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As dores do fim (artigo de Jos

Antunes de Sousa, 44)


15:46 - 29-04-2016
Jos Antunes de Sousa
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H-de parecer algo lgubre, talvez mesmo sdico, algum entreter-se na inslita tarefa de
qualificar as dores como se houvesse dores que o so mais que outras. E a verdade que
h mesmo: uma dor de dentes ou de rins no como sentir uma pontada nas cruzes
sendo certo que ambas doem que se fartam! Mas concordemos no essencial: dor dor estejamos ns no comeo de uma aco ou no termo dela.
De resto, os latinos no hesitavam: principia sunt dolores (os comeos so dolorosos)
talvez porque comear algo que nos desafia implica sempre desistir de algo a que se estava
apegado nem que seja ao doce engodo de nada fazer!
Mas as coisas que por ltimo se nos apresentam (ultima) so-no igualmente podem slo de uma forma muito mais aguda: os apertos de ter que terminar uma importante tarefa
ou a desgostosa aflio de ver algo que acaba e algo que acaba pode provocar alvio se for
penosa a sua ndole, ou pena e nostalgia se for prazenteira a actividade que reclama.
A tonalidade emotiva de ter que terminar algo depende pois do que o desfecho disso que se
termina implica para os protagonistas: finis coronat opus, ou seja a obra correctamente
desenvolvida , ao fim, sempre coroada (Ovdio, Herodas, II, 85). A uma aco excelente
corresponde um desfecho exaltante ou frustrante, se houver hesitao, medo,
claudicao.
O que di, entendamo-nos, no remate final dos empreendimentos a presso da trgica
disjuno do dilema: morte ou glria. Enfim, o que di, e muito, o aperto no peito do
medo de falhar o drama est na definitividade do desenlace no h volta!

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