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ESPECIALIZAÇÃO EM ACONSELHAMENTO
E PSICOLOGIA PASTORAL
BLUMENAU
2005
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 04
CAPÍTULO I
VIDA E OBRA DE VIKTOR EMIL FRANKL ................................................ 06
CAPÍTULO II
O SER HUMANO EM BUSCA DO SENTIDO .................................................... 17
CAPÍTULO III
A ESPIRITUALIDADE E A RELIGIOSIDADE ................................................. 33
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 39
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 44
ANEXO ...................................................................................................................... 47
Agradeço a minha orientadora Karin Wondracek pela pessoa especial que é...
e aos meus filhos: Sophia, Caroline e Junior, pelo apoio neste período.
INTRODUÇÃO
Eu sempre acreditei que viver é algo mais do que respirar, ter saúde e/ou ter bens
materiais. Hoje, e cada vez mais, vejo-me num plano diferente, onde consigo encontrar um
sentido para as minhas perdas e sofrimentos. Acredito na “sabedoria divina”, que nos
coloca no momento certo e na hora certa em cada acontecimento de nossas vidas. E é esse
saber que me capacita a entender os valores que a vida me atribui, e que tenho como
estar aqui!
Esse assunto, hoje, é de vital importância para edificar o nosso viver bem,
buscando o sentido da vida numa visão mais holística, espiritual e transcendente do ser
que não é fácil, devido aos obstáculos da nossa rotina, que muitas vezes é de “desacerto” e
O guia para não entrar neste “piloto automático” é buscar o desejo puro da alma,
que uma vez compreendido, guia o homem nos seus anseios e frustrações.
ser humano, com relação à espiritualidade, existência, sofrimento (perda) e sentido da vida,
1
Termo usado no livro de WONDRACEK, Karin; HERNÁNDEZ, Carlos. Aprendendo a lidar com crises.
São Leopoldo: Sinodal, 2004, p. 13.
CAPÍTULO I
VIKTOR FRANKL
Viktor Emil Frankl foi um homem que fez diferença. Viveu até os seus 90 anos
com toda energia e vitalidade de uma pessoa especial; escalou montanhas, pilotou avião na
Califórnia; viajou aos cinco continentes deixando rastros da sua mensagem profundamente
onde se concentra um maior número de adeptos a “Logoterapia”; Frankl sempre falava que
2
Especialista em Psicologia Escolar e mestre em Psicologia Clínica, é um dos marcos da eclosão do
movimento de Logoterapia na América Latina. Xausa é fundadora das Sociedades Latino-Americana e
Brasileira de Logoterapia, tendo sido a primeira presidente daquela entidade. Presentemente, coordena o
Centro “Viktor Emil Frankl” de Logoterapia e leciona no Curso de Logoterapia, em nível de pós-graduação
na PUC/RS.
8
– Logoterapia. Foi responsável pela vinda de Frankl ao Brasil em abril de 1984, para
realizado em Porto Alegre na PUC/RS. Nesse encontro Frankl recebeu o título de Doutor
prestados à Paz Mundial, juntamente com a Madre Tereza de Calcutá. Aos 85 anos, foi
condecorado pelo Presidente da Áustria como Herói, Cientista e maior Humanista do final
do século.4 Nos Estados Unidos, numa conferência, que foi proferida em língua inglesa, na
O destemor de Frankl para com a vida, com toda a sua história vivida nos campos
de concentração, nos faz acreditar que a vida é uma “caixinha de surpresas”, e que faz
sentido encontrarmos o nosso caminho como seres humanos, mesmo com sofrimento.
Ph.D, nasceu em Viena (26.03.1905 – 02.09.1997). Foi educado dentro da tradição judaica,
em sua cidade natal. Seus pais, Gabriel e Elisa, eram da Tchecoslováquia; nasceram em
3
Frankl recebeu no total vinte e sete títulos de Doutor Honoris: Contam-se, entre eles, das Universidades de
Viena, Harvard, Yale, Sorbone, bem como as Universidades da Argentina, Venezuela, México, Japão, Itália,
Rússia e outras. (SOCIEDADE DE LOGOTERAPIA VIKTOR EMIL FRANKL. Curso de Formação em
Logoterapia.Curitiba, 2000, p. 5).
4
SOCIEDADE DE LOGOTERAPIA VIKTOR EMIL FRANKL, idem, p. 5.
5
FRANKL, Viktor E. A presença ignorada de Deus. Trad. de Walter O.Schlupp e Helga H. Reinhold. São
Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 1992, p. 91.
9
vivências durante a “II Guerra Mundial”.7 Ficou prisioneiro por um longo tempo (trinta e
oito meses) em campos de concentração, onde seres humanos eram tratados com crueldade
e desumanidade (nua e cruamente). Sua família (pai, mãe, irmão e esposa) – , morreram no
campo de concentração nos crematórios; somente sua irmã Estela conseguiu emigrar para a
Austrália; seu irmão tentou ir para a Itália, mas foi capturado pelos soldados da SS. Na
Foi no campo de concentração que Frankl percebeu que o ser humano suporta
qualquer sofrimento, quando o mesmo tem um sentido para a sua vida (pode ser uma tarefa
pendente ou algo que, irremediavelmente tem que ser executado). Frankl cita uma frase de
Nietzsche: “Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como”.9 O que
6
Em 1930 Frankl graduou-se em medicina. Em 1933 especializou-se em Neuropsiquiatria. (SOCIEDADE
DE LOGOTERAPIA VIKTOR EMIL FRANKL, op. cit.,. p. 3).
7
No final de 1942 a Gestapo prendeu a família de Frankl e cada membro dela foi levado para um lugar
diferente. Frankl e Tilly fizeram um pacto de se encontrar depois da prisão; e esta promessa de encontro fez
com que Frankl lutasse com todas as suas forças para continuar vivo. (SOCIEDADE DE LOGOTERAPIA
VIKTOR EMIL FRANKL, op. cit., p. 3).
8
Gordon W. Allpor, ex-professor de Psicologia da Universidade de Harvard, é um dos maiores escritores e
professores nesta área no hemisfério norte. Publicou numerosos livros sobre Psicologia e foi o editor do
Journal of Abnormal and Social Psychology. Foi principalmente através do trabalho pioneiro de Prof. Allport
que a importante teoria de Frankl foi introduzida nos Estados Unidos. Além disso, é em grande parte graças a
ele que o interesse em torno da logoterapia tem crescido exponencialmente neste país. (FRANKL, op.cit., p
9).
9
XAUSA, Izar Aparecida de Moraes. A psicologia do sentido da vida. Petrópolis: Vozes, 1986. p. 140.
10
conservar a integridade de sua alma, a sua fé, sua vocação e a incansável esperança de
reencontrar-se com a sua esposa (que estava grávida). Só ficou sabendo da morte de sua
PARA O RELIGIOSO/TRANSCENDENTE
na existência de Deus em meio à dor mais atroz. Escreveu o livro “Em busca do sentido –
grande escritor e sim, mostrar às pessoas que “[...] a vida tem um sentido potencial sob
liberdade como:
10
XAUSA, op. cit., p. 25.
11
FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. 17. ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
12
Ibidem, p. 10.
13
Idem, p. 66.
11
Essa liberdade de alguns prisioneiros fez Frankl acreditar que mesmo nas
situações mais miseráveis, o ser humano ainda é digno de sua liberdade interior.
Frankl foi preso em 1942, viveu em campos de concentração por um bom tempo
119.104). No período em que Frankl passou no campo de concentração, ficou a maior parte
amigos médicos tiveram o privilégio de ficar aplicando ataduras improvisadas com papel
conclusões sobre a natureza humana face ao sofrimento, citando o exemplo de que somente
aqueles que desistiam de viver, desfrutavam de seus últimos cigarros. Este era o sinal de
Era normal, vivendo naquela situação, que todos pensassem em suicídio, mesmo
que por alguns segundos. Na primeira noite, Frankl fez uma promessa, uma mão apertando
14
FRANKL, Em busca de..., p. 18.
15
FRANKL, Em busca de..., p. 26.
12
a outra, de não ir para o fio16, essa expressão significa - tentar o suicídio (tocar no arame
de pequenos detalhes: para não ir à câmara de gás era preciso manter a postura e procurar
fazer a barba todos os dias, mesmo que se tenha que sacrificar um pedaço de pão em troca.
Basta alguém mostrar um ferimento qualquer, ou estar mancando, que no dia seguinte ele é
Frankl observou que no campo de concentração, após passar pelo primeiro choque
(alguns dias da chegada), vem a relativa apatia – a pessoa aos poucos vai morrendo
interiormente.17 Algumas das razões para tal é a saudade da família e o nojo das condições
precárias. Nesta fase, os prisioneiros passam a mortificar os sentimentos que são normais.
Após algumas semanas, o sofrimento é tanto que nada mais os sensibiliza. O autor explica
essa apatia e insensibilidade emocional - o desleixo interior e a indiferença são como uma
Era comum a ausência total e absoluta de sentimentos - explica Frankl que esta é
uma forma de proteção para preservar a vida constantemente ameaçada, suscitam uma
depreciação radical de tudo aquilo que não serve a este interesse exclusivo.19
16
Ibidem, p. 27.
17
Ibidem, p. 29.
18
Ibidem, p. 31.
19
Ibidem, p. 39.
20
FRANKL, Em busca de..., p. 40-41.
13
Esse sentimento religioso que Frankl observou, foi o que originou a sua
Com esta vivência, Frankl passa a conhecer o ser humano como nenhuma outra
geração antes de nós. Nesse laboratório que foi o campo de concentração, ele viu o ser
humano que criou a câmara de gás, mas também viu o homem, com a sua liberdade
interior, decidir o que ele é, e entrar na câmara de gás ereto, com fé e orando.
Frankliana, que tem como princípio a preocupação de compreender com amor e empatia o
ser humano. Frankl, na Análise Existencial, adotou uma metodologia investigatória que
pessoas que sofrem, fazendo-as entender o verdadeiro significado de sua existência, que é
21
XAUSA, op. cit., p. 206.
14
Sentido não quer dizer tarefa material, mas aquilo que de imaterial se
coloca na tarefa, nas vivências ou na dor. Uma tarefa pode ser realizada
sem sentido, embora bem feita ou com alto valor produtivo. Essas tarefas,
vivências, sofrimentos se baseiam nos valores, essencialmente. Por isso
que o termo Logoterapia também passou a designar a realização de
valores com sentido, a partir do espírito da pessoa. E também, Análise
Existencial permaneceu designando mais a análise na existência em
direção ao espírito da pessoa.22
Partindo desta premissa, surgiu a Análise Existencial de Frankl, que alivia a dor
importância para a realidade dos pacientes psiquiátricos. Sua obra ajudou na valorização da
teoria existencial de Frankl, ao mostrar a extrema dinâmica das situações-limite com que as
pessoas se confrontam em seu dia-a-dia. Foi na obra de Karl Jaspers que Frankl baseou a
sua teoria de tríade trágica, que engloba os três elementos que levam o ser humano à
angústia existencial: culpa, sofrimento e morte. Foi neste pressuposto que Frankl
22
SOCIEDADE DE LOGOTERAPIA VIKTOR EMIL FRANKL, op. cit., p. 10.
23
SOCIEDADE DE LOGOTERAPIA VIKTOR EMIL FRANKL, op. cit., p. 8.
15
racionalista de Hegel, que identifica a verdade abstrata com a realidade, vendo o ser
humano como um sujeito que só adquire realidade enquanto ser pensante. Segundo Hegel,
o indivíduo torna-se objeto de controle, não está mais em devir. O termo “existência” vem
do latim ex-sistere, que significa emergir, impor-se, aflorar, sobressair. Essa é a proposta
sociais, porém coloca o ser humano como responsável e livre para lidar com estes aspectos
que é constituída pela vida organísmica e vegetativa; a camada psicológica, que representa
Max Scheler: Foi o pai espiritual de Frankl. Contribuiu para a área de valores,
biológica em torno do Núcleo Espiritual e Noético (Fig 2).26 Para Scheler a maior
24
LESSA, Jadir. Analista Existencial em Psicomaiêutica. O movimento existencialista como quebra de
paradigma, [s.l.] 2 de maio, p. 1-5.
25
SOCIEDADE DE LOGOTERAPIA VIKTOR EMIL FRANKL, op. cit., p. 7.
26
SOCIEDADE DE LOGOTERAPIA VIKTOR EMIL FRANKL, op. cit.
16
Fig.1 Fig.2FigFf
entretanto o ápice pertence ao noético (Fig.1). Essa forma de pensar de Hartmann poderá
Scheler, estas dimensões são concêntricas (Fig.2), ou seja, situam-se ao redor de um núcleo
espiritual.29
Por esse ponto de vista, Frankl aceitou as dimensões múltiplas, como a biológica,
a psico-social e a espiritual. Mas contestou a separação dessas camadas entre si, como
palavra indivíduo significa – ser a pessoa indivisível e única, embora diversificada em suas
dimensões.30
27
XAUSA, op. cit., p.118.
28
Idem, p. 119.
29
XAUSA, op. cit., p. 118-119.
30
SOCIEDADE DE LOGOTERAPIA VIKTOR EMIL FRANKL, op. cit., p. 7.
17
CAPÍTULO II
VIKTOR E. FRANKL
Frankl, através de tudo que passou, descobriu que o sentido da vida muda de
pessoa para pessoa, de um dia para outro, de uma hora para outra. O que importa na sua
teoria não é o sentido da vida num modo geral, mas antes o sentido específico da vida num
determinado momento. A pessoa deve reconhecer que é ela quem está sendo questionada
pela vida; e somente ela pode responder à vida respondendo por sua própria vida com
responsabilidade.
reflexão no amor para com a vida - “[...] que o presente é passado, e que em segundo lugar,
o passado ainda pode ser alterado e corrigido”.31 Esse princípio confronta a finitude da vida
com o fato de que a pessoa é responsável por aquilo que ela faz de sua vida e de si mesma.
31
FRANKL, Em busca de..., p. 99.
19
principal força motivadora do ser humano. Com esta afirmação, Frankl veio a contrastar
sua teoria com o que Freud determina como “princípio do prazer” e o que Adler define
Para Frankl, discutir o sentido último da vida sem realizá-lo seria o mesmo que
negá-lo; e uma vez que começamos a realizá-lo, já não será mais preciso discuti-lo, porque
ele se impõe com tal evidência que do contrário seria cinismo. Portanto, a logoterapia é
uma psicoterapia centrada no sentido que busca confrontar as pessoas com o sentido de sua
vida: em sua realidade, em seu sofrimento, em sua existência que muitas vezes está
noogênicas (espirituais).
um sentido na “tríade trágica” da existência humana, definida como: dor, culpa e morte.
32
Frankl se contrapôs a Freud que era determinista, onde excluía a capacidade do homem para mudar seu
destino segundo seu próprio desejo, e que, acreditava que o homem caminha pelo mundo sob a força dos seus
impulsos. Porém, com Adler, sua relação começou a estremecer quando Frankl apresentou suas idéias sobre
o sentido da vida, divergindo de suas propostas, que o homem está no mundo em busca de poder e na
conquista de sua superioridade (conferência proferida em 1926 na Associação Internacional de Psicologia
Individual em Viena). Sendo expulso da sociedade Adleriana, a partir de então. (Informações obtidas através
do texto – Curso de Logoterapia – sobre o Existencialismo de Viktor Emil Frankl de Claisa Maria Mirante,
Ariane Melo).
33
FRANKL, Em busca de..., p. 92.
20
seja, o que importa é tirar o melhor de cada situação dada.34 Potencialmente, acredita que o
O processo do sofrimento para Frankl significa uma sábia lição de saber agir,
crescer e amadurecer com as situações adversas que a vida nos coloca. Sua teoria somente
pessoa que sofre, mas no ser humano que tem compaixão e que também sabe consolar o
sofrimento do outro.38
não é adquirida ao nascer, como a capacidade de criar e/ou de amar. Por esta razão, Frankl
34
FRANKL, Em busca de..., p. 119.
35
Ibidem.
36
Etiologia: estudo sobre as origens das coisas.
37
FRANKL, idem, p. 120-121.
38
XAUSA, op. cit., p. 165.
21
afirmam que “As crises despertam forças surpreendentes em nós – se não fugirmos,
surgirão novos horizontes e solos. Elas nos desafiam a criar uma nova maneira de viver”.39
de concentração, onde havia muito sofrimento esperando para ser resgatado - por um olhar
de frente para avalanches de sofrimentos, apesar do perigo de amolecer e, por deixar fluir o
sofrimento simplesmente chorando. Certa vez Frankl perguntou a um amigo como ele
sofrimento deixa de ser sofrimento quando encontramos o sentido para esse sofrimento.
Cita como exemplo, o médico que estava sofrendo há dois anos pela morte de sua esposa e
não conseguia esquecê-la. Buscou confrontá-lo, perguntando se fosse ele que tivesse
morrido primeiro, como sua esposa se sentiria? Então o médico respondeu que ela iria
sofrer muito com sua morte. Frankl o fez pensar que, com a morte da sua esposa, ele a
poupou deste sofrimento. Ademais, você terá que pagar o preço de chorar por ela, mas
continuar a viver com sentido. Neste caso, ele foi-se, e compreendeu o sentido de sua vida,
que como fala Frankl: “Sofrimento, de certo modo, deixa de ser sofrimento no instante em
argumenta que principalmente os jovens “[...] têm o suficiente com o que viver, mas não
têm nada por que viver; têm os meios, mas não têm o sentido”.41 Um dos motivos da
síndrome neurótica dos jovens advém do vazio existencial, gerando como característica a
39
WONDRACEK e HERNÁNDEZ, op. cit., p. 13.
40
FRANKL, Em busca de..., p. 101.
41
Idem, p. 121.
22
anos (sexo masculino) vivem trancados em seus quartos – entre seus casulos domésticos,
escondendo-se e isolando-se do mundo. Esses jovens não agüentam a pressão imposta pela
sociedade, preferindo o isolamento buscando somente o contato virtual; isso num país em
que a sociedade prega a homogeneidade.42 O homem moderno está acometido por uma
compreendido como a falta de iniciativa para melhorar ou modificar algo. Por esta razão
para crescer, “[...] é preciso tornar-se adulto, assumindo riscos do crescer; é preciso deixar-
se fecundar para que haja multiplicação. É preciso vencer o medo e arriscar as próprias
escolhas”.44
que o jovem decide tirar a sua vida, tivesse algo mais que o impulsionasse a superar a crise
(religiosidade ou um sentido único que transcende toda a sua crise existencial), ele não
b) Experimentar algo que tenha um valor próprio e/ou encontrar alguém (amigo ou
namorado).
42
KOSTMANN, Ariel. Multidão de solitários. Veja, 17 nov. 2004, p. 124.
43
FRANKL, A presença ignorada..., p. 78-79.
44
WONDRACEK e HERNÄNDEZ, op. cit., p. 22.
23
transcendência45, mesmo numa situação sem esperança, buscando dentro de si, uma
Frankl cita um jovem que sofreu um acidente, ficando paralisado do pescoço para
através de um telefone especial, podendo participar das discussões em sala de aula. Depois
da experiência, ele fala: “[...] Vejo minha vida cheia de sentido e de objetivos. A atitude
que adotei naquele dia fatal se transformou no credo da minha vida, eu quebrei meu
pescoço, mas não quebrei o meu ser. Afirma que, sem o sofrimento, o crescimento que
atingiu, teria sido impossível”.47 “O homem só alcança a felicidade quando olha para
dentro de si, buscando metas imanentes para o prazer ou metas externas com um fim que
Frankl é:
Para Frankl, não se pode conceber que condicione o ser humano a ponto
de deixá-lo sem a menor liberdade. Por isso, um resíduo de liberdade, por
mais limitado que seja, ainda resta à pessoa em caso de neurose ou
mesmo psicose. Na verdade, o mais íntimo cerne da personalidade de um
paciente nem é tocado pela psicose. Um indivíduo psicótico pode perder
sua utilidade, mas conservar a dignidade de um ser humano. Este é o meu
45
Frankl fala da “voz da transcendência”, que é a área da dimensão espiritual do homem, onde tem lugar um
encontro da pessoa com ela própria, na mais profunda intimidade do seu eu. (SOCIEDADE DE
LOGOTERAPIA VIKTOR EMIL FRANKL, op. cit., p. 14).
46
FRANKL. Em busca de...,p. 125.
47
Idem..
48
XAUSA, op. cit., 132.
24
credo psiquiátrico. Sem ele não valeria a pena ser psiquiatra. Por amor a
quem? Simplesmente por uma máquina cerebral danificada, que pode ser
concertada? Se o paciente não fosse categoricamente algo mais do que
isso, a “eutanásia”49 estaria justificada.50
humano em ir além de si mesmo, caminhando com alguém de quem gosta ou pelo bem de
todas as áreas em que exista sentido, as quais são: autoconhecimento, escolha, unicidade e
responsabilidade.
áreas em que nos sentimos mais fracassados, transformando a derrota em vitória. Aliás,
sofrimento. O que Frankl afirma é que... “somente tem sentido o sofrimento, se for
acidente, encontrando o seu sentido único na vida, e que sem esse acontecimento
acima, Frankl escreve: “o jovem não havia escolhido fraturar seu pescoço, no entanto, ele
decidiu, através de sua atitude, não deixar-se quebrar a si mesmo”.52 Este exemplo ilustra a
49
Para Frankl , mesmo com sofrimento a vida tem o seu sentido. Todavia a “logoterapia” é categoricamente
contra a “eutanásia”.
50
FRANKL. Em busca de..., p. 113-114.
51
Ibidem, p. 102.
52
Ibidem, p. 125.
53
Autotranscendência – esta abertura à auto-transcendência dá-se através da consciência, que não busca a si
mesma, mas que vai além da pessoa. (XAUSA, op. cit., p. 133).
25
sentido da vida. O lema de Frankl é: “Viva como se você estivesse vivendo pela segunda
vez e como se tivesse agido tão erradamente, na primeira vez, como está por agir agora”.54
podemos suplantar aquilo que temos que é o nosso corpo e mente. Essa consciência é que
regra diga que da ação resulta a atitude, mas nem sempre resulte necessariamente a ação,
muitas vezes age-se a partir de uma determinada atitude. Esta regra vale também no âmbito
O espírito da
época é a atitude
Ato Hábito comum de
semelhante de semelhante de muitos
muitos muitos
de decidir, entra na decisão do coletivo, ou seja, outros decidem por ele. Citando um
exemplo, muitos jovens compram determinadas marcas por aderirem ao momento, ao que
está em uso por todos. Muitas vezes, a escolha não foi a melhor, em termos de vestir bem,
mas como a maioria opta pela marca, acredita que foi a melhor escolha.
57
Elizabeth Lukas é a grande logoterapeuta, com reconhecimento mundial. Foi a discípula direta de Frankl.
Sempre tiveram uma grande afinidade e suas famílias tinham convívio íntimo e rotineiro. Ela considera
Frankl como seu pai, pois através dele teve nova vida na Logoterapia. Mora na Alemanha – Munique.
Elizabeth está na ativa. Atende (clínica) no centro de aconselhamento social, dá aulas e palestras. Ela nasceu
em 1946. Livros (publicados): Assistência Logoterapêutica; Mentalização e Saúde; Prevenção Psicológica e
Psicologia Espiritual, todos editados pela Vozes. Vários outros livros, mas não estão traduzidos para o
Português (Alemão).
58
LUKAS, Elisabeth. Prevenção psicológica. Trad. de Carlos Almeida Pereira. Petrópolis: Vozes; Sinodal:
São Leopoldo, 1992, p. 99.
27
contribuir para a mudança desse círculo vicioso que Elizabeth Lukas define como
da neurose coletiva não se encontram doentes no sentido clínico, entretanto, podem entrar
através de quatro sintomas. Frankl define esses sintomas como fuga da responsabilidade,
a) A atitude provisória diante da vida – Ter uma atitude provisória perante a vida
é o mesmo “[...] que viver sonhando acordado, sem se incomodar com nada, sem planejar,
sem nada preparar com antecedência”.60 Busca-se a satisfação momentânea, sem pensar
nas conseqüências de suas atitudes; conforme Elizabeth Lukas, as pessoas que têm essa
conseqüências que possam advir mais tarde para elas próprias e para o próximo. O
provérbio mais usado por essas pessoas que têm a mentalidade do provisório é “[...] por
isso, enquanto é tempo, vou gozar a minha vida, fazendo o mínimo de esforço possível”.61
O risco desta mentalidade é de que, quando as pessoas caírem em si, elas não terão mais
amigos, dinheiro, família, profissão; portanto continuarão a manter essa mentalidade, pois
nada mais lhes resta, e pensam: “[...] de qualquer jeito, agora é tarde para começar uma
definhar, confirmando a estreita relação do ânimo de uma pessoa com o valor atribuído e
59
Coletivismo é o sistema econômico que visa tornar comuns os meios de produção.
60
LUKAS, op. cit., p. 103.
61
Ibidem.
62
Ibidem.
28
suas esperanças; de forma análoga, grupos que fazem parte nas guerras ou guerrilhas, pois
essas pessoas passam a ignorar o amanhã. Se chegarem à velhice, terão um adoecer e uma
levam a vida de forma provisória. Muitos jovens vivem com esse lema: “O importante é
que hoje eu esteja bem!”64, não se preocupando com o futuro de seus netos e bisnetos.
para esses jovens que mantêm uma atitude provisória da vida, da importância vital de
a liberdade com medo de assumir o seu caminho; deixam o caminho decidir por si só,
cruzam os braços. Evidentemente, passam a tomar uma decisão ou atitude um tanto quanto
cômoda. Pessoas muito religiosas podem desenvolver esse meio de subsistência, chegando
muitas vezes ao limite da sua atitude, por exemplo, deixam de prestar socorro a um
acidentado por acreditar que a mesma está nas mãos de Deus, ou no popular. “[...] é a
vontade de Deus”. “A pessoa com mentalidade fatalista presta fé num destino todo-
poderoso que se manifesta responsável por tudo. Nega-se a si própria toda possibilidade de
63
LUKAS, op. cit., p. 104.
64
Ibidem.
29
decidir”.65 O questionamento para todos com relação ao destino é um desafio, mas para
essas pessoas a pergunta é o que ela irá fazer do destino. A chave proposta pela logoterapia
é que a resposta não é colocada pelo destino, mas somos nós que a delineamos com as
nossas atitudes. Mesmo uma resignação cega perante as atitudes da vida pode ser uma
resposta, embora não responsável. Desejar “só o que os outros fazem” é um egoísmo
doentio; conforme Elizabeth Lukas, esse sentimento destrói toda a felicidade, através da
ânsia da felicidade.66 Esse sentimento doentio de só fazer o que os outros fazem ou querem,
é uma forma de abnegar o verdadeiro sentido da vida, que deve ser vivida na sua plenitude
total com atitudes, valores e responsabilidades perante o que a vida nos cobra.
precipitado que pode levar a conclusões errôneas.67 Esta forma de agregação possui
adeptos cegos e não um grupo de pessoas que têm opiniões. Essa atitude é manifestada por
psicólogos são malucos”, “na televisão nada presta”. Esses julgamentos, conforme
mas em cada um se esconde o mesmo clichê pueril de quem não consegue enxergar senão
dentro do esquema do bem e do mal, de quem não quer se esforçar para saber distinguir o
se somente com seus grupos e nada mais. Na visão antropológica poder-se-ia definir esses
grupos como grupos etnocêntricos que têm uma visão do mundo onde o próprio grupo é
tomado como centro de tudo. Todos os outros são pensados e sentidos através dos próprios
65
LUKAS, op. cit., p. 104.
66
Ibidem, p. 98.
67
Ibidem, p. 105.
68
LUKAS, op. cit., p. 106.
30
coletivista pode ser visto como a dificuldade de pensar a diferença; no plano afetivo como
ser uma atitude que explica a idolatria, não só política, mas de todo o tipo que acontece no
meio social. Muitas vezes o grupo coletivista desemboca para o fanatismo. Conforme
Frankl, os fanáticos usam todos os recursos para fazer valer seus ideais; literalmente
passam por cima de todos sem o mínimo de receio ou sentimento de culpa, desconhecem
qualquer misericórdia do perdão. Para eles, pouco importa a opinião dos inocentes que
nada têm a ver com a sua forma de pensar; e quando não conseguem expor suas idéias
69
ROCHA, Everaldo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 8-9.
70
O fanatismo é uma atitude que explica a idolatria não só política mas de todo o tipo que acontece no meio
social. (XAUSA, op. cit., p. 138).
71
LUKAS, op. cit., p. 107.
72
LUKAS, op. cit., p. 107.
31
VIKTOR FRANKL
vida. É essa dimensão que ele atinge, quando não se deixa vencer pelo destino,
o legado deixado por pessoas que passaram por muitas situações difíceis e conseguiram
O sentido, além de nos mostrar o valor vital, também se revela como um valor de
sobrevivência. Pessoas que, por razões desconhecidas, tentam o suicídio, não conseguem
ver possibilidades viáveis para sua vida; encontram-se numa total falta de sentido, sem
amparo e não sabem onde se apoiar ou a quem recorrer. Essa é a forma impaciente de ver
a sua vida. Mas a vida dá a essas pessoas a possibilidade de resgatar o verdadeiro sentido.
dificuldades que a vida lhes impõe, resistindo e contornando situações difíceis e anormais.
Na atualidade, esta capacidade é muito valorizada nas grandes empresas, por ser
Carolyn Larkin, uma das mais gabaritadas pesquisadoras da área de recursos humanos, a
resiliência é classificada como o terceiro aspecto mais importante de um líder. Para Larkin,
mudanças, expressada em ditos como – “o fundo do poço não tem ralo, tem mola”75. Este
tipo de personalidade consegue entender os imprevistos como algo que faz parte do
processo de crescimento, e com esta atitude, mantém a calma e a serenidade nos momentos
chão, ou seja, sem otimismo exagerado ou discurso fatalista; mas com bom humor,
73
FRANKL, Em busca de..., p. 92-93.
74
LISBOA, Sílvia. Resiliência, o segredo dos heróis. Amanhã, jan./fev. 2004, n.. 195, p. 27-30.
75
Ibidem, p. 28.
33
que a vida, mesmo com sofrimento e maus–tratos, tem um sentido único; para sobreviver,
conseguem transcender, encontrando algo que está fora delas próprias. As instituições
76
LISBOA, op. cit., p. 28.
CAPÍTULO III
A ESPIRITUALIDADE E A RELIGIOSIDADE
VIKTOR FRANKL
relação com a revelação que está acima de tudo que é Deus, significa que todo ser humano
pensamento de Jung, James, Bergson, Otto, Scheler e outros. Porquanto, a pessoa quando
que transcende o plano espiritual; é esta consciência que indica um sentido básico para a
vida. Buscar ser e o ter responsabilidade é a base para o equilíbrio do homem como ser
espiritual e religioso.
Essas pessoas conseguem dar um sentido em suas vidas, porque acreditam na mão
78
FRANKL, A presença ignorada..., p. 9.
79
LUKAS, op. cit., p. 44-45.
36
inconsciente estava armazenada somente a pulsão instintiva reprimida, enquanto que para
simplesmente porque não pode ser objeto de reflexão.81 Na sua origem, o espírito é
quando responsável. A psicoterapia mostra a existência do ser espiritual como um ser que
tem o livre arbítrio, tem a sua responsabilidade livre; desta forma, Frankl contesta a
hipótese de que o ser está condicionado a aceitar os acontecimentos de sua vida como
destino. Quando Frankl fala da totalidade do ser humano, como um ser integrado no seu
bio-psico-espiritual (mente, corpo e espírito), quer explicar que com essa tríade se forma o
ser humano na sua íntegra. Como ser de corpo e mente – conceito da psicofísica, jamais
80
FRANKL, A presença ignorada..., p. 18.
81
Ibidem.
37
partir do psicológico, ou seja, é uma psicoterapia a partir do espiritual.82 Frank relata uma
experiência nos Estados Unidos: numa de suas conferências, deixou aberto ao público
fazer perguntas por escrito. Um teólogo que presidia o evento recusou-se a passar para
Frankl uma das perguntas, achando que era uma brincadeira, no entanto, Frankl fez questão
de ouvir e depois ler a pergunta, e o teólogo traduziu a pergunta, como: “Como se define
600 em sua teoria?”. Frankl leu a pergunta e entendeu que não se tratava de uma bobagem
inglês, não sendo difícil para Frankl traduzir o verdadeiro sentido da pergunta, que era
GOD (Deus). Esta experiência para Frankl foi tão marcante, que quando chegou em Viena,
reuniu seus alunos e fez a mesma pergunta, utilizando como método projetivo, que resultou
em: “Nove deles leram o número 600, outros leram GOD (Deus), e quatro não souberam
responder”. Desta experiência Frankl conclui que: “A pessoa que não mais consegue
encontrar sentido em sua vida, nem tampouco consegue inventá-lo, tenta fugir do seu
sentimento cada vez mais forte de falta de sentido e produz ou algo absurdo ou um sentido
subjetivo”.83 Refere-se a 1 Samuel 3.2-9 onde o profeta, ainda adolescente, não reconhece
Como poderia então uma pessoa comum ser capaz de reconhecer sem
dificuldade o caráter transcendente desta voz com que lhe fala sua
consciência? E por que razão haveríamos de nos surpreender se ele
normalmente tomar esta voz com que lhe fala a consciência como algo
fundamentado em seu próprio ser? Mais adiante afirma: Pois assim como
se necessita de um pouco de coragem para declarar-se partidário daquilo
que se reconheceu, é preciso ter um pouco de humildade para designá-lo
82
LEÓN, Jorge A. Introdução à psicologia pastoral. Trad. de Ruth Maria Maestre. São Leopoldo: Sinodal,
1996, p. 22-23.
83
Ibidem, p 25.
38
Frankl conseguiu ver em Deus a fonte moral na vida do ser humano, ou seja, a
biográfico, e do ponto de vista ontológico, Deus está em primeiro lugar. Além dessa
inconsciente.
Frankl diz: “[...] devemos esperar que os sonhos, aquelas produções autênticas do
espontâneo: À religiosidade verdadeira, para que seja existencial, deve ser dado o tempo
necessário para que possa brotar espontaneamente. Nunca podemos apressar a pessoa neste
84
LEÓN, op. cit., p. 25.
85
Ibidem.
86
Idem, p.26.
87
LEÓN, op. cit., p.28.
39
As pessoas que não têm fé são consideradas adormecidas, precisam de seu tempo
88
FRANKL, Em busca de..., p. 114.
CONCLUSÃO
que a vida cobra atitudes e responsabilidades. Que as pessoas não são vítimas do acaso.
Que a vida, com a sua sabedoria divina, coloca o ser humano em determinadas situações
para que possa transcendê-las, buscando um sentido último para crescer como seres
humanos e ter uma visão otimista da vida, para estar abertos espiritualmente e para
reescrever a história.
com crises”, no qual afirmam: “Quando perdemos a capacidade de olhar o que se passa,
somos invadidos pelas fantasias”89, e nessa mesma visão Rollo May no seu livro “O
homem à procura de si mesmo”, fala do homem fecundo – quando a pessoa se sente como
agente, quando faz o processo de auto-percepção e toma para si a consciência. Essa tomada
ou seja, por um grau de consciência do eu que sente. Para May90 quanto menos consciente
exemplo deste processo de fuga, May fala da pessoa que evita o tédio num trabalho de
rotina – “piloto automático”91 que é o mesmo que estar ausente a milhares de quilômetros –
89
WONDRACEK e HERNANDÉZ, op. cit., p. 95.
90
MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 221.
91
Termo usado por Wondracek e Hernandéz em seu livro (op. cit.).
41
como num sonho, como se houvesse um obstáculo entre a pessoa e o presente. 92 A razão da
pessoa fugir desse contato com o seu eu, é que o eu a deixa ansiosa, com uma sensação de
estar nu ou de encontrar-se numa realidade da qual não pode fugir, recuar ou se esconder.
quando o ilumina, e o futuro quando o torna mais rico e mais profundo”93. Enfim o
saudável é viver o presente, sem medo, receio e angústia, procurando sempre o estar aqui,
tornando-se vital na ajuda a pessoas que buscam respostas ao vazio existencial, que se
expressa (o vazio) como ausência de sentido na vida. Para Frankl o sentido da vida não
pode ser inventado, tem de ser descoberto. O pai do existencialismo – Kierkegaard define
emergir do sopro do espírito para a imensidão de dádivas que a vida nos coloca. Comenta
Kierkegaard:
fecundo no abrir-se à vida na comunhão com a religião. Nesse sentido, num diálogo
importância da religião na vida das pessoas com Abrão Slavutzky,95 que comenta:
92
MAY, op. cit., p. 221-222.
93
Ibidem, p. 220.
94
Idem.
95
Abrão Slavutzky é psicanalista em Porto Alegre.
42
Na sua concepção, Müeller define identidade como “[...] não é algo que se possui
na existência, mas é algo que vai sendo construído aos poucos”.98
Nesse trabalho procurei mostrar como isso se deu na vida de Frankl. Foi esse
emergir pela transcendência que o salvou no campo de concentração. Foi a sua liberdade
interior, que o fez capaz de suportar todo o holocausto e sofrimento. Sobreviveu por sua
determinação de manter sua esposa viva na memória e por sua promessa de reencontrá-la.
Esse é o credo de Frankl que o levou a sistematizar a logoterapia, e esse é o caminho para
96
WONDRACECK, Karin Hellen Kepler. (Org.). O futuro e a ilusão: um embate com Freud sobre
psicanálise e religião. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 246-47.
97
WONDRACECK, op. cit., p. 248.
98
Idem.
43
Vejo a logoterapia como uma ferramenta muito importante para trabalhar com os
dor e morte) deve ser vivida. O desafio como aconselhador está em conseguir trabalhar o
espiritual deste moribundo, o seu discernimento com relação à vida, fazendo-o entender
que, apesar de seu sofrimento, tem a capacidade de transcender essa situação e jamais
Nietzsche: “Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como”.99 Nesse sentido,
Frankl fala do processo do sofrimento como uma sábia lição de saber agir, crescer e
amadurecer com as situações adversas que a vida coloca. Edificando suas conquistas e
ajudará a perceber que Deus sempre estará presente na sua dor e no seu sofrimento.
Aceitar a finitude da vida, e entregar-se a Deus, é o caminho para sua paz espiritual. Frankl
99
XAUSA, op. cit., p. 140.
100
FRANKL, Em busca de..., p. 80.
44
pior que seja, pois a verdade sempre deixa o sujeito mais sólido e íntegro”.102
Para Frankl sentido não só precisa, mas também pode ser encontrado, e
na busca pelo mesmo é a consciência que orienta a pessoa. Em síntese, a
consciência é um órgão do sentido. Ela poderia ser definida como a
capacidade de procurar e descobrir o sentido único e excluído oculto em
cada situação.103
ser humano dentro da sua percepção, ajudando-o a entender a vida como uma dádiva que
101
Teólogo e psicanalista, Rollo May nasceu em Ohio, Estados Unidos em 1909. Formado pelo Orbelin
College em 1930, doutor pela Universidade de Columbia, professor das Universidades de Harvard, Princeton
e Yale, May tem uma vasta obra publicada em todo o mundo. Nela se incluem, entre outros, A coragem de
criar, O homem à procura de si mesmo, Psicologia e dilema humano, Poder e inocência e Liberdade e
Destino, também lançado pela Rocco. Rollo May é um dos principais representantes do Humanismo
americano.
102
LESSA, op. cit., p. 2-5.
103
FRANKL, A presença ignorada..., p. 68.
REFERÊNCIAS
uma antropologia teológica. São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Paulus, 2002.
BUENO, Marcos. Sobre a vida, o amor e a solidão. Revista de Psicologia, n.11 jul./2004,
p. 32-34.
_____. Dar sentido à vida. Trad. de Antônio Estevão Allgayer. Petrópolis: Vozes; São
_____. Psicoterapia para todos: uma psicoterapia coletiva para contrapor-se à neurose
LA TAILLE, Yves. O significado da superação dos limites. Psicologia Brasil, n. 13, set.
2004.
LISBOA, Sílvia. Resiliência, o segredo dos heróis. Amanhã, jan./fev. 2004, n.. 195, p. 27-
30.
1989.
1990.
1986.
47
_____ (Org.). O futuro e a ilusão: um embate com Freud sobre psicanálise e religião.