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INTRODUÇÃO
é considerado por muitos “um poema em prosa”. A trágica história da bela índia
apaixonada pelo guerreiro branco é contada por José de Alencar com o ritmo e
leitores quanto aos críticos literários, a começar pelo jovem Machado de Assis,
então com 27 anos, que escreveu sobre Iracema no Diário do Rio de Janeiro,
em 1866:
outros poemas em prosa. Poema lhe chamamos a este, sem curar de saber se
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A OBRA EM RESUMO
4 Relação amorosa
Vestal - religiosidade;
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"Estrangeiro, Iracema não pode ser tua serva. É ela que guarda o segredo de
jurema e o mistério do sonho. Sua mão fabrica para o Pajé a bebida de Tupã."
5 Ciúme de Irapuã
"— Nunca Iracema daria seu seio, que o espírito de Tupã habita só, ao
guerreiro mais vil dos guerreiros tabajaras! Torpe é o morcego porque foge da
luz e bebe o sangue da vítima adormecida!...
— Filha de Araquém, não assanha o jaguar! O nome de Irapuã voa mais longe
que o goaná do lago, quando sente a chuva além das serras. Que o guerreiro
branco venha, e o seio de Iracema se abra para o vencedor.
— O guerreiro branco é hóspede de Araquém. A paz o trouxe aos campos do
Ipu, a paz o guarda. Quem ofender o estrangeiro ofende o Pajé."
6 Confrontos
a) Martim X Irapuã
b) Tabajaras X Pitiguaras
Irapuã retira-se
7 Guerra
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8 Abandono de Iracema
"[...] Poti refletiu:
— As lágrimas da mulher amolecem o coração do guerreiro, como o orvalho da
manhã amolece a terra.
— Meu irmão é grande sabedor. O esposo deve partir sem ver Iracema.
O cristão avançou. Poti mandou-lhe que apressasse: da alijava de setas que
Iracema emplumara de penas vermelhas e pretas e suspendera aos ombros do
esposo, tirou uma.
O chefe potiguara vibrou o arco; a seta rápida atravessou um goiamum que
discorria pelas margens do lago; só parou onde a pluma não a deixou mais
entrar.
Fincou o guerreiro no chão a flecha, com a presa atravessada, e tornou para
Coatiabo.
— Podes partir. Iracema seguirá teu rasto; chegando aqui, verá tua seta, e
obedecerá à tua vontade. Martim sorriu; e quebrando um ramo do maracujá, a
flor da lembrança, [...]
— Ele manda que Iracema ande pra trás, como o goiamum, e guarde sua
lembrança, como o maracujá guarda sua flor todo o tempo até morrer.
A filha dos tabajaras retraiu os passos lentamente, sem volver o corpo, nem
tirar os olhos da seta de seu esposo; depois tornou à cabana. Ali sentada à
soleira, com a fronte nos joelhos esperou, até que o sono acalentou a dor de
seu peito."
9 Volta de Martim
Nascimento de Moacir
Sofrimento e morte de Iracema
Martim enterra Iracema
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"— Recebe o filho de teu sangue. Era tempo; meus seios ingratos já não
tinham alimento para dar-lhe! Pousando a criança nos braços paternos; a
desventurada mãe desfaleceu [...] O esposo viu então como a dor tinha
consumido seu belo corpo; mas a formosura ainda morava nela [...]
Enterra o corpo de tua esposa ao pé do coqueiro que tu amavas. Quando o
vento do mar soprar nas folhas, Iracema pensará que é a tua voz que fala entre
seus cabelos.
O doce lábio umedeceu para sempre; o último lampejo despediu-se dos olhos
baços.
Poti amparou o irmão na grande dor. Martim sentiu quanto um amigo
verdadeiro é preciosos na desventura
[...]
O camucim que recebeu o corpo de Iracema, embebido de resinas odoríferas,
foi enterrado ao pé do coqueiro, à borda do rio. Martim quebrou um ramo de
murta, a folha da tristeza, e deitou-o no jazido de sua esposa. A jandaia
pousada no olho da palmeira repetia tristemente: - Iracema!"
10 Canto da Jandaia e nascimento do Ceará
"Desde então os guerreiros potiguaras que passavam perto da cabana
abandonada e ouviam ressoar a voz plangente da ave amiga, afastavam-se
com a alma cheia de tristeza, do coqueiro onde cantava a jandaia. E foi assim
que um dia veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o coqueiro, e os campos
onde serpeja o rio."
11 Quatro anos depois...
"Poti foi o primeiro que ajoelhou aos pés do sagrado lenho; não sofria ele que
nada mais o separasse de seu irmão branco. Deviam ter ambos um só deus,
como tinham um só coração.
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Ele recebeu com batismo o nome do santo, cujo era o dia; e o do rei,
a quem ia servir, e sobre is dois o seu, na língua dos novos irmãos. Sua fama
cresceu e ainda hoje é o orgulho da terra, onde ele primeiro viu a luz. [...]
Jacaúna veio habitar nos campos da Porangaba pra estar perto de seu amigo
branco; Camarão erguera a taba de seus guerreiros nas margens da Macejana.
Era sempre com emoção que o esposo de Iracema revia as plagas onde fora
tão feliz, e as verdes folhas a cuja sombra dormia a formosa tabajara.
Muitas vezes ia sentar-se naquelas doces areias, para cismar e acalentar no
peito a agra saudade.
A janela cantava ainda no olho do coqueiro; mas não repetia já o mavioso
nome de Iracema.
Tudo passa sobre a terra."
A LENDA E A HISTÓRIA
entre a índia tabajara Iracema, a virgem dos lábios de mel e Martim, primeiro
Martim Soares Moreno e o índio Poti, que depois viria a adotar o nome cristão
A heroína idealizada
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Martim, que se perdera de Poti, amigo e guerreiro pitiguara com quem havia
saído para caçar e agora andava errante pelo território dos inimigos tabajaras.
Iracema leva Martim para a cabana de Araquém, que abriga o estrangeiro: para
nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos
mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no
tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que
vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras
alvos fios do crautá , as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de
Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das
areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas
mais negros e mais longos, seu sorriso mais doce, seu hálito mais perfumado,
americana. Iracema é muito mais do que uma mulher. Não anda, flutua. Toda a
A harmonia rompida
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desconhecida.
os indígenas.
A sedução
Martim, mas não pode se entregar a ele, porque, como afirma o Pajé, “se a
virgem abandonou ao guerreiro branco a flor de seu corpo, ela morrerá…” Uma
noite, Martim pede à Iracema o vinho de Tupã, já que não está conseguindo
que ele, em sua imaginação, possuísse a jovem índia como se fosse realidade.
floresta virgem americana. No entanto, assim como Martim não tinha qualquer
defesa das nossas matas: percebe com clareza o seu processo de destruição.
O conflito
de Irapuã cercam a cabana, que é protegida por Caubi. Iracema encontra Poti,
que está próximo à aldeia dos tabajaras e deseja salvar o amigo. Planejam,
guerreiros deliram, ela leva Martim e Poti para longe da aldeia. Quando já
estão em terras pitiguaras, Iracema revela a Martim que ela agora é sua
ganham a luta e Iracema se entristece pela morte dos seus irmãos tabajaras.
O exílio
litoral. Durante algum tempo, eles são muito felizes, e a alegria se completa
e seu interesse pela esposa e pela vida ao seu lado começa a esfriar. Iracema
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nasce seu filho, que Iracema chama de Moacir, que significa “nascido do meu
hebraico Benoni, que também significa “filho de minha dor”. Este é o nome
dado por Raquel, mulher do patriarca bíblico Jacó, ao seu último filho. Raquel
morre depois de dar à luz. Mas Jacó muda o nome do menino para Benjamim.
Os filhos de Jacó dão origem às tribos que formarão a nação Israel, assim
e quase não come. Desfalece de tristeza. Martim fica longe de Iracema durante
oito luas (oito meses) e, quando volta, encontra Iracema à beira da morte. Ela
entrega o filho a Martim, deita-se na rede e morre, consumida pela dor. Poti e
vento do mar soprar nas folhas, Iracema pensará que é tua voz que fala entre
seus cabelos.”
ser chamados, um dia, pelo nome de Ceará. Martim partiu das praias do
O FOCO NARRATIVO
pessoa: “O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu.” Tais
história que me contaram nas lindas vargem onde nasci". Assim, Alencar
terceira.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Caracterização psicológica:
Possível modelo:
Contradição
A idealização do índio
Caracterização física
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"Iracema, a virgem dos lábios de mel [...]. O favo da jati não era tão doce como
o seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado."
"Quem cria, vê sempre uma Lindóia na criatura, embora as índias sejam
pançudas e remelentas."
A LINGUAGEM
1 - prosa poética
Capítulo 1
"Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes
da carnaúba;
Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente,
perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco
aventureiro manso resvale à flor das águas. [...]"
"Ver-des-ma-res-bra-vios (6)
De-mi-nha-ter-ra-na-tal (7)
On-de-can-taa-jan-da-ia (6)
Nas-fron-des-da-car-na-úba (7)
Ver-des-ma-res-que-bri-lha-is (7)
Co-mo-lí-qui-da-es-me-ral-da (7)
Aos-ra-ios-do-sol-nas-cen-te (7)
Per-lon-gan-do-as-al-vas-pra-ias (7)
En-som-bra-das-de-co-quei-ros (7)
2 - Adjetivação e comparações
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"Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a
asa da graúna e mais longos que o seu talhe de palmeira.O favo da Jati não
era doce como o seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu
hálito perfumado."
3 - A língua tupi
TEMPO
Ceará.
Personagens
negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era tão doce como seu sorriso; nem a baunilha
alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”
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que quer mais. É amado pelos bons índios: Iracema e Poti(tribos inimigas).
meus.”
exprimir que não tinham ambos mais que uma cabeça e um coração.”
de Coatiabo e Poti.”
tabajaras.
Ará – pequena jandaia, que é abandonada pela dona por causa de Martin
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CONTEXTO HISTÓRICO
nome Martim Soares Moreno, que se ligou de amizade com Jacaúna, chefe
dos índios do litoral e seu irmão Poti. Poti recebeu o nome de Antônio Felipe
índios.
pois que o primeiro povoado à foz do Jaguaribe não passou de uma tentativa
frustrada.
em 1848 revi nossa terra natal, tive a idéia de aproveitar suas lendas e
forças que resistem ao tempo, e dão plena fiança do futuro… Espera-se dele
outros poemas em prosa. Poema lhe chamamos a este, sem curar de saber se
Moreno, que se ligou de amizade com Jacaúna, chefe do índios do litoral e seu
irmão Poti. Em 1608, por ordem de D. Diogo de Menezes, voltou a dar princípio
com sua tribo nas proximidades do recente povoado, para o proteger contra os
obrigado a voltar à Paraíba por terra, com sua mulher e filhos pequenos.
nome Martim Soares Moreno, que se ligou de amizade com Jacaúna, chefe
dos índios do litoral, e seu irmão Poti. Em 1608 por ordem de D. Diogo
verdadeiro fundador, pois que o primeiro povoado à foz do rio Jaguaribe foi
Este ponto, aliás somente contestado nos tempos modernos pelo Sr.
gente do povo notícias do Camarão, como existia uma velha mulher que se
dizia dele sobrinha. Essa tradição foi colhida por diversos escritores, entre
sido a tabajara.
Mas o que solve a questão é o seguinte texto. Lê-se nas Memórias diárias da
todos os índios não somente de sua nação, que era Pitiguar, nas das outras
O indianismo
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natural”, e Santa Rita Durão – para quem o índio era apenas o “comedor de
A polêmica
com temática indianista. Amigo do imperador Dom Pedro II, Magalhães era, de
tratamento do índio dado por Gonçalves de Magalhães que, segundo ele, “não
outubro de 1856. Podemos mesmo perceber, em alguns pontos das cartas, que
Tamoios, ele critica o uso de gêneros poéticos clássicos para descrever o índio
brasileiro:
verdadeiro poema nacional, onde tudo fosse novo, desde o pensamento até a
forma, desde a imagem até o verso. A forma com que Homero cantou os
gregos não serve para cantar os índios; o verso que disse as desgraças de
metro de verso?” Desde as primeiras páginas de Iracema, fica claro que o seu
trilha aberta por Augusto Meyer, que já havia observado: “Bastaria Iracema
Desdobramentos
poesia simbolista.
Ricardo.
Iracema e Macunaíma
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
configuração bastante próxima daquilo que ele pretendeu: fazer uma literatura
BIBLIOGRAFIA
Brasileira, 1976.
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