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Anne-Marie Chartier PRATICAS DE LEITURA E ESCRITA HISTORIA E ATUALIDADE Ceale® sritcemananasmen auténtica COPYRIGHT © 2007 8Y ANNE-MIARIE CHARTER ‘marco Severo (coord) Ara Maris de Oliveira Galvéo, Artur 2 Pibas da Siva, Json Hébrard, Lule Percival Lome Magda Scares, Marcia Abreu, Vera Masagdo Ribiro ‘Ana Maria de Olvera Galvdo, Ceres Leite Prado, Five Sart Martins Tales Leon de Marco Conrado Esteves a por melos mecaricos, eleiOnicas, sea vi « iagto pres da elias, ‘ores, 981, 8° andar. Funciondrios © 30140.071. Belo Horizorte. MG OTe: ( ) 8784 sr10 ntica-sp1 Gautenticaed 2007 . inguagen e 50 85.7526.261.0 INDice Apresentagao ‘Ana Maria de Oiveira Galvéo e Ceres Leite Prado, Capitulo I Exercicios escritos e cadernos de alunos: reflexées sobre pratieas do longa duragao Tredugao: Ana Mario de Cllvelra Golvao e Ceres Leite Prado. Capitulo 2 Dos abecedérios aos métodos de leitura: génese do manual mederno antes das leis Ferry (1881) Tradugaa Maria Rito Toled e Ricardo Cosco... Capitulo 3 Professores ¢ bibliotecérios da época do pés-guerra aos dias de hoje: modelo da transrmissao e modelo da mediaggo Traducdo: Ruth Siviano Brondéo. Capitulo 4 Aleitura e sua aquisicao: modelos de ensino, modelos de aprendizagem Tradugdo: Ruth or (65 Prices dolauraescrc historias sunhéade- Ante-Hare Charter fuga ou a submissfo: as trés tinicas safdas para o individuo |, segundo Henri Labori, Todos aque- 05 dispositivos de vigilaneia sto também “dispos benevoléncia”®, As mitltiplas combinacdes de que so cons- titufdos geram, de forma quase mecanica, espagos de jogo, de indeterminacao. B nesses espagos que os conflites, os bloqueios, mas também as inveng6es, sao possiveis. O tra~ balho sobreas préticas se encontra, entZo, emt educacao como em outros campos numa articulagio estratégica para defi- nit, a9 mesmo tempo, temiticas de pesquisa ¢ perspectives de Formac. Reconheceremor ai todos oF tomas dessrwolvides pelor ‘eléasicos! ca se ce pedagogia inattucionl, Niko se pove comprecne geal, como um diposiivo de “benevolencla” « pode ter evetos con iqueles que crim previsios ou deseacos; os esludos de cise context 6 520 sempre necessérios. Pensamos nos estudas jd antigo: sabre 0 trabalho dos cientisas de Brana atour © Seve. Woolgar Leharatary Ifo the ion of el facts Princeton University Preas, 1988 (2 ad.) ov enais ecunter de Chris tian Licoppe, 1a formation de Ia pratique scientifique, Le akerowrs se Pespérience en Praiice oon Angleterre, 1830-2820, Pats, ta Décovverc 1996, ou tinda nas tentativas de modelizepaa socialdgieas promovides por Luc Boltnski e Laurent hevenot que se inreresstm pela tomada de ‘decisao des stores e, pertanto, ac exercicio, 40 mesmo tempo técnica © iio da responsabilelade (Les économies de la grandeur. Paris: BUF, 1987 (Eds) Justese at Justice dans te travail. Pais: PUF, 1987. De la fustificat- ov, Pacis: Gallimard, 1991). Carituto Il DOS ABECEDARIOS AOS METODOS DE LEITURA: GENESE DO MANUAL MODERNO ANTES DAS LEIS FERRY’ (1881) De todas as obras escolares, a mais divulgada é aquela que faz 0s iniciantes entrarem nos “rucimentos da leit No meio século que se passa entve a lei Guizot® (a obrigat riedace dos municipios terem uma escola de meninos) e as leis Ferry? Cescolaridade obrigat6ria durante cinco anos para os dois sexos), novas manuais de leitura foram editados aos Ges de exemplares, 20 mesmo tempo em que diminuta regularmente 0 nimero de alistaclos no servigo militar que se declaravam analfabetos’. Ferry herdou o grande trabalho de alfabetizagio que havia acontecilo antes dele’ — © muitos pensavam naquele momento que “o século XIX terminaria tndugio de Maria Ria Toledo © Ricards Casco, ulaot fol publicada em 1833, Seu nom= fore 10 eto Ministro o 4 patie de 1881, quando art Minieico da Instrugdo Publice y WR) + Erure 1833 © 1868, a porcessagem de alistados que se dzclanavam analfa: betot diminuiv 19 por ano, entee 1868 © 1881, de 0.5% © de 1871 & 1850, 0,539, BALLET-BAZ, |. “llletrés*, Dictionnaire de pédagosie ot a fon primaire, sob 4 depo de Fexdinand Buisson, Paris. Hache Pare, p. 1316-1310. Sobre a metodologia, LUC. JeanwNos!. La Fenseiginoment primaire, 19 ~ 20 stele, Palitique of eel? 1995. > Em 1855, 3206 dos homens ¢ 4695 das mulheres assizavam com uma cruz (0 registro de casamerto, em 1865, 2794 ¢ 419%, em 1878, 16 © 27%, pos 2 pesquisa do reitor Maggolo, amalisado por FURET, F; OZOUF, J. Lire et Serine. Alpbabétisavon ées Francais de Calon a Jules Ferry. Paris: Ed. De Minuit, 1977 68. Prive de laeurasescrta itr auslcade Arne Marie Chartior com uma populago podendo riscar essa palavra [analfabe- tol de seu dicionario”®. Q grande projeto da IIT Reptiblica’ para a escola primiria nao era mais 0 “Terescrevercontar Sun progrima mais ambicioso, tomado possivel pela utilizagao da letura para outros fins: construir uma conscién- Gingwa Francesa, Literatura, Hist6 fia da Franga), adquitir saberes “universais” laicos (Moral, Ciéncias) © chegar a uma competéncia de escrita vit, tanto na vida social como na vida civica (redapao estabelecida ras-modelo). Se esse salto de exigéncia foi pos- sivel, foi porque a leitura precoce ji estava quase gene; zada, tanto por causa das politicas de oferta escolar quanto da demanda social Com a queda do Segundo Império*, os professores dispu- ham, por sua vez, de cispositivos de ensino estabelecides, de modelos de aprendizagem em debate de um amplo in- ventirio de instramentos de trabalho. Os dispositives no estavam ainda implantaclos em todo o territ6rio (programas, curriculos em trés cursos — elementar, médio © superior -, escolas normais, sistema ce exames e concursos para ser professor primério), mas o Ministéric da Instrugae Péiblica dispunha de meios de informagoes (pesquisas, relatsrios, inspegdes) bem estabelecidos sob o Império autoritésio”, tanto por vontade de controle politico como por preocupacia de I (Manel Géne- ral, Bulletins de lTastruction primaire, os diversos Bulletins ne Geogra- sobre lei cia pecagégica. A imprensa profissio’ ‘Pectagogie, DALLEY-DAZ, J. Anigo “Ilioués, CHARTER, A, de Jules Fery". In: FRAENCKEL, Beaiice (Di) tir Bel — Cane George! we que vigorou de 16! ret Segunds © 4 Te * JACQUET-FANCILLON, Fe Presse Universiae du Septentricn, 1999 (que apresents 0 relitéria de pesquisa excamendiee por Rauland em 1860) ern (i981) 69 académiques e Bulletins départemeniauc® fazia eco 20s de- bates cm curso; meméria_livresca versus méiode inuuitiva, aprendizagem “por rotina” versus “por principios", conflitos entre métodos de leitura (antiga ou nova soletragio, leisura com ou sem soletracdo). Os instrumentos de trabalho eram 08 equipamentos materiais (mobilidrio, quadros, livros) mas tambem as priticas da tradiggo € da inovacao (conjunto de exercicios, procedimentos de ensino coletivo, atribuigao de tas) Sem aS quais nao existiriam dlisciplinas escolares”, Gs manunis, produzides em abundancia por um mercado editorial regulamentado, concorrencial e em plena expansio devido a escolarizagio crescente, cram os instrumentos mais visiveis e os mais esuudados'. Testemunhos privilegiados ‘as evolugdes institucionais, eles se situam "no corredor da cultura, da pedagogia, da edigto e da sociedade”. Que van- tagem documental espectfica o livreto de alfabetizagao for- sao cultural, ele colocava em cena o Proposto como referancia aes leitores niece? Livro de ini “mundo da eserita’ principiantes. Livro introdutério & lingua escrka francesa, numa época em que 0s alunos do primério fa vam dialetos € 03 gramaticos cram latinistas", apresentava um conjunto de saberes (mais cu menos explicitados) sobre as normas da lingua e as relagées entre a esciita ¢ © oral. Ble impunha certa divisio silabica, regras de correspondéncia entre sons cemitidos e signos escritos, mas Iegislava também sobre as pronincias, as ligagdes, a5 marcas de pontuacio € as regras, ortogrificas. Livro de uso, repertério ordenado de exe © Manval Geral, Bot micos © Boleins de © CHERVEL, Andké. 1a euftire solaine. Pare: Belin, ins da insvucte prindva, os diversos Boletins acadé- 0. por Alain Chopin, fseolsizer, Hut et societés, XIN — XOX ices), 1993, p78. Y CHUKVEL, Andre, Hétoire de lt grammeire scolaire. Payot, 1977 70. retices de leuran ect Wethrne sualdade-aneari Charlee ele pode ser considerado, 20 lado dlos livros de rezas e das partinnnar miasioais para in “sui Iho mais para ser wtlizado no diaa-dia do que para ser lido. K principal dificaldade, para o pesquisador, € justamente a de reconstruir os gestes desaparecidos para compreender como 0 mestre e o aluno se serviam do mesmo livro. Tratava-se, ainda, de um objeto editorial multiforme: 0 alfabeto ao custo de 15 centavos estava lado a lado do in Jolio de kuxo que valia 5 francos; as Uragens industr alguns best-sellers nto podem fazer esquecer as centenas de obras jamais reeditadas, Nos manuais, podemos perceber variagées mindscules, mes nio insignificantes, que seus tores puderam fazer, dentro de um modelo limitado ¢ repeti- tivo, em um certo momento da histéria, Da mesma maneira, as constantes ¢ variantes que marcaram as reedipdes de uma 1° procurava tornar fiel nies, como um guia de traba- de mesma obra mosiram como um edi seu pUblico, ganhar novos clientes (os professores primrios jniciantes, em particulad, copiande a concorséncia € mistu- rando tradlicao © inovagao. As logics econdmicas “nomaliza vam" um objeto sustentaclo pela dingmica de umsetor em pleno crescimento”. Ora, um manval 6, 20 mesmo tempo, a oferta pedagégica de um autor e a oferta comercial de um editor. O primeiro quer responder a uma demands jé reconhecida (cle fmita o que existe ¢ espera ultrapassi-lo) ou cré responder a ‘uma expectativa nao satisfeita (seu livro pretends ser, eniao, “diferente”, inovados, capaz de sbol idades até en- to ago resolvidas), o segundo visa um mercado. A diversi- dade de obras informa sobre a visto dos que as prescreviam. © 48 reedighes sobre a recepy20 do pill milias). Trabalhando sobre © corpus constitufde por um.ins- petor geral do Segundo Império € conseivado no Insitut ico (professores, fa MOLLER, JY. Cage Pavia. Fayaré, 1990, CHART imps dea 4d rc, 1990, Pais) Promod National de Recherche Pédagogique CINRP), procuramos: campreendier essis solitharedaddes dintmicas. O que podem tos métodos de leitura publicados entre a Tei, Guizot e as leis Ferry? ‘© contexto histérico da producéo 0 nascimento de um novo tipo de manual sob 0 Segundo Imperto Folheando os livros de aprendizagem da IN Repl antes de 1914, 0 pedagogo do século XXI terf, sem um olhar divertico ou abatido diante desses métodos de uma otra época, mis nio se sentira completamente estranho. De mites progressio era con- semanas), a pagina era aturada e fechada, na fato, encontramos certos itagos nos livretos para ini analisados que persistem ainda hoje. cebida para durar um ano G0 a apresentada como uma unidide est qual o esquema era repetido de forma reiterada na série de no inicio do livra, em torno da ‘ra-som” estudada, geralmente com uma vinheta ilustati- va (ilha para /i/), exercicios de combinagio em silabas € em palavras, pequenas frases recapiuulando as aquisigS HEBRARD, Jean, “Les lives scolaires de la BiblicthEque Bleue, arctaism= (ou modemite? in; CHARTIER, R; LUZEBRINK, HJ. Les imprines de large circulation en Burope, XVP-XDP. Paris: IMEC, Bd des Sciences de Homme, 1996, 109-136 © Abécéslaire dit La Croix de par Dieu, Rouen, La 130x105mm, 8 p. He Incluta o Labbey, vers 1810, 0 Pal Nosso, a AVeMuth © 0 um quadro de slabas verre © 5 vogais horizontalment). somo um substantive cemuen no sécto 121 a8 palavias quo © professor pode endaregar 1% Enconteamos a express NIX Por exemple: "eu 36 price de turns eset Nitin stuns «Anne-Marie Chrtor colocada diante do alfabeto lembrava a0 aluno que ele de- veria comecar sua leitura (que era também uma prece), fa- zendo 0 sinal-da-cruz. Publicados no século XIX para cada diocese com a autorizacio do bispo, eles eram uma grande especialidade da livraria Mame, localizaca em Tours. © livre era chamado geralmente de Justrucdo crisid? quando com portava na segunda parte, um pequend catecismo, o ording rio da missa ou ainda uma Civilite (Cwilidade) Uivro de saber-viver, mostrando a forma como se devia comportar honestamente e de maneira crista na vida social. O exemplar mais recente consultaco no INRP data de 1879, Esse peque no livreto azul, encadermado, de 108 paginas i-18, publica- lo por Mame em sua cclegio de “livros eléssicos part 0 uso das casas de educagao”, retoma, de maneira idéntica, uma edigio de 1846. Depois da cruz que abria a primeisa pigina, encontrava-se 0 alfabeto em caixa alta e, na pagina seguinte, © alfabeto em caixa baixa, seguido de marcas tipogrdlicas es- peciais (ae, oe, &); duas paginas de sflaboas (ba be bi bo bu/ cat ce ct cocu/|...] za ze 21 20 21) ¢ quatro paginas de palavras, de laba, dle cuas silabas ¢ de ts silabas. Depois vinham as quatro preces habituais € os quatro atos de fé, de esperan- ga, de caridade e de contrigio, dividides em silabas por tm vessto (p. 11-34). Na segunda parte (p. 35-56), a civilidade, lada Avis @ un enfant chrétion (Conselhos a uma crianga crista), em 34 pardgrafos numerados, era impressa em corpo menor; os travessdes entre as silabas eram substituidos por espacos em branco, A terceira parte (p. 57-108), impressa em corpo habitual © em palavras inteiras, continha as preces da missa © um catecismo (‘Resumo do que € necessario saber, crer e praticar para ser salvo"). Ela terminava com preceitos ude sus crate se par Diew (Cruz de por Cours analytique de lecture par enseignement mutuel e: srm re iavente par N. Lecomte, Paris, chez Igonette et Louis 1829, 39 p). No contexo, iso “que mio eon) ras nem suas slabas Instruction cbrétionne, 9 87 de Deus ¢ da Igreja sob a forma de versos. A parte consagracla a aquisigio dos principios da leitura comportava, ento, dez paginas. Era dez vezes maior do que 0 exemy que é bem pouco comparado aos mani faziam sempre parte das recitucoes crisis usuals, conhecidos de cor Cexatamente como as frases do abecedario imustrado, Iklas ¢ relidas pelo adulto).O livreto nko comportava nenhum, paratexto explicativo (masa mengio na capa “Livro do aluno” faz pensar que existiria um livro paralelo do professor). Encontramos um “Conselhos as pessoas encarregadas das pequenas classes” inserido no posfitcio do Pequeno manuat da infétncia on Abeceddrio cristo para uso das pequenasclas- ses clas Caasess da Sania-Uniae (1839). Esse abecedirio cris- Hho estava muito proximo dos Alfabetos cristas usuais, com algumas variagdes interessantes. © breve posficio lembrava que 2 turma dos iniciantes compreendia trés divisdes, separan- do “as criangas que aprendem as letras, os ntime1os ¢ comegam, aasoletrar; as criangas que soleiram e comegam a ler; as crian- ‘gas que comegam a ler corentemente"™’, O texto conchiia: omitem-se neste manual todos os princfpios racionais da leitu- fa ssiabelacicos pelos geamsticos, porque sua aplicapio racio- taal peitence apenas As ciiaagas avangadas ¢ inteligentes. £ lasses S Petts Manust de Venfance on A des Matsons de ta Sainte laine chrétion a lusage des F A divine dor iniciantes trabahava com grandes quactoe [professor ceaigrava som una vareis, depois salve um quadio de alabas, fos exerccies col ‘em coro") © Indl de abrir o livre exerciios Sian a toma fe ott de um seniico completo’. Uma divisto naa corssponcia, entio, nem a um programs anval, ner 2 um grap este rho tinhs curagle préfiaxads, Zam organieasao nao eva prpea dae excolas Feligiome. Bram menclonadar ciangse "com poura idde") sem que © water Pensasse ser necessirio preciser ee elis inham quarto ot sels anc. absurdo querer fazer com que as criangas pequenas distin- jgam vogais compostas, ditongos ete. © cssencial para elas & ‘aprender a ler comrentemente, em pouco tempo, € 2 experien- cla ros mostrou que a via mais Ia, a mais cura e a mais Ficil € 0 método explicado abaizo. (Os procedimentos tradicionsis (aprender por rotina) eram, ento, justificades pelos argumentos bem conhecidos das educagdes familiares. Mas, em uma turma em que se ensina coletivamente, cada um deveria observar ‘um siléncio abso- luto” quando no era inter: do professor 2 leitura em coro). As interacdes familiares, f&- ceis numa relagio dual em torno das imagens ¢ das lewras do abecedacio, eram entio proibidas. Em 1839, 0 autor dizia gue o modo individual de ensino, aquele em que se fazia Passar, um por um, os alunos em frente ao professor, deveria ser abandonado, © modo simultineo, que fez a fama dos Inmios das Escolas Cristis, foi finalmente 0 recomendado por Guizot, para fazer trabalhar “simultaneamente” um gru- po de mesmo nivel sob a conduta de um professor’, Entre- fanto, no momento em que, na pedagogia de Jean-Baptiste de la Salle, 0 aluno passava diretamente das sfabas a0 texto silabico, 0 abeceditio introduzia as palavras isoladas, classi- ficadas em funcio de seu tamanho on do sew trago fonético, ado (dat © recurs freqiiente % © modo individual foi condenado por uma circular de 31 de janeiro de 829. O debate era, enlte, enire @ modo simultineo dos [imios das 1s ¢ 9 modo nulte, ausientado pela Sociedade de Insrucio eniae mals ideataice do que pecagégica, entre pe Guizot o nsformou po modo normal de organtzagae dks tims, pi o 0s irnass caquila que liza a su9 expecitlcade. Essa no fentanto, fol sercica como uma concession ans ‘i 1990 (Nota da autora). No res do ensino flearam conhericos olaitine nee do manual moderne anos asl Fery( como nos manuais de certos preceptores (como 0 célebre (Quadrife). Bsse empréstimo, a alusto A *baixa idade” dos alu- ‘nos, as referéncias a uma pedagogia divertida, curta e facil poderiam indicar que ele era destinado 4s criangas prove- nientes de um universo social privilegiado ¢ nto popular. O surpreendente desse Posticio é, sobretudo, a confianca ex- pressa na cficécia de um método que o autor julgava “diverti- do, curto € ficil”, Que os alunos assim treinados tenham podido ler suas preces, de infcio sob a forma sildbica, em seguida por palavras inteiras (que 0 Petit Manuel sivamente em duas versdes, 0 que néio era habitual duvida, mas como esse lerescrever permitiu em seguida pas- sar a leitura de textos novos? De fato, vé-se af se perpetuar uma aprendizagem coerente com o modelo antigo de leitura intensiva”, leitura restrita a ‘um corpus imitado de textos religiosos. Tal qual tinha siclo praticada e enaltecida pelos clérigos ¢ humanistas, ela fol es- colha cultural, e nao incapacidade que fez da pobreza virtude, Que ela tenha sido perpetuada nos alfabetos cristios, nao res novatos descobriam que a pritica normal da leitura visava memorizar os textos essenciais que se deveria, sem cessar, ler ¢ reler Os ABCs no se relaciona- vam, endo, a uma cultura “para os pobres" ou “para as crian: as": eles foram feitos para os principiantes destinados ou nao a se tomarem dlérigos. Ea sempre sobre um mesmo corpus que a pritica da soletragao € da silabacao construfa o gesto da decodificagao ©, com ou sem um ensino explitito, também o conhecimento ou a utilizic2o das cegras da transcodificaca0 escrita/oral. Podia-se, nas classes seguintes, passir aos textos mais longos € cesconhecidos (o livro das horas, cas clvilida~ des, dos eatecismos), sempre descabertos sob a orientacao do professor. Todos j4 os conheceriam antes de lé-los, a partir da surpreende, Os I Pay, ota lecture dans le monde eccident 90 Prien dn hiturna meritn hntévineataldade Anne Mare Charter fa e das recitagoes. A capacidade de ler e compreender sovinho um texto novo era, assim, to limitada que os dinicos enganos que um aluno podera cometer se rela- jonavam a erros liters (por exemplo, ler porssor no lugar de ‘potson [peixe e venenol). © sentido geral do texto se tomava, em compensagio, dade cle todos 0s eclucadores com relaglo 20s romances que Conhecia-se a severi um o herdi em peripécias improvdveis ¢ incitavam o livres" cra, assim, muito vigiada e dependia dos treinos praticados ao longo do tempo. Essa en- 4 cra sempre empurrac bem para além do ano durante 0 qual eram percorridas trés divisSes ou “classes” dos inician- nente por J.B. de La S nio era para ele um defeito, 20 contririo: como as familias pop s da escola a partir do momen- To em que os meninos aprericiam a ler, a progressio gradual Cem nove “turmas”) assegurava trés anos de escolaridacle; tempo tes, Bssat lent , percebida cla jes retiravar seus fill das muito cedo, cujos pais podian permitir a instrugao sem urgéncia, ess preoan cesaparecia: curta Cou sej, ser uma vantagem, € nflo mais um risco, De fato, 08 autores que falavam de métodes rapidos tinham duas normas de refe- réncias possiveis. Ora tratava-se de se aproximar da rapidez (© da precocidade) chs edlucagdes comésticas (aprender aos quatra ou cinco anos em alguns meses), ora tra mais rapido do que as excolas cristas que accll gas de sete ou oite anos e distribuiam as aprendizagens a0 longo de «rés anos (ler, depois escrever e contar) betizecao. A progressio lenta, criada para os meios populares, foi adotada pelas regras das ardens dedicadas ao ensi- Ao, surgidas no século XIX, tais como a dos irmaos bos accross métede de amintmedere antesdne inFemy(1801) OT Maristas®, que se esforcavam por “oferecer as criangas do campo 0 bom ensinamento que os InmAos das Fseclas Cris- Us ofereciam aos pobres das cidades” (carta do fundaclor Marcelino Champagnat ao rei Louis-Philippe, em 1834). Os Inmios adotavam a ordem imutavel da Gonclutte ales ecoles chretiennes (Conduta das escohs cristis) ~ alfabeto, eimra de textos por silabagéo, leitura corrente, leitura da Biblia, das horas, textos em latim ¢ manuscritos — antes de passar & escrita. Os Irmaos eram jovens vindos do meio rural ‘que tentavam escapar de sun cendigao. Muitos deles set ro maximo, ler € escrever. Sua aprendizagem se un 1 © papel de monitores: consolida- vam seus canhecimentos elementares (leitura, escrita e cil- culo, mas também ortografia, gramitica, pesos © medidas) © is onde eles exerc aprendiam como ensinar. Aqueles que no conseguiam um diploma permaneciam como auxiliares de um titular ¢ leide 1881 iria proibie),e thes eam confiadas as turmas con- sideradas as mais face's: aquelas dos alunos iniciantes. A modéstia" intelectual desse projeto de alfabetizacao re sa arriscava, portanto, a desqualificar a ordem € priva-la de alunos na medida em que eresciam as exigéncias do ensino piblico: “nds seremos os bons citequstas, mas nds nos esfor- saremos também para aes tomarmos professores primirios habeis’, recomendava una carta circular de 1840. Isso explica 2 adogao de certes procedimentos modemos, impostos a partir da primein frase do Guide des Ecoles (Guin das Escolas) no que se refere ao ensino ca leitura: “os Imiaos segui- Ho a nova proniincia das consountes e nao se servirio mais da soletragio”. Se isso era necessrio para ajudar as crianeas, que a © Guide des seo ae daprés Les gles 0 ise, 1888, Sobre ca ode tee frores Maristes tnttsicuss congréganiae au XOX" siécle, Poria Editon Don Bosco, 1999, 324 p. 92. Prates deloturas exert nhtriaeauadads- Arne rie chaser deve-se lembrar que os elementos de caca silaba nto 380 Presisamente as letras mas os sons © as articulagdes® [.J. For Seemplo, para as pelavras pain (paol, jiaim [fome}, bois Ibos- quel deve-se solet: ipain f. ain faim: b, o's, bois, © jamais po, dre pars te Do mesmo modo, o regvlamento recomendava o uso das penas metdlicas que “substituem com vantagem as penas de ganso, sobretudo porque elas nao precisam ser talhadas®”. Fsses procedimentos, que eram em outros lugares objeto de grandes debates teéricos, foram impostos aos Irmios sem qualquer outta justificativa. Em compensagao, o modelo de trabalho escolar adotaco nao punha em divida a tradi¢lo herdada: a leitura visada deveria permitir a construgao de uma cultura catélica, © que significava dizer, ler e reler 08 textos religiosos necessirios & vida cotidiana do cristo. Ela deveria desembocar igualmente em uma leitura socialmente ‘itil (aquela que era solicitada pela vida rural: os contcatos manuscrites, as escrituras; mas, certamente, no a da leitura do jornal), Fla permanecia parcialmente separada da eserita, que nao vinha sento em um segundo momento da aprendi- zagem. Esse modelo que muitos professores primérios co- nheceram durante a sua vida de alunos, entre os anos 1830-1850, nado cra mais, evidentemente, aquele que serviu de referéncia para os méiodos publicados a partir de 1830. Os métodos para as escolas péb! as Que caregorias adotar para ordenar © corpus dos livros de aprendizagem colecionados pelo inspetor Rapet? Apresen- taremos os resultados da pesquisa em trés eixos. Em um primeiro eixo, abordaremos como os autores apresentavam sua produgio ao piiblico. Por meio des notas publicitarias ou das rubricas dos caidlogos, revelam-se certas evolugdes, © Quer dizer a5 v © eden, ps 161-162. idem, p. 178 i RONAN Sata oe ocabecediriosaos redor de lausegttee a maraimadser antes das isFary(i¥01) 93 sobretudo as que dizem respeito 20s tituls. Fm um segundo feixo, mostraremos Como os manuals ordeaavam materialmen. te 0 tempo da aprenlizagem. Esse dado € revelado pela com- paragio das progressoes propostas da primeira 4 Gtima pagina do manual e pela avaliagho da duracdo prevista pe- los autores. Enfim, em os manuiais refletiam os debates te6ricos da época. Tratan- dose de aprendizagem da leitura, as teorias de referéncia eram tanto teorias da linguagem escrita (como inirodazir ri gorosamente © sistenta de esceita francés) quanto teorias.da_ uprendizagem que legitimayam os procecimentos cle ensino Gpor principio” versus “pela rotina”, para recuperar a termi- nologia do Antigo Regime; “por raciocinio” versus “mecini- co", como se comecava a dizer), Essas trés direcdes de andlise deveriam permitir a resolugao de um enigma: como ¢ méto a terceiro exo, analisaremos como do da soletracio, praticado desde 2 Antiguidade, pode ter ido Aandonado por quise todo mundo em menos de duas gerages? Os métodos sem soletrapao mio eram novos: des- de do séculs XVIL, os pedagogos se dedicaram com sucesso a fazer seus alunos lerem sem passar pelo "B-A BA" obtcndo uma leitura direta das silabas. Malgrado 6 sucesso estimado (o método Abria®, publicado em 1835, teve 29 edges antes de 1872), nenhum manual foi capaz de fazer escola. Ora, antes mesmo das leis Ferry, 0 Dictionnaire de Pédagogic (Di- ciondrio de Fedagegia) de Buisson via os métodos sem sole- tragio como uma nova norma de aprendizagem, O exame dos manuais permite a compreensio do que tornou possivel essa consagragao? Zao ce deve coloeir as cilangis para escrever # no ser que satbam Togo que pasiam para a aprendiangem da escait, no sor ra coma 4 experiénda prove que stande parte Bs © A adogic de um méiodo sem soletragio nto ea frente francesa’ os manudis ingleses ¢ nore-anericanos consuliades c Eeloravam s mesma mtudanes, mais ou Menos ro mesmo Morente (Calvez i quent capecifiea Dos ABCs aos mnétodos o livre no qual um iniciante ay método escolhido, se chama Pr uso © na classificagao editoriais, ele € bem distinto do First Reader, primeiro livro de leitara no qual uma crianea inician- te, mas que fa € capaz de decifiar, € confrontada a textos. Na Franca, nio existe um equivalente cémodo para a palavra primer, O que corresponde ao First Reader é 0 Premier livre de lecture (Primeito livro de leitura) — por veees chamado Lire de lecture élémerviaire (Livro de leitura elementan), Livre de lecture courante(Livro de leitura corrente) -, de facil iden- flcagio. Por outro lado, as antigas denominagées (Alfabe , ABC, Abecedério) eram tio fortemente ligadas aos conte‘idos ¢ a0 madelo de ensino Goletragao € siabagao co letiva das preces catdlicas) que nao puderam designar os ma- nuais sem alfabeto, ne encontrar novas designagées. O abade Berthaud foi um dos primeiros a ter @ asticia de dar a scu manual um nome préprio, = Quadrille des enfartts (Quacrilha das criancas), bem mais facil de reter do que o nome genérico que o acompanhava — Systeme nouveau de lecture (Sistema novo de leitura). Devido A novidade do projeto, o titulo desenvolvido € mais preciso: A quadrilba das criangas ou Novo sistema cle lettura com 0 quat toda criaingea ele quatro a cinco anos pode, por meio de citenta @ oilo figuras, ser colocacla em condtgaio de ler sem erras no pri~ meinoolbar sobre qualquer tipo de livro, em irés ou quatro meses, e mesmo bem mais cedo, segundo a disposi¢ao da criance® (1748, segunda cdigio). Esse género de titulo 6 prio, seguido de uma descrigto do procedimento e do pt co visado) tem longa descendéncia durante © século XIX. as preces cristas. Foi necessirio we uma profusdo surpreendente de Tabellégic, Synthésolo- 0, Sataitlégle, Oribolé- igologie, sob © Impérie). Ao contrario dos tiulos estandardizados do Abécédatre ilustré (Abecedério ilus:ra- do) ou do Alphabet chritien (Alfabeto cristo), esses titulos indicam a presenca de autores preocupados em ostentar sua originalidacle, conscientes de terem feito uma obra singular em um dominio no qual as normas estavam em plena redefi- ie20. Quando a novidade se banslizou, nao foi mais neces- sdrio clogid-le, de modo que apenas pela leitura dos titulos no eatflogo pode-se seguir a evolugio das “modas” e obter indicios sobre a percepcio que o autor, interposto pelo edi- ter, tem de seu pablico. Os titulos "muito longos’ recendem rapidamente a um reais. ASS 1862, J... Bonhomme, professor piimério pitblica, publicou em Paris © Método racional de feitura, sobre um plano tnteiramente novo essericteelmente domonstrativo e anti-rotineiro, para o uso nas escolas primd- nase nas familias”. & pagina de rosto mosira que esse Livi certo a nio foi editaclo, mas somente impresso € colocaco ‘nas Lojas Gos princi relros". Ocorreu 0 mesmo com 0 Método Fonogréfico, ou a leitura e a escrita simultdneas, para ensi- nara ler ea escrever en: muito pouco tempo criangas ¢ adul- tes. Método racional, simples, facil eseguuro, reducindo a leinera apenas pelo conbecimento das letras ¢ de trinta elementos radiicais, por Boulanger, impresso sem nome do editor € que “se encontra em Orléans (na casa do auton) € em todas Phovograpbigue, as tes ri pour appreniire a lire et a écrire ev trds pew de temps bux enfants et aux adulies, Mebode rationnelle, sinpte, facie et sire, 10- lutsant! fa lecture & seule cs ice des leeres et ele trente elements radicaus. 96 pravcas de lecarneeverite hitélae tulle — Anne-Marie Charlee ias cldssicas" (1861), Essas so obras “da pritica’, freqiientemente ingénuas ou desajetadas, que os ecitores nio quiseram publicar Elas dio bons testemunhos sobre os problemas que se colocavam € que 0s professores procura- ram resolver, sobre os termos que empregavam, reconsti- tuindo suas experiéncias profissionais, sobre 0s conflitos vivides e sobre os obstaculos materiais encontrados. Ainda numerosos na poca do Império, cles se tornam mais raros, no acervo da INRP, depois de 1870. Segundo a leitura dos testemunhos da época, 5 titulos dos “verdadeiros’ manuais quase nio utilizados. Salvo excegoes, era pelo nome de seus autores que se podia desig- método Peigné & sempre empregado: mas ele me parece ultrapassado pelo métoilo Ville~ merous”. Eu também encontrei os métodos Mafive, Dupont, Behagnon, Régimbauel, arouse etc. Depois de terem lido os quadros, as criangas se exerctavam nos livros da Inféincia (En- fance), de Adolescence (Adolescéucia), de Delalpalme; na Petit Gwilité chrétienne (Pequena Civilizacdo crista), de Bénard; no Monde cles enfants (Murdo das criangas), de V. Henrion; nos Petits écoliers (Pequenos escolares), de Cuir etc. Os “primeiros livros de le 2" mantiveram, portanto, seus tinulos, enquanto os titulos dos “abecedérios” desapareceram. Sob a lll Repiblica, o nome do editor indicaria também autor dade (fala-se de um método Fernand Nathan ou Hachette). Os| titlos mais difundidos eram neutros, breves € consensvais Vauclin designava todos 0s manuais como *métodos”. Enquanto @ palavra aparecia somente em um tergo dos titu- 0s, entre 1820 e 1840 (entre os quais no famoso Méthode de lecture (Método de feiturad de Peigné), cla passou 2 aparecer na metade dos tftulos sob o Segundo Império ¢ em dois ter- 08 dos livros entre 1870 ¢ as leis Ferry. Vé-se, assim, nesse momento, instalar-se um termo genérico que, na Franga, per- manece em vigor. Um método € um conjunto de prircipios e escolhas te6ricas para gular 4 aco, tal como expostos em tum discurso (quer se traie do Método cariesiano, do Método 97 experimental de Claude Berard, ou do Método natural de Freinet); na escola, um método é um guia pedagégico.redi- gido para o professor. A Tabellégie, método de kitura em quadros, com a ajuda dos quais pode-se conduzir rapida- jente as fovens intoligéncias nos primeiros ¢ verdardeiros elo. mentos dla arte as dificuldades mats sertas”€, assimn, um livto do professor sob a forma de um tatado de 320 paginas. Mas no uso que se Impés, a palavra *método" designa qualquer livro para o iniciante. Nosanes 1870, 0 uso oral relatado por Vauclin (0 método Villemereux) aparcceu na publicagio: © méroclo se apresenta com o nome de seu autor (Métbodle Neel, Méthode Monet, Méthode Gédé, Méthode Cuissard) Encontram-se, assim, confundidos principios (método de mévexlo silibico, mais tarde, método global) e © ro de aprendizagem em que eles sio colocacos em prati- ca..Nao € surpreendente, entdo, que na Franga a “guerra en. tre os métodos” se faca por meio de manuais, Com efeito, nao se encontrou uma palavea que substituisse ‘Alfabeto" ou “Abecediirio’, modelos recusados pelos inovadores. A incio inglesa Priner/Readler no se exemplo que poderia se dar com 0 Alphabet (Alfabeto)e Pre- ier livre de lecture (Primeiro liovo de leitvera) editado em 1831, por Hachette, exato equivalente de um Primere do First Reet der. Esse titulo copia, em versio laicizada, 0 Alphaberchréttien ot premiere Instruction chrétienne (Alfa beto cristao.e primetra Instrugao crista). Apesar da novidade de seus contetidos, © 0 da palavra “Alfabeto” significava, aind mento av periodo antigo. O termo “Silabario” (Si duas ocoréncias apenas antes de 1850 ~ se instilou entre 1850 ¢ 1870 (um livro emacis) percturou entre 1870 ¢ 1880, mas nao conseguiu se transformar em um nome comum par designar qualquer “método”. Ele sobreviveu apenss como adjetivo Cmétodo silabico") 98 priceas laura oscrshstrineatenlade- Anne-Marie Charan Que outros adjetivos qualificavam um método nessa 6po- ca? Nos anos 1830, 08 criadores dos métodos perseguiam objetivos tao variedos que nenhum qualificativo emergiu: uns procuravam uma abordagem rigorosa, logica € racional das ‘outros construfam um corpus de igiosos; vam primeira inventar processos cmodas (qua- regras da escrita frances: textos laicos que poderiam substituir os textos 1 ‘outros aspi dros, exercicios coletivos) para fazer wabalhar segundo 0 modo simultineo recomendado por Guizot, sem seguir, en- etanto, a regra deJ.B. de La Salle. Uma geragao mais tarde, os manuais passaram.a combinar essas diferentes necessida- des: um método 22 vangloriava de ser ‘novo" sob o Segundo Império (um quarto dos livros); depois, ele deveria ser sin ples (simplificade, cémodo, pritico, de uso ficil), antes de ser, em ordem deciescente, rapido, graduado ou progress vo, racional ou racionalizado. Nos anes 1870-1880, era a ve- locidade que parecia maravilhar os autores. Em um quarto dos manuais, o método é chamado de “ripido” (acelerados, eficaz em dois meses, ao fim de algunas ligdes ou algunas dezenas de horas ete.) bem antes de ser denominado de *novo", “graduado’, “racional’, Aqueles que expéem sui Jembrangas nos prefacios comparam a lentidao de suas apren- dizagens de infancia © a rapidez possivel de entio (se, ev dentemente, seu método for adotado). Esses deslocamentos de interesse tém sentido em uma dindmi de conjunto, que se traduz pelo crescimento ce novas progressdes. Dos métodos racionais (para a Instrugio profana © Alphabet e¢ Premier livre de lecture (Aljabeto ¢ Primeiro Livro de Leitura), difundido em massa pelo Ministerio, em 1932, dé uma idéia clara do produto que as autoridades mi nisteriais desejavarn, j4 que foi o proprio Ambroise Rencu” XIX CNR), ~| que 0 redigin com o editor Louis Hachete. Ele n3 va mais pelo allabeto precedido de uma cruz, mas por um quacro ‘cientifico": mapa do globo com os continentes, ma quinas simples (alavanea, balanea, polia, parafuso) e instru- mentos de medica moderos (barémetro, termémetro). 0 primeiro exercicio apresentava as seis Vogais simples em trés tipos ~ caisa alta, caisa baixa e cursiva — com todas as acen. goes possivels (2, 4, €, €, &, & 1, y, ©, 6, U, UW); sob cada vogal, um exemplo no qual a letra é utilizada em uma pala- a-nt lamigol; d-ne fasnol , me-su-re |medidal, mé-ri-te [merecido] etc); 2 mesma apresentagao para as consoantes com, de um lado, as “aniculagdes ou consoantes simples ). Os ués alfabetos vinbam em seguida (em caixa alta, em Compo Pequeno ¢ em letras cursivas), depois 0s “sons compostos" (ew/ou/ie/ew/etc). Enwvava-se nas 12 pé- ginas sobre as siabas, das mais simples (consoante-vogal: ba, be, 85, bi, © vozal-consoante: ath, ac, ad, a) 4s mais comple- aas (de bala pb7y), sempre esclareciclas por um exemplo (ba cou [balcfo)). Vinham, entio, quatro paginas para as letras mudas, 0s sons equivalentes (eit, a7, e”7, aa), as letras que mudavam dle prontineia (¢, g, 5, 0 e por fim, no décimo quarto € ultimo exercicio, as ligagdes € sins de pontuacio. Podia-se, entdo, as Ieituras, que se desenvolviam como uma mini-enciciopédia clos saberes, em que cada tema era tratado em uma pagina (1- As criangas, As pe-que-nas crian-gas ndo sa-bem nem fa-lar, nem an-car L.J 15+ "As fru tase os legumes”, 25- “Os calcules”, 31- ‘As novas medids 68- "Os vulcoes” ete.). Na leitura sete (AS plan-tas nao po-dem se mo-ver), as letras mudas cessaram de ser impressas em itd lico; no texto 14, nao existiam mais hifens pura separar as sflabas. O corp das letra sem cinco eta- pas 20 longo do livro, até as ma wlas da Biblia (74- “Lembrem-se de vosso Criador a6 longo dos dias de vossa 100 Frauces de Whar escitshntvine stile Anne Mare Chartior juventude...") € de extratos do Direito publico dos franceses (75 Astigo 1. “Os franceses so iguais perante a lei, quais- quer que sejam seus titulos ou sua classe”). Para ten vinham duas péginas de leinara em latim (Decélogo, Pai Nos- so € Credo). Nenhuma indicagio era dada sobre 0 tempo necessério para se ulirapassar cada uma dessas etapas. O livro seguia fielmente a estrutura dos alfabetos cristaos euas, silabas, textos silabados — com as palavras divididas em sflabas -, textos nao siltbados, sem listas de palavras entre silabas ¢ textos), mas 0 desenvolvimento dos captulos (chamadios de “exerci relagao A tradigio. As letras nfo eram mais apresentadas na ordem alfabetica, mas por familias de “sons"; tempo usado com as silabas, classificadas por tipos de dificuldade, se alongava consideray 8 textos que 0s alunos teriam para ler eramn, pai mente desconhecidos. Eles se referiam a uima cultura erudita, reescrita para seu uso, 5s") mostrava a distAncia tomada em mas ausente de seu meio social, e nto incluiam nenhuma ativa, Ao lerem relerem os textos coletivamente, jun- to com o mestre, os alunos aprenderiam 20 mesmo tempo a leitura © o8 saberes morais e instrutivos que 2 escola tinham por missdo {hes transmitir. Vé-se bem os ol zscolha no contexto da Monarquia de Julho”, Para tanto, o manual de Rendu € Hachette se situava na tradi ¢fo de um ensino “racional’ para alunos de sete ou oito anos. Ble retomava e popularizava a tradigio crudita dos precepto- me. Para estes, aquele que conhecia “os Fenelon, Impétio, exer pelo a convicts, CH LYONS ‘ep eit. p. 410-437. ROSANVALION. Pierre, £2 momen Gutzet, Pats: 1 do Segundo. XV e ultrmentano T, Fleury, preceptor de Lil (yn. “Os bestacllers". Histoire de i é roar, 1985, cipios’ das correspondéncias letras-sons do francés ti: ha a chave de todas as leituras. No momento em que o universo dos textos se abria de modo desmesurado, 0 manual demo cle Rendu visava de uma 85 vez a uma alfabetiza- cho que permitia, a qualquer pessoa, ler qualquer texto. Para se chegar a essa leitura extensiva generalizada, ele rejeitava a decifragto elementar exercida sobre um pequeno lote de textos conhecidos (as preces da leitura reli ou as pequenas frases jf conhecidas, coladas as vinhetas do eto ilustrado). A aquisigio ordenada de todas as corres- pondéncias grafo-fonicas parecia ser um pré-requisito neces- sésio & entrada na leitura Para chegar As palavras e As frases que dariam acesso a0 © leitor deveria compreender como cram constitu das as unidades elementares do oral, das silabas e aprender a Iélas sem ero. Com efeito, as sflabas, pronunciadas en uma s6 emissio de voz, eram 0 menor elemento que um ini ¢ poderia ouvir © dividir na sua lingua oral Na visdo comum da época, as consoantes eram impronunciiveis sozi- has, jA que, como © préprio nome indica, elas nie soavam sozinhas, mas consoavam com a voz da vogal. Elas eram as iculagées". Articuladas com 0 apoio de um “som’ (o é de Bé ou o ede Be, como cada um podia constatar, recitando 0 alfabeto). Blas eram consideradas 6 “abre-te sésamo” dos tex- tos a serem lidos, quer dize diseussao sobre o fai jos em vor alta, jé que nao ha de que “ler é falar a escrita"™. No Alpha- ber Chrétien (Aifabeto Crisdo), essa correspondéncia era des- cobera nos textos qu 6 precisariam ser compreendiclas €* correspond 4 pronuncia do “e" em 19 professor priséria, jone of lee tons, Antiens Typ. Caron 2p, (Intweuction). Os pedazogoe nic exqucciam a oxime oem pare dss pr tea reserves 103, a0 normale cas ¢ era, fa epoca, de maneiea siguma, uma 1oL necidos. Cada uy bada com- mestre pudesse pedir aos alunos para "revisar’ sozinhos sua (clo, em seus lugares, enquanto esperavam ser atendidos). Do mesmo modo, um aprendiz de canto paderia verificar que decifrava corretamente uma partitura, confromtando a poriosa 4 melodia que ji tinha memorizado. ‘A dificuldade era completamente diferente se ele tivesse de decifiar sem erro uma dria desconhecida, como o leitor prin- cipiante que deve, pela decodificagio dos signos escritos, ccimento de um novo texto. Concebido pelos pre~ ceptores (entre os quais os de Port-Royal, no século XVI), esse métode supunha que a lingua materna das criangas fos- se o francés e que a Ieitura pudesse se apoiar sobre o domi nio que o alunos jt daham clo léxico € da sintaxe do oral. Ele supunha igualmente uma familiaridadle social com o escrito ¢ com os saberes livrescos profanos aos quais a leitura dava acesso. Essas duas condiges estavam longe de existir no meio rural entre 1830 € 1850. Para le; “o poder cesses procedimentos” que torna odos os esctizos potencialmente legiveis, Alphonse Comte”, autor da Aviobaxie, publicada em 1831, propuna testar esses procedimentas com 0s alunos (upostamente “menores de oito anos”) utilizanco © “Pai nosso": lars wolice sur fa mebede ce iment pratique, procedes pour Tage de huit ans po (or ds pe quads (p. 147). (Tratase do — bocahecedios ce mdtador ce leurtnese do mara modern antes seis Fory( conbeces, nite pelo mesmo procedimento que the fora dado podleria mals duvidar do poder desses procedi ‘momento em que s dev colocar, entre suas maos, um ilo e que ele deveria ler segunda o mada prescrite abaixo, Comte inverteu 0 pracedimento: niio era mais 0 “Pai Nos so” que ensinaria a solettacao silabica, mas a decifraczo sild- ica que permiticia a leitura do “Pai Nosso". Se erfigio era witil para dar ao ahino a confianga na sua capacidade cle Ieitura, era porque a oralizegao bem sucedida de um texto des conhecido nao teria necessariamente esse efeito de prova. O leitor iniciante que decifra sem erro encadeia as siabas, mas a atenao colocada na decifiacao palavra por palavra 0 absorve tanto que ele nao pode compreender a mensagem geral do texto. Do “Pai nosso” a etapa seguinte Ccolocar-Ihe entre as imaos um livro que passa interessar-Ihe, |, aluno endo descobrir que a leltura de um texto desconhecido estava longe de decorer logicamente de uma primeira etapa bem sucedida. Se um monitor ou um bomal instru o cram capazes de verificar a justeza de uma decifragao liceral, 86 0 mestre poderia garantir 0 sentido dos textos: nos dois cases, a orali zagho era 0 procedimento mais econdmico € o mais eficaz, / Be fato, gracas a leitura coletiva repetida, os escolares mM continuar, como no tempo das preces e das civilidades, aprender seu livro de cor ou quase, Até 0 XX, 0 manual de leitura seria um livro de ligdes para apren: der © recitar™ cukura eseria estocada na meméria mas mudava de naturezi. A partir de 1833, as preces, pelas quais, nicio do século icas se referiam a outros foral escolar, As escolas pul saberes elementares, mas legitimos. © manual deveria ser instrotivo, fazer penctrar as luzes da ciéncia, civ CHARTER, Anne-Mavie; HEERARD, Jean. “Lire dans les man 2 Paris BDLFaysré, 2000, pp 332-382 » 103, 104 rivicm detaituras evcrachistvine stutieads Anne Marle Charlor costumes, moralizadora das condutas e Aquela data, recone: liada com as religioes”, tanto nas periferias das cidades quan- to no longinqua interior. Para Guizot, como para Rend Hachette, a insirugio seria a mais segura protec4o contra os as utopias sedutoras que produziam as éstroles revoluciondrias, Mas essa escolla tinha um pre- 0: um corpus ps lo de textos de referéncia desaparece Certamente, todos os alunos teriam Lido textos *instrutivos © morais”, mas os textos dados a ler aos escolares eram escri- tos andnimos sem valor”, to numerosos quanto repetitives, obras de pecagogos nas quais boas intengd tos se estendiam por todas as paginas. A cultura priméria se encontrava exposta (os professores primarios tornavam-se autores de sucesso) a scus tiscos ¢ perigos. O risco era evi+ dentemente 2 desqualificacio que escortva todos os Bow- vard e Pécuchet®, fascinados pelos saberes escolarizévess, se encontrava dividido © preconcei- Na verdade, 0 mundo dos autores" wlo erica, dle moda, fonhecidas. E por isa que falamoe de intruglo “pro Fane” (fore do temple) ¢ ee Isic A introdugto éa literatura nacionsl nos progranias da escola primécia, em 1881 fas pelo mestre pam a turma) procurou preencher o que cos Tranceses teriam © papel dos textos sagrados subs Weis, como. bem vis Gustave Larson. Para fazer exist esse ptr romim ao peve © A elite, no primétio © no secuneiri, a e recomer (aon torne 4¢ 1900) 498 1 be dos grandes autores ‘8 Foniaine, Iamacine, Victor Huge) que revelavam gem cle textos cai de um livio de Flaubert, em que os persaragens s, decidem se dedicar & Isevaurs ¢ amente e vollam 4 ser eopstas, (NR) fistionsis que atsavam ne prices (pe 10 pals, proporde seu materi largo conjurso de posigtes so site. sores PeIMANOS, precepteret ot ico), mes também saidos de um uidas exército, medicina ou de engenharia apaseniada wa 105 or sbecedéres os nétodondeletre ginesedomanu motamoarees daa Fery ‘os que atuavam na pritica e os que faziam prescrig6es, ent superiores (reitores, inspetores, diretores de escola normal) e cuja posicZio os tomava bem mais interes- santes para 0s editores, OS as crisis nao inham tido 2cesso ao latim; os professores primirios, ape- sar de seu diploma ¢ sua presenga no mundo editorial, nfo estavam mais prOximos do que eles da cultura das elites O lugar dos tnictantes no curriculo escolar No momento, a preocupacio dos professores estava em outto lugar. Sua confianga no “poder dos procedimentos os impedia de constatar a que ponto a etapa precedente & entrada na leitura tomara-se mais ambicioss, ¢ por isso mais longa e dificil que outro. Os testemunhos abundam sobre tempo gesto por alguns que ‘marcavam passo" As portas itura®, pois, como 68 mecanismas nao tinham sido ad- tha ao aluno nenhum texto. quiridos, o professor nao prop: jefe do baathao de engerhasts 1834), regimento (1839), Aime Grimaud, médico ‘Withorgnes Ca., de, dos quarerta © tts métodos ps advogade (1843) iades ov 126 lesrioe por profusionais da prt meraim menbeor do. ensine Can (db oxsbelecimenta) ou ae Inés 1U0%es, somenze of fam para as familiss (dos quals dois nddos): um se dizia membm de mutas soce- le Famiis, Grosse see trapo, mas sua obra erm apresernada The cava uma leatimicade escolar incon 198 Dole manusts mes andniess ades| fder métacl Fonomimicn, era fpor Ml. Pape-Carpe factads pera as ee Sao o8 mesmos testemunhos da fracasso € co “cesgesto da lemua” nas educagdes preceptcrais do eéculo XVIII, adeptas ¢a escolarzapao forgada fue pravoctva a célera de Rousseau. A conversio de Pesallozzi oo Emi- io (de Rousseau) bascia-se aa mes: experiéne 106 Pritiaeda eure exrtachitia ata Anne Mare Chat Em 1860, Rapet expos essa situagio, sem disfarce, no nal cles Instituteurs” (Jornal dos projessores primdrios): (© que nds podemos mandar fi sabe nem ler nem escrever? Nao existe nenhuma me pévla: pois pretender que se possa ser bem sucedido colocan- do-The um siahério entee as nvies e dizendo-the para lo 6 uma ihisio que os professores esclarocicos pela experiéacia fio tém. Ela poderd ter seu silabério nas mics, © toreerl, © desgastara, mas cla n2o 0 estudard, porque isso The € impos vel, Para estudar a leitura, enquanto No se sabe mais ou menos lee cowentemente, € realmerce necessiria a ajuda de um mest, Para ele, os avangos metodolégicos dos manusis sé po- deriam produzir seu efeito pela organizacao estruturada do 4 com que os pais ohabito de trazer suzs criangas na data certa’, como no secundirio, ‘recapitulacées mensais e trimestrais”. Para cle, era necesséria, sobretuclo, a presenga de uma verdadei- sa ajuda: um jovem “que se proponha seja a entrar mais tarde na escola normal, seja de se apresentar diretamente a0 exa. me”; poderia ser também a esposa do professor primério fas mulheres tém, na diregae das jovens erlangss, uma dogura © una paciéncia que as fazern fe mte s¢ stir melhor que os homens na instrugto desses pequencs seres Uo sensi- alguém para au mesre que, no momento em que devia conduzir ues cursos antes, Nesse momento, era no segundo curso que os professores coleca- vam todo 0 seu esforgo: aq mesmo tempo, ne; sempre os ini © segundo © Journal des Instuweurs 3, 19 do agosts 1860, p. 118-129. oeatecodarns ne métotor deletion inevedomanual motemoareatdaclasFerry(1881) 107 O que “toda a crianga deve saber”, era e contar, mas em um sentido mais ambicioso que outrora Bscrever era saber a ortografia: a dupla “ditado-questio” co- megava a ser bem praticada, gracas as escolhas dos ditados gtaduados © do ritual da anilise gramatical, mas poucos mestres ainda imaginavam que os alunos desse nivel pudes- sem redigit". Contar cra se exercitar em todo tipo de cilew os em problemas formulades de acordo com esquemas cisos. Enfim, ler era se instruir em tudo, ji que as leituras cotidianas permitiam aprender todos os “conhecimentos usuais a serem reticlos (divisses do tempo, astronomie, paises, ani- mais, plantas, hist6ria, invengdes etc.). Tal programa deman- dava ao menos dois anos, por vezes trés e, dizia Rapet: “é somente acs oito anos de idade que os alunos podem passar para 0 segundo curso; antes dessa idade, eles nao seriam realmente capazes de bem aproveitar as ligdes" Em consequéncia disso, 0 primeito curso dirla respeito As criangas de sete anos. Os mestres deveriam recusar crian. as muito jovens: a escola nao ert uma creche. O sactifici uida ao mes: financeiro se tre pelas familias que constatariam os resultados, Com efet to, as ctiangas muito javens tinham dificuldade de aprender, perturbando a turma; mesmo sabendo ler, as para acompanhar com proveite @ segundo curso. Por iss0, seria necessirlo que elas “repetissem 0 ano”. Rapet esperava limitar esse fendmeno por um contvole mais rigid cornpensadio pela reputagao a das idades de entrada no nivel que ele chamava de “prepara: teria”. As aq isigdes seriam m ja fossem capazes de refletir, de aceltar as exigén plinares e os métodos de trabalho que nao eram mais os das creches. Progranta de 103. Prins de eturasatcex nhtérne tuldads Anne Marke Ch mesmo adiantamento e ca mesma idad# Con quase): cumin vva-se para @ instalagio do curticulo concéntrico em wrés eta- pas, que Gréard® generalizou, em 1868, na academia de Pars, Essa normalizagao do cumriculo implicava um programa de ta- balho previsto para um ano e os imperativos de retorno que yeavain fim aos antigos habitos. Com efeito, a separagio. os iniciantes em “trés divises" permitia, sem problemas, aco- Iher novos alunos a0 longo do ano, diante do quadro corres- pondente ao seu nivel ce competencia (ou ignorincia) Na medida em que se instalava essa rotina de ensino eo letivo, mais es manuais definiam a duracio ideal para repar- tir a carga de wabalho no tempo))Cada vez mais, também, propunham combinar as silabas €m palavras a cada ligao, desde as primeiras paginas, e fechar cada sequiéncia por te capitulagoes, Enquanto uns procuravam sempre terminar 0 mais répido possi mentos” para passar para as Ieituras correntes em dois ou trés meses™, outros apostav em fazer o mesma em um ano, Se o livto de Peigné péce ter tanta longevidade, foi porque soube integrar essas evolu- $8e8. Dividido em “oito classes” (dirfamos, hoje, cito “se- qincias" de ensino), ficeis de serem divididas no tempo de um ano (ou mais, para muitos alunos, ivonizara Dupont), ele péde cumprir 0 papel de modelo freqtientemente imitado. No momento em que os manuais, como 0 Alphabet Calfabe- 10) de Rendw ¢ Hachette avangavam ce séries silibieas em series silabicas, colocando a entrada na escrita a0 final do percursa, Peigné introduziu, no interior de cada seqiténcia, tum percurso que ia das sfabas &s palavras ¢ das palavras 33 frases, utiizando apenas © material sil4bico adquirido. Os alunos da terecira classe (eilabas aie, ad!) deviam poder ler “O ca chor ro mor deu ¢ tor ta", depois “papai sera o guarda jrapeior da Academia de Boris GR). © principe metbocique de tecture par te m re om moins ce 60 jours, pat MM. Fe Roanne, Durand, lbrsire, rae do cellége, Lyon, sbado"; “o solo foi cultivado’ sintético (letras combinadas em silabas, silabas combinadas em pi aalavras, pakavras em frases silabaclas, depois nao sila- uma vez que cada apren- dizagem era revisada na classe seguinte, Certamente, era necessirio esperar a oitava classe part chegar aos “verdadei- 103" textos (1, Das vistudes ¢ dos vicios, 6, Primeiros conhe- cimentos: palavra, leitura, escrita, gramatica, divis6es do tempo, astronomia, geografia, aritmética, invengdes). Mas depois de virios meses, os alunos comegavam a ler e sabiam que ler no era nem recitar, nem silabar sem compreender. Ao longo do Segundo Império, es ses ou em ligdes tornou-se habitual, Conjuntos de quadres impressos em tamanho grinde, anexos ao manual, permitiam reunir os alunos nos momentos de exereicios ritualizados , designar as silabas nomeadas, nomear as silabas nadas, soletrar as letras de uma silaba pronunciada, pronunciar uma silaba soletrada etc.). Os professores que tinham construfdo e aperfeigoado seus quadros duranie tocla a sua vida cs publicaram em formato de Jai lecture en Ging Lecons (A leitura em Cinco Ligdes) ¢ 12 quadros de Ribigre™, professor primario, foi impressa em 15 paginas, sem texto de leitura no final, De modo empirico ou explicito, esses métodos tentavam entao integrar as dias c- mensdes de apzendizagem: 2 descoberta “gradual e rellexi- va" das dificuldades, mas também a necessidade de consolidar as aprendizagens anteriores por revisdes sisterniticas, para evitar que uma nova aprendizagem fizesse esquecer a outra E o que parecia sustentar a mem. aache- gadla répida de unicades “que queriam dizer alguma cols”. ade engenhosi jos profescores era sem limite p: frases com palavras regulares que, entretan dantes no francés. O mundo dos métocos fa 110. rites turns ercries Hts eatealade - Anne-Marie Charthr de Queneau ¢ Péree™: cle encadeava os enunciados (+O ca- chorro mordeu a torta”; “a atividade leva & fortuna”) segundo limitagées puramente formais (aqui, silabas Consoante-Vogal € Vogal-Consoante). A célebre “pipe de papa” [“o cachimbo de aparece em 1855, na cbra de Michel, mas ela, sem ddvida, iniciou sua carreira mais cedo em um Abeceddirto ilustrado (Abécédaire iillusteé). (Os esforcas para distribuir o trabalho no tempo levaram udavam as diagiamagdes editoriais. A re- a propostas que gra aprendida de ccr (por exempla, a regra do ca-co-cu/ga: em listas de go-gu © do ce-ci-cy/ge-gi-gy) era exercit palavras ordenadas Clacet [cordaol, capucine [capuchinhal douceur [docural, canicule (caniculal, capacité [capacidadel, etc.) cujo comprimento diminufa para caber em uma pagina. De manval mava-se visivel a relago entre © recoite das unidades intelectuais € das unidades temporais do trabalho. Por exemplo, a3 regras de transcodificagio das vogais nasalisadas fi/eim, ain/aim, ein/eim, eram apresen- tadas “logicamente” pelas familias ortogrificas, depois exer citadas “em desordemn”, numa série de exercicios de leitura de pilavras. No final clo Segundo Impé guns manuais apresentavam j A pagina do livro tomara-se la em trés partes: no alto, a apresentacao das letras/som a serem aprendidos; em seguida, exercicios de combinacio de silabas; por fim, palavras € pequenas frases 2 serem lidas, manual, labas separadas por espagas em branco ou com pala- ieOes" crescia na medida em que 0 comeddo de cada uma delas diminuy oe assim, 20 que a palavra “ligto” designava: 20 mesmo tempo tum contetido intelectual a ser adquirido, uma pigina do.li- vio € uma unidace cle trabalho coletivo curta, guiada pelo vras inteiras, O niimero de orabeetitin aes mstodos de bitrate do manual modern ante anes Fer) LL professor. A numeragao das “ligdes" permitia ver que seu niimero se aproximava do ndmero dle semanas dteis do ano escolar: a semana tomara-se uma boa referéncia para levar uma aprendizagem a seu final, Pode-se imaginar o ganho em seguranga par os iniciantes cujo trabalho se encontrava in teiramente programado, Por outro lado, 9 livro do professor ou os comentizies em letras pequenas no final da pagina deveriam |ustificar as escolhas feitas, pois essa fragmentagao das unidades de trabalho ao longo do tempo dissimu grandes etapas da aprendizagem bem marcadas, a0 contré- rio, nos quadiros coletives. O,fim do método de soletvagdo Essa evoluglo acompanhou os longos esforgos para acele- rar a leitora das silabas € a passagem clas silabas para os textos Como vimos, uma primeiss simplificacio foi em seh¢io a desig. nagao ds letras. A soletragao clissica Cl, 2, C®, DB sucecieu 2 nova soletragio, dita de PortRoyal (4, Re, Ke, De) que, se- gundo a experiéncia, ajudava a cianga a melhor pereeber som habitual da consoante. Era mais ficil encortrar abe ac partindo da soletasto A-Bee A-Ke que de A-BE ¢ A-C8 Tratan- dose de ba, soletrar Be-a ao invés de BEA no wazia uma vantagem Mlagrante, © as opinides em relagio a isso eram mais divicicias. Uma segunda simplificagto estava relacionada aos sons ou As articulagdes compostas por virias letras (ow/oi!ain! cts, ch/qu/gn) que era necessirio aprender a ler/dizer como inidades. Ao se promunciar Be-Re-Int, o aluno estarin mais par (© para entender “brim” que ao dizer B8, Bie, f, Bme. Ribiere resumin esea evalugio apresentanda o sen manual de 1856: A piimetra Isao abrange quatro quaciras: no primeiro, ensi- nam-se naturilments as vognis, depois as consoantes, se fa zendo pronunciar as letras A maneira, bem erteacida, de MM de Port-Royal, E necessirio evitar decompor ou soletrar as © Nese sepundo e380, # pron NR) da consoante nto 2 apoiaria na vogal LL2 ritas de turns otcita hatdrn etude Anne Marie Chortlar ‘consoantes © as contragdes de vogais etc.) elas deve ser consideradas como letras simples ¢ pro- nunciadas come tal.{..]. Todo mundo sabe hoje que fazer soletrar por letras separacas & um contea-senso, ch, ph, gn Isso que era uma novidadle para a geragfio precedente, tomnoti-se uma aquisicio partilhada ou que deveria sé-o. ‘A etapa seguinte foi o abandono da soletracao, que pare- cia hd muito tempo Ho desejivel como diffeil de se obter Isso podetia ser feito sem que se aprendesse de cor todas as sflabas, em uma lingua em que clas existem as centenas? Por outro lado, & soletracao, voltando as unidades de base (con- joantes/vogais), cujo ntimero é limitsdo, poderia aliviar a meméria e reduzir o mamero de regras a reter? wives a isso diziam a seus Os professores” que eram f 's se pronunciario todas em uma sé \c20". Mas cles alunos que “as sil emissao de voz e por consequén preveniam os mestres que 1 sem 50] paca que esse metodo soja convenientemente aplicado e para ‘que se possa dele tar vantagens que devem resultar de sua fin, & nevessirio que os exercicios de viva vox durem. sngas que aprendem a ler Isso significava dizer que e1a necessario um professor em tempo integral para os iniciantes, o que era um luxo im- provavel, nessa época, nas cidades pequenas. Em 1860, A. Lefevre resumiu a perplexidade dos que atuavam na pritica 6 porque ambos apresentin grandes fos inconvenientes. Cet te, ecom raz20, 03 antigos procedimentos de soletagio, quals- ‘quer que sejum, por ndo serem capazes de fazer encontrar 0 se unanimemen- © Meibode pour aj chefe de insttuigio, Besargen, 98 Li 1850 44p. Dosabscedio aca métodos da bitin gneve do marua moderne ants dasielsFerry(1481) 113 ras". © método som soletragio conistia em fazer aprender as silabas; © — di aia Lefevre, fs ciracieres de que das se compen ¢ de perceber a order na qual oles se organizam, verilicagao indispensivel para 0 estado da ortogeafa, Varios procedimentos foram experimentados (sempre com sucesso, segundo seus inventores): estocagem de palavras aprendidas de cor e decampostas em silabas combinadas para fazer outras palavras™, eseritas fonéticas provisstias no caso das silabas dificeis, gestos fonomimicos” que permitiam imi- tar 0 encadeamento de dois sons sem pronuncié-los separa damente, apoio em textos monossilibicos - Diew a fait le jour; la nuit, le ciel, la mer; etc. (Deus fez 0 dia, a note, 0 ‘c6u, 0 mar etc) ~, em que todas 2s silabas sao significantes”, aprendizagem de uma soletragio mentaP, vinhetas ilustran- do as palavras evocaclas como nos Abecedrios”, De fato, foram encontrados numerosos procedimentos jé inventados na educagao preceptoral do século XVII, mas o contexto do trabalho coletivo obrigava, de alguma forma, a reinventi-los © sobretudo a tesiar aqueles que poderiam, ao mesmo tem- iar 0 aluno © 0 mestre. par M. Yaanier, Rennes ma eélebre mécodo de August Pape-Carpantier para a5 creches. © Meibete rosr apprevcre & lecwre phonetique, Paris: Do % Meibode de lecture applicable ss, Lib, 1036, 42 p. “O aluno ear a5 censoantes b..ba, bola} ‘professor Paris Colis Lb. Ma Hi, fechanco Uigetmmente os labios pera b..bow, que leré coma em bague, ruban. boule’ (ane, < strés de jolies vignenes gravées par Posret, ie ot Leclercq, Garnier Fréres, 1860, 36 p. 114 praticasdelehura eescrta minora tuidade- Ante tarie Charser No fim do Império parece ter havido uma guinada, por que, entre 08 anos 1860 ¢ 0s anos 1870-1880, os métodos sem soletragdo nao pareciam mais apresentar tantas dificul- dades como apontava Lefévre. Bles tinham se tornado ‘rap. dos”, Aqueles que iam de vento em popa eram os métodos “simulkaneos”. O adjetivo designava, entdo, nao o modo de ensino coletivo (este tinha se tomado a norma, ¢ era desne- cessirio falar dele), mas os “métodos simultancos de leitura ¢ escrita". Como indica Rapet, dura 0 tempo acreditou-se que as criangas 56 pode- ‘s escrever quanda ji soubessem ler. [..] © peri= centre ag mitoe de criangas pequenas que nto sabem uiliza-las © que sujam de tnta seus dedas & suas roupas, foi o que pode adiar, durante mutto tempo, 0 estudo da escrita, Mas evita-se agoia esse inconveniente por meio da ardésia © do giz cuja usilizagio no oferece nenhum perige do mais, que a leitura © a eset ura se ajudem muruamente. Foi nos anos 1850-1850 que as ardésias entraram de fato hnas turmas dos menores. Nas dos maiores, as penas metilicas permitiam aos professores nao mais passar horas a talhar as penas de ganso e As eriangas iniciantes se exercitarem a tracar letras sem ter de vencer todos os problemas de ccrus®—habl- lidade manual — que exigitam tantas horas de sofrimento as getagdes anteriores, Essa entrada precoce na escrita (que tanto agradava aos escolares que se “desgostavam’ da leitura, se- gundo 0 Guide des Ecoles dos irmios maristas) teve manifes- tadamente efeitos positivos sobre a memorizagao das letras € das silabas. Mas a occem da aprendizagem dos tragos nao teve nada a ver com 2s progressCes concebidas para a entrada na Teitura. Os dois ensinos eam ento priticas paral Foi 0 que bem percebeu Adrien, um professor primario adepto do método da nito soletragao que, a partir de 1853, SC HEBRARD, Jean. “Des & France entre XVI" ef AVI siecies”. s4olauges ele Léeole jran Rome, Hale ¢: Meditereanée, 107, 1995, p. 473-523. otabeclisoraoy métodos de tera: génse do analmodarno antes das as Ferry(t461) 119, erou a progresstio habitual para “eslacar em con ensino di leitura © aquele da escrita”. Foi suficiente para isso iderar 08 Sons asarticulagées [..] organizados segundo aa € a progressiio das dificuldades do wagado" Na verdade, se na aula de | lune deve fazer dos sons © das 2, a emissdo rapida que o jculagSes nao the permite ios decompestos, na aula um a um e382s elementos, 86 podendo reprodus ele € forgado a distinguir todos” Dessa forma, “rem méria recalcitrante ou uma desatengao muito comum as criangas colocam ao progresso do aluno”. Esse projeto nao podia ser realizado sem que as escolas estivessem bem equipadas, mas era nezessirio também que os professo- res “otimizassem" as agdes de retorno da escrita a leitu- ra, em vez de Se contentar em constatar seus efeitos. Em des de professores primérios formados pe- Ise as obstaet los que uma me- las escolas normais, durante a época de Durvy, estavam prontos para entender e aplicar esse discurso. O Méthode Cutssar?®, que apareceu sob o Império e triun- fou em 1881, recapitulava de certa maneira a trajetéria per- corrida em 40 anos. Fle estabilizava um modelo promissor: no ako da pagina, uma vinheta com o subtitule (uma ilha, uuma usina) como nos abecedtios lustradlos, enquadrada pela Jetta 1 ou pela letra U em suas diferentes escritas (maitisculas ce mintiscula impressa a csquerda, maitiscul e mintiscula cur- uma linha de silabas segui- das de palaveas "som vedete’, € no final uma pequena frase nas duas escritas, Se o metodo comegava pelas gradué ot simutiané uvelle oi les fegons de lecture et lain, Peri: Hachette, 1855, sment pravique et simiatane de la lecture, de eerture et cle Votbograpbe, par b. Culssaxt, 1 Het, Lede ce lties et de fours combinations simples, W882. Ele setia reedkado até a Segunda Guerra Munda lewas I, U, N e M, € porque elas eram tragadas com um ou mais tragos obliques, enquanto os tragos arredondados exi- outro desenho: 0 1uxo dos abecedérios ilustrados estava agora ao alcance das criancas do povo. Cada ligao terminava com. m modelo de escrita que 0 alano deveria reproduzir no seu caderno. A medida que se avancava, os sons aprendidos eram combinados a0 novos, € as ligdes de revisio permitiam re capitulacdes periddicas. Quanto ao Méthode Schuler®, en: tecido pelo verbete “Leitura" de James Gu Dictionnaire de Pédagogie, ele escolheu imprimir o primeiro livro em eseritura cursiva, para evitar as confusdes ei duas tipografias, No segundo livro, as criangas aprendiam a ler a eserita impressa que elas jamais escreveriam, mas era aprendendo a escrever que os escolares deveriam, a partir de entio, aprender a ler Condlusio Assim, no fim clo Segundo Império, as educagbes domés- ticas adotaram livros adaptados para as iniciagdes precoces, a cargo de mics “instruidas", mas scm competéncia técnica particular. Os métodos intuitivos, apoiados na imagem, fo- ram priorizados. Os meninos de familias privilegiadas po- deriam comegar o latim com oito ou nove anos, pois jé sabiam ler ¢ escrever havia muitos anos. Em compensagio, as esco. las catolicas, dirigidas por ordens religiosas populares, esta- vam abandonando seus alfabetos cristaos para adotar os métodos “modemos" das escolas dirigicas por professores imarios. Mesmo quando a recitagao das preces e a leitura do catecismo faziam parte do cotidiano, os procedimentos de entrada na leitura seguiam os principios das manuais laicos nemont simultené de la lecture ot de Véeritire, tere le Vétive, 1876, 28 et 32 p. A reedisio de 1680 ¢ intiulada Seu autor € Maurice Block DMithorde Scbul 1 mais difundides. $6 © léxico escolhido para as leit ‘vris on frases podia permitir adivinhar 0 p cifico visado pelos autores, Enfim, nas escolas conjunto de métodas sempre disponiveis no mercado mos- trava que nao se podia confundir o lado militarte da pro fissto e 2 realidade coti ensinavam seus alunos falar em francés. A oraliza¢ao dos textos era necesséria para fazer adquirir a prontineia pad: nente” a ler, escrever € antes mesmo de levar 3 do Império, os is que a Terceira Re la sem progressos nacional eram, pablica pod provocar polémicas, O aprendizado ni mais facilitado quando um curriculo estivel foi criado. Os objetivos do primeira curso eram ainda tomar os inician- tes capazes de entrar na leitura corrente instrutiva nas se fundamentavam as aquisigdes do segundo curso. Os métodos paravam entio Id onde os livros de megavam, como pode pigina e no pri meiro texto do Méthode Cuissark “Agora vocé sabe ler e voce seri logo capaz de ler sozinho belas historias nos li vros. ‘Todo saber humano se encontra nos livros, Se vocé sabe ler, vocé pode se tornar um sabio [...1". 0 que era reunids no Alphabet ot promi estava agora separado em dois produtos, relacionados a dois cursos diferentes. tornar sen uso sbrigatdrio na es: leitura foi ainda s ver na wltim mre de lecture courante As novas progresses de aprendizagem tinham se torna: do possiveis pela chegada de novos instrumentos baratos GardésiaMépis, papel/penas meidlicas), permitinclo a entra- la simulidinea na leitura © na escrita, Foi isso que permitiu, em alguns anos, © abandono cla soletracao na leitura, por- que ela se fazia, a partir de envio, na escrita, pela copia de silabas on de palaveas, letra por letra. © nome do método nukaneo (da leitura-escritura) foi rapidamente ebandona- do, porque tinha s2 tornado a norma. Sobreviveu somente © nome de “métoca silibico"". 0 ritmo da aprendizagem foi mo- dificado, mas ninguém mais imaginava, como em 1830, que as eriangas da escola piiblica poderiam aprender a ler com quatro ou cinco anos ¢ em alguns meses, como 2s criangas dos meios privilegiados, instrufdas pela mae. Se certos industriais dos anos 1850 esperavam ainda poder empregar criangas alfabetizadas precocemente gracas As creches, essas esperang Vas: 0 trabalho das eriangas foi proibido para ps agio geral, lenta ¢ longa (cinco anos). A questo dos métodos se encontrou assim, diretamente, coma do cursiculo escolar, em plena reorganizagio. Era 1870, a idade de entrada no curso elementar, para os alunos do primatio, era de sete anos. Pauline Kergomard'™ no cessa ria de lutar contra as professoras da escola matemal que se empenhayam em querer ensinar a ler ¢ escrever criangas que inal sabiam falar, mas, 20 mesmo tempo, foi ela que obteve, cm 1885, a ligago entre a escola elementar ¢ 0 curso “prepa rat6rio” - tltimo ano da escola maternal. Foi nesse “curso”, freqiientado pelas cviangas de seis anos, que os manuais eria- dos ao longo do Segundo Império seriam utilizados de forma sistematica. Dessa forma, todas as criangas, mesmo as do meio rural (as escolas maternais nao existiam no campo) poderiam ser “esclarecidas” um ano mais cedo (ou mesmo dois anos, quando entravam nas turmas infantis). O professor do curso clementar poderia consolidar as aprendizagens durante dois anos, antes da entrada no curso médio. Em relacio ao plano Rapet, segundo curso” (o curso médio), que fazia da leitura 4 Ele seria, bem cede, opasto a0 nétado globs comecan as “palavras ineiras" 2 pair da frase portanto, “conlecica previament”, los abecedérios. Pocersesia die fom curio, ds Anriguidade a0 #6 que sles fasiam deceobrie © pordénciis pelos textos soca Pauline Kergomard (1838-1925) foi a fundadora des esc na Franca, (NR) no qual se faz retes, para oduzida pelas criarcas, como os textos das i> alfabétian © sistema de corner ji conbiecidos waavase de ensinar a decifrar, segurar a pena e ¢: curso elementar, 0 objetivo era a leitura corrente, combinada t6ria, Geografia © Citncias, que exer Foi a partis desse momento que a quesitio do “fracasso escolar" comecou ase colocar para pequeno grupo de alu nos que resistiam de forma durdvel as primeicas aprendiza gens! © n&o podiam ter acesso normalmente 2 lei sustentava toda 2 oralizacao coletiva d as ligOes, Para s leituras, as paginas de c6pias e de ditados € as ligdes recitadas construiam os saberes clemen- tares da escolarizagio. Os republicanos, ao invés de se satis- fazerem com os progressos alcangados em cuss geragdes, ja viam seus limites: muitas leituras hesitantes, muitas ligdes wuitos ditados reple- Os professores deveriam nao somente en- sa compreender € reter aquilo que liam, mas também mostrar individualmente © que tinham compre- endido. Mas como fazer, se & capacidade ce repetir aquilo 1e foi compreendido? Q que & compreender um texto? Essas quesiOes, que ninguém se co- Waava sob 0 Segundo Imps mas memoria € inteligéncie, v0 estar no cenro das criticas feias a0 método silibico, a partir dos anos 1920. Essas ques- tes atravessarao todo 0 século XX. aioria dos outros alunos, das me nicamente, sinar aos seus que foi lido no demonstra 0 que conjugava sem proble- ne, seja porque aram resistentes A foi porque enim ineapazes de apeendes ocasion (© pups de ahinos em fracisen ese sssolarinasa forse diacussSee cienifisas ¢ pol Simon de elaborar rats da escola fs “ancmmais de asic’. VIAL, ines de Véducation spiciate 1. bes anormats & F8cole aux orig 2-1999, Paris: Armand Colin, 1995.

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