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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

Messias Gilmar de Menezes

INTRODUÇÃO À
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Universidade Federal de Ouro Preto


Centro de Educação Aberta e a Distância
Copyright © 2007. Todos os direitos desta edição pertencem ao Centro de Educação Aberta e
a Distância da Universidade Federal de Ouro Preto (CEAD/UFOP). Reprodução permitida desde
que citada a fonte.

PRESIDENTE DA REPÚBLICA COORDENAÇÃO DO CURSO DE


Luis Inácio Lula da Silva ADMINISTRAÇÃO A DISTÂNCIA
Jaime Antônio Scheffler Sardi
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Messias Gilmar de Menezes
REITOR DA UFOP
João Luiz Martins REVISORAS
Elinor de Oliveira Carvalho e
VICE-REITOR DA UFOP Maria Teresa Guimarães
Antenor Rodrigues Barbosa Junior
CAPA E LAYOUT
DIRETOR DO CEAD Danilo França do Nascimento
José Álvaro Tadeu Ferreira
DIAGRAMAÇÃO
VICE-DIRETORA DO CEAD Alexandre Pereira de Vasconcellos
Ida Berenice Heuser do Prado

COORDENAÇÃO DA UAB/UFOP
Heber Eustáquio de Paula
Tania Rossi Garbin


M543i Menezes, Messias Gilmar de.
Introdução à educação a distância / Messias Gilmar de Menezes. -
Ouro Preto : UFOP, 2007.
51p., il.

1. Educação. 2. Autonomia. I. Título. II. Universidade Federal de


Ouro Preto.

CDU: 372.41

Catalogação: Sisbin/UFOP
Messias Gilmar de Menezes

INTRODUÇÃO À
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2007
SUMÁRIO

PRIMEIRO CAPÍTULO - Uma Trajetória de Estudante 09

SEGUNDO CAPÍTULO - Descobrindo Potencialidades Como Leitor 15

TERCEIRO CAPÍTULO - Estratégia de Leitura 29

Referências Bibliográficas 43
Messias Gilmar de Menezes

INTRODUÇÃO À
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2007
APRESENTAÇÃO

Caro estudante,

Você está iniciando uma nova etapa da vida. Está começando a estudar num curso superior, e na Educação a
Distância (EAD). Por ser uma modalidade de ensino em que não ocorre a presença física e diária dos professores,
procura-se, com esta disciplina introdutória, apresentar as vias que o levarão a se encontrar com colegas e tutores.
Este material escrito que lhe chega às mãos tem, pois, a pretensão de ajudá-lo a compreender o papel de estudante,
nesta modalidade, talvez desconhecida para você.

Antes de chegarem a este curso superior, você e seus colegas foram estudantes e, com certeza, de sucesso.
Desenvolveram, ao longo do percurso, habilidades, técnicas de estudo, estratégias. Cada um é que sabe dos
obstáculos que teve de superar e das dificuldades que enfrentou. Portanto é bom, nesta primeira disciplina, que você
receba orientações no sentido de saber em que barco está entrando. Sendo assim, desejo dar-lhe oportunidade de
exercitar técnicas de leitura de texto, sugerir-lhe instrumentos e estratégias, para que tenha sucesso nesta travessia e
sejam minimizados os obstáculos e dificuldades, realizando seu curso com produtividade e satisfação.

Como professor pesquisador responsável pela disciplina, vejo em você um aluno já amadurecido e detentor de
habilidades e de técnicas que, adequadas ou não à continuação de estudos, precisam ser inovadas ou, pelo menos,
revistas. Venho propor-lhe, pois, principalmente, que construa sua maneira de ser como leitor, partindo não de
referenciais completamente novos, mas da sua maneira atual de ser leitor e estudante.
Por que essa proposta? Porque se espera que, até o final do curso, todos os estudantes que, como você, estão iniciando
a graduação, tenham adquirido autonomia intelectual, tenham, pois, aprendido a aprender, para que possam intervir
no seu campo profissional e participar da transformação da sociedade. Isso porque se tornaram pessoas críticas e ativas
no processo educativo, aptas a construir o seu conhecimento a partir de leituras.

A aprendizagem, segundo Preti (2005), “se dá não pela aquisição de conhecimentos, mas pelo desenvolvimento de
habilidades intelectuais e pessoais, por vivenciar novas experiências, por construir novos caminhos. E continua: “ser
estudante é uma aventura, é novo desafio que se põe e impõe em sua vida pessoal, familiar e profissional. E que,
certamente, exigirá mudanças, novas atitudes em sua vida”.
Antes, portanto, de iniciar este desafio, esta travessia, pensando em atingir a outra margem com sucesso, é bom
suscitar reflexões a respeito da condição atual de estudante de cada um, conhecer as estratégias que utiliza e
como facilitam a aprendizagem, verificar o grau de responsabilidade, de autodisciplina e de aplicação prática das
estratégias de estudo.
Vamos lá, então?

Saudações universitárias.

Ouro Preto, 18 de março de 2007

Professor Messias Gilmar de Menezes


PRIMEIRO CAPÍTULO

Uma Trajetória
de Estudante
Espera-se que você, no final da leitura deste capítulo, tenha alcançado
Introdução à Edu- estes objetivos:
cação a Distância
Uma Trajetória de • identificar hábitos de estudo;
Estudante • descrever as estratégias que utiliza para aprender.
Página 10

Ao iniciar este capítulo, quero propor-lhe explicitar a consciência que


tem de sua vida de estudante, descrever as ações que permitem
formar uma idéia clara a respeito das estratégias que utiliza/utilizou e
dos benefícios que lhe trazem/trouxeram, facilitando a aprendizagem.
Portanto, refazendo, reconstruindo, repensando, com imagens e
idéias de hoje, lembre sua trajetória escolar - professores, experiências,
sucessos e decepções.

Esta proposta de fazê-lo vivenciar um processo de autoconhecimento


contribui para que sua travessia no curso seja efetiva e prazerosa. É o
que confirma Tierno(2003):

O conhecimento da estratégia que utilizamos


e dos benefícios que ela nos traz facilitará
significativamente a aprendizagem. Essa percepção
de mim mesmo como estudante, pela qual começo
a encarregar-me de mim mesmo e percebo-me cada
vez mais competente e capaz, alimenta a motivação
e a sensação de competência (Tierno, 2003, p. 173).

Para facilitar sua reflexão, gostaria de relembrar que você já passou


pela experiência de ser aluno do Ensino Fundamental e do Ensino
Médio, que permitiram não somente adquirir conhecimentos
elementares, mas dominar habilidades intelectuais que o capacitam a
aprender por conta própria.

Técnicas de estudo foram desenvolvidas, em várias oportunidades,


em várias disciplinas e em várias escolas, não apenas para que você
se apropriasse de uma habilidade e de competência para aprender
determinado conteúdo, mas para dotá-lo de um recurso intelectual.
Você precisa ter bem claro, antes de iniciar esta etapa, como
estudante universitário, o funcionamento de alguns recursos importantes
e necessários para obter sucesso.

Três hábitos sustentam o estudo universitário: desenvolvimento da


capacidade de leitura e de pensamento crítico; busca de boas
fontes de documentação; ordem metodológica para estudar e fazer Introdução à Edu-
trabalhos. Tierno (2003), além de identificar esses hábitos, acrescenta: cação a Distância
Uma Trajetória de
Na universidade devem ser utilizados os mesmos tipos Estudante
Página 11
de métodos para estudar com eficácia: organizar-se
com antecedência, pensar em o que, como, onde e
quando estudar ou como fazer trabalhos científicos
ou acadêmicos. Também é preciso ter disciplina e
hábitos sistemáticos: utilizar os livros convenientes,
fazer anotações úteis, rever a matéria com tempo,
fazer auto-avaliações contínuas, passar por exames,
etc.
É preciso ler muitos textos complementares, porque
assim você chegará a considerá-los não apenas
exigências acadêmicas, mas fonte de satisfação
e curiosidade para desenvolver a criatividade e
potencializar o intelecto. Muito provavelmente, as
melhores leituras para motivar os estudos são os
jornais e as revistas especializadas. E a leitura dos
autores clássicos de cada especialidade ou curso
em manuais ou livros de texto nunca pode substituir a
leitura do original de suas obras. (Tierno, 2003, p.151).

Apresento-lhe, a seguir, algumas questões que revelam a intenção de


auxiliá-lo a iniciar sua reflexão sobre a percepção de si mesmo, como
estudante:

1. Como foi seu desempenho na escola? Que motivos


contribuíram para esse desempenho? --------------------------------------------
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2. Como você estuda?-----------------------------------------------------------


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2. Você tem o hábito da leitura? Por quê?-------------------------------
Introdução à Edu- -----------------------------------------------------------------------------------------------------
cação a Distância -----------------------------------------------------------------------------------------------------
Uma Trajetória de -----------------------
Estudante
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3. Que método você utiliza para estudar? Ele está sendo
eficiente? Poderia ser mais eficiente?----------------------------------------------
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Para você se conhecer melhor como estudante, é crucial que


identifique hábitos de estudo e procure avaliar se eles ajudam ou
atrapalham sua aprendizagem. Além disso, é importante que você
aprimore suas maneiras de ler e aumente, portanto, a eficácia nos
estudos.

Relatórios que divulgam o desempenho de estudantes universitários,


não só no Brasil, mas em outros países do mundo, mostram que a
maioria deles apresenta dificuldades de aprendizagem. Além disso,
destacam que essas dificuldades são determinadas por problemas
de leitura e de compreensão. Portanto não é prerrogativa de país
periférico reconhecer que há problemas na aprendizagem dos
estudantes universitários decorrentes de hábitos de estudo, da maneira
de estudar. O fato tem levado ao aparecimento de considerável
literatura sobre orientações para que os estudantes aprendam a
estudar, cursos de metodologia intelectual, etc.

Não há necessidade de achar que os alunos brasileiros são os únicos a


ter dificuldades. O importante é poder avançar a partir do ponto onde
estão.
Dessa forma, para dar continuidade à reflexão iniciada sobre a maneira
de estudar, responda ao questionário apresentado a seguir e identifique
alguns de seus hábitos de estudo.Observe que muitos ângulos são
enfocados.

Marque sua resposta, para cada item, assinalando com x . Leia,


examine e marque o que realmente corresponde ao que você
considera. Marque x na coluna A, para usualmente/sempre. Marque x na coluna
B, para ocasionalmente/de vez em quando. Marque x na coluna C, para jamais/ Introdução à Edu-
raramente. cação a Distância
Uma Trajetória de
A B C Estudante
Tenho um local fixo para estudar. Página 13
Meu quarto e a mesa de estudo estão sempre limpos e em ordem.
Preciso de silêncio e temperatura agradável, para estudar.
Tenho facilidade em me distrair com qualquer outra coisa.
Gosto de aprender de tudo e estudo o tempo que for necessário.
Sei elaborar um plano de estudo e distribuir o tempo.
Compreendo bem o que leio e escuto.
Tenho dificuldade em compreender um texto, quando o leio pela primeira
vez.
Tenho dificuldade para identificar as idéias principais do texto que estou
lendo.
Sigo em frente, quando encontro pontos confusos. Não volto para reler.
Lembro muito pouco do que acabo de ler.
Fico sonhando, enquanto estudo..
Levo tempo para me concentrar no que estou lendo.
Gasto muito tempo para estudar certos assuntos e me falta tempo para
outros.
Reduzo meu tempo de estudo por interrupções, conversas, barulho, etc.
Acho difícil terminar um trabalho escolar no tempo determinado.
Prefiro estudar com outras pessoas a estudar sozinho.
Acabo atrapalhando, com minhas brincadeiras, o estudo em grupo.
Sinto cansaço, sono ou falta de motivação, quando devo me dedicar ao
estudo.
Deixo passar uns dias, antes de retomar uma leitura,depois que a termino.
Deixo para me dedicar aos estudos em vésperas de provas.
Perco a motivação de estudar certos assuntos antipáticos.
Fico muito nervoso nas provas: esqueço tudo e não faço nada.
Começo a ler um livro somente depois de dar uma olhada no sumário.
Leio um texto mais de uma vez.
Consulto um dicionário e enciclopédias para verificar o que desconheço.
Leio parte por parte, para não ter que voltar para tirar dúvidas.
Anoto, faço resumos e fichamentos do que estou lendo.
Procuro relacionar o assunto que estou estudando com outros já estudados.
Leio atentamente as instruções primeiro e só depois escrevo as respostas.
Tenho o hábito de estudar diariamente.
Antes de terminar este capítulo, é fundamental que você reflita sobre sua
Introdução à Edu- maneira de ser estudante. Procure reconstruir sua trajetória. É importante
cação a Distância que você identifique as técnicas e as habilidades que usou para se
Uma Trajetória de apropriar do conhecimento. Você vai poder, em conseqüência dessas
Estudante reflexões, definir os procedimentos a adotar, para tornar o seu estudo
Página 14
mais eficiente. Todos nós temos sempre o que aprimorar, principalmente a
capacidade de ler e aprender, ou seja, descobrir potencialidades de leitor.
Então, por último, redija um planejamento de seu estudo e da
reorganização do seu caminho de estudante. Vamos lá! Mãos à obra!
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--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Introdução à Edu-
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- cação a Distância
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Uma Trajetória de
----------------------------------------------------------------------------------- Estudante
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SEGUNDO CAPÍTULO

Descobrindo Potencialidades
Como Leitor
Ao final deste capítulo, espera-se que você
Introdução à Edu-
cação a Distância • saiba o que é a leitura;
Descobrindo Po- • relacione capacidade de ler com aprendizagem;
tencialidades Como • compreenda o que é esperado do estudante na EAD;
Leitor
• compreenda o papel do professor na EAD.
Página 18

Sem ter a pretensão de definir ou conceituar leitura, mas de


compreendê-la, desmistificando-a e colocando mais em evidência o
ato de ler, Martins (2006) ressalta o que o leitor vai perceber, ao refletir
sobre o ato de ler que:

perceberá a configuração de três níveis básicos de


leitura, os quais são possíveis de visualizar como níveis
sensorial, emocional e racional. Cada um desses três níveis
corresponde a um modo de aproximação ao objeto lido.
Como a leitura é dinâmica e circunstanciada, esses três
níveis são inter-relacionados, senão simultâneos, mesmo
sendo um ou outro privilegiado, segundo a experiência,
expectativas, necessidades e interesses do leitor e das
condições do contexto geral em que se insere. (Martins, 2006,
p. 36-37)

A autora recorre a um exemplo pessoal para demonstrar que a leitura


vai além da mera decodificação de palavras escritas e mostra como
faz a leitura com os sentidos, emoções e com o intelecto:

Percorrendo uma feira, um bricabraque, um museu


ou um antiquário, certamente assaltam-nos as mais
variadas sensações, emoções e pensamentos. Talvez
pelo insólito do conjunto dos objetos observados, do
lugar em que se encontram, nos detenhamos mais
em olhá-los. Cada indivíduo reagirá a eles de um
modo; irá lê-los a seu modo.
Eu, por exemplo, às vezes não resisto à tentação
de tocá-los, cheirá-los, fazê-los funcionar. Em certas
ocasiões me deprimem, como num mercado de
quinquilharias ou num brique, onde cada coisa teve
sua história particular e acabou na vala comum, nas
mãos de quem possivelmente ignora por completo
sua trajetória. Noutros casos, assumo uma postura
de reverência e encantamento diante de um objeto
consagrado: um manuscrito de autor notável, uma Introdução à Edu-
cadeira que pertenceu a alguém famoso, um original cação a Distância
de quadro há muito admirado apenas através de Descobrindo Po-
reproduções. Ocorrem também os momentos em tencialidades Como
Leitor
que descubro pensando o porquê da existência
Página 19
de tais objetos, quais as intenções de sua criação,
sua finalidade, o que de fato significaram para seus
criadores e possuidores, como se relacionam com
o momento histórico-social e o lugar em que foram
criados, qual seu sentido para mim e para o mundo
em que vivo.
Em cada um desses casos, como em muitíssimos
outros, estou realizando leituras, dando sentido às
coisas, às pessoas ligadas a elas, ao tempo e espaço
que ocuparam e ocupam e à minha relação com
isso tudo. Estou lendo com meus sentidos, minhas
emoções, meu intelecto. (Martins, 2006, p.37-38).

Para Martins, o homem lê como em geral vive, num processo


permanente de interação entre sensações, emoções e
pensamentos. O dia-a-dia permite que vivencie variadas situações.
Intercambia idéias e aprende muito por meio das experiências e dos
conhecimentos das outras pessoas. Quantos ofícios se conhecem
que são passados de mestre para aprendiz, de pai para filho, desde
a Antigüidade, e que chegam até os dias atuais, não apenas como
uma profissão, mas como valores e como cultura de um povo.
Em outro ponto da obra citada, a autora assinala :

A leitura vai, portanto, além do texto (seja ele


qual for) e começa antes do contato com ele. O
leitor assume um papel atuante, deixa de ser mero
decodificador ou receptor passivo. E o contexto
geral em que ele atua, as pessoas com quem
convive passam a ter influência apreciável em seu
desempenho na leitura. Isso porque dar sentido a um
texto implica sempre levar em conta a situação desse
texto e de seu leitor. E a noção de texto aqui também
é ampliada, não mais fica restrita ao que está escrito,
mas abre-se para englobar diferentes linguagens.
Considerando as colocações acima, a leitura se
realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido
Introdução à Edu- – seja escrito, sonoro, seja gesto, uma imagem, um
cação a Distância acontecimento. Esse diálogo é referenciado por um
Descobrindo Po- tempo e um espaço, uma situação; desenvolvido
tencialidades Como de acordo com os desafios e as respostas que o
Leitor
objeto apresenta, em função de expectativas e
Página 20
necessidades, do prazer das descobertas e do
reconhecimento de vivências do leitor. Também
o sustenta a intermediação de outro (s) leitor (es).
Aliás, o papel do educador na intermediação do
objeto lido com o leitor é cada vez mais repensado;
se, da postura professoral lendo para e/ou pelo
educando, ele passar a ler com, certamente ocorrerá
o intercâmbio das leituras, favorecendo a ambos,
trazendo novos elementos para um e outro. (Martins,
2006, p. 32-33).

Pode-se aprender sem estudar, como os artesãos do Vale do Rio


Jequitinhonha, por exemplo, que aprenderam com seus pais a arte
de esculpir na argila. Essa arte foi transmitida de pai para filho, como
cultura popular, e é transmitida naturalmente e apreendida pelos
membros das comunidades ribeirinhas, sem necessidade do estudo.

Pode-se também estudar e não aprender, não chegar ao


conhecimento. É caso, por exemplo, de quem estuda em ambiente
mal iluminado ou barulhento.E de quem está com algum problema,
está preocupado ou desanimado, cansado. Ou ainda de quem
utiliza um método de estudo inadequado.

Portanto alguém só pode dizer que está aprendendo, quando dá


sentido ao que estuda, quando relaciona o que está estudando
à vida e à experiência, para poder aplicar na prática. Em suma:
quando se estabelece associação.

Portanto se aprende o que tem relação com o que se vivenciou,


com lugares, situações, fatos, observações, conversas. Enfim, com o
que tem significado para cada um.

Sendo assim, a mediação entre o texto e o leitor aprendente é


muito importante. A construção de um leitor competente, segundo
Braga e Silvestre, depende muito do trabalho com o aluno, para a
criação de contextos interativos, que o instigam para pensar. Para
essas autoras, não adianta continuar a dizer que o aluno não sabe Introdução à Edu-
ler e escrever. Verificar o óbvio e atribuir somente ao aluno a culpa cação a Distância
de não ser um leitor eficiente pouco ajuda a mudar a situação. Descobrindo Po-
Exemplificam mostrando que é simples compreender quando se tencialidades Como
Leitor
trata de outro tipo de aprendizado:
Página 21

Imagine alguém que não tenha aprendido,


por uma série de razões, a jogar tênis. E,
de repente, vê-se com a bola e a raquete
na mão, e precisa jogar. Certamente não
passará da primeira bola, e o resultado será
um grande vexame. E toda vez que se referir
a esse esporte dirá que não gosta dele, que
tem horror a ele e que não sente prazer em
praticá-lo.
No entanto, se tiver um professor – e
dependendo da atitude desse professor
-, tudo poderá ser diferente. O professor
pode entregar a bola e a raquete ao aluno
e ficar olhando-o jogar, sem interferir – ou
interferindo muito pouco -, e depois criticá-lo
por não saber fazer. O professor pode jogar
com maestria, dar um show, e o aluno ficar
olhando-o, para depois tentar fazer igual.
O professor pode jogar junto, explicar as
regras, as técnicas, corrigir as falhas, elogiar
os acertos, propor desafios, até o aluno ter
competência para fazer sozinho. (Braga e
Silvestre, 2002, p.16).
Prezado aluno, analise os efeitos que cada uma dessas três posturas de
Introdução à Edu- professor pode causar. Qual delas favorece a verdadeira aprendizagem do
cação a Distância aluno? Justifique sua resposta.
Descobrindo Po-
tencialidades Como -----------------------------------------------------------------------------------------------------
Leitor
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Proponho, a seguir, que você consulte essa obra das professoras Regina
Maria Braga e Fátima Silvestre, para compreender melhor a síntese feita a
seguir:

Uma das posturas de professor descritas é a passiva, que, juntamente com


a centralizadora, se opõe à abordagem educativa, que estabelece uma
relação dialógica com o estudante. Este passa a ser o centro e o sujeito.
Portanto deve ser instrumentalizado para saber fazer.

Nos últimos tempos, tem havido mudança na maneira de conceber


a aprendizagem, não só no Brasil, mas em outras partes do mundo.
Compreende-se que o estudante deve ser o ator principal, deve ter um
papel central, tornando-se sujeito da própria aprendizagem.
Uma outra obra que trata desta temática, aborda também a questão que
envolve o estudante a distância. A autora, Maria Luiza Belloni, ressalta que
uma das características mais marcantes desta época é a necessidade de
haver um trabalhador bem informado e mais autônomo.
Essa opinião vai ao encontro da reflexão das professoras Regina Maria
Braga e Fátima Silvestre, que estão de acordo com os educadores
que passaram a perceber o aluno, não mais como um recipiente de
informações, mas como alguém dotado de criatividade, um ser ativo, que
conhece e controla os próprios processos de aprender.

Essa visão é que faz a metodologia da Educação a Distância (EAD)


delinear caminhos, pela própria natureza, para a formação do estudante
mais autônomo. A nova concepção de aluno faz mudar a concepção de
professor, que, em vez de muni-lo de informações, passa a ser orientador
do processo de construção do conhecimento.
Por compartilhar das idéias das obras que apresentei é que proponho
este estudo, em que se desenvolve a tese de que o conhecimento não se Introdução à Edu-
encontra acabado, como latas de conservas prontas para ser consumidas. cação a Distância
Pelo contrário: para manter coerência com o que foi até agora exposto, Descobrindo Po-
considero que o conhecimento é algo a ser construído no processo de tencialidades Como
Leitor
ensino-aprendizagem.
Página 23

Por causa disso, no primeiro capítulo deste fascículo, pedi que refletisse
e procurasse tornar bem claro para si mesmo a sua maneira de estudar
e de aprender. A aprendizagem compartilhada pressupõe que todos
que participam do processo tenham responsabilidade. Como bem
exemplificam as professoras Regina Maria Braga e Fátima Silvestre, se o
estudante jamais utilizou técnicas e estratégias de leitura para construir uma
interpretação de texto, se sua atitude foi sempre passiva, isto é, se sempre
esperou alguém lhe dizer o que fazer e como, não adianta simplesmente
pôr o livro em suas mãos:

Entregar ao aluno um texto, um livro e exigir


que saia lendo, alegre, feliz que responda
a questões, que faça relações, esquemas,
resumos, é o mesmo que abandonar, sozinho
na quadra, o nosso jogador de tênis. (Braga e
Silvestre, 2002, p.17).

Portanto, neste momento em que está dando início a uma etapa de sua
vida de estudante, é bom que você mesmo descubra como aprende. Sem
essa consciência, é praticamente impossível contar com você no processo
de aprimorar técnicas de leitura, assim como de avaliar o que foi, ou não,
inovado e apreendido.

Embora tenha tratado de maneira sumária a respeito da relação que


existe entre o ato de ler e o de aprender, apóio-me em Solé (1998) para
estabelecer um paralelo entre aprender a ler e ler para aprender e entre
compreender e aprender. Você não pode deixar de conhecer essa
obra, segundo a qual ler e aprender significativamente remetem a duas
considerações:

Em primeiro lugar, podemos afirmar que quando


um leitor compreende o que lê, está aprendendo;
à medida que sua leitura o informa, permite que se
aproxime do mundo de significados de um autor e
lhe oferece novas perspectivas ou opiniões sobre
Introdução à Edu- determinados aspectos...etc. A leitura nos aproxima
cação a Distância da cultura, ou melhor, de múltiplas culturas e, neste
Descobrindo Po- sentido, sempre é uma contribuição essencial para
tencialidades Como a cultura própria do leitor. Talvez pudéssemos dizer
Leitor
que na leitura ocorre um processo de aprendizagem
Página 24
não intencional, mesmo quando os objetivos do leitor
possuem outras características, como no caso de ler
por prazer.
Em segundo lugar, em um grande número de
contextos e situações, lemos com uma finalidade
clara de aprender. Não mudam apenas os objetivos
da leitura, mas geralmente os textos que servem para
essa finalidade apresentam características específicas
– estrutura expositiva -, e a tarefa, solicitações claras,
entre os quais figuram o controle e a freqüente
demonstração de que se aprendeu. Embora a
forma em que a compreensão se entende aqui
envolva a presença de um leitor ativo que processa
a informação que lê, relacionando-a com a que já
possuía e modificando esta devido à sua atividade
– em maior ou menor grau, sempre aprendemos
algo com a leitura -, não devemos perder de vista
que, quando lemos para aprender, colocamos em
funcionamento uma série de estratégias cuja função
é assegurar este objetivo. Solé (1998, p. 46)

Embora a primeira consideração seja importante na formação do aluno,


a segunda é que mostra a necessidade de aprimorar a leitura, como
instrumento de aprendizagem: “Inovar a leitura compreensiva e aprimorar
estratégias de leitura para aprender é aprender a aprender”. É criar
condições para que o aluno comece a aprender de forma autônoma.
Portanto é com esse objetivo fundamental que o capítulo seguinte aborda
as estratégias de leitura.

Mas, antes, gostaria de convidá-lo para ler parte de um texto do Prof.


Manuel Barral, da Fundação Santo André e, que, na íntegra, está na revista
Discutindo Filosofia do final de 2006.
TECNOLOGIA, TÉCNICA E CIÊNCIA
Introdução à Edu-
1. Nas sociedades industriais, a ciência e a tecnologia têm cação a Distância
sido apontadas como fatores-chave para o crescimento Descobrindo Po-
e desenvolvimento econômico, esperança de um mundo tencialidades Como
Leitor
melhor, força transformadora que libertaria os homens de
Página 25
trabalhos degradantes e embrutecedores.

2. O desenvolvimento científico e tecnológico ampliaria


a capacidade humana de sobrevivência e permitiria o
acesso a novos bens e serviços. Assim, constituiria a base
de mudança da qualidade da civilização humana. Em
defesa dessa tese apontam-se avanços como a redução da
mortalidade, a erradicação de doenças, a disponibilidade
de meios mais rápidos de transporte e comunicação, o
aumento do nível educacional e a ampliação do acesso a
bens culturais.

3. Por outro lado, embora os aspectos do desenvolvimento


tecnológico tenham sido notáveis, muitos efeitos nocivos
também se fizeram sentir, especialmente a influência da
tecnologia nas guerras, na dominação e manipulação das
sociedades pelos meios de comunicação de massa e a sua
interferência nas condições de vida no planeta.

4. Esses aspectos negativos têm gerado intenso debate


sobre a importância da tecnologia e da ciência para o
desenvolvimento do homem. A crença cega e otimista tem
sido revista, pois se verifica que conhecimento e progresso
material não estão desvinculados de riscos, e sabemos que
desenvolvimento material não significa, necessariamente,
felicidade e progresso moral dos povos.

O caso brasileiro
5. Em países como o Brasil, não se pode deixar de levar em
conta que baixo desenvolvimento tecnológico é fator de
dependência econômica. Os especialistas afirmam que
no comércio de bens que incorporam valores tecnológicos
o país tem sido um importador permanente, portanto
deficitário e dependente, e essa tendência tem sido
crescente.
6. Assim, a tecnologia e o seu desenvolvimento, além
Introdução à Edu- dos possíveis aspectos polêmicos, também significam a
cação a Distância possibilidade de superar uma etapa de dependência e
Descobrindo Po- ampliação do uso de todas as potencialidades materiais e
tencialidades Como humanas de um país.
Leitor
Página 26
7. Eis, portanto, um rico campo para a reflexão filosófica.
Mas, apesar do debate intenso dos últimos cinqüenta
anos e da importância das questões postas, a Filosofia da
Tecnologia é recente e esbarra numa dificuldade inicial:
a própria definição de tecnologia. Há uma dificuldade no
entendimento do que se está sendo denominado tecnologia
e como ela se diferencia da técnica e da ciência.

8. A leitura dos jornais não ajuda a entender a diferenciação.


No subtítulo tecnologia estão reunidos assuntos como
lançamentos de “lap-tops”, tv digital, serviços de banda
larga e potencialidades de uso da Internet. Essa associação
revela o entendimento de tecnologia como sinônimo de
informática e suas aplicações.

9. É evidente que há tecnologia nesses produtos, assim


como há tecnologia na síntese e processamento de novas
moléculas, na exploração de petróleo em águas profundas,
nas cirurgias com alta precisão, no tratamento de resíduos
contaminantes, na educação e na cultura.
10. O que pode haver de comum nesse conjunto
diversificado de atividades? Um aspecto comum em todos
esses casos talvez seja a existência de uma técnica, de uma
habilidade para realizar algo. Tecnologia seria o mesmo que
técnica?

O que é técnica?

11. Se considerarmos o significado atribuído a essa palavra,


talvez seja possível perceber a diferença entre técnica e
tecnologia. De origem grega (tékhne), a palavra técnica é
comumente relacionada ao uso de instrumentos, embora
não se restrinja a isso.

12. Ela está associada a uma habilidade, a um


conhecimento produtivo. Um dos livros mais antigos com essa
denominação – tékhne – é atribuído a Hipócrates (460 – 337 Introdução à Edu-
a.C.) e tem como finalidade transmitir a prática da medicina cação a Distância
aos aprendizes. Quando falamos de técnica, o conceito é Descobrindo Po-
associado a um fazer não necessariamente articulado, a um tencialidades Como
Leitor
saber que não relaciona efeitos a causas, a uma habilidade
Página 27
muitas vezes nem sequer expressas em palavras.

13. O exemplo mais claro é a técnica de produzir fogo. Antes


de se ter qualquer noção de combustão, de conhecer
elementos químicos e antes de se conhecer a natureza
do calor, o homem sabia fazer fogo para se aquecer,
preparar alimentos e se proteger. A técnica pode ser
entendida como um conjunto de ações sem reflexão, nexo
ou explicação, pois para produzir algo eficientemente nem
sempre é necessário saber por que, ou seja, não é necessário
conhecer as causas de determinado fenômeno.

Ciência necessária

14. A ciência ou conhecimento científico é um saber


que busca estabelecer um nexo com as causas que o
determinam. É um conhecimento racional e sistemático no
qual as proposições ou teorias buscam descrever a natureza
e formam um conjunto de conhecimentos universais
e seguros. A idéia de Ciência enquanto esforço para
estabelecer nexo causal é muito antiga.

15. Para Aristóteles (384-322 a.C.), a Ciência, além desse


nexo, era um conhecimento necessário. Isso significa que, ao
conhecer as causas de algo, esse algo estaria determinado
e não poderia ser de outra maneira. O conhecimento
científico ou teórico, segundo Aristóteles, deveria investigar
os princípios e as causas de seres e das coisas da natureza.
Independeria da vontade e da ação humanas e constituiria
um conhecimento contemplativo, um conhecimento
desinteressado, seria apenas busca da verdade.

16. Aristóteles indicava uma diferença importante


entre conhecimento produtivo e científico. Para ele,
o conhecimento relacionado à atuação produtiva
e fabricadora não apresentava o mesmo valor do
Introdução à Edu- conhecimento científico. O produtivo estava orientado a
cação a Distância um bem desejado ou por uma habilidade, e, assim seria
Descobrindo Po- um conhecimento subordinado a situações acidentais que
tencialidades Como poderia incorporar fatores não necessários ou determinantes.
Leitor
Em oposição à ciência teórica, que geraria conhecimentos
Página 28
universais e necessários, ele geraria conhecimentos singulares
e específicos, dependentes do acidental, da eventualidade.

17. Assim, ciência e técnica estariam firmemente separadas,


pois tratariam de objetos e fins distintos, e a técnica
apresentaria um valor inferior e subordinado à ciência.

Nasce a tecnologia

18. A ciência moderna rompe com a tradição aristotélica/


escolástica e valoriza o trabalho experimental para o
processo de conhecimento e de investigação do mundo.
Contrariando concepções de busca de conhecimento pelo
conhecimento, ou seja,a defesa da pesquisa destituída do
interesse por suas conseqüências, os modernos defendem a
ciência como fator necessário para conhecer e intervir no
mundo. A ciência deixa de ser contemplativa.

19. As transformações realizadas pela ciência moderna


também levaram à modificação no conhecimento técnico.
Nas corporações de ofício, junto com o ensino de técnicas
básicas (cortar pedras, fundir bronze, pintura, e escultura)
também passaram a ser ensinados conceitos básicos de
Anatomia e óptica.

20. Esse processo foi correlato com uma transformação no


conhecimento técnico, que passou a ter outro caráter.
Deixou de ser conhecimento sem nexos e sem formalização.
Pode-se creditar a esse instante o surgimento de outro
conhecimento, o tecnológico, que significa um saber
produtivo articulado e consciente.
21. A transformação, iniciada nos séculos 16 e 17, consolida-
se no século 19, período no qual há aprofundamento da
relação entre o conhecimento científico e a produção
industrial e ocorre uma “cientifização da técnica”. Nessa
época, por exemplo, o desenvolvimento dos motores e o
estudo da eficiência da conversão de energia contribuíram Introdução à Edu-
para a formulação do princípio da conservação da energia, cação a Distância
e os avanços da Química Orgânica levaram à síntese Descobrindo Po-
industrial de corantes sintéticos. tencialidades Como
Leitor
Página 29
22. Esse novo saber que constitui a tecnologia não é um
saber sem significados e conexões. É possível imaginar
o desenvolvimento de novos computadores sem
conhecimentos aprofundados de Física, sem conhecimento
de Mecânica Quântica?

23. A tecnologia representa uma evolução em relação a


técnica. Como apontado por alguns autores, a tecnologia
surge como um aprofundamento de um processo de
racionalização da civilização que repercute na técnica. Essa
racionalização pode ser entendida como identificação das
causas dos fenômenos e, nesse sentido, constitui uma efetiva
cientifização da técnica.

24. A tecnologia, embora tenha derivado das antigas


artes práticas, compartilha aspectos da ciência, como a
organização sistemática, o uso de experimentos e de testes
empíricos e, também, leva ao uso crescente da Matemática.
Dessa forma, a tecnologia pode ser considerada irmã
gêmea da ciência moderna, porém não é essencialmente
idêntica à ciência.

Você se lembra do exemplo utilizado anteriormente, em que a analogia


estabelecida entre ensinar a jogar tênis e ensinar a ler textos acadêmicos
evidencia três posturas possíveis de professor? Portanto, lida essa parte
do texto da revista Discutindo Filosofia, gostaria de convidá-lo para uma
partida de tênis, para um jogo. Para um jogo com o trecho lido.

Faça a segunda leitura de Tecnologia, Técnica e Ciência. Mas leia


anotando. É importante fazer anotações (marcar, escrever ao lado),
separando as idéias principais do autor e utilizando, pois, uma técnica
indicada para a leitura.

Após essa leitura atenta e reflexiva, realizada para compreensão do texto,


responda:
Qual é o assunto desenvolvido pelo autor?
Introdução à Edu- ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
cação a Distância -------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Descobrindo Po- Que problema ou questão o autor apresenta para justificar o tema?
tencialidades Como ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Leitor
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Página 30
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Escreva, nas linhas abaixo, as palavras consideradas por você como


principais em cada parágrafo.
1
Introdução à Edu-
2 cação a Distância
Descobrindo Po-
3 tencialidades Como
Leitor
4 Página 31

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24
Com o texto lido, explorado e bem compreendido, elabore um esquema,
Introdução à Edu- apresentando as idéias-chave de cada parágrafo e ligando-as, com setas,
cação a Distância números, letras, etc., dando um ordenamento que, para você, faz sentido.
Descobrindo Po-
tencialidades Como
Leitor
Página 32
Introdução à Edu-
cação a Distância
Descobrindo Po-
tencialidades Como
Leitor
Página 33

Por último:

Escreva um resumo, com base nas idéias destacadas por você no esquema
do texto lido.
TERCEIRO CAPÍTULO

Estratégia de Leitura
Ao terminar o estudo deste capítulo, espera-se que você
Introdução à Edu-
cação a Distância • conheça as estratégias de compreensão leitora;
Estratégias de • compreenda o processo de leitura interativa;
Leitura • pratique técnicas e estratégias de leitura que melhorem a
Página 36
compreensão de textos.

Inovar a leitura compreensiva e aprimorar estratégias de leitura para


aprender é aprender a aprender. Formar leitores autônomos também
significa formar leitores capazes de aprender a partir dos textos. Portanto
é preciso criar condições para o aluno começar a aprender de forma
autônoma. Com esse objetivo fundamental, este capítulo aborda as
estratégias de leitura. Solé (1998) afirma o seguinte:

quem lê deve ser capaz de interrogar-se sobre


sua própria compreensão, estabelecer relações
entre o que lê e o que faz parte do seu acervo
pessoal, questionar seu conhecimento e modificá-lo,
estabelecer generalizações que permitam transferir
o que foi aprendido para outros contextos diferentes.
Solé (1998, p. 72).

Acompanhe, pois, prezado aluno, a apresentação do entendimento que


ela tem para o termo estratégia. As habilidades, técnicas e destrezas
são procedimentos específicos, cuja realização é automática, não
necessitando de planejamento e controle. Estratégia , ao contrário,
refere-se a capacidades cognitivas de ordem mais elevada, intimamente
relacionadas à metacognição. Esta, por sua vez, é a capacidade de
conhecer o próprio conhecimento, de pensar sobre nossa atuação, de
planejá-la”, o que permite controlar e regular a atuação inteligente.
A autora considera as estratégias de compreensão leitora como
procedimentos de caráter elevado. Esses procedimentos envolvem a
existência de objetivos a serem alcançados, o planejamento de ações
que permitem atingi-los e, conseqüentemente, a avaliação e possível
mudança.
A autora reconhece que é difícil explicar as estratégias que o leitor utiliza
para intensificar a compreensão e a lembrança do que lê. São elas
responsáveis pela construção da interpretação que ele faz do texto,
justamente pelo fato de estar consciente do que entende e do que não
entende:
Enquanto lemos e vamos compreendendo,
não acontece nada; o processamento de Introdução à Edu-
informação escrita que o ato de leitura requer cação a Distância
acontece de maneira automática. No entanto, Estratégias de
quando encontramos algum obstáculo – uma Leitura
Página 37
frase incompreensível, um desenlace totalmente
imprevisto, que contradiz nossas expectativas, uma
página colocada de forma incorreta, que torna
impossível a nossa compreensão – “o estado de
piloto automático” é abandonado.
Entramos então em um “estado estratégico”,
caracterizado pela necessidade de aprender, de
resolver dúvidas e ambigüidades de forma planejada
e deliberada e que nos torna conscientes da nossa
própria compreensão. No estado estratégico somos
plenamente conscientes daquilo que perseguimos
– por exemplo, ter certeza de que apreendemos o
conteúdo do texto, ou esclarecer um problema de
compreensão – e colocamos em funcionamento
algumas ações que podem contribuir para a
consecução do propósito. Simultaneamente,
permanecemos alertas avaliando se conseguimos
nosso objetivo e podemos variar nossa atuação
quando isso nos parece necessário.(Solé, 1998, p. 71-
72).

Solé ainda ressalta que uma das características das estratégias é não
detalhar nem prescrever totalmente o curso de uma ação e que as
estratégias são suspeitas inteligentes, embora arriscadas, sobre o caminho
mais adequado que se deve seguir.

Quando propõem três etapas para a realização de atividades de leitura,


Regina Maria Braga e Fátima Silvestre, autoras de Construindo o leitor
competente, estabelecem um diálogo com Isabel Solé.

Para esta, as estratégias de compreensão leitora se iniciam antes mesmo


da atividade de leitura propriamente dita, Antes da Leitura (Capítulo 5),
ficando para os dois capítulos seguintes as estratégias ligadas à construção
da compreensão, durante a leitura (Capítulo 6), e as estratégias para
continuar compreendendo e aprendendo, depois da leitura (Capítulo 7).
Para Regina Maria Braga e Maria de Fátima Silvestre, as estratégias vão da
pré-leitura, passam pela leitura-descoberta e terminam com a pós-leitura,
Introdução à Edu- portanto em três movimentos também.
cação a Distância
Estratégias de Antes da leitura: É necessário pensar a respeito do que já se sabe do
Leitura assunto. E buscar uma antecipação do sentido do texto a ser trabalhado.
Página 38
É a busca pela estratégia suspeita inteligente. É preciso ressaltar: cada um
lê com o que tem dentro de si. Braga & Silvestre (2002) reiteram que, se o
aluno for desafiado a fazer emergir o que já sabe, vai ocorrer envolvimento
e interação:

a atividade de leitura cumprirá seu papel de


confirmar, ampliar ou transformar seu conhecimento.
Ao realizarmos as estratégias que ativam o
conhecimento prévio do aluno, descobrimos,
portanto, o quanto eles sabem ou o quanto eles não
sabem a respeito do assunto que será abordado no
texto. (Braga & Silvestre, 2002, p.32)

O professor Paulo Freire, falando sobre leitura, mais precisamente sobre a


importância do ato de ler, mostra que a compreensão leitora não se esgota
na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas
que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. Para ele, a leitura
do mundo precede a leitura da palavra. Sendo assim, as leituras que se
fazem dos textos escritos, inclusive a dele próprio, naquele momento, lendo
um texto que escreveu para abertura de um Congresso sobre leitura, são
uma continuidade da leitura de mundo construída pelo autor. Ao escrever
sobre a importância do ato de ler, para essa Conferência, Paulo Freire faz
uma releitura dos momentos mais importantes, ao longo de sua vida, em
que desenvolveu habilidades e técnicas de leitura, arquivados na memória,
e de como a compreensão crítica da importância do ato de ler se foi
construindo.
Para ele, a leitura que se faz dos textos ocorre em três movimentos
consecutivos. Assim, é dada continuidade à leitura prévia do mundo , mas
também, posteriormente, à leitura do texto.
Rara tem sido a vez, ao longo de tantos anos de
prática pedagógica, por isso política, em que me
tenho permitido a tarefa de abrir, de inaugurar ou de
encerrar encontros ou congressos.
Aceitei fazê-lo agora, da maneira, porém, menos
formal possível. Aceitei vir aqui para falar um pouco
da importância do ato de ler
Me parece indispensável, ao procurar falar de tal
importância, dizer algo do momento mesmo em que Introdução à Edu-
me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do cação a Distância
processo em que me inseri enquanto ia escrevendo Estratégias de
este texto que agora leio, processo que envolvia Leitura
Página 39
uma compreensão crítica do ato de ler, que não se
esgota na decodificação pura da palavra escrita
ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se
alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo
precede a leitura da palavra, daí que a posterior
leitura desta não possa prescindir da continuidade
da leitura daquele. Linguagem e realidade se
prendem dinamicamente. A compreensão do texto
a ser alcançada por sua leitura crítica implica a
percepção das relações entre o texto e o contexto.
Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de
ler, eu me senti levado – e até gostosamente – a
reler momentos fundamentais de minha prática,
guardados na memória, desde as experiências mais
remotas de minha infância, de minha adolescência,
de minha mocidade, em que a compreensão
crítica da importância do ato de ler se veio em mim
constituindo. Ao ir escrevendo este texto, ia tomando
distância dos diferentes momentos em que o ato de
ler se veio dando na minha experiência existencial.
Primeiro, a leitura do mundo, do pequeno mundo em
que me movia; depois, a leitura da palavra que nem
sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura
da “palavra-mundo”.
A retomada da infância distante, buscando a
compreensão do meu ato de ler o mundo particular
em que me ouvia – e até onde não sou traído
pela memória me é absolutamente significativa.
Neste esforço a sou traído pela memória me é
absolutamente significativa. Neste esforço a que me
vou entregando, recrio, revivo, no texto que escrevo,
a experiência vivida no momento em que ainda não
lia a palavra. Me vejo então na casa mediana em
que nasci, no Recife, rodeada de árvores, algumas
delas como se fossem gente, tal a intimidade entre
nós – à sua sombra brincava e em seus galhos mais
dóceis à minha altura eu me experimentava em riscos
Introdução à Edu- menores que me preparavam para riscos e aventuras
cação a Distância maiores.
Estratégias de A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão,
Leitura seu terraço – o sítio das avencas de minha mãe –,
Página 40
o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o
meu primeiro mundo. Nele engatinhei, balbuciei,
me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele
mundo especial se dava a mim como o mundo de
minha atividade perceptiva, por isso mesmo como
o mundo de minhas primeiras leituras. Os textos,
as palavras, as letras daquele contexto – em cuja
percepção me experimentava e, quanto mais o
fazia, mais aumentava a capacidade de perceber-
se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de
sinais, cuja compreensão eu ia apreendendo no meu
trato com eles, nas minhas relações com meus irmãos
mais velhos e com meus pais. (Paulo Freire, 2001, p.11-
12).

A leitura é, portanto, um processo que envolve o leitor, o autor e o


contexto. Além disso, ocorre antes, durante e depois do contato com o
texto. E os autores com quem estamos dialogando neste trabalho são
unânimes em ressaltar que a melhor maneira de tornar compreensiva uma
leitura é conhecer e praticar diferentes estratégias.

Nesta disciplina introdutória do curso, as estratégias de leitura não são


fim em si mesmas, porém meios para se atingir uma das metas mais
significativas da EAD, que é aprender a aprender, ou seja, ter autonomia.
Segundo Neder (2006), a EAD contribui para mudança de paradigmas
educacionais. Portanto antigas concepções educativas, que vêem o aluno
como receptor passivo de conhecimentos transferidos pelo professor, são
redirecionadas, passando a promover a reintegração do aluno, como
sujeito da construção do conhecimento:

uma modalidade pedagógica, com características


especiais, que deve fazer parte dos questionamentos
e preocupações hoje existentes no setor educacional
e contribuir para a formação do cidadão autônomo
e consciente de suas responsabilidades sociais.
Por suas características, a EAD permite, ainda, que
um novo paradigma dê sustentação às ações
educativas: de uma compreensão de educação Introdução à Edu-
como sistema fechado, voltado para a transmissão cação a Distância
e transferência, ela permite a compreensão da Estratégias de
educação como um sistema aberto, implicando Leitura
Página 41
processos transformadores que decorrem da
experiência de cada um dos sujeitos da ação
educativa.
Essa modalidade exige troca, diálogo e interação
entre os atores da ação pedagógica, uma vez
que o aluno e o professor não ocupam o mesmo
espaço no processo da interlocução. Isto permite a
reintegração do aluno como sujeito da construção
do conhecimento, redirecionando o paradigma
tradicional, que se concentra mais nas condições de
ensino do que na aprendizagem. A autonomia do
aluno passa a ser um dos ideais da ação educativa.
Ele é estimulado, instigado a buscar, a ser ativo no
processo de construção do conhecimento. (Neder,
2006, p.81).

Suscitar no aluno conhecimentos prévios sobre o tema de um texto e


instigá-lo a ativar o que já sabe sobre o que será abordado é uma forma de
prepará-lo para fazer uma leitura com objetivos mais claros, mais motivada.
Enfim, criam-se condições favoráveis à leitura compreensiva, em que o
próprio aluno percebe que aprendeu. Isso porque lhe é dada a chance de
construir e definir objetivos para ler o texto, o que o motiva e torna a leitura
prazerosa. O contrário seria uma leitura como uma obrigação acadêmica,
em que a aprendizagem e a compreensão poderiam até acontecer,
porém com mais demora e mais dificuldade.

O aluno da EAD deve aprender estratégias de compreensão porque


precisa ser um leitor autônomo, tem que ser capaz de, sozinho, debruçar-
se sobre textos de naturezas diversificadas, enfim, ser capaz de aprender
por meio da leitura de textos. Textos acadêmicos que chegarão até ele,
impressos, como este que elaboro ou recebidos via Internet.

Sabendo disso, espera-se que o aluno da EAD, ao se preparar para a


leitura, seja dos fascículos do curso, seja de um texto complementar,
um livro indicado pelo professor, por exemplo, faça de modo que sejam
desenvolvidas atitudes favoráveis à compreensão. Que atitudes são essas?
São aquelas que dão sentido ao que ele está fazendo?
Introdução à Edu-
cação a Distância Preparação para a leitura.
Estratégias de
Leitura Os autores citados neste capítulo sugerem que, na preparação para a
Página 42
leitura, deve o aluno ativar conhecimentos prévios sobre o assunto do texto,
ou melhor, deve trazer à tona o que já sabe e o que precisa saber mais.
“Como o aluno pode ativar seus conhecimentos se não sabe bem de que
trata o texto, ou o livro?”

Preti (2005) alerta para o fato de que, ao procurar orientar o aluno, por
meio de seu “Guia Metodológico”, não intencionava seqüenciar passos,
isto é, indicar procedimentos, de maneira linear: preparação para a
leitura, leitura e pós-leitura .Mesmo assim, ele apresenta, como estratégia,
a primeira leitura, que denomina de sobrevôo, uma leitura exploratória,
que antecede a leitura propriamente dita. Em que consiste a leitura
exploratória?

No primeiro sobrevôo, o aluno informa-se sobre o assunto que vai ser


abordado na leitura. O fascículo, livro ou texto de um artigo científico já
traz, na macroestrutura, as pistas necessárias para essa primeira leitura
rápida. É a leitura, por exemplo, que se faz quando, numa livraria, é
preciso se informar sobre os conteúdos de certos livros, no menor tempo
possível. Tem-se que escolher qual vai ser comprado, com base na leitura
do próprio título do livro, do sumário, das informações da capa e contra-
capa. A apresentação que outros fazem da obra, o prefácio, a bibliografia
e ilustrações complementam as informações de que leitor necessita para
decidir se continua ,ou não, a ler o livro.

Da mesma forma, o título de um artigo científico, o resumo, a introdução,


a conclusão, as referências bibliográficas, anexos, palavras com negrito,
itálico,sublinhadas, informações sobre o autor dão informações que não só
podem suscitar no aluno o que ele já sabe sobre o assunto abordado, mas
motivá-lo a continuar a ler todo o texto, com a finalidade de ampliar o seu
conhecimento.

Anteriormente, foi dito, neste fascículo, que é necessário pensar a respeito


do que já se sabe sobre o assunto a ser apreendido. Deve-se buscar uma
antecipação do sentido do texto a ser trabalhado. Buscar a estratégia
suspeita inteligente. Há que se prever o conteúdo do livro ou artigo. Inicia-
se, pois, a leitura buscando antecipar os fatos. Isso faz com que o aluno
fique mais atento e mais motivado durante a leitura, pois é instigado a
verificar se suas previsões foram, ou não, confirmadas. Não sendo, deve Introdução à Edu-
procurar saber por que não conseguiu prever o desfecho que o autor deu. cação a Distância
Ao mesmo tempo que o aluno é desafiado, ele cria objetivos mais claros Estratégias de
para efetuar a leitura. Leitura
Página 43

Na compreensão dessas estratégias, nada melhor que a obra de Isabel


Solé de 1996, publicada em Barcelona e referenciada várias vezes neste
fascículo. A autora utiliza um texto simples e muito agradável, que, embora
escrito para professores em formação, segue a abordagem construtivista
de aprendizagem, que pode e deve ser utilizada por estudantes
universitários que necessitam de estratégias que lhes permitam interpretar e
compreender, de forma autônoma, os textos lidos.

Para essa autora, a leitura é “um processo de emissão e verificação


de previsões que levam à construção da compreensão do texto” E
“a compreensão de um texto envolve a capacidade de elaborar um
resumo”. O estudante deve ser capaz de separar o que é essencial do que
é secundário no texto, em vista de objetivos concretos de leitura. Ser um
leitor ativo, que compreende o que lê, no sentido por ela apresentado,
é ser capaz de estabelecer previsões com relação ao texto. Quando
essas previsões, essas antecipações são compatibilizadas ou substituídas
por outras, por meio das idéias emitidas no texto, “integram-se aos
conhecimentos do leitor e a compreensão acontece” (Solé, 1998, p.116).

A leitura propriamente dita.

A leitura é uma atividade metacognitiva, isto é, o próprio leitor avalia se


compreendeu ou não. E é justamente o exercício metacognitivo que,
muitas vezes, se pratica de maneira inconsciente, na medida em que se vai
“lendo, construindo previsões e perguntas, recapitulando-se a informação e
a resumindo”, o que permite verificar se houve, ou não, compreensão e até
identificar as lacunas. O próprio aluno passa a saber o que ainda falta para
complementar o conhecimento que tem a respeito de determinado objeto
de estudo.
Feita a leitura exploratória, a pré-leitura, o sobrevôo, a próxima etapa é passar
para a leitura propriamente dita. Isso é que geralmente vai interessar ao leitor,
dependendo muito dos objetivos criados por ele, na fase exploratória. Os
fatos e idéias mais importantes do texto não se mostram facilmente. O leitor
tem que buscá-los como um caçador busca sua caça ou um investigador
procura evidências de um crime.
Na verdade, o leitor tem que se comportar como se as idéias diretrizes do
Introdução à Edu- texto não quisessem se revelar a ele, como se elas se escondessem dele.
cação a Distância Há palavras, em um parágrafo, que revelam o óbvio, mas muitas vezes a
Estratégias de verdadeira intenção do autor se encontra atrás do óbvio, não nas linhas,
Leitura mas nas entrelinhas. O leitor então, por mais experiente que seja, não pode
Página 44
se contentar em realizar em apenas duas leituras, e dar conta de elaborar
um esquema, um resumo, uma síntese ou resenha de um texto, artigo
científico, ou livro lido.

É necessário, então, numa segunda leitura, para extrair do texto a visão


de conjunto do assunto abordado, assim como da estrutura do texto.
Na segunda leitura, o leitor passa por termos e conceitos que conhece e
que desconhece. Anotar o que desconhece, para buscar explicação em
enciclopédias, dicionários da língua portuguesa ou dicionários temáticos,
como os de Economia, Política, Geologia, pode ajudar, e muito, na etapa
seguinte.

É na terceira leitura que o leitor deve deixar marcas no texto, sublinhar o


que lhe interessa. Deve identificar as palavras-chave (aquelas que são
mais significativas ). Enfim, deve separar as idéias principais das idéias
secundárias, tornando-as evidentes por meio de referências visuais
construídas por ele. As canetas marca-texto são boas companheiras nesta
fase da leitura, mas não devem ser as únicas, pois é importante fazer
anotações no próprio texto, transcrevendo termos e conceitos descobertos
no ato de ler ou emitindo julgamento sobre o que está sendo lido. É assim
que o leitor, indo além da descoberta do sentido das frases e do registro,
reage ao texto com seus conhecimentos prévios e lê com espírito crítico.

Por que fazer as anotações no próprio texto?

Em primeiro lugar, porque o aluno procura aprimorar técnicas, habilidades


que traz consigo, ao longo da vida, de como aprender com a leitura de
textos. No momento em que inicia sua etapa de estudante universitário,
tem de ampliar a compreensão leitora, a partir de textos acadêmicos. E a
melhor maneira é praticar.

Além disso, porque o que é significativo no momento da leitura pode ser


esquecido, logo a seguir, se não houver a preocupação em registrar,
escrever ao lado do texto. Este fascículo deixa, estrategicamente, espaços
para anotações do aluno-leitor.
Antes de ler Tecnologia, Técnica e Ciência, no capítulo anterior, você
estava motivado para isso? Os objetivos da leitura estavam claros? Caso
suas respostas sejam positivas, é bem provável que a sua leitura tenha Introdução à Edu-
se dado de forma a considerar o texto claro e eficaz. Caso suas repostas cação a Distância
sejam negativas, você pode não ter compreendido o que o autor está Estratégias de
dizendo. O que será que aconteceu? Será que você chegou a construir um Leitura
Página 45
esquema, um resumo ou leu e não compreendeu muito bem, mas mesmo
assim construiu o que foi pedido?

O fato é que, se você não havia compreendido muito bem, o melhor seria
assumir que não estava entendendo, avaliar o percurso e verificar o que
aconteceu:

Faltou motivação?
Os objetivos da leitura não estavam claros?
O texto foi situado no contexto das idéias, da história, dos
fatos, do autor?
Faltou compreensão de termos-chave?
O tema não é familiar?
O texto é confuso, mal estruturado?

O propósito de apresentar aquele texto, naquela circunstância, era


mostrar que o processo de leitura não só pode ser explicado, mas também
aprendido. E que a melhor maneira de aprender é fazer. Embora os
diversos autores com os quais dialogamos neste fascículo sejam unânimes
em considerar a leitura como processo dinâmico e interativo, sugerem o
aprendizado em uma seqüência, como a que lhe apresentei, por motivos
didáticos. Portanto o propósito foi desencadear a compreensão das
estratégias que se podem assumir, diante da leitura de um texto.

O que pode ter acontecido também é que o professor, como orientador


do processo de construção de conhecimentos pelo aluno, não o
instrumentalizou, para saber fazer.
Mas só o aluno-leitor pode avaliar se o objetivo do professor foi, ou não,
atingido. Só o aluno-leitor pode avaliar se a compreensão está se dando
com a leitura feita. Só o aluno-leitor sabe se o estou deixando jogar tênis
sozinho ou se estou jogando junto com ele.
Você pode, neste momento, dizer qual é o assunto deste capítulo? Pode
identificar as idéias que ele transmite? Você já tem um resumo do que leu
até aqui? Afinal o que significa resumir um texto?
O registro da leitura
Introdução à Edu-
cação a Distância Para Solé (1998), a construção do resumo “está estreitamente ligada às
Estratégias de estratégias necessárias para estabelecer o tema de um texto, para gerar
Leitura ou identificar sua idéia principal e seus detalhes secundários.” Ela afirma
Página 46
que “a ler se aprende lendo, e a resumir, resumindo”.

Registrar é continuar compreendendo e aprendendo, depois da leitura. É


quando se lança mão de técnicas de leitura seletiva, na busca das idéias
diretrizes do texto, da idéia principal. Produzir esquema, resumo, síntese é
criar estratégias de registro da leitura, que não só objetivam que o aluno
continue a compreender e aprender com o texto, mas constituem recurso
importante para que a informação não se perca e esteja disponível,
quando ele dela precisar, por exemplo, para elaborar o próprio texto sobre
o assunto.

Sendo assim, responda:

1. É possível, agora, depois do que já escrevi, compreender os motivos


que me levaram a propor essa leitura e o seqüenciamento de ações
que se iniciam com a primeira leitura? Por quê?
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2. Há um procedimento que deve ser praticado?


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3. Que técnicas são propostas no seqüenciamento de ações
apresentado, objetivando a compreensão do texto? Introdução à Edu-
........................................................................................................................ cação a Distância
........................................................................................................................ Estratégias de
........................................................................................................................ Leitura
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........................................................................................................................
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4. Por que discutir, hoje, o que é tecnologia, técnica e ciência? O


que o assunto tem a ver com alunos, professores, tutores e gestores
deste processo de EAD?

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Ao construir essas questões sobre o que foi lido, faço interferência


na sua leitura, provocando variações na própria seqüência,
objetivando aumentar sua participação na formulação de questões
que podem ser respondidas por todos, depois da recapitulação.
Recapitulação do que foi lido
Introdução à Edu-
cação a Distância As questões colocadas, seja pelo professor, seja pelo aluno,
Estratégias de poderão ser levadas ao seu grupo de estudo e discutidas. Até
Leitura então, todo este trabalho de leitura foi individual e, durante o
Página 48
esforço solitário de compreensão por meio da leitura dos mais
diferentes tipos de textos, a recapitulação se vale, agora, da
capacidade de elaborar questões, cujas respostas permitem que o
aluno avalie o que já aprendeu e quais são as lacunas que ainda
precisam ser preenchidas.

Portanto a leitura não termina com o seu registro em esquemas,


resumos, sínteses, resenhas, mas continua com a recapitulação
do que foi estudado e com a construção de questões que
permitem avaliar, principalmente, o que ainda falta para aprender.
Desenvolver a habilidade de pensar sobre o próprio conhecimento
a respeito de determinado assunto é fundamental para continuar
aprendendo em determinada área.

É estruturante, é como começar a construir uma casa pelo


alicerce, colocando vigas centrais que darão sustentação
a todos os tijolos que forem acrescentados, posteriormente.

Após essas atividades individuais, as atividades em grupo se tornam


relevantes e indispensáveis, para tornar produtiva a leitura de textos
acadêmicos. É quando o trabalho colaborativo assume caráter
relevante, porque não traduz um encontro de pessoas que vão
saber o conteúdo dos textos pela primeira vez . Ficar na expectativa
de que alguém ensine alguma coisa, resumindo para você o
conteúdo, sem o esforço de leitura individual, é iludir-se.

A atitude esperada para o aluno, principalmente, da modadalidade


a distância, é que assuma uma postura reconstrutiva, ao participar
de trabalhos em Grupos colaborativos ou mesmo no encontro com
os “tutores”.

Essa postura leva o aluno a expor a sua compreensão do texto,


suas questões construídas na recapitulação, suas dúvidas, que, uma
vez sanadas, podem contribuir para cobrir lacunas previamente
detectadas e avançar na reconstrução do conhecimento que já
possuía a respeito de determinado assunto. Introdução à Edu-
cação a Distância
Postura essa que leva-o a expor a sua compreensão do texto, suas Estratégias de
questões construídas na recapitulação, suas dúvidas, que uma Leitura
Página 49
vez sanadas, poderão contribuir para cobrir lacunas previamente
detectadas e, avançar na reconstrução do conhecimento que já
possuía a respeito de determinado tema.

É a partir de esquemas, resumos, sínteses, enfim, dos registros


construídos pelo aluno, individualmente, durante o processo de
leitura, que ele poderá se expressar sobre o assunto com o tutor,
com os colegas e até mesmo consigo mesmo, na hora de construir
o próprio texto. É o aluno que constrói o conhecimento novo
necessário, em que a referência, o ponto de partida é o que ele já
sabia.

É uma construção em que o processo educativo acontece, tendo


o aluno como sujeito da formação. É formar-se e, pode-se dizer,
educar-se. É um “formar-se” e, pode-se dizer, “um educar-se”.

É o aluno que aprende e se constrói como agente transformador


da realidade, porque adquire competências, que, segundo Demo
(1999), o preparam para o exercício da cidadania, uma vez que as
adquire para conhecer e agir, numa ação em que a ética aparece,
não porque é um discurso bem elaborado, mas porque, na relação
com o outro, nos diferentes contextos, ela é praticada.

Portanto a melhor maneira de aprender lendo, de se tornar um leitor


competente, principalmente, de textos acadêmicos é praticar.
Essa prática inclui procedimentos e técnicas que precisam estar
associadas a estratégias adequadas de leitura interativa. Interação
que integra o leitor, o autor e o contexto.

A construção do próprio texto

Qual é o objetivo mais geral de um curso igual a este? Criar


condições a fim de que o aluno aumente sua competência e
autonomia, para aprender a aprender. Justifica-se, pois, que o aluno
da EAD deve aprender estratégias de compreensão leitora porque
precisa ser um leitor autônomo, porque tem que ser capaz de,
sozinho, debruçar-se sobre textos de naturezas diversificadas, enfim,
Introdução à Edu- porque tem de ser capaz de aprender por meio da leitura de textos.
cação a Distância
Estratégias de E várias são as oportunidades, ao longo do curso, em que você,
Leitura prezado aluno, deverá realizar pesquisas. Pesquisas que se iniciarão
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com perguntas elaboradas a partir da necessidade real de
redirecionar, no dia-a-dia, práticas, trabalhos que já não atendem
mais às finalidades para as quais foram propostos. Você não será
o primeiro, nem o último a levantar questionamentos a respeito
de determinado assunto. Isso porque o conhecimento que já foi
produzido pelos investigadores estão registrados, principalmente, na
forma de textos acadêmicos, de artigos científicos.

As melhores respostas encontradas por eles, em tempos e


contextos diferentes dos atuais, se acham registradas em revistas
especializadas e livros. Circularam entre outros estudiosos
do assunto, que, ao dialogar entre si, foram modificando
continuamente o conhecimento. Dessa forma, o que está disponível
para o aluno, por meio de textos acadêmicos, impressos como este
ou obtidos via Internet, são textos que, muitas vezes, modificam e
atualizam o conhecimento que se tem a respeito de algum assunto.

Sabendo disso, espera-se que o aluno da EAD, depois da leitura,


seja dos fascículos do curso, seja de algum texto complementar,
faça de modo que sejam desenvolvidas atitudes favoráveis não só
à compreensão. Que atitudes são essas? São aquelas que levam o
aluno a comunicar o conhecimento atualizado.

Hoje compreendo o ensinamento de um grande professor


que tive. Dizia ele que o conhecimento produzido por meio de
uma investigação científica, utilizando procedimentos que a
comunidade de cientistas conhece e, portanto, valoriza, se não
for comunicada por meio de um texto, se não circular entre os que
estão envolvidos com a temática, é como se jamais tivesse sido
feita.

Sendo assim, espero que tenha contribuído, sem a pretensão de


apresentar o assunto como verdade absoluta, na ampliação do
processo do aluno de reconhecer-se como sujeito que pertence a
uma rede de pessoas que modificam o conhecimento, inovando-o,
para ser também modificado e inovado no futuro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Introdução à Edu-
Belloni, M. L.. Educação a Distância. 2ª ed. Campinas: Autores Associados, 2001.
cação a Distância
Estratégias de
Braga, R. M. & Silvestre, M. F. B.. Construindo o Leitor Competente. 2ª ed. São Paulo:
Leitura
Peirópolis, 2002.
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Demo, P.. Educar pela pesquisa. 4 ed. Campinas: Autores Associados, 1999.

Freire, P.. A importância do ato de ler. 41ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.

Martins, M. H.. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 2006.

Neder, M. L. C.. Educação a distância e sua contribuição na mudança de paradigmas


educacionais na formação de professores. In: Desafios da Educação a Distância na
Formação de Professores. Brasília: SEED, 2006.

Preti, O. Estudar a Distância : uma aventura acadêmica. V.1, Cuiabá: EdUFMT, 2005.

Solé, I.. Estratégias de Leitura. Trad. Cláudia Schilling. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Tierno, B.. As Melhores Técnicas de Estudo. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

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