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PAPO
Cientistas iniciam pesquisas com uma tese e depois fazem testes para comprová-la. Qual o problema disso?
O problema é que os cientistas definem um objetivo, e esse objetivo bloqueia a consideração de outras hipóteses.
Pelo menos 50% dos dados encontrados em pesquisas são inconsistentes com a tese inicial. Uma proteína que
"não deveria" estar lá, por exemplo. Quando isso acontece, os cientistas refazem o experimento mudando
detalhes, como a temperatura, esperando que o dado estranho desapareça. Só uma minoria investiga os
resultados inesperados.
Por quê?
Se você está comprometido com uma teoria, a tendência é ignorar fatos inconsistentes com ela. Pode ser que você
nem repare em um dado inesperado. A explicação para isso está no cérebro. Há informações demais à nossa
volta, e o cérebro precisa filtrá-las. Dados "estranhos" nem serão memorizados. Essa é uma das funções de uma
região cerebral chamada córtex pré-frontal dorsolateral: suprimir informações indesejadas.
Mas como saber qual dado estranho merece atenção e qual não merece?
O bom cientista sabe que tipo de dados seguir. Ele dirá: "Hum, isso é interessante, vamos por aqui". Outros
cientistas não mudarão de rumo. Experimentos custam tempo e dinheiro, e eles não vão se arriscar em nome de
algo que não conhecem. Em geral, cientistas precisam decidir entre fazer os experimentos de baixo risco, que
garantem emprego e publicações, e os de alto risco, que provavelmente não vão funcionar, mas podem render
descobertas relevantes.
Que descoberta o mundo teria perdido não fosse o fracasso de uma tese?
O Viagra. Ele foi inicialmente desenvolvido para problemas do coração. No fim dos testes, a condição cardíaca dos
voluntários não melhorou, mas eles não quiseram devolver a droga. Por quê? Os cientistas prestaram atenção no
resultado inesperado - e hoje o Viagra é usado globalmente para combater a impotência sexual. Os cientistas, que
achavam que o experimento havia falhado, fizeram uma importante descoberta acidental.
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