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Sérgio Araújo
Poesia
Idéia vaga
Presente,
ostensiva
Grata.
Vertente literal primária
Inconsolavelmente refratária
Poesia
Grata
inerte
Verte
Refrata
A lítera morte que lhe tecem!
Dos cânones da língua,
pioneira,
poemassiva.
Poesia,
forma tão ativa
Híbrido cânone,
linguitísica
Bossal,
cinestésica total
Cafetina,
teleeletroniconcretina.
Efeméride
Splat
plek
tam tam tam
a máquina
comeu a poesia ao óleo
Você sonha
dissonha
e atarraca o dedo
na CATRACA
Plek
Splat
Tam tam tam
castração
castra ação do dedo
que não mais indica
codifica
Mas
saque do coldre empoeirado
um poema
QUENTELOMÉTRICO
para ler
entre limalhas
cuidado
Levanta e corre correcorrecorrecorrecorrecorre
que a esteira não morre
PARA!
PEGA!
PAGA!
Splat!
Plek!
A máquina
comeu!
A contragosto
A contragosto,
Desgosto dos traços e troços
Da minha vida útil.
Desinventando memórias,
Destroçando histórias,
Malamanhado em terras alheias.
Sons inaudíveis movem e renovam
A volatilidade da minha alma vasta
Redesenhando trilhas,
Segredando versos nas margens do dia.
Um poema
Um poema
Não nasce do nada
É tempo e espada
Um poema
Nasce na rua
Que não é minha
Nem sua
É pau e pedra
Na vida do poeta
XXXII
Deixarei
Que os espaços
Todos preenchidos
Sejam solavancos
Em meu corpo de avestruz
E em minhas pernas
O que reluz
Nestes espaços,
espaços todos
Sejam espaçopernas
Que perneem
Preenchendo mundos.
Recife
Por cima
uma ponte
Por baixo
S
a
l
t
a
m
Daí em diante
Ausente
O sol
De par a par
Pardo
Pardeja
Em lívidos olhos de janela.
Fria
Como a água matinal
(a janela da casa verde)
pinga
cacos de vidro fosco.
O menino
Em vagas manhãs
Por onde o tempo recorta silhuetas de papel
Nuvens jovens
Percorrem os caminhos dos pássaros.
Em tardes infinitas
O menino sonha
Os sonhos de vento
Rasgando as copas das árvores
Numa melodia anônima.
Numa noite intensa
O poeta vê o invisível código
A trama íntima
Ao desenhar manhãs
Com tintas de tarde
E noites profundas.
XXI
A lua e a estrela
Nem alfa
Nem ômega
Apenas o tempo
Embaralhado
Embaralha tudo
Num ponto
Senhores navegantes,
Parem o barco!
O perfil cinético das borboletas azuis
Circunavega seus corações intranquilos.
Adeus
Cordas soltas à maré!
Atlas, contas do mar, sol, anzol
Rebrilham nos olhos de peixe
E óleos ancestrais.
Canibal à praia!
Âncora veloz ao fundo azul.
Senhores navegantes,
Olhai o fundo fosco da maré azul e
Rasgai papiros ilustrados,
Mapas
E restos semânticos
De bulas pós-ardidas.
Senhores navegantes,
Libertai as palavras-coisas
E surgirão versos andantes e rimas-remo
Na cara suja da normalidade.
IX
Lá está,
em meio à multidão
e eu a vejo
como num tape,
com seu sorriso ensolarado.
Rápido me perco
e te encontro
a passar...
Acho que foi naquele automóvel
novinho em folha
e lá se foi
mastigando
bichinhos de açúcar.
Salinas
Parada
Na
Porta
Suporta
Ereta
Beija
O
Vento
Que
Te
Lança
Pra
Dentro
Suposta
Seja
A
Porta
Que
A
Lança
Não
Importa
Ventania
Adentra
Suplica
Que
Te
Beije
Na
Porta
À sombra do vento
Vê essas tardes?
Que desprezo exalam
Nestas folhas sonolentas, oscilantes;
Neste céu,
Metálico céu.
Ouve estes sons?
Quão falsos soam.
Que terrível prisão
Nos acolhe em seu seio de pedra.
Quisera
Voar
Com os pássaros
E, súbto, precipitar-me ao chão
Para num sorriso
De corpo inteiro
Fundir-me à terra
Numa manhã de sol.
Silêncio
O tempo escoou
E eu estou longe
Ou deitada no chão
Imaginando utopias
Silenciosa ilha.
O tempo passou
E eu estou sozinho
Pensando em você
Observando
O quadro na parede
Minha utopia.
No caminho do mar
E sem espaço
Súbito
Surge assim
Como quem rouba
Um pedaço de dia
Num instante qualquer
Rasgando fantasias
sonorizando frases
Vociferando melodias
Para mostrar-se
Claro
Como um poema de Emily Dickinson
Atravessando séculos
Num Daguerreótipo country
Com pássaros
E gotas de chuva
A tilintar
Na cobertura espessa
da minha cabeça
Assim
Súbito
Palavrascoisas
Nada
Um vazio
Palavras coisas
Cantantes
Sonoras
Saltitante
Palavras moventes
Movediças
Palavras lisas
Cordilheiras lexicais
Transmentais
Nada
Um vazio
Vaso
Um Verbo
Ao acaso!
36º
Um papel
Um recado
Um recibo rasgado
Em outubro de 84
Um cigarro
Um cinzeiro
Populares de Cuba
Rio de Janeiro
Li Artaud e Baudelaire
Você lê se quiser
Na hora marcada
Dança e protesta
Manifesta!
Lê aquela brochura
Ainda há Ditadura
Agora rasgado
Um recibo solitário
De um sonho sonhado
Registrado
No CPF e RG
Cadê Você?
Quem sabe um dia
Eu te mostro a lua
A estrada é deserta
A noite é prata
A relva é vasta
Cortando o silêncio.
Teu endereço
E a luz da lua
Talvez!
Na escuridão
Eu possa te ver
Naquela noite
Um cavaleiro torto
De silhueta neogótica
Na lama putrefatalenankin
Caminha indeciso
Um cavaleiro torto
Pouco
Só
O tempo é curto
O tempo é mudo
Eu curto o tempo
Gotas de memórias
Nem ontem
Nem hoje
Naquela praça
Depois da esquina
Eu não sei...
Eu não te enconto
Depois da chuva
Naquela esquina.
Elisa
Elisa!
As mãos flácidas,
O olhar perdido.
Flutua.
A mente ausente,
Elisa!
Estrangeiro
Eu bebo o futuro
Do aqui e agora.
Falsa saída,
Panacéia improvável.
O futuro me pertence
Eu canto
Não do futuro
Mas do presente
Cantando sigo
No lapso do tempo
Do pensar,
Da natureza de mim
Da rocha.
Uma tocha!
De resto, o vazio
O dia é eterno
E some!
Um caminho nas nuvens
Na estrada
Que só eu vejo
D. Juan, Lobsang,
Não importa
Ainda sonhamos
Invisíveis, eu juro!
Rock and Roll
Pétalas
Piras
Sim!
Sabe quando você tem certeza?
Estruturas e monólitos,
A saudade indecifrável.
Tristeza e alegria.
Silêncios redondos
Afasto agruras,
A noite eterna
Falas,
Amigos,
Um futuro distante que hoje é presente
A desordem,
E na coerência do sonho.
Nuvem
O código expresso
Impresso
Virtual
Sem identidade
Só me reconheço
No discurso possível
Passível
Inautêntico corpus
Generalizador
do meu computador
Eu me estranho
Eu não sou eu
Nuvem
Neblina
Perspectiva.
No meu caderno
Genérico, caótico.
Do leste o vento
dourado.
Matutino na primavera.
Barro secular
Cativa,
Cooperativa.
Certo,
Homens simples
Todos os dias,
Todas as manhãs.
Homens simples!
Da incerteza esperta,
Simples crianças;
Aprendizes itinerantes
Homens simples!
O Subterfúgio
[Insistente]
E me aquecem
Vê se me esquece!
Perdido e inconsequente,
Silenciosamente.
Correnteza
Caminhando devagar
No meio da correnteza
Polaroid
Apenas um instante
Explodir no infinito
Sobre o futuro
Um momento singular
Um salto e solto no ar
Flanar
Acordou cedo.
O sangue na cidade;
A lata de cerveja.
As algemas no bandido;
E sonhou contente.
Sonhou com aguardente,
E sua correnteza.
Eu quero a utopia!
Não a ilha,
A prova do improvável.
Eu quero utopia,
Literatura,
Poesia.
Macunaíma na Bahia,
Supermáquina,
Leaves of grass!
A escolha digitada.
Eu quero o silêncio
Se “é proibido sonhar…”,
O céu iluminado,
O chão silencioso,
Espumas e risos.
Sangue e gritos
Na fumaça delgada.
Ninguém aguenta!
Na segunda-feira.