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Escola e tristeza 0 educador paulista Clovis de Barros Fitho, doutor em Dirito (Sorbonne) e em Comunicagdo (USF), sera um dos palestran- tes do 28% Congresso da Rede Sinodal de Educagao, que ocorre nos dias 20,21 € 22 de julho no Colégio Sinodal. Clovis colaborou para a Revista Sinais com um artigo sobre o tema de sua palestra Escola ~Lugar de Gente. 0 artigo foi escrito tan bbém pelo flésofo paulista Arthur Meucc' ‘Ambos so autores do ivro A Vida que Vale {Pena ser Vivia, da Editora Vozes. 0: ida escolano contexto do espaco Je da pessoa é importante e polémico. Sua importancia se dé na medida em que tal instituigdo € um espaco socialmen- te legitimo para socializar os alunos de forma adequada, Por adequado se entende tum adestramento do corpo, das paixées e do intelecto que dé conta de tomar 0s ho- mens sociaveis, segundo o sistema, e aptos para desempenhar FuncBes. ‘escola nao ¢ somente espaco fisico. Ela também & compartilhada por pessoas. Destinadas aos chamados alunos. Do latim, (0 sem luz. Aqueles que precisam ser ilu- rminados pelo conhecimento. Com tudo 0 que de positivo e negativo pode se dedu- Zir disso. fm teoria, a escola € feita para eles. Espaco que forma subjetividades através do aperfeigoamento de suas po- idades. ‘A relacao escolar deveria ofere- cer um espaco transicional efciente. Uma zona intermedisria entre o mundo exterior (ociale institucional) e 0 mundo interior dos alunos. Um lugar onde poderiamos - Lae Para Clovis e Arthur: "A escola ndo € somente espaco fico situar a crianca e 0 adolescente em um ‘espago fisico pablico e, ao mesmo tempo, possiblitar uma apropriacao subjetiva do lugar. Uma érea que possibiitasse experi- {ncias signficativas e um amadurecimen- to emocional adequado e suficiente. Porém, ndo é is80 0 que acontece. ‘A polémica reside entre o que deveria ser e aquilo que realmente é. Apesar das reformas ‘no ensino e suas tentativas de humanizar 0 ‘rocesso educacional, 0 ponto essencial do mal-estar neste processo nunca foi tocado. A interacao sada entre o social eo subjeti~ vo ainda é ignorada. Em nome da felicidade do aluno e do bom aproveitamento escolar surgiu um processo radical de inversao dos paps e valores. Qs sem luz agora sao clien- tes por isso sempre tém razao. 0 conheci- mento subjetivo é divinizado e as perspec- tivas e convencdes sociais elegadas & mera imposicéo arbitraria, 0 estudante chegou ao topo da hie- rarquia no processo educacional. Agora é ele quem subjuga e avalia 0s professores. As regras escolares foram relativizadas para atender aos anseios e aos desejos dos jovens. Vit6ria dos foucaultianos! A docitizacéo dos corpos cada vez mais se afrouxa. A violencia simbética da edu- cacao tradicional anda enfraquecida. A dominagao social pela disciplina e pelas Tegras escolares esta desaparecendo. A formagao de cidadaos livres e esclareci- dos se converteu na formacao de egoistas perversos. € mesmo com toda essa revo lucdo e legitimidade do narcisismo juvenil 6s alunos ainda so tristes. Com todo este voraz ataque ao sis- tema nos esquecemos do que ensinam os freudianos:a violencia simbolica nos traz mal-estar, porém é necessaria. 0 controle dos afetos e a canalizacao das energias para algo atl € essencial para vivermos fem sociedade. A escola perversamente adia situacbes inevitaveis como o respef- to & cutura, as regras socias ea lei. Torna mais dificil a vida fora da escola eda casa dos pais. Sé0 sujeitos soltos no mundo, sem referencia 0 que faltou para a escola foi adequar sua funcao 8s necessidades do aluno. Nao houve um movimento pedagégico para esclarecer 0 sentido da hierarquia, da or dem e da disciplina. Ainda se impée sabe res matematicos,literdrios e biologicos sem adequa-los & vida. Por que aprender Baskara? Qual a necessidade de saber so- bre os ribossomos? Um candidato a Enge- nharia precisa saber diferenciar rococé de arcadismo? A escola deixa a desejar em sua funco como lugar de passagem entre ‘© mundo da vida e o mundo socialmente ccompartithado. Sua inadequacéo em ser- vir como atea transicional entre o mundo subjetivo do aluno eo mundo que ele ha bita € causa da sua ineficiéncia. =

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