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Filosofia Política

1) Qual a diferença, para La Boétie, entre servir e obedecer?


Para La Boétie, o fato de haver um governo não era necessariamente um problema, afinal,
era preciso de alguém que cuidasse da coisa pública. Ao governado é necessário obedecer o
governante. Já o tirano não está satisfeito com a obediência. Ele quer mais. Ele quer ter a
posse do governado. O governado não é dono nem de si, nem de seu trabalho, nem de sua
família, nem de sua casa. O tirano permite-se qualquer coisa, mesmo que isso signifique
acabar com a vida ou com a dignidade do governado.
A diferença entre servir e obedecer é que servir significa aceitar essa submissão, aceitar que
o tirano tenha todo o poder sobre a vida, o trabalho, a família do governado. Não só aceite:
acredite ser justo e correto. Já obedecer implica liberdade, já que o governado obedece
primeiro à sua própria razão, e, se realiza o trabalho ordenado pelo governante, é após
raciocinar e identificar bons motivos, mesmo que isso signifique se diminuir um pouco para
aumentar o valor de sua família ou de sua cidade ou país.
Obediência, portanto, é ser autônomo e ter liberdade de pensar sobre as ações do
governante. Servir, por outro lado, é não ter liberdade, é ser uma posse, um escravo do
governante, e estar à mercê dos humores deste tirano, que pode ser bom num dia, e mau em
outro.

2) O que La Boétie quer dizer quando afirma que do tirano “não se deve tirar-
lhe coisa alguma, e sim nada lhe dar”?
Para La Boétie, o tirano não possui nada por si. O que ele tem é o que o povo lhe dá. A
influência, o poder, as posses, são todos presentes que o povo dá de bom grado, afinal,
simplesmente não há como entender como apenas 1 homem comum, na maioria das vezes
até mesmo efeminado e fraco, pode despertar medo e submissão em milhares. Não é o
tirano que subjuga o povo, e sim este que subjuga a si mesmo, degola a si mesmo, que
escolhe seu próprio mal quando aceita e até persegue a submissão.
Assim, o povo não precisa usar a força contra o tirano, e sim apenas parar de usá-la a seu
favor; o povo não precisa pilhar os bens do tirano, e sim apenas parar de alimentá-lo. Como
o fogo, o tirano consome tudo, e não é necessário jogar água para apagá-lo. Apenas
deixando de jogar mais lenha, uma hora o fogo consumirá todo o combustível e se
extinguirá sem nenhuma força externa.
Portanto, o que o povo precisa fazer não é combater o tirano, e sim apenas recusar servi-lo,
recusar protegê-lo, recusar obedecê-lo, que, como uma obra de engenharia que cai sobre
seu próprio peso sem uma base para suportá-lo, o tirano se anulará.

3) Qual é o efeito que o costume causa na vida política segundo La Boétie?


Para La Boétie, a natureza fez o homem livre, e colocou dentro dele esse desejo por
liberdade. No entanto, a natureza é mais fraca do que o costume, que nada mais é do que a
criação do homem. La Boétie cita a história de um rei que fez uma experiência com dois
cães idênticos, gêmeos, amamentados igualmente, mas um deles foi criado fora da casa,
caçando e correndo no campo, e o outro foi criado na cozinha, comendo o prato que lhe
davam. Quando os dois foram postos no mercado com um prato de sopa e uma lebre, o
costume de cada um ditou a ação de cada um: o criado na cozinha foi ao prato de sopa,
enquanto o outro se pôs a correr atrás da lebre.
Da mesma forma que os cães da história, os homens são criados num ambiente em que o
poder do rei e a submissão a ele são tidos como dados da natureza, graças ao costume.
Têm-se a impressão de que sempre foi assim, que é algo vindo dos pais, que não vai mudar,
então se aceita a submissão. O costume é a primeira razão da servidão voluntária.
O costume, portanto, é nocivo à liberdade natural do homem, pois é mais forte que a
natureza e faz com que o homem, por entender que a submissão é um dever, aceite
mansamente o jugo do tirano.

4) Questão discutida em aula − O que La Boétie entende por “mais bem


nascidos” e que papel estes poderiam exercer na vida política?
La Boétie chama de “mais bem nascidos” àqueles que percebem que estão sob o domínio
de um tirano; percebem que não há liberdade, e mesmo que não houvesse mais liberdade
alguma no mundo, essas pessoas teriam a capacidade de imaginá-la e devolvê-la ao mundo.
São pessoas que têm consciência de seu direito natural à liberdade e aprimoram seu
conhecimento com os estudos.
Os “mais bem nascidos”, como já mencionado, são os que poderiam trazer liberdade a um
mundo tirânico, pois são cultos e têm esse gosto pela liberdade, rejeitando a tirania ainda
que ela seja pintada de cores atraentes. São pessoas que não se contentam em olhar apenas
para seus pés, mas também adiante e para trás, para aprender com o passado, julgar
corretamente o presente e projetar um futuro melhor.
Sua importância reside em serem as frentes contra a servidão, já que o povo é inebriado
pelo costume, ou por supostas belas razões para a instalação da tirania. Não à toa, são
perseguidos pelos tiranos, que tentam isolá-los ou calá-los.

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