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OPCAO LACANIANA REVISTA BRASILEIRA INTERNACIONAL DE PSICANALISE ME 15 Onfagae EDITORIAIS [Nome EXTRAORDINARIA AE (ANAUSTA DA ESCOLA) ‘6 DE FEVEREIRO DE 1996 ERIC LAURENT (tas) Na presenga de Bernardino Home, primeiro AE nomeado pela Escola Europa de Picandlise, coloco uma questo neokantianafun- damental: Que quer a Fscola Ruropéaclo AB? eseu primero AE? £ o primeiro AE € ao mesmo tempo presidente. JO Ahié e eu somos presidentes também, trata-se de uma “brochelte” de presidentes. Contudo esperamos que esta sefa @ oportunidade de serifcar, em sma, que os cargos do tipo “presidente e diretor” nao so apenas promogbes de nulos. Existe a tendéncia, em qualquer instituigao, de promover a presidente, a ditetor, o nulo, ‘aquele que no incomoda. Poderemos testemuné-lo, mais uma ver, no sistema que Lacan estabelecen para n6s. F um esforgo a ser feito para que tal estilo nao vena aser exercido e o cargo de presidente possa na ocasio incomodar. Entio, que quer a EEP do AB? de seu primeiro AE? Para comogar quer que cleseja AB, dando testemunko, termo este aser desenredail de outras referéncias que no a da transmissio. Que 4€ testemunho de sus experiéncia: no tratamento, no dispositivo do pase, em sua experiéncia do ato, naguilo que aprendeu com a experiéncia, A Escola quer aprender com o que ele aprendeu. Aprender dele, desvencilharse da falsa universalidade da regra e aprender com particularidade do ato que sempre €falha, rasura, desttuigdoe incompletude, Pode-s dizer que o AE descompleta a Escola, onde ela poderia fazer grupo, onde la podera fazer série. tm segundo huga, a scola espera do AE algo de especial. Ele € 0 primeiroe vem do outro continente. Embora iso no tena sido combinado previamente, encaixou bem. Podertamos dizer gue tanto 0 acaso como muito trabalho fazem bern 3s cosas. Ele otne nap 4 A ENTRADA PHLO PASSE A POSIG{O DO PASSADOR Cantos AGUSTO NICEAS (oP) Aextensio da uilzago do dispositive do passe que quetem testemunhar a sua relagio com a causa num momento qualquer de sua cura sempre metecen uma tengo particular nas discusses Parece have, jf uma aeltagio de que o fato de nose tratar de uma verificago do pase final, no exclui que a invengZo lacaniana do passe se faga um instrumento de trabalho para psicandlise em todos os nives de sua aplicagio. E que o saber que cada passante deposita na experiéncia com o seu testemunho inclui a possiilidade para cada analisante de tirar desse testemunho uma elaboragio sobre tum momento importante de sua andlise antes do seu inal Na Escola Brasileira de Psicandlise, aquele que se oferece para testemunhar como um analisante, ou seja, como alguém ‘que no pensa ter chegado ao final de sua andlise, pode também receber, em funglo desse testermunho, uns nomeagio como Membro da Escola. 0 quese procura encontrar, enti, nesse caso, uma resposta para a entrada em ancilise. As Jornadas Brasileiras de Cartéis, em Uhéus, permitiram que discutissemos umna questio: Onde sustemtar a aticulagio entre entrada em andlisee passe? £0 nosso ponto de partida para encontrar a resposta foi a circunscrigzo, por Lacan, da entrada ‘do sujeito no final da andlise, chamando de passe esse momento antecipador da concluso de uma cura, momento que correlaciona, j, uma mutagdo singular do sujeito e a queda do analista, Momento de passe que no se confunde com os ‘momentos crucizis que pontuam o percursode uma transferéncia ce que na operacdo que vai se desenvolver fora da transferéncia€ nts 6 ANATOMIA ANALITICA GENEVIEVE MOREL (Paris) Para a psicandlise, a diferenca dos sexos niio é dife- renga anatmica, Entretanto, se esta vale, s6 seria, como Freud enunciava em 1925', por suas “consequéncias psi- quicas”. Na prética analitica, verfica-se a dificuldade para todo sujeito, seja ele psicdtico, perverso ou neurdtico, de assumir seu sexo, Mas 0 que € chamado justamente de “seu sexo se este niio é o sexo anatémico? Para Freud, a diferenciagio do homem e da mulher € um processo extremamente complexo, articulado ao desenvolvimento da pulsto sexual, ¢ relativamente tardio, posto que os dois sexos 36 fazem um pelo menos até a fase falica. De toda maneira, o resultado nunca € puro: «nto se encon- tra, ..para o ser humano..., pura masculinidade ou femi nilidade, nem no sentido psicolégico, nem no sentido biol6gico“, escreve Freud em “Os trés ensaios”, de 1915, Ele nunca renunciou 3 existéncia de uma bissexualidade, nio somente anatOmica, mas também psiquica, cuja ori- gem permaneceu para ele inexplicavel Nesse percurso que vai do complexo de Edipo ao complexo cle castracao, para © menino, ¢ o inverso para 4 menina, a anatomia permanece essencial. De inicio, aquela do ponto de partida, depois aquela do outro sexo: para aquele que tem um pénis, a percepgio de sua au- séncia na menina dara seu peso de real & ameaga de castragao do adulto; para aquela que nao tem pénis, € dante de sua visto que ela sucumbiri ao penisnetd. Sem contar a importincia decisiva da anatomia materna, de uma parte, para a estrutura, neurética, perversa ou psicética, de outra parte, para © processo de diferenciae ‘(@o sexual. Essa breve evocacio est aqui apenas para fazer valer o recuo aparente da importincia da anatomia ‘no ensinamento de Lacan, uma vez que nesse contexto ele aborda 0 sexo pelo vies do gozo e da linguagem, € ‘io mais em termos de desenvolvimento. Lacan radicalizow a tensio entre a diferenga dita natu- ral dos sexos e suas consequéncias no sujeito, que ele, nos anos 70, chamou de sexuagio ou, as vezes, opcodes de identificagio sexuadh?, para marcar, de uma parte, uma escolha do sujeito (opgio), de outra parte, com 0 termo identificagio, a intervengio do significante, A sexuacio depende de uma ldgica em tis tempos: primei- 10, aquele da diferenca natural dos sexos, segundo, aque- le do discurso sexual, terceiro, o tempo da escolha do sexo pelo sujeito ou da sexuago propriamente dita Dois reais Mas antes de abordar essa construgio, € necessitio definir a oposigio de dois reais: aquele da ciéncia biol6- gica € aquele do discurso psicanalitco, Para a biologia, ha dois sexos, assinalaveis, de uma parte, por seus atributos anatomicos, de outra parte, pelas células sexuais ou gametas. A zona de incerteza inter- sexos, impossivel de ser suprimida totalmente, é inces- santemente reduzida pelos espetaculares progressos fei- tos no dominio da diferenciacIo cromossomica, Esses¢ sexos bioldgicos petmitem escrever uma relagdo sexual entre gametas, ordenada pela finalidade da reprodugao, Esse sexo natural, ainda que bem sofisticado pela ciéncia € pelos instrumentos que o definem, comresponderia bas- tante bem ao conceito grego de physis. O ser humano, nesse contexto, € um animal entre outros. Para 0 discurso psicanalitico, um outro real esté em jogo, que deve dar conta do precedente, mas que s encontra de maneira toita pela linguagem. O real psic nalitico do sexo consiste nos impasses secretados pelo fato de que, nesse contexto, 0 sexo se abord apenas pelo vies da linguagem. Ora, a linguagem impde um sig- nificado nico para 0 gozo, o falo, © humano, por falar, toma-se fala-ser (parlétre) ¢ no € mais um animal como 08 outros. O sexo niio € mais natureza, physis, mas Lorna sexus, palavra latina que vem de secare, cortar- fato, do significante. O real psicanalitico do sexo consiste em ° uma equagio: ‘nao ha relagio sexual’, frase equivalente a “existe uma fungio falica’, na qual cada um pode ins- crever seu gozo ou niio, ¢ deverd assumir as consequéncias disso. Os trés tempos da sexuagio © primeiro tempo é aquele da dlferenga anatomica natural. Assinalada desde o momento do nascimento, esta agora é amplamente antecipada pela ciéncia: ecografia, sgenotipo, enquanto se espera a escolha real do sexo para breve. Mas esse primeiro tempo é um real mistico, na medida que ele s6 toma seu valor no segundo tempo. segundo tempo & aquele do discurso sexual. Com aqui vale apenas como interpretada, e feito, a nature nenhuma diferenga é pensivel sem o significante, a pro- pria percepcto € estruturada por ele. Logo, distingue-'se” 65 dois como menina ou menino, Esse *S¢” € 0 que esti «em volta, o médico, enfim, o discurso do Outro, Esse "se" €afonte de um erro que Lacan chama de “erro comm”, comum porque ele é 0 de todo mundo, ¢ até que ele faz comunidad, da mesma maneira que © discurso fa. ago social, a partir do universal do falo. A natureza sugere uma diferenga, mas descle que o “se” profere “é um me- nino’, “6 umg mening’, ele o faz, sem que ele saba, na dlependénca das eritérosfalicos. ‘Menino no quer mais, somente dizer portacior de um penis, mas capaz cle vii dade, de ser um homem, como “se” diz *Menina” perde seu sentido anatémico para se tomar ao mesmo tempo nGnimo de privacio, falha, mas também de feminilida- de, beleza, enigma perpéwo etc. A natureza tornas blante’, A natureza, ai, sucumbe to peso ce um signficante tinico que eategoriza a lferenca natural em termos de falo e de castracio. © 6rgio natural se tornou organon, instrumento significante. Em que consiste 0 erio do discurso sexual? Hle muda o estatuto do falo. O falo é o significado do go70 1.) eo discurso sexual fz dete um significant Oa, isso nfo tem o mesmo valor, Dizer que 0 falo € 0 significado do gozo quer dizer ‘que s6 apanhamos algo do gozo, no que € dito, na signi- ficacio fica. O que nao impede outros goz0s de existi- rem, mesmo de serem experimentados pelo sujeito, mas eles sto silenciosos, fora de significacio, o que tomna sua demarcacao € sua diferenciacio dificeis, seja a do mais- esem- _gozat, Seja a do gozo do Outro, Um suieito pode se delei- tar no significado falico, que pode evocar com o fluxo vital, 0 vivo, a forma erétil, a estatura vertical, 0 jébilo do estidio do espelho, et... sem com isso se inscrever sob 0 significante falo, sto € aceitar a castracdo. Por exemplo, seria possivel dizer de um psicético como Schreber que ele se deleita em um certo significado falico até o mo- mento da morte do sujet, quando o falo como signficante Ihe € entretanto foracluido, sendo que ele no inscreve seu goz0 na funcio félica. Assim, o sujeito pode recusar ‘ou aceitar © ert comum do discurso sexual. Se ele 0 recusa, € a psicose, o fora-do-discurso ¢ ele deveri se inventar uma sexuagio inédita. Sabe-se que o empuxo-d mulher ganha nesse contexto um lugar eminente, Se ele © aceita, entra na sociedade humana filica, inscreve seu {gozo na fungao Falica Gniea para poder significar a dife- renga sexual. O que nio deixa de levantar uma aporia, que Lacan resolve de um modo diferente daquele de Freud: como, com um tinico significante, escrever dois sexos? Como especificar ainda mais 0 que por ora se es- creve ©/menino, ®/menina, &/dliferenga dos sexos? Eis aqui um exemplo concreto dessa aporia, nos ter mos em que a lembranga de um jovem homem homosse- xual a libera. Sobre a bancada do banheiro de sus 4, ele se lembra que havia dois aparelhos de gilete: ‘aquele do pai, para a barba, ¢ aquele da mie, para as peinas. -E os dois aparelhos eram idénticos», comenta ele com perplexidade. Nao se pode achar alusio mais clara & mae filica, metonimia mais graciosa. 0 terceiro tempo 6 aquele da sexuagaio. Certamente s6 hi uma tinica funcio de gozo na linguagem para os dois sexos, mas h4 duas manciras de se inscrever isso, 0 que corresponde a dois modos diferentes do gozo falic. Lacan resolve assim a aporia de uma tinica funcao para .eserever dois sexos ¢ o instrumento Kigico da quantificaao 2 the serve para transcrever esse segundo grau do modo de gozo em relacio a fungio Filica, Para se sexuar, um sujel- to niio se inscreve diretamente nessa fungi como “eu sou falico” ou “eu nao sou filica”, que valeria para os dois sexos e portanto nfo seria discriminante, Ele se ins- creve pelo modo de gozar do falo: “na relagio com 0 outro sexo, en sou tomado por inteito na fungao filica, logo eu sou um homem’, ou entio “na relago com o outro sexo, eu sou ndio-toda inscrita na funcao filica, logo eu sou uma mulher”, Com certeza essas tiltimas formula- elas dao a idéia da maneira, ‘g0es slo aproximadas, que nio € tinica, ou do modo de gozar com relagio a essa fungio, Sabe-se que Freud resolvia a aporia pela inversio temporal, no desenvolvimento dos dois com- plexos de castragao e de Edipo. Por que Lacan recorre a uma escritura légica? Porque sua definigo do real do sexo € o impossivel de escrever a retagio sexval, Ele supde entio que as logicas existentes testemunham uma formalizacao do impossivel, que inventa uma escritura da no relagio sexual’, Isso explica por que ele escreve 0 dois sexos como formulas usando os simbolos da log ‘ca mais modlema, mas que no se pode lé-los, todavia, sem retornar a0 inventor da primeira légica formal, Arist6teles, Freud com Aristteles, reescrito com a légica ‘moderna, cis af a tentativa de Lacan para definir os dois sexos como dois modos distintos de uso do falo no seu laco com 0 outro sexo, lago que, de um modo diverso, fracassa em fazer relagio. Aristételes com Freud’ Lacan aproxima Aristételes e Freud duas vezes. Ele coloca, de uma parte, paralelamente, o que cada um de- les soube escrever: para Freud, © complexo de Edipo, ‘como lago necessirio com o pai, para Aristoteles, a l6gica do universal, do “todo”, baseada no principio de contra- dlicio. F assim que Lacan escreve o lado homem das f6r- mulas da sexuacio: contradicio formal entre, de uma parte, a existéncia necessdria de um ponto de excegio & funcdo félica, o pai, e, de outra parte a regra do universal félico que constitu o homem. © modo de gozar do ho- mem todo-filico € 0 seguinte: seu go70 filico € o obsti- cula® que o impede de gozar do corpo da mulher. Seu 070 filico faz objeg0 a relago sexual. E uma notacio muito clinica: pensem na “amante" que a mesmo tempo mantém e perturba 0 par casado; é a forma do desdobra- mento cla vida amorosa deserita por Freud. Mas hé outras formas desse esquuema de obsticulo: um sujeito que sofre de ejaculacdo precoce deve, por isso, para ter uma ere- do diante de sua mulher, evocar a imagem mental de um falo, que suscita imediatamente a ejaculacio. Ele chama isso de homossexualidacle, mas € apenas uma modalida- de de expressio do obsticulo fico? Por outro lado, Lacan coloca paralelamente 0 que Aristételes © Freud souberam, cada qual a seu modo, nomear, mas no conceituar de um modo suficiente, Sao, 45 SRR para Freud, o enigma da feminilidade e, para Arist6teles, um dejeto de sua formalizago, o conceito do “nio-todo", abandonado, por ocasido da elaboraciio de seu silogismo, em proveito de uma légica do universal e do particular Certamente, re-nomear um enigma com um conceito nao claborado ni 6 resolvé-lo, ¢ afirmar que a esséncia da feminilidade € 0 *nao-todo” que a Iégica nunca produzit pode parecer um fraco apoio para o clinico. Mas isso lhe a indicagio, a ser seguida, de uma légica da discor- incia, muito ligada 4 enunciag2o, uma I6gica da nega fo que nio acaba, entretanto, na construgio de uma existéncia, uma logica da indeterminacdo, da indecidi- bilidade, da contingéncia do falo ete fentemos agora ordenar, gracas a esses trés tempos da sexuagio, 1 clinica do transexualismo, da neurose, da homossexualidade feminina seguindo, assim, as indica- ges de Lacan na aula que introduz sew semindrio dos anos 1971-72, “Ou pi 0 transexualismo E preciso que fagamos referéncia 20 segundo tempo da sexuagio, aquele do discurso sexual, do erro comum. O transexualista, acredita-se, quer mudar seu sexo anat6mico, ¢ denuncia o erro da natureza que the deu uma alma feminina em um corpo de homem (ou o inver- 30). Por vezes, 0 médico o toma ao pé-caletra e 0 opera, Por vezes, mesmo se ele é reticente & operagio, como Stoller, ele tomara ao pé-da-letra os dizeres do trnsexua- lista para definir um conceito de “genero” eventualmente ‘posto a0 sexo anatémico, € que seria o *verdadeiro" sexo. O critétio do verdadeiro seria a convicgao intima do sujeito quanto a seu sexo, signo entretanto, nés 0 sabemos, ce uma auséncia ce neurose. A causalidade do enero seria 0 desejo da mae por ume criancea-falo-femi- nino", desejo nio limitado pela lei paterna, [sso nos inci- ta a visar frequentemente para esses casos um diagnds co de psicose™. A originalidade desses sujeitos € que eles mo deliram, a nfo ser com relacio a esse ponto preciso do “erro da natureza’, que localiza a loucura deles. Se és nos situamos no segundo tempo da sexuacio, vemos que esses sujeitos recusam o discurso sexual, isto & categorizagio filica do érgo anatémico. “Se é meu pénis que decide que sou um macho, enquanto que eu me sinto mulher, muito bem, eu quero a cirurgia’, é 0 que, cem substincia, eles dizem, Nao se trata entao de um erro «la natureza, mas de uma recusa, da ordem da foraclusio, recuse do discurso sexual e do ero comum que ele im- plica: fazer do falo o significante do sexo. A neurose: identificagdes e sexuacao Estamos aqui no terceiro tempo da sexuacao. O sujei- to aceitou entrar na comunidade do discurso sexual em que 0 falo € 0 significante mestre do sexo, O dlscurso sexual, 0 *se” impessoal”, dstinguiu-o como menino ou ‘menina. Ele pode consentir ou recusar essa distingio € a partir dai seu modo de gozar 0 conduzira a se situar do Jado do todo filico ou do nio-todo filico. E por isso que ha escolha, opgao do sujeito nesse tempo da sexuacio, escolha que pocle opor a anatomia ao registro civil. «O ser sexuado nao se autoriza sendo dele mesmo", diz Lacan, 0 que implica também algumas outras coisas: 0 segundo tempo, aquele do “se” impessoal, & crucial. Essa ‘scolha, 20 indir sobre o modo de gozar na fungio félica = todo ou niio-todo - tem um valor real € no € certamen- te evidente para se modificar, caso se suponba que isso seja possivel. Logo, “opco de identificacao sexuada” niio se reduz a uma simples identificaglo significante. Mas 0 neurético € aquele que embaralha as cartas, Ele pode nao querer saber nada da sua escolha inicial, recusi- |a no sentido do recalcamento, e recobsi-la por diversas identificagdes. A anilise, desatando essas identificacbes, pode reconciuzi-o a essa escolha desnudada, A histeria € um exemplo eminente de recobrimento da escolha sexuada por uma questio que a coloca em causa € por identificacdes com 0 outto sexo. A homossexualidade feminina Ela constitu a prova de uma outra estratégia quanto ao discurso sexual, Ela se mantém firme no seu sexo portanto, diz Lacan, «sustenta o discurso sexual com toda sinceridade-®, Entretanto, ela s6 pode, segundo Lacan, “balbuciar” o discurso psicanalitco em razio da particu- latidade de sua relag2o com o falo, Como as Preciosa do século XVII, ela quer “quebrar o significante em sua le- tra” para ser bem sucedida, As Preciosas, com efit, se reuniam para manter um discurso sobre o amor ¢ tam 4 ‘ém por suprimir da lingua as palavras que evocavam 0 sexo, Empreendimento, certamente, to longo quanto uma anzilise! Para demarcar a recusa da qual se trata, Lacan se refere ao drama surrealista de Apollinaire, Les mamelles de Tirésias. A heroina Thérése mio quer mais ser uma mulher casada, mas um homem, Pla se transforma em ‘Tirésias. Seu marido entio cria os filhos totalmente como ‘moga-pai"® e ela mesma se torna homosexual, um *homem-madame, um homem-adamado"”, No fim, entretanto, ela retorna para ele, transforma-se de novo em Thérése, ¢ ele volta a se casar com ela. As duas cenas que nos interessam sto aquelas da mudanga de sexo. Por ocasiao da primeira, Thérése recu- sa autoridade de seu marido: Senhor mew marido Nio me fari fazer © que quisen® Ela faz @ lista de tudo o que ela quer ser: soldado, ministro, presidente, médico clinico ou psiquico (psica- nalista?) etc. Durante esse tempo, seu marido lhe diz: “Me dé toucinho. E ela responde: Voce 0 entende ele s6 pense no amor. Depois, sua barba cresce e seu peito se destaca. Na cena, isso € representaclo por balbes que sto soltos, as mamas’, sobre os quais ela clizz

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