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O NOVO MOVIMENTO DOCENTE E A FEDERAÇÃO

Profa. Eva Batista Caldas


Secretária Geral da ADUFC-Sindicato

Nos idos de 2003 tentemos, pela última vez, ganhar as eleições na Andes. Mesmo tendo
ganhado por mais de 900 votos nas instituições federais, não conseguimos desbancar a dominante
Andes-AD. Que, a propósito, ainda hoje se mantém no poder.
Um grupo de professores, acreditando que seria possível viver sem a Andes, resolveu unir
forças e criar o Fórum dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior – o PROIFES.
Várias Associações Docentes filiaram-se ao Fórum e outras ficaram por perto, apoiando,
participando das reuniões convocadas pela entidade, ligadas, de alguma maneira, e fortalecidas sob
a representatividade do PROIFES, responsável pelos acordos de 2007/2008 para o EBTT e o ES.
Hoje, o grupo está maior. Praticamente duplicou o número daquelas associações que –
descontentes com a Andes há algum tempo – resolveu sair e criar um sindicato independente, ou
transformar as suas entidades em sindicatos locais, fossem de base municipal ou estadual.
E agora? Como ficarão essas entidades de caráter restrito a municípios e estados? Quem irá
nos proteger do poder judiciário, e de outros, que tentam, de todo modo, derrubar os nossos direitos
adquiridos, as nossas ações judiciais transitadas? Quem sentará às mesas com o governo para
negociar a nossa carreira, os nossos reajustes, o nosso direito à greve?
Há um consenso entre os que já estão fora, ou saindo da velha e carcomida Andes: uma
federação é o nosso futuro. Precisamos de uma entidade juridicamente constituída que nos
represente junto ao Governo Federal, nosso patrão. Que nos unifique em torno de projetos e
demandas similares. Sem envolvimento com partidos políticos e, na minha opinião, independente
de centrais sindicais. Com o objetivo maior de “cuidar” de nós, professores das IFES.
A palavra federação traz um ranço antigo que precisa ser expurgado! É necessário que
conversemos bastante, que discutamos, que deixemos amadurecer QUE federação queremos e
precisamos. Só assim conseguiremos constituir uma entidade que congregue a maioria de nós, que
nos mantenha unidos em nossas diferenças. Plural, idônea, com uma estrutura leve e pouco
burocrática.
Esse modelo de federação, diferente, moderno, autônomo é fundamental para que possamos
agregar, cada vez mais, associações de docentes federais por esse país afora.
Tomara que tenhamos êxito nessa jornada!

ENEM – SiSU: Mais Desigualdade


Contribuição de Marcelino Pequeno (ADUFC)
Marcelino.pequeno@gmail.com

Entrou em operação este ano o Sistema de Seleção Unificada — SiSU, utilizando o ENEM como
exame único. Nesta primeira edição 51 IFES, entre universidades e Institutos Tecnológicos,
tomaram parte, com 47 mil vagas sendo disputadas por 800 mil estudantes entre os 2,5 milhões que
fizeram o ENEM. Mas será que a comunidade universitária está consciente das implicações do novo
sistema?

O MEC/Inep, após onze aplicações do ENEM, acumulou experiência sobre a avaliação do ensino
médio e se sentiu em condições de oferecer às IFES um exame que substitua com vantagens
pedagógicas os vestibulares tradicionais. A centralização do exame também permite um maior
investimento na confecção do exame que não pode ser reproduzido em dezenas de IES distintas.
Assim o MEC viu a oportunidade de, a partir da utilização do ENEM como exame de acesso ao
ensino superior, poder promover uma reestruturação do ensino médio.

Com o ENEM na mão, o MEC também imaginou que poderia promover a unificação da seleção de
vagas nas IFES. Nasce assim o SiSU, proposto como uma racionalização da disputa de vagas e uma
forma de democratizar a participação nos processos de seleção nas diferentes regiões do país.
Também promoveria uma migração de alunos entre estados, o percentual de alunos que cursam
universidade em estado diferente de sua origem não chega a 1%.

Acontece que o Brasil é marcado por duas grandes desigualdades, uma geográfica (ou regional),
onde se sobressaem as regiões Sul e Sudeste; e uma outra social, discriminadora pelo poder
econômico. Ambas as desigualdades são acentuadas pela seleção unificada. E isto já deveria ser
razão suficiente para desencorajar sua criação.

Os resultados da primeira aplicação que se encerrou no dia 12 de março confirmam esta


expectativa. São Paulo “exportou” 2.531 alunos e “importou” 169. Já o Piauí, “exportou” 85 e
“importou” 612. O padrão se repete com estados favorecidos economicamente “exportando” mais
do que “importando” estudantes, e vice-versa. O privilégio econômico é fator decisivo tanto para se
conseguir a vaga, como, também, para permitir o deslocamento para cursar universidade em outro
estado. Viver em residência universitária no Brasil só está acessível a 1% dos estudantes.

O MEC ainda não divulgou a proporção de alunos da escola pública que conseguiram vagas entre as
40 mil ocupadas no SiSU. Mas tudo leva a crer que a, já pequena, fração de alunos da escola
pública seja reduzida, incrementando a outra desigualdade. A ironia é que mais alunos da escola
pública concorrem a vagas no ensino superior (a intenção declarada do MEC), mas menos logram
êxito.

Embora a primeira aplicação do SiSU tenha apresentado problemas operacionais que podem ser
corrigidos em futuras edições, a grande debilidade do sistema é conceitual, e esta não tem solução à
vista. Tivessem ocorrido discussões prévias com a comunidade acadêmica, estes problemas teriam
sido detectados. Como não houve, temos um barco em cruzeiro precisando ser consertado, ou,
talvez, abandonado.

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