de outubro de 1955 ¢ 0 nome ‘Rovuma’ do paquete de transporte de Ranade para
Portugal], ndo,assumo responsabilidade no tocante a veracidade ou a
certeza (Ou falta delas) quanto aos detalhes e contexto, Julgo que nio
. incumbe a mim guarantir isso para além daquilo que a competéncia do
proprio autor do original assegura, Porém aceito ser possivel que haja
equivocos e baralhamento de algumas datas — ¢ certamente de horas ou
minutos — na parte da narrativa do calabougo e da c: dadas as
cireunstincias da vida na prisdio, uma grande parte da qual foi prisio
solitéria érdua, sem meios ¢ liberdade de guardar cechocaee grafico
da sequéncia a. acontecimentos.
E realmente extraordindrio como o Sr. Ranade conseguiu tecer a
histéria da sua vida na prisio, principalmente o orqélio da fase inicial,
somente & base daquilo que ele se lembrava e podia recordar. Sem
nenhum calendério ou reldgio & vista, sem a minima possibilidade de
deixar um registo de marcos cronolégicos, nem mesmo com as-suas
unhas sobre as paredes da cela, que nunca era a mesma por muito tempo,
“quanto mais a falta de contato e convivio humano desnortea a Pessoa,
roubando dela o sentido de tempo, como péde ele compor essas suas
crénicas pormenorizadas de prisioneiro em Goa e em Portugal? Mesmo
que lembrasse dos acontecimentos, dado 0 seu impato traumatico, como
péde ele enfiar as minticias com tamanho rigor, néo s6 na corda (dias,
meses, anos) mas até na linha (horas, minutos) do Tempo? Qualquer
virus de enigma poderia pér em causa a credibilidade da prdpria historia
sua, se néo tivéssemos a chave para um mistério ainda mais fundamental
= a nobreza da alma que transcende as vicissitudes da injustiga e paira
além do vil, mantendo as rafzes firmes nas suas convicgdes, na cumunhio
com a sua grei, no génio da sua terra.
Fiz este trabalho com grande paixao desde 0 inicio — paixio tio
intensa que, 4 medida que fui avancando, o texto comegou parecer brotar
do fundo do meu ser... como se eu estivesse apossado pelo espirito do
her6i da lenda, principalmente na hora do seu regresso como ‘homem
livre, naquele momento da sua aterragem e naquele triz do seu pisar 0
solo patrio... nessa madrugada que dissipava as tltimas sombras de um
longo pesar e fazia-lhe lembrar da tarefa restante do sonho de uma {ndia
prenhe de justica para a felicidade de todos.
Para Mohan Ranade a luta continua! E para nés, os outros...?
Goa-{ndia, Ave Cleto Afonso
dezembro 2014