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clo 2dlu- LUCKESI, ons. Ei, caste, Sie tals: Cortes 1994. Capitulo 7 O conhecimento: elucidacdes conceituais e procedimentos metodolégicos Na peética docente, como abordames anteriormente, muitas vezes se exercita 0 ensing sem se perguntat 0 que é © conhecimento, seu sentido, seu significado. Para um exercicio satisfat6rio do ensino, entre outros ele- rentos fundamentais — como Psicologia e Sociologia ds Educagio, recur sos metodol6gicos para o ensing ete. —, & importante, também, possuir uma teoria do conhecimento.Teoria do conhecimento nada mais é do que um entendimento do que vern a ser 0 conhecimento, seu provesso, seu modo de ser, Assim, vamos discutir 0 conhecimento, para nos aproptiarmos do seu sentido, de tal forma que tenhamos a possibilidade de utilizé-lo da melhor maneita possivel em nossas atividades docentes. No capitulo 5, denunciamos o senso comum que paira sobre essa questio na prética esco- Jar, Aqui, desejamos abordar criticamente esse tema, por isso 0 retomamos de forma nova € mais aprofundada. 1. O conhecimento Quando se pergunta a alguém o que é conhecimento, a primeira ~ ‘© a mais comum — resposta que obtemos & que conhecimento € aquilo {que aprendemos nos livros, nas conferéncias... A resposta no esta de todo inadequada. Porém, hd um elemento que est na raiz do que denominamos conhecimento € que importa compreender paca que essa definigie fique mais adequada, 11 Oconhecimento é a comprecasio inteligivel da realidade, que osujeito humano adquire através de sua confrontagio com essa mesina realidad. Ou soja, a realidade exterior adquire, no interior do ser humano, uma forma abstrata pensada, que the permite saber ¢ dizer 0 que essa realidade € A realidade exterior se fiz presente no interior do sujeito do pensae mento. A realidade, através do conhecimento, deixa de ser uma incdpni ‘uma coisa opaca, para se tornar algo compreendide, trafskicido, ‘Um exemplo: quando nos deparamos com algo que desconhecemos, ficamos magnetizados. Ou seja, nem podemios deseartar 0 que esta i nossa fienie, nem sabemos © que fazer dese que ignotamos tudo sobre esse objeto. ‘Vamos, a titulo de exemplo, imaginar & nossa frente um computador ‘© supor que nunca tenhamos tido contato com equipamento semelhante. © que fazer com ele? Por enquanto, nada: nio hi 0 que fazer, pois des. conhecemos tudo sobre ele ¢ o seu foncionamento. Com a ijuda de wm ‘manual e de alguém que jé ttabalhow com esse instrumento, podemos tentar 08 pousos, utilizfto; e, apds algum tempo, estaremos dominando-o ¢ uti, zando-o adequadamente. © que ocorreu? Passamos da ignorincia pata © saber sobre o objeto © adguirimes algum entendimento, de tal forma que ele se tornou inteligivl. __ Tomemos algy mis existencial, como @ questio do clincer. 14 uma ‘gnorincia muito grande entre os especialistas sobre 0 que 6 como dominat esse desvio bioligico, que tem se manifestado tio intensamente nos sexes humanos nos tltimes tempos. Se soubéssemos o que & cincer e 0 modo de dominé-lo, ele nio nos assustaria tanto. Outras doengas, que também assustavam 0 set humano, deixaram de ser temidas depois de serem do- minados os modos de vencé-Ins. E 0 caso da tuherculose, da lepra cic. No passado, 0s portadores dessas doengas deviam afastar-se de suas familias, indo para isolamentos sanitérios. Hoje, 0 tratamento no requer mais 0 solamente. Portanto, o conhecimento pode ser entendida, sim, como aquilo que adquirimos nos livros, nas aulas € nas conversas, mas com 0 objetivo de alcangar entendimento da realidade. O que esta em primeira lugar, 0 que std na raiz do conhecimento, & a clucidngio da reslidade e nao a retengio 4¢ informagées contidas nos livros. Essas informagaes devecio set auxiliares 1 cntendimento da realidad; contudo, elas por si mesmas nio shoo gonhecimento que cada sujeito humano, em particular, tem da realidad, preciso utilizar-se das informagées de mane: intclectualmente ativa, para que se transformem cm efetivo entendimento do mundo exterior. A expressio “0 conhecimento € wi xelarecimentos muito clucidagia da realidade” nos dé iportantes, que pernitem entender, de wma forma m relativamente adequada, 0 que é 0 conhecimento. A palavra “elucider” tem origem no latim ¢ provém de dois termas dessa lingua: ela & formada pelo prefixo e, que neste caso significa “reforgo”, “muitas vezes”, € peto lucere, que significa *trazer & lu2". Desse modo, elucidar, do ponto de vista etimoldgico, significa *trazer a lvz duas vezes”, ow “tracer & tue fortemente”, Elucidag é, entio “trazer & luz fortemente”. Estamios falando da luz como linguagem metafSrica, figurada, para expressar a “luz” que a inteligéncia projeta sobre a realidade. Sc nio detemos um entendimento sobre o céincer, € porque a inteligéncia humana no conseguiu ainda projetar sobre ele sua “luz” cognitiva, penetrar esse fendmeno. Por outro lado, se detemos entendimentos sobre a tuberculose, € devido ao fato de a inteligéncia humana jé ter penetrado nesse “mistério” da realidade. ‘Nossa incapacidade de trabalhar com determinadas objetos decorre, fondamentalmente, de nossa ignordncia sobre eles € sobre os recursos a serem utilizados cm sua transformacio, Para compreender bem 0 conhesimento como forma de “ituminagio” da realidade, varnos lembrar uma situagao de vivéncia biolégica peta qual todos jé passamos. A situagio & a seguinte: estamos sob 0 sol de 10 horas da manha e entramos em uma sala que esté em penumbra, De imediato, paramos, sentimo-nos inseguros devido ao “escurecimento da vista”, de- corréncia de um processo de acomodagao da retina. De inicio, nfo enxer- gamos nada, mas, apis algum tempo, comecamos enxergar vultos €, seguir, reiniciamos nosso movimento de entrada. Por que isso ocorreu? Devido a, momentaneamente, nio enxergartos mais nada © perdermos © senso dos objetos que poderiam estar pelo caminho. Reiniciamos o catni- har porque temos hue suficiente pata distinguir 0 que fazer, que movi- ‘mentos so necessérios para nio esbarrar nos objetos & nossa volta. Em termos de conhecimento ocorre, num outro patamar, mais ou mcnos a mesma coisa, Aqui tern0s um exemplo biolégico, colado ai sensagao fisica, No caso do conhecimento, temos um patamar dc “iluminagio” que ‘envolve a intcligéncia, que cavolve a compreensio, O cancer, & Aids © fantas outras coisas que nio dominamos cognitivamente sio escuridées {que esto & nossa frente e que nio nos permitem agir de forma adequada. © conhecimento é 0 entendimento que permite agGes adequadas para a satisfacio de nossas necessidades, sejam clas fisicas, bioldgicas, estéticas ou outras. ‘© conhecimento, em sintese, € uma forma de entendimento da rea- lidade. Muitas vezes, 0 conhecimento ¢ confundido com 0 processo de decorar informagio dos livros, para a seguir, repetisa em provas escolares ou em provas de selecio. Isso no é conhecimento. Isso & memorizagio de informagio, sem saber 0 que, de Cato, essa informagao significa 3 Entio, quando diziamos acima que a afirmagio “conhecimento € aquilo ‘que adquirimos nos livros..." no estava de todo inadequada, era pelo fato de que muitos conhecimentos sio adquiridos através dos livros e outros ‘metos, mas como comprecasiio, como “iluminagio” da realidade e nao como retengéo aleatéria de pequenas informagées. Conhecimento, no verdadeiro sentido do termo, € aquele que possibilita uma efetiva compreensio da realidade, de tal forma que permite agir com adequagio’ 2. Formas de apropriacao da realidade através do conhecimento ___Existem duas formas' de nos apropriarmos da realidade pelo conhe- cimento: uma, através da investigagio dircta da realidade; ¢ outra, através da exposigdo dos conhecimentas jf produzidos e apresentados por seus autores. Marx nos diz que dois sio os métodos do conhecimento: 0 da investigagao € © da exposigio. “E mister, sem diivida — diz ele — distinguir, formalmente, 0 métoda de ex ido método de pesquisa. A investizacio tem de apoderar-se da matéria, em scus pormenores, de analisar suas diferentes formas de desenvolvimento, ¢ de perquirir a conexio intima que. hi centre clas. Sé depois de concluldo esse trabalho, € que se pode desere- ver, adequadamente, © movimento do real. Se isso se consegue,fieark cespelhacla, no plano ideal, a vida da realidade pesquisads, 0 que pode dar a impressio de uma construgia ‘a priori.” ‘Vamos tentar entender esses dois métodos anunciados por Marx para, 4 seguir, prosseguir em nossa discussio, Em primeiro lugar, Marx apresenta ©. método da investigagio. Essa ordem de apresentacéo, evidentemente, nao € gratuita, Com eli, Manx quer enfatizar que © conhetimento, em si, nasce de um trabalho de entenwlimento da propria reatidade. $6 depois ele pode ser exposto, comunicado aos outros. Ou seja, 86 apds os excreicios de investigagiio & que temos a possibilidade de expar o entendimento que eriamos da realidade, Para tanto, o excrcivia da pesquisa deverd ser 0 mais rigoroso possivel, de tal forma que passibilite a construgio de um enten- 1 Soe 5 Gut Coma — dca cinta de rose 0 gometnent posters ve Lock Open et a “O vr no aoe nara ple ents te Fae unergeuapoptes meni to ts Carer Ainds Fv Fv ode gece Sat, Fs Ter: ¢ ipo de Sa Pooks, Coto Asociados, 1984, ws Cones 2 Min Rar a tn 1 de dei, Circ, I a4 dimento que seja, no nivel do pensado, a expressio dessa mesma realidade. Evidentemente no como odpia dela, mas sim como sua compreensio in {cligivel. © conhecimento 6 a expressio do real, mas nio sua copia. Isso traz uma conseqiéneia para o processo educativo. Pode-se apren- der a partir da investigagéo direta e apropriagio ativa da expasigio do conhccimento eletivada por outros. Mas, certamente porque 0 método dé investigagio nem sempre podcré scr utilizado no pequeno espaco de tempo que se dispie dentro dos limites esvoiares, o método mais frequentemente uitilizado serd o da exposigio, seja oral, seja escrita, ou ainda através de ‘oulros meios de comunicagie. 2.1 O conhecimento direto da realidade (método da investigagio) ‘Q conhecimento dircto da realidade devorre do esforgo que 0 sujeito do conhecimento fz para obter um entendimento adequada da mesma, Para tanto, ele deverd assumir uma posigho critica durante todo 0 processo. Para a produgio do conhecimento da realidade, a primeira posigdo a ser assumida pelo sujcito € uma eritica dos proprios fendmenos da realidade 4 ser investigada. Ou seja, em principio, importa que o investigador tenha claro que a realidade nao se d& a conhecer imediata e facilmente. Ela tem subteriigios © manifesta suas aparéncias, mas ndo sua esséncia ‘Vamos iniciar por um exemplo bem simples. Em muitas situagoes do dia-a-dia, dizemos que “a Ii é quente”. Serd que a la € quente mesmo? De falo, a li nfo & quente; ela é, sim, boa retentora de temperatura Quente € © nosso corpo. Se sobre ele colocamos uma veste de la, que é bboa retentora de temperatura, 0 nosso corpo fica mais protegido do devido a ficar envolvido pelo sew proprio cilor, retido pela vestimenta de i, Na apartneia, a li é quente; na esséncia, cla & boa relentora de tem peratura. O conhecimento que quer ser verdadciro deve ultrapassar as ‘aparéncias © chegar & esséncie, Nao basta ficar na primeira ¢ priméria impressio. Os fendmenes, por si, no manifestam veracidade. Para dar um exemplo mais complexo de situagio onde podemos nos ‘enganar com as aparéncias, vamos lembrar “as estruturas do poder das instituigdes", Qualquer governo de Estado, qualquer prefeitura, qualquer secretatia, assim como qualquer escola, tem um organograma (aquele de- seaho da distribuigio das Geis ¢ setores du instituigio, com as diversas ditegdes do poder). O organograma, por si, seria a forma como 0 poder se distribui dentro daqueli determinadn institwigio. Se, contudo, estudar ns mais rigorosamente, verificaremos que esse organograma é a organizagio “aparente” do poder dessa instituigdo. De fato, a distribuigio do poder é ‘bem diferente dessa que esté especificada no organograma. Existem inter- feréncias pessoais, articulagdes diversas e indevidas ete. Para descobrir 4 verdadcica estrutura do poder de uma instituigéo nio basta estudar 0 seu organograma. B preciso ic além, descobrir efetivamente 0 que ocorre com © poder naquela institui¢éo, que caminhos segue, que intesferéncias efetivas ‘se manifestam, muito para além daquilo que esté expresso no organograma, Ai € que entra 0 processo de investigagio, que possbilta ultrapassar as aparéncias © chegar as esséncias, O essencial nio se dé & primeira vista, Por isso, & preciso ser eritico em relagio aos dados. Manxdiz que, se aparéncia e esséncia coincidissem, nao seria necesséri a cléncia, De fato, a ciéncia 86 & necessaria porque a realidade nio se di @ conbever facilmente. As aparéncias, que s4o manifestagées da propria fealidade, ocultam a verdade dessa mesma realidade. Assim, a primeira Pesigao metodolégica de quem quer se dedicar a elucidar o real deve ser uma atitude ertica para com as aparéncias da realidade. Assumir a posigio cettties para efetivamente conhecer significa assumir um posicionamento Permanente de ir para além das aparéncias, buscando aquila que subja- centemente explica a realidade através dos nexos © das relagies que sfo Invisfveis num primeiro momento. ‘Uma segunda posigio metodolégica por parte de quem deseja inves- tigar alguma coisa refere-se a critica do senso comum. Ou seja, tomna-se fundamental criticar as interpretagées cotidianas sobre aquilo que estamos estudando, Nio se pode, direta ¢ imediatamente, acreditar que aquilo que 8 pessoas dizem sobre si mesmas seja a verdade. E preciso olhar critica- mente para as opinides que o presente tem sobre o8 objetos que ele in- letpreta. Nao bastam as falas. E necessirio investigar se essas falas esto articuladas com a objetividade dos fatos, ou se simplesmente expressam interpretagGes, senio falsas, a0 menos parcinis, da realidade. Nao se pode admitir, pura e simplesmente, a opinio popular como explicativa de alguma ‘coisa, Bla é sempre fragmentiria ¢, na maior parte das vezes, sti articulada ‘com experiéncias existenciais dogméticas e supersticiosas. De acordo com Gramsci, nfo se deve condenar a visio cotidiana da realidade, mas deve se. sim, tomé-la criticamente nas més, para elevi-la a um novo patamar de. compreensio, que scja coerente, consistente e orgénica, © teteciro elemento metodolégico necessétio para a constituigio de um conhecimento objetivo & a critica das explicagoes existentes no meio cientifico. Nao se pode desprezar os conhecimentos jé estabelecidos, assim amo néo se pode admiti-los como plenamente verdadeiras, A verdade, sendo aproximativa, deverd ser perminenicmente buscada, E preciso ve~ 125 rificar criticamente aquilo que & verdadeiro e significative. Esse lado nfo pode ser jogado fora. Como também importa descartar aqueles conceitos ‘que j nio explicam mais 4 realidade. Os conhecimentos cientiticas exis- tentes representam passos dados pela humanidade no seu esforco perma- nente de compreender a realidade para transformé-la. Isso, como podemos deduzir dessas discussdes, nao quer dizer que devamos, pura ¢ simplesmen- te, aceitar ou rejeitar todo conhecimento estabelecido. Sendo aproximat +05, os conhecimentos serio revistos. Hi 0 que deva ser aproveitado ct ticamente, como ha o que deva, também criticamente, ser descartado, Para enfrentar a realidade criticamente, levando em consideragio 0s elementos que apontamos, importa utilizar recursos metodolégicos gerais, ‘Yarnas lembrar alguns deles. Nao tomar a parte pelo todo. Nio se pode julgar um individvo sim- plosmente por (cr visto 0 scu rosto, Ele possui muitos outros caracteres, ‘que compdem o todo de sua personalidade ¢ do seu modo de ser. Também 4 vida de um povo nito pode ser julgada simplesmente pelas suas festa. Muitos outros elementos devem entrar nesse processo de caracterizagio € de julgamento. Para se estabelecer um conhecimento aproximativo do real, importa tomar cada coisa pelo todo, ou seja, por todos os elementos que'o compdem dentro de um quadro de nexos ¢ relagSes. Importa des- vYendar as relagSes que constituent o objeto de estudo. ‘Nao tomar o particular pelo universal, mas sim procurar no particular © universal. Ou seja, em cada objeto a ser estudado, importa descobrir as caracteristicas universais. Nao sio os caracteres individuais da personali- dade de Pedro que definem o ser humano, mas certamente em Pedro manifestam-se caracteristicas universais do set humano, situado social € historicamente. A ciéncia é a descoberta do universal que se manifesta no particular. As caracteristioas das classes (rabalhadoras se manifestam em qualquer trabathador. A identificagao desses elementos universais é ncces- siria para a constituigio de uma compreensio dircta da realidade. ‘Nido se pode esquecer que o passado se faz presente em qualquer situagic ‘ow objeto do conhecimento ao qual nos dediquemos. Nada se faz ubrup- tamente. Todos os fendimenos naturais ou sociais tém uma génese, uma histéria. E essa hist6ria, essa ginese & fundamental para se entender ¢ objeto que estamos estudando. Assim, a escola que temos hoje no é a mesma de ontem mas a escola de hoje € devedora da de ontem. E, em termos de conhecimento, no vamos conseguir compreender bem a escola de hoje sem estudé-la a partir de sua transformacéo de ontem para 0 hoi Nés, em nossa personalidade individual, somos fruto de toda a nossa historia de vida. E, assim, cada fendmeno, seja ele da sociedadle, ou da natureza, ior Levando em conta esses elementos estarcmos cm condigdes de pro- uair um conhecimento aproximadamente verdadeiro da realidade, com. preendendo-a e explicando-a. O conhecimento, assim, se manifestar coma 4 iluminagéo da esséncia sob a aparéncia. ® © conhecimento produzido de modo critico, certamente, sera uma iluminagéo da realidade. Ele consistiré num novo entendimento da reali dade, que possibiltard ages préticas com um nivel de aylequagio muito maior. A ciéncia é uma forma de entendimento da realidade extremamente Recessdria para a sobreviveneia e o avango da humanidade. 2.2 O conhecimento indireto da tealidade (método da exposigio) © método de exposigio anunciado por Marx & 0 meio pelo quat 0 investigador expe os coneeitos quc conseguiu formular sobre a realidade investigada, Ou seja, 0 pesquisador expde a expressio “pensada” da reili- dade. Todavia, a expasigio ¢ também 0 meio pelo qual podemas nos Apro- prise, através de uma assimilagio ativa, dos conhecimentos expostos, Os Pesquisadores desenvotveram suas investigagdes, formutaram suas explica- oes da realidade ¢ as expuseram, seja através da fala, seja através da Gserita. Nas assimilamos 0 comtérido dessas exposigdes, na perspectiva de entendermos a realidade, E a isso que denominamos conhecimente iad, Feto da realidade”, devido ao fato de adquicirmos um entendimento do real através do entendimento exposta pelo pesquisador. E, portanto, uma via indireta de enfrentar u realidade do panto de vista cognitivo. No conhecimento denominado direto, a confrontagio cognitiva se dé entre sujeito do conhecimento € abjeto conhecido. No conhecimento de~ nominado indireto a confrontagio se dii entre sujeito do conhecimento e objeto conhecido através da expenigio do investigador. Assim, 0 que esti exposto num texto, num liveo, nig substitul, de forma alguma, a realidude. Acxposigio ¢ imtermedisria entre o sujeito do conhecimento e a realidad ‘um meio eficiente pelo qual podemos adentrar em muitos dos mistérios da realidade ffsica e da realidad social, sem que tenhiamos que proceder ‘08 longos € minuciosos processos da investigagio. Aliés, nenhuma de nos. sas vidas seria suficiente em termos de duragio, nem terfamos eompeténci ara proceder a tantas investigagées quantas as que ocorrem diatiamente 29 Sobreousa demétedodinéico no investigate selmi, Oetn0.Dilies ccopiono- Fe oreo ie {Certo Diatiesecopiatono. Penge, PR ‘no mundo da ciéncia e da cultura. Seria um sonho vio acreditar que po- derfamos, ao menos, reconstituir uma pequena parcela das pesquisas jé realizadas em qualquer das possiveis reas de conhecimento. ‘Temos mesmo que admitir com muita clareza que a maior parte do conhecimento que cada um de nds detém foi adquirida a partir da exposigio de algum pensador pesquisador ou professor. Poucos de nds nos dedicamos @ criar riovos conhecimentos, € poucos, proporcionalmente 4 quantidade de setes humanos, sio aqucles que se dedicam efetivamente a0 trabalho de produzie conhecimentos novos. Um caminho aberto ¢ fundamental de apropriagéo de uma compreensio da realidade, disponivel a todos nés, & © conhecimento indireto. E a aquisigio da realidade através dos resultados dos trabathos de investigagio dos pensadores ¢ dos cientistas. As duas formas de conhecitnento esti articuladas: nfo hé como pro- duzir conhecimento dircto da realidade sem se dedicar a uma assimilagio erftica dos conhecimentos anteriormente estabclecidos. Os conhecimentos anteriores servem de ponto de apoio para o avanco da investigacao, assim como muitas vezes servem para demonstrar as lacunas onde ha necessidade de investigagées novas ou mais especificas. Nenhum conhecimento nasce de si mesmo: cada conhecimento novo € herdcica do passado humano, ‘assim como € herdeiro da contribuigio de investigadores contemporancos. A investigagio sempre tem uma divida histérica com os que vieram antes, assim como tem uma divida para com os que vivem ¢ convivem num mesma época historic, A critica, um processo de conhecimento indireto da realidade, se nutre dos mesmos critérios que apresentamos para o eonhecimento direto. Ou seja, 0 contetido que estiver sendo exposto deverd ultrapassar 0 apa rente, Teré que dar conta de um patamar de compreensio e explicacio da realidade que vi para além das aparéncias; que nio tome a parte pelo todo; que manifeste os elementos niversais explicativos de uma determi- nada realidade; que busque o fundamento do entendimento, nio sii n0 presente do objeto exposto, mas que o explique a partir de sua génese. Assim, © eonhecimento adquirido, via exposigio dc alguém, um instrt- mento critico de comprecnsio da realidade, na medida em que tena sido construido de uma forma critica, com todas os clementos metodoliy2s, cima especificados, Nés, apropriadores de conhecimentos, & que deve nis estar atentos para verificar se @ exposigdo que estamos recebendo ten win valor eritico ou nao. Nao & devido ao fato de alguma coisa ter sido exciii © publicada que & verdadeira. Nenhum critétio, em termos de definicia: de eriticidade de um conhecimento, podera ser assumido como superior 4108 limites da realidade. Si os limites da reatidade que permitem estabe- lover e distinguir o verdadeino. Um conhecimento € verdadeiro quando, de torma universal, explicu os nexos légiens do objeto que estamos quereto 19 ‘entender. Uma exposigio seri eritiea na medida em que expresse um co- nhecimento verdadciro como expressio pensada da realidade. Nisso tudo, o que importa, radicalmente, & a compreenséo da realida- de, seja através do procedimento dircto ou do procedimento inditeto de ‘conhecer, 3. O conhecimento na escola ‘Como vimos em capitulo anterior, é comum na pritica escolar se dis- torver 0 verdadeito sentido do conhecimento como entendimento da rea- lidade. Conhecimento, na maior parte das vezes, significa para a escola transmissio ¢ retengio de pequenas “pfulas” de informagio. Decoram-se ‘essas porgbes de informagio ¢ a realidade, em si, permanece obscura e nio-compreendida. Na maior parte das vezes, os professores esto mais preocupados com os textos a seret lidos ¢ estudsdas, do que com a prépria tealidade que necessita ser desvendada. As veres se valoriza tanto um determinado texto de estudo, que o Proprio texto parece substituir 2 realidade. Muitas vezes, 0 dificil aio é ‘compreender a realidade, mas sit 0 texto que expde um determinado co- hecimento estabclecido a respeito deta. E hi até ocasides em que os Professores selecionam os textos mais complicadas de entendimento paca que os alunos se debrucem mais sobre cles que sabre a realidade que os textos pretendem apresentar e desvendar. Essas distorgées dificultam 0 ensino © a aprendizagem. © interesse de cada um de nds e de cada crianga que estd na escola é ter a possibilidade de compreender a realidade € 0 mundo que esté 2 nossa volta, de uma forma mais ampta ¢ significativa. Ora, a escola, por vezes, no ensina nad: além daquilo que todos jé sabem (essa & a supesigao: todos sabem algu coisa, basta rouni-los para trocar umas tantas idéies ¢ conhecimento jf estar’ estabelecido). As vezes, a escola transmitc informagses tao desvines. fadas da realidade © de tal forma hipertrofiadas, que passa para os alunos a sensagio de que aqucles entendimentos expostos niéo valem nada; efe- tivamente, da forma como sio apresentados, certos contcidos por vezes, nao valem nada mesmo ou, pior, sio enganosos. Em Geogratia, por exemplo, dizet que “0 solo sc forma a partir da decomposigao de rachas” € verdadeito. Porém, demonstrar que iss0 ocorre, ‘ partitdo fato de moer ou rachar a rocha, é wma falsidade. A decomposigio da rocha que produz o solo depende de fatores elimiticos, de microorga- nismos, do himus que recohre as decomposigics etc, Além de serem pitas 130 de conhecimento, aquilo. que ensinado na escola é, is vezes, Talso enganoso. E precio ter cuidado com esta questio do conhecimento, pois que dessa compreensia dependerd a forma de trubalhar com os alunos no pro- cesso de ensino/aprendizagem. Como jé dissemos anteriormente, 0 conlic- eiménto deve ser um modo de existir & de ver o mundo por parte de cada cidadio. E, para tanto, hd que se apropriar do conhecimento de uma forma existencial, Ele deverd passar a fazer parte da vida de cada ser hummano. Nio podera, por isso mesmo, ser tio-somente um conjunto de informagies que se decora ¢ depois... gragas a Deus”... se esquece. Para ganhar um novo sentido, o conhecimento assimitado pelo edu- cando deverd apresentar-se como slguma coisa signilicativa ¢ existencial. ‘Como lembramos anteriormente,o processo de nquisigdo de conhetimentos escolares deverd ter pelo menos quatro tapas € conteédas bisicos: aqui- sigao de informagbes, principios, seqiiénecias ete; aquisigio compreensiva 43 metodologia ulilizada na produgio desse conhecimento através da exer- citagio; aplicagio dessa meiodologin em situagies assemelhadas vidade de novos conhecimentos aplicando os conhecimentos e a metodo- logia adquiridos. Assim, sendo, o conhecimento escolar s6 poderé vir a ser um conhe- imento significativo ¢ existencial na vida dos eidadios se cle chegar a ser incorporada pela compreensio, exercitagio e utlizagio eriativa, Contudo, cestas quesi6es operacionais di aprendizagem pertencem so mundo da Gitica © deverio scr tratadas em outro ambito de eonhecimento. Esse entendimento do conhecimento pode scr utilizado tanto no nivel do jardim da infincia, quanto no nfvel universitério, O que importa é que cexda pessoa, cada escolar, cada erianga, consiga entender a realidade que ‘esti a sua volta, Claro, hé que distinguir niveis de complexidade de co- nhecimentes. O conhecimento que se possibilta a um universitirio ndo & © conhccimenta que se vai oferecer a uma erianga no jardim da infin. ‘Mas, em ambas as instancias educacionais, o conhecimento deverd ser uma forma de entendimento ¢ de compreensio da rcalidade. 4. Procedimentos de estudo e ensino 1, QuestGes para estudo e compreensio do texto 8) Como se entende o conhecimento como uma *iluminagio da rea fidade"? Compare essa forma de conhecer com aquela que € pro- cessada na escota c verifique semelhangas ¢ diferengas. BI

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