You are on page 1of 37
Israel Pedrosa O Universo da COR — ‘senac on ‘Sie dimcede Senae ~ Servigo Nacional de Aprendizagem Comercial Presidente do Conselho National: Antonio Oliveira Santos Diretar-Geral do Departarnento Nacional: Sidney Cunha Diretora de Diviséo de Administiagao e Recursos Humanos: Vera Espino Conselho Editorial: Marcio Medsiha Trigueiros Vere Espirito Eladio Asensi Prado Luiz Carios Santa Rosa Léa Vivairos de Castro Marla Pessoa Ecitor: Manila Pessoa (mpessoa@senac.br) Coordenagio de Pradugao Editorial: Sonia Kritz soniakritz@senac..br) Supeniséo Editorial: Rose Zuanett Projete Gratico, Replicas, llustragoes, Arte e Capa: /srae! Pedrosa Fotografias: Luia Rodrigues @ Samille Rodrigues Rois Digitalizagdo e Tratemento de Imagem: Marcas Paz Revise: Hose Zuanetti e Selma Monteiro Corel Produgéo Grafica: Adri¢ne Abbade Atandimenio 90 Cliente: Sidnw Angola P Siva (atendimentocpmi@senac.br) PEDROSA, Israel. O Universo da Cor. Rio de Jansira: Senac Naconal, 2008, 160 p. Il, ISBN 85-7458-126-7 Cor; Aspecto Histérico; Optica; Arte; Pintura; Teoria das Cores. Fiena elsborada de acordo com-as notmas do SICS - Sistema de Informagio © Conhecimento do Senac ‘Senac Nacional ‘Ay, Aynon Senn, CEP 22775.004 - Ro de Janeiro ~ RJ Tel: (21) 2136-6545, E-mail: cpmi@senac. br Home pane: www. senac.br reservados a0 Dat ne ce ov ttmios a lel. epodugho total ou Ameu filho Ulianov, Poucos dias depois, escreve ele a Théo: “Presentemente, minha paleta esta comegando a degelar. a esterilidade do ini- cio desapareceu” Na carta seguinte, ainda em novembro, ele faz a célebre confissao: “No momento, meu espirito esta inteiramente to- mado pelas lels das cores. Ah, se elas nos tivessem sido ensinadas em nossa juventude!” Os meses que se seguem sao para Van Gogh de alucina das e febricitantes investidas nos dominios da cor. Quase um ano depois, em carta de Paris, no verdo ou ou- tono de 1886, dirigida ao pintor inglés H.M. Levens, que conhe- cera em Auvers, Van Gogh declara: *... Estou pintando uma série de estudos de cor, simplesmente flores, papoulas verme- has, azulados migsduis, roses brancas e rosadas, crisantemos amarelos; buscando as oposig6es de azul com laranja, de ver- metho com verde, do amarelo com o violeta, procurando os tons rompidos e neutros para harmonizar a brutalidade dos ex- tremos, ensaiando tornar as cores intensas, e ndo uma harmo- nia em cinza. (...) Em suma, como dizfamos antigamente, ‘na ot procurando a vida’ As réplicas de obras dos grandes mestres da pintura universal, feitas por mim, que aparecem aqui publicadas pela primeira Vez, destinam-se a ilustrar o livro de minha autoria, ‘em preparo, intitulado Dez eulas magistrais. Esse termo pro- cura traduzir @ magisiralidade dos ensinamentos a humanida- de ministrados pelos dez artistas que inspiraram o texto. Nesta oportunidade, agradego ao Conselho Editorial da Editors Senac Nacional 0 ensejo de ditigit-me aos artesos, artistas, professores © alunos, em especial aos do Senac, fa- zendo deste livro uma espécie de eétedra, de tribuna, de pul- pito e ~ por que nao dizer ~ de confessionario privilegiado. O que é cor? Acor nao tem existéncia material. Ela é, tao-somente, uma sensagao provocada pela agao da luz sobre 0 drgao da visao. Epicuro, ha mais de 2.900 anos, desenvolvendo o racio cinio de que “a cor guarda intima relagdo com a luz, uma ver que. quando falta luz, no ha cor”, afirmaria que a colorado dos objetos varia de acordo com a luz que os ilumina, con- cluindo que “os corpos no tém cor em si mesmos” Hoje, a Optica, parte da Fisica que trata das proprieda- des da luz @ da visio, apoiada pela Optica fisiologica, de- monstra que, quando a luz atrevessa a pupile © 0 cristalino, atingindo os cones que compéem a fovea @ a macula da re- tina no fundo do olho, é por estes decomposia nos trés gru- pos de comprimento de onda que caracterizam as cores-luz: QS Alu: éoestimulo 2 cee Uz A.sansagio 69 bor Haste 1 ~ Ro stingir © cortex occipital, na parte posterior do core: bro, a8 ateiton da luz provacam 9 xensncho de cor 9 RADIACAO SOLAR ¥ t 3 recieconan tt 2 ~ Da imensa area de radiacdo solar a vista humana aleanca ‘epenas diminuta faixa compreendida entre os raios infravermelhos e os uitravioleta evjos limites extremos s30, de um iado, 0 vetmelho com 700 my (milimicrons), @, do outro, @ violeta com cerca de 400 mu de compri: manto de anca vermetho, verde e azul-violetado, cor esta cuja melhor deno- minagao, em portugues, é Indigo. © resultado dessa decomposigao e de suas infinites pos sibilidades de misturas é transmitide pelo nervo dptico e pelas vias Opticas ao cortex occipital, situado na parte posterior do cérebro, onde se processa a sensagao cromética (i/ustr. 1 e 2). Em linguagem corrente, a palavra cor tanto designaa sen- sagao cromatica, como o estimulo (a luz direta ou o pigmento capaz de reilett-la) que a provoca, Mas, a rigor, esse estimulo denomina-se matiz, ¢ a sensagéo provecada por ele é que recebe 0 nome de cor. Numa histéria de mais de 3 milhdes de anos, desde as primeiras manifestagées de atividade humana até bem pré- ximo de nés, o homem descobriu e manipulou a core, em 20 Must. 3 - Frise dos roures. Gruta de Lascaux. Dordogne, Franga Copia de detalhe da parte asquerda do friso, Acervo do autor. crescente sentido evolutivo, tornou-a o mais extraordinario meio de projegao de sentimentos, conhecimentos, magia e encan: tamento. Ragistro de sua evolugao social, fisica @ psiquic Mas, tal como seu ancestral do Paleolitico Inferior. nao podia ainda definir com preciséo 0 que era a cor. Essa precisdo conceptual sé surgiria com a evolugao @ a conjugagao de varies elementos da Optics fisica, da Optica qui mica e da Optica fisiologica, a partir de meacos do século XIX A nogao dos primordios da utilizagao da cor na realizagao artistica, 8 organizagio de pariodes © estilos da Arte do Paleolitico Superior devem-se ao pré-historiador e eclesiastico francés Henri Breuil (1877-1961) Quase solitério, durante cingtenta anos, Breuil estudou 40 milénios de Arte do Paleolitico Superior. Em pesquisas de campo nos santuérios paleoliticos da Africa do Sul, Espanha ¢ Frange, e em trabalhos de gabinete, procurou determinar os: fundamentos das obras. das intengdes dos artistas @ @ sik cessao de estilos do periodo. Seu livro, Quatrocentos séculos de arte parietal (962), abriu novos caminhos ao estudo da evolugao da Arte @ do psiquismo humano, a Paleontologia, Seu nome ficara para sempre ligado @ desco- berts do Homem da Lagoa Santa e das grutas da serra do Espinhaco, especialmente a de Maquiné Mais ricos em elementos de estudos sobre origens e ves- tigios do emprego da cor por nossos Indios foram os traba- Ihos do naturalista suigo Emilio Augusto Goeldi (1859-1917). Os materiais colhidos por ele, existentes no Museu que leva 0 seu nome, no Para, bem como seus livros Resultados ornitoldgicos de uma viagem de naturalista 4 costa da Guiana meridional, As aves do Brasil e Album das aves amazénicas trazem importantes subsidios para 0 estudo do universo da arte plumaria de nossos indios. Sob esse aspecto da arte indigena, merece destaque es- pacial 0 livro Arte pluméria dos indios Kaapor’, do antropétogo. escritor e politica mineiro Darcy Ribeiro (1922-1997), que abor- da ainda outro aspecto fecundo da arte indigena brasileira, 0 dos padrées geométricos, no livre Kadiwéu — Ensaios emolégicos sobre 0 saber, oazar ea beleza Em sensivel estudo intitulado Abstracao na arte dos indios brasiieiros, Antonio Bento (de Aratijo Lima}(1902-1988), um dos pioneiros da critica de arte regular no Brasil, langa noves luzes sobre 6 riquissimo filao de nossas raizes esteticas. A natureza das cores Os efeitos luminosos, constituidos por radiagées eletro- magnéticas, capazes de provocar a sensagéo que denomina- mos cor, dividem-se em trés grupos distintos, Sao eles: o das. cores-luz, 0 das cores-pigmento opacas © 0 des cores pigmento transparentes. Mesmo tendo a luz como origem comum, es- ses estimulos constituem espécies diferentes, ‘Além da luz solar, o homem moderno manipula ainda ind- meras outras luzes produzidas por ele. Mas nada se compara 80 espetaculo de forga e baleza do colorido da natureza pro- vocado pela luz solar incidente sobre os elementos fisicos @ quimicos, no interior da atmosfers terresire, por efeitos de ab- sorgao, dispersao, reflexao e refragao Desde a Antiquidade esses fendmenos vém sendo estu- dados por fildsofos e artistas, acumulando observaciese con- sideragoes valiosas. JA mais perto de nés, o humanista, posta. matematica, arquiteto @ pintor Leon Battista Alberti (1404-1472), que, com seus tratados sobre Arquitetura, Pintura © Escultura, tornara~ se 0 primeira tedrico das artes do Renascimento, defini vermelho, 0 verde e o azul como sendo as cores fundamentals” que dao origem a todas as outras, Alguns séculos depois, essa triade de Alberti seria consi grada pela Fisica:modera. $6 que. para reveranciar 0 principio. dos quatro elementos da natureza, Alberti incluira o cinza (mis. tura do branco com © preto}, que @ rigor nao ¢ cor, para com pletaro quarteto: vermetho, cor do fogo: verde, da égua; azul, da terra. A formulagao de cores fundamentais ou primarias jé con- do ar; cinza tinha em si a idéia de sintese cromatica, aprofundando ob- servagées € conceitos milenates referentes aos intrigantes fendmenos do arco.iris, das reflexdes e refracdes da luz pro: duzidos por superficies ou corpos transparentes, transl dos e laminas delgadas gordurosas sobre as aguas. No mais importante conjunto de meditagoes, formula- gOes e preceitos sobre Arte de todos os tempos, O tratado de pintura, © pioneiro criador da Teoria das Cores, 0 mais sublime ertista da Alta Renaseenga, pintor, jentista, hum Vinci (1462-1519), de quem voltaremos a falar mais a frente de forma ultor, enge- Mheiro, ¢ sta, filésofo @ escritor, Leonardo da demonstra experimentalmente, pela primeira v cabal, a composigao da luz branca Completando atirmagoes, ditas de que “o branco nao € uma cor, mas sim a poréncia receptiva circunstancias, m varias de toda cor”, Leonardo teoriza: "O corpo sombrio (o que nao tem luz, em oposicao ao corpo luminoso), colocado entre as paredes proximas de um lugar escuro, que esta iluminado de um lado pelo esplendor de uma vele @ do outro por um peque no respiro de ar, serd branco; entao esse corpo se mostrara de um lado amarelo @ do outro azuiado..." (ifustr. 7) Ao revitalizar as idéias de Aristarco de Samos (c, 310-c. 220 a.C.) ¢ Nicolau de Cusa (1401-1464), 0 astronomo polo nés Nicolau Copérnico (1473 1543) abria as portas da Revolu 80 Cientifica as mais avancadas concepgdes refersntes acor Nessa perspectiva, Galileo Galilei, dito Galileu (1564-1642) afitmaria com conviccao p }0 haver fora dos sentidos huma: nos nem odor, sabor, som, nem cor, prepai indo o terreno para Composicgao da luz branca _ 7 - Leonardo da Vinci obseryou que, quando 0 alo de lu duns (ala stuleae) peasita ura @ envalve por um lado 0 corpo paca, que 4 lluminado do autto tadi pela luz de uma vela {amerelo-alaranjado), ali onde as duas luze fustr, 8 Ao tazer as cores do espactro solar ssicdas de um priama atravessarem um segundo prisma invertido. recompo! juz branca, Original, Newton damonstrou qué as cores eram propriedade ax luz € NBG dos corpos relratores. como: se acreditava anteriarmey user 88 — Creuio de preportbes de sombras, de Leonardo da Vinci disco de Newton, On grave de retragho ddos alos luminowiox que compen a liz ae banca nao so iguals. Detoctanda a ¢iferenga do seus porcentualn, Newton rou 0 clegulo (ou disco} das sete cores do eapectro slvr (yermatho, 80° 4b 4", lucanja, 34° 10° 36°; amalo, 84” 41° 1 wore, 6O" 4B’ 34%; azul, 54% 4) a anil, 4° 10" SH", viclova, 00" 46° 94°) 7 que 0 filésofo © matematico francés René Descartes (1596- 1650) inaugurasse novo patamar para a discussao sobre cor, a0 defini-la apenas como sensagao Apoiado em conceitos da Diéptrica (1610), de Kepler, nos trabalhos do sablo holandés Villebrord Snell, a quem se atri- buia descoberta das leis da refragéo, juntamente com Des- cartes, Isaac Newton (1642-1727), matemético e astrdnomo inglés. lanca em 1704 seu Optica. livro fundamental para compreensao da cor Como método de investigagéo, Newton cercava por to- dos os lados 0 objeto em andlise, virando-o pelo avesso. O jebre episodio da macé revela que mais importante do que a constatacdo de que a maga calra para baixo a indagagao feite a si mesmo: - Por que ela ndo caiu para cima? Dai tirou a luminosa formulagao de que “os corpos se atraem na tazao direta das massas”, fazendo saltar 0 dado particular para a estera da transcendéncia universal Na ordem de raciocinio de seu processo de investigacao, 6 possivel que, para a representagao gréfica de Juz contendo todos 0s matizes do espectro, Newton tenha se inspirado nos desenhos circulares, de Leonardo da Vinci, contendo os per- centuais das sombras a auséncia total de claridade observa- dos na natureza, substituindo tais percentuais pelos indices de tefragao dos raios |uminosos. Seria, do ponto de vista grafico, apenas.a inverséo da sombra pela luz (ilustr 8, 92 € 9b). Trés triades de cores primarias Cores-luz 880.48 que provém de uma fonte luminose dire- ta, estudadas mais detidamente na érea da Fisica, com vasto emprego na sociedade contemporanea, Sao elas que ilumi- fam as nossas vidas, como @ luz do sol, a de uma vela, ade uma lmpada ou a de uma descarga eletrica. Sua triade pri maria 6 constituids pelo verme/ho, verde e.azul-violetada, 8 Muste. 10 ~ Cores-luz primar malho, verde © azuc-violetado, Por lonominada aditiva, esas cares produzem 0 branco, Muste. 11 ~ Cores-plgmento op jas: vermelha, amarelo # cores produzem © preto Wat: 12° Caras piginente tes parentes primarias: magenta, amare fo @ clano Em sintese subtativa, tar bam produzem 0 preto ‘A demonstragao teorica © a su estéo pera incluir esta triade prima: fia de cores 80 lado das duas autres | consagradas foram feitas. publics- mente pela primeira voz por Isr Pedrosa, om 1956, pars urn grupo de professores e alunos da USP em po Ipatre organizadia pelo tinico.w critica dy ante Mario Sehenborg, 29 Em mistura dptica equilibrada, tomadas duas a duas essas cores produzem as secundarias: magenta, produzida pela mistura do vermelho com o azul-violetado. O amarelo mistura do vermelho com o verde. O ciano, mistura do verde com 0 azul-violetado. © amarelo em cor-luz ¢ cor secundaria, $6 obtido pele mistura do vermelho com 0 verde, ao contrarlo de que ocorre nas cor jigmento, em que ele 6 cor primaria, indecomponi. vel. $6 € obtido por ele mesmo A mistura proporcional das cores-luz produz o branco, em sintese denominada aditiva (i/ustr. 10) Cores-pigmento opacas sao as cores de superticie de determinadas matérias quimicas, produzidas pela proprieda- de dessas matérias em absorver, refletir ou refratar os raios luminosos incidontes. Sua tiade primaria é composta pelo vermelho, amarelo @ azul, cores que em mistura proporcional produzem um cinza neutro escuro, 0 preto, Esse fendmeno é denominado sintese subtrativa ilustr 17 @ 13) Cores-pigmento ransparentes s8o as cores de superficie produzidas pela propriedade de alguns corpos quimicos de filtrar 05 raios luminososincidentes, por efeitos de absorcao, tefloxdo © transparéncia, tal como ocorre nas aquarelas, nes peliciilas fotograficas e nos processos de impressdo grafica em que as imagens so produzidas por reticulas e por pontos Nos processos computadorizados (ilustr 12) 30 Como surge o preto em sintese subtrativa Musee. 130 musts. 136 muster 136 Maste 194 Mustr, 12 a) A superticie vermetha absorve todos os ralos verdes © aeuls da luz incidente, retletindo para os nossos olhon spenns O8 alos vermalhos b) A superticie verde abrorve on raios varmelhos tubs Feltetindo os verdas. 4) A superficie azu! abssrve os rains varmalhos « ¥ Viando para 08 lassos olhos os azuis 4) © praia. savorverise todos 98 talon lurrinowos, nto, envie anhuma luz para os nopios olhos. Classificagao das cores Segundo a composigdo de suas estruturas, as cores sao classificadas com as seguintes denominagées: Cor primaria ou geratriz 6 cada uma das trés cores inde- componiveis que, misturadas em proporcées variaveis, pro- duzem todas as cores do espectro solar, que dao cor a toda natureza (ilustr. 10, 11, 120 14) Cor secundiria 6 a cor formada pela mistura equilibrada de duas cores primarias fi/ustr. 15). Cor complementar & a designagao dada a cor secund: ria, pelo fato de que ela, justaposta & cor primaria que nao entra em sua composigao, complementa o espectro solar. Pela mesma rezao, uma cor primari, quando justeposta @ seoun- daria, formado pelas outras duas cores primarias, € também denominada complementar. Dessa forma, 0 espectro solar é sintetizado em cada um dos trés pares de cores complementares: laranja-azul, verde- vermelho-e violeta-amarelo (i/ustr. 16). Os exemplos citados aqui sao constituldos por cores-pig- mento opacas, por serem as mais utilizadas pelos artistas e artesdos na realizagdo de suas obras, Quase sempre, com sentido utilitario, nos circulos profis- sionais suigem designagdes apropriadas para as cores, slgu mas delas alcangando foro de validade lingufstica. E 0 caso da designacao de cores quentes e frias, utilizada inicialmente nos ateliés de pintura. Cor quente € a designagao genética empregada para definir @8 cores em que predominam o vermelho e o amarelo. Cor fria por oposigao 8s denominadas quentes, designa as cores em cuja composicao predomina o azul (ilustr. 17) A partir dessa classificacao, surgem as Escalas de cores quentes @ frias. conhecidas como Escalas em Modo Maior & Modo Menor quando analisadas do ponto de vista harnGnico, 32 Nasir. 14 — Cores-pigmento opacas primérias: vermetho, amarele © azul. Mast 18 —0 laranja & @.soma de vermelho com a.amerelo. O vordle 8 soma do amarsio com 0 azul, € 0 violets, ado vormetho com 0 azul Msie. 16 - Pares complementares: laranja-azul, verde-vermmolha @ violeta-omarelo. Em cada Um desses pares, tomado isoladamente, ests contida tods o ridueza do especiro solar a8 eccocece | yn wan masts, 17 - sie cone qtaniane hae, i ibamueate aie 3 escala da vermelhos € amarelos, em comperagio com pareceré quanto parece tric nu varios tons de a: Tomadas separadamente, essas Escalas revelam a parti- cularidade de harmonizagao por tonalidades afins ou da har- monias consonantes, popularmente chamadas combinagao de tom sobre tom {fen sur ton). As questoes relativas ao empre: go de cor s60 tratadas mais adiante, no capitulo em que tra: tamos da harmonizagao de cores. 0 mais completo estudo sobre essas cores foi realizado. por Chevreau, determinando os cantr stes simulténeos, su- cessivos € mistos. Cores fisioldgicas s80 as produzidas pelo organismo hi mano. em condigdes especials, Sob @ agao de determinados estimulos externos ou intemos, clessificadas como cores sub- jetivas. Consideragéés mais detathadas sobre essas cores sao encontrad neste livro, no capitulo em que tratamos do mecanismo da visdo, onde so também abordados os fend: menos das cores patolégicas Caracteristicas da cor No ato perceptivo, distinguem-se trés caracteristicas prin: Gipais que corrospondem aos parimetros bisices da ¢or: Matic — Variedade do comprimento de onda da luz direta bida como vermelho, amarelo, azul ¢ de: Em Jinguagem ov felletida, perc mais resultantes das misturas dessas core MM sir. 18 ~ Matiz, que comuments @ denominaco cor, €-a designa gd0 das coras vermelho, amaraio, azul ¢ suas derivades, lustr: 12 — Vater, luminesidadte ou brilha representemn ¢ indice) de Intensidade luminosa da cor Croma ratere-se eo indice de pureza da cor, dando. oF 188008 varde-puro ov verde vive: amarels-puro ou amarele nse, em oposigéo as designagbes. verdes @ amarvlos.escuros |rebal xaos} @ verdes @ amarolos claros (dessaturados) ‘orrente, a palavra cor € empregada como sinénimo de matie. Em determinados casos, tom é também empregado como substitute de matiz, Em variagao sinonimica, emprega-se 6o- mumente-a expressao tons matizados (ilustr. 18 @ 21) Valor, luminosidade ou brilho ~ Termos utilizados pata designar o indice de |uminosidade da cor (Just. 19 € 21) Croma ~ Relere-se a saturagéo, percebida como intensi dade da cor Estigio em que 0 vermetho apresenta-se mals vermelho, equidistente de azule do amarela; o-amarelo mais amarelo; 0 verde mais verde; o azul mais azul (ilustr. 20 ¢ 21) as = Quando uma cor apresenta alto indice de cromaticidade , comumente, chamada de cor viva Essas caracteristicas correspondem as propriedades in- 8 reveladas em cada cor, guardando certa relagao perceptiva com os corpos em que elas se apresentam. Dai a origem de indmeras designagoes verbais, algumas curiosis- simas, que procuram defini-las, tais como: amarelo-canario, trins verde-abacate, azul-piscina, verde-bandeira, cor oxcitante, cor de cuia, cor de canela, sapoti, alazdo, cor de burro quando foge e inimeras outras. Dentie as curiosidades referentes & nomenclatura da cor, existe aquela @ que se refere Antonio Houaiss, em memoré- vel texto: “Antropdlogos, seres estranhos, esses, por vezes. Pols os ha que slegam que hé povos, ditos primitivos, que saberiam dar nomes a até trés mil cores...” vvYv 4) Matiz ov comprimento de ands b) Luminosigaas ou brio. ¢.ad) Croma ou grau de saturacso da co ¥V? lust. 27 ~ As Tormulagoes de Helmholtz sobre as caracteristices do car. popularizadas pelo Ativs do sisters de cores. Munsell, vim sendo divulgadas no Brasil por duas séiien de llustregses do autor deste livro, A de nimoros 18,198 20.¢ esta. dix nimero 21 36 O atelié do pintor usr. 2 ~ Verner de Dallt. 0 AF ‘Ate da Prturs, ©. 1886-1867. Olea sabre X 119 cm. Kunathistorisches Museum, \ Réplica, 1999-2000. Oleo sobre t 60 om, Atollé do artista A divindade que tem a ciéncia da pintura transforma a mente do pintor em semelhanga da mente diving Leonardo da Vinci Todo processo de pesquisa parte de algum ponto de rete réncia, que se tem como certo, para dadugdes comparativas: de dados semelhantes ou dessemelhantes. A partir dos este dos de Henri Breuil e de outros pré-historiadores, pode-se de- duzir que 9 corpo human foi o primeiro campo experimental da realizagao artistica, com aplicagéo de plumas, pélos, peles © corantes diversos encontrados na natureza. Nos distantes albores do Fa/eolitica, em que, lentamen: te, 0 puro instinto animal foi dando espago a0 nascimento da Intuigao, 6 fazer humano [a trazia em sio gérmen de todas as possibilidades futuras. Em formade enigma, Carlos Drummond 3 infinitesimsis, demonstrando conhecer as limitagoes dos sentidos humanos. Sobretudo para a integragdo des vastes areas do conhecimento que se abriam com a revitalizagao dos primados heliocéntricas de Aristarco de Samos e Nicolau de Cusa Privilegiando © ato de pensar, precede no tempo e ultrapasse em amplitude @ em esséncia 0 célebre “cogito” ¢ a idéie central do Discurso sobre 0 método de Descartes, efirmando: “Se duvidamos de cada coisa que passa pelos sentidos, como ndo duvidar daquolas que sao rebeldes avs referidos sentidos, tais como a esséncia de Deus, a alma 0 outras questées similares sobre as quais eternamente se discute e responde? (...) Diramos, entéo, que ali onde se discute (infinitamente) nao ha verdadeira ciéncia: pois 8 verdade s6 tem um termo, e este, uma vez expresso, destidi oitigio para sempre®”. Leonardo comprova acomposigao da luz branca Com a formulacao enfatica de Leonardo, “O branco nao 6 uma cor, ¢ sim o composto de todas as cores”, a Fisica passa @ integrar definitivamente-o campo experimental da ciéncia da pintura, assim como a Quimica jé o integrava desde seu nascimento. Ao lado do milenar conhecimento referente as cores-bigmento (cores quimicas), abre-se o campo de inves- tigagdes das cores-luz, numa perspectiva que se desdobraré até @ produgao de imagens coloridas do cinema, da fotogra- fia, da televisao @ da computacao grafica. Multo embora jd se conhecesse a propriedade de varios meios retratores @ 0 registro de Séneca, no primeiro século dé nossa era, Sobrea dispersao da luz branca por ums vara de vidro om caneluras, coube a Leonardo da Vinci a primeira comprovagao ‘experimental da composigao de luz brance ‘Ao iluminar-um corpo opaco de um lado, com a luz amareloda de uma vala, e do outro com a luz azulada diva fil orificio, ele percebeu que, na parte em que as dues luzes so mistu: ravam, surgia o branco (ilustr. 7), Essa experiéncia, SRST sem diévida, est8 na origem da agao de Newton que, depois de disper- sar um raio de luz branca com um prisma, reuni novamente as sete cores do espectro por meio de um segundo prisma invertido, obtendo a luz branca original (ust 8). Dessa experiéncia 0 fisico inglés trou varias conclusées sobre grav de refnngéncie das fat xas coloridas, comprovando definitivamente que o apareciniento de cores pela refragdo da luz branca ndo era fruto de propriedade do meio refrator, mas sim propriedade da luz que fore refratada. Luzes originais e derivadas = {Ao definir a iluminagao dos compos, Leonardo diz: “Todos os corpos se revestem de luzes e de sombras. As lures ‘sao de duas naturezas: original e derivada. Original é @ produzida pela chama do fogo, ou pela luz do sol, ou do ar; eorueds 6a luz tefletida’. Dessa forma ele abre caminho a concep¢ao do es- ago renascentista, pleno de cores e imagens refletidas pelos corpos sab a agéo da luzincidente. O que significa dizer tratar- se de um espago aberto a investigacao da Fisica. ‘Mas para a agao pratica do pintor, 0 campo paIenye era © da Quimica, no manuseio de pigmentos, aglutinantes, fixadores e vernizes, na produgao de tintas, ou cores, como 0 geralmente denominadas. = ee aes dentre a infinidade de cores produzidas, existiam apenas quatro cores simples. O amarelo, 0 verde. © azul eo vermelho. "Chamo cores simples aquelas que nao po- dem ser produzidas pela mistura de outras cores”, E adverte que, apesar de 0 branco eo pret nao serem cores verdaceiras {o branco por sera sintese de todas as cores © 0 preto por ser ‘a auséncia da luz), 0 pintor nao pode preseindit deles, por nfo possuit outro meio para conseguir o brilha Intenso da luz ea opp Vermelno verde Azul Amarelo Must 43 ~As quavro cores de Leonardo engi ‘ eonardo engiobavam as trés cores (uz primérias @ as. 188 cares-pigmenta opacas Como Leonardo pesquisava simultaneamente luzes coloridas © cores-pigmento, suas quatro cores simples s40 exatamente as que compdem as duas triades primarias de cores-luz: vermelho, verde e azul e de cores-pigmento vermelho, amarelo'e azul /ilustr, 43). Lanterna magica e sombras coloridas Fascinado pelo universo da luz, Leonardo tenta medir sua intensidade @ cria curioso processo para aferir sua velocida- de, baseado no principio de que todo corpo que se desioca de um ponto a outro se desloca em determinada velocidade, Desenvolve a /anterna mégica, para projeg3o de imagens e sombras, ¢ original processo de manipulagao da luz em ¢a- mara sours. Com auxilio da luz de uma vela e de um raio de luz diurna, explica convincentements o fandmeno das som- bras coloridas, fendmeno que varios séculos depois ainda Continuava intrigando fisicos e artistas que desconheciam as experiéncias leonardianas’’ lustr 44 ~ Filtrada por um oritielo, 8 lar de lumia vela jlumina um, corpo azul, O resultado & {GoM $0 misturéssemos 0 ammarelo ao azul due. juntos, reprodurem um belo verde 2 Relagao dos estagios de luz e sombra e das sombras coloridas com o sfumato Para Leonardo, que dominara o processo de formagao das sombras coloridas, elas continham um arsenal de possibilida- des e mistério que ele poderia ter usado mas néo usou. Isso porque defendia a tese “de que a sombra participa da cor do objeto de acordo com @ menor ou meior distancia, ¢ com 0 grau de luminosidade do mesmo" Nesse nivel de acuidade perceptiva, num paralelismo de conceites e de envolvimento empirico, atento aos estégios da passagem da sombra a luz e da luz 4 sombra, que revelam sempre diferencas de tonalidade do objeto, Leonardo chega a0 império do sfumato, reino onde a técnica ¢ pura sedugao. Perspectiva aérea ‘Apés falar da perspectiva linear, Leonardo define a pers pectiva aérea: "Ha uma perspectiva que se denomina sérea (nome derivado da quantidade de ar que se interpde entre 0 olho e 0 objeto visto) e que, por degradagao dos matizes no ar, toma sensivel a distancia dos objetos... Englobando as duas perspestivas, 8 linear e a aérea, surge a perspectiva pictérica que tem trés partes: a diminuigso quantitativa dos tustr. 45 ~ Para criar a sensacio de disténeiaa variadas, Leonardo fecomends: "Farls sabre 0 referdo muro o primano edificio cam suv cot hatural ©: male distante, iaga-o menos dafioido # mitt paulads (| este ragra fart com qué os adificios que estio na mesma linha » do mesma tamanin ojom poraebidie claramonte, qual o main distante © qual © maior dela” nn ® ® ® 6°e e dor medida que elas se afastam, as mais coloridas perdem cor ficando mais claras. A branca escuroco no sentido da coloragio Wo ar que 4 ehvolve Corpos; a atenuagao de suas cores; a diminuigdo das figu fas e dos contornos a diversas distancias”, Continuando: “A Superficie de todo corpo iluminado participa da cor da luz que 9 ilumina, e também tem a cor do ar que interpde entre 0 olho @ este corpo; quer dizer, a cor do meio transpa- fentetinterposta entre 0 objeto 6 a viste22"/i/ustr. 46) Por efeito da aeracao, “As coisas mais escuras que a érea em que se destacam parecerdo menos escuras 8 proporsao que se distanciam; ea coisa mais clara que a rea em que se desiace pareceré menos clara a medida que se distancia do ole. As coisas mais escuras e a mais clara que a érea em que se projetam, a longa distancia trocam de cor, porque a clara fica mais escura @ a5 escuras tornam-se mais claras”. Essa éa otigem da instigante formulagio de que “o preto ‘ra luz 6 mais claro que o branco na sombre”, frase que ouvl de Portinari, pela primeira vez, em 1942 4 Musi. 47 ~ Iniglando as revelagbos do segredo do colorida, Leonard Toda cor se destaca mais a0 lado de sua cor contratia (complementa’! Contrastes simultaneos de valores e tons Nestes textos seguintes os efeitos da luz e de sombra, ‘ou o claro-escuro, sdo tratados em termos de reciprocidade e de reversibilidade. “Quando o preto faz limite com o branco & o branco com 0 preto, cada um parece mais intenso no limite sua propria rea com seu contrario que na parte do meio de. Falando da poténcia da imagem, aconselha: “O fundo deve contrastar com a figura: isto é: @ clara no fundo escuro ea escura, no claro, o branco.com 0 preto € 0 preto com 0 branc parecem mais potentes, um em relagao ao outro, @, assim, os contrérios mostram-se sempre mais potentes em presenga um do outro” ilustr. 47 2 48) F Tecendo consideragoes que revelam elementos: de har tara maior monia, Leonardo diz: “Dentre cores iguais, sprese 2 40 lado de sua cor contraria: 0 azul beloza a que se encont “ ao lado do amarelo-dourado eo verde ao lado do vermetho fst 48 ~ Leonardo ensira: "Quando ¢ preto faz limite cam 9 bran € 0 branco com © prete, cada um parece mais intense no ti 1 conttério que na parte do meio de sua propria érea’ 1S O aprendizado do olhar Ao Dr. Adalmir M. Dantas A paleta de um pintor nao significa nada. E seu otho que faz tudo Renoir Todos os nossos conhecimentos Sie da RATUR BET RUNATCHE procedem das sensagdes! Leonardo da Vine) A partir da formulagao de Goethe: “de que vale olha ver?", difundiu-se a caracterizacao da diferenga entre olhar ver. Esse conceito, que desde a Antiguidade era patrimnio de artistas e filésofos, passou a integrar 0 yocabulario das demais pessoas ilustredas. Mesmo assim persistiu, como ainda porsiste, nitida dife renga entre 0 conhecimento do conceito @ capacidade de transformar 9 ato do olhar em dado perspectivo integral ecimentos trazido pelas modemnas ja © da Psicologia nao alterou qua: a qualidade per Todo 0 arsenal de con! areas da Fisica, da Fisiol litativamente 0 ato perceptive do olhan Ess ceptiva que transforma o olhar em ver continua sendo de todos aqueles que exercitam patrimdnio dos pintor continuamente a perserutagao visual munidos de determina: dos dados cognitivos que ampliam a elicacia de tol exercicio Mstr. 71 ~ Escala de cores da PANTONE* 102 103 Nasty. 72 - Esquervatizardo da retina humana. Ao centio esti a foves rotiniana (azul, amarsia, vormelho @ verde), senaivel aa cores. A sue volla 0s bastonetes, responsdvels pela visdo em preto-ebranco, O pe: culo branco central coriespende 4 locallzagao do nervo aptico, Avisao humana Nossos olhos abrangem uma rea pouca inferior a 189° ao redor de nosso corpo. Na parte da frente de nosso olho encon- tre-s® a Iris, que funciona como diafragma, limitando os raios luminosos que penetram em seu interior para atingir a retina A superficie da retina é composté por duas areas distin- tas. A do centro, denominada févea retiniana, 6 formada por cerca de 7 milhées de fibrilas nervosas, denominadas cones, responsaveis pela vis4o em cores: visio tricromatica. Esses cones estéo dividides em trés grupos. © primeiro ¢ sensivel a0 vermeiho, 0 segundo ao verde @ 0 terceiro ao azul. Nao existem cones especificos para a sensagdo do amarelo. Essa cor 86 € percebida pela sensibilizagao simultanea dos cones vermelhos e verdes, 104 ust. 73 — Olhando fixemente durante cerca de 40 segundos para o conjunto dessas formas coloridas © depois desviando & vista par & Ore branes acima, veramas a bandera nacional com suas cores originals. A parte:da ratina que circunda a fovea é constituide por cerca de 100 milhoes de bastonetes, sensiveis 4s imagens em preto-e-branco. 105 eee wane .o. or oon taeetetate s oe s ee" occas Mustr 74 - Formineto de cores complementares por mistura dptice Amareio e vermelho praduzem 0 laranja, amarelo @ azul, 0 varde: ¢ ver molho © azul, 0 violeta. Esta principio. descoberto polo gravador alemso Jakob Le Bion, em 1730, fol largamente utilizado polos pos-impressio. histas, em especial por Seurat © Signac a b Mist 75 ~ Girando-s0 0 disco a nar a5: cores vormelho @ azul produzem a bptica (disco by. a velocidade superior » 60 rpm, nsaGéo de violeta, por mistura 106 No centro da retina se encontrao nerve éptico, responsé- captadas pe. Vel pola transmissao a0 eérebro das sensagoe: los cones e bastonetes (ilustr: 72) Deve-se 0 conhacimento do funcionamento da visdo tricromatica aos fisiélogos Thomas Young (1780-1829) Hermann Ludwig Helmholtz (1821-1894) e ao fisico James Clerck Maxuell (1831-1873) Cores fisiolégicas ou subjetivas Por ser a cor uma sensagéo. em principio, toda cor é fisiologica e subjetiva, Mas a designagao de cor fisiolégica, para classificagao cientifica, aplica-se apenas as cores em que nosso organismo interfere de maneira preponderante em sua produgo. Isto tratando-se de organismos sadios. Quan. do essas cores S40 produzidas por disfungdes ou enfermida des, pessem @ pértencer ao rol das coves pato/égices As cores fisiolégicas mais comuns sao as produzidas por saturagao retiniana. Como a percepgao visual néo é instantanea, necessitan- do de certo tempo de laténcia para sua captagéo, também seu desaparecimento da retina néo é imediato, fazendo com que no ato visual haja sempre uma superposigao de imagens A da que comega a ser percebide sobre a que ainde nao de sapareceu completamente (ilustr. 73 a 75). Esses fenémenos séo estudados na érea da Oftalmalo- gia, da Psicologia e, por vezes de forma delirante, na area da Parapsicologia. As cores fisiolégicas esto condicionadas a0 grau de po- téncia dos estimulos luminosos € gos tempos de saturagdia e acomodagao retinianas, de onde surgem os contrastes si multéneos (ilustr 47 @ 48), a9 imagens posteriores @ mistas meno do violeta subjetive © das eo nas jlustr. 74 @ 75 de cores, origem do fen res complementares, vist 07 A tricromia na reprodugao grafica e na criacao de imagens computadorizadas Maxwell, um dos fundadores da teoria tricromatica, ao definir 0 fluxo iuminoso como radiagéo eletromagnética, junta va 4 hipotese fotoquimica a hipdtese fotoe/étrica como compo- nentes da Optica fisiolégica, abrindo as portes de um universo de incomensuravs possibilidades de desenvolvimento dos slementos o meios do oxpressdo © comunicagéo visuais. Aplicando 0 enunciado de seus principios. em 1859 Maxwell reproduziu, pela primeira vez. uma imagem colorida Por sintese aditiva, inaugurando 0 método de selegao de cores. (ilustt.76). Passo inicial para a realizagéo de todos os processos TO at i - Iuste. 76 ~ Imagens tricrométicas. Cads camada da pelicula foto- gritics capta uma das tréa cores basicas oo objeto fotografado! a 1* capta 0 amerela, a 2° 0 clano @ a 30 magenta. A superposigéo das trés. imagens completa o ciclo cromatice reproduzingo as coves naturals, © mesmo principio ¢ utiizado na confeccso de fotolitos paré as impressées gréficas, sendo que al se adiciona 0 preto para dat molar prolundidade as dreas excuras’@ realgar as claras 108, trierométicos. Chame-se selegso & decomposigao das cores naturals nas tr@s cores primérias. Isso 6 feito através de fotografias com trés filtros coloridos (vermetho, verde e azul). Cada filme possibilita a obtencao de uma pelicula mo- nocromética contendo todas as gamas de uma das cores primérias existentes no objeto fotografado. Obedecendo aos mesmos principios de selegao, modernamente a sensibiliza- 80 das tiés cores € feita numa Unica pelicula composta de trés camadas, cada uma destinada a receber determinada cor prim&ria, criando os diapositivos ou slides coloridos. Com base nesse principio, desenvolveram-se a grande industria grafica do século XX, a fotografia em cores eo cinema colo- rido. A descoberta de Maxwell esta ainda na esséncia do colorido da televisdo que, servindo-se de elementos compu- tadorizados na crlagao e manipulagao de imagens, desenca~ deou 0 atual império da virtualidade. Quem sabe mais vé mais No estudo da cor, parodiando ou completando a senten- ga Quem vé mais sabe mais, podemos atirmar que também quem sabe mais vé mais, formendo um cireulo evolutivo per pétuo: Quem vé mais sabe mais; quem sabe mais vé mais; Quem vé mais sabe mais... \sso significa que cada nova visio amplia nosso conhecimento; conhecimento que amplia nossa visdo que amplia nosso conhecimento. O ato de ver do pintor, na busca do aprendizado do olhar, ultrapassa o dado puramente sensorial, transformando-o em complexo fendmeno perceptivo coadjuvado por indagagbes @ pelo aceryo de conhecimentos, aspitagoes, sonhos e fan tasias do artista. Assim, todo novo conhecimento adquirida amplia @ capacidade perceptiva do pintor. O que é valido também para todos os homens que se preocupam com a acuidade visual 400 Must. 77 - Diegrema tricromdtice indicede pele Comissao pternecional de lluminacéo (Commission Internationale de |Eclairage). Esta 6 @ representagdo gratica da camposigso da luz bianca, sintose da parte visivel do espactro solar, compreendida entre 400 my labaixo dos quais Se eneontram os raios ultravioleta) @ 700 mp (acima dos quails Enriquegamos entao nosso conhecimento Para superar a insuficiéncia vocabular de todos os idio- mas na designagao des cores, e facilitar 0 intercémbio inter- nacional de corantes quimicos e instrumentos eletrénicos de cria¢do © manipulagao de cores, no inicio do século XX foi oficializada a padronizagao mundial para a colorimetria deno- minada padronizagao tricromética 0 str 78 - 0 espectto solar ¢ compasto por uma fsixa continua do comprimento de onda. Por essa razio as cates so interpenet:am, impos: sibilitando a existéncia de uma cor pure A partir de entao, 0 Diagrama tricromatico, indicado pela Comissao Internacional de lluminagdo (CIE), pessou a ser a imagem visivel do vocebulario matemstico das cores, expres: 80 em milimicrons (ilustr. 77) Por que nao existe cor pura? Sendo o raio solar (a melhor expressdo da luz branea) uma sintese do espectro eletromagnético, nele estao contl das todas as cores, Como o espectro é continuo, as cores se terpenetram na passagem de uma para outra, criando mis: turas que detinem sua composigao, Essa interpenetragao, por ‘ser constitucional das cores, elimina qualquer possibilidade da existéncid de uma cor pura, A cor pura passa entdo para 9 Wt RESUMO DA TABELA DOS ESTIMULOS TRICROMATICOS DO ESPECTRO ‘Adotada pela Comissio Internacional de lluminagao (Cie) - 1931 COMPRIMENTO DE x y 2 ONDA (ry) (wermetho) | (verde) (ezui) 400 1310 | 000396 | g67.960 410 043510 | 001.210 | 267.400 420 194.980 | 004,000 | 45.600 430 283.900 | 011.600 | 4 38s gon 440 348.280 | 023.000 | 1747.69 460 290,800 | 060.000 | 1.669200 480 095.640 | 139.020 | ‘gi2.959 490 osz.o19 | 208020 | 465189 500 008.900 | 323000 | 372.000 510 009.300 | 503.000 | 159200 520 063.270 | 710.000 | 975.249 540 290.400 | 954,000 | 620.200 560 594.500 | 995.000 | 993.900 580 16300 | 870.000 | gqi.650 600 1.062.200 | 631.000 | 999.800 | 620 a54aaa | 331.000 | 990.190, 640 447.300 | 175.000 | 900.020 660 164.900 | 081,000 680 046,770 | 017,000 630 022.700 | 008.210 700 011.959 | 094.102 teino encantado da abstracéo vocabuler, aumentando ainda mais seu fascinio (ifustr. 78). Como podemos observer no Resumo da Tabela dos Es- timulos Tricromaticos, X, Y eZ, 0 violeta de 400 my de com- primento de onde é composto por 014.310 unidades de ver- metho, 000,396 de verde © 067.850 de azul, O vermelho de 700 my 6 camposto de 011.359 unidades de vermeiho e 004.102 de verde. O amarelo de 560 my composto por 594,500 unidades de vermelho, 995.000 de verde e 003.900 de azul. O conhecimento dessas composigées # proporgées 2 Must. 79 - Cireulo dss 12 cores-tuz. Primérias’ vermelho, verde @ aru) violetado; secundérias: maganta, amarelo © ciano, tormanda 7/12 de cores friss © 5/12 ce cores quentes terd grande importincia para quem desoja se aprofundar na ciéncia e nos mistérios da cor. Visualizagao das cores Quando um individuo, de qualquer idade, comega a me- xer com cores, em sua mente se desencadsia um proceso de raciocinio sensivel, especifico da experiéncia relativa 40 trato com imagens coloridas O.continuado exercicio com cores, visando ao aperfal- goamento do colorido, termina por lever o praticante @ um. W3 Hustr, 80 ~ Cireulo des 12 cores:plgmento transparentes, Primstios agents. amorelo e cisno, as masmas enres que sao secunsdarias om cor, luz. 0 vermelho, 0 veide © azul-violotade em cor-pigmenta transparente 380 cores secundirias, Este elreulo tor aa mesmes cores terciénas que © anierior. com @ mesma proparcse da cores {ras © quentes, estaglo superior de atividade mental sensivel, em que o arti ta nao emprega nenhuma palavia em seu raciocinio, pensa apenas em cores. Quando o artista atinge esse condi¢do de pensar em co res, no ato de colorir, 20 buscar um determinado amarelo, ele nao formula a palavra amarelo, mas visualiza essa cor. Em sua faina, durante longo periodo, esse pintor ndo empregaré ume 86 palavra em seu raciocinio: é 0 maravilhoso curso das sensacées. Ao querer pintor um amarelo-limao, por exemplo, seu cérebro funcionaré como um decomponedor, © ele verd mentalmente as cores que 0 compoem. iid = Mustr. 81 ~ Cireulo das 12 cores-pigmento malho, amarelo-e azul; secundarias: iaranja, verd tio dos circulos cromaticos anteriores, este ¢ const cores fries © 7/12 de cores quentes. cas, Primaria! ver 2 violeia, Ao con ido por 5/12 de Dai-a importancia des representagoes graticas das cores secundérias, tercidrias ¢ outras, evidenciando seus compo: nentes Como instrumento de mentalizagao e memorizagao da estrutura ¢ composics0 das cores (ilusir. 79, 80 ¢ 81) Diante da infinita gama de cores da natureza, 0 olhar ex. periente do pintor ¢ capaz de perceber, ao primeira relana quais 880 seus componentes, suas composigées, seus graus de pureza @ seus indices de luminosidade Nessa capacidade perceptiva reside toda a riqueza do repertério Gromético dos grandes Mestres coloristas de to- dos 0% tempos. Ts Em nossos dias 0 conhecimento desse repertério crométi- co transborda das telas para refletores, holofotes, gambiarras, cenarios dos palcos teatrais, cAmeras fotograticas, cinemato- gréficas e televisivas, para os gigantescos desfiles das escolas de samba, dos shows de rock-and-roll e pop-music, que se trans- formam em verdadeiros espetéculos eletrdnicos de som e luz E de se ressaltar que o despertar profissional do imenso contingente de artesdos e artistas que se expanda em dezenas de novas especializagdes, produzindo o encantamento visual de nosso século, tem origem comum nas aulas de desenho e pintu- ra dos cursos secundérios ou profissionalizantes. Esses cursos so 0s canteiros onde germinam talentos diversos. E af ha sempre a possibilidade do surgimento de um talento excepcionsl que, sozinho, para a glérie de seus mestres, justificaria toda a existéncia dos varios cursos @ sis. temas educacionais. A beleza do colorido HA artistas que se destacam por uma sensibilidade es: pecial alieda a um elevado grau de especializagao no trato das cores, jungao que evidencia talento ou genialidade Candido Portinari, um dos maicres coloristas de nosso tem- po, “confessou a Augusto Frederico Schimidt que se conside- rava completo por ter sabido entrelagar vocagao e formagao, © que valia por dizer: sensibilidade @ técnica Analisando a histéria do aprendizado, constatamos que todo ser humano é capez de evoluir a partir de seu nivel de sensibilidade e de conhecimento. Mast, 82 ~ Colocar qualquer quantidade de cor sabre uma tola 4 mo- vimantar todas as fais do spectro, ctlando tenses entre # cor aplicady, 40 fundo branco oul com as demain cores porventury @xistantas no quadra, 17 Tal como acontece com o conhacimento. a sensibilidade pode ser despertada e desenvolvida. € claro que o Indice desse desenvolvimento estaré condicionado a caracteristicas, dons ou limitagées individuais ado do olhar, para atingir @ amiplitude @ complexidade do ver, Guimardes Rosa constroi 0 mondlogo in- Sobre 0 apren terior n que Riobaldo, relembrando a singela beleza da florzi- nha do vale, diz ter sido Diadorim quem Ihe ensinara a vé-la Inumeros depoimentos de arandes coloristas de varias spocas comprovam ser a capacidade de ver o ato principal 4e colorir. De onde constatamos que 0 exercicio continuo do sperfeigoamento do olhar para ver mais e melhor termina por zer desse exercitante um supervidente, verdadeiro atieta 4o olher. Possuider, como diria o poeta Murllo Mendes, de ust, 83 - Para) Gootho, 9: mais bala harmonia das cores encontts: Nu-ao.ni teprosentagtn gratica do circulo cromatico. No citeulo crl9da for ele, cada cor est) diwmntialmente oposta 4 sua complamentar, 8 ESCALA DE TONS E VALORES Indices de luminosidades (aproximados) * too -00@6 -@@e0 @60e@ “@ @oe @ wasce So ‘32ss 16 = eee ee -@ee00080 E 0 oho armado desse supervidente que dispara os dis positivos capazes de apreender e organizar os elementos que compéem a beleza do colorido Apaixonado pelo estudo da cor sob todos os angulos Goethe via sua beleza como desencedesdora de complexes manitestagées psiquices, concluindo que “a cor produz sobre alma humana um efeito especitico, sempre definido e signi ficativo, que se radica intimamente na esfera moral @, consi- derada como elemento de Arte, pode colacar-se a servico dos mais elevados fins estéticos™” lig Wustr. 85 ~ Ciroulo cromatico cessaturedo pele cinza, tormango seals de cinzes coloridos, Diminuindo o impacto cromético das © cinza facilita a harmonizagao dos acordes (hustr. 86 - Magenta dessaturado, formando ums escata de oes do cinzas colerides, gradai Rebatendo a formulagao de que a pintura era uma poesia muda, Leonardo, tendo sempre em vista a beleza do colorido como fator de valorizagao da Arte, afirmaria: “A pintura 6 uma powsia que se vai 120 lustz 87 — Tom-rompido A medida que os tons complementaras sa interpenetram, inicisse 0 proceso de ruptura do tom, Quando as duas cores misturadas atingem proporgbes equivalentes, surge 0 cinze-nev: tre, Vojamos © acorda magenta-varde: par mistuta gtadativa com verde ‘9 maganta val perdendo cromindncis até atingit 0 cinza-neutio no cen: tro. Pela mistura com @ magenta, 0 verde tembém cria uma escals que val até 0 cinza-neutro. Fendmano idéntica de mistura 4 produrido pelo Qutras dois acordes: amarelo-azul-violeiado © ciano-vermelto, Nesse clima de alta voltagem estética, damo-nos conta de que aprender a colorir 6 abrir as comportas do mundo inte- rior para uma forma superior de comunicagao Elementos de harmonia Para o pintor criar ou reproduzir um elevado estagio de beleza em sua obra, 6 nacessario lembrar que a harmonis dos tons esta condicionada.a um justo equilibrio de valores, Mes- mo numa escala de tons, esses valores proprios de cada cor se manifestam. £ quanto mais ampla for essa escala de valo- res, que poderd ir do preto ao branco, como nos quadros de Caravaggio ou de Mondrian, maior serd seu impacto. 12h PRIMARIAS SECUNDARIAS, Muste 88 ~ Circulo das 12 cores-pigmento transparentes, com indi vegdo das primaries, secundarias © terciariss De modo geral, fugindo da violéncia desse impacto, a maioria dos colorists prefere optar pelos cinzas que permeiam os extremos, seguindo o exemplo de Rafael e, principalmente, de Velézquez. Nesses casos, os cinzas s40 sempre coloridos, enrique- cendo-se ainda mais pelo efeito de indugdes cromaticas pro- Vocado pelas cores vizinhas. No intuito de contornar dificuldades na harmonizagao de cores, o ensino académico criou variantes similares ao empre- 90 do cinza. A mais desastrosa dessas receitas fol a da inclu- 840 dos ocres © teras como elementos de harmonizagdo, 0 método usado era, em sintese, o saguinte: se uma cor gritava (destoava) no quadro, em lugarde equacionarsensivelmente o problema, rebaixava-se tal cor adicionando-\he ocres ou terras. Por rebaixamento ou dessaturagao, terminava-se por conseguir equilibrar todos 0s acordes numa marcha em diregao & monocromia. No final nenhuma cor gritava, mas, por outro lado, nenhuma tinha luz prépria. Combinacao de cores Denomina-se combinagao de cores a propriedade que tém certos pares de cores de formar acorde — cores que Se ajustam umas s outras, em duplas. Por efeito de acao de contrastes simulténeos, todas as duplas tendem, em maior ou menor gray, a formar acordes consonantes ou dissonantes, segundo a na- tureza das mesmas (vermelho, amarelo, szul ete,). Em prinel- pio, pode-se alirmar que toda cor combina com qualquer outra, © que nao significa que todo grupo de cores forme uma harmo- nia. Assim como nao existe em termos absolutos uma qualifi- cacao de cor bela e de cor feia, n4o existe também dupla de cores irreconciliaveis que nao se consiga combinar. Uma cor miagao combina com outra por afinidade, semelhanga, apro: etc., ou por contraste, dessemelhanga, oposi¢ao ete Para @ formacao do equilibrio no acorde de uma dupla de cores, hé trés métodos principals 1) Pela intensificagao ou diminuigao do tom ou do indice de luminosidade de uma das cores, sem perda de crominincia. Toremos como exempios as duplas complementares: Magenta-verde 2) Mantendo 0 magenta em seu estado natural, pode-se tornar o verde mais claro, pels mistura com o amerela, ou mais @actiro, como azul, b) Deixando 0 verde om seu estado natural, pode-se es- curecer 0 magenta com 0 azul, ou clared-lo com o amurelo, Amarelo-azul-violetado a) Conservando o amarelo em seu estado natural, pode- se clarear 0 azul-violetado pela mistura com 0 ciano, ou escurecé-lo com 0 magenta b) © amarelo nao pode tornarse mais claro pela mistura com qualquer outra cor, Com 0 branco, perde cromaticidade, dessaturando-se. Seu escurecimento, entretanto, poderd ser obtido pela mescla com 0 vermelho, quando se torna alaranja- do, ou com 0 azul, tornando-se esverdeado. Ciano~vermelho 4) Deixando 0 vermeiho em seu estado natural, pode- se clarear 0 ciano pela mistura com o verde, ou escurecéto com o magenta b) Clareia-se 0 vermetho misturando-o com 0 amarelo, @ obtém-se 0 seu escurecimento com o magenta 2) Pela dessaturagao ou pelo rebaixamento do tom, atra- vés da mistura com 0 branco ou com 0 preto, Nesses casos a perde de crominancia dos tons ¢ inevitével e marcha-se para combinacées de valores. 3) Pela utilizacso do debrum, ou cercadura das cores. O brenco, 0 preto, ou a mistura deles ~ 9 cinza ~ sempre equili- brafi os tons que envolvem. Mas nesses casos jd nao se pode mais falar em acordes de dois tons. As cores ditas puras cer- cadas pelo debrum criam um acorde de trés elementos, que pertence ao grupo dos acordes mistos (tons @ valores). Escala cromatica em Modos Maior ou Menor As cores quentes sao classificadas como pertencentes 26 Modo Maior, constituindo ainda uma relagio sensivel que, por analogia, as vinculam aos sons graves am musica. As- sim também as cores frias se identificam com os sons agu- dos @ formam a escala em Modo Menor, No circulo de 12 124 ESCALA CROMATICA EM MODO MAIOR Genero Quente) oe a aes f Ne / ye \ Inoste 89 (Génere Frio) ESCALA CROMATICA EM MODO MENOR, ESCALA CROMATICA EM MCDO MAIOR ESCALA CROMATICA EM MODO MENOR. tuner 90 125, Musee 91 tons, tomando-se do magenta ao verde (no sentido horario) como limites da escala, todos os tons intermediarios seréo. quentes, formando # escala em Modo Maior. Os tons {rios, que Se encontram entre o verde e o magenta, formam 0 Modo Me- nor, Por ser o circulo continuo e petas cores interpenetrarem-se, © verde © 6 magenta participam de ambas as escalas. Mapeamento das cores Na busca de uma representagao gratice dos elementos har. monicos, na década de 1960, criei os Circulos de harmonizagao ste 92 cromética. Os circulos em preto-e-branco (ilustr, 97 @ 92) S80 a codificagao numérica dos circulos em cores (ilustr 93 e 94) Esses circulos so divididos diametralmente em 12 tons @ circularmente em 8 anéis concéntricos que, partindo da borda para.o interior, representam cada cor, desde seu meior indice de crominancia, passando por gradusis etapas de dessatura: 40, até atingir 0 branco no centro ou0 preta nocentro do se micirculo oposto. A codificagdo de A al, das doze partes de cada anal (iustr. 91 © 92), uma ver determinado o comprimento de onda i an a a iad iad ee da luz que caracteriza a érea colorida, permite que ne apenas com numeros para determinar acordes ¢ elemen tos harménicos em qualquer colorido A preciséo numérica do colorido facilita o emprego das f0F86-1Uz Na produgéo de todos os espetdculos visual 128 ft, 99. @ 94 ~ Clreules de harmonizapao. As core alore ide os tons saturados até a complementagso bran ‘entra Ge cade clrcule. Os qustto semicirculos Ho comple imma edo um com a parte de: baixo d tormando doi jo cotes davsaturadas, ng 40) brane 0 129 Harmonia consonante No circulo cromatico de 12 tons em cor-pigmento trans- Parente agrupam-se, de um lado, as sete cores aparentadas que quardam maior afinidade com a luz, influenciadas predo- minantemente pelo amarelo e pelo vermelho — amarelo- esverdeado, amarelo, laranja, vermelho-violetado e magenta. De outro lado, as que sao afins ao azul, identificadas com a sombra ~ verde, verde-azulado, ciano, azul, azul-violetado, violeta e magenta Cada um desses grupos de cores forma um acorde con- sonante (ilustr, 69). Portanto, o carater harménico que existe nos acordes consonantes ¢ fruto de afinidades dos tons entre Si, pela presenga de uma cor geratriz comum, que participa de maneira variavel da estrutura de todos eles. Harmonia dissonante Dois tons que se complementam formam sempre ums dissondncia ~ dal chamar-se dissonante a harmonizagio @ que eles servem de base, Para manter 0 earéter dissonante na harmonizagao de um acorde de trés tons, sendo dois deles complementares, Surge a seguinte particularidade: a de que o tom que harmo- niza uma dupls de tons complomentares é capaz de desalinhar todas as demais duplas complementares, 0 uni- 0 tom que ratine essa quelidade 6 0 amarelo-esverdeado. Sua constituigdo originada das potencialidades do amarelo e do azul ¢ um campo fértl para todes as ressonancias cromé- ticas, elementos da maior importancia ne harmonizagao de cores fortemente contrastantes. Harmonia assonante Por hatmonia assonante, entende-se uma larga escala har. monizada (acardes multiplos) em que watlas cores ténicas se ‘equivatem em nivel de saturagao eriam, por semelhanga ou aproximagéo estrutural, um acorde ténico, valorizado pela or- ganizagdo e qualidade de outros acordes que funcionam como cor dominante ¢ de passagem. Dependendo da organizacdo das formas, as harmonias assonantes encontram sua melhor expressdo nos dois acordes constituidos pelas seis cores principais: 1) magenta, amarelo eciano; 2) vermetho, verde e azul-violetado. Quando essas co- res esto em presenga umas das outras em igualdade de for- ma ede qualidade, obedecendo a seqiiéncia de pesicionamento do Circulo de Harmonizagao, altera-se 0 conceito anterior da formagao de ténicas vinculadas &s escalas de Modos Maior, Menor ou Misto. Contrastes simultaneos, sucessivos e mistos de cores A principal dificuldade na harmonizagéo de cores pro- yom da alteragao na aparéncia que elas sofremem presenca umas das outras. Como vimes em paginas anteriores, Leonardo da Vinci fot © primeiro a estuder 0 fenémeno dessa alteragao, devectando sua causa nas afinidades e nos contrastes de determinadas cores entre si Com isso, estava aberto 0 caminho para novas investi- oagdes que resultariam na classificagdo e denominagdo dos contrastes simulténeos, sucessivos ¢ mistos das cores. Reunindo elementos dos estudos de Haly, Scherffer, Goethe @ outros, 0 quimico francés Michel-Eugéne Chevreul (1785-1889) desenvolveu pesquisas concludentes publicadas sob 0 titulo Da lei dos contrastes simulténeos das cores. Eases fendmenos sao nitidamente observados nas ilus~ traces 95, 96 e 97 das paginas seguintes, Ss Hust: 98 ~ Cor inexistente, rosdceas azuis @ Verdes com refracbes ‘iaranjadas. © Tundo do papel ¢ branco. Quanda absawvamos com stengao. \Vemos que tade ele ¢ diferente do branco que eitcunda a pintura. No inteniar das fesacess, tanto das azvis como das verdes. surgem refragbes aleranjadas de varas tonalidades. Todos essas variagbes perceptivas (cates inexistentes) po: dem ser mensuradas, analisadas, manipuladas @ transferidss do impreciso ceédigo verkal para 0 inequivoco eédigo numéries Cor inexistente O que denominei cor inexistente 6 a cor complementar surgida nas superficies brancas ou neutras, produzida por en trechoques de varias gamas de uma Cor primaria e levada ao paroxismo por agao de contrastes. Em artigo publicado na revista Manchete, om 6 de se tembro de 1975, o eritico Flavio de Aquino diz: “'O que seria denés sem o auxilio do que nao existe?’ A frase de Paul Valery é uma citagao adequada para a pintura de Israel Pedrosa Com o auxilio de cores inexistentes ale encontrou novas rela 6es matematicas entre os tons @ criou uma nova poética da cor (...). Sua arte elaborada conscienciosamente nao 6 ape~ nas ciéncia pura, também uma revelagéo das carecteristl- eas da cor como mensagem lirica” No prefacio do livro Da cor cor inexistente, eurelato como ‘esse fendmeno penetrou em meu Universo psiquico e passou a dominar todas as minhas preocupagées. Numa tarde de fevereiro de 1951, ae cair do dia, nese hora em que as cores se tornam incomparavelmente brlhantes por acao de contrastes entre as luzes que se atenuam © 9 sombras que se intensificam, minha atengao fol atraida pela boleza da relagao de varias gamas de amarelo: um barranco cortado em desmonte para abertura de ruas num subiirbio do Rio, gramas queimadas pelo sol © arbustos calcjnados, i ae eee tustr. 101 - Vermelba & © mesmo vermelto do quad tral, submetido a e contastes do amarelo escuro, Vanstormee barra superior hor wurece ©.0 da barra 33, provecande a dossatur houvesse nenhum elemento dessa cor que pudesse influenc los, nem nas proximidades, rem na atmosfera, pois o azul do céu era limpido. Tive naquele instante a imediata intuigao de que se trata ve de um fendmeno fisico e no de uma ilusao éptica, Que se eu conseguisse reproduzir num quadro as mes nas relagdes crométicas, surgiria sobre o fundo branco da tela uma cor ine: tente (que nao fora pintada), quimicamente sem suporte. A medida que buscava novas relagoes que pudessem conduzir-me ao dominio do fandmeno da cor inexistente descobrindo outro sentido @ pintura e cada vez sentinds mals atraao pela obra dos grandes coloristas coma Leona do, Vermeer, Veronese, Turner, Delacroix, Van Gogh, Malevitch, Klee, Delaunay @ Portinari 138 i (ast, 102 — Velho em map ote do and Verdes no corte Jo ereuo. Seva, 44 84 em, At do ota Essas pesquisas colocavam-me no cerne da harmonia Gro matics, onde a poesia intima do didlogo dos matizes engen: a a transcendente sinfonia das cores de contraste série Mutagdes cromsticas, revelando 0 segredo da transfor magao de uma cor em outra, Ne mesma busca de esséncias, pintel a Ssdrie Formas virtuais 139 ‘om relragdes réseas, Serigratis, 47 X 47 om. Atel do aftista Decalogo do colorista sta que aspire dominar 4 cia do colorido deve lerar, em primeiro lugar, 0 fato de que ntese as cores-luz primarias, vermelhic que tem por s verde © azul ~ é refletida para os nossos olhos pelo’ corpos neturais cujas camiadas exteriores sao formada por cores de refletncia que tém por sintese o vermell o amarelo eo azul. A mesma trlade de cores:pigmen je que se serve © pintor para reproduzir o univers O Unico meio de que dispde o pintor para penetrar nes se complexo universo é 0 olhar. Tomna-se entao evidente que ele precisara desenvolver ao maximo a capacidade do olhar. Para tanto, teré que transformar perscrutado} observagae de tudo que © cerca em permanente exer clo de aperfeigoamento da acuidade visual. l= Ter sempre em mente que oa imagens visuais comega pe areas mais escuras em relagao as das mais clara: tendo o preto e o branco como limit nos, sem se esquecer de que esses limites também sao coloridos ¢ de que entre eles encontram-se todas as possibilidades cromiticas dos einzas colorido lll - Cons idade da imagem visual esté ue se estabelece no conjunto da 4rea em analise, des- cobrindo nele o conflito da complementaridade, que 86 encontra equillbrio com uma justa intervengao dos tons rompidos. IV—Nao se esquecer de que, desde a primeira pincelada, © colorir deve ser um ato de reflexao sensivel, procu- rando relacionar as cores mais claras, aquelas em que predominam os amarelos, com as droas mais lumino- sas do quadro V — Inversamente, buscar 0 relacionamento das cores mais esouras da paleta, aquelas em que predominam o azul, com as reas sombrias. Esse exercicio possibilitaré ao pintor relacionar os indices da escela de tons (de cores) com os da escals de valores (de luminosidade). O dominio desse fandmeno poders lever o pintor a inver- ter os termos da questao, tornando as luzes frias eas. sombras quentes, sem perder harmonia, VI Nesse nivel de desenvolvimento sensivel, |é serd possi- vel ao pintor determinar a cor dominante de uma ima- gem, sua Cor t6nica e as cores de passagem. Pode-se dizer que tal nivel de aperfeigoamento sensivel corres- panded conclusao da formacéio artesanal do colorista. 0 attesanato surge entao como primeira estagio da forma- Gao artistica do pintor. Vil ~ 0 artesanato é 0 reino do saber empirico que abre as portas da técnica aos mais sensivels, dotados de deter- minada dose de imaginagao abstrata, O que caracteriza © estagio da técnica no saber pictérico € a capacidade sensivel de detectar os componentes cromaticos de cada cor € saber de que outras cores oles s60 compostos. A consecucéo desses saberes 56 4 possivel adquirit atra- vés de longo pracesso pratico no manuseio da cor A vi- ‘$80 guia a execucdo no ato de colorir, mas sem esse ato 8 visd0 nao se desenvolve além de um detetminado limi- te, nem tem como aferir seu grau de acuidade percepti- va. no dominio da técnica que o fazer pictérico atinge plena liberdade de execugao e grande dose de automacao. Vill - 0 dominio da técnica ¢ praticamente infinito. Nesse esta- gio desencadeiam-se todas as possibilidades de espe- culagdo, pesquisas diversas @ renovagées formais que possibilitarao a.alguns raros pintores atingir 0 esti/o, fase suprema da realizacdo artistica, Essa fase sé 6 atingida quando todos os raciocinios do pintor, no ato de pintar, processam-se apenas com co- res, por longos perlodos, sem que uma unica palavra in lerfira em seu pensamento. Aiguns fildlogos afirmam que © pensamento humano 56 se realiza através da palevre, mas os pintores agregam que ele também se realiza atre- vés de gamas de cores; os misicos, através de frases sonoras ¢ 0s matematicos afirmam raciocinarem com abs- tragdes e equacdes numéricas @ geométricas, IX ~ Por seu poder de fascinio, quanto maior for o dom do artis 1@, © colorido cria um reino de experiéncias inolvidavels nas 4reas do psiquismo e da esfera moral desse manipulador de cores. © que chamamos dom 6 a capac dade de tal pintor ou criador de imagem em transmitir com sua obra toda @ carga emotive vivenciade ou imeginada, X A partir do advento dos efeitos especiais sletrénicos, dos espetéculos de som e luz, dos monumentais des- files carnavalescos, da fotografia, do cinema eda tele- visdo coloridos, da computagao grafica e da absorgao dos novos recursos tecnolégicos pela pintura, todos o8 criadores e manipuladores de imagens: modernos a cerdotes da luz, com seus sonhos e fantasias, am in: {luéncias intercambientes, Integram e enriquecem o atual Universo da Cor. ‘iin nae

You might also like