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mudanças em escalas particulares até universais alteram toda a história, criando segmentos
no presente.
Obviamente, quase toda obra de ficção lida com universos alternativos, visto que estes são
diferentes do que vivemos. Porém, o foco deste trabalho são as interações entre o universo
“normal” criado pela ficção analisada e um universo paralelo, criado pelos autores como um
O uso de realidades alternativas é extremamente atraente, sendo usado por diversas produções
curiosidade despertada por saber como determinado episódio seria diferente se mudados um
Este tipo de preocupação se relaciona com nossa própria natureza. Questionamos nossas
decisões de forma rotineira, por mais confiantes que sejamos nessas decisões. Sempre nos
Outro fator que gera atratividade para este recurso é a criação do estranhamento no público.
Para séries longas, como quadrinhos e séries de TV, é uma maneira de gerar atratividade e
sair da rotina estabelecida pela longevidade das obras. Em livros e filmes, a realidade
alternativa é o centro da história, por serem meios de desenvolvimento geralmente mais curto.
No campo d literatura de ficção científica, o primeiro uso desse confronto entre realidade x
realidade alternativa foi visto em “Sidewise in Time”, de Murray Leinster. Escrito em 1938, a
estória trata de um professor de matemática e seus alunos, que exploram um fenômeno sem
geograficamente.
As realidades alternativas servem para gerar o estranhamento, que não é só do leitor, como em
outros temas de ficção científica. O sense of wonder, não raro, é compartilhado pelos
personagens que tem este contato com uma realidade alternativa: é novo para nós, é novo para
As realidades alternativas servem como pano de fundo para os devaneios do professor Minott,
que deseja ser um líder de uma civilização mais primitiva, em comparação à sua vida, que
considera medíocre.
O mais interessante deste conflito principal é que mexe justamente com o que foi citado
parágrafos atrás sobre a atratividade das realidades alternativas justificada pelo nosso próprio
desejo de mudar algo que consideramos inacessível em nossas próprias vidas, por estar no
passado. Ou seja, assim como nós temos fascinação pelos fatos históricos retratados de forma
alternativa, a história nos traz para uma curiosidade pessoal, de uma pessoa tentando realizar
o que desejamos: mudar a própria vida, construir uma realidade alternativa para si próprio.
Minott não é um herói, mas ainda assim, curiosamente, a estória não nos leva a torcer contra
ele, por conta dessa identificação. A estória lhe leva até a torcer mais por ele que por Blake, o
aluno que faz o papel - até assustadoramente clichê - do herói clássico: jovem, poderoso,
Sidewise in Time, vemos uma série de conjunturas, mas poucos fatos, conclusões, e estas não
adicionam nem subtraem da estória. Não há prejuízo para os eventos se eles não são
anos, diversos autores usaram este conflito como cenário ou pretexto para suas estórias. Isaac
"’Sidewise In Time’ foi uma daquelas estórias que tiveram um efeito de longo prazo
no meu raciocínio. Ela sempre me tornou consciente dos ‘se’ da história, e isso
apareceu não somente em minha obra de ficção científica, como em ‘The Red Queen's
Race’, mas em minhas obras mais sérias sobre história também. Eu também usei o
Eternidade’”
Como “O Fim da Eternidade” já foi citado pelo próprio Asimov, adiciono entre os autores
clássicos de ficção científica Robert Heinlein, que dedicou uma série de livros ao tema,
introduzindo o “world as myth” em suas obras, onde a nossa realidade é conhecida em uma
Fora da ficção científica, Jorge Luis Borges escreveu “El jardín de senderos que se bifurcan”
em 1941, uma estória que lida com realidades alternativas por meio de um deslocamento
A universalidade do contato com realidades alternativas fez o conceito vazar para outras
Televisão
O primeiro registro de uso na TV desse recurso data de 1975, na série Dark Shadows. Na
estória, um homem foge saltando para um universo alternativo sempre que ele sofre com
algum problema.
Não raramente, o episódio de realidade alternativa é sempre um dos mais lembrados por fãs
de séries que usam este recurso. O exemplo mais conhecido é o episódio “Mirror Mirror” de
Jornada nas Estrelas (série original), onde a equipe da Enterprise conhece uma realidade
Algumas séries usam este tema como premissa. Sliders durou 5 anos, com uma história muito
alunos) viajam para realidades alternativas, buscando o caminho de casa. Lost usou a
realidade alternativa como pano de fundo por metade da série, dividindo a trama em dois
A TV foi a principal ponte do tema “contato com realidades alternativas” com o mainstream,
vazando para seriados que pouco ou nada têm a ver com ficção científica. Séries como
Friends, Simpsons e Family Guy já usaram o recurso, em episódios também com ótimo recall
entre fãs.
O exemplo clássico de uso deste recurso em uma série do mainstream é quase um cheat: na
série / novela Dallas, o personagem Bobby (sobrenome) foi morto. Com a reação negativa a
este fato, os produtores da série decidiram que toda a temporada era um sonho, torando esse
um dos piores usos de realidade alternativa na TV (apesar de outros maus usos históricos,
Quadrinhos
curiosamente para fins editoriais. As duas grandes editoras (Marvel e DC Comics) usaram,
mais de uma vez, a teoria de “diversos universos paralelos” para ampliar ou enxugar linhas de
revistas e personagens.
tratamento de graphic novel para o assunto, enquanto a série What if da Marvel é até hoje o
exemplo máximo de uso de universos paralelos nos quadrinhos, ainda que nem sempre tratado
Cinema
Assim como na TV, o uso de realidades alternativas é usado tanto na ficção científica quanto
em temas mainstream, como a comédia romântica Sliding Doors, onde um metrô perdido ou
embarcado faz a diferença para um casal, e em Shrek Forever After, quarto filme da série,
onde o personagem principal lida com uma versão diferente de seu mundo.
série Jornada nas Estrelas, realizado em 2009 com o auxílio de realidade alternativa para criar
Videogames
Não exatamente um jogo, não exatamente um livro, mas com certeza um pioneiro na
combinação entre os dois, a série Choose Your Own Adventure é um belíssimo uso de
realidades alternativas, mesmo que não de maneira intencional. O livro-jogo, onde cada
capítulo lhe obriga a escolher entre 2 ou mais para prosseguir, cria uma série de “realidades
resultados.
Indo para o videogame em si, um dos jogos mais elogiados dos últimos tempos é Heavy Rain,
onde 4 personagens navegam por centenas de decisões que mudam o curso de suas estórias e
Conclusão
O arquétipo de realidades alternativas é um dos que melhor se traduz para diversas mídias, em
campos fora mesmo da ficção científica. O que garante a longevidade do tema, sem se tornar
batido, é primeiro a infinidade de propostas que ele oferece, mas principalmente por ser algo
tão correlato com nossa experiência cotidiana, de criar cenários alternativos para nossas
muito bem aqui) é explicado pela psicologia cognitiva, responsável pelo estudo – entre outros
sete passos, e um dos mais importantes é o terceiro: o brainstorm para levantar alternativas
possíveis. É neste campo que a realidade alternativa trabalha, pois aqui o caminho da decisão
1. Leinster, Murray (autor), Asimov, Isaac (org.). Before the Golden Age: A Science
http://www.bvcentre.ca/files/research_reports/Haeussler-
BorgesGardenOfForkingPaths.pdf
http://space.mit.edu/home/tegmark/multiverse.pdf
5. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_futuros_alternativos_na_fic
%C3%A7%C3%A3o
6. http://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/Main/AlternateUniverse
7. http://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/Main/DarkShadows
8. http://www.imdb.com