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PSgina [304 DISCURSOS DA GUERRA FRIA EM “A ESPINGARDA” (1966) DE ANDRE CARNEIRO Vitor Vieira Ferreira Universidade Federal do Rio de Janeiro Resumo Conhecido j4 desde Thomas Morus ou ainda Platéo em sua Repiiblica, 0 conceito de utopia, materializado em diversas obras literdrias, em especial naquelas consideradas como pertencentes ao género da Fic¢do Cientifica, descortina um novo tempo, um novo caminho, critico quanto ao presente e no qual ideais positivos teriam sua plena realizacao. J4 seu contraponto, a distopia, sem esperancas e com olhar pessimista, também se concretiza em obras literdrias. Exemplo disto, “A Espingarda” (1966), conto de André Carneiro, num cendrio de destruicdo, em uma melancélica harmonia com todos os temores causados pela ameaca nuclear em tempos de Guerra Fria, traz consigo em sua projecao futura distépica todo um complexo de discursos, ideologias e atitudes responsivas, considerando a nocdo bakhtiniana, por parte do autor. Pois o texto literdrio, para além de seu componente estético e como qualquer outro discurso, & atravessado por questées de natureza histérica: sociais, politicas, de poder; servindo ele mesmo de fonte para estudos sobre seu tempo. Pretende-se assim com o trabalho, situado na area da Andlise Critica do Discurso, estabelecer uma relacao entre os discursos vigentes a época da Guerra Fria e suas representacoes no conto; reafirmando assim o necessdrio didlogo entre os estudos linguisticos e a disciplina da Histéria. 1 CONSIDERACOES INICIAIS “A espingarda” foi publicada inicialmente em uma coletanea de contos por André Carneiro, um dos principais nomes da Ficsdo Cientifica (doravante FC) no Brasil e pertencente chamada “gera¢do GRD*2”, considerada pela historiografia do género como um dos momentos mais proficuos da FC brasileira. Em sua narrativa, o conto traz um protagonista sem nome nem muitos predicativos claramente expressos no texto. Em meio a um ambiente urbano de completa destruigao, vé- se ele obrigado a lutar por sua prépria sobrevivéncia num cendrio de carros destruidos, postes tombados e corpos expostos pela rua. A princfpio, temos o que parece ser um dia comum em suas andangas neste caos em busca de mantimentos, 4gua, abrigo, ou ainda cigarros. Por entre construgées infestadas por baratas e com forte odor de cadaveres, ou ainda pouco seguro pela fragil protecao de automéveis, o autor descreve sua caminhada quase que como a esmo, numa angustiante esperanca de encontrar outro ser humano. Apés chegar a uma casa e abrir uma de suas janelas, ele se depara com uma luz vermelha ao % Gumercindo Rocha Dorea, a partir do qual temos as iniciais, foi um editor que se empenhou no inicio da década de 60 em reunir autores brasileiros de literatura de fico cientifica e publicar suas obras através do Iangamento de antologias de contos. Com ele, péde ocorrer entio a “primeira reuniao de contos nacionais de FC em um Gnico volume, a Antologia Brasileira de Ficedo Cientifica, de 1961, e a segunda, Histérias do Acontecerd, no mesmo ano” (CAUSO, 2007, p. 16). PSgina [305 longe, um possivel indicativo de presenga humana. Depois de tentar sinais com um lampiao sem qualquer tipo de resposta, decide entao dirigir-se até a construgao de onde vinha a luz. Com muros altos e portas sdlidas, ela ¢ intransponivel. Ao tentar estabelecer algum contato através de gritos, um homem (0 antagonista) com uma espingarda apontada para ele ordena-o para que desapareca de 14. Ao tentar argumentar, tem como resposta um tiro, e vai correndo buscar abrigo. Ele encontra um lugar para ficar e descansar e decide no dia seguinte tentar novo contato. Ele chega até a escrever uma mensagem num papel, que ¢ lida pelo tal homem coma espingarda quando o personagem se aproxima dele novamente. Em seguida, ocorre entre os dois um tenso didlogo, e o antagonista nao aceita qualquer tipo de coopera¢o miitua em beneficio de ambos, conforme proposto pelo outro personagem, argumentando aquele que este estaria de alguma forma contaminado.0 didlogo se encerra com um tiro que atinge o protagonista no ombro. Transtornado, ele retorna a casa que lhe serviu de abrigo na noite passada e pega também uma espingarda, encontrada anteriormente em um armério de armas. Retornando ao local, efetua diversos disparos contra o homem e a construgao em que ele se encontrava. Nao satisfeito, recolhe cadeiras e caixas, empilha-os em frente ao portdo e neles ateia fogo com alcool, encontrado numa farmAcia. O fogo consome parte da estrutura e o portdo pode entao ser aberto. Indo adiante, ele encontra por fim seu inimigo j4 morto, apés ter se arrastado alguns metros. Vasculhando o local, toma para si alguns mantimentos e recarrega sua arma, pegando também mais munigao. Encontra-se o protagonista no fim da cidade, junto a uma estrada em direcao as montanhas, rumo ao norte. Para Id ele parte, encerrando-se assim o texto. 2 “A ESPINGARDA”, UMA FICCAO CIENTIFICA DISTOPICA BRASILEIRA 0 conto foi posteriormente publicado em 2007 em outra coletanea, desta vez trazendo outros autores e intitulado “Os melhores contos brasileiros de Ficgao Cientifica’. Inicialmente, nos questionamos sobre os aspectos que justificam a inser¢ao do conto na literatura de FC, para além de um aspecto editorial. Dois fatores podem ser levados em consideracao quanto a narrativa. Em primeiro lugar, a importancia dentro da economia do texto que o elemento da espingarda possui. Ampliando sua significacao primeira, isto é, um armamento como qualquer outro, 0 que temos aqui é o resultado de uma complexa imbricagao entre estudos cientificos, aplicagao de conhecimentos tecnolégicos e um aparato industrial que dé conta da produgao deste tipo de artefato. Neste sentido, trata-se mais de um simples objeto, mas de sua relagao entre estes elementos. PSgina |306 Em seguida, cabe verificarmos a importdncia que a espingarda adquire na economia do texto. A observacao mais imediata nos aponta para o titulo. H4 de se atentar ainda para © fato de que tanto protagonista quanto antagonista possuem na narrativa 0 mesmo armamento e é gragas a ele que o confronto pode se intensificar. Mais do que isto, 0 desfecho da narrativa depende diretamente do que uso que se faz da espingarda por parte do protagonista. Daf conclui-se que, na esfera da narrativa, o que esta sendo representado como uma das questdes centrais é a relacao do homem diante de seu semelhante e a tecnologia por ele produzida; seja para o bem ou para o mal. Feitas estas reflexdes iniciais, passemos entdo para algumas j4 consagradas definigdes de FC. L. David Allen considera que a (..)ficeio cientifica é um subgénero da ficco em prosa que é distinguida de outros tipos de flegao pela presenca de uma extrapolagio dos efeitos humanos de uma cia extrapolada, definida em termos gerais, assim como pela presenca de “engenhos” produzidos pela tecnologia resultante de ciéncias extrapoladas (ALLEN, 1974, p.213). Hugo Gernsback, fundador da revista Amazing Stories, que, em 1926, representou “a primeira real tentativa de pdr a FC diante do piblico leitor como um género distinto por seus préprios méritos*3” (MANN, 2001, p.12), define ainda a FC como (.) texto ficcional em que a fiegdo se mistura com fatos cientificos e visio profética, dando-Ihe um carater diditico e a fungio de ensinar numa forma de facil absor¢ao, (..) 0 que hoje é definido como ficcional nesse tipo de literatura pode realizar-se amanha (CARDOSO, 1998, p. 5). Raul Fiker também nos apresenta mais uma definigao, desta vez por parte de John W. Campbell Jr, figura-chave em um dos periodos mais produtivos da FC por estar a frente da revista Astounding Science Fiction, que publicou diversos autores posteriormente consagrados no género: John W. Campbell Jr. (..) definia FC como um meio literdrio andlogo a prépria cincia: enquanto esta explica fendmenos conhecidos e prediz fendmenos ainda rio conhecidos, a FC colocaria em forma de histérias como seriam os resultados da pesquisa cientifica quando aplicados tanto as maquinas como & sociedade humana (FIKER, 1985, p. 12). Neste sentido, poderfamos entao dizer que a FC preocupa-se, dentre outras coisas, em refletir sobre o progresso produzido pelo homem a partir do desenvolvimento de sua tecnologia baseado no avango constante de seu conhecimento cientifico, em especial no °° No original: “the first real attempt to put SF before the reading public as a distinct genre in its own right". PSgina |307 campo das chamadas ciéncias da natureza, considerando com isto suas implicagdes na sociedade humana e no meio ambiente. Retomemos ento os primeiro e segundo fatores anteriormente abordados. 0 conto realiza dois movimentos: 1) 0 de ampliar metonimicamente a significagao da espingarda como um elemento que traga consigo a relagao entre homem, ciéncia e tecnologia e 2) o de atribuir-lhe consideravel importdncia na estrutura narrativa e na economia textual. Uma vez que esta relagdo em muito se assemelhe aquelas propostas pelas descrigées supracitadas, e, considerando tal relago como sendo central tanto em aspecto formal quanto de contetido, nos parece clara a insergio do conto no género da FC. Um terceiro fator esta classificago. A ambientago num cenario de completa destrui¢ao nos leva ao conceito da distopia, conceito registrado pela primeira vez em 1868 por John Stuart Mill em um discurso parlamentar, e que, aplicado ao Ambito da FC, significa uma superagao negativa do status quo. Sobre tal, nos fala Carolina Dantas de Figueiredo: 0 século XX vé os projetos utépicos serem colocados em cheque. As revolugées do século anterior no se mostraram suficientes para mudar a humanidade, do mesmo modo, as melhorias prometidas pela tecnologia mostram-se efémeras parciais. 0 homem mostra que no é capaz de dominar a natureza e a vida dos ‘sujeitos no se parecia em nada com as propostas de esclarecimento iluministas, ou de racionalidade positivista. Pelo contrério, a tecnologia se radicaliza de tal forma que parece converter-se em portadora des medos e temores dos homens. Com base nestes medos e temores as distopias aparecem como critica a ordem vigente e as promessas ut6picas feitas até a virada do século (DE FIGUEIREDO, 2009, p. 356). Destarte, 0 conto se insere ainda no que poderiamos caracterizar como FC distépica, uma vez que sugere uma projegao histérica alternativa em que a vida humana se veja em uma determinada condigao tal em que problemas sociais, econémicos, ecolégicos, etc. sejam extrapolados; na maioria das vezes por conta de seu préprio descontrole diante de seu conhecimento e progresso. 3 ARCABOUCO TEORICO E OBJETIVOS Nosso trabalho se situa na 4rea da Linguistica Aplicada e tem por norte tedrico a Andlise Critica do Discurso, nos apoiando precisamente na concepgao tridimensional do discurso de Norman Fairclough (2001). Quanto a uma definico inicial de discurso: ‘Ao usar o termo “discurso, proponho considerar o uso de linguagem como forma de pratica social e nao como atividade puramente individual ou reflexo de variaveis situacionais. (..) [sto] implica ser o discurso um modo de agio, uma forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os outros, como também um modo de representagio. (..) implica uma relagio dialética entre o discurso a estrutura social, existindo mais geralmente tal rela¢ao PSgina |308 entre a pratica social e a estrutura social: a Gltima é tanto uma codigo quanto 0 efeito da primeira. Por outro lado, o discurso é moldado e restringido pela estrutura social no sentido mais amplo e em todos os niveis: pela classe e por outras relagdes sociais em um nivel societério, pelas relagdes especificas em instituigbes particulares como 0 direito ou a educagio, por sistemas de classificagao, por varias normas e convengées, tanto de natureza discursiva como no discursiva, e assim por diante (Ibid, p. 90-1). Adiante em sua teoria, Fairclough propée, para fins meramente didaticos e de andlise, uma diviséo ao ato discursivo em niveis. Ou seja, nele, trés “camadas” se sobrepdem uma a outra: a esfera do texto, a da pratica discursiva e a da pratica social. Isto nos leva a considerar 0 fenémeno do uso concreto da linguagem, histérica e socialmente situado, como nao estando restrito a esfera textual, mas trazendo ainda consigo elementos de produgao, distribuigdo e consumo, e de ideologia, poder e hegemonia. Desta forma, 0 texto ndo é entendido somente em suas estruturas internas de coesdo e coeréncia, mas como sendo perpassado por questdes sociais, histéricas e ideolégicas, em um ambiente concreto e real de uso que com ele estabelece uma relacao dialética: a0 mesmo tempo em que o possibilita e em alguma instancia o determina, este ambiente também é por ele modificado. Ou seja, os textos ndo podem ser desvinculados de uma andlise histérica e social do contexto em que foram produzidos, consumidos e distribufdos, visto que diante deste nao permanecem neutros: eles engendram praticas sociais de natureza nao discursiva e se posicionam quanto a outros discursos, seja reproduzindo e legitimando estes ou os contestando. Justifica-se este modelo de andlise por nos dar subsidios tedricos para que se estabeleca uma relago entre os discursos presentes a um determinado recorte histérico € uma obra literdria nele produzido, como é 0 caso de nosso objeto. Com isto, o trabalho discute em que medida determinados discursos que circulavam a época da Guerra Fria se veem representados em “A Espingarda”. Ademais, consideramos que esta representagao também é entendida como uma forma de ag@o, isto é, como dito, ela, traz consigo uma atitude axiolégica por parte do autor diante daquilo que discursiva e nao discursivamente 0 cercava a sua época. Quanto a isto, nos é relevante a nogao de atitude responsiva, conforme proposto por Batem (2003). Trata-se da relacdo entre o autor e os discursos presentes ao seu momento histérico, no qual se dé um posicionamento do primeiro quanto aos iltimos, seja sob a forma de discordancia ou concordancia, legitimacao ou contestagao. Descarta-se assim toda e qualquer forma de neutralidade ou uma compreensio passiva das significagdes — 0 que ocorre tanto no mais simples didlogo cotidiano quanto em uma forma mais complexa de PSgina [309 representagio literdria. Logo, € objetivo de nossa andlise, estabelecendo as relagdes devidas entre texto e contexto, trazer 4 tona o posicionamento do autor diante de questdes de seu tempo com base nas formas de representacdo pertencentes ao texto narrativo ficcional em questo. Visto que o aspecto formal, isto é, 0 componente estético do texto, é de grande importancia, ainda que ndo o objeto central de nossa andlise, nos apoiaremos ainda, quando necessirio, em outros autores do campo da Teoria e Andlise Literdria, de modo a complementar nossa andlise quando nos debrugarmos no nivel textual do conto. 4 DISCURSOS DA GUERRA FRIA A Guerra Fria foi “um novo referencial para as sociedades dessa segunda metade do século, de uma nova condi¢ao que justificaria muitas politicas e niveis de atuagao - a Guerra Fria era uma ‘realidade’ a ser discutida e vivida, pois havia sido criada, inventada, institufda.” (BIAGI, 2001, p. 62). Tratou-se de uma época em que uma complexa e penetrante amilgama de significagSes, ideologias e imagens contribuiu para a formacao de um imaginario social (idem) extremamente peculiar e com implicagdes que se davam nas mais distintas esferas da sociedade: desde relagdes politicas internacionais ao consumo de obras literdrias, revistas e jornais que se apropriavam deste imaginario para produzir e reproduzir discursos. Por conta da importancia no contexto histérico e por poderem ser identificados como estando representados de alguma forma no texto, selecionamos trés discursos da Guerra Fria: @ bipolaridade politica, a ameaga nuclear e 0 discurso anticomunista. Trataremos deles um a um. 4.1 Abipolaridade politica 0 conflito em potencial que marcou o periodo histérico da Guerra Fria foi travado entre as duas grandes poténcias que emergiram no cenario politico mundial apés a Segunda Guerra Mundial como duas forcas opostas e auto-excludentes. De um lado, estavam os Estados Unidos da América (EUA) e seu modelo capitalista de produgao, e do istas Sor outro, a Unido das Reptiblicas Soc icas (URSS), que, apés a Revolugio Bolchevique de 1917, instaurou uma estrutura de base socialista. 0 poderio bélico do qual dispunha cada uma das poténcias colaborava para o clima de tensao e a incompatibilidade entre as formas de vida social capitalista e socialista tornava ainda mais latente a ideia de um conflito. A bipolaridade politica marcou a Guerra Fria e nos cabe perguntar em que medida esta tensdo entre opostos se encontra representada em nosso conto. PSgina [310 A narrativa atinge o seu apice quando se da o embate entre protagonista e antagonista. De um lado, temos o primeiro em busca de outro ser humano em meio tétrica desolagio em que ele se encontrava, e do outro, o iiltimo que, por sua vez, nao desejava qualquer forma de cooperacao miitua. Neste sentido, podemos dizer que o motor da narrativa, isto 6, aquilo que motiva a tens3o ao momento do climax, se baseia no conflito entre os personagens. 0 motivo para este conflito é apresentado pelo texto, na voz do antagonista: “Vocé veio do sul, esta contaminado. — Levantou o brago, com édio: — Veja, a cidade inteira morreu contaminada. Vinham os do sul, morreram todos. Va embora, nao quero ninguém aqui” (CARNEIRO, 2007, p.86). Desta forma, consideramos que a relevancia da bipolaridade para o conflito latente no perfodo da Guerra Fria equivale aquela presente no conto entre os habitantes do norte (antagonista) e os habitantes do sul (protagonista). Um segundo aspecto a ser considerado é o componente da extrapolagao presente no conto. Neste sentido, se a ideia de um conflito iminente acabou por nao ser levado a cabo, no contexto ficcional de nossa narrativa 0 mesmo nao ocorre. Como visto no fragmento anterior, a bipolaridade entre norte e sul teve suas consequéncias levadas ao extremo, visto a ocorréncia de um conflito levado a cabo em momentos anteriores aqueles sobre o qual a narrativa se debruca. Isto é, na linearidade histérica do conto esta implicito que um ataque tenha de fato se realizado, Reafirma-se com isto nao somente a inser¢ao do conto na fic¢ao cientifica dist6pica como a atitude responsiva do autor diante da ordem mundial vigente: 0 confronto presente na trama histérica da narrativa nao é de todo ficticia, ele se comporta como uma verossimil e plausivel antecipagio. E, ao antecipd-lo, e, concedendo-lhe assim uma materialidade inscrita na unidade narrativa, mas ndo menos relevante, o autor posiciona-se contra a légica do conflito, reafirmando-o assim através de sua extrapolacao. Por fim, cabe destacar a presenga textual dos pares azul e vermelho. O par acentua ainda mais a ideia de uma polaridade. 0 adjetivo azul aparece somente uma vez, quando 0 protagonista ateia fogo a entrada do local no qual se encontrava seu antagonista: “O fogo pegou com um estouro, cobrindo tudo com chamas azuis e vermelhas” (idem, p. 88). Na passagem, podemos interpretar o fogo ateado pelo protagonista como estabelecendo uma relagdo de equivaléncia com o ataque ocorrido anteriormente na narrativa. Isto é, 0 protagonista representaria as forgas azuis, vindas da do sul, em sua incursao contra os inimigos vermelhos, os do norte. No conflito, contudo, as chamas, entendidas como o elemento da destruigao, acabam por abarcar a ambos os lados, inevitavelmente. A separagdo na forma de polos engendraria entdo algo m: incompatibilidade entre sistemas politicos: trata-se agora da ameaga nuclear. PSgina [3m 4.2 Aameaca nuclear A ideia de que a qualquer momento poderia ocorrer um confronto de proporgdes nunca dantes experienciadas pela humanidade nao se tratou de uma simples paranoia, ou excesso por parte de um ou outro temeroso. Pelo contrario, a expectativa de que o potencial bélico das duas grandes poténcias fosse colocado & prova foi um elemento extremamente presente & época. Como afirma Hobsbawn: Geragdes inteiras se criaram a sombra e batalhas nucleares globais que, acreditava-se firmemente, podiam estourar a qualquer momento e devastar a humanidade. (..) & medida que o tempo passava, mais e mais coisas podiam dar errado, politica e tecnologicamente, num confronto nuclear permanente baseado na suposigao de que s6 0 medo da "destrui¢ao miitua inevitavel”(..) impediria um lado ou outro de dar o sempre pronto sinal para o planejado suicidio da civilizagao. Nao aconteceu, mas por cerca de quarenta anos pareceu uma possibilidade diaria (HOBSBAWN, 2012, p. 224). Foi durante a Guerra Fria que o ser humano dispés de um desenvolvimento tecnolégico e cientifico sem precedentes. Este progresso do conhecimento também acabou por motivar a produgao em escala industrial de armas com incrivel poder de destruigao. Desenvolveu-se aquilo que se chamou de corrida armamentista, em que ambas as poténcias viam-se em uma disputa entre quem seria capaz de ter em seu poder o arsenal de maior destruigao. Isto funcionou como um significante elemento no jogo de disputa por influéncias no cenario politico internacional de ambas as partes, sendo especialmente relevante para a economia norte-americana. Nesta medida, pode-se ainda afirmar que a pega-chave para a compreensio deste momento histérico foi mais o componente bélico em si do que a dualidade excludente entre os dois blocos, visto que era este primeiro quem alimentava o conflito de fato. Para além de poderosos armamentos, as armas atémicas e termonucleares funcionavam como um “lubrficante” espalhado nos mecanismos de toda a “maquina” da “Guerra Fria’, sio, na verdade, um elemento vital daquele mecanismo, aquele que imprime sentido ao medo e a (sic) angistia, aos orsamentos bilionirios de defesa e a0 ‘temor seja do comunismo ou do capitalismo (ROLIM, 2012, p. 18). Outro aspecto relevante para entendermos o que representou a ameaca nuclear foi a ideia da Mutual Assured Destruction (MAD) que se vincula 4 administragao do presidente Dwight D. Eisenhower em meados dos anos 50, reforgada pelo secretério de defesa Robert McNamara (TUCKER, 2008, p. 1423) e pode ser entendida como a ‘anogio de que cada lado tinha um mesmo poder de fogo e que, se um ataque ocorresse, a retalia¢do seria em igual medida ou ainda maior que a do ataque PSgina [312 inicial. Dai que nenhuma das duas nagdes daria um primeiro golpe pois seu adversario poderia garantir uma sobrepujante resposta imediata e automatica consistindo de um sinal de alerta, também conhecido como fail deadly. O resultado final seria a destruigio de ambos os lados (ARNOLD, 2012, p. 147) [tradugio prépria™]. Citando Weart (2012, p. 123), “com o advento de bombas de hidrogénio, cidadaos. comegaram a suspeitar que o fim da humanidade nao era uma histéria de ficgao cientifica, mas uma possibilidade iminente” [tradugao prépria’S]. Nao por menos, serd neste contexto histérico que a FC distépica contra com a produgao de uma vasta quantidade de obras que abordem em alguma medida a questao da ameaga nuclear, sendo nosso conto um claro exemplo. Destacamos uma de suas passagens para mostrarmos como nosso segundo discurso da Guerra Fria é representado: Silencio, Até onde sua vista alcangava, centenas de carros paradas, na avenida. Esgueirava-se por entre eles, a mao rogando carrocerias cobertas de poeira. Pneus ‘murchos, manchas de dleo feltas gota a gota, no chao de asfalto. Inclinou-se sobre um para-choque cheio de barro ressequido. Pequenas folhas cresceram ali, as raizes descobertas se esgueirando entre a ferrugem que avancava. Continuou a ‘andar para a frente, parando de vez em quando. A paisagem era a mesma, de um ‘tempo muito diferente. Estava ao lado de um carro conversivel, a chave de partida no lugar, porta aberta, o estofamento se estragando ao vento, vidros sujos e opacos. Encostou-se em sua frente, a carcaca fez um ruido de juntas enferrujadas. Em ambos os lados, casas de luxo, com jardins isolados. 0 mato invadia as passagens, verde misturado com folhas secas, transformando as construgdes em ithas tristes e esquecidas (CARNEIRO, 2007, p. 76). A passagem denota claramente o aspecto da destruigao e do perecimento de elementos que se associam ao progresso cientifico e tecnolégico do homem em sua esfera de produgao de bens de consumo, neste caso, o automével. Podemos perceber também um contraponto entre as forgas da natureza e a fora criadora do homem, cuja perda de controle acabou por causar a arrasamento de si mesmo. Esta passagem, conforme transcrita, corresponde integralmente ao primeiro paragrafo do texto, o que faz. com que ela ganhe importancia estrutural impar. Por se tratar contato inicial do leitor com o texto, percebe-se por parte do autor uma intengdo clara de destacar 0 cenario em que 0 conto de desenrola. Nao por menos, o recurso da descrigao e da predominancia de adjetivos d4 0 tom formal ao momento. A primazia pelo aspecto objetivo ao invés de um aprofundamento psicolégico da personagem reforga sua °No original: “the notion that each side had equal nuclear firepower and that if an attack occurred, retaliation would be equal to or greater than the initial attack. It followed that neither nation would launch a first strike because its adversary could guarantee an immediate, automatic, and overwhelming response consisting of a launch on warning, also known as a fail deadly. The final result would be the destruction of both sides’ °5 No original: “with the coming of hydrogen bombs, citizens began to suspect that the end of humanity was nota science-fiction story, but an imminent possibility”. PSgina [313 importancia na construgao do ambiente da narrativa, ou seja, do “(...) espago carregado de caracteristicas socioeconémicas, morais, psicolégicas, em que vivem os personagens. Neste sentido, ambiente é um conceito que aproxima tempo e espaso, pois é a confluéncia destes dois referenciais, acrescidos de um clima” (GANCHO, 2002, p. 23). Relacionam-se assim o clima construfdo na narrativa e o ambiente de tenso por conta do temor de uma guerra nuclear. 0 autor no texto em questdo passa entdo a atuar como um arauto, num claro posicionamento de questionamento quanto & legitimidade de um conflito que poderia ter como consequéncia uma destruicao de proporgées inéditas. 4.3 O anticomunismo Conforme apresentado anteriormente, ao final da segunda guerra mundial o mundo se viu dividido por dois sistemas politicos antag6nicos. Neste sentido, iniciou-se no contexto politico internacional uma luta de influéncias em que o expansionismo de um passou a ser visto como uma ameaca para o outro. Justificava-se assim a difusdo e propaganda de discursos de ataque por parte de ambos os polos. Quanto aos EUA, a construgao discursiva de um inimigo atendia as suas necessidades politicas internas, sobre © que nos fala Hobsbawn: (.) © governo soviético, embora também demonizasse 0 antagonista global, no precisa preocupar-se com ganhar votos no Congresso, ou com cleigdes presidenciais e parlamentares. 0 governo americano precisava. Para os dois propésitos, um anticomunismo apocaliptico era util, e portanto tentador, mesmo para politicos nao e todo convencidos de sua prépria retérica(..). Um inimigo externo ameagando os EUA nio deixava de ser convincente para governos americanos que haviam concluido, corretamente, que seu pais era agora uma poténcia mundial - na verdade, de longe a maior - e que ainda viam o “isolacionismo” ou protecionismo defensivo como seu grande obstaculo interno. (.) Eo anticomunismo era genuina e visceralmente popular num pais construido ‘sobre o individualismo e a empresa privada, e onde a prépria nacio se definia em ‘termos exclusivamente ideolégicos (Yamericanismo”) que podiam na pratica conceituar-se como o polo posto do comunismo (HOBSBAWN, 2012, p. 232). Quanto ao expansionismo da URSS, suas motivagées podem ser questionadas, e, ademais, podemos dizer que suas reais proporgées foram muito mais gracas & propaganda ideolégica por parte dos EUA do que as suas ages politicas externas de fato — em especial se considerarmos sua condigao apés a segunda guerra: “em ruinas, exaurida e exausta, com a economia de tempo de paz em frangalhos, com o governo desconfiado de uma populacao que, em grande parte fora da Grande Rissia, mostrara uma nitida e compreensivel falta de compromisso com o regime” (HOBSBAWN, 2012, p. 230). PSgina [314 A despeito disto, fato é que diversos setores da sociedade acabavam por produzir e difundir sob diferentes meios (televisdo, revistas, jornais) discursos que reafirmavam os perigos de uma expansio comunista, justificando-se assim uma a¢ao mais efetiva diante de tal ameaga. De acordo com Ricardo Mendes: No plano mundial, pode-se afirmar que o século XX assinala a presenga de diferentes matizes de inspira¢ao anticomunista. As principais so: a democritica, que condena o seu caréter autoritario; a fascista, que centra as suas atengdes no combate ao cardter desagregador que 0 comunismo provoca na sociedade; a conservadora, que visa a manutenao do status quo; a anticlerical, dada a antireligiosidade do comunismo; e, por iltimo, a liberal, em fungo da condena¢ao 4 propriedade privada e da livre iniciativa que o marxismo apresenta. Em muitos momentos da histéria esses matizes apresentam-se interligadas e mescladas (MENDES, 2004, p. 81). No Brasil, 0 discurso anticomunista encontrou grande repercussao, e ndo poucos foram os grupos sociais que o reproduziram, conclamando a todos para uma campanha contra o “perigo vermelho’. Isto ganhou materialidade na forma de livros, caricaturas, jornais, revistas, além de todo um aparato institucional que fomentava este tipo de conduta, especialmente os setores militares e a Igreja Catélica. Outro aspecto a ser destacado é 0 alinhamento do Brasil com os EUA, 0 que jé ocorria desde a Segunda Guerra Mundial e que se manteve no perfodo da Guerra Fria. Nas palavras de Monica Ellen Seabra Hirst: ‘As opsdes de politica internacional na América Latina estiveram fortemente condicionadas pela Guerra Fria a partir de 1946, A identificagao da regio como rea de influéncia norte-americana determinou seus vinculos externos nos campos econémico, politico e militar, com importantes efeitos sobre a diplomacia brasileira. (..) A. politica econémica brasileira, no imediato pés-guerra, caracterizou-se pela implementagio de medidas norteadas pelos principios liberais que dominavam o contexto internacional. Ao mesmo tempo, expandiam-se ‘as relages comerciais com os Estados Unidos; nos anos 1947-50 60% das exportagées brasileiras destinavam-se ao mercado norte- americano, enquanto 0 café era o produto responsavel por mais de 60% das vendas externas (HIRST, 2011, p. 24). Em nosso cendrio nacional convém ainda citarmos a repressio ao Partido Comunista, iniciada no governo Dutra, culminando em maio de 1947 com sua cassagao (FAUSTO, 1995, p. 402), 0 que podemos apontar como um marco histérico simbélico da campanha anticomunista no Brasi Se a configuragao social e cultural brasileira 4 época nao trazia em si integralmente uma forma mais enérgica de apoio a uma postura anticomunista, certamente defensores das propostas politicas e sociais oriundas do bloco soviético estavam em um nimero muitissimo reduzido. £ de se esperar com isso que encontremos em nosso conto um PSgina [315 posicionamento por parte do autor em que se possa fazer reverberar esta averso; 0 que, nao obstante, ndo se faz presente textualmente. Em primeiro lugar, consideremos 0 ndo-dito no texto, isto é aquilo que durante a selecao referente a forma e ao contetido ixado de lado. Nao hd textualmente uma clara apreciago negativa na representa¢io do bloco soviético. Na narrativa, o espago geografico narrative em que protagonista e antagonista se encontram é 0 do norte. Retomando o que apresentamos anteriormente quanto & bipolaridade, a dicotomia norte e sul equivale, respectivamente, aos polos soviético norte-americano. Uma vez que seja a regiao do norte que sofreu um ataque tal para que a destruigao descrita no conto ocorresse, como vimos na passagem supracitada no tépico anterior sobre a ameaga nuclear, conclui-se que o autor opta por representar o bloco norte- americano como sendo o que realiza o ataque. Neste sentido, se durante a corrida armamentista EUA e URSS mantinham-se num mesmo nivel bélico, a representagio distépica presente no conto atribui especificamente ao primeiro a responsabilidade pelo golpe inicial. A isto podemos ainda somar a postura soviética que nao dava sinais de interesse em uma guerra nuclear de tais proporgdes, sobre o que nos caberia recorrer As palavras de Kruschioy, secretario-geral do Partido Comunista da Unido Soviética (PCUS) entre 1953 e 1964: se existe uma ameaca a coexisténcia pacifica dos paises com diferentes sistemas politico-sociais, essa ameaga nio parte de forma alguma da Uniio Soviética, do campo socialista. Tem o Estado socialista 0 menor motivo para desencadear uma guerra agressiva? Existem, por acaso, em nosso pais classes € ‘grupos interessados na guerra como um meio de enriquecimento? Nao. Foram ha muito suprimidos em nosso pais. Teremos nés pouca terra e riquezas naturais, carecemos de fontes de matérias-primas ou mercados de venda para nossas mercadorias? Nao, temos tudo isso de sobra. Para que necessitamos, entao, da ‘guerra? Nao precisamos da guerra, rechagamos por principioa politica que arrasta {A guerra milhdes de seres em holocausto aos interesses egoistas de um punhado de multimiliondrios. Sabem de tudo isto os que gritam sobre os "propésitos agressivos” da URS? Sim. Naturalmente o sabem. Para que continuam, ento, com sua velha flauta rachada, o estribilho da suposta “agressdo comunista"? Unicamente para turvar as Aguas, para encobrir seus planos de dominacio mundial, de "cruzada” contra a paz, a democracia e 0 socialismo (KRUSCHIOV, 1956). Concluindo, excluindo-se qualquer possibilidade uma atitude responsiva neutra, consideramos a escolha por esta forma de representacao do polo soviético — na condi¢o de vitima do ataque — como um claro nao-alinhamento por parte do autor ao discurso anticomunista vigente a época. PSgina [316 5 CONSIDERACOES FINAIS Apresentamos brevemente em nosso trabalho trés discursos que sao fundamentais para compreensao do periodo da Guerra Fria, tanto no que tange as produgdes textuais produzidas e consumidas & época, quanto no que diz respeito a seus desenrolar dos fatos e desdobramentos. Ha de ser dito, nossa selec aqui realizada tem intuito meramente analitico. Isto significa dizer que nao se pode pensar a ideia de uma bipolaridade politica em Ambito global sem que se considerem os avangos tecnolégicos e cientificos que possibilitaram a produgdo em escala industrial de armas de destruigio em massa que deram um novo sentido ao conflito. Ademais, é preciso ainda destacar 0 papel da propaganda ideolégica dos EUA e sua respectiva construgao discursiva de um inimigo — construgéo esta difundida no Brasil materialmente e imaterialmente, através de instituigdes e agdes politicas. Justificativas sélidas para uma ameaca factivel de expansionismo soviético, contudo, ndo nos parece ter havido a época. Sobre 0 conto, apresentamos alguns pontuais elementos que podem ser considerados como representacdes especificas destes discursos e que expressam a maneira como 0 autor deles se posiciona: reproduzindo o antagonismo dos polos sob a forma dos pares norte x sul e azul x vermelho, reafirmando os temores da ameaca nuclear através da construgéo de um cendrio de completa destruiggo e nao legitimando o discurso anticomunista por situar na esfera da narrativa 0 polo soviético como tendo sofrido efetivamente um ataque por parte daqueles que vinham do sul, isto é, os norte-americanos. Julgamos ainda de extrema relevancia que se considerem as obras literdrias 4 época da Guerra Fria como fontes historiograficas alternativas para que possamos compreender melhor o perfodo, cujas implicagdes reverberam até os dias atuais. Para nossa contemporaneidade, a experiéncia soviética representou a primeira grande tentativa de implantagao de um sistema alternative ao capitalismo. Com o fim da URSS, marcado simbolicamente pela queda do muro de Berlin, e a derrocada do comunismo, o pensamento liberal péde entdo dispor de uma justificativa historicamente embasada para poder se justificar sua expansdo a nivel global, interligando as nagdes e deixando-as & mercé das leis do mercado — a mao invisivel de Adam Smith toma entao as rédeas do devir histérico humano e nao ha qualquer horizonte que nos faca ver outros caminhos. 0 conceito da distopia, servindo de matéria para a produgao literaria da FC, destaca-se entdo na medida em que projeta situagdes de caos e extrapola problemas — vistos somente como ameagas em potenciais ~ e, com isto, exerce uma ago de contestacao, isto é, 0 leitor ser “chamado PSgina [317 a buscar saidas na sua realidade, “despertado” para um horror futuro, procurando evitar que ele se realize” (NUNES, 2012, p. 130). Ademais, se a maxima de que a histéria é contada pelos vencedores, revistar o passado através de narrativas outras nos parece ser uma tarefa fundamental para entender um atual estado de coisas. Por fim, reafirmamos a interdisciplinaridade proposta pela Linguistica Aplicada ao estabelecermos em nosso trabalho um didlogo entre as disciplinas da Histéria, dos Estudos Literdrios e da Andlise Critica do Discurso; buscando também salientar a relevancia da FC para estudos académicos ou como um convite & reflexdo sobre questées sociais, culturais e politicas, estejam elas relacionadas a um perfodo histérico anterior ou & nossa prépria contemporaneidade. REFERENCIAS ARNOLD, J. R.Cold War: the essential reference guide. Santa Barbara, Calif: ABC-CLIO, 2012. BAKHTIN, M. Géneros do Discurso. In: Estética da criagdo verbal. S30 Paulo: Martins Fontes, 2003. BIAGI, O. L. 0 imagindrio da Guerra Fria Revista de Histéria Regional 6, p. 61-111, 2001. CARDOSO, C. 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