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1 Introdução
O presente estudo visa analisar, com enfoque no âmbito jurídico, as vantagens de uma
empresa¹ realizar operações por contratos de leasing, em suas diversas modalidades.
Assim, pode-se afirmar que, no ordenamento pátrio, o leasing não é um contrato típico,
vez que a legislação existente sobre o tema trata quase que exclusivamente dos aspectos
fiscais de tal contrato, não dispondo sobre sua disciplina jurídica no âmbito do direito civil.
Regulado no ordenamento jurídico nacional pela Lei nº 6.099/74, alterada pela Lei nº
7.132/83 e pela Lei nº 11.882/2008, e por normas exaradas pelo Conselho Monetário Nacional,
de competência do Banco Central do Brasil, como a Resolução 351/75 e 2.309/96, as
peculiaridades do contrato de leasing – ou arrendamento mercantil – restaram obscuras ao
aplicador do direito, já que o legislador é por demais diminuto em sua caracterização material, o
que leva, até a presente data, a doutrina e a jurisprudência a ditarem os principais aspectos
jurídicos envolvendo este tipo de contratação.
¹
Para fins de leitura, trataremos "empresa" independentemente de sua forma de
constituição, somente destacando as conseqüências jurídicas quanto pertinente a cada tipo de
sociedade, seja limitada, por ações, dentre outras.
leasing ainda não foi por completo consolidada em nosso ordenamento, tomando-se, por
exemplo, a edição, em 17/02/2009, da Súmula 369 do Superior Tribunal de Justiça, que será
alvo de aprofundamento mais adiante.
A palavra leasing deriva do verbo inglês to lease, que significa alugar. No entanto, o
contrato de leasing difere do de locação, notadamente pela obrigatoriedade daquele em conter
disposição que forneça ao arrendatário a opção de compra do bem no término de vigência do
contrato.
As partes do contrato de leasing são o arrendante ou arrendador, que pode ser ou não
possuidor do bem, o arrendatário e o fornecedor, que efetuará a venda do bem ao arrendante.
Interessante notar a divisão vertical da posse sobre o bem objeto do contrato de leasing.
Na vigência do contrato, a posse indireta do bem permanece com o arrendador, enquanto o
arrendatário possuirá a posse direta do bem, nos termos da legislação civil vigente.
Este fator tem grande relevância na avaliação do risco do crédito, pois em caso de
inadimplemento do contrato pelo arrendatário, o arrendador pode valer-se da ação possessória
para reaver o bem objeto do contrato, evitando a demora na recuperação do crédito fornecido.
Em relação ao objeto do leasing, podem ser contratados tanto os bens móveis, quanto
imóveis, inclusive aeronaves e navios (art. 11 da Resolução CMN nº 2.309/96), estes últimos
que se encontram em pauta na doutrina atual, frente às novéis discussões nos tribunais sobre
os contratos de leasing envolvendo tais bens.
Neste ponto, insta ressaltar que não cabe ao arrendatário inadimplente ter decretada sua
prisão civil, ou mesmo ser compelido a devolver o bem por meio de ação de depósito, tendo em
vista que o contrato de depósito é, via de regra, gratuito (art. 628 do CC/2002), sem que o
depositário tenha o direito de uso e gozo do bem.
A medida judicial cabível para o arrendante reaver o bem é, como já dito, o ajuizamento
de ação de reintegração de posse, na qual, citado o arrendatário, este deverá purgar a mora no
prazo da contestação, sob pena de sofrer a busca e apreensão do bem objeto do contrato de
leasing.
Em relação ao prazo de vigência, o prazo mínimo legal da operação de leasing é de 90
(noventa) dias para o leasing operacional, 24 (vinte e quatro) meses para bens com
depreciação de até cinco anos (veículos e equipamentos de informática) e de 36 (trinta e seis)
meses para os demais bens (máquinas, equipamentos e imóveis). Tal previsão se encontra
expressa no art. 8º do Anexo da Resolução 2.309/96 do CMN.
Quanto à extinção do contrato de leasing, esta pode ocorrer com a morte do arrendante
ou do arrendatário, caso fortuito ou força maior, término da vigência sem a renovação, perda ou
destruição do bem objeto do contrato ou rescisão por descumprimento contratual.
(...)
Assim, inegável é que o arrendante do bem, que, como visto, sempre será uma instituição
financeira ou, no caso de leasing operacional, uma pessoa jurídica que desempenhe atividade
comercial, se enquadrará em qualquer hipótese no conceito de "fornecedor" previsto no Código
de Defesa do Consumidor.
A contrario sensu, não é consumidor o arrendante que utiliza o bem objeto do contrato de
leasing com fins econômicos, visando o lucro e os demais fins empresariais consagrados,
mesmo que pessoa física.
Assim, caso o arrendante ajuíze ação reintegratória sem que tenha notificado
previamente o arrendatário, esta deverá ser extinta sem julgamento do mérito, pela falta de
interesse processual, nos termos do art. 267, VI do Código de Processo Civil.
Em primeiro lugar, cumpre relevar que em todo contrato de leasing há de constar o valor
residual garantido, considerando-se o valor real da prestação, descontados a correção
monetária, juros aplicados, impostos e taxas previstos no contrato, dentre outros dados que
compõem o preço do contrato. Este não se confunde com a opção de compra, pois é uma
garantia ao arrendador de que receberá certa quantia caso o arrendatário não opte pelo
exercício de seu direito de compra ou não deseje a renovação contratual.
O VRG é geralmente composto pelos custos que o arrendante despendeu para aquisição
do bem e para a realização da operação do arrendamento, bem como a margem de lucro do
arrendador.
Outrossim, o Superior Tribunal de Justiça, por meio da edição da Súmula 263, mantinha o
entendimento de que a cobrança antecipada, ou seja, antes do término do prazo de vigência do
contrato, do VRG descaracterizava o leasing, pois, em tal ocasião, este não passaria de um
contrato de compra e venda a prestação travestido, em que o arrendante-vendedor levava
manifesta vantagem sobre o arrendatário-comprador.
"Informativo nº 0364
"Informativo nº 0339
Enfim, por mais que a primeira norma jurídica nacional a regular o contrato de leasing
date de mais de 25 (vinte e cinco) anos, a ausência de regras que disciplinem o direito material
de tal contrato peculiar certamente ainda trará à baila outras divergências sobre as
conseqüências jurídicas porventura advindas de tal contrato, o que só seria solucionado com a
promulgação de uma lei substantiva sobre o tema.
Apesar de ser instrumento do mercado financeiro, o leasing não sofre incidência de IOF,
sendo ainda possível contabilizá-lo como custo operacional, para fins de dedução do Imposto
de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ.
Corroborando a previsão legal supracitada, existe a Súmula 138 do STJ, que afirma que
"o ISS incide na operação de arrendamento mercantil de coisas móveis".
Sob uma ótica tributária mais ampla, podem-se perceber vantagens para a pessoa
jurídica contratante de um leasing tanto como arrendante, como arrendatária. Os caputs dos
artigos 11 e 12 da Lei nº 6.099/74 são nítidos ao estabelecerem que:
Art 12. Serão admitidas como custos das pessoas jurídicas arrendadoras
as cotas de depreciação do preço de aquisição de bem arrendado, calculadas
de acordo com a vida útil do bem."
Apesar de, à primeira vista, o leasing ser mais vantajoso na redução de tributos que a
empresa celebrante do contrato teria, há de ser analisada a conjuntura momentânea e a
perspectiva a médio prazo da economia, para verificar se as vantagens tributárias do contrato
de leasing não seriam inferiores à isenções ou reduções fiscais de tributos incidentes em outros
contratos semelhantes porventura concedidas pelo Estado.
Cumpre ressaltar que, apesar da maior possibilidade do custo final do bem ser mais
barato no leasing, convém lembrar as desvantagens deste contrato em relação ao
financiamento comum.
Esta hipótese pode ser severamente agravada, caso a empresa arrendatária utilize o bem
objeto do contrato de leasing para a sua produção habitual.
Este tipo de contrato de leasing é utilizado em larga escala junto à pessoas físicas
consumidoras que, no intuito de adquirir automóveis ou bens de valor expressivo, tornam-se
arrendatárias dos bens, para, ao final, exercerem seu direito de compra.
O saudoso professor de Direito Civil da USP, Dr. Carlos Alberto Bittar, in "Contratos
Comerciais" (Ed. Forense Universitária, 1990, p. 112), explicita que:
É essencial à saúde financeira da empresa arrendatária que o bem arrendado seja fonte
de renda, ajudando no custeio do contrato de lease back, caso contrário, o preço do contrato
pode vir a se tornar excessivo frente ao orçamento empresarial, ensejando o crescimento do
risco de inadimplência, que por sua vez gera todos os efeitos a ela inerentes, inclusive a busca
e apreensão do bem pela arrendante.
2. APELAÇÃO PROVIDA."
O Leasing Impróprio ou Self Leasing é como um lease back travestido, isto é, uma
empresa vende seus bens para outra sociedade do mesmo grupo econômico, que por sua vez
arrenda os referidos bens à empresa vendedora.
A rigor, a legislação vigente só permite a venda e arrendamento de bens entre
sociedades do mesmo grupo econômico, no conceito dado pelo art. 1.097 do Código Civil de
2002, nos casos de leasing financeiro, em que necessariamente há a figura de uma instituição
financeira como arrendante.
Este tipo de contratação não é abarcado pela Lei nº 6.099/74, que o exclui de seus
benefícios fiscais, expressamente no caput do art. 2º, qual seja:
Esta estratégia jurídica cria uma blindagem patrimonial à empresa arrendatária, pois em
caso de execução patrimonial, ou mesmo ordem judicial que determine qualquer tipo de
constrição dos bens da empresa, esta poderá provar que não possuem bens para satisfazer
seus credores, restando inócua a ordem judicial pela dificuldade da constatação do self leasing
(que aparentemente é um leasing tradicional ou operacional), preservando-se o patrimônio de
fato da empresa devedora.
Nesta espécie de leasing, o arrendante e o fornecedor do bem são a mesma pessoa, pelo
que a lucratividade da arrendante é baseada primordialmente na verba obtida pela manutenção
do bem e, em segundo plano, pelos juros e demais despesas incluídas nas parcelas do
contrato de leasing.
Insta ressaltar que o arrendante não necessita ser uma instituição financeira nesta
espécie de leasing.
Normalmente, o leasing operacional envolve bens que o arrendatário não tem interesse
de adquirir, em função, por exemplo, da rápida obsolescência, como nos casos de bens de
tecnologia, ou da sua necessidade apenas pelo período de vigência do contrato.
6 CONCLUSÃO
O contrato de leasing, por sua natureza, possui peculiaridades que trazem vantagens
jurídicas e operacionais, tanto ao arrendante, como ao arrendatário, seja este pessoa física ou
jurídica, consumidor ou não.
Até que isto aconteça, toda empresa há de balancear o risco da contratação do leasing
(fiscais, econômicos, operacionais e jurídicos) com as vantagens oriundas desta modalidade
contratual.
REFERÊNCIAS
BITTAR, Carlos Alberto. Novos Contratos Empresariais. São Paulo: RT, 1990.
BITTAR, Carlos Alberto. Contratos Comerciais. São Paulo: Ed. Forense Universitária,
1990.