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COMISSAO DE TURISMO DA CAMARA MUNICIPAL DE CABINDA CABINDAS. HISTORIA - CRENGA - USOS E COSTUMES P. JOAQUIM MARTINS, C. S. SP. 1972 Os CABINDAS, designagio hoje dada aos habitantes do Enclave de Cabinda (abrangendo todos os clas irmaos — Bauoio, Bakongo, Basundi, Balinge, Bavili, Baiombe, Bakoki...) mas que, de comeco, por proveniéncia clénica ora confinada aos ‘io antigo reino de Ngoio e mais propriamente aos da regido da actual cidade de Cabinda «© amedores mais chegados, sendo povos que fazem parte da grande familia banta, por suas qualidades, usos € costumes sobressaiem entre os outros. O cabinda é, certamente, de todos os nossos povos africanos, 0 que se aponta com mais frequéncia como exemplo de indice de maior desenvolvimento e progresso em toda a gama de valores humanos. Quem pela primeira vex entra nas terras do Enclave — seja pelo porto de Cabinda ou de Landana, pela fronteira da Reptiblica do Zaire ou pela do Congo Brazaville — fica dptimamente bem impressionado com o que the 4 dado presenciar: casas arejadas ¢ asseadas, mesmo seiile colmo @ papiros, alinhadas ao longo das estradés por entre filas de palmeiras € coqueiros que emprestam, nos dias de grande calma, a sua sombra aos habitantes; gente palradora ¢ comunicativa entre a qual havia sempre alguém — e hoje quase todos ¢ todas—a@ poder dar-nos informagoes pedidas num portugués jd muito sofrivel e ajuda pronta em qualquer necessidade. 9 A juntar-se ds gentes vem a paisagem, ora dominadora pela imponéncia das drvores seculares, sobretudo nas florestas do interior e, mais ainda, nas do Maiombe — onde se encontram também ravinas, &. g. no Moabi, de wm «belo-horrivel> —, ora pelo verde repousante das copas das drvores, das palmeiras, coqueiros, bananeiras, etc, Endo hd terra como a do Enclave de Cabinda para nos mimosear com 0 verde em todos os matizes! Calmos ¢ silenciosos, sonhadores até, entre margens de uma beleza indiscritivel, correm as dguas volumosas de um Kiloango, dum Luali, dum Lukula ou as do serpentear do Lukola. do Lulondo, do Lubinda, do Fubu, etc. etc. Tudo belo. Tudo rico. Mas 0 que mais nos prende aos cabindas — as gentes de todo 0 Enclave — é a beleza de suas instituigdes, de seus usos costumes, a beleza e até delicadeza dos principios e leis morais, familiares © sociais, a riqueza «espiritualy de suas almas. E estas, as almas, nao se «cagam» com a facilidade com que, outrora, se podia apanhar um Ngulungo @ saida de uma roca, um Sofo na planicie do Tabe, uma Mpakasa no Chela ou no Liko, 0 Nkoko no Ntandu-Mbambi ou no Kinguingili ou mesmo, ainda que com mais dificuldade, um Nzau (elefante) no Maiombe. Nao. Sdofprecisos anos. E preciso conviver com eles, aceitar comer com eles uma muambada ou convidé-los# para a nossa mesa. O que colhi do velho Estanislau Kimpolo, e foi muitissimo, foi-o nas viagens de ministério missiondrio e cavaqueando @ mesa, durante as refeicoes e logo a seguir a elas, sobretudo nas noites quentes e de luar do més de Janeiro e Fevereiro... E preciso fazer-se um deles e entrar-lhes na alma através dos conhecimentos de sua lingua. E preciso ouvir um e muitos e muitas. Estar presente nas suas horas tristes ¢ nas horas alegres, que também as tém. S6 se faz um verdadeiro juizo da dor infinda de uma pobre ¢ velha mae vitiva vendo-a deitada ao lado de seu unico filho morto! Sé se sente a saudade de quem deixa uma juventude folgada e amigas de infancia assistindo, entre as donzelas, aos céinticos luigubres da despe- dida na tiltima noite de solteira. E a alegria das festas, comunicativa, magnetizadora? 86 presenciando ¢ tomando parte nos banquetes — que os tem —, assistindo aos batuques, para os quais a resisténcia dos brancos ndo daria para uma hora, quando eles os alimentam noites inteiras, Foi neste encantamento que me deixei embalar durante uns 22 anos. Chegado a Cabinda a 4 de Dezembro de 1941, de passagem para a Misséo que me fora destinada, a do Lukula-Zenze, onde entret a 11 desse mesmo més e ano, com os meus curiosos 25 anos de idade, tomei logo a éptima resolugdo de apontar o que visse e colher dados 10

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