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ISEPE - Instituto Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Homicídio Privilegiado
Figuras típicas e matéria relacionada.

Trabalho realizado pelos acadêmicos do Curso de


Direito do 4º período de 2010/1, do ISEPE-
Guaratuba, para obtenção de nota complementar à
primeira nota do semestre letivo, na disciplina de
Direito Penal III, ministrada pelo Prof.º Noel.
Guaratuba, abril, 2010.

Direito – 4º Período. 2010/1

Bruna Pizani

Carine Rodrigues

João G. de A. Santos

Lorena Santos

Vanessa Andrade

Rúbia Ferch

GUARATUBA

2010
2
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4
1. HOMICÍDIO: ......................................................................................................... 5
2. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO:.................................................................................... 6
Figuras Típicas: ..................................................................................................... 6
Motivo de relevante valor social e/ou moral: .......................................................... 7
Violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima: .................................... 9
Emoção Violenta:................................................................................................. 10
Injusta provocação da vítima: .............................................................................. 11
A DIMINUIÇÃO DA PENA NO ART. 121, § 1º, É FACULDADE OU OBRIGAÇÃO DO
JUIZ? ................................................................................................................ 12
CONCLUSÃO .................................................................................................... 16
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 17

3
INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo primário a abordagem sob o enfoque


acadêmico do tema “Homicídio Privilegiado”.

Ao confeccionarmos o material que segue, definimos algumas prioridades,


que serão explanadas. Para início de compreensão, analisamos o conceito geral sobre
Homicídio, e então seguimos para os fatores que o tornam Privilegiado.

Lançamos mão de alguns recursos para pesquisa, sobretudo, a internet, para


localização de Jurisprudências relacionadas ao tema. No que tange à abordagem
doutrinal, obras clássicas de autores renomados no âmbito do Direito Penal nos
nortearam. Podemos mencionar a influência direta de Damásio de Jesus, Nelson
Hungria e Celso Delmanto, com seu Código Penal Comentado. As referências estão
devidamente relacionadas, para ratificação de nossas informações.

O objetivo desta obra acadêmica é estabelecer os padrões que regem o


Homicídio Privilegiado, uma das ramificações de aplicação que se embasa no artigo
121 do Código Penal Brasileiro. Nossa intenção é clarear as diferenças entre o
Homicídio Privilegiado e o Homicídio Simples com atenuantes. Fazemos uma
abordagem das atenuantes genéricas, e como identificá-las.

Ao definirmos a linha que seguiríamos, entendemos que o molde que iríamos


empregar seria, e de fato é, a análise técnica do tema definido em aula. Pontos de
vista serão explanados de forma pessoal, em debate, ao apresentarmos em classe.

Todos os membros desta equipe participaram da confecção do trabalho, e


estão cientes e de pleno acordo com seu conteúdo.

Passemos à apreciação.

4
1. Homicídio:

O termo “Homicídio”, como entrada no Dicionário Aurélio da Língua


Portuguesa, é “Ação de matar um ser humano.”(...).

O Código Penal Brasileiro traz a ocorrência de Homicídio em seu artigo 121,


em que verte:

Homicídio simples1
Art 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Do latim, a palavra homicídio é grafada por "hominis excidium", que consiste


no ato de uma pessoa matar outra.2

O homicídio está inserido no capítulo relativo aos crimes contra a vida do


Código Penal, sendo o primeiro delito por ele tipificado.

Nelson Hungria3, já falecido, cita a definição de Carmignani, que caracteriza


homicídio pela violenta hominis caedes ab hominis injuste patrata, que em português
significa ocisão violenta de um homem injustamente praticada por outro homem.

O Código Penal Brasileiro, a partir daqui grafado como CP, faz a divisão de
tipos, da seguinte forma:

 Homicídio simples - art. 121, caput;


 Privilegiado - §1°;
 Qualificado - §2°;
 Culposo Simples - §3°, e;
 Culposo Qualificado - §4°.

O último parágrafo do artigo (§5°) diz respeito ao perdão judicial, aplicável ao


homicídio culposo.

1
(Penal 1940)
2
(Wikipedia 2010)
3
(Hungria 1942)

5
O termo em foco é amplamente usado no meio jurídico, visto ser o termo
técnico correto a ser empregado. No entanto, um sinônimo que pode muito bem fazer
às vezes do termo técnico é “Assassinato”. Esta expressão é popularmente mais
usada, tratando o réu como Assassino, e não tanto como Homicida, embora sejam
sinônimos diretos.

Porém, vale mencionar que este termo retro relacionado é mais empregado
quando se refere ao Homicida Doloso, onde há a clara intenção de matar. O termo
técnico, de acordo com o entendimento dos alunos que assinam esta obra, é
empregado com maior freqüência quando relacionado à culpa, ou ainda, ao tipo
privilegiado.

Após esta breve explanação acerca do homicídio, passemos então à análise


do tema central, enfim, Homicídio Privilegiado.

2. Homicídio Privilegiado:

Para compreendermos o princípio envolvido no tópico, é fundamental a


compreensão do que envolve as penas para homicídio. Em breves linhas, discorremos
que as penas para Homicídio variam de 6 a 20 anos, incondicionais.

Quando falamos em Privilegiado, o termo relaciona-se diretamente ao tempo


da pena, que para este tipo, é reduzido.

Figuras Típicas:
Para valer esta vertente, o agente precisa enquadrar-se em algumas figuras
que configuram o tipo. Alistamos abaixo as 3 (três) figuras típicas:

1) matar alguém impelido por motivo de relevante valor social;


2) matar alguém impelido por motivo de relevante valor moral;
3) matar alguém sob o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação
da vítima.

O fato de o sujeito cometer o delito impelido por pelo menos alguma das figuras
típicas acima, faz com que o juiz possa reduzir a pena de um sexto a um terço.

6
Embora a Lei diga que é apenas uma possibilidade, tem prevalecido a tese da
obrigatoriedade da redução da pena, em virtude da aplicação dos princípios gerais de
Direito Penal, que compelem ao intérprete da Lei a fazê-lo da forma mais favorável
ao Réu.

Para Damásio Evangelista de Jesus, “(...) No tipo, não temos elementos ou


elementares, mas circunstâncias legais especiais ou específicas. (...).” 4

Motivo de relevante valor social e/ou moral:

Os motivos de relevante valor social e moral estão previstos no art.65, III, a,


do CP como circunstâncias atenuantes. Aqui, o legislador transformou tais
circunstâncias em causas de diminuição de pena. Quando isso ocorre, não incidem as
atenuantes genéricas. De outra maneira, o homicida seria beneficiado duas vezes em
face do mesmo motivo. Bis in idem.

Para alguns, o CP é redundante ao falar em motivo social ou moral, uma vez


que, segundo eles, um abrange o outro. Na verdade, as duas expressões evitam
interpretação duvidosa.

Motivo de relevante valor social ocorre quando a causa do delito diz respeito
a um interesse coletivo. A movimentação, então, é ditada em face de um interesse que
diz respeito a todos os cidadãos de uma coletividade. Ex.: o sujeito mata o traidor da
pátria.

Aqui temos um elemento que merece uma reflexão. A aplicação do


entendimento de relevante valor social ou moral só pode existir em uma sociedade
com valores sociais e morais concretos, sem exageros ou extravagâncias. Precisa ter
um fator objetivo. Caso não seja valorado, podemos dar brechas para fanatismo, uma
vez que uma crença arraigada em alguém pode ter sim, para o agente, relevante valor
moral, como matar alguém que não respeite sua entidade superior, de acordo com sua
crença.
Quando vemos essa porta aberta, o entendimento é que torna o ato em um
grau de menor ilicitude, embora não seja um excludente de ilicitude. Porém, esse
menor grau de ilicitude não basta para fundamentar o privilégio, funcionando como

4
(Jesus 1999)

7
mero indício da diminuição sensível da culpa. Também se exige que o agente esteja
dominado pelos motivos em causa, para que eles revistam a personalidade do agente,
fazendo-o crer na necessidade de cometer o homicídio. Quando temos esta situação,
torna-se claro que o seu discernimento foi afetado e por isso, sua capacidade de
determinar o que é aceito em nossa sociedade está seriamente agredido, quase que
inoperante.

O motivo de relevante valor moral diz respeito a um interesse particular. Ex.: o


sujeito mata o estuprador de sua filha.

Mas e o que dizer se, por exemplo, o sujeito simplesmente “achar” que a
futura vítima de relevante valor moral é o estuprador, simplesmente porque alguém lhe
disse, mas que na realidade não é o agente delituoso? Tal pergunta tem o perfil do
ilustre Professor Dr. Noel, em suas aulas de Direito Penal. Como responder a esta
questão levantada? Usamos aqui, novamente, o mestre Damásio, que nos ensina que
“(...) Se o sujeito, levado a erro por circunstâncias de fato, supõe a existência do
motivo (que, na verdade, inexiste), aplica-se a teoria do erro de tipo (CP, art. 20), não
se afastando a redução da pena (...)” 5
Abaixo relacionamos uma recente notícia, onde se verifica claramente a
aplicação do privilégio sobre o homicida:

Júri condena acusado de homicídio privilegiado ocorrido na Capital

A Vara do Tribunal do Júri da Comarca da Capital, em sessão realizada nesta


quinta-feira (18/03), condenou Cristiano Souza de Lima, vulgo "Tiano" ou "Zoinho", à
pena de 5 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicialmente semiaberto, pelo
homicídio privilegiado praticado contra Gilberto Carvalho Nunes, vulgo "Betinho".
Para os jurados, o crime foi praticado por motivo de relevante valor moral. (GN)

Segundo os autos, no dia 29 de maio de 2008, o réu foi avisado de que a vítima
estaria caminhando pelas dunas situadas a 200m da Servidão Dois Irmãos, no bairro
dos Ingleses, na Capital. Cristiano se dirigiu ao local para vingar a morte de seu
irmão Luiz de Souza Lima, ocorrida dias antes, ao que tudo indica, provocada pela
vítima. (GN) Lá chegando, ao deparar-se com Gilberto, desferiu-lhe inúmeros
disparos, causando-lhe a morte.

O júri foi presidido pelo juiz de direito Luiz Cesar Schweitzer e contou com a
participação do promotor de justiça Alceu Rocha e do advogado Alexandre José
6
Biem Neuber, na defesa do réu (Autos n.º 023.08.043253-3).

5
(Jesus 1999)
6
(Judiciário 2010)

8
Violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima:

A última figura típica privilegiada descreve o homicídio cometido pelo sujeito


sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação do ofendido.

Não se confunde com a atenuante genérica do art. 65, III, c, parte final, do
CP: no homicídio privilegiado, o agente se encontra sob o domínio de violenta emoção
e há de realizar a conduta logo após a provocação da vítima; na atenuante genérica,
ele se acha sob a influência da emoção, não exigindo o requisito temporal.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 121, §


2º, IV, DOCP. JÚRI. QUESITOS. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO.
ATENUANTE. CONTRADIÇÃO. INOCORRÊNCIA.

I - Não há que se ter como contraditória a decisão dos jurados que não
vislumbra a ocorrência do homicídio privilegiado e, de outro lado,
reconhece a incidência da atenuante prevista no art. 65, III, a, do Código
Penal (Precedente).

II - O privilégio contido no parágrafo 1º, do art. 121, do CP, não se


confunde com a atenuante génerica do art. 65, III, a, do mesmo diploma
7
legal. Writ denegado.

Apenas para traçarmos um conceito padrão para esta análise, como


acadêmicos, entendemos que emoção é um estado súbito e passageiro de
instabilidade psíquica.

Para o Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, “(...) é perturbação transitória da


afetividade.(...)”

Abrange a paixão, que constitui um estado emocional intenso e permanente.

Para configurar o violento estado de emoção, alistamos 3 (três) requisitos


para a figura típica:
1. Emoção violenta;
2. Injusta provocação da vítima; e
3. Sucessão imediata entre a provocação e a reação.

7
(Jurisprudência/STJ 2005)

9
Estas situações são colocadas para definir que, com base no grau de
emoção e a necessidade emocional de agir para solucionar o conflito, em sua
concepção. Entende que a emoção é a causa do crime (“foi levado a matar”).

Emoção Violenta:

Entende-se como um estado psicológico que não corresponde ao normal do


agente, encontrando-se afetadas a sua vontade, a sua inteligência e diminuídas as
suas resistências éticas, a sua capacidade para se conformar com a norma.
Chegamos à conclusão que o agente perde o controle, e como aprendemos na
psicologia, deixa de agir com o seu superego, e o ego, suprimido, dá total vazão ao
seu idi.

“A compreensível emoção violenta é um forte estado de afeto emocional


provocado por uma situação pela qual o agente não pode ser considerado e à qual
também o homem normalmente “fiel ao direito” não deixaria de ser sensível. O
requisito da “compreensibilidade” da emoção representa por isso ainda uma exigência
adicional relativamente ao puro critério de menor exigibilidade subjacente a todo o
preceito".8 (Jurídico 2010)
Um sentimento que é comumente colocado como gerador de conflitos é a
compaixão. Tanto em autêntica situação como a de alguém próximo a ele. Neste caso,
houve um conflito interno prévio, e a decisão homicida só surge ao fim de uma longa e
desgastante luta interior que acaba por se tornar insuportável. A prática jurídica
entende que o agente, movido por compaixão, merece ser protegido. Porém, mantêm-
se o princípio de que é necessário que o motivo exerça uma forte pressão sobre o
agente de forma a alterar a sua capacidade de determinação, afetando sua vontade e
diminuindo sua capacidade.

Alguns juristas defendem que o desespero seja enquadrado como violenta


emoção. Embora muito próximo da emoção violenta, entendemos como acadêmicos,
que há algumas diferenças. Cremos nisso porque para chegar a um grau de
desespero, a situação vem se arrastando na corrente do tempo, fruto de pequenos
conflitos mal solucionados. Logo, o agente, por negligência, deixa-se entrar numa

8
(Jurídico 2010)

10
situação sem saída, perdendo a esperança, para que desta forma, entre em um
estado de violenta emoção.

A lei, mais uma vez, não exige apenas que o agente esteja desesperado, mas
que tal desespero diminua sensivelmente a sua culpa.

Injusta provocação da vítima:

É necessário que a vítima somente tenha provocado o sujeito ativo. Se a


provocação tomar ares de agressão, não caracteriza Homicídio Privilegiado, mas sim
legítima defesa, que exclui a antijuridicidade do fato do homicídio, pelo que o sujeito
não responde pelo crime. O CP exige imediatidade entre a provocação injusta e a
conduta do sujeito. De acordo com a figura típica, é indispensável que o fato seja
cometido "logo em seguida" a injusta provocação do ofendido. A expressão significa
quase imediatidade: é indispensável que o fato seja cometido momentos após a
provocação. Um homicídio cometido horas ou dias depois da provocação injusta não é
privilegiado. Na realidade, pode até mesmo ser caracterizado como premeditado.
A errônea suposição de ter sido o sujeito provocado injustamente aproveita,
aplicando-se os princípios atinentes à legítima defesa putativa (CP,art. 20, § 1º)9.
Não é necessário que o homicida seja o provocado. Assim, a provocação
pode ser contra um terceiro e até contra um animal. Consiste a provocação em
qualquer conduta injusta capaz de provocar a violenta emoção.

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICIDIO AO MESMO TEMPO


PRIVILEGIADO E QUALIFICADO.
COMPATIBILIDADE DAS DUAS MODALIDADES:

A) ''O REU COMETEU O CRIME SOB O DOMINIO DE VIOLENTA


EMOÇÃO, LOGO EM SEGUIDA A INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VITIMA''
(CP, ART. 121, PARAGRAFO 1),

B) ''O CRIME FOI PRATICADO DE MANEIRA A TORNAR DIFICIL OU


IMPOSSIVEL A REAÇÃO DA VITIMA'' (CP, ART. 121, PARAGRAFO 2., IV).
IRRELEVANCIA DA ORDEM DE COLOCAÇÃO DOS RESPECTIVOS
QUESITOS, PARA SEREM RESPONDIDOS PELO CONSELHO DE
SENTENÇA.

NEGATIVA DE VIGENCIA AOS ARTS. 121, PARAGRAFOS 1., E 2., IV,


DO CODIGO PENAL E 564, III, ''K'' E PARAGRAFO UNICO, DO CODIGO
DE PROCESSO PENAL.
10
RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

9
(Penal, Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.)
10
(Jurisprudência/STJ 1991)

11
Não será privilegiado, portanto, o homicídio decorrente de ódio antigo, ou
que venha a ser cometido tempos depois da agressão da vítima, pois isto retira a
suposição de que o agente estava com suas faculdades mentais diminuídas em
decorrência de violenta emoção.11 (Wikipedia 2010)

A diminuição da pena no art. 121, § 1º, é faculdade ou obrigação do


juiz?

Para traçarmos um conceito acerca dos dispostos acima, como acadêmicos,


não temos know-how sobre o tema. Nosso potencial de definição e formação de
opinião ainda é restrito aos bancos escolares.

Primariamente, elencamos um documento abaixo, onde se verifica uma


discussão sobre o poder discricionário do magistrado:

CRIMINAL. HC. NULIDADE. TRIBUNAL DO JÚRI. EXPLICAÇÕES DA


MAGISTRADA, SOBRE QUESITO DE HOMICÍDIO PRIVILEGIADO, QUE
TERIAM EXTRAPOLADO SUAS FUNÇÕES. NÃO-VERIFICAÇÃO.
NULIDADE RELATIVA. AUSÊNCIA DE ARGÜIÇÃO NO MOMENTO
OPORTUNO. ORDEM DENEGADA.

I. Tendo a Magistrada Presidente da Sessão do Júri se limitado a ler


e explicar o sentido legal dos quesitos, verifica-se que o
procedimento observou os limites determinados pelo art. 479 do CPP.

II. Tratando-se de nulidade relativa, eventual irregularidade na


formulação de quesitos ao Tribunal do Júri deve ser argüida no
momento oportuno, sob pena de restar convalidada.
12
III. Ordem denegada.

Portanto usamos aqui, novamente, mas sem menor importância que


ocorrências anteriores, o conceito do ilustre Dr. Damásio, que discorre sobre o tema
afirmando que “(...) A redução da pena é obrigação do juiz, não obstante o emprego
pelo CP da expressão "pode" e o disposto no art. 492, § 1º do CPP, que fala em
"faculdade". Reconhecido o privilégio pelos jurados, não fica ao arbítrio do julgador

11
(Wikipedia 2010)
12
(Jurisprudência/STJ 2002)

12
13
diminuir ou não a pena. A "faculdade" diz respeito ao quantum da redução. (...)”
(Jesus 1999)

Abaixo, colocamos algumas questões alimentadas pelos juristas, em relação


a situações que podem surgir. São as seguintes: Qual a solução se o sujeito comete
homicídio com emprego de asfixia, impelido por motivos de relevante valor moral ou
social, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima? Admite-se homicídio qualificado-privilegiado?

Em suma: é possível a incidência do privilégio do homicídio às formas


qualificadoras?

Para Damásio de Jesus, “(...) é caso de conflito aparente de normas. Num


primeiro momento de apreciação, vê-se que o fato se amolda a um tempo na
14
disposição que prevê o privilégio e na norma que descreve a qualificadora. (...)
(Jesus 1999)

Em outro ponto de análise, Delmanto analisa que “(...) Nada impede que um
homicídio privilegiado seja também qualificado. Por exemplo, é o caso do agente que
utiliza meio cruel para realizar o homicídio sob violenta emoção logo em seguida de
injusta provocação da vítima. (...)” 15 (Delmanto 2008)

Apresentamos matéria jurisprudencial que nos fornece base para análise:

HABEAS CORPUS. REGIME PRISIONAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO-


PRIVILEGIADO. CONCESSÃO PARCIAL DA ORDEM.

1. O homicídio qualificado-privilegiado é estranho ao elenco dos crimes


hediondos.

2. A concessão de progressão de regime e de livramento condicional


são questões que devem ser levadas ao Juízo da Execução, a quem
cabe, por primeiro, examiná-las (artigo 66, inciso III, alíneas "b" e "e", da Lei nº
7.210/84).
16
3. Ordem parcialmente concedida.

Entendemos que pode sim haver qualificadoras para o homicídio privilegiado,


haja vista que os meios que são empregados podem ser cruéis inclusive pela violenta

13
(Jesus 1999)
14
(Jesus 1999)
15
(Delmanto 2008)
16
(Jurisprudência/STJ 2002)

13
emoção em que o agente está envolto. A prática jurídica discute sobre isto em virtude
de as circunstâncias legais contidas na figura típica do homicídio privilegiado são de
natureza subjetiva. Na do homicídio qualificado, algumas são objetivas (§ 2º, III e IV,
salvo a crueldade), outras, subjetivas (nos. I, II e IV).

De acordo com nossa posição, o privilégio não pode concorrer com as


qualificadoras de natureza subjetiva. Não se compreende homicídio cometido por
motivo fútil e, ao mesmo tempo, de relevante valor moral. De acordo com Damásio de
Jesus, “o privilégio, porém, pode coexistir com as qualificadoras objetivas.17 A
circunstância do relevante valor moral (subjetiva) não repele o elemento objetivo.

No entanto, como afirmamos, não é pacífico o entendimento desta matéria, e


por objetivo clarificar o que afirmamos, segue matéria jurisprudencial comprobatória:

PROCESSO PENAL - HOMICÍDIO - CONTRADIÇÃO ENTRE OS


QUESITOS FORMULADOS - INOCORRÊNCIA - COEXISTÊNCIA
ENTRE O HOMICÍDIO PRIVILEGIADO E QUALIFICADO -
POSSIBILIDADE.

- Os quesitos foram corretamente formulados, tendo o Júri verificado a


existência de legítima defesa putativa para um Réu e negado para o
outro, o que não caracteriza a alegada contradição.

- No que concerne à alegação de inviabilidade de coexistência entre o


homicídio privilegiado e o qualificado, o writ, igualmente, improcede.
Esta Corte, em inúmeros julgados, tem entendido que a qualificadora,
desde que de caráter objetivo, pode, em tese, coexistir com a forma
privilegiada do homicídio, cujas hipóteses são de natureza subjetiva.
Neste sentido, c.f. REsp 196.578/RO (Rel. Ministro FELIX FISCHER).
18
- Ordem denegada.

RECURSO ESPECIAL. ALEGADA INCOMPATIBILIDADE ENTRE


HOMICIDIO PRIVILEGIADO E QUALIFICADO. POSIÇÃO CONTUDO,
SUSTENTADA PELA DOUTRINA E COPIOSA JURISPRUDENCIA.

1. INEXISTE CONTRADIÇÃO NAS RESPOSTAS DOS JURADOS, QUANDO


DECIDEM QUE O DUPLO HOMICIDIO FOI COMETIDO SOB O DOMINIO DE
VIOLENTA EMOÇÃO, AGINDO O AUTOR MEDIANTE SURPRESA.

2. A DOUTRINA E JURISPRUDENCIA RECONHECEM A PERFEITA


COMPATIBILIDADE ENTRE CIRCUNSTANCIAS SUBJETIVAS E OBJETIVAS,
TAIS AS VERIFICADAS NA HIPOTESE VERTENTE.
19
3. RECURSO NÃO CONHECIDO.

17
(Jesus 1999)
18
(Jurisprudência/STJ 2000)
19
(Jurisprudência/STJ 1997)

14
Pelo material já apresentado, é fato que a abordagem do homicídio com
privilégios abre campo para grande discussão, tanto no âmbito jurídico profissional,
como no próprio ambiente acadêmico, que é o verdadeiro celeiro intelectual de nosso
país. A ocorrência simultânea de privilégios e qualificadores são cada vez mais
abrangidos, visto ter como uma das figuras típicas para o privilégio, a violenta emoção,
que é causa geradora de atrocidades, tidas como crueldade, dentro dos agentes
qualificadores.

Passemos finalmente à conclusão.

15
CONCLUSÃO

O Homicídio Privilegiado visa trazer para perto o que a Lei muitas vezes
distancia: a realidade social. O indivíduo é vítima de suas próprias emoções, impulsos
e insatisfações. Quando está inflado desses sentimentos, está mais sujeito a cometer
delitos, e isso é compreendido pelos privilégios.
O Art. 121 do CP tipifica de forma clara o que deve ser considerado como
privilégio, e mostra ser bem coerente. Concordamos como grupo acadêmico, que é
plenamente correto a aplicação da Lei quando homicídio praticado por motivo de
relevante valor social ou moral no § 2.º do art. 121, e delas em dispositivos outros (§§
3.º e 4.º).
Não deve ser considerado como apologia ao crime, embora seja
constantemente requerido em ações penais, como forma de beneficiar o réu.
Concluímos ainda que é possível a coexistência de agentes privilegiadores e
qualificadores, sem contradições. Decidimos não abordar o tema sob o parecer da
Eutanásia e Ortotanásia, haja vista entendermos que a discussão se estenderia além
do limite definido para este debate. Deixamos apenas para constar que
os tribunais brasileiros têm enquadrado, embora esta não seja
ainda jurisprudência pacífica, a eutanásia como homicídio privilegiado.

Sentimo-nos satisfeitos com esta abordagem, onde fica a certeza de que o


Direito Penal Brasileiro é um dos mais, se não o mais, completo e abrangente sistema
de penas do mundo contemporâneo.
A vida de um homem até o seu último momento é uma contribuição para a
harmonia suprema do Universo e nenhum artifício humano, por isso mesmo, deve
truncá-la. No entanto, quando isso ocorrer, que seja levado em conta o caminho do
crime, o que o ocasionou, e entender o motivo da ação do homicida, lembrando,
sobretudo, que somos seres movidos por emoções, e que, de forma alguma, podemos
julgar sem nos emocionar.
Prezemos os privilégios, pois privilegiam a dor daqueles que por emoção,
deixam de agir com a razão, e merecem nossa compreensão.

16
BIBLIOGRAFIA

Delmanto, Celso. Código Penal Comentado. 7ª Edição. São Paulo: Renovar, 2008.

HC 18261 / RJ HABEAS CORPUS. 2001/0102018-1 (STJ - T6 - SEXTA TURMA, DJ 01/07/2002 p.


401 / RDTJRJ vol. 57 p. 137 / RSTJ vol. 161 p. 524 5 de março de 2002).

HC 21716 / SP HABEAS CORPUS. 2002/0047242-0 (STJ - T5 - QUINTA TURMA, DJ 17/03/2003 p.


246 17 de dezembro de 2002).

Hungria, Nelson. Comentários ao Código Penal. Vol. V. Rio de Janeiro: Forense, 1942.

Jesus, Damásio Evangelista de. Direito Penal. Vol. II. São Paulo, SP: Saraiva, 1999.

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Jurídico, Octalberto Saber. Octalberto. 20 de Março de 2010.


http://octalberto.no.sapo.pt/homicidio_priviligiado.htm (acesso em 21 de Março de 2010).

Oliveira, Lucielly Cavalcante de. “Homicídio passional: qualificado ou privilegiado?” Revista Jus
Vigilantibus, 2006: 3.

Penal, Código. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Brasília: Imprensa Oficial,


1940.

—. Página Oficial do Planalto. 20 de Março de 2010.


http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848.htm (acesso em 20 de Março de
2010).

REsp 3082 / PR RECURSO ESPECIAL. 1990/0004461-8 (STJ - T6 - SEXTA TURMA, DJ 15/04/1991


p. 4309 / RJM vol. 115 p. 184 / RSTJ vol. 21 p. 303 25 de fevereiro de 1991).

REsp 73510 / MG RECURSO ESPECIAL. 1995/0044287-6 (STJ - T6 - SEXTA TURMA, DJ


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STJ - HABEAS CORPUS: HC 14451 RO. 2000/0100890-0 (STJ, 13 de dezembro de 2000).

STJ - HABEAS CORPUS: HC 47448 MS. 2005/0144683-2 (STJ, 6 de dezembro de 2005).

Wikipedia. Wikipedia, a enciclopédia livre. 6 de Março de 2010.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Homic%C3%ADdio (acesso em 20 de Março de 2010).

Finaliza aqui.i

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i
Este material acadêmico foi confeccionado com base em pesquisa, discussão e desenvolvimento de
idéias, em um esforço conjunto dos acadêmicos do 4º Semestre do Curso de Direito do ISEPE,
Guaratuba, que assinam esta obra. Utilizamos referências e citações devidamente indicadas ao longo
das laudas, e as referências bibliográficas foram devidamente elencadas. Esperamos a apreciação do
Ilmo. Professor Noel Rosa.

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