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Para alguns, o j-dito fechamento de mundo.

Porque estabelece, delimita, imobiliza


. No entanto, tambm se pode pensar que aquilo que se diz, uma vez dito,
vira coisa no mundo: ganha espessura, faz histria. E a histria traz em si a ambigid
ade do que muda e do que permanece.
No me proponho a resolver esse impasse, que se expressa atravs da tenso ent
re o retorno e o avano, entre o que restringe e o que alarga, entre o que
j e o que pode ser, entre o mesmo e o diferente. Ao contrrio, mantenho a tenso como
motivo da minha reflexo. Embora, na iluso da onipotencia, no deixe de
tentar a especificidade, o nico, o definido.
Tendo como objeto de estudo a experincia de linguagem, a prtica do dizer,
coloco alguns conceitos, alguns princpios tericos e metodolgicos, algumas
tcnicas de anlise como constantes e procuro explorar as conseqncias a que elas podem
levar-me em cada pretexto que tomo para a reflexo, como, por exemplo, a
literariedade, as regras conversacionais, a tipologia do discurso, a conveno, o pr
ocesso de leitura.
Nesse percurso, coloco-me no prprio centro do risco que a tenso entre o j-d
ito e o a-se-dizer. Assim, aceito passar pelos mesmos lugares, procurando
o que me leva a conhecer alguma coisa a mais a respeito dos objetos provisoriame
nte tomados para
reflexo, como o discurso pedaggico, o discurso da histria,
questo da educao indgena, a argumentao, o discurso religioso e outros.
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ENI PULCINELLI ORLANDI
Se o objeto de estudo em que me detenho de carter mltiplo e indeterminado,
o objetivo, entretanto, sempre um: incorporar as noes de social e de histria,
distinguir o estabelecido do no-estabelecido e questionar a consciencia (o sentim
ento) dessa distino no homem, quando este produz linguagem.
Como a rea em que se inserem esses estudos a da anlise de discurso, no pode
ria prescindir do compromisso com o fragmentrio, o mltiplo, o provisrio.
0 que leva ao reconhecimento da falta de limites categricos, que se poderia prete
nder, entre um mtodo de demonstrao cientfico e outras formas de conhecimento,
outros modos de reflexo sobre a produo da linguagem.
No domnio da linguagem em geral, e no s no espao do potico, como pretende um
clssico poeta ingles, parece dizer-se uma s coisa, sempre a mesma, usando-se
o j usado, vestindo-se de novo as velhas palavras, "For as the sun is dailY new a
nd old ......
Qual a extenso dessa iluso, se uma iluso?
Campinas, abril de 1983.

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