de São Paulo universidades públicas federais. 13
(08/07/2004, Cotidiano:1) publica matéria que identifica o gasto
com a segurança dos campus, como a “a segunda maior despesa Que esperar?
das instituições de ensino superior, que tentam conter roubos,
furtos e outros crimes”. São roubados computadores, cabos de “(...) em 2002, as dez maiores instituições privadas de ensino
comunicação... e até vacas (dos campi rurais) para alimentação superior faturaram 1,7 bi de reais, com um retorno médio que varia
de algum faminto. Para evitar tais danos ao patrimônio material, de 20% a 35%”.14
são gastos R$ 80 mi, ou 13% de seu orçamento de custeio anual.
Atualmente 70% das vagas do ensino superior são privadas.
Aparentemente tudo bem, mas e o roubo “mais estrutural” do A identificação desta política educacional universitária nacional é
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revelada não apenas nos discursos mais inflamados dos “radicais” desqualificado e sua atitude é injustificável. É ‘reação ideológica’,
do congresso, ou da UNE, mas também nas salas de aula da USP, quer dizer, é mera política, quando o que está em jogo é lógica e
Unesp e Unicamp. razão”. (Silva:35)
Vide a greve recentemente atravessada, quando reivindicávamos É de se notar “(...) a marginalização e a pressão para o
mais recursos para as três universidades paulistas através do esvaziamento político das associações e entidades representativas,
aumento da porcentagem do ICMS que é para elas repassado. A que se comportam como corpos estranhos ao processo de
ampliação dos atuais 8 % do ICMS para 11,6% foi impedida de ser modernização; a perda do sentido político dos colegiados em
aplicada pois a LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias, para 2005, todos os níveis, que deve ocupar-se apenas da parte que lhes
aprovada pela assembléia legislativa, mantinha a mesma compete no gerenciamento institucional e na escolha dos modos
porcentagem de repasse de recursos para as universidades, ao de execução das ações burocráticas e administrativas decididas de
mesmo tempo que aumentava os investimentos em policiamento forma centralizada nos escalões superiores. A preocupação
ostensivo e construção de novos presídios. principal é impedir a ‘politização’ das discussões, que é vista como
algo aberrante”. (Silva:35)
A formação política proporcionada aos integrantes do movimento
estudantil nos períodos de greve (2000 e 2004) bem como nos A atual estrutura autoritária de poder da USP tem como origem o
seus mais diversos campos de atuação nos permitiram a consórcio MEC – USAID, de 1965, desenhado pelas mãos de
constatação prática da orquestrada despolitização do ensino Rudolph P. Atcon:
universitário. Camuflados pelo discurso da eficiência e da
competência, o projeto de transformação da instituição “A diretriz principal de Atcon era decididamente tecnocrata: a
universitária em organismo gerencial que objetiva cumprir com sua reforma da universidade deveria ser tratada como um assunto
tarefa de formação de quadros da elite paulistana para o mercado, eminentemente técnico: ‘uma universidade autônoma é uma grande
enterrou quase todas as tentativas de questionamento mais empresa, não uma repartição pública’. Cumpre adotar padrões de
contundente e transformador da sociedade, função talvez inicial racionalidade administrativa que consistiram, por exemplo, em
de uma universidade crítica e autônoma. separar o planejamento da execução; aquele deveria ser
centralizado, esta poderia estar distribuída pelos institutos e
Franklim Leopoldo Silva, em seu artigo, intitulado “A experiência departamentos, de acordo com as finalidades acadêmicas de cada
universitária entre dois liberalismos” confirma a experiência vivida um. Esta divisão traria o grande benefício de despolitizar as
por alguns estudantes e professores: “Atualmente a universidade decisões, pois estas seriam tomadas na cúpula, pelo Conselho
continua separada de si própria por que perdeu a identidade Universitário e por um Conselho de Curadores”. (Silva: 35)
política e se vê arrastada num projeto de completa destruição da
esfera pública, percurso que vai rapidamente alterando seus traços Remexendo documentos do movimento estudantil de 1997 até
institucionais” (Silva:29) hoje, se nota um patinar, uma repetição de bordões pela
democratização da universidade em seus diversos sentidos:
Qualquer tentativa de questionamento da estrutura universitária de acesso, assistência estudantil, ampliação de vagas, cotas,
poder, autoritária e cuja finalidade mercantilista é fruto de um democratização das instâncias de decisão...
projeto organizado no período da ainda ditadura, é bloqueada:
São organizados eventos, encontros, seminários, atividades,
“(...)o projeto da universidade competente, hierarquizada e congressos, atos, conferências, plebiscitos, protestos, greves...
gerenciada caminha necessariamente junto com um plano de
articulação de lideranças acadêmicas preocupadas com a Mas como as decisões são tomadas nas “instâncias competentes
competência, que devem ocupar os postos de poder – aí tecnocratas”, que não permitem qualquer permeabilidade a
compreendidas as instâncias de controle – e mantê-los questionamentos críticos internos ao funcionamento da
permanentemente fechados a qualquer interferência dos grupos universidade, as associações agremiantes acabam por atuar
“politizados” e “incompetentes”. Com isto se cria uma justificativa quase que num vazio, e são negativamente taxadas de “políticas”.
racional para o autoritarismo para a instauração e reprodução Como se pensar e agir politicamente fossem inadequados.
indefinida do modelo produtivista, mercantilista e gerencial de
universidade”. (Silva:35) Mais interessante é notar que, recentemente a Comissão de
Graduação da USP recusou nossa participação no novo exame
“È interessante relembrar o argumento utilizado pelo discurso nacional de cursos superiores SINAES, alegando ser
‘competente’ contra o interlocutor ‘politizado’, que referimos mais “inconsistente”. Justificativa descabida, pois o que se pretende
acima: não estamos mais sob a ditadura; é hora de perder a mania com o novo exame é exatamente o contrário.
de contestar (...) o opositor de agora está por definição Agem politicamente, e ainda partidariamente, apesar de não
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I - a educação como instrumento de reprodução da barbárie no sistema
reconhecerem, afirmando-se apolíticos, mas competentes e vista, que é reacionário, o espaço pedagógico, neutro por pois “não há mobilidade vertical ascendente: um filho de sapateiro
tecnicamente eficientes... excelência, é aquele em que se treinam os alunos para práticas dificilmente pode chegar a ser professor universitário. Tampouco
apolíticas, como se a maneira humana de estar no mundo fosse ou há mobilidade descendente: o filho do professor universitário não
Vale lembrar que quem agora coordena o exame é de partido pudesse ser uma maneira neutra”. (Freire, 96:98) pode chegar a ser sapateiro, pelos preconceitos de seu pai”.
diferente daqueles que elegem os reitores, no CO, aprovado pelo (Silva, 1999)
governo do estado, atualmente sob as ordens do partido de Obrigado professor.
oposição do governo federal que por sua vez alterou o sistema Esta realidade pôde ser constatada durante algumas atividades do
nacional de exames, o provão, alegando ser instrumento Seguindo na tentativa de compreensão de nossa universidade, presente tfg, mais notadamente quando atuávamos com o MSU,
mercadológico e favorável ao ranqueamento competitivo das vejamos que nos diz Franklin Leopoldo sobre os objetivos iniciais Movimento dos Sem Universidade, pela reivindicação da
universidades privadas, além de limitado e parcial. Lembremos do da fundação da Universidade de São Paulo, à luz de sua presente construção de uma Universidade Pública Popular na área do
atual período de eleições, e que o embate de desqualificação das característica: complexo penitenciário do Carandiru, na época da incerteza do
políticas federais, sejam elas qual forem, estão “em jogo”. destino do conjunto.
“O primeiro liberalismo ou a primeira ‘modernização’ geraram as
Desqualificando o espaço da ação política, o campo da disputa idéias expressas nos propostos dos fundadores da Universidade O governo do estado, ao ouvir a reivindicação do movimento,
fraterna de idéias, através de discursos técnicos, eficientes e de São Paulo, o grupo de liberais ilustrados que, nos anos 20 e 30, rapidamente “aceitou” a proposta (já fazia parte de seus planos)
produtivistas, não há diálogo, não há ação dialógica. As concebeu um projeto político –educacional de regeneração da de construção de uma unidade educacional “para o povo”, e vai lá
contradições internas à própria universidade não emergem, não sociedade brasileira em que a universidade aparecia como o mais implantar uma Fatec, voltada para esta classe social:
vem à tona, não geram debate, não resultam em caminhar, importante instrumento de formação das elites dirigentes que adestramento de ofícios de “menor qualificação”. Não
transformação. Vive-se imobilidade e mimetismo, conosco, deveriam promover o ingresso do país na modernidade política, compreenderam, ou não quiseram entender a proposta.
internamente e com a sociedade. (...) O outro liberalismo é aquele sob o qual vivemos
presentemente, que trocou a ilustração pela tecnocracia e, alheio a Se a universidade operacional “não forma e não cria pensamento,
O que pretendemos com isso é afirmar que as instâncias de qualquer projeto emancipatório para o país, contenta-se em manter- despoja a linguagem de sentido, densidade e mistério, destrói a
decisão da universidade são sim espaço de disputa da ação se indiscutivelmente alinhado com as diretrizes econômicas curiosidade e a admiração que levam à descoberta do novo, anula
política, bem como suas disciplinas, exames, laboratórios, e globalizantes emanadas do centro do capitalismo. (...) os liberais toda pretensão de transformação histórica como ação consciente
devem a todo custo ser democratizadas em seu funcionamento e ilustrados conceberam o projeto inaugural da universidade; os dos seres humanos em condições materialmente determinadas”
objetivos: realmente abertas e com participação efetiva estudantil liberais tecnocráticos formularam o projeto terminal da (Chauí, FSP, Mais, 09/04/1999) não é de se esperar que isso
direta, compreendendo os estudantes como agentes, sujeitos de universidade”. (Silva,1999) ocorra nas instâncias consideradas “menores” do sistema
construção da universidade e essas instâncias como estratégico educacional, as Fatecs, por exemplo.
espaço para sua formação. Claro deve ficar é qual o lugar da universidade no sistema
educacional: formar as elites; sendo que “às classes médias Diante disso, que fazer?
Não aceitemos mais cadeiras estudantis falsas nos conselhos. corresponderia o ensino médio, isto é, secundário, que é suficiente
Não aceitemos mais apenas congressos estudantis, que acabam para a disseminação do saber elaborado na universidade. E Lutar dentro e fora da universidade para que a crítica não seja
totalmente paralelos. finalmente as massas, para quais o curso primário cumpre a função solapada, até mesmo porque, como diz o sociólogo polonês
de inserção da parte na totalidade harmônica e funcional”.22 Zygmunt Bauman, “o que quer as universidades façam, elas não
Talvez Paulo Freire nos ajude, nestes tempos de despolitização e conseguirão jamais por um fim à curiosidade humana, que talvez
de preconceito com a palavra política na universidade: Para não nos alongarmos nesta interessante conversa, que tenha que sair da academia para se satisfazer”.
pretende apenas ambientar o panorama em que nossa questão se (FSP, Mais, 19/10/2003)
“Creio que nunca precisou o professor progressista estar tão insere, algo precisa ser resumidamente colocado: O sistema
advertido quanto hoje em face da esperteza com que a ideologia educacional como um todo tem como objetivo a manutenção das
dominante insinua a neutralidade da educação. Desse ponto de peças da engrenagem do sistema vigente de modo harmônico,
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