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Comunieagio (IV) Concentragao urbana no Brasil: 1940-70 * Prono Prxceas Gracen ** Joo Rua??? Tho Awrosto M, Rmmo *** 1. Introdugio Os estudos sobre a evolucéo de sistemas urbanos realizam usual- mente comparagées entre © miimero de cidades, segundo catego- vias de populagio, em diversos periodos. Porém, sera correto afir- mar que uma determinada dimensio populacional possui o mesmo significado em diversos momentos histdricos? Em 1900, 0 Brasil possufa 17,5 milh6es do habitantes e 0 Rio de Janeiro 810 mil, 0 que representava uma concentragiio de corea do 4.6% na cidade que era a primeira metr6pole do Pais. Em 1970, com 95 milhdes de habitantes, 9 Brasil possui diverses aglomera- es com mais de 1 milhio de habitantes, representando, eada ‘uma, apenas 11% do total nacional e que ocupam a posigio de metrépoles regionals, Metropole nacionais como Sio Paulo ¢ 0 Rio de Janeiro possuem hoje em dia mais de 4 milhées de habi- ‘antes, sem contar a periferia da arca metropolitana. No entanto, procurando analisar 0 conjanto de cidades capazes do concentrar individualmente 2% ou mais, da populagéo brasi- leira, observa-se que, no periodo 1940-70, apenas dois centros urba- nos preenchiam essa condi¢io — Sio Paulo o Rio de Janciro — muito embora, para se atingir esta categoria, fossem necessirios apenas 784 mil habitantes em 1940 ¢ 1,8 milhdes em 1970, * Este tabalho & um resultado parcial de pesquisas reslizdas pelo Centro Se Estudos de Planejamento da PUC/RJ, com sunilio finauceiro do MINI- bie * Do IBGE, PUC/RY. Peog. Plan. Econ. Rio de Janeiro, -2(2)s 411-492 dea, 1972 Yejamos outro exemplo; no Estado do Maranhdo, em 1940, so- mente Sio Luiz figurava como cidade de mais de 20 mil habi- tantes; em 1970, mais 8 cidades possuiam cifra superior a este limite; Bacabel, Casias ¢ Imperatriz. Entretanto, se forem repre- sentadas apenas cidades com 0,05%, ou mais, da populagio nacio- nal, entio 0 Maranhio comparecerd, tanto em 1940 como em 1970, -com apenas uma cidade: Séo Luiz, Na realidade, a vinica cidade do Maranhio com slguma expressio a nivel de sistema urbano nacional continua sendo a sua capital, 0 que indica o atraso re- lativo desse Estado no provesso da urbanizacio. Em outras palavras, as cidades podem manter a mesma posigaio hierérquica relativa e ao mesmo tempo mudar a populagdo abso- Juta, Em 1940, cidades como Caruaru, Uberlindia e Campo Grande possuiam em tomo de 20 mil habitantes ¢ j& eram dotadas do ‘entralidade selativamente elevada para a época. Em 1970, nenhu- ma cidade com esta dimensio conseguiria alcangar centralidade comparivel. Obviamente, isto no significa negar a importincia do tamanho absoluto. Campo Grande, hoje com 100 mil habitantes, no & evi- dentemente a mesma cidade de 1940, quando contava com 20 mil habitantes, Entretanto, 0 que se deseja é salientar aqueles aspoctos melhor observados através da utilizagio de dados relativos, isto é ‘que expressam as populagies das cidades como percentagens da populacio nacional, Dentro as vantagens de acompanhar as tendéncias do desenvol- ‘vimento urbano através do comportemento de categorias de cida- des definidas pelo grau de concentragio da populagio total, men- cionam-se as seguintes: 14) permite uma conceituagiio relativa do cidade grande, média © pequena; b) permite mma observagiio de padres espaciais na evolugio do sistema urbano, através do delineamento de reas, eixos, ‘ou pontos isolados, nos quais a urbanizagio & definida por sgraus de concentragio da populagio nacional; ang Pesquise © Plancjemento Econdmico ©) permite uma comparagio do grau do concentragao da po- pulagio em determinados locais, com indices de concentra- gio de atividades (ou fngées) igualmente expressos ein termos de mimeros relatives. Metodologia No presente estudo, a anilise do sistema urbano limitou-se as loca: Tidades ou aglomeragdes que reunissem 0,05%, ox mais, da popu- Jagao nacional. Tal critério fundamenta-se na suposigio de que, em 1970, uma cidade com 50 mil habitantes representava a :nfnima dimensio eapaz de gerar desenvolvimento local auto-sustentado. Em 1970, 50 mil habitantes significavam 0,058 da populagiio bra- sileira, nimero este aproximado para 0,058. © eestudlo eobre um periodo de trinta anos, especificamente os anos de 1940, 1950, 1960 ¢ 1970, utilizando-se para isso de dados censitirios. As 7 categorias de cidades, com os respectivos equiva- lentes em populagdo absoluta, constam do Quadro 1 A fim de examinar a correlagio entre o grau de coneentragio da Populagio ¢ da atividade industrial, foi organizado o Quadro 3, que inclui todos o8 municipios brasileiros que, em 1940, 1950, 1960 € 1970, detinham valor de produgao industrial igual ou superior & 005% do total da procugio industrial do Pais. As categorias foram estabelecidas segundo os mesmos percentuais utilizados para © estudo da populagéo. Qualqner cidade presente no conjunto definide pelo critério po- Pulacional, mas cujo municipio estivesse ausente do conjunte for- mado segundo 0 critério da atividade industial, passava a ter 0 seu municipio classificado na 8.4 categoria quanto 4 atividade indus. trial Do mesmo modo, todos os municipios presentes no sistema industrial © cujas cidades niio figurassem em nenhuma das 7 ca tegorias de populagio, foram classificados na 82 categoria quanto a populacio. Na realidade, a ordenagio segundo categorias foi, em seguida, transformada de modo a levar etm consideragio 0 udimero de ele Concentragéo Urbana no Brasil 413 saoat onSepang, ep 0) sangy sosH2%) “RLNOA oF OL 8S oO FSS se POs WTO F S00 @P |” epORaED EL cs vsor | con rose | oe voce | cose oer | sort ¥ 1502 ae oe t 065 | OOF E# OL | were coo | 0 #1 saa ogg" t 2p + oon T ap + | ooo tee + | HL eR + seep + wuoSOD eT | | a 2 sapopiy ap souoSemg sop on T ouavagy Pesquisa ¢ Flancjemento Econémico a4 mentos ou cidades contidos em cada categoria. Por exemple, no caso de 2 elementos na categoria 1 ¢ de 8 elementos na categoria 2, a LA categoria passaria a valer 15 = [(1 + 2)/2] ea 23, 4=[(3 + 4+ 5A]. Na etapa seguinte, caleulowse o grau de correlagio, para cada ano censitirio, entre as categories de cidades (e dos respectivos ‘munieipios) segundo a populagio urbana e a atividade industrial Paralelamente, procurou-se cxaminar a associagio estabelecida entre as categorias de cidades segundo a populagio © a classifiea- 40 das mesmas segundo um indice de conectividade. © indice de conectividade foi calculado atribuindo-se pontos a cada centro urbano segundo © mimero e 0 tipo de vias de trans- porte interurbano que os serviam, Convencionou-se que a presen- ga de um acroporto pavimentado e com linhas comerciais regule- res valia 1 ponto; acroporto nio-pavimentado e lisihas comerciais regulares, 0,5 ponto; porto maritimo aperclhado, 2 pontos, ¢ porto fluvial ou maritimo nio-aparelhado, 1 ponto, No caso das rodovias, ‘© mtimero de pontos recebidos depende do mimero de vias de acesso a outras cidades do sistema e de serem on néo pavimenta- das; uma Tigagio asfaltada valia 2 pontos e, a de terra, 1 poato, No caso de entroncamento ou de bifurcagéo entre 2 cidades, os pontos de ligagio @ mais sio atribuidos & cidade maior, ou A mais Proxima. Nos casos de vias que partem de eidades ou vilas per- tencentes a dreas metropolitanas, os pontos sie atribudos camula- tivamente a estas localidades © & metrépole. Para as ferrovias, 0 critério fot idéntieo ao das rodovias, contando-se 1 ponto para uma ligagdo, & pontos para 2 ou 8 e 8 pontos para 4 ot mais. A fim de permitir a comparagio com © critério populacional, foram definidas 7 categorias de conectividade, com intervalos de mimero de pontos. Tendo em vista o erescimento do setor de ‘transportes, a comparabilidade entre os diversos perfodos censi- trios requer que os intervalos que definem as categorias sojam devidamente ajustados. Assim, por exemplo, para pertencer & 14 categoria, uma cidade necessitava de mais de 9.5 pontos em 1940; mais de 11,5 em 1950; mais de 155 em 1960; mais de 165 em Concenteagdo Urbana vo Brasil a5 1970. Para a 2.2 categoria, os intervalos so de 7,0 a 9,5; 8,0 a 115; 11 @ 185 ¢ 12 a 165, respectivamente, para 1940, 1950, 1960 © 1970, 3. A expansio do sistema Os resultados da anilise do sistema urbano brasileiro nos ultimos 30 anos revelam a multiplicaggo de micleos do concentragio com 0,05, ou mais, da populagdo nacional. De 60 miicleos em 1940, reu- indo 49.4% da populagio urbana, passaram @ 150 em 1970, com cerea de 58% da populagio urbana (Quadro 2). Esta multiplicacao reflote ao mesmo tempo dois tipos de proces- sos: de difusio da urbanizagio e de concentragéo, cm especial nnas regiées metropolitanas. Na realidade, pode-se distinguir que- ‘tro fendmenos importantes: 19) Metropolizagao, isto & a formago de regides metropoli tanas, com base industrial e com grandes centros satélites em torno de micleo principal; 29) Interiorizagao, que consiste no surgimento de novos luge- res centrais, muitos de crescimento répido, seja. nas novas frontelras agricolas, como Londrina, no norte do Parand, on ainda pela im: plantagao de miicleos em Areas vazias, como € 0 caso de Brasilia; 8.9) Estabelecimento de civos de circulacto, com o crescimen to de cidades ao Tongo de eixos troncais, como no caso da Rio- Bahia. Eles freqiientemente se constituem em verdadeiros cixos de desenvolvimento, com base em uma estrutura industrial, como no exemplo do Vale do Parafbas 49) Fungdo Administratica, responsivel pela clevada ordem hhicrdrquica das capitais estaduais dentro de suas respectivas re- ‘gides, ov pela sua répida ascengio, como no caso de Goifinia. Obviamente, 0 conjunto de fendmenos que condicionam 0 pro- cesso de urbanizagéo varia do intensidade ao longo do tempo. A interiorizagio liga-se a processos de avango de frentes pioneiras e extensio de Areas agricolas. A formagio de eixos se vincula aos processos de integragio, determinados tanto pela industrializacio 416 Pesquisa © Flanejamento Econémico ‘quanto pela colonizagio. B, entretanto, a metropolizagio 0 fend- meno mais importante, especialmente na década de 60. © movi- mento de concentragio de populagées ¢ atividades & 0 aspecto mais expressivo do crescimento urbano @, de certa forma, reflete padrives de localizagio de indhistrias e de centros de deci Cabe ainda destacar o papel exercido pela expansio © moder- nizagio do setor de administragio publica. A importincla deste setor como fungéo urbana antiga no Brasil. Basta dizer que, por lei, toda sede municipal 6 cidade, independentemente de sua di- mensio ou atividades ecomémicas presentes, No pasado, os prin- ‘ipais centros urbanos brasileitos se constituiam, via de regra, da capital federal ¢ das capitais estaduais. No entanto, o papel da atividade administrativa nesse particular parece ter declinado, principalente com o desenvolvimento. eco- némico do Pais apés a I Guerra Mundial. Diversas cidades pas- saram a expandir-se de maneira mais xipida que as capitais dos respectivos Estados, como, por exemple, Campo Grande em rela- a0 a Cuiabé, Blumenau a Florianépolis © Campina Grande a Joto Pessoa. Nio obstante, em nossos dias, eabe ainda ressaltar a expansio do setor ptiblico ¢ sua influéncia dircta e indireta sobre todas as atividades urbanas. Verifica-se, assim, que grande parte da infra- estrutura social-urbana, tal como educagio, satide, saneamento, com agiio, abastecimento ¢ outros servicos & gerida pelo poder pi- blico. Sua influéncia estende-se igualmente ao setor de atividades diretamente prodntivas (no sentido de Hirschman), utilizando trumentos fais como incentivos fiscais e erediticios. As decistes do setor pablico, portanto, condicionam decisivamente os padroes de localizagao de atividades e, implicitamente, a evolugao do siste- ma urbano. Atualmente, as regiGes metropolitanas, especialmente as do Rio de Janeiro ¢ de Sio Paulo, contam com cidades de dimensio supe rior & de diversas capitais estaduais. Entretanto, dentro dos seus respectivos Estados, essas capitais se mantém frente das demais cidades (exceto em Mato Grosso). O Genso de 1970 comprovou Concentrapdo Urbona no Brae an © acentuado crescimento das capitals estaduais, inclusive em Mato Grosso, Fato este que revela a importineia direta do setor governo como fator de crescimento usbano, Tal erescimento reflete uma expansio geral do setor tercifrio, bem como seus efeitos induzidos em termos de atragio de inchistrias. ‘As atividades administrativas, sem dtivida, constituem um dos elementos de expansio metropolitans em tomo de algumas capitais, Pode-se provavelmente adiantar que, enquanto nas capitais nor- destinas © setor governo procura induzir a industrializagio, nas regides de nivel econémico mais elevado 6 a propria industriali- zagio que exige a expansio das atividades administrativas, a exem- plo de Séo Paulo Se desenvolvimento industrial impliea 0 fendmeno de concen. fragdo urbana, as atividades administrativas desempenham um plo papel: de um lado, contribuem para a concentragio, de Quano 2 Cotegorias De Cidades Com 05% Ou Mais Da Populacio Brasileira (Numero de cidades © vilas) 10 1000 Geoae (es ae een | ota) ee 22 32° FONTE: Genso Demogrifico da Fundagio IBCE. 8 Pesquisa © Flanejemento Econdmico ‘outro, reforgam miicleos secundirios representados pelas capitals estaduais, Essas capitais so em némero de 27, incluinde Brasilia fe as capitais dos tervitérios, e poderiam servir de base para uma politica de descontralizagdo concentrada, 1 De 1940 a 1970, os “sublirbios” metropolitanos® eresceram de 15% para 50% no total das cidades consideradas. Esse proceso tomou vulto principalmente na década de 60. Em 1970, metade dos centros de 43 © 5: categorias era constitufdo por esses subsir- bios, apesar de se excluirem do conjunto de sulnirbios, cidades satélites tais como Santos, Campinas, Jundiai ou Petrépolis. Essas cidades, embora pertongam a egies motropolitanas maiores, atuam, na realidade, como centros independentes. 4, Relagio com a industrializagio A ovolucao recente do sotor industrial no Brasil caracterizase por uum declinio acentuado na participagio relativa dos setores tradi- cionais (téxtels, produtos alimentares, etc.), gerahnente caracte- rirados por padres locacionais mais dispersos. Em conseqiiéncia, observa-se também uma redugio no nimero de municipios com 0,05% ou mais, do valor da produgio nacional: virios pequenos centros foram retirados desse conjunto enquanto os maiores per- maneceram. No Nordeste, assim como no Sul, uma série de peque- nas localidades que figuravam em 1940, devido 2 suas tecclagens fon a seus frigorificos, desapareceram em 1970, Paralelamente, clevou-se a proporgio dos subdrbios metropolitanos caracterizados como grandes centros industrials (Quadro 3) A expansio de freas metropolitanas, com proliferagio de subsir- Dios industrilizados, ocorreu com maior intensidade na Regis Sudeste, onde se observa maior freqiiéncia de cidades que sobem de categoria. 1 Ver 1. Rodwin, “Metropolitan Policy for Developing Areas", em Regio- nal Economic Plonning, editado por W. Isard e J. H, Cumberland, (Paris: OECD, 1961) 2 Consideram-se “subvixhios" metropoltanos somente os locals que formar sbitat” aurbano quase continue com as dress metropolitanas Concentrazio Urbana no Brasil 419 Quanno 8 Categorias De Municfpios Com 0,055 Ou Mais Do Valor Da Produgio Industrial Brasileira (Niimero de Munictpios) Ccotegras 1 2 3 a 1 2 4 ae nf a}uj 2) as] 5 ° w} sfas] s]as| 5 5 n| a|a/ sj] 6 os || of] 4) or] 8 a wt} 1 js} 13 | o | a5 tora js] 2 few] a» [as] a | mo] a6 FONTES: Censos Tndostrinis © Registro Industrial de 1960 da FIBGE, Caleulando-se 0 coeficiente de comelagio ordinal de Spearman centre as categorias de populago ¢ eatogorias industriais obtém- se 0,58 em 1940 ¢ 1950, 0.57 em 1960 ¢ 0,64 em 1970. Este coefi- ciente indica, portanto, que o nivel de industrializagio explica pouco mais da metade da ordenagio de cidades por tamanho (populagio), mantendo-se estivel no periodo 1940-60 e elevando- se levemente em 1970. Na década de 40 observou-se um ripido crescimento da franja suburbana da cidade de Sio Paulo ¢ em menor escala da do Rio de Janeivo, Paralelamente, um novo conjunto de lugares centrais emergin nas regiées agricolas. Como exemplo desses viltimos, podem ser citados: Goidnia, 0 primeiro centro importante surgido no. Planalto Central, Caxias do Sul, originéria do povoamento curopeu 490 Pesquisa © Planejamonto Eeonsmico no Sul do Brasil ¢ centros nas regides agricolas do setor ocidental do Sudeste brasileiro, tais como Londrina, Presidente Prudente ¢ Aracatuba, E, portanto, natural que 0 indice de correlagio mio se tenha alterado de 1940 para 1950, uma vez que a par da expan- so do setor industrial, ocorren também forte crescimento ligado a0 setor agricola (0 se altera Na década de 50, 0 coeficiente pruticamente Muitos dos antigos Iugares centrais perdem posigio relativa no sistema, tal como Pelotas. Por outro lado, outros centros, através do aumento de suas fungdes terciérias, ou ainda pela expansio do atividades de beneficiamento de produtos primarios, elevam-se no sistema, Uberkindia é um exemplo. Se, por um lado, © proceso do metropolizacgio ampliou-se, muitos dos subtirbios com altas taxas de crescimento née passavam do cidades-dormitério situadas na periferia de centros tais como Fortaleza e Rio de Janciro, & igualmente importante nessa dltima década, @ implantagio de uma infra-estrutura de transpoztes que determinou o crescimento de certas eidades sem correspondent ‘rescimento industrial das mesmas. Tal fato pode ser observado, por exemplo, ao longo da Rodovia Rio-Bahia, com aparecimento de Governado: Valadares, Tedfilo Otoni, Vitéria da Conquista ¢ Jequis. Finalmente, de 1960 a 1970, a elevagtio do coeficiente reflete maior associagao entre os processos industrial © urbano, isto 6, uma acentuada concentragdo de populagio e de atividades indus- triais nas regiées metropolitanas. Ao contrério do que comumente ocorre em paises altamente industrializados, 9 caso brasileiro demonstra que as economias em desenvolvimento podem pasar por fases de crescente correlacio fentre crescimento urbano @ localizagdo de atividades industriais nas grandes cidades. Nos paises desenvolvidos, as indtistrias se snultiplicam fora dos limites dos grandes centros, os quais geral- Nos paises em desenvolvimento, a expansio econdmica pode-se fazer acompanhar por um proceso do concentragio espacial. Concentrepdo Urbana no Brasil a1 5. Relagio com os transportes Os coeficientes de correlagio entre as categorias de populacio € as categorias de conectividade (posigéo no sistema de transpor- tes) sio mais clevados que no caso anterior. Ao contrério do observadlo no sistema industrial, 0s subiirbios metropolitanos no alcangam posigio elevada no sistema de transportes (Quadro 4). Quanno 4 Categorias de cidades segundo a conectividade (Niimero de cidades ¢ vilas) Sabirbios Metropol 2 E we 2| reared 2s 2 vf =] a) = 3s 4 a} ost - foul - 4a 9 v| oa | | - 5A 6 1} a} oa] asf a 6s 9 of} ao} 1] a] 2 om 6 2 | so] a | 4] 43 won | w Se fae ee fe FONTE: Pesquisa Original Sobre Sistemas do Transporte (PUC/R). Em 1940, © coeficiente foi de 0463, passon a 0,57 em 1950, a 0,88 em 1960 ¢ a 0,90 em 1970. Embora o coeficiente de 1940 nao seja elevado, & ainda superior a0 obtido na corzelagio com 0 process industrial. Nessa década, © sistema urbano apresentava 0 seguinte quadro: das 60 vidades ‘componentes do sistema, 19 eram capitais politico-administrativas, Com excessio da cidade de Santos, todas as cidades que compu- sham as 4 primeiras categorias cram capitais. Aponas 2 das capitais figuravam na viltima categoria ¢ 6 na peniiltima; estavam ausentes 432 Pesquisa © Plancjemento Econdmico do sistema apenas as capitais dos Estados de Mato Grosso e Gots © Brasil na década de 40 podia ser considerado como um “arqui- ‘pélago econdmico”, caracterizando-se por ligagdes dificeis entre fos grandes centros nas varias macrorregides. Além das capitais, alguns entroncamentes ferroviirios no Sudeste ¢ no Sul, cidades que tiveram seu erescimento vineulado a esse meio de transporte, © 05 centros portuirios, formavam outro grupo expressive. Por exemplo, Santa Maria, Ponta Grossa, Pelotas, Rio Grande, Campo Grande, Santos e outras [As metrépoles regionais, ou seja, us maiores cidades do sistema, cencontravam-se isoladas umas das ontras, algumas cercadas por centros de baixa categoria, enquanto outras formavam verdadeiros niicleos isolados De 1940 a 1950, comega a expansio metropolitana, sem, entre- tanto, que os subiirhios em erescimento ultrapassem a dimensio das capitais regionais. Surgem, no interior, cidades que refletem 2 expansio de fungdes centrais Zgadas diretamente Ais atividades agricolas. Por sua ver, os centros associados especialmente & fun- ‘ga0 de entroncamento ferrovidrio ou de porto nio apresentam maior dinamismo. A maior parte das novas eidades do sistema encontrava-se loca- .da n0 chamado Sudeste Ocidental, ou seja, a area de influéncia direta da capital paulista. A esteuturagio da regito de Sio Paulo fortalecia-se, embora as cidades dessa regio ainda nfo alcangas- ‘sem categorias muito clevadas. A integragio territorial do Pais através do transporte rodoviério € aéreo encontrava-se ainda no inicio, Nessas condigées, a infraestrutura econdmiea ainda niio possi nto entre as grandes metrépoles regionais, Neste mesmo periodo surge Goidnia.’ Esse conjunto ‘de fatores explica, certamente, 0 ligeiro declinio do coeficiente de correlagio para a primeira década 5 sto & passa a pestencer ao sistema de centros de 005%, ox mais, da populaio nacional Concentragdo Urbana no Brasil 295 periodo 1950-60 corresponde ao deseneadeamento de impor- tanto fase da industrializagio brasileira © & intensificagao dos investimentos em infraestrutura de transporte, especialmente no setor rodovidrio, Em extensées de tersitério anteriormente vazias surgem alinhamentos de centros, como a0 longo da Rio-Bahia. A brusea elevagio do coeficiente reflete o fato de que nas areas mais densas em populagio e atividade econdmica, isto & em tomo das metropoles nacionais, onde também existe um maior mimero de cidades © de conexdes, um conjunto de centros urbanos atinge categoria superior ou fgual & das capitais ithadas em regides atra- sadas. Nas regides mais desenvolvidas eshoga-se de maneira nitida um gradiente onde as categorias de cidade declinam & medida que aumenta a distincia da grande metrépole. A ordenagio das cidades quanto & populagio ajusta-se dis: tincia das metrépoles e a0 erescimento da rede’ de transportes. Mais uma ver, 0 coeficiente de correlagio & mais elevado do quo no caso de associagio com a atividade industrial ‘Ao se alargarem as regides metropolitanas, suas cidades nao s6 comecam a superar a dimensio dos antigos ¢ grandes centros regiouais, mas também passam a ser melhor servidas por vias de transportes. As melz6poles regionais estreitam suas relagdes atra- vés da rede troneal. Por outro lado, os antigos centros ferrovisrios, fou portos, que passaram a contar com modemas rodovias ¢/ou que agregam novas fungées, voltam a elevar-se na hierarquia urba- nna, como € 0 caso de Vitoria, Santa Maria, Ponta Grossa e outros, Alguns novos ceatros que passaram a figurar no sistema em 1960 tomam-se entroncamentos ferroviérios, como Montes Claros, Marin- gi, Andpolis, Corumb§. Outras cidades, como Blumenau e J ville, que se incorporararn ao sistema, superam o papel de simples lugares centrais ¢ tomam-se importantes centros industriais. Na realidade, esta ascensio se deveu fundamentalmente & sua melhor acossibilidade por vias terrestres, permitindo 0 alargamento do mercado para seus produtes, Bsse conjunto de fatos expliea a ele- fe, de 1960 a 1970, em mais de 4%, atingindo a Fosquisa © Flancjemento Econdmico Recordemos, & vista do que foi dito na segéo anterior que, nesse periodo, ocorre um aumento da correlagio entre indistria © popu- agio urbana. Estando o sistema mais ordevado quanto @ gradien tus que relacionam densidades, dimensbes de cidades conexdes, observase, além do fendmeno de industrializagio das regides metropolitanas, a foomagio de gradientes de industralizagio, segundo os quais o grau de industrializagdo se reduz com 0 aumento de distincia da metrépole, em especial no Estado de Si0 Paulo. 6. Aspectos regionais Os Quadros 5 eG apresentam a distribuigio das cidades integran- tes do sistema urbano em 1940 e 1970, segundo as macrorregives. ‘A participagio da Amazinia e do Centro-Oeste na populagio brasileira cresceu de 66% em 1940 para 93 em 1970. No mesmo periodo, o mimero de eidades concentrando 0,05, ou mais da popu- Jaco bresileira aumentou de 58 para 8% Excluindo-se as locali- dades suburbanas, esta participagio passa de 68 em 1040 para 9.5% em 1970, Enquanto isto, o Nordeste declina de 35.0% para 30,9% no que diz respeito A populagio total, tendo sido ainda mais acentuada sua perda quanto 4 partic no sistema _urbano, Considerando-se todas as localidades, 0 deeréscimo foi de 233% para 193%, Excluindo-so as cidades suburbanas, porém, obtém-se 26% © 20,9%. Em outras palavras, se a migragao de nordestinos con tribui para a urbanizagéo, esta contribuigio se dirige para cidades situadas fora da macrorregiao, on para algumas poucas metrépoles ineluindo subsirbios de Recife © Fortaleza, io Sudeste, encontram-se cidades em todas as catego rias, 0 que evidencia um sistema urbano mais evoluido, O Sudeste manteve sua posigio quanto As cidades com G05, ou mais, da populacéo total, passando de 55% em 1940 a 546% em 1070. Excluindo-se os subsirbios, essa rolagio passa para 45% ¢ 47,08 © crescimento metropolitano ocorre essencialmente nessa regiio, Finalmente, a Regiio Sul participa do mimero de cidades com 16.6% om 1940 ¢ 18% em 1970, clevando-so para 20% e 21,9% quando exclufdos os. subtirbios metropolitanos. Concentragéo Urbana no Brasil 435 Distribuicéo das cidudes e vilas por categorias e segundo grandes regiées ~ 1940 (Ntimero de cidades) Tom [wer | wom | wan [ven | Tomn [area | as car. | sompean9y souppqag mg W10L soueyodonoyy Songun 8g aio. sowaqpeon ey, soe es ws "WLoL souenqodoneyy sorgngins 9s ‘van Ssousigodoneyy sorgmnang tg vio. someodone ny sorqnges Ung WI0L sourodon yy Sonos, 3s Amazinia € 3 3 a 10 3 4 ey 10 Centro-Oeste Nordeste Sudeste Sal FONTE: Censo Demogrifico, IBGE. es CAT. | 72 GAT. (Nimero de cidades) Distribuiggdo das cidades ¢ vilas por categorias ¢ segundo grandes regides - 1970 sourygedonayy sorqangns 0s "WioL [re nWI0L sousigodaneyy "WIL 10 B soungodonayy sorqangns aps soxqanqeg (9S sousyqodaneyy avioL. Win sosgangns m9$ sou edonoyy AWIOL soueodongy sorgaagns aS Wio1. ee ec sores, ues sourgodonyy sorgmngns es sounqodoneyy songapK Ns OS Centro-Oeste Nordeste Sudeste Sol Amarénia 6 [380 [sas =fal >| FONTE: Genco Demogrifico, IBGE, 7. Conelusio ‘Uma ripida comparagio da situagio de 1970 com a de 1940 evi- dencia as importantes. trimsformagées ocoridas Dois movimentos simultineos © aparentemente contraditérios se desenrolaram: concentragao do fendmeno urbano em determinados espagos gcogrificos ¢ difusio de pontos de concentragio da popus Jado urbana através do Pais. Estes movimentos sio apenas apa- entemente contraditérios, uma vez que, na realidade, fazem parte de um mesmo processo geral, onde o primeiro 6 ligado a indus- trializagio © se impde hierarquicamente ao segundo. Dentro do processo geral distinguem-se trés aspectos. © pri- meiro refere-se & industrislizagio, responsivel por tendéncias de concentracéo, @ que teria conduzido o Pals a formas de organiza- io espacial mais préximas do modelo néicleo-periferia. Realmente, a nivel nacional, 0 grosso da atividade industrial se localizou na regio metropolitana de Sio Paulo ¢ uma fragéo aprecidivel na do Rio de Janeiro. A nivel regional, em cada macro:- egido 0 crescimento industrial tendeu igualmente a se concentrar xa respectiva drea metropolitana, Nas regides metropolitanas hou- ve um erescimento relativamente maior 10 mimero de novos cen- ‘ros ¢ foi mais acentuada a elevagio das cidades em categoria ‘Ao se industralizarom, diversas localidades suburbanas de admi- nistragéo municipal autbnoma passam a se constituir em cidades mais populosas do que praticamente qualquer outra da area de influéncia da respectiva metrépole. Principalmente no caso de Sio Peulo, a expansio industrial ao Tongo de eixos que partem da metrépole confere As cidades médias mais préximas um grau de industrializagio relativamente alto. Deste modo, tendo a metrépole como foco, formam-se gradientes de cidades (quanto & populagio e grau de industrislizagao). Esse fato tem sido observado especialmente no Estado de Sio Paulo, © processo industrial conduz & formacio, em certas dreas do Pafs, de um sistema urbano mais integrado, Este quadro contrasta com. © panorama dos anos 40, de grandes cidades ilhadas em um espago es Pesquisa & Planejamento Econdmico de pequenos centros urbanos. Fm 1970, virias eidades integrantes do Grande Rio © Grande Sao Paulo possuem dimensio maior que a de diversas capitais estaduais menos industrializadas, Envolvendo cidades médias de regides metropolitanas ¢ de suas proximidades, a industrializagao explica em parte o fato de que 0 miimero de cidades de 52 categoria (maximo de 100 mil habitantes em 1910 © de 280 mil em 1970) passou de 2 em 1940 para 11 em 1970. Campinas elevou-se de 48 ca- tegoria em 1950 para 6" em 1970. Juiz de Fora atinge 2 5S. O principal eixo de expansio urbano-industrial se loca- liza da capital paulista para 0 norveste, na diregio de Riv beitio Preto (5. categoria) e Sio José do Rio Preto. Ri- io Preto, em 1970, continua sendo a cidade interiorana, sem fungées de capital ¢ distante da regiio metropolitana, mais, desenvolvida do Pais. Ribeirio Preto encontra-se na fase de tran- sigo de lugar central para um centro com atividades industeiais bastante significatives, No Vale do Paraiba, diversos centros.pas- saram de 7#* para 6 categoria no ultimo decénio. Caxias do Sul, préxima & regio metropolitana de Porto Alegre, que no figurava no sistema em 1940, jf em 1970 aparece na 6.* categoria. Em con- traste, cidades médias nao atingidas pela industrializagio no se elevam de categoria, como nos casos de Campos ¢ Pelotas. Sob a designagio de metropolizagio ha duas formas a distinguir. A primeira refere-se organizagio de aglomeragio de cidades segundo uma estratura mais complexa, dotada de importantes ati- vidades industriais ¢ com centros de fungdes especializadas, A rea formada pelo micleo principal e subsirbios industrializados, juntam-se satélites, jgualmente industrializados, tendendo & forma- gio de verdadeita regito urbanizada e industrilizada. © modelo € a regiio formada em tomo da cidade de Séo Paulo, em cujo interior se organizam aglomeracées metropolitanas secundarias, em. torno de Santos © Campinas ‘A segunda forma se refere & expansio de grandes capitais rogto- ais pelos municipios vizinhos, que passam a funcionar como subiirbios sem industralizagio significativa, como € 0 easo de For- taleza o Belém, Estas s20 primate-cities em suas respectivas rogioes, Concentragdo Urbona no Brasil 439 ¢ formam a sua volta uma aglomeragio metropolitana, sem alcan- ‘gar uma estrutura de contetido regional. Também em Brasflia observa-se uma aglomerigio metropolitana, onde prevalecem ati dades tereidrias © fungées residenciais, embora sem formar uma estrutura regional-urbano industrial. A partir das regides metropotitanas, delineiam-se eixos de cida- des com posigio relativamente alta no sistema urbano, J& foram mencionados os de Sio Paulo a Ribeirio Preto ¢ do Vale do Parai- ba, Existe ainda 0 eixo do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, pas- sando por Juiz de Fora, e 0 eixo Belo Horizonte-Vit6ria, com a aglomeragéo composta de Coronel Fabriciano-Itatinga e Gover- nador Valadares. Porém, em virtude da concentragao metropol tana, essas cidades ao longo dos eixos nfo despontam como centros de maior autonomia ccondmica. Outro aspecto rofero-se A fungio de capital estadual. Esta fungao alcanga novo dinamismo & medida que 2s cidades tornam-se centros de planejamento nacional e regional. No periodo 1960-70, 7 capitais sobem de categoria; em 1970, & excessio de Cuiabé e da capital do Acre (esta ainda ausente do sistema), todas as demais situam-se cima da sexta categoria, ‘A expansio de cidades-capitais ¢ @ metropolizagio infhuiram, portanto, para que em 1970 howvesse 9 cidades contendo cada ‘uma 051% ou mais, da populagio brasileira, em vez de somente 4 em 1940, Desa maneira, essas cidades constituem um elemento de importincia no contexto de uma politica de descentralizagio concentrada, Finalmente, cabe destacar a evolugio de lugares centrais nas regioes agricolas, especialmente aquelas dotadas de indistrias de ‘consumo local ou de beneficiamento de produtos agricolas. As fungées terciérias sio as que mais contribuem para a melhor dis- tuibuigao espacial do sistema urbano através da multiplicagio de pequenos centros, © que, em outros termos, significa ocupagio do espago nacional A atual politica de interiorizagio do processo de povoamento, com a extensio de novas reas agricolas, parece tentar reproduzir 480 Pesquisa © Plonejemento Econdmico ‘a experincia passada quando a colonizagio fez surgir constela- des de lugares centrais de certa importincia no planalto ocidental ppaulista, no norte do Parané, no sul do Brasil, muitos dotados de cesta capacidade de industrializar-se. O argumento consiste em Promover novos centros urbanos nas novas areas de colonizacao, fem oposigio & excessiva concentragio metropolitana que vem recentemente se acentuando, Existe, porém, a necessidade de ‘se pesquisar as diferentes formas de expansio das fronteiras agri ‘colas, assim como explicar 0 surgimento de uma classe média rural fe urbana, © como essa classe atua no sentido de alimentar o cres- cimento do sistema. Um aspecto digno de ser considerado diz respeito as cidades médias © iédiograndes, relativamente afastadas das grandes metrépoles. Como frisamos anteriormente, virias destas cidades conseguiram clevar-se do categoria © talvez pudessem servir de polos industriais de uma politica de interiorizagéo. Concentragdo Urbana no Brasil 4s

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