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Escavações Subterrâneas
MIN- 225
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1-TRODUÇÃO: A SEGURANÇA ESTRUTURAL
1.1 Introdução
Os trabalhos em minas subterrâneas apresentam fundamentalmente dois grandes
aspectos de segurança: segurança estrutural das aberturas, envolvendo tetos, pisos,
paredes e pilares; segurança ambiental, que se refere à criação e manutenção de um
ambiente de trabalho confortável e adequado à execução das tarefas pertinentes ao
empreendimento. A preocupação ambiental, em sentido amplo, inclui a preocupação com
a segurança.
As minas subterrâneas contam hoje com os conhecimentos advindos do grande
avanço de algumas ciências, como por exemplo da Mecânica de Rochas, e deixaram de
ser lugares mal iluminados, úmidos, sujos e altamente perigosos como no passado.
Só em casos particulares, a segurança estrutural na explotação mineira subterrânea
pode ser considerada recorrendo-se a fatores de segurança estabelecidos a partir das
solicitações máximas suportadas pelos maciços rochosos antes da ruptura. Na
generalidade das situações da mineração, a segurança estrutural (ou segurança técnica)
tem que ser considerada levando em conta a dinâmica da ruptura dos maciços e as
resistências pós-ruptura que estes podem exibir.
A explotação das minas se faz observando-se os três princípios éticos
fundamentais: o da Segurança, o da Economia e o do Bom Aproveitamento das Jazidas
(Mello Mendes, 1996).
Ninguém duvida que o primeiro destes princípios seja fundamental, parecendo
dever sobrepor-se aos restantes. Com efeito, não há nada que pague a vida de um homem
e, por isso, compreende-se facilmente que o trabalho mineiro, como, de resto, qualquer
outra atividade, deva ser executado com segurança.
Este porém é um aspecto muito particular da noção de Segurança que o primeiro
dos Princípios Fundamentais da Explotação de Minas abrange. A garantia de bons
ambientes de trabalho deve ser também abrangida na noção de Segurança das Minas.
A noção de Segurança não pode ser apenas estendida ao Homem. Cada vez mais
há que ter sempre presente que uma mina é um complexo técnico-econômico onde
trabalham homens, é certo, mas que exige investimentos muito vultosos sob a forma de
equipamentos e de estruturas que têm de ser criadas para dar acesso aos locais de onde os
minérios são retirados e para o desenvolvimento desses mesmos trabalhos de retirada.
Todos estes investimentos têm que ser, a seu tempo, recuperados. Deste modo, tanto os
equipamentos como as próprias estruturas de apoio não podem estar à mercê de acidentes
que comprometam a recuperação dos correspondentes investimentos.
Quanto ao Princípio da Economia, sendo uma atividade tipicamente industrial, a
mineração vive sempre condicionada pela obrigatoriedade de produzir a preços de custo
inferiores aos correspondentes às cotações dos seus produtos num mercado cada vez mais
de âmbito mundial. Tratando-se, por outro lado, de uma indústria pesada, dotada de
grande inércia, que impõe longos prazos de restituição aos elevados capitais que obriga a
investir, a indústria mineira, para ser atrativa aos investidores, tem que oferecer boas ou,
pelo menos, razoáveis perspectivas de lucro. Todo este condicionamento faz com que a
produção mineral deva ser conseguida aos preços mais baixos possíveis, o que se reflete
na obrigatoriedade de otimizar o custo do processo produtivo mineiro em todos os seus
complexos pormenores.
Em relação ao terceiro Princípio Fundamental - do Bom Aproveitamento das
Jazidas, salvo raríssimas exceções, as jazidas minerais não são renováveis à escala
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temporal da vida humana nem mesmo à escala temporal da Humanidade. Explotá-los
representa, para essa última, a destruição de um capital que não pode ser reposto. Assim,
ao contrário de se tentar obter, por reciclagem, produtos minerais anteriormente extraídos
e já utilizados, há que minimizar a delapidação dos recursos minerais naturais. Importa,
então, otimizar a recuperação das substâncias minerais das jazidas, de modo que as
frações destas, que agora não sejam explotadas, não fiquem em condições tais que
impossibilitem a recuperação futura.
Não seguindo este princípio, o Homem está criminosamente comprometendo o
futuro da Humanidade no que diz respeito às possíveis melhores condições de vida, pelo
menos em relação às resultantes de poder beneficiar do aproveitamento dos minérios e,
numa visão local que muito interessa às regiões mineiras, de poder prolongar a atividade
industrial da mineração, geralmente importante promotora do desenvolvimento social.
A situação do ótimo ponto de equilíbrio entre as exigências dos três Princípios
Fundamentais tem, porém, variado ao longo dos tempos, de acordo com a valorização
relativa dada pelo Homem aos diversos fatores considerados importantes para si e para a
Humanidade. Esta variação de posicionamento da meta a atingir tem obrigado,
necessariamente, a mudanças de direção das correções a serem feitas no modo de
considerar a mineração, isto para que a aproximação em relação àquela meta se possa
concretizar da melhor maneira.
Por exemplo, na escolha da orientação para uma abertura, a maior dimensão deve
estar perpendicular à tensão principal maior. Se as fraturas tendem a se estender no plano
perpendicular à tensão principal 3, o conhecimento da direção das tensões permite a
escolha de um arranjo para reduzir esse risco. Quando se faz grandes escavações em
superfície com técnicas de pré-corte, economias acontecerão se a escavação é orientada
perpendicular a 3.
A ruptura das rochas e dos maciços rochosos e os mecanismos envolvidos nessa
ruptura estão, de certa forma, sempre bem presentes na atuação dos Engenheiros de
Minas. Extrair substâncias úteis das jazidas implica, necessariamente, arrancar blocos de
rocha, que contenham tais substâncias, dos maciços de que fazem parte; esse arranque
corresponde, por seu lado, à necessidade de se provocar a ruptura para separação de tais
blocos. Não é de se estranhar que uma das principais preocupações da Engenharia de
Minas seja o aprofundamento dos conhecimentos existentes sobre a ruptura dos maciços
rochosos tanto nos seus aspectos teóricos como no que diz respeito às tecnologias que se
aplicam.
Também no emprego dos seus métodos de explotação subterrânea, o Engenheiro
de Minas reconheceu há muito ser conveniente deixar que os maciços rochosos,
envolventes das cavidades que vai criando, vão libertando aos poucos, por meio de
rupturas sucessivas e devidamente controladas, os excessos de energia que tendem a
acumular-se em torno dessas cavidades, à medida que vão aumentando as respectivas
dimensões. Com este modo de proceder reduzem-se os riscos de a liberação de tais
excessos de energia vir a ocorrer de forma brusca e violenta, com fraturamento do terreno
quando e onde não seja esperado. Daí terem-se desenvolvidos vários métodos de
explotação onde a ruptura dos maciços rochosos é procurada ou, mesmo, artificialmente
provocada. Métodos esses que, como é sabido, vão até o ponto de permitir utilizar a
energia armazenada nos maciços rochosos para fraturar e fragmentar a rocha constituinte
desses maciços, em substituição do emprego de outras formas de energia.
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Compreende-se assim, que a ruptura dos maciços rochosos, desde que possa ser
controlada, não assuste os engenheiros de minas, sendo-lhes antes uma companheira
familiar na sua atividade profissional. Não admira pois, que, em Engenharia de Minas, a
noção de Segurança Estrutural seja aceita, sem qualquer repugnância, já próximo ou
mesmo dentro dos domínios da ruptura dos maciços rochosos.
O aumento crescente do conhecimento acerca das características mecânicas e do
comportamento dos maciços rochosos face às escavações neles realizadas muito tem a
contribuir para a segurança dos trabalhos.
Os domínios de ruptura das rochas e dos maciços rochosos são, porém, bastante
complexos e, em relação a eles, muita investigação aplicada há de se fazer. Contribuir
para esta investigação é, também, uma das obrigações do Engenheiro de Minas.
1.2 A Geomecânica
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É importante observar que a rocha constitui um caso particular de material de
engenharia. Como observa Hudson (1989 apud Ayres da Silva, 1993), nas construções
com materiais artificiais, a resistência dos materiais é composta em função das
necessidades de resistência aos esforços que lhe serão aplicados. Já na rocha, a resistência
lhe é intrínseca e as tensões existem independentemente de outras cargas externas que lhe
sejam aplicadas. Assim, diante desta limitação e mais os custos proibitivos em que
incorreria obter-se um projeto de construção pronto na prancheta, existirão fases de
projeto, e mesmo de produção, que serão ajustadas à realidade do maciço rochoso.
Para o projeto racional de suportes artificiais e revestimento e consolidação de
aberturas subterrâneas, a Mecânica de Rochas assume papel de suma importância, pois
permite analisar a influência dos fatores que se pretende dominar ou cuja importância se
pretende reduzir com o recurso a tais técnicas.
Com efeito, a estabilidade das escavações subterrâneas só pode ser assegurada se
os maciços rochosos têm determinadas características de resistência e se as aberturas
possuem certas formas geométricas e não excedem determinadas dimensões. Mesmo em
tais casos, a expansão da rocha no sentido dos vazios deve ser considerada, bem como o
fato de que devido às respectivas características reológicas, as deformações
correspondentes processam-se, em grande parte, ao longo do tempo (Ayres da Silva &
Hennies, 1970).
Desta forma, em geral, na vizinhança das cavidades definem-se zonas aliviadas de
tensões cuja rocha é susceptível de atuar por ações de peso. Sobre os tetos das
escavações, essas zonas podem ter importância relativamente reduzida (quando são
superiormente limitadas por arcos de pressão bem definidos), podem desenvolver-se
progressivamente em altura, originando deformações no teto das aberturas que, por vezes,
atingem a superfície (subsidência).
Em todos os casos, no entanto, as redistribuições retardadas de tensões, devido às
características aneláticas dos maciços, conferem ao fator tempo importância muito grande
no que diz respeito à deformação e ao eventual fraturamento dos terrenos circundantes
dos maciços.
Sendo assim, as ações dos suportes artificiais e dos revestimentos das cavidades
podem ser muito variadas, dependendo essencialmente dos tipos de solicitações que sobre
eles exercem os terrenos.
Quanto a estas solicitações, há que distinguir as que resultam de simples ações de
peso do material descomprimido, correspondente às zonas aliviadas de tensões da
vizinhança dos vazios, e as que provêm diretamente dos campos de tensões instalados nos
terrenos. As primeiras são, em geral, susceptíveis de serem controladas, ao passo que as
segundas só o são, em regra, quando os campos de tensões, instalados nos terrenos antes
da abertura das cavidades, têm intensidades reduzidas.
É também indispensável o conhecimento do intervalo de tempo durante o qual se
pretende que os escoramentos ou os revestimentos exerçam convenientemente as suas
funções. Desse intervalo de tempo depende, geralmente, a importância da deformação
dos terrenos a que se aplicam e, por conseguinte, a intensidade máxima das reações que
têm de suportar.
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1.3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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2 - TENSÕES NOS MACIÇOS ROCHOSOS
A engenharia do espaço subterrâneo tem várias facetas, algumas das quais não
relacionadas às condições da rocha. Mas a Mecânica das Rochas é o suporte direto para
vários dos aspectos críticos do trabalho de engenharia como, por exemplo, do
planejamento, da localização, dimensões, formas e orientações de câmaras; seleção dos
suportes; arranjo para construção de acessos; desmonte; projeto de instrumentação.
Tensão é uma grandeza vetorial, ligada ao acúmulo de energia, associada a um
plano (tensor). Está relacionada à tendência de deslocamento relativo das partículas de
um corpo, em função de solicitações externas. A oposição das partículas a este
deslocamento gera a tensão.
A tensão é, portanto, função do ponto considerado, do plano considerado e dos
esforços solicitantes.
Maciço rochoso é o conjunto formado por tipo litológico, descontinuidades e
água (Müller, 1963 apud Ayres a Silva, 1993).
A maioria dos maciços rochosos, em particular aqueles até uma profundidade de
algumas centenas de metros da superfície, comporta-se como descontínuos e, em certas
condições, principalmente as descontinuidades determinam o seu comportamento
mecânico. É por isso, essencial que a estrutura e a natureza das descontinuidades do
maciço sejam cuidadosamente descritas, em adição à descrição litológica da rocha. Esses
parâmetros que podem ser utilizados em alguns tipos de análises de estabilidade deveriam
ser quantificados sempre que possível.
O comportamento geomecânico de maciços fraturados tem merecido a atenção
de diversos estudiosos e pesquisadores e a sua importância se mostra na existência de
inúmeros trabalhos na literatura especializada. A influência de descontinuidades
geológicas nas características mecânicas dos maciços rochosos, quais sejam resistência e
deformabilidade, é inegável. Müller (1963) sugere uma redução de até 1/30 na resistência
da rocha devido à existência de planos de fraqueza. Enquanto as descontinuidades
aumentam a permeabilidade e a deformação de um maciço rochoso, elas tendem a
diminuir sua resistência e capacidade de suporte.
O estado de tensões no interior de um maciço rochoso varia, geralmente, de ponto
a ponto, tanto para o valor quanto para direção das componentes principais que o
definem. Por um lado devido às variações de intensidade e de direção das solicitações
que o motivaram, por outro, em virtude das heterogeneidades que os maciços sempre
evidenciam.
O conhecimento das tensões que se desenvolvem no interior dos maciços
rochosos é uma condição prévia para se conseguir uma boa sustentação. Decisões
importantes serão tomadas, a começar da orientação do eixo da escavação em função da
direção principal de tensões.
Em uma rocha não escavada, regular e horizontal, as tensões verticais atuantes
sobre um determinado volume de rocha têm como grande causa a gravidade e seu valor é
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igual ao peso da coluna litostática de seção transversal unitária sobreposta ao ponto
considerado (P = x H).
O maciço virgem não está submetido somente a esforços verticais, mas a um
sistema triaxial de tensões devido à seguinte razão: quando um corpo coerente (por
exemplo um cubo de aço ou de rocha) é submetido à compressão, ele se encurtará
segundo a direção desta solicitação e se alargará na direção transversal à mesma. Se se
opuser a este alargamento, demonstra-se e comprova-se a aparição de forças transversais
neste corpo. Esta é a origem dos empuxos horizontais nas minas subterrâneas, mais ou
menos importantes conforme a natureza das rochas.
Tudo que foi dito até então refere-se a um maciço virgem, cujas condições de
equilíbrio não foram afetadas por trabalhos de mineração.
As tensões que se desenvolvem em uma determinada região, no interior de um
maciço rochoso virgem (antes de ser escavado), são designadas por tensões naturais ou
tensões “in situ”. Ou seja, é o estado resultante da ação de diversos fatores, embora o
peso das rochas sobrejacentes seja o mais importante (tensão gravitacional ou mássica).
Com o advento de uma escavação, ocorre uma modificação no estado natural de
tensões, havendo uma distribuição de tensões no maciço circunvizinho à escavação
(tensões induzidas). Distribuição esta que pode gerar, nos contornos desta escavação,
concentrações de tensões tais que chegam até a ruptura do maciço. Depois de executada a
abertura, a transmissão das tensões deixa de ser possível através do vazio criado. A carga
distribui-se de um lado e do outro dos limites deste vazio, originando as concentrações de
tensões nas paredes (laterais) da galeria, considerando-se a tensão vertical como a mais
importante (vide figura 1.1).
Forma-se então, em torno da galeria, uma zona aliviada de tensões e a porção da
rocha descomprimida, situada em seu interior, ficando submetida à ação de seu peso
próprio, será susceptível de sofrer flexões que originarão esforços de tração, os quais, se
ultrapassarem o limite de resistência da rocha, acabarão por levar a rocha do teto à
ruptura.
Esta zona de descompressão ou de alívio de tensões não se propaga
indefinidamente. Ela tende a limitar-se superiormente pela formação de uma abóboda
auto-suportante (“arco de pressão”). A instalação deste arco de pressão auto-suportante,
transferindo lateralmente as cargas atuantes, é que permite a sustentação dos tetos das
escavações (Silveira, 1987).
A perturbação do estado de tensões pré-existentes estende-se até o limite de
influência, além do qual, as tensões naturais do maciço não são mais afetadas pela
presença da escavação. Quando as escavações estão a tal distância que os limites e
influência não se interceptam (cerca de 3 vezes a dimensão característica da seção),
dizemos que são escavações singulares; caso contrário, dizemos que temos escavações
múltiplas.
A escavação de um poço ou de uma galeria permite a expansão das rochas em
direção ao vazio criado, expansão esta que será maior ou menor dependendo da forma e
dimensões das escavações, da profundidade de trabalho e da natureza das rochas.
Para uma secção reduzida e à pequena profundidade, a galeria não necessita de
sustentação artificial, com o teto trabalhando da mesma forma que uma ponte ou uma
abóbada e transferindo para as paredes laterais os esforços verticais anteriormente
suportados pelas rochas arrancadas. Acima de certos limites haverá, contudo, fratura das
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rochas seguida de abatimento que se concentrará nos pontos onde a sobrecarga for maior.
A ruptura será, no caso geral, devida a esforços de flexão ou de cisalhamento, porque a
resistência da rocha a estes tipos de solicitação é muito menor do que à compressão.
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Por outro lado, existem minas nas quais o maciço, regular e bastante homogêneo,
pode ser, em primeira aproximação, adaptado a um modelo clássico da Mecânica de
Rochas. O cálculo fornecerá, pelo menos, o sentido e a ordem de grandeza dos
fenômenos. O mais simples destes é o modelo elástico.
Quando se trata de uma rocha não homogênea, o cálculo baseado na teoria da
elasticidade não é válido; porém, pode se tentar assimilar o maciço rochoso a um outro
modelo teórico (plástico, elasto- plástico etc).
Para a previsão do comportamento de escavações subterrâneas em várias formas e
configurações, são utilizados cada vez mais intensamente os processos de cálculo
baseados nas teorias dos elementos finitos, das diferenças finitas, dos elementos de
fronteira ou dos blocos singulares, comumente designados como modelamento
matemático ou modelagem numérica.
Os dois membros estruturais auto-suportantes com que se pode contar em
aberturas subterrâneas são:
a viga e
o arco, que mantém a estabilidade pela transformação da pressão vertical em
pressão horizontal e diagonal.
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b) J = 1 + sen , onde o é o ângulo de atrito interno e vai definir a maior ou menor
1 - sen estabilidade de um material incoerente.
A zona clástica pode estender-se lentamente - levar dias, semanas ou meses. Mas
em rochas com fraturamento intensivo pode ser rápida e vai exigir escoramento
simultaneamente à abertura, para impedir o preenchimento de cavidade com fragmentos
de rocha.
Essa extensão é acompanhada de aumento de volume. Isto é, o material
desmontado ocupa maior espaço que o material em seu estado inicial. Portant, é
necessário deivar um espaço entre o escoramento e a rocha para ser ocupado por esse
aumento de volume, ou então usar um escoramento que se deforme suficientemente para
abrigar este aumento de volume (Ayres da Silva e Hennies, 1988).
Em resumo:
Heim (apud Hoek e Brown, 1980) sugeriu em 1912 que os maciços rochosos
seriam incapazes de suportar grandes diferenças de tensões. Tal fato, associado aos
efeitos de deformação dependentes do tempo, levaria a um campo de tensões naturais,
onde as componentes vertical e lateral tenderiam a se igualar (campo uniforme de
tensões), ao longo do tempo geológico. De acordo com Hoek & Brown (1980), a
sugestão de Heim é aplicável a rochas incompetentes, como é o caso de carvão e
evaporitos.
Hoek & Brown apresentaram uma coletânea de medições de tensões naturais
obtidas em várias localidades, cuidadosamente selecionada. Medições realizadas em
ambientes geológicos pouco usuais, como é o caso de regiões com atividade tectônica
recente, foram omitidas. Na figura 1.2 são apresentados os valores de tensões verticais
reunidos nesta coletânea, em função da profundidade de medição. Neste caso, é possível
constatar que os valores de tensões verticais são consistentes com os valores obtidos
devido ao peso da coluna litostática sobrejacente.
A pequenas profundidades, observa-se considerável dispersão dos valores
medidos (figura 1.2). Hoek & Brown associam esta dispersão ao fato de que as tensões
medidas a pequenas profundidades estariam próximas aos limites mínimos de medição da
maioria dos aparelhos utilizados. Entretanto, estes autores não descartam a possibilidade
da existência de altos valores de tensão vertical a pequenas profundidades, que poderiam
estar relacionados a uma condição geológica ou topográfica pouco usual.
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Figura 1.2 - Tensões verticais x profundidade (Hoek & Brown, 1980).
Na figura 1.3 são apresentados os valores de K (razão entre a tensão horizontal média e a
tensão vertical) em função da profundidade. A pequenas profundidades, o valor de K é
extremamente variável, e freqüentemente maior que a unidade. Àmedida que aumenta a
profundidade, a variação de K é menor e seu valor se aproxima da unidade, como
previsto por Heim. A maioria dos valores de K estão na ampla faixa dos limites definidos
pela relação:
100/y + 0,3 < K < 1500/ y + 0,5
y – profundidade
Em alguns casos, o valor de K não fornece uma estimativa representativa das tensões
virgens num maciço. Tal é o caso onde há uma diferença considerável na magnitude das
tensões segundo a direção. Nestes casos, o valor das tensões horizontais médio é pouco
representativo.
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Figura 1.3 - Variação da Tensão Horizontal média/ Tensão vertical com a profundidade (Hoek &
Brown, 1980).
De acordo com a relação anterior, as tensões laterais num maciço rochoso seriam
invariavelmente menores que as tensões verticais. Isto torna restrita a utilização desta
relação, como evidenciado na discussão sobre os fatores condicionantes do campo de
tensões naturais.
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K = /(1-) não tem validade em um maciço que sofre ciclos de carregamento e
descarregamento. A erosão de uma camada de rocha sobrejacente tende a aumentar o
valor de K
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Em minas subterrâneas, a resistência à compressão do maciço rochoso é a
propriedade de resistência mecânica determinante da capacidade de suporte dos pilares
em rocha e é, portanto, aquela cujo conhecimento é fundamental para o seu
dimensionamento. Tal importância avulta quando a lavra é realizada pelo método de
câmaras e pilares.
Tem-se observado que a resistência à compressão varia inversamente com a
dimensão do corpo de prova cúbico, segundo uma função exponencial. Tal efeito tem
sido justificadamente chamado “efeito de escala” ou “size effect” e tem-se considerado
como “tamanho crítico” do corpo de prova aquele a partir do qual não se observa mais
uma variação significativa da resistência. Esta seria a dimensão na qual o fator de escala
seria o adequado à verificação da propriedade para o maciço rochoso.
Por outro lado, verifica-se também, que para corpos de prova prismáticos, de
seção quadrada ou retangular e corpos de prova cilíndricos, a mesma propriedade varia
diretamente com a esbeltez dos espécimes ensaiados, entendendo-se por esbeltez a
relação entre a menor dimensão de sua seção e sua altura (L/H). É o chamado efeito de
forma (“shape effect”). Tal efeito é também observado sobre pilares em rocha.
Não é por outro motivo que inúmeros pesquisadores têm-se preocupado com o
estudo desses efeitos, realizando suas constatações através de: ensaios sobre corpos de
prova de pequenas dimensões; ensaios realizados in situ; métodos observacionais.
Figura 1.5 - Distribuição de tensões em um alargamento lavrado por abandono de pilares (Silveira, 1987).
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Os fatores de segurança, conforme calculados, necessitam de uma interpretação
cuidadosa.
Os fatores de segurança para pilares, como recomendados nos primeiros trabalhos
de Mecânica de Rochas, sobre ensaios de laboratório e sem considerar o efeito de escala,
variam de 2 a 4.
Atualmente, considerando-se o efeito escala, os fatores de segurança
recomendados situam-se entre 1,5 e 2,5.
Juntas inclinadas em um pilar de seção quadrada interceptarão as laterais,
reduzindo a estabilidade. Por este motivo, muitas vezes, prefere-se usar câmaras longas
perpendiculares à direção de juntas fortemente inclinadas mais problemáticas.
A maior redução na resistência do pilar ocorre quando a direção das
descontinuidades é paralela às laterais e mergulham com um ângulo de (45 + /2)º
(Goodman, 1980).
As descontinuidades com aproximadamente esta atitude devem governar a
orientação das laterais. Em câmaras simples, é usualmente desejável escolher o eixo
maior oblíquo à direção de todos os conjuntos de descontinuidades maiores.
Para determinar as dimensões de um pilar ou avaliar o grau de segurança de uma
dada configuração do pilar, a tensão média sobre o pilar (v) calculada deve ser
comparada com a resistência do pilar (p).
Pode ser feita uma analogia entre o fluxo de um rio obstruído por pilares de uma
ponte com a transmissão de tensões através dos pilares entre uma série de escavações
paralelas.
Na teoria da área tributária, a tensão é calculada assumindo-se que os pilares
suportam uniformemente a carga sobrejacente a eles e às aberturas.
A tensão em um ponto do pilar depende da tensão média no pilar (que depende da
razão da área total escavada para a área remanescente como pilares) e da concentração de
tensões (que é função da forma do pilar).
Considerando-se um conjunto de pilares uniformes e um plano horizontal simples,
a tensão vertical média no pilar é dada por:
Para pilares quadrados:
p = Pz(1+ W0/Wp)2 = z(1 + W0/Wp)2
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p = z(1 + W0/Wp)
Para pilares retangulares:
p = z(1 + W0/Wp)(1+Lo/Lp)
p = z Ai / Ap
Ai = área de influência
Ap = área do pilar
Ou ainda:
p = z 1/ (1-R) ,onde R é o fator de recuperação.
Figura 1.6 - Teoria da Área Tributária (Hoek e Brown, 1980 ou BRAdy e Brown, 1985).
Fig. 1.7 - Modelo de placa que contém uma série de furos que representam túneis circulares paralelos. A
distribuição de tensões principal maior em pilares depende da tensão média e da concentração de tensões
em túneis individuais (Hoek & Brown, 1980).
Figura 1.8 - A distribuição de tensão principal maior em pilares depende da tensão média e da concentração
de tensões em túneis individuais (Hoek & Brown, 1980).
S = K ( L ) ½ / T , onde:
S é a resistência do pilar (psi);
L é a maior dimensão lateral (polegadas);
T é a espessura (polegadas).
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K = Sp ( D ) ½ , onde :
Nos desmontes com enchimento, à medida que o material vai sendo retirado, o
vazio deixado é logo preenchido com outro material (como o estéril da mina e/ou o
rejeito da usina de tratamento), de forma a promover a sustentação do teto. O material de
enchimento pode consistir de rocha estéril, distribuída mecanicamente (a seco), mas a
prática mais moderna é a utilização de enchimento hidráulico (“back fill”), constituído de
mistura de rejeitos da usina, água e às vezes cimento, distribuída através de tubulações;
sendo preferível por ser de execução mais econômica (redução dos custos de produção e
enchimento), proporcionar maior produção e melhor compactação (pisos mais uniformes
que reduzem a manutenção de equipamentos e os custos com pneus; o material mais
compacto tem maior taxa de percolação e proporciona maior estabilidade ao maciço). É
efetuado com partículas menores que 100, 200 #.
Neste caso, o teor do minério deve compensar o custo de uma operação adicional:
a colocação do enchimento. O minério é completamente removido e o material de
enchimento suporta as paredes e fornece piso para a lavra da próxima fatia de minério
(figura 1.9).
Mais recentemente na técnica de “back fill”, eliminou-se a necessidade de
drenagem da água da polpa para depósitos no interior da mina e do seu bombeamento
para o exterior, com a colocação de aditivos que gelatinizam a água presente (Lima,
1996).
O teto, na zona de trabalho, é normalmente sustentado com estruturas apropriadas
para evitar uma eventual queda de blocos mais ou mesmos soltos.
Deve ser estudado o efeito do enchimento na distribuição de tensões nos
alargamentos e seus modos de atuação como suporte.
Uma pequena parcela de carga é transmitida pelo teto, devido à presença dos
suportes. A carga restante é distribuída nas imediações da frente de desmonte e na
retaguarda (normalmente menos acentuada que na frente de desmonte), onde o
enchimento já se encontra mais ou menos comprimido pela flexão do teto.
A amplitude da zona de alívio de tensões limitada pelo arco de pressão é
controlada, neste tipo de desmonte, pelos seguintes fatores:
grau de fraturamento da rocha na frente de desmonte;
Este fraturamento deve ser razoável, pois quanto mais fraturada estiver a rocha na frente
de desmonte, menor será a sua capacidade de carga e, consequentemente, o arco de
pressão tenderá a desenvolver-se para o interior da rocha livre.
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compressibilidade do enchimento;
O enchimento deve ser pouco compressível e bem aplicado, pois se o mesmo for muito
compressível e/ou mal aplicado também levará o arco de pressão a desenvolver-se para o
interior da rocha virgem.
deformabilidade da rocha do teto.
A rocha do teto deve ser deformável, pois se a mesma for muito rígida, poderá se
comportar como apoio do arco de pressão, como se tratasse de um alargamento aberto. O
que poderá gerar graves acidentes posteriores.
A indústria mineral rejeita a cada ano alguns bilhões de toneladas de sólidos. Este
estéril tem de ser depositado da maneira mais econômica e com o mínimo de perturbação
ao meio ambiente.
Comparando-se os custos, percebemos que a disposição superficial é a mais
econômica (vide item “Impactos Ambientais da Lavra Subterrânea”). Mas é importante
lembrar que, enquanto os custos da deposição superficial estão aumentando devido ao
maior rigor da legislação ambiental, o custo de preparação e colocação do “back fill”
estão diminuindo com o aperfeiçoamento da tecnologia (custos eram da ordem de R$
0,35/t, conforme informação colhida em uma empresa do Quadrilátero Ferrífero, em
1996).
O estado da arte em deposição de estéreis inertes não apresenta problemas.
Entretanto, quando os estéreis são reativos ou a área adjacente é problemática em termos
de meio ambiente, outras alternativas para a deposição devem ser investigadas.
A lavra subterrânea normalmente tem um menor impacto que os trabalhos em
superfície.
A disposição utilizando-se a técnica de ‘back fill’ é tecnicamente viável, mas não
pode ser considerada como a mais econômica em todos os casos. Se bem que um dos
fatores complicadores ao custo da técnica de “back fill” foi eliminado com a moderna
utilização dos aditivos que gelatinizam a água, eliminando então a operação de drenagem.
Vários estudiosos acreditam que a disposição subterrânea representa o futuro da
disposição de estéreis dentro da indústria mineral. Situações especiais requerem soluções
especiais. Poderíamos citar o exemplo do salmouroduto construído na mina de Taquari-
Vassouras (SE).
22
Fig. 1.9 - Distribuição de tensões em alargamentos lavrados pelo princípio do enchimento (Silveira, 1987).
23
As tensões instaladas sobre os suportes mais rígidos vão aumentando de
intensidade até atingir-se um estágio de tensão (R na figura 1.10) em que as reações
correspondentes levarão a rocha do teto à ruptura.
Desta forma, o teto desabará no maior vão da abertura, dissipando parte daquelas
tensões, ficando o restante distribuído em duas áreas de concentrações:
uma nas imediações da frente de desmonte;
outra na retaguarda, mais ou menos afastada da primeira.
Quanto mais próximo se situar o pico de tensões sobre a rocha desabada, menos
intensas serão as tensões reinantes nas vizinhanças da frente e maior será a segurança das
operações.
A aplicação eficiente e segura deste princípio de lavra depende dos seguintes
fatores:
uniformidade das características de resistência e deformabilidade dos suportes
utilizados (para evitar sobrecargas localizadas que poderiam perturbar o controle
do desabamento);
razoável deformabilidade da rocha do teto.- “abatibilidade” (para permitir o
rápido desenvolvimento das reações requeridas na linha de suportes mais
rígidos).
A abatibilidade do maciço rochosos tem sido considerada primeiramente com
respeito ao método de “block caving”, no qual este fenômeno é de fundamental
importância. O sucesso de um método de abatimento depende das feições
geológico-estruturais do corpo de minério, das tensões e das variações dos
métodos de lavra.
*2 razoável homogeneidade da rocha do teto (para evitar fraturamentos imprevistos
e inoportunos, que poderão comprometer a zona de trabalho).
24
Figura 1.10 - Distribuição de tensões em alargamentos lavrados pelo princípio do abatimento controlado do
teto (Silveira, 1987).
25
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26
3-IMPACTOS AMBIENTAIS DA LAVRA SUBTERRÂNEA
José Margarida da Silva
Thales Silveira
3.1. INTRODUÇÃO
28
deformabilidade do maciço rochoso, a tendência para a instalação dos arcos de pressão pode ser
atenuada e eles poderão atingir a superfície.
O fraturamento da rocha na região adjacente às paredes da escavação contribui de forma
acentuada para a rápida progressão do fenômeno. As cargas excedentes vão sendo transferidas
para as porções de rocha mais resistentes no interior do maciço. Se o processo de fraturamento
continua, o arco de pressão aumenta progressivamente de altura e pode interceptar a superfície,
formando aí uma bacia de subsidência. Todas as edificações e estruturas presentes ficam
susceptíveis de sofrerem danos.
A subsidência relaciona-se também à hidrogeologia presente em certo maciço rochoso.
As deformações podem criar direções preferenciais para o fluxo das águas em subsolo, seja nos
planos de fraqueza, seja nos deslocamentos entre as camadas, modificando o comportamento
hidrogeológico vigente. Por sua vez, tal modificação pode alterar os valores da subsidência pela
modificação das características de preenchimento das fraturas, como também pelo aumento das
tensões efetivas em depósitos superficiais inconsolidados (Curi, 1995).
Podem-se distinguir duas formas de subsidência: a subsidência descontínua (ou
abatimento por fraturamento) e a subsidência contínua (ou abatimento por flexão). (Vide figuras
1 a 3).
As técnicas de detecção do fenômeno vão da instalação de marcos topográficos à
utilização de extensômetros, tiltímetros, inclinômetros (Peng, 1992) ou sensoriamento remoto. O
custo de medidas preventivas é usualmente menor que aquele para reparar danos quando não são
tomadas as devidas precauções.
Em levantamentos realizados por CURI (1995) na Mina de Germunde (Portugal), foram
determinadas, a partir do controle topográfico da superfície, as curvas de isovalores de
subsidência acumulada, entre 1966 e 1991; foi realizada ainda uma estimativa das tensões na
superfície, segundo dados calculados pelo método de elementos finitos. Em virtude dos
deslocamentos, foram verificados danos nas vias superficiais, bem como nas edificações vizinhas
e deslizamentos nos taludes (vide figura 4).
Estes métodos de controle da evolução da subsidência têm sido usados em lavras sob
construções e mesmo sob cidades inteiras. Os novos conceitos de projeto e adaptação das
estruturas às áreas potencialmente sujeitas a fenômenos de subsidência incluem o uso de
superestruturas muito flexíveis que se adaptem às distorções originadas pela subsidência e,
alternativamente, o uso de fundações muito rígidas.
Figura 4. Efeitos da subsidência nas vizinhanças da Mina de Germunde, Portugal (Curi, 1995).
A)Extração Parcial
São deixados pilares laterais substanciais entre os painéis. Tem sido usada com sucesso
para limitar a subsidência máxima e produzir um perfil de subsidência composto, livre da
deformação horizontal e que se inclina ao longo da maior parte de sua largura. O perfil é obtido
pela superposição dos perfis produzidos pelos painéis individuais. Nas minas de carvão do Reino
Unido, o método tem sido usado para se limitar os pilares a 70% do material antes abandonado,
com pilares de largura de 30 a 100m deixados entre painéis extraídos com razão
largura/profundidade menor que 1/3. Dependendo da configuração da razão de extração, podem
ser alcançadas reduções da ordem de 80% na máxima subsidência.
B)Tratamento
Realizado com preenchimento através de compactação de tiras ou de método hidráulico
ou pneumático com sólidos, que pode reduzir a subsidência em painel simples até de 50%,
dependendo da natureza e duração do tratamento. As maiores reduções são obtidas pelo
preenchimento com sólidos efetuado imediatamente após a lavra ou ainda com a colocação de
estruturas artificiais de sustentação.
C)Extração Harmônica
Envolve a remoção em etapas do mineral de uma área crítica de tal modo que a superfície
seja rebaixada vagarosamente e as deformações horizontais sejam minimizadas. A técnica pode
ser usada para proteger estruturas que são especialmente importantes ou susceptíveis a uma
subsidência induzida. A extração harmônica requer que o painel seja avançado em pelo menos
duas faces mantidas a uma distância cuidadosamente calculada. A orientação da estrutura com
respeito à direção de avanço da face determina por quanto tempo a proteção contra a onda
superficial longitudinal ou a transversal é a mais importante.
A) Métodos Empíricos
30
Através de tabelas e ábacos que permitem determinar a subsidência prevista em cada
ponto, a partir do conhecimento da profundidade, largura e altura da escavação.
A.1. National Coal Board (NCB)
A.2. Funções de Perfil
A.3. Funções de Influência
O perfil de subsidência é, então, obtido pelo traçado de uma curva por pontos.
B) Métodos Analíticos
Assimilando-se o comportamento dos maciços rochosos a modelos físicos simplificados
(elásticos, elasto-plásticos, visco-elásticos etc) e utilizando-se as respectivas teorias matemáticas.
Peng (1992), Krazstch (1983) e Brady e Brown (1985) tratam das seções de influência, dos
perfis de influência e ainda de métodos numéricos.
Ábaco 1 (figura 5): permite a determinação de S max (subsidência central) como uma fração da
espessura de extração (m), para uma dada profundidade (h) e uma dada largura (w) S/m
Smax = S/m . m
Ex.: Seja um painel de 480m de avanço (comprimento) por 160m de largura a ser aberto em um
corpo de 3m de potência, a 250m de profundidade S/m = 0,63 S = 1,89m
Ex.: Quando o mesmo painel anterior tiver avançado 200m s/S = 0.81 s = 1,53 m
Ábaco 3 (figura 7): possibilita a construção do perfil de subsidência completo como uma
curva de pontos; fornece a subsidência de cada ponto a partir de sua distância ao
centro do painel (d)
Figura 5 - Relação da subsidência com a largura e a profundidade da escavação (Brady & Brown,
1985).
32
Figura 6 - Correção da subsidência em relação ao avanço da frente de lavra (Brady & Brown,
1985).
33
Figura 8 - Exemplo de previsão do perfil completo de subsidência.
Zingano et al. (2008) comparam a utilização de modelo empírico e modelo numérico de previsão
da subsidência na lavra de carvão na Carbonífera Rio Deserto, em SC, Brasil. A lavra se situa
abaixo de rodovia e a camada de carvão se encontra abaixo ainda de arenitos e solo mole.
34
Figura 9 – Mecanismos de explosão de rocha (KAISER et alii, 1996).
35
O fenômeno é conhecido em mineração desde o século XVIII, mas, como outros aspectos
da lavra, permaneceu essencialmente como objeto de estudo qualitativo, com o projeto baseado
em regras empíricas.
No início dos anos 60, o principal obstáculo para o avanço da análise quantitativa de
rockbursts baseada na mecânica dos sólidos era ausência de base experimental para tal análise. O
vazio entre o comportamento elástico antes da ruptura e a resistência residual pós-ruptura
permanecia.
Cook (1965, citado por Linkov, 1996), a partir da publicação de dois artigos, começou a
mudar a situação. O primeiro, intitulado “Ruptura de rocha”, deu a base experimental necessária e
o segundo, “Uma nota sobre rockbursts consideradas como problema de estabilidade”,
desenvolveu, a partir de resultados experimentais, a primeira análise teórica de rockbursts.
A duração do desencadeamento das explosões é muito variável, podendo chegar até
dezenas de horas, pois à medida que se processa a abertura ou alargamento das cavidades, as
distribuições de tensões, no terreno circunvizinho, vão se modificando. Mas, na maioria das
vezes, com um certo atraso em relação às modificações correspondentes das dimensões dos
vazios. A descompressão da rocha se dá no sentido do vazio.
As técnicas de previsão de ocorrência de explosões de rochas baseiam-se na detecção,
medida e interpretação de eventos micro-sísmicos nos maciços, os quais que podem alertar com
algumas horas de antecedência, sobre a iminência de um grande abalo.
Nas rochas não se cumpre perfeitamente a condição de elasticidade, entretanto, quando
ocorrem as explosões de rochas, estas estão claramente em estado elástico. A ruptura se dá por
tração (principalmente). O enfraquecimento da rocha num lugar, transfere a carga para outro
ponto, às vezes, surpreendentemente afastado. Uma das características mais perigosas das
explosões de rochas é a sua tendência de produzir-se, sem nenhuma causa visual imediata. Este
fenômeno é atribuído à histerese elástica, propriedade das rochas de ajustarem-se gradualmente a
uma mudança de tensão. Neste ajuste gradual, a tensão se transferiria da massa de rocha às partes
adjacentes dos trabalhos onde, ao alcançar o valor crítico, provocariam seu repentino colapso.
Como sinais de explosão, temos o aparecimento de fendas e vesículas nas rochas e o
aumento gradual de carga no escoramento. O aumento repentino na carga é sinal de grande
perigo, sendo os pilares os pontos de perigo. Estudos de fotoelasticidade permitem uma melhor
previsão.
Os procedimentos aconselháveis para prevenção de explosão são os seguintes:
adotar uma sequência planejada de níveis;
adotar plano parecido ao dos níveis longos;
evitar a união de duas escavações grandes em profundidade.
eliminar os pilares ou reduzi-los ao minério;
distribuir as tensões tão uniformemente quanto possível, manter as frentes retas;
lavrar veios paralelos um de cada vez, começando pelo superior;
se possível, fugir de falhas ou planos de fraqueza;
a extração deve avançar com velocidade suficiente para aproveitar a histerese da rocha;
evitar aberturas dentro dos pilares;
galerias na lapa, sob pilares, são perigosas;
colocar escoramento, tão logo seja efetuado o avanço;
lembrar que os suportes não são uma necessidade somente local e não devem ser
retirados ao terminar o trabalho no nível; sua necessidade depende da relação das áreas
lavradas na mina como um conjunto.
Com relação à forma das galerias em profundidade, recomenda-se aquelas mais próximas
da “gota d’água” ou “pêra”, procurando acompanhar a distribuição de tensões. Na prática temos
como formas aconselháveis:
36
para pequenas profundidades: forma elíptica, com eixo maior na horizontal;
médias profundidades: eixos iguais (circular);
grandes profundidades: eixo maior na vertical (em forma de gota d’água ou pêra,
formas estas que acompanham melhor a distribuição das tensões). (Vide figuras 11 e
12)
37
Figura 11. Formas que acompanham melhor a distribuição de tensões (CIM Bulletin, 1996).
Figura 12 – Categorias de severidade de dano causado por explosão de rocha (KAISER et alii,
1996).
Várias teorias a respeito de “rock bursts” foram formuladas de 1915 até hoje. Nos últimos
anos, a “fragilidade” da rocha foi reconhecida como um dos fatores que levam ao fenômeno. O
fenômeno está relacionado ainda às seguintes feições:
configuração da lavra - é mais frequente em minas onde corpos mais estreitos são
parcialmente recuperados do que no caso de extração total;
presença de estruturas geológicas - zonas de diques e falhas são mais susceptíveis;
petrologia - diretamente relacionada às propriedades e comportamento do maciço.
38
É um processo de destensionamento do pilar, envolvendo alterações nos padrões de furação,
nos arranjos de furos, nos explosivos, carregamento e detalhes do desmonte, que implica
transferência de carga para pilares adjacentes (DE LA VERGNE, 2000).
ANDRADE (2002) relata o uso da técnica na Mina de Caraíba, Jaguarari (BA). A
sismicidade foi percebida a partir de 1997, sendo implementado o monitoramento a partir de
1998. O mesmo foi aprimorado em 2000 e 2002, para detecção de magnitudes a partir de -2
graus, com a precisa localização dos pequenos eventos (erro em torno de 10m). Os eventos
sísmicos estão associados às detonações. Existe uma forte componente horizontal de tensões. A
sismicidade presente está relacionada a alívio de tensões em frentes de desenvolvimento, a pilares
e a deslocamento de falhas. Nas frentes de desenvolvimento, a energia liberada se dissipa em
média de 1 a 2h, mas em alguns locais leva até dias para ocorrer. Os pilares mais susceptíveis
estão localizados entre duas escavações (galerias ou realces), gerando riscos, pois estão
geralmente próximos a frentes de trabalho. As falhas mais susceptíveis são planares e sem
preenchimento, estando longe de áreas de trabalho, mas podendo atingir grandes extensões, se
ocorrido o fenômeno.
O destress blasting foi implementado como solução alternativa às paradas no ciclo de
produção, pois contribui também para diminuir o tempo de retorno às áreas detonadas. O método
tem sido aplicado desde a década de 50, séc. XX, nos EUA, no Canadá e na África do Sul. Na
Mina da Caraíba foi implantado em 2001, com mudanças no plano de fogo, principalmente com a
adição de 4 furos carregados (com custo adicional na faixa de 2%, inferior por exemplo ao da
Mina de Sudbury, no Canadá, na faixa de 7%).
Não estão ainda sistematizados a metodologia, a instrumentação e o modelamento, sendo
realizadas analogias com experiências anteriores; mas já existem estas experiências de sucesso
(com custo adicional que pode ser absorvido).
3.4 CONCLUSÕES
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42
4 TRATAMENTO E REFORÇO DOS MACIÇOS ROCHOSOS
4.1 GENERALIDADES
As técnicas gerais de melhora e reforço do solo e rocha são usadas para permitir
escavações seguras em condições geológicas desfavoráveis.
Os principais métodos são o reforço de terreno com ancoragens, as injeções, as
injeções sob pressão (“jet grouting”), drenagem, congelamento e pré-escavação. Estas
técnicas são usadas para modificar as tensões nas vizinhanças dos trabalhos subterrâneos
e/ou os parâmetros geotécnicos do solo.
A escolha da técnica depende das características geotécnicas do terreno e de uma
análise de custo-benefício. Os principais parâmetros econômicos que devem ser levados em
consideração no projeto e construção da escavação são: custo efetivo, velocidade de
execução e segurança dos trabalhos.
De um modo geral designam-se por tratamento do maciço as técnicas de
consolidação segundo as quais se pretende, globalmente, melhorar as características de
resistência, de deformabilidade ou de impermeabilidade dos maciços rochosos.
Tais técnicas consistem, essencialmente, nas injeções (“groutings”), sob pressão, de
produtos que se solidificam no interior dos vazios existentes nos maciços, preenchendo-os e
contribuindo para que sejam alcançados tais objetivos. Também se incluem nas técnicas de
tratamento os métodos de congelamento dos terrenos e, de certa forma, as ancoragens.
Estas técnicas de consolidação, quando aplicadas à rocha que rodeia as escavações,
podem também exercer ações de revestimento e mesmo suporte, pela melhoria das
características que conferem aos terrenos. Nestes casos, é comum designar-se por auto-
suporte e auto-revestimento tais suportes e revestimentos que os maciços conferem a si
próprios, ao redor de escavações neles abertas.
As injeções têm mais de 55 anos de uso, mas com maior desenvolvimento nos
últimos 20 a 25 anos (Garshol, 2003).
As injeções sob pressão podem ser classificadas em suspensões e soluções.
As suspensões são injeções de cimento e argila e suas combinações ou misturas.
Isto é, elas são constituídas de materiais sólidos, em suspensão na água. Neste caso, é
necessário que o fluido esteja em movimento para manter as partículas em suspensão. Este
tipo de injeção é usado em solos e rochas relativamente permeáveis.
As soluções são injeções químicas de soluções e, por isso, não sedimentam como as
suspensões. Este tipo de injeção é usado em solos e rochas de baixa permeabilidade (até
0,001cm/s), nos quais as partículas sólidas das injeções de suspensão não conseguem
penetrar.
São possíveis inúmeras combinações de injeções de suspensão e solução. Por
exemplo, argila é muitas vezes usada como aditivo nas injeções de cimento sendo, também
usada como aditivo nas injeções químicas e vice-versa.
43
4.2 INJEÇÃO DE CIMENTO
44
para diminuir a vazão e, portanto, a resistência à passagem da calda, cortando-se a
cimentação apenas periférica, dirigindo-se a extremidade do tubo de descarga para o
misturador de cimento. Regula-se a abertura da válvula, de modo a se manter a máxima
pressão fornecida pela bomba e, quando toda a calda bombeada se escoa, sabe-se que ela
não está mais penetrando no terreno. Cessa-se a introdução de cimento e circula-se apenas
água fazendo a limpeza do dispositivo de injeção, até que ela saia limpa; pára-se o
bombeamento e fecham-se as válvulas, mantendo-se desta forma a pressão até a pega final
do cimento injetado.
Terminada a cimentação dos vários furos, o poço é escavado pelos processos
comuns. Se tornar a ocorrer água, nova cimentação será procedida.
Quando os furos são executados a partir da frente da escavação eles são em maior
número (16-30), dispostos em duas circunferências concêntricas com o poço, e de menor
diâmetro (1 1/2 a 2 1/2”). Em rochas fraturadas de até 10 a 12 m de espessura os furos
atravessam de uma vez toda a camada. Para espessuras maiores a furacão é feita de lances
de 15 a 20 m (ver fig. 4).
A injeção do cimento também pode ser feita simultaneamente nos diversos furos e
não isoladamente para cada furo.
Vasenko (1986) relata a respeito de injeções em áreas sujeitas a eventos sísmicos
(rock bursts).
45
Figura 1 Impermeabilização de galerias na Mina da Companhia Mineira de Metais, em Vazante (MG).
46
Figura 2 Colocação do tubo-guia na injeção de cimento.
47
Figura 4 Injeção de cimento em lances.
injeção de argila bentonítica é feita quando ocorrem grandes cavidades com água
sob pressão, desde que nelas não haja água corrente (atualmente na Europa utiliza-se a
injeção de argila qualquer, tratada, na proporção de 80 a 90% e cimento, apenas até 10
-20% da mistura, formando-se cones de impermeabilização);
49
Lima (2007) relata o uso de resina expansina na Mina de Caeté (MSOL), como tratamento
de maciço, em adição ao uso de arco, tirante e tela. Nessa técnica também são utilizados
dois componentes químicos que reagem, produzindo uma espuma com grande resistência,
que se deforma, sem transmitir carga ao suporte, segundo o citado. O sistema também foi
utilizado na Mina São Bento (MG), na consolidação de material solto no teto e na Mina
Caraíba (BA), na impermeabilização do fundo da cava na transição da mina a céu aberto
para a mina subterrânea.
Quando os aqüíferos são muito potentes e não podem ser controlados pelos sistemas
de rebaixamento, vem sendo muito empregado na Europa o sistema de congelamento da
água situada nos vazios dos solos, o que melhora temporariamente as suas propriedades
enquanto se executa a obra. No Brasil, o único caso reportado na literatura refere-se a uma
fundação de um edifício de grande porte que estava sofrendo fortes recalques de
desaprumo.
É uma técnica aplicada a solo saturado em água. O princípio é escavar em rocha
congelada, que é estável. Quando o suporte final já está colocado, a ação de congelamento é
parada. O método é largamente aplicável a terrenos macios e rochas fraturadas, mas
apresenta dificuldades nos casos de águas salinas ou de águas correntes.
O congelamento, que transforma a água intersticial presente no solo ou rocha em
gelo, pode ser usado para interromper infiltrações de água subterrânea durante a escavação
para consolidar temporariamente terrenos com material inconsolidado. Sua principal
aplicação é em ensecadeiras e em escavações de poços, através de siltes e estratos rochosos
50
intemperizados ou que contêm argila, que não podem ser cimentados econômica ou
eficientemente, e particularmente para estabilização de escavações em terreno corrediço,
macio ou abaixo da camada de água. O método também pode ser usado para estabilização
de túneis onde estes interceptam o contato rocha - solo. São raros sistemas de congelamento
permanentes fora das regiões árticas, onde são muitas vezes utilizados para se manter o solo
congelado sob edifícios aquecidos ou tubulações e para isolar armazéns de estocagem em
solo de líquidos criogênicos.
O congelamento de terrenos tem a vantagem de ser facilmente restringido à
vizinhança imediata da escavação. Entretanto, os métodos são caros e são considerados
apenas quando há problemas técnicos sérios com as outras alternativas de que se dispõe.
Revestimento final: poços até 100 m são comumente revestidos com concreto,
conforme descrito no texto a respeito de revestimentos em escavações. Os maiores poderão
ser revestidos com ferro fundido, gachetas de lençol de chumbo nas juntas e posteriormente
revestidos de concreto.
52
Figura 7. Mecanismo de refrigeração (Maia, 1980).
53
Figura 12. Disposição dos furos de congelamento na galeria (Maia, 1980).
54
Figura 13. Esquema do Sistema de enfilagens tubulares em lances sucessivos.
Figura 15. Aplicação de cambotas e injeção no reforço prévio - enfilagem tubular injetada (Hoek et al,
1995).
55
4.8 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
56
5. ANCORAGENS
José Margarida da Silva
5.1 INTRODUÇÃO
5.2 HISTÓRICO
Não se sabe exatamente quando o suporte interno de terrenos foi usado pela
primeira vez, mas há registros de seu uso em 1872 em Wales, na Grã-Bretanha. Assim
como outras áreas do setor mineral, as técnicas de sustentação em escavações
subterrâneas, por meio de estruturas artificiais, apresentaram uma grande evolução nos
últimos anos, tendo-se em vista a necessidade de estruturas cada vez mais baratas,
resistentes, de fácil instalação e que apresentem uma redução da área escavada.
Entre as alternativas de sustentação, que compreendem os suportes, os revestimentos e as
técnicas de reforço ou tratamento do maciço rochoso, a que mais se aproxima destas
características é a das ancoragens internas, uma vez que são fáceis de serem instaladas, têm custo
relativamente baixo e proporcionam uma redução significativa da seção escavada, facilitando
assim o tráfego de homens e máquinas e a ventilação.
Além destas características, são ainda as ancoragens internas as estruturas que melhor
mobilizam as forças no interior do maciço rochoso para realizar sua auto-sustentação, que é o
objetivo primário de um sistema de sustentação de um maciço.
O reforço de terreno com ancoragens tem melhorado de tal forma que, nas últimas três
décadas, se tornou o método de controle mais utilizado contra a movimentação do terreno e
prevenção de queda de blocos de escavações mineiras (JEREMIC, 1987). O efeito tem sido tão
positivo que foram introduzidas as barras argamassadas e os cabos de ancoragem (“cable bolts”),
propiciando o reforço de massas rochosas maiores ao redor das escavações.
57
5.3 PARAFUSOS DE ANCORAGEM
Ancoragens mecânicas puntuais são um método de suporte largamente utilizado, mas que
vêm sendo substituídas em todos os tipos de condições de terreno pelas ancoragens em coluna
total com resina ou cimento. Com o desenvolvimento de métodos de lavra de grandes volumes, os
cabos de ancoragem se tornaram um método de suporte regular do qual se pode esperar uma
utilização maior ainda no futuro.
A técnica de ancoragens internas consiste basicamente em se introduzir rigidamente uma
barra de aço em um furo previamente executado, com o preenchimento ou não do espaço anular
entre a barra e a parede do furo com argamassa de cimento não retrátil ou com resina. O tirante é
uma barra de aço especial, com maior elongação, para absorver a dinâmica de deformações do
maciço.
Entre as tendências mais modernas de atirantamento, podem ser destacadas:
a instalação de tirantes ancorados com cartuchos de cimento ou de resina;
o sistema “cable bolt”;
tirantes associados a concreto projetado e/ou tela metálica ou fibras de aço
(“concreto reforçado”), exercendo, neste caso, função de suporte e revestimento.
A combinação de atirantamento e concreto reforçado é considerada o método de suporte
mais versátil já utilizado. Ainda a se destacar atualmente a colocação de arcos de aço, ao invés de
pré-moldados de concreto, técnicas como congelamento de terrenos e a combinação de
ancoragens (parafusos ou cabos) com “straps”. Lacourt (2007) relata o uso de straps e cabo na
Novo Astro Mineração.
58
Mining and Construction (2007) mostra a ancoragem realizada em túnel escavado sob o
mar, entre 2006 e 2007. Foram utilizados parafusos de coluna parcial, 4/m de túnel, 48mm de
diâmetro, 5m de comprimento do furo, associados a concreto projetado.
A n c o ra g e m A n c o ra g e m e m A n c o ra g e m A n c o ra g e m e m
d e P o n ta C o lu n a T o ta l d e P o n ta C o lu n a T o t a l
P a ra fu s o P a ra fu s o d e P a r a fu s o P a r a fu s o P a ra fu s o A n c o ra g e m c o m A n c o ra g e m c o m A n c o ra g e m c o m c a b le
c im e n t o ( p a s s i v o )
de C unha c o q u ilh a s " s p lit s e t " " s w e lle x " " w o r le y " r e s in a ( a t iv o ) r e s i n a ( a t i v o / p a s s iv o ) b o lt
59
Figura 2 – Parafuso de ranhura e cunha (Silveira, 1987).
Pena (2006) assim comparou o custo de tirantes mecânicos por atrito na Mina São Bento,
mina de ouro em Santa Bárbara (MG): o Split-set custa U$2/unidade, o Swellex, U$15/unidade. A
mina utilizava o Split-set como suporte provisório e o Swellex de 1,8m de comprimento, na faixa
de 6000 unidades instaladas/mês. A mina foi fechada em 2007.
A cavilha split-set é fabricada com aço com “efeito mola”, apresentando a
vantagem da simplicidade de aplicação dentro da vida útil projetada.
Cury (2007) destaca no Swellex a característica de suporte imediato em rocha dura; os
comprimentos disponíveis são de 1,2 a 1,8m, a capacidade de carga alcançada de 10tf, com 50cm
de coluna; a vantagem relativa ao split set é que pode ser pré-tensionado (trabalhar como suporte
ativo). O citado realça que, em comparação com parafuso com resina, o Swellex é mais caro no
custo de aquisição, mas mais barato no custo global, pois diminui o ciclo operacional, não é
afetado pela pressão d’água (que pode retirar a resina), mas necessita de rigor no diâmetro do furo
como o de resina. Utilizado nas Minas: Crixás (AngloGold, GO), Baltar (Votorantim, SP), Ipurira
(Ferbasa, BA), Urucum (RDM, MS), Morro da Fumaça (Nitroquímica, PR), Kemi (Finlândia),
entre outras, com testes em Criciúma (SC), em minas de carvão. É aplicável com telas; com
60
instalação em menos de 1min, tempo de cura nulo; alongamento possível de até 30%; pressão da
água de injeção de 30 a 40MPa, ainda segundo Cury (2007).
Lima (2007) destaca o tirante expansivo da FOSMINAS (hydrabolt) que
apresenta capacidade de carga na faixa de 7 a 11tf. Os diâmetros usuais são 16, 17, 19, 21
e 25mm. A instalação é feita com equipamento próprio da mina, ganhando-se em rapidez.
Disponível em comprimentos de 1,5 a 4m.
Segundo o citado, o split-set tem vida útil de cerca de 2 anos, enquanto a ancoragem com
cimento ou resina tem cerca de 20 anos. Em termos de custo, a ancoragem com resina é cerca de
duas vezes a ancoragem com split-set.
61
5.6 PINOS DE MADEIRA (“DOWELS”), COM INJEÇÃO DE RESINA
São aplicados em lavra por “longwall” de carvão para estabilização das laterais ou do
teto. os furos têm comprimento até 16 m e os pinos têm diâmetro de 36mm. A resina é injetada a
uma pressão de 14 a 21 kgf/cm2. Permitem o corte posterior pela cortadeira, segundo Biron e
Ariôglu (1983), não apresentando inconveniência ao desmonte.
O emprego de cabos como um sistema de suporte tem sido testado extensivamente nos últimos
anos, mostrando ser efetivo onde métodos mais tradicionais não apresentam bons resultados. O
método combina dois fatores:
a necessidade prática de comprimentos maiores de suporte;
a necessidade de se colocar um suporte, tão logo quanto possível, após a lavra ou abertura
das escavações.
Originalmente o sistema foi utilizado para suporte de frentes de lavra, especialmente na
sustentação do teto nas operações de lavra por corte e enchimento e por recalque. Mais
recentemente tem sido usado na lavra por subníveis, também para suportes de paredes de
escavações em alargamentos abertos e para controle de faces de talude em minas a céu aberto.
Em muitas operações, o “cable bolt” representa um elemento chave de controle do maciço
para alargamentos, enquanto que os parafusos convencionais são utilizados para segurança local
durante a perfuração.
(a)
62
(b)
Figura 3: a) Colocação do tirante ancorado com cartuchos de cimento na Mineração Morro
Velho através do injetor de cartuchos - Mina de Raposos - Raposos (MG) ; b) Representação
esquemática dos passos principais na colocação manual de cartuchos de cimento (cortesia
FOSMINAS).
63
ordem de 5 tf, que funciona coum um cone de aperto, semelhante ao mandrill de uma furadeira –
quanto mais é solicitada, mais difícil de se soltar; conforme Penna, 2005).
Couto (2002) aponta também as solicitações que atuam após a fixação do cabo notadamente
na interface da superfície lateral dos cabos e a calda injetada.
Aconteceram também avanços em termos de monitoramento na criação de cabos com
extensômetros acoplados, como no smart cable bolt. O extensômetro é um dispositivo que
permite a detecção de deslocamentos no interior do maciço rochoso. No caso desse tipo de cabo,
existem alguns pontos ao longo de seu comprimento, onde sensores detectam os deslocamentos
relativos entre os pontos de instalação does extensômetros. O catálogo do fabricante não
especifica o custo desses acessórios no cabo.
O sistema também é utilizado na abertura de galerias em terrenos inconsolidados,
realizando-se primeiro uma galeria piloto, a partir da qual são instalados os cabos para segurança
da futura escavação ou mesmo na sustentação das rochas encaixantes prévia à lavra, quando estas
apresentam baixas condições de estabilidade. Este último caso implica um aumento da diluição
em troca de uma melhor sustentação e a manutenção de furos longos no desmonte (Vide figura
6).
Devido a estas características, o sistema tem sido bastante utilizado nas minerações
brasileiras, cumprindo com eficiência a função de sustentação imediata da frente de trabalho,
estabilizando um volume de rocha superior aos demais métodos devido ao comprimento dos
cabos utilizados.
A tendência é o seu uso cada vez mais freqüente e ainda o seu aperfeiçoamento, visando
minimizar custos e aumentar o seu campo de atuação. Tem-se conhecimento da diminuição do
ciclo operacional e do aumento na recuperação de pilares com o uso de cabos na lavra por
câmaras e pilares em minas brasileiras e americanas (DISMUKE e outros, 1995) ou ainda de
tentativas como a reutilização de hastes de perfuração como estruturas de sustentação na lavra por
corte e enchimento.
Mining and Construction (2007) relata a utilização de equipamento de instalação de
cabos (Cabletec) na Mina de Cuiabá, da AngloGold, em Sabará (MG). A conjugação em um
único equipamento de funções realizadas anteriormente por 3 máquinas elevou em 18% a
velocidade de instalação de cabos. O equipamento apresenta disponibilidade de 89%, com 20 a 25
mil metros de suporte realizado.
Outra mina que utiliza esse tipo de equipamento (Boltec) é a Kemi Mine, na Finlândia.
De acordo com Engineering and Mining Journal (2005), o equipamento tem um carrossel para 17
hastes, trabalha com velocidade de instalação superior a 40m/h, inserindo em furos de 51mm de
diâmetro, de até 20 ou 25m de comprimento. Também utilizado na Mina Michilla, no Chile,
segundo o mesmo periódico.
Na instalação mecanizada, inverte-se a ordem: primeiro é injetada a argamassa e depois
colocado o cabo, com o cone de vedação.
Lacourt (2007) relata a diminuição da diluição na Mineração Novo Astro com a
utilização de cabos (4 a 8m de comprimento) na ancoragem: da faixa de 35 a 40% no
desenvolvimento das aberturas e de 15 a 40% na lavra, caindo a cerca de 5%.
Lima et al. (2008a) relatam a experiência na Mina de Ipueira, de cromita, de diminuição
da diluição e elevação da recuperação, com utilização de cabos, com espaçamento e comprimento
definidos pela sistema de Potvin (1988); o custo alcançado com materiais é de R$ 10 a R$12/ m
instalado. Os mesmos autores, em outro trabalho, comparam a substituição de cambotas metálicas
cabos, em região de transição litológica gabro-mármore, de espessura aparente variando de 6 a
25m, com plastificação (squeezing), utilizando-se mínimo de 5m de comprimento, além da
escavação.
Luvizzoto (2008) relata a utilização da cabos de 9,6m de comprimento no
desenvolvimento na Mina de Cuiabá, da AngloGold, em malha de 1m x 1m.
64
5.8 ANCORAGEM COM CARTUCHOS DE RESINA
Adicionalmente a Silveira (1987), Campoli et alii (sd, início dessa década) mostram que
o desempenho de parafusos de resina é dependente do anel de resina, diferença entre os raios do
furo e do parafuso. Segundo os citados autores, a maioria dos milhares de parafusos instalados
nos EUA por ano aplica anéis de 3,175mm e 2,413 mm e resistem à média de 0,08t/mm
“grauteado”. As perdas de resina para as fraturas simuladas aumentam com a dimensão do anel.
Lima (2007) citou o diâmetro de ancoragem geralmente utilizado em minas de carvão de
20mm, com resina de PUR (pega ultra-rápida). A FOSMINAS desenvolveu o tirante auto-
perfurante, que possui uma broca (bit) em sua extremidade que evita o fechamento local do
maciço, o que poderia dificultar a introdução do tirante. A instalação é completada com a injeção.
A resina de pega rápida (PR) tem tempo de pega de 1 a 1,5 min e a de pega lenta
(PL), 12 min. O torque, para alcançar o efeito viga, é dado após o tempo de pega da
resina PR. Comparando-se com o cartucho de cimento, essa última tem pega entre 15min
a 1h. E mais: com cimento, não se pode realizar protensão. Os cartuchos estão
disponíveis em comprimento de 10 a 50cm. A protensão em parafusos com resina é dada
entre o tempo de pega (1 a 3min) e o tempo de cura (12min).
Na Mina de Verdinho, da Carbonífera Criciúma, a sustentação é realizada com
tirantes com resina de pega rápida, que suportam 11tf (Paludo et al., 2008).
Os parafusos ancorados com resina são também utilizados em poços principais.
5.9 CONCLUSÕES
65
( a) (b)
(c)
Figura 4: Aplicação de cable bolt: a) na Mina da Cia. Mineira de Metais - Vazante (MG); b)
Associação de cabos pré-tensionados e straps na Western Holding Mine - África do Sul
(cortesia FOSMINAS); c) na Mina do Baltar - Votorantim (SP) - esq. e na Mina da
Mineração Caraíba (BA) - dir.
66
Figura 6: Aplicação de cable bolt prévio à lavra - a
colocação em alargamentos de corte e
enchimento na Mina Campbell (Borchier e
Figura 5 : os dois métodos de instalação de cabos outros, 1992 apud Hoek e outros, 1995).
(Hoek e outros, 1995).
As telas de arame são utilizadas para suportar pequenos blocos de rocha solta ou
como reforço para a projeção de concreto. Dois tipos principais de telas são comumente
utilizados em minas subterrâneas: telas em cadeia ou em corrente (chainlink mesh) e telas
soldadas (weldmesh).
As telas são uma solução muito econômica e são facilmente instaladas. É fácil de se
adaptá-las ao reforço do teto e são facilmente reparadas.
Este tipo de tela consiste de um arranjo trançado de arame. O arame pode ser
galvanizado para proteção à corrosão; é flexível e forte. Uma aplicação típica está mostrada
na figura 1: a tela é colocada no teto de uma galeria de transporte através de tirantes.
Pequenos blocos de rocha que se desprendem do teto são suportados pela tela que,
dependendo do espaçamento dos pontos de ancoragem, pode suportar uma carga
considerável de rocha fragmentada.
Elas não são as mais recomendadas para reforço da aplicação do concreto pela
dificuldade de se conseguir que o cimento projetado penetre a malha trançada e elimine os
bolsões de ar atrás dos elos da tela.
69
dada pelo uso de pequenos parafusos grauteados ou de luvas expansíveis. Ancoragens
auxiliares suficientes devem assegurar que a tela seja suficientemente fechada para aquela
superfície rochosa. Um bom operador de injeção de cimento pode trabalhar com a tela
distante até 200 mm da rocha, o que tende a tornar mais difícil o trabalho, mas é essencial
que a tela seja completamente coberta pela injeção do cimento.
A tela é facilmente danificada pela movimentação da rocha resultante de explosões
próximas e sua instalação deve ser retardada até que a detonação esteja mais distante ou
possa ser protegida da movimentação de rocha através de seqüências de detonação. A tela
danificada deve ser substituída através do corte da seção afetada e providenciando-se uma
razoável superposição para assegurar a continuidade do reforço. A tela soldada tem a
vantagem de não desagregar quando danificada.
É difícil de se conseguir telas soldadas galvanizadas e, deste modo, o aço ficará
sujeito a corrosões apreciáveis se não for completamente encaixado no concreto. Deve-se
cuidar para que não se formem bolsões de ar atrás dos arames ou nos pontos de intersecção,
o que pode ser obtido pela movimentação constante do bocal de injeção do cimento de
modo que o ângulo de impacto seja variado e o concreto seja projetado atrás dos arames.
Este modelo de tela vêm sendo substituído por fibras de aço como reforço na
aplicação do concreto.
6.2.3 Straps
Outra opção às telas são as cintas (straps), utilizadas também em conjunto com as
ancoragens (fig. 5). Este sistema é utilizado onde os parafusos sozinhos não podem suportar
tetos imediatos formados por estratos de pequena espessura. Quando a massa rochosa que
circunda uma abertura subterrânea é muito viscosa; em outras palavras, a maioria dos
planos de fraqueza mergulha em uma dada direção, a resistência desta massa rochosa é
muito maior na direção dos planos que em outra direção que os atravesse. Nestas
circunstâncias, as straps podem ser um modo mais efetivo de revestimento que as telas; são
fáceis de ser instaladas, não devendo ser usadas se o tamanho de bloco é muito pequeno.
Essas estruturas são comuns na Mina de São Bento, da Eldorado/São Bento
Mineração, em Santa Bárbara (MG).
Figura 4 Deformação do teto e ruptura lateral, em uma via de transporte, em uma mina de cobre, na Austrália
(Hoek & Brown, 1980).
6.3.1 Histórico
Em 1824, foi desenvolvido o concreto, produzido por material calcário que veio a
se chamar cimento Portland logrando grande efeito na construção de túneis como
elemento de suporte. Em 1910, em Nova York, a empresa Allentown, da Pensilvania,
apresentou o “cement gun”, equipamento pneumático para o transporte de uma mistura
de cimento e areia, recebendo, no terminal de projeção, a água. Este “spray” de
argamassa foi registrado em 1912 com o nome de “gunite”. Estes elementos são
considerados precursores do concreto projetado (Carnero e Fujimura, 1995).
71
Kovári (2003) mostra a história do método de revestimento com concreto desde seu
início e como se desenvolveu internacionalmente nos aspectos teóricos e tecnológicos. As
inovações técnicas tiveram um crescimento no modo de ação, bem como nos fatores
econômicos, com grande aceitação a partir dos anos 50 do séc XX.
d=R K 1
K-2 p
onde: d - espessura (m), R - raio interno útil do poço (m), K - limite de resistência à
compressão da alvenaria (kgf/cm2), p - pressão da rocha (kgf/cm2).
Figura 6 Seções de revestimentos de poços: a)(Vaz, Fernandes e Ikeda, 1985); b) Revestimento de poços em
camadas de solos permeáveis(Hennies e Ayres da Silva, 1995).
72
Legenda
1 maciço rochoso
2 betumen ou cimento
3 alvenaria de tijolos
4 betumen
6 pintura de betumen
7 concreto armado
(b)
8 armação de aço
O concreto projetado pode ser definido como o concreto lançado por ação
pneumática. É uma mistura de proporções adequadas de cimento, agregados, água e um
conjunto de aditivos de aceleração de pega, todos aplicados por uma máquina e lançados
através de um bocal de sopro. É o termo geral (shotcrete) para processos de projeção de
concreto.
O concreto projetado subdivide-se, quanto à mistura de saída, em via seca e via
úmida. Com relação ao sistema de processamento, subdivide-se em transporte de fluxo
rarefeito (fino) e transporte de fluxo denso (Guimarães Filho, 1995). No início de sua
aplicação (até a época referida acima) só acontecia a mistura a seco (wikipedia.org, 2006).
O concreto projetado é distinguido daquele colocado ou bombeado para trás de
formas de aço, em geral pela menor dimensão do agregado usado (até cerca de 8 - 16mm).
O concreto é mais forte que a tela, particularmente se reforçado com fibras de aço e
resistente à corrosão. É, em muitas situações, considerado o sistema de sustentação mais
efetivo. Particularmente útil tanto em escavações como rampas quanto em galerias de
transporte, onde é importante a estabilidade durante um longo tempo. As fibras moldam
melhor o concreto e garantem o recobrimento pelo concreto (comparativamente à tela).
A adição de microsílica e fibras como reforço da argamassa tornou o sistema
bastante versátil. Como o concreto desenvolve resistência um tempo após a aplicação, ele
deve ser utilizado logo após a escavação. O concreto impede a queda de blocos gerados
na seqüência da lavra na vizinhança, substituindo telas, cuja instalação tem alto risco de
acidentes. As fibras de aço introduzidas têm resistência à tração superior a 1000 MPa
(Lima, 2007).
Uma alternativa são os anéis segmentados. A utilização do concreto reforçado
elimina a necessidade de duas projeções, como é o caso do concreto projetado
convencional, onde a primeira projeção regulariza a seção escavada.
73
(a)
Figura 7 a) Plataforma de escavação de um poço da mina de Raposos; b)Revestimento de um poço da Mina
de Raposos - MG, Mineração Morro Velho (Vaz, Fernandes e Ikeda, 1985).
74
(b)
75
As bombas de projeção funcionam continuamente, segundo um sistema tipo
revólver (ver fig. 8 e 9), no qual o material a ser projetado é introduzido no funil de
alimentação, passa pelo misturador e chega, através do orifício, ao rotor. As câmaras do
rotor transferem o material ao bocal de saída, a partir de onde um fluxo de ar comprimido
transporta-o, através de uma mangueira, até o bico de projeção, onde é acrescida a água
necessária (“dry-mix shotcrete”). Noutros equipamentos a água é introduzida durante a
operação de mistura do cimento com os agregados (“wet-mix shotcrete”). Comparando:
76
Figura 8 Aplicação de tela e concreto projetado em um túnel na Rodovia de Contorno - Ouro Preto.
Figura 9 Operação típica da mistura a seco de concreto projetado (Hoek & Brown, 1980).
77
paredes de contenção;
proteção dos tetos e paredes laterais das escavações contra a desintegração
provocada pela umidade; como o revestimento obtido é praticamente impermeável
à água e ao ar, ele impede a desintegração da rocha;
proteção da madeira contra o apodrecimento; entretanto, a experiência tem
demonstrado que, quando se recobrem elementos fundamentais de uma estivação,
a sua eventual inspeção só poderá ser feita rompendo-se o revestimento. Além
disto, o apodrecimento da madeira pode produzir-se mesmo sob esta proteção,
razão pela qual as vantagens de aplicação da gunita sobre madeira são muito
discutíveis;
proteção da madeira contra incêndio;
sustentação provisória na perfuração de poços verticais ou inclinados;
construção de paredes delgadas de concreto;
reparos em revestimentos de pedra, tijolos ou concreto.
Antes da aplicação do concreto projetado, a superfície a ser revestida deve ser limpa
com jatos de ar ou água, após a remoção dos chocos.
Os agregados (areia e brita) devem ser perfeitamente limpos, bem como o ar
comprimido utilizado na projeção, o qual deverá estar isento de impurezas tais como
emulsões de óleo.
A brita pode ter granulometria de até 3/4”, mas na maior parte dos casos, fica em
torno de 3/8”. Os agregados de maior granulometria reforçam bastante a estrutura,
tornando-as capazes de suportar o peso próprio, mesmo para aplicações no teto.
(a)
Figura 10 a) Aplicação típica da mistura a úmido de concreto projetado (Hoek & Brown,
1980); b)Equipamento System 2000 (Catálogo Stabilator).
(b)
78
A respeito dos materiais: agregados - são preferíveis os naturais à rocha britada,
evitando-se a presença de silte, mica e matéria orgânica; água - sem graxa, óleo, sais,
matéria orgânica e álcalis; acelerador - existem vários no mercado, utilizados para trabalhos
no teto ou paredes verticais com camada considerável para dar grande resistência inicial.
Constituição básica: 15 a 20% de cimento, 30 a 40% de agregados grossos, 40 a
50% de agregados finos (sólidos).
Durante a projeção uma parte do material se desprende e é perdido. A proporção
desta perda costuma ficar entre 5 a 30%, em boas condições de operação. O material
desprendido nunca é reaproveitado para projeção. Inconvenientes que devem ser evitados:
a) ressalto ou reflexão (“rebound”) - pela falta de uma dosagem adequada de água no
bocal do mangote de projeção, o concreto fica muito seco e reflete-se ao ser
projetado em uma superfície;
b) escorrimento (“sag”) - pela exagero de água adicionada, o concreto fica muito
molhado e escorre ao ser projetado.
O consumo de ar comprimido é função do diâmetro e comprimento da mangueira.
As distâncias horizontais e verticais máximas que podem ser atingidas variam com o porte
do equipamento utilizado, atingindo até 300 m e 100 m respectivamente.
Diversas camadas podem ser aplicadas sucessivamente até se atingir a espessura
desejada, que pode ser de 15 cm ou mais; entretanto, na espessura de cada camada não se
deve ultrapassar 5 cm. Exemplos: mina da FERBASA, BA, camada de menos de 10 cm;
mina Morro da Usina, da CMM, locais com até 20 cm de espessura (o bombeamento na
mina é de cerca de 3000 m3 / h de água). Para revestimento do teto e paredes laterais existe
um limite para a espessura que pode ser aplicada, porque se esta for excessiva, o
revestimento tenderá a cair antes do endurecimento.
O concreto projetado freqüentemente é associado com tirantes; tirantes e telas
metálicas; arcos metálicos ou reforçado com fibras de aço. A estrutura assim construída
possui, então, características de suporte e revestimento.
A aplicação de argamassa (gunita) em 1992 como uma tentativa de revestimento
temporário econômica nas galerias de minas nos EUA e, em seguida, para recuperação de
estruturas.
O uso de compósitos na mistura e seu comportamento estrutural foi estudado por
Gonçalves (2001).
79
método de suporte mais versátil já desenvolvido. Ele pode ser aplicado tanto como
suporte temporário como permanente, simplesmente através da mudança da espessura da
camada projetada e do ajuste do espaçamento entre os parafusos, tanto em obras de
mineração quanto na construção civil, nesta com a adição de polímeros.
Enquanto os parafusos, como já foi dito, mobilizam as forças para o interior do
maciço, o concreto reforçado com fibras de aço realiza uma função de revestimento,
evitando o desprendimento de pequenos blocos e regularizando os contornos da
escavação, melhorando assim as condições de ventilação, além de contribuir em parte na
função de sustentação dos estratos superiores, uma vez que atua solidário aos parafusos.
As fibras têm a função de conferir ao concreto resistência à tração; se ainda for
necessário, acrescentam-se telas. Estas telas são presas aos parafusos e devem ser, quanto
ao modo de construção, constituídas de arames soldados, uma vez que o uso de arames
trançados permitiria a existência de vazios nos nós da malhas, dificultando o
preenchimento pelo concreto.
Processos de mistura a úmido do concreto foram substituídos pelo processo a
seco no início dos anos 80 e, ao mesmo tempo, as fibras começaram a substituir a tela no
reforço. Numa mistura típica atual são adicionados de 50 a 90 kg/m 3 de fibras à mistura
(Franzén, 1992) (vide figuras 11 a 13).
Dos vários desenvolvimentos na tecnologia de concreto projetado nos últimos
anos, dois dos mais significativos foram a introdução da microsílica e o reforço com
fibras de aço.
A microsílica é um subproduto da indústria do ferro-silício. Reage com o
hidróxido de cálcio durante a hidratação do cimento. Adicionada em quantidades de 8 a
13% em peso de cimento, pode permitir ao concreto alcançar resistência à compressão de
2 a 3 vezes a planejada. O resultado é um concreto extremamente resistente, impermeável
e durável. Outros benefícios incluem a redução de ressaltos, aumento da resistência à
flexão, aumento da ligação com o maciço rochoso e da facilidade de se projetar camadas
de até 20cm de espessura em cada aplicação. Entretanto, quando se usa a mistura a
úmido, a “trabalhabilidade” do concreto diminui, sendo necessária a colocação de
aditivos que restauram a sua plasticidade.
O concreto reforçado foi introduzido nos anos 70 e tem aumentado a sua aceitação
como substituto do concreto tradicional reforçado com tela metálica. O ganho principal
que o reforço proporciona ao concreto é a ductilidade. Deformações elásticas de grande
magnitude podem sobrecarregar e levar à ruptura o sistema de suporte, a menos que este
tenha ductilidade suficiente para acomodar estas deformações. Não se pode dizer ainda
que esta fibra resolva todos os problemas de concreto projetado, mas os resultados
técnicos são animadores (Amaral Filho, 1995).
80
Figura 11 Associação de quadro metálico, tela e parafusos - Mina de Taquari- Vassouras - SE (Brasil
Mineral, 1984).
Figura 12 Tipos de fibras de aço utilizadas nos EUA - dimensões em mm (Wood, 1992 apud Hoek e
outros, 1995).
81
A não ser que interesse como impermeabilizante, o revestimento de gunita não tem
vantagens especiais para aplicação no piso. A qualidade do concreto aplicado pode ser
comprovada mediante ensaios realizados em corpos de prova coletados durante a fase de
execução. O sucesso da operação depende bastante da habilidade do operador com o bocal.
De acordo com Zirlis et al. (2004), os projetos de túneis, inicialmente com uso de
cambotas e concreto projetado, tiveram de ser revisados para utilização de concreto com
fibras de aço, levando a uma maior velocidade de execução da abertura.
82
Figura 14 Injeção e revestimento com poliuretano.
2. Na mina de ouro de Val D`Or, em Quebec (Canadá), de acordo com Engineering and
Mining Journal (2005), o poço foi desenvolvido na lapa, até 810 m de profundidade. Se
diâmetro de 4,8m foi revestido de concreto e a equipagem total foi finalizada em 2006, com
extensão posterior prevista para 1350m de profundidade.
ABGE. 1980. Sustentação e Revestimento em Túneis e Galerias. Boletim 10, p. 27- 29.
Amaral Filho, E. M. 1995. Tecnologia de Concreto Aplicado a Revestimento de Túneis In:
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83
Franzén, T. 1992. Shotcrete for Underground Support - A state of the art Report with the
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85
7. TÉCNICAS DE MONITORAÇÃO DE UM SISTEMA DE ATIRANTAMENTO
O que pode ser monitorado numa mina subterrânea: ruptura da rocha no contorno da
escavação; movimento ao longo de uma descontinuidade; deslocamento relativo entre dois pontos
no contorno da escavação (convergência); deslocamentos no interior do maciço, fora do contorno
da escavação; deslocamentos da superfície (subsidência); mudança da inclinação de um furo
(desvio); nível de água, pressões neutras; mudanças (variações) de tensões (num pilar, por
exemplo); pressões normais e de água no enchimento; deformação do material de enchimento;
eventos sísmicos; velocidades de propagação de ondas.
A monitoração de maciços rochosos por método observacional se constitui de observação in
situ para verificação da convergência entre realidade e projeto, para aferição do modelo
matemático proposto. O ciclo se constitui de caracterização geológico-geomecânica, formulação
do modelo, dimensionamento, monitoração e retroanálise.
O programa de controle instrumental de estabilidade no interior da mina se baseia no
controle instrumental das deformações de seus diferentes componentes estruturais.
Os objetivos principais de um programa de monitoração são: verificar a validade das
suposições, aferição do modelo e propriedades do maciço; assegurar condições de segurança, por
exemplo, controle das deformações, pressões de água, carga nos suportes; informações
localizadas, para implementação de medidas de segurança (zona de cisalhamento, estrato menos
resistente etc).
O projeto do sistema de monitoração leva em conta o que medir, para que medir e como
medir. Entre as premissas do projeto está a mínima interferência coma produção. A interferência
é normal. Mas deve ser mantida dentro dos limites aceitáveis de custos operacionais.
Características de um sistema de monitoração: facilidade de instalação; adequada
sensitividade, reproducibilidade; robustez, durabilidade; facilidade de leitura; mínima
interferência com operações de produção.
Componentes de um sistema de monitoração: unidade de leitura (conversão dos dados
para uma forma possível de utilização); sensor (mudanças na variável monitorada); sistema
transmissor (transmissão da saída do sensor para a unidade de leitura - hastes, cabos elétricos etc).
As fases são a detecção, a transmissão e a leitura.
Os modos de operação dos sistemas de monitoração se compõem de sistemas mecânicos,
eletro-óticos ou elétricos. Os sistemas mecânicos são mais simples e baratos, não possibilitam a
leitura contínua ou remota. Os sistemas óticos e eletro-óticos se compõem dos transdutores
hidráulicos e pneumáticos. Os sistemas elétricos são mais comuns, sendo os medidores de
deformação (strain gauges) – baseiam-se no princípio de que a resistência do fio varia varia
proporcionalmente à deformação), corda vibrante (a freqüência natural de vibração de um fio
varia com a tensão de tração no fio) e de auto-indutância.
A monitoração de um sistema de atirantamento é parte fundamental do dimensionamento
racional de uma malha de atirantamento. Os testes realizados incluem os tirantes e o maciço
rochoso circundante às escavações atirantadas.
De forma geral, a monitoração das estruturas de escavação nada mais é que o registro
contínuo ou periódico de grandezas físicas importantes à verificação da estabilidade das
cavidades subterrâneas.
A medição destas grandezas físicas permite a aferição dos modelos empregados no
dimensionamento do sistema de atirantamento. Este procedimento permite, inclusive, a revisão
do projeto inicial de atirantamento, levando à otimização da solução proposta.
86
Além da aferição e otimização do modelo proposto, a monitoração de um sistema de
atirantamento é fundamental para detectar problemas no comportamento das ancoragens (como é
o caso da perda de protensão com o tempo), defeitos de instalação e controle de qualidade dos
materiais utilizados.
Um projeto de monitoração de um sistema de atirantamento deve levar em conta a
heterogeneidade do maciço rochoso e a existência de sistema de descontinuidades, que
influenciarão, tanto a aplicação do projeto de monitoração, quanto a interpretação dos resultados.
Assim é necessário o conhecimento geológico detalhado dos locais instrumentados, associado ao
conhecimento da geologia regional do maciço.
Outro fator importante no projeto de monitoração é a simplicidade dos instrumentos
empregados, tanto no que tange à operação quanto à manutenção dos mesmos.
Finalmente, o projeto de monitoração deve ser elaborado de forma a minimizar sua
interferência com as frentes de produção da obra, para que não haja um aumento inaceitável dos
custos operacionais.
Durante a instalação dos tirantes, uma inspeção dos furos onde os mesmos serão
instalados poderá evitar erros no método de instalação. A posição e direção dos furos deve
corresponder exatamente à posição prevista no plano de atirantamento. O comprimento e o
diâmetro do furo deverão estar rigorosamente dentro das especificações.
O comprimento do furo está relacionado ao tipo de ancoragem utilizada. No caso de
ancoragem mecânica, o comprimento do furo deve ser igual ao comprimento total da haste. No
caso de ancoragem química de coluna total, o comprimento do furo deve ser calibrado para que o
volume de resina ou cimento seja uniformemente distribuído em todo o comprimento do furo.
O diâmetro do furo deve ser inspecionado para garantir o bom desempenho dos tirantes.
Se o diâmetro for maior que o recomendado haverá redução na capacidade de ancoragem
(ancoragem mecânica). Se for menor, não se consegue a instalação correta do dispositivo de
ancoragem. No caso de ancoragem química em coluna total, um diâmetro de furo mal calibrado
tem o mesmo efeito da variação no comprimento do furo.
Esse teste é realizado em um parafuso instalado nas condições de campo e tem por
objetivo a medição da resistência da ancoragem. A resistência é medida através de um teste de
arrancamento do tirante, no qual o deslocamento do dispositivo de ancoragem é medido como
função da carga aplicada ao tirante, o que resulta na obtenção de uma curva carga -
deslocamento.
O teste de arrancamento é usualmente empregado para seleção de tirantes e também para
controle de qualidade dos materiais e métodos de instalação.
87
Um número mínimo de cinco testes são requeridos para um mesmo maciço e condições
de instalação específicas. Os testes são destrutivos e não devem ser feitos em tirantes que são
parte da malha de atirantamento.
Os equipamentos utilizados nos testes consistem de:
a) conjunto de aplicação de carga - macaco hidráulico de êmbolo vazado com capacidade maior
que a resistência da ancoragem e do tirante a ser testado;
b) equipamento para medição de deslocamento axial da cabeça do tirante. Por exemplo, um
extensômetro mecânico ( tipo relógio comparador) com curso de 50 mm, resolução de 0,01mm.
c) um tripé para manter a coaxialidade do macaco com o tirante.
88
7.2.3 Perda de Protensão
É muito comum o fenômeno de perda de protensão dos tirantes com o tempo. A queda de
protensão é conseqüência de vários fenômenos, entre os quais é possível citar:
- escorregamento do dispositivo de ancoragem (ocasionado por ancoragem mecânica puntual em
rochas brandas, vibrações causadas pelo desmonte, fluência da rocha, corrosão etc);
- instalação inadequada.
A monitoração da tração nos tirantes deve ser feita em aproximadamente um tirante em
cada 10 do sistema de sustentação. O equipamento utilizado consiste, de uma célula de carga. As
células de carga podem ser mecânicas, elétricas, fotoelásticas. Uma célula de carga mecânica do
tipo mola-prato, com orifício central pode ser utilizada no teste.
Na grande maioria das células de carga, o princípio de deformação de um corpo
“elástico” sob a influência de uma força externa é utilizado para determinar a força aplicada
através de um fator de calibração.
Um caso da célula de carga tipo mola-prato, o elemento elástico consiste de uma mola. A
mola é fixada entre dois pratos, sofrendo deflexão quando carregada. Um relógio comparador
mede a distância entre os dois pratos.
A calibração da célula de carga é realizada em laboratório e consiste na obtenção de uma
curva carga x deslocamento para a célula de carga.
O resultado de um teste de perda de protensão é um gráfico perda de protensão (%)
versus tempo.
A freqüência de leitura depende da mudança observada na protensão. Uma leitura deve
ser feita imediatamente após a instalação e algumas horas depois. Nas vizinhanças de uma face
de desmonte as leituras devem ser feitas em intervalos de horas.
Em outros casos onde a variação é pequena (“áreas inativas”), as leituras devem ser
feitas em intervalos da ordem de dias ou meses.
89
Os medidores de convergência registram a aproximação dos pinos com o tempo, ou seja,
o fechamento da galeria.
No medidor de convergência por fio invar, utiliza-se um fio de comprimento invariante
com a temperatura, ao qual se aplica uma força constante em cada leitura. A carga é aplicada ao
fio através do cursor de parafuso e controlada através de um dinamômetro. A força é controlada
através de um relógio comparador com curso de 5mm e resolução de 0,01mm. A leitura dos
deslocamentos é feita por relógio comparador com curso de 50mm e resolução de 0,01mm. A
diferença entre duas leituras consecutivas em tempos diferentes corresponde à variação da
distância entre os pinos.
O medidor de convergência tipo alongâmetro só pode ser utilizado para medição da
convergência teto/piso de uma galeria. O instrumento é constituído de duas seções (superior e
inferior) que se deslocam entre si telescopicamente, através de uma haste cilíndrica de aço inox.
Esse movimento é registrado por um relógio comparador com curso de 50mm e resolução de
0,01mm. A diferença entre duas leituras consecutivas em tempos diferentes fornece a
convergência entre o teto e piso da galeria.
O correto posicionamento do instrumento entre os dois pinos é garantido por uma mola
que exerce uma força axial sobre ambas as seções do instrumento. Em função da geologia
local, podem ser adotados pinos de comprimentos diferentes. Estes pinos permitem isolar o
comportamento de descontinuidades existentes no teto ou piso da galeria.
Na utilização de pinos de comprimentos diferentes permite isolar o comportamento dos
dois estratos no teto imediato da galeria. Nesse caso, o contato geológico se encontra na zona de
alívio de tensões do domo de descompressão induzido pela escavação. O pino mais curto medirá
o desplacamento do estrato inferior, enquanto o pino mais longo, ancorado na camada superior
mais rígida, medirá a deformação da escavação como um todo. A importância da detecção do
desplacamento da camada inferior é, justamente, a indicação da necessidade de escoramento, já
que os resultados das medições podem se afastar consideravelmente dos deslocamentos
admissíveis no projeto.
90
Se o sistema de atirantamento proposto é adequado, as medidas de convergência devem
apresentar tendência de estabilização com o tempo. Se a velocidade de deformação com o tempo
é crescente, haverá risco de desabamentos e necessidades de reforçar o sistema de atirantamento
ou mesmo de instalar estruturas mais eficientes para o necessário controle de deformação.
As medições de convergência consistem em medir as mudanças no contorno da escavação,
assim se quantificará a evolução do processo de relaxação (alívio) ou concentração de esforços
(“efeito arco”) ao redor da escavação, que permitirá conhecer seu grau de estabilidade
(unasa.edu.pe, 2007).
91
relativos entre os pontos de instalação does extensômetros. O catálogo do fabricante não
especifica o custo desses acessórios no cabo.
É ainda comum a instalação de pinos entre anéis de concreto de sustentação de poços
para a verificação de subsidência.
De acordo com Ferreira e Ferreira (2002), o problema de desplacamento nas paredes do sistema de
transferência de minério da Mina Cuiabá teve início nos anos 90 do séc. XX, quando foi constatada a
interligação da passagem de minério com a passagem de estéril.
A partir do evento, a cavidade passou a ser usada somente como passagem de minério, para evitar a
diluição. Os freqüentes desplacamentos de rocha, levando à obstrução dos chutes na estação de
carregamento conduziu ao estudo de alternativas para novo sistema de transferência de minério, tendo em
vista a possibilidade de se ter que abandonar os sistema então em uso.
Os autores relatam as etapas e tentativas de solução do problema, como a implantação de estruturas de
concreto armado fechando o ponto de varação, que tiveram resultado apenas momentâneo.
Outra etapa foi o levantamento topográfico na região da passagem de minério, que apontou uma cavidade
com dimensão máxima de cerca de 15m (longitudinal) x 7m (transversal) e uma distância de 30m do poço
de acesso.
Após estudos das alternativas para o levantamento, optou-se em função do menor custo, da garantia de
obtenção de resultados e da menor demanda de tempo para sua execução, pelo levantamento com o sistema
CMS - Cavity Monitoring System, utilizado anteriormente pela Mineração Caraíba. O sistema permite, a
92
uma distância de até 300m, coletar pontos da seção da escavação e redesenhá-la para comparação com o
projeto.
Para este trabalho, a passagem não foi completamente esvaziada, ficando cerca de 500t de minério
desmontado em seu interior. Foram definidos três pontos de instalação de equipamentos e varredura com
feixe laser: na intersecção de uma galeria com a passagem e nas intersecções das ramificações (fingers)
coma passagem de minério e de estéril.
Os dados coletados foram adicionados ao modelo original das galerias e subidas, sendo geradas
intersecções horizontais com espaçamentos variando de 1 a 4m, dependendo do estado do maciço na
região. A partir daí foram feitas interpretações para se chegar ao formato mais provável da cavidade. A
cavidade modelada apresentou volume de cerca de 18.400m 3, com capacidade para cerca de 30.000t de
minério desmontado.
O trecho de maior desplacamento foi detectado a 12m do teto da galeria inferior à passagem. O pilar
resultante de 30m definido entre a abertura resultante da interligação e o poço de acesso se reduziu a 26m,
mas, segundo os mesmos autores, à medida que o desplacamento progride, há uma perda de energia no
desgaste do pilar em direção ao poço.
A empresa realizou a caracterização geomecânica do maciço na região do poço e avaliou as condições de
estabilidade, em função da sobre-escavação nos sistemas de transferência. O monitoramento de
movimentações no local confirmou a inexistência de risco imediato na região do poço e da estação de
carregamento. O estudo recomendou, ainda assim, a instalação de seções de convergência no nível 11 de
lavra, na região próxima ao sistema de transferência e a execução de modelagem matemática para
simulação do comportamento do maciço e das aberturas.
O estudo recomendou o abandono do primeiro sistema (originalmente passagem de minério), com maior
desplacamento relativo, mas alertando que o desgaste das paredes também poderia vir a agravar as
condições no segundo sistema (originalmente passagem de estéril).
A mina realiza medidas de deformação na Mina de Cuiabá, Sabará (MG), elabora o “protocolo”
geomecânico, onde mostra, nas entradas das escavações principais, as regiões de maior
deformação, com código de cores – vermelho para regiões críticas, amarelo e verde.
93
7.4.4 Monitoramento microsísmico na Mina Caraíba (Andrade, Santos e Silva, 2003)
A Mina de Caraíba, em Jaguararibe (BA), que extrai cobre, teve, com seu aprofundamento entre
500 e 800m, tensões da mesma ordem de grandeza de outras minas subterrâneas, com
profundidades entre 1500 e 2000m. Surgiram desplacamentos e, após estudos, foram
implementadas modificações na mina do método de lavra, monitoramento microsísmico de
superfície e de subsolo, introdução de enchimento (pastefill), monitoramento topográfico a laser
(sistema CMS – cavity monitoring system) aumento da mecanização e automação das operações.
Nos primeiros três meses de observação, foram detectados 2237 eventos diversos; desde a
implantação do monitoramento, são observados 2 eventos na escala 2 ou 3 por ano, com
lançamento de material.
94
7.6 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
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pp. 137-158.
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Bolting, édition de la revue Industrie minérale, pp.153-164.
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Stillborg, 1994. Professional Users Handbook for Rock Bolting. Trans Tech Publications, 2nd
ed., pp. 103-110.
World Tunnelling, set 1995, p.13.
Fica aqui o nosso agradecimento ao Engenheiro Joaquim Mateus de Freitas pelo seu
precioso auxílio na digitação de parte deste texto, enquanto aluno da Escola de Minas/UFOP.
95
Sugestões
Figura 1 Calibração do furo para colocação da ancoragem (Dejean & Raffoux , 1980).
Figura 2 Efeito da calibração do furo e monitoramento do diâmetro do furo (Dejean &
Raffoux , 1980).
Figura 3 Equipamento para teste de arrancamento (Silveira, 1987).
Figura 10 Medidores de convergência: a) Por fio invar; b) Tipo alongâmetro (Costa, 1984 e
Hoek & Brown, 1982).
Figura 11 Medição de convergência com pinos de comprimentos diferentes (Costa, 1984).
Figura 12 Resultado de medidas de convergência representadas na figura 8. 11 (Costa, 1984).
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