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Prefácio

Se ouvirmos as vozes que se levantam hoje em nossa sociedade acabaremos crendo que o passaporte para a
felicidade humana é a permissividade sexual. Para muitas pessoas, o principio moral que rege sua vida é o daquele
adesivo de pára-brisa: “Se dá prazer, faça!"
Milhões de indivíduos estão sendo levados por essa ilusória onda da busca do prazer: ligações sexuais
passageiras, pornografia e drogas. Acredita-se que essas coisas com suas fascinantes promessas devem tornar-nos mais
felizes e saudáveis.
Mas será que o tornam?
Deus estabeleceu leis físicas - como a da gravidade, por exemplo. Mas criou também leis espirituais. Quando
violamos uma dessas leis, sofremos as conseqüências dessa violação, que são inerentes a elas. Aquilo que semearmos
isso ceifaremos. Aliás, sempre estamos colhendo mais do que semeamos, embora não estejamos conscientes disso de
imediato, já que a colheita se dá bem mais tarde. Mas o fato é que nossas paixões não dão ouvidos a nenhum tipo de
argumentação. Elas gritam dentro de nós, exigindo satisfação, seja qual for o preço a pagar.
O leitor verá que o escritor deste livro, em seu trabalho de aconselhamento, tem ouvido todo tipo de
racionalização que se pode criar para desculpar o pecado sexual. E ele já ouviu também inúmeras vezes o tão
conhecido lamento: “Sei que não devo fazer isso, mas não consigo!"
Existe uma saída para essa situação?
Pois este livro oferece uma esperança. Nossas paixões realmente são muito fortes; nossos desejos sexuais
ardem descontrolados; mas existe uma libertação quando nos submetemos a Jesus Cristo.
Esta obra nos mostra o caminho da verdadeira libertação e da vitória. A Palavra de Deus, pela operação do
Espírito Santo, pode derrubar as fortalezas da nossa imaginação. Embora os mandamentos neotestamentários possam
parecer inatingíveis. Deus nos oferece a possibilidade de fazer o que é certo. Embora as tentações estejam sempre ao
nosso redor, a idéia de nos libertarmos do domínio das paixões não é um sonho vão.
O autor aborda muitas questões que, muitas vezes, são convenientemente ignoradas pelos pastores evangélicos.
Problemas como masturbação, homossexualismo e a atividade demoníaca são tratados biblicamente e com
compaixão. Ele insta para que deixemos o passado para trás e acentua a necessidade de uma integridade emocional.
Este livro se caracteriza por suas instruções práticas a respeito das tentações e das frustrações sexuais, e expõe
a nu as sutis influências do mundo.
Tenho a satisfação de recomendar sua leitura ao público cristão em geral.

Josh Macdowell
Julian, Califórnia

A Guerra Contra as Paixões

- Eu me converti há seis meses; mas ninguém passou essa informação aos meus hormônios!
Quase todos nós nos identificamos com este jovem de dezoito anos, nesse conflito que é tão antigo quanto a
raça humana: a luta dos impulsos sexuais contra as restrições da consciência e os ensinamentos da Bíblia. Nossas
paixões ordenam: Vai! enquanto nosso bom-senso moral diz: Não!
De um lado, os ensinos do Novo Testamento nos advertem contra a prática da promiscuidade sexual (1 Co 6.18).
E Cristo também ensinou que todo aquele que olha para outra pessoa com lascívia já cometeu adultério interiormente
(Mt 5.28). Este preceito, bem como alguns outros que Jesus estabeleceu, acham-se em conflito com os fortes desejos
sexuais que atormentam tantos de nós, principalmente os homens. Como podemos obedecer aos mandamentos de
Deus, quando nossos impulsos sexuais nos parecem tão certos, tão belos e justos?
Muitos homens que se dizem convertidos, impulsionados por uma tentação sexual compram revistas
pornográficas. Mas depois, satisfeita a lascívia, ficam tão desgostosos consigo mesmos, que queimam a publicação na
pia do banheiro. Entretanto, uma hora depois estão de volta ali, remexendo nas cinzas, com esperança de encontrar
alguma fotografia erótica que houvesse escapado às chamas. Esse é o grande dilema do erro sexual: suas vítimas
alternam sentimentos de êxtase e de mortificação.
Como enfrentar esse conflito? Alguns simplesmente cedem às pressões de seu apetite sexual. Escolhem o
atraente, mas íngreme caminho da indisciplina moral. Crendo que poderão perfeitamente parar quando quiserem, ao
longo daquele declive, começam a caminhada. Se não houver nenhuma conseqüência negativa de imediato, eles
prosseguem, desconhecendo que mais adiante os aguardam precipícios bem camuflados.
Talvez se comece com um objeto de pornografia, com excesso de carícias no namoro, ou com uma sensação de
alta sensualidade pela atração de outra pessoa, que não o cônjuge. A forma sob que se apresenta este primeiro passo
não tem muita importância. O fato é que, ao darem o passo, essas pessoas não estão mais se situando dentro das
restrições naturais dadas por Deus. Embora ainda não o saibam, estão invadindo território inimigo. É possível que só
muito tempo depois venham perceber que as restrições divinas tinham por objetivo o seu próprio bem. No momento,
porém, o cenário que se avista do outro lado da colina é por demais atraente: não há tempo para refletir sobre as
possíveis conseqüências de seus atos. Aliás, mesmo que as conseqüências fossem as piores possíveis não iriam diminuir
a embriaguez daquele instante, já que se situam num futuro remoto.
Num Escorregadio Declive

Podemos dividir em dois grupos distintos aqueles que se desviaram e caíram nesse declive escorregadio. O
primeiro é o daqueles que estão se sentindo muito bem, muito satisfeitos, e não pensam nem por um minuto em
retornar à terra firme. Cristãos ou não, eles concluíram que sabem mais do que Deus, e eles próprios irão traçar a
rota de sua vida, sem levar em conta as placas de sinalização, que preferem ignorar. Acreditam, ingenuamente, que
conseguirão neutralizar as conseqüências de suas ações - pensam que encontraram um caminho bem melhor. E
quando lhes ocorre a idéia de que podem estar errados, obstinadamente se recusam a reconhecer o fato. É melhor
viver com aquela sensação de vazio e de culpa; é melhor amargar uma bancarrota espiritual, do que reconhecer seu
erro e voltar para Deus, humildemente, pedindo seu perdão e orientação moral.
O evangelista Juan Carlos Ortiz compara o mundo a uma embarcação que está soçobrando num oceano
profundo. Quando o capitão percebe que seu navio vai afundar, diz aos passageiros:
- Vocês que estão aí na segunda classe podem passar para a primeira, sem pagar a diferença. Bebam uísque à
vontade. É tudo de graça. Se quiserem quebrar as lâmpadas e estragar os móveis, podem fazê-lo.
Os passageiros ficam impressionados com a largueza de mente do seu capitão. E por que não iriam seguir suas
sugestões? Têm liberdade para fazer tudo que quiserem, satisfazer todos os seus desejos. Num navio que está naufra-
gando, tudo é permitido.
E muitos hoje estão se satisfazendo sexualmente sem querer reconhecer que seu “navio” está afundando. A
obsessão única pelos prazeres de há muito amorteceu sua percepção espiritual. Como os genros de Ló, eles ouvem as
advertências com desprezo, e as consideram meros gracejos (Gn 19.14). Mas a verdade é que seu “navio” está mesmo
submergindo, e será Deus quem irá escrever os últimos capítulos da vida deles. O julgamento que os aguarda é
inevitável.
O outro grupo é constituído daqueles que se desviaram, caindo numa areia movediça moral, e gostariam de
voltar a gozar do perdão e libertação que Deus pode conceder-lhes. Eles caíram; tornaram-se impuros, e sua
consciência está constantemente relembrando sua condição de desobediência. Um homem seduziu a esposa de
outrem; um rapaz foi levado ao homossexualismo por um amigo; uma linda jovem de 16 anos é obrigada a confessar
aos pais que está grávida, e uma jovem senhora guarda consigo o segredo do aborto que praticou.
Todas essas pessoas têm em comum um anseio: a vontade de recomeçar. Gostariam de deixar seu passado para
trás. Agora desejam ardentemente que tivessem dado ouvidos a Deus, ao invés de confiarem em suas próprias
opiniões. E tentaram reerguer-se - e só Deus sabe como tentaram - mas acabaram caindo de novo, outras vezes. Já
estão quase a ponto de desistir da luta. Mas precisam ser estimuladas, precisam se convencer de que podem ser
libertas dessa condição de constantes fracassos. Talvez as conseqüências de seus atos nunca possam ser modificadas,
mas elas podem mudar. Ou mais precisamente, Deus pode mudá-las.

Obedecer aos Sinais de Advertência

Outros atendem à orientação das Escrituras e tencionam viver dentro dos limites traçados por Deus. Não
cometem adultério, não assistem a filmes de alta sensualidade, não procuram carinhos com a secretária. Felizmente,
essas pessoas não têm também que suportar a vergonha e a sensação de culpa que vêm associadas com o pecado
sexual. E se ainda não sabem disso, algum dia irão descobrir que escolheram o melhor caminho possível. Mas entre
esses, há alguns que se sentem frustrados e até traídos. Sentem-se como “o irmão mais velho” que ficou em casa e
ajudou o pai a cuidar da fazenda. Invejam a geração mais jovem, os que experimentaram os prazeres da
promiscuidade sexual. Em alguns momentos, gostariam de mandar às favas todas as suas precauções. Se pudessem dar
uma escapada até uma cidade grande, onde ninguém os conhecesse, iriam assistir a um filme pornográfico, comprar
alguma publicação imoral, e compensar tudo que estiveram perdendo até o momento. Talvez até pensem que a igreja
- ou Deus mesmo - não está sendo justa com ele. Foram privados de algumas alegrias da vida. Mas por enquanto
permanecem dentro dos limites de uma conduta moral aceitável, talvez devido a certos temores. Contudo, eles se
põem nas pontas dos pés, e olham para o outro lado, querendo satisfazer sua curiosidade, e imaginando como seriam
as coisas do lado de lá. Eles ainda não aprenderam que Deus não os traiu; que não precisam invejar os ímpios, e, o
que é mais importante, eles podem satisfazer-se plenamente dentro dos limites traçados. Para aqueles que são
solteiros, isso implica em abstinência sexual. A eles será negado o prazer da comunhão íntima e do amor sexual. Mas
eles verão que até mesmo isso - embora possa ser penoso - é melhor que as alternativas existentes, que são
grosseiramente supervalorizadas. E aqueles que são casados devem aprender esta mesma lição, pois a atração sexual
por outra pessoa ocorre para todos. O casamento não é uma garantia de que os desejos sexuais serão plenamente
satisfeitos.
Embora as teses da castidade para os solteiros e da fidelidade conjugal para os casados não sejam bem aceitos,
o fato é que elas não somente são certas, mas também o melhor modo de agir. Muitas pessoas aceitam isso
mentalmente, mas não o crêem de todo o coração.
Mas ainda há outros - talvez em número maior do que pensamos - que levam uma vida pura, e estão satisfeitos.
Naturalmente eles sofrem tentações - e tentações fortíssimas - mas estão certos de que Deus deseja o melhor para
eles. E eles decidiram seguir a ele obedientemente, e não ficam ansiando prazeres que lhes são vedados. Para esses,
basta a satisfação de andar com Deus e ter uma consciência pura, o que já é recompensa suficiente para sua
obediência.
E também há os que levaram um escorregão no passado, mas aceitaram o perdão de Deus. Paulo escreveu o
seguinte aos coríntios: “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros,
nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem
maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.” (1 Co 6.9,10.) Mas ele continua: “Tais fostes alguns de vós;
mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no
Espírito do nosso Deus.” (6.11 - grifo nosso.) Aqui está a prova de que Deus pode libertar o homem de qualquer tipo
de erro sexual. Os vícios adquiridos no passado podem ser superados, e em seu lugar bons hábitos podem ser
cultivados. Se assim não o for, teremos que questionar seriamente o poder de Deus. Mas a verdade é que milhares e
milhares de pessoas já foram libertas do domínio de suas paixões. A intensidade da batalha nunca diminui; a tentação
está sempre ali, não importa quanto tempo já estejamos andando com Deus. E, no entanto, a Bíblia diz: “E os que são
de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.” (Gl 5.24.) Promessas como essa nos
fornecem o fundamento necessário para que possamos colocar nossas paixões sob o controle do Espírito Santo.

Por que Este Livro?

Durante dois anos debati comigo mesmo a viabilidade de escrever este livro. Primeiro, isso sempre envolve
certos riscos. Um amigo meu, que promove seminários sobre relacionamento conjugal, disse-me que o assunto que ele
abordava no estudo de domingo, fosse ele qual fosse, na semana seguinte seria um problema para ele. Satanás, o
inimigo de nossas almas, quer atacar-nos exatamente naquele aspecto de nossa vida em que estamos procurando
auxiliar o povo de Deus. E eu não estou imune à tentação sexual. Paulo nos adverte do seguinte: “Aquele, pois, que
pensa estar em pé, veja que não caia.” (1 Co 10.12.) O apóstolo estava sempre preocupado com a possibilidade de
tropeçar na carreira cristã. Ao reforçar a tese da necessidade do autocontrole, ele disse: “Mas esmurro o meu corpo,
e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.” (1 Co 9.27.)
Somente quem está morto não pode mais cair em erro sexual.
Em segundo lugar, não me considero um especialista em aconselhamento para pessoas que se achem em luta
com as paixões carnais. Já vivi o suficiente para saber que não existe uma fórmula mágica para se obter essa vitória.
Ninguém deve pensar que resolverá todos os seus problemas emocionais e sexuais com a simples leitura de um livro.
Estamos envolvidos numa batalha, e isso significa que temos de estar sempre atentos a novas estratégias, tanto de
defesa como de ataque. Se fôssemos oferecer aqui instruções superficiais para se obter essa vitória, só iríamos
provocar mais frustrações, que, por sua vez, gerariam a incredulidade e o sentimento de desesperança: “Eu sou
assim... não há mais jeito para mim.” O objetivo desta obra, portanto, é fornecer uma estratégia geral para essa
guerra, de modo que não permaneçamos escravizados às nossas paixões.
Terceiro, estou plenamente convencido de que o ensino bíblico sobre a conduta sexual é para o nosso próprio
bem. Todos nós sabemos que os prazeres sensuais apresentam promessas incrivelmente fascinantes. Nossas paixões
exigem satisfação imediata e sem restrições, sem nos dar a menor indicação de possíveis efeitos colaterais negativos.
E quem se preocupa com o que a igreja pensa, ou mesmo com o que Deus diz, naquele instante de êxtase sexual? Mas
depois, quando a poeira assenta e as conseqüências se fazem sentir; quando se considera a vergonha e a culpa
daquele ato; quando se calculam os efeitos dele para essa vida e para a outra, percebemos que o ensino de Deus é o
melhor e o mais sábio. A questão é se temos fé suficiente para agir com base nessa premissa, sem pensar, como Eva,
que “temos de experimentar e ver por nós mesmos”.
Por último, acredito que é possível nos libertarmos do domínio dos pecados sexuais. Oswald Chambers escreveu
o seguinte: “Se Jesus Cristo não pode libertar-nos do pecado, se ele não pode ajustar-nos perfeitamente a Deus,
como disse que poderia; se não pode encher-nos com seu Espírito ao ponto de não haver mais nada que nos atraia de
novo, seja no pecado, no mundo, ou na carne, então ele nos enganou.” (God's Workmanship - Feitura de Deus.) Ele
não está querendo dizer que nos tornamos “sem pecado”, mas sim que, se Cristo não pode livrar-nos, ele nos
enganou. Conheço pessoas que foram libertas de coisas como promiscuidade sexual, pornografia e homossexualismo.
Pode ser até que Cristo permita que nossas paixões nos dominem por algum tempo. É que ele deseja que
aprendamos a reconhecer nossas fraquezas e nossa incrível tendência para nos justificarmos e racionalizarmos nossas
ações. Ao final, porém, ele provará que é o libertador que diz ser.
Será que estamos sendo totalmente sinceros e deixando que Deus nos dê autodisciplina em nossas paixões?
Como Gideão, temos que aprender a distinguir o soldado despreocupado do que é seriamente dedicado. E aqui está o
teste: comece memorizando o texto de Colossenses 3.1-11: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo,
buscai as cousas lá dó alto...” e não pare enquanto não souber este texto tão bem, que não precise mais recorrer aos
artifícios empregados para memorizá-lo. Aí então poderá preocupar-se mais com seu significado. Jesus disse: “Se vós
permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará.” (Jo 8.31,32.)
Está disposto a aceitar este desafio?

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. Quais os fatores de nossa sociedade que contribuíram para se difundir a idéia de que o sexo deve ser
praticado sem responsabilidades e sem quaisquer compromissos?
2. João ensina que os incrédulos caminham nas trevas, ao passo que os verdadeiros discípulos de Cristo devem
andar na luz. O que ele quer dizer ao mencionar este contraste? (1 Jo 1.5-10.)

3. Relacione todas as características do mundo mencionadas em 1 João 2.15-17. Faça uma comparação entre
elas e as vantagens de se amar o Pai. (Jo 14.23; 15.8-11.)

4. Pesquisas têm revelado que, no que se refere a assistir televisão, quase não há diferença entre incrédulos e
os que se dizem nascidos de novo. Analise as implicações disso à luz de Colossenses 3.1-3.

5. De que modo podemos dar a entender sutilmente que Cristo não pode libertar-nos do poder do pecado? De
que modo podemos corrigir essa idéia errônea?

As Conseqüências de um
Pecado Sexual

Comecemos com Davi. Não apenas por causa de seu pecado com Bate-Seba. Nem porque sua história ocupa
tantos capítulos da Bíblia. Nem porque seu pecado seja incomum. Começo com Davi simplesmente porque ele é o
último homem que esperávamos ver metido numa complicação dessas.
Afinal, Davi
. foi o herói que matou Golias com uma pedrinha;
. foi um poeta que escreveu a maioria dos salmos;
. foi um místico que buscava a Deus fervorosamente;
. foi um rei escolhido por Deus, a respeito do qual ele disse: “um homem segundo o meu coração”.
E, no entanto, esse homem, Davi, cometeu adultério, e depois ordenou que outro fosse morto a fim de encobrir
seu pecado. Atendendo aos clamores de seus hormônios, em vez de dar ouvidos à razão, envergonhou e desgraçou a si
mesmo, sua família e seu reino.
Todos conhecem a história. O rei estava tirando uma soneca no terraço de seu palácio, à tardinha. Quando
acordou, pôs-se a caminhar por ali e “daí viu uma mulher que estava tomando banho; era ela mui formosa”. (2 Sm
11.2.)
E quanto mais Davi olhava para ela, mais se inflamava seu apetite sexual. Seu sangue se aqueceu, enquanto
seus olhos se voltavam para aquele corpo formoso. E ele a observava ao clarão do sol poente.
Essa simples frase “daí viu” está carregada de um mundo de significado. Davi dirigiu seus olhos para aquele
belo corpo nu. Infelizmente, naquele momento, foi só isso que ele viu. E o que ele deixou de ver é altamente
revelador. Ele não levou em consideração as conseqüências - a perda prematura de quatro de seus filhos, que iriam
morrer por causa do que ele estava planejando em seu coração. Ele não previu o senso de culpa, de vergonha, não
previu a morte de um homem, nem a perda do reino. Naquele instante, essas coisas nem lhe passavam pela cabeça. O
amanhã não tinha a menor importância. Talvez ele até passasse por tudo aquilo sem ser descoberto, e ninguém
ficaria sabendo. E, além disso, se ele não convidasse Bate-Seba para passar a noite ali, ficaria sempre imaginando
como seria ela realmente; e depois se lamentaria de não haver aproveitado a maravilhosa oportunidade de desfrutar
de seus encantos sexuais. Ele começou a criar fantasia sobre a sedução de uma mulher que não conhecia. E mais:
acreditava que poderia fazê-la sentir-se mais mulher, plenamente realizada.
Analisemos o que aconteceu. Ali, naquele terraço, Davi tomou a decisão de convidar Bate-Seba para vir ao
palácio. Se fosse rejeitar a tentação, teria que fazê-lo naquele momento. É possível que ele tenha pensado: Posso ter
prazer só em admirar essa mulher por algum tempo, e depois decido se a convido para ir ao meu quarto. Pode ser
que sim e pode ser que não.
A hora certa de se rejeitar o pecado sexual é o instante em que a paixão desperta. Se dermos lugar à lascívia,
ficará mais difícil resistir à paixão. E o passar do tempo não facilita a decisão certa; pelo contrário, a cada momento
que passa é mais provável optarmos pelo pecado. Aqueles que lêem publicações pornográficas, por exemplo, já
resolveram que vão cometer adultério mental; assim sendo, já decidiram também cometer o ato de adultério. A única
coisa que não está decidida é com quem e quando.

Cedendo às Pressões do Prazer

O fato de Davi ficar contemplando Bate-Seba longamente foi idêntico a cortar as cordas do ancoradouro e sair a
navegar numa corrente cuja velocidade e força aumentavam rapidamente. Cada momento que passava tornava-se
mais e mais difícil voltar à terra firme. Mas Davi não pensava em como e quando voltaria. Estava desfrutando da
sensação de ser levado rio abaixo, pela vibração que sentia no corpo. Cedeu ao prazer do momento. Esqueceu as
perigosas corredeiras que havia mais adiante.
O passo seguinte já era de se esperar. Ele enviou mensageiros para convidá-la a vir ao palácio. Fico a imaginar
o que ele teria dito aos seus servos. Talvez ele tenha feito uma observação casual, sobre sua vontade de conhecer
melhor seus vizinhos, e queria saber quem morava duas casas abaixo do palácio; ou talvez, depois de saber que ela
era mulher de Urias, um de seus mais valentes soldados, ele pode ter lançado mão do artifício de querer entender
melhor o problema das mulheres cujos maridos se encontravam na frente de batalha. Seja qual for a desculpa que
arranjou, deu certo.
O terceiro ato foi que “ele se deitou com ela” (2 Sm 11.4). Não sabemos até onde Bate-Seba concordou com
Davi. Será que ela cedeu pelo prestígio que lhe traria o fato de ter estado no leito do rei? Será que tinha uma afeição
real por Davi? Será que amava Urias, seu marido? Nunca o saberemos.
Também nunca saberemos se Davi pensou na possibilidade de ela ficar grávida. Pode ser que ela tivesse dito a
ele que naquele período do mês não havia perigo, ou talvez pensasse que não tinha condições de ter filhos. O mais
provável é que não tenham parado muito tempo para pensar nisso - os apetites tinham que ser satisfeitos, fossem
quais fossem as conseqüências. Qualquer problema que surgisse, poderia ser contornado depois. Só o momento
presente importava.
E se Bate-Seba não tivesse engravidado? É possível que o caso deles nunca tivesse sido descoberto. Urias não
teria sido morto, e o reino de Davi permaneceria estável.
Mas será que podemos ter certeza disso? Se entendemos corretamente o que é pecado, sabemos que não
podemos escapar ao juízo de Deus - mesmo que nossas ações não sejam conhecidas pelos homens. Iremos ver que o
pecado deixa outras conseqüências próprias, escondidas, além da vergonha de uma exposição pública. Além disso,
não podemos ter certeza de que aquela ligação de Davi com Bate-Seba continuaria sendo secreta. E se Bate-Seba,
dominada pelo sentimento de culpa, contasse ao marido? Ou pode ser que ela usasse desse segredo para chantagear o
rei. É possível também que os servos que foram buscá-la já desconfiassem do que se passara entre os dois.
O que sabemos é que ela engravidou e mandou a noticia a Davi.

A Ocultação do Erro

Então o rei teve de encarar o fato de que aquele seu simples caso já não era tão simples assim. Um
relacionamento que iniciara pelo consenso de dois adultos, de repente envolvia uma terceira pessoa: uma criança
estava para nascer. Urias também estava envolvido no problema. Davi resolveu então que faria com que Urias
pensasse que a criança era dele. O rei fora posto em posição de cheque-mate. Ele perdera o primeiro jogo, mas não
perderia o campeonato.
Executa-se o Plano A. Davi pediu que Urias fosse enviado a Jerusalém a fim de informá-lo do andamento da
peleja em Rabá. Como estavam eles - ganhando ou perdendo? O rei indagaria a ele. Em seguida, mandaria o soldado
para casa, na esperança de que ele tivesse relação sexual com sua bela esposa. E o rei ainda lhe daria um presente
para ela, desejando que isso criasse uma aura de romantismo que levasse o casal para o quarto.
Mas Urias não entrou no jogo de Davi. Não sabemos que suspeitas ele pode ter tido. Será que ele pensou: “Por
que todas estas atenções e privilégios especiais?” E disse a Davi que não iria para casa, pois ficaria com sentimento de
culpa se fosse para casa alegrar-se com sua esposa, enquanto seus companheiros estavam enfrentando situações
difíceis na guerra. E firmemente recusou a oferta do rei.
A essa altura, Davi já estava desesperado. Tinha que fazer com que Urias fosse para casa, para que seu pecado
não fosse descoberto. Afinal, isso era para o bem da família real e de todo o reino.
Então surgiu o Plano B. O rei solicitou a Urias que ficasse ali mais um dia, para que os dois pudessem almoçar
juntos. E fez com que ele se embebedasse, com esperança de que, à noitinha, ele fosse para sua casa. Mas aquele
homem leal ficou com os servos de Davi e não foi visitar a esposa.
Se Urias tivesse ido para casa, e tivesse tido relações sexuais com a esposa, será que isso acertaria as coisas
para Davi? Bate-Seba teria que ser obrigada a dizer e viver uma mentira. Teria que fingir que a criança era filho do
marido, e mentir acerca de um nascimento “prematuro”. E aquela criança seria um constante lembrete do doloroso
segredo que tinha de ser guardado a custa de muitos enganos.
E Davi teria de continuar para sempre com aquela culpa de haver gerado um filho, que mais tarde poderia vir a
descobrir sua verdadeira identidade. O rei teria que guardar este segredo no coração, sabendo que sua ação teria
graves conseqüências na vida da criança. E viveria também com o temor constante de que Bate-Seba contasse a Urias.
E se ela não conseguisse suportar o peso de sua culpa? E havia também o relacionamento do rei com suas esposas -
como elas seriam afetadas pelo caso que o marido tivera?
Mas voltemos à história.
Davi passou à execução do Plano C. Era seu trunfo. Resolveu que Urias seria morto na batalha, para que Bate-
Seba pudesse tornar-se sua esposa. Entregou ao soldado uma carta dirigida a Joabe, seu comandante militar. Em
parte, ela dizia o seguinte: “Ponde Urias na frente da maior força da peleja; e deixai-o sozinho, para que seja ferido
e morra.” (2 Sm 11.15.)
Por que um homem bom se torna um assassino? Por que um homem bom manda matar um amigo que é tão leal,
que ele próprio é encarregado de levar a carta ao seu comandante sem abri-la? A vergonha faz com que
manipulemos as conseqüências do pecado. Desde os tempos mais antigos o homem tenta escapar ao castigo de
Deus. A mente humana é capaz de racionalizar qualquer ato que seu coração desejar praticar. Pagamos qualquer
preço para parecermos bonzinhos. A melhor coisa que Davi poderia ter feito seria reconhecer seu pecado
diretamente, apesar de toda a vergonha e humilhação que isso acarretaria. Mas, em vez disso, ele foi somando um
erro a outro, e o castigo divino aumentando proporcionalmente.
Joabe obedeceu às ordens do rei, e depois um mensageiro voltou a Davi para lhe dizer que Urias fora morto em
combate. E ele simplesmente replicou o seguinte: “Não pareça isto mal aos teus olhos; pois a espada devora, assim
este como aquele.” Era como dizer tranqüilamente: “Bom, isso é da vida; um dia a gente ganha; outro, perde.”.
Como estavam funcionando as medidas de acobertamento? Bate-Seba sabia do fato, bem como Joabe; e
provavelmente os servos também o sabiam. É provável que outros também tenham ficado com suspeitas, por ocasião
do nascimento da criança. E Davi sabia, como confessou depois: “meu pecado está sempre diante de mim”.
Mas o mais importante é que Deus o sabia. Nenhum pecado fica oculto dele. E ele tomou providências para que
as tentativas de ocultamento eventualmente fossem removidas.
E nisso está a ironia de tudo: nós, seres humanos, na maioria das vezes estamos mais preocupados com o que as
pessoas sabem do que com o que Deus sabe. E, no entanto, é o divino legislador quem supervisiona pessoalmente o
castigo a ser ministrado àqueles que ferem sua autoridade. E por mais que procuremos cuidadosamente esconder
nosso pecado dos homens, ele está descoberto perante os olhos de Deus. O autor de Hebreus, com muito acerto,
escreveu o seguinte: “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as cousas estão
descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.” (Hb 4.13.)

Algumas Conclusões

Neste ponto da história de Davi já podemos chegar a algumas conclusões.


Qualquer um pode cometer um pecado sexual, tanto uma pessoa consagrada a Deus como a mais indiferente
de todas. Pastores, médicos, missionários - todos são susceptíveis de erro.
Certo professor de seminário sugeriu a seus alunos que se preparassem para uma outra profissão, além do
pastorado, pois uma boa pane deles iria futuramente abandonar o ministério, devido a pecados sexuais. Ouvi contar,
recentemente, que determinado pastor estava envolvido com a esposa de outro homem. Ele era a última pessoa que
eu pensaria que iria entrar numa situação dessas. Mas, como acontece em tantas das surpresas da vida, os últimos,
muitas vezes, são os primeiros.
Se Davi, que era um homem que amava a Deus com tanto fervor, foi capaz de cometer adultério, não devemos
espantar-nos com nossa propensão para os pecados sexuais. Embora isso não aconteça necessariamente a todo
mundo, o fato é que pode acontecer. Muitos que antes, orgulhosos de si mesmos, afirmavam: “Eu nunca faria isso”,
hoje têm que confessarem envergonhados: “Eu o fiz.”
Sempre que ouço alguém mencionar os pecados de outrem em tons de acusação, estremeço. A não ser pela
graça de Deus, todos nós somos potencialmente candidatos a cometer um pecado sexual.
Os apetites carnais têm uma força incrível. Davi, Sansão e Jezabel são exemplos do atrativo exercido pelos
desejos sexuais. Nossas paixões podem exercer sobre nós um domínio sutil e ditatorial. É possível que consigamos
controlar nossos atos, mas nossa mente, às vezes, é tomada de assalto por engodos sexuais. Se não modificarmos
nossa forma de pensar, as nossas resoluções, até mesmo as mais firmes, ruirão ao peso do desejo sexual.
Concordamos plenamente com Santo Agostinho: “Não existe nada mais forte para derrubar o espírito do homem, do
que as carícias de uma mulher.” Ele próprio só conseguiu resolver o problema de seus conflitos interiores depois que
se rendeu totalmente a Deus.
Homens respeitáveis têm abandonado mulher e filhos; pastores têm abandonado ministérios vitoriosos; e
mulheres têm deixado filhos a quem amavam profundamente, tudo por causa dos atrativos do sexo. Uma certa pessoa
disse:
- Detesto o que estou fazendo, mas não consigo ser de outro jeito. Um lado meu quer mudar de vida; o outro
não quer. Do modo como as coisas estão, resolvi fazer o que eu quero.
Acredito que em nossos dias a tentação é maior do que em décadas anteriores. Os filmes pornográficos,
imorais, inflamam as paixões carnais e corroem a resistência moral. Certa vez um garoto de onze anos encontrou uma
revista pornográfica numa gaveta de um móvel de um hotel. Olhando aquilo, ele ficou tão excitado, que seduziu a
irmã. E continuou viciado em leituras pornográficas, durante muitos anos, e mantendo a relação incestuosa. Pelo
poder de Deus, hoje esse moço se recuperou parcialmente da experiência, mas a irmã, não. Teve um casamento
infeliz, e sentimentos de revolta, amargura e depressão.
David Morley escreveu o seguinte: “O impulso sexual é tão forte, que derruba até as barreiras do bom-senso e
do raciocínio. Ele pode levar um homem a roubar, trapacear, matar, ou jogar fora toda uma riqueza ou talento, a fim
de buscar essa satisfação.” (His - Dele - Nov. 1971).
Nós possuímos apetites latentes que podem ser despertados até se tornarem uma febre. É como jogar um
fósforo aceso numa lata cheia de gasolina.
Mas apesar da força de nossos impulsos passionais, Deus nos responsabiliza por nossas ações. Ele mandou
que o profeta Natã fosse falar com Davi, e ele lhe entregou a mensagem divina sob a forma de uma parábola. Numa
cidade havia dois homens - um rico e outro pobre. O pobre tinha apenas uma ovelha. No entanto, quando chegou um
viajante à casa daquele rico, este roubou a única ovelha do pobre, e preparou-a para o banquete (2 Sm 12.1-4).
Ao ouvir esta exposição, Davi se mostrou bastante encolerizado, e disse: “Tão certo como vive o Senhor, o
homem que fez isso deve ser morto. E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal cousa, e porque não se
compadeceu.” (2 Sm 12.5,6.) E Natã lhe respondeu: “Tu és o homem!” (V. 7.)
Davi teve mais compaixão de uma cordeirinha, do que tivera de Urias - o que mostra mais uma vez como as
paixões distorcem nossa visão das coisas. Davi era o homem da parábola, que havia roubado a ovelha de seu vizinho. E
Deus iria castigá-lo pelo que havia feito, embora tudo tivesse começado num momento de descontrole das paixões.

Deus é Justo?
Será certo que sejamos considerados culpados por algo que realmente não tencionávamos fazer? E a
responsabilidade da mulher, Bate-Seba? Por que um homem, que servira fielmente a Deus durante vinte anos, deveria
receber um castigo severo por causa de um erro cometido num momento de desvario?
Ademais, dizem alguns, ninguém condena um cachorro pelo fato de agir como cachorro. Por que deveríamos ser
responsabilizados por um ato que nos é tão natural? Sendo seres com impulsos sexuais, por que não podemos
expressar nossa sexualidade?
Se o homem fosse um animal, como ensinam os behavioristas atualmente, então teríamos que concordar que
ele não deveria ser responsabilizado por suas ações. B.F. Skinner, que acredita, que o homem é apenas animal,
ensina que ele não tem que responder pelos seus atos - tudo que as pessoas fazem, elas simplesmente o fazem. A
nenhum ato deve ser atribuído senso de culpa.
A Bíblia apresenta uma visão bem diferente: além do corpo, ele possui também alma. E já que possui esse ele-
mento que é imaterial, não podemos pensar que ele é somente um dente da engrenagem universal, uma vítima de
forças que se encontram acima de sua capacidade de controle. É verdade que pela queda ele chegou a um nível bem
baixo, mas ainda pode tomar a deliberação de reprimir suas ações, sejam quais forem os pensamentos que povoem
sua mente. Em alguns países muçulmanos, onde a pena para o crime de estupro é crucificação, e de roubo é o corte
da mão direita, o índice de criminalidade é insignificante - o que comprova que o homem não “tem” de “fazer o que
lhe é natural”.
Apesar das indiscrições de Bate-Seba, Davi não era obrigado a cometer adultério. Ele poderia ter parado de
olhar para ela, e poderia ter resistido à idéia de convidá-la para ir ao palácio. Mas porque ele tomou a resolução de
pecar, era responsável pelo ato.
Mesmo que pensemos que nossa vontade fica como que imobilizada no momento da tentação, ainda assim
temos uma vontade livre, e somos responsabilizados por nossas ações. Essa tese de que devemos agir segundo os
impulsos do sentimento é uma das mentiras sutis ditadas pelas paixões.
Embora naturalmente inclinado para o mal, quando orientado, o homem pode se refrear e deixar de praticar
certos atos, geralmente com grande esforço, e obedecendo a objetivos superiores. Mas Deus só se satisfaz quando ele
vai além disso. O homem pode tomar a deliberação de confiar-se à misericórdia de Deus, e pedir que ele lhe de
forças para encarar suas resoluções de caráter moral. Deus está à nossa disposição, para nos socorrer nos momentos
de necessidade. As fraquezas morais deveriam ser um incentivo para nós, para buscarmos mais a cruz. Cristo morreu
para que se rompesse a força das garras do pecado em nossa vida.
Deus coloca diante de nós um padrão de conduta bastante elevado, e ao mesmo tempo nos concede a
possibilidade de sermos perdoados e moralmente livres. Santo Agostinho, ao meditar sobre essa questão de como o
homem pode tornar-se aceitável perante um Deus santo, disse o seguinte: “Ó Deus, pede o que quiseres, mas supre-
nos daquilo que pedes.” Deus não está brincando conosco. Ele espera de nós muito mais do que podemos fazer por
nossas próprias forças, mas ele está pronto a ajudar-nos a satisfazer suas exigências.
A misericórdia de Deus está à disposição daqueles que resolvem parar de procurar desculpas para sua conduta.
Se assumirmos nossa responsabilidade, mesmo quando a tentação nos pressiona a pecar, colocamo-nos numa posição
de humildade, onde Deus pode socorrer-nos até na mais profunda de nossas necessidades. Ele sabe que fomos criados
do pó. Está perfeitamente ciente de nossas fraquezas e de nossa propensão para o pecado e, no entanto, não pode
liberar-nos de nossa responsabilidade. Ele é um Deus santo.
Assim que paramos de jogar a culpa nele, e assumimos toda a responsabilidade de nossos atos, ele pode vir em
nosso auxilio. Nada de arranjar explicações; nada de culpar a outros; nada de pôr a culpa em Deus.

E Quanto a Deus?

Quando cometemos um pecado sexual, Deus é quem perde. Sempre que pecamos, nosso primeiro
pensamento é se seremos castigados ou não. Será que alguém vai ficar sabendo? Será que Deus irá castigar-nos? Será
que suportaremos o peso da culpa? E, no entanto, a primeira coisa que deveríamos fazer era pensar em Deus. Natã
relembrou a Davi como Deus tinha sido bom para com ele. “Eu te ungi rei sobre Israel, e eu te livrei das mãos de Saul,
dei-te a casa de teu senhor, e as mulheres de teu senhor em teus braços, e também te dei a casa de Israel e de Judá,
e, se isto fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais cousas.” (2 Sm 12.7,8.) O pecado de Davi foi um ato de
ingratidão. Sua deliberação de cometer adultério com Bate-Seba era equivalente a dizer que Deus fora negligente em
suprir suas necessidades. A provisão de Deus para ele não era boa, aceitável e perfeita. Cada pecado que cometemos
equivale a fazer uma acusação contra a bondade de Deus.
Essa atitude remonta os tempos do jardim do Éden. Adão e Eva poderiam comer o fruto de todas as árvores,
menos de uma. E o que foi que Satanás fez? Ele tapou-lhes os olhos para todos os privilégios de que dispunham, e
afirmou que, se Deus fosse bom e se estivesse levando em consideração os interesses deles, deixaria que comessem
do fruto proibido. E o primeiro pecado de nossos pais teve como base a premissa de que Deus era mau, e não benigno.
Pense em como Deus fora bom com Davi. E ele ainda tinha outros planos para o rei. “E, se isto fora pouco, teria
acrescentado tais e tais cousas.” Com um só ato lascivo, Davi, insensivelmente, esqueceu toda a bondade de Deus.
Muitas vezes, as pessoas que cometem pecados sexuais estão cercadas de privilégios e bênçãos: bons pais, uma igreja
evangélica, conhecimento da Bíblia. Mesmo tendo recebido de Deus todas essas coisas e muitas outras mais, ainda lhe
desobedecem a Palavra.
A devassidão sexual começa com a ingratidão. O primeiro passo na direção da ruína moral está registrado em
Romanos 1: “Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças” (v. 21);
o resto é do conhecimento geral. O pecado e a ingratidão sempre andam juntos.
Falando a respeito de um casal que teve relações sexuais antes de se casar, Roy Hession comenta o seguinte: “E
o grande perdedor nisso tudo é Deus, aquele cujo coração para com eles era bem diferente do que eles pensavam;
aquele que estava planejando para eles um beneficio muito grande, maior do que poderiam ter imaginado, mas cujos
bons desígnios eles frustraram.” (Forgotten Factors - Fatores ignorados - Christian Literature Crusade.)
Deus também perde, porque sua reputação fica maculada. E Natã continua, dizendo: “Mas, posto que com isto
deste motivo a que blasfemassem os inimigos do Senhor, também o filho que te nasceu morrerá.” (2 Sm 12.14.) Agora
os inimigos de Deus iriam dizer: “Davi é igual a nós. Ele diz que conhece a Deus, mas olhe só o que fez!"
Impressiona-me aqui o fato de que Deus não tenha tentado ocultar o pecado de Davi, impedindo assim que os
inimigos do Senhor tirassem partido da vergonha dele. Deus poderia tê-lo castigado em particular. A notícia do
acontecido poderia ter ficado limitada apenas aos muros do povo de Deus. Mas o Senhor permitiu que o fato fosse
conhecido até entre os pagãos.
Quando um filho seu peca, Deus nunca procura abafar o fato. E a reputação dele também fica manchada,
juntamente com a daquele filho. Mas nós fazemos o contrário. Tomamos todas as medidas possíveis para esconder
nosso pecado, ao passo que Deus tenta expô-lo.
Enquanto não sentirmos a extensão da tristeza que nosso pecado sexual causa em Deus, não nos disporemos a
abandoná-lo. Natã perguntou a Davi o seguinte: “Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor?” (v. 9.) É provável
que Davi não visse as coisas desse modo, mas Deus via.
José não teria resistido às investidas diárias da mulher de Potifar, se tivesse pensado apenas no que o pecado
poderia significar para as outras pessoas. E poderia ter racionalizado tudo, ao calor do momento. Afinal, ele não
merecia um pouco de prazer depois de tudo que passara com seus irmãos? E não poderia esconder tudo de Potifar,
que passava o dia todo fora? Com tal raciocínio, ele poderia concluir que o prazer sexual valia bem os riscos nele
envolvidos.
Mas o que foi que o impediu de pecar? Foi seu entendimento de que Deus se entristeceria. “Como, pois,
cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” (Gn 39.9.)
As duas pessoas envolvidas num pecado sexual sofrem as conseqüências do erro, mas o pior é que Deus também
sofre. Praticamente elas estão dizendo a ele: “Tu não tens sido bom para mim. E eu sei, melhor do que tu, o que é
bom para mim. Não me preocupo com a tua reputação.” E mesmo quando o pecado é habilidosamente camuflado,
esta mensagem está sendo dirigida a Deus. Imagine-se só o sofrimento dele!

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. Alguém já disse: “Mente desocupada é oficina do diabo.” Vamos debater esta afirmação à luz do fato de Davi
ter ficado em Jerusalém (2 Sm 11.11).

2. Estudar o Salmo 32, e descrever a experiência vivida por Davi durante o tempo em que se recusou a
arrepender-se de seu pecado (um período de aproximadamente um ano).

3. De que maneira somos vulneráveis à tentação sexual, e o que podemos fazer para minimizá-las?

4. Pensemos em como nosso pecado afeta a Deus. Sabe citar alguns exemplos de situações em que Deus tenha
expressado profundo desgosto pelo pecado do homem?

5. Leia novamente as palavras que Natã disse a Davi (2 Sm 12.7-15). Que lembranças essas palavras trouxeram à
mente de Davi? Qual é a reação de Deus para com o pecado escondido?

Por que Não Posso?

As barreiras que havia contra o sexo pré-conjugal praticamente ruíram todas. O adultério em certos círculos já
é até chique.
As estatísticas informam que há cerca de 300.000 mil casos de aborto praticado por adolescentes, por ano;
250.000 filhos ilegítimos nascem anualmente, e há cálculos de que 12 milhões de jovens sofrem de doenças venéreas,
nos Estados Unidos. Além disso, há um grande número de pessoas que, de comum acordo, mantêm “romances”
extraconjugais, e que crêem que não mais é possível manter a pureza sexual em nossa avançada sociedade.
É claro que nem todas as pessoas pensam desse modo. Aqueles que não agem assim são ridicularizados e
acusados de “puritanos”. Nessas duas últimas décadas, tem sido apregoado que um individuo pode gozar dos prazeres
do sexo com diversos parceiros, sem sofrer as conseqüências, devido ao grande número de contraceptivos existentes.
A filosofia do playboy ensina que se pode passar de uma cama para outra, sem temer nenhum efeito negativo.
Ninguém fica magoado; não há problemas de rejeição, nem senso de culpa, nem doenças venéreas, nem gravidez.
Quanto maior o número de ligações amorosas, melhores as chances de uma satisfação plena e realização pessoal. E
milhões de pessoas estão acreditando nesta mentira.
Os jovens, principalmente, gostam de perguntar: “Por que é errado o sexo extraconjugal? É errado mesmo, ou é
errado porque Deus assim o determinou?” São perguntas justas. Muitas pessoas pensam que o ensino bíblico com
relação à moralidade não é racional; que temos que obedecer aos preceitos dela cegamente, sem poder perguntar
por quê? Creio que devemos obedecer aos ensinamentos da Bíblia, mesmo quando não entendemos a razão de
determinados mandamentos. Deus sabe mais do que nós e, portanto, devemos submeter-nos à sua autoridade mesmo
que de nosso ponto-de-vista as coisas pareçam diferentes. O fato é que ele tem uma visão do quadro todo; nós só
enxergamos uma parte. Se com o tempo não ficar comprovado que ele está com a razão, a eternidade o comprovará.
Existem razões fortíssimas para se preferir a castidade.

O Sexo é um Ato Espiritual

Paulo exortou a igreja de Corinto a viver em pureza sexual. “Ou não sabeis que o homem que se une à
prostituta, forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne.” (1 Co 6.16.) O apóstolo
está se referindo aqui à união que transcende o material - um tipo de união espiritual que só é corretamente
praticada no casamento.
Para quem acredita em amor livre, o sexo é basicamente uma união física. Quando se está com fome, come-se;
quando se está com sono, dorme-se; e quando se tem um desejo, pratica-se o sexo. Parece acertadíssimo; mas, na
verdade, isso está longe de ser verdade.
Precisamos de algumas explicações para entender isso. Os pensamentos não são meras reações químicas do
cérebro. Nossa mente é uma entidade espiritual. Da mesma forma que um pianista toca um piano para produzir
música, assim a mente se utiliza do cérebro, que por sua vez comanda os outros órgãos do corpo, através do sistema
nervoso. O cérebro é o órgão do corpo onde o físico e o espiritual interagem. Mas o espírito pode existir
independentemente do cérebro - ele é eterno.
E a conclusão? Pela maneira como fomos criados por Deus, só podemos ser plenamente realizados sexualmente
se nos unirmos ao nosso cônjuge num plano espiritual, além do plano físico. Muitas pessoas ficam emocionalmente
enfermas em conseqüência da prática do sexo extraconjugal. O que acontece é que o ato sexual pode proporcionar-
lhes satisfação física, mas sem a realização espiritual as pessoas ficam magoadas. É preciso que haja uma dedicação
total a uma só pessoa. Devido à profunda intimidade do ato sexual, ele só pode ser satisfatório se houver a certeza de
que será repetido com a mesma pessoa.
Tenho sabido de muitos casamentos que fracassam por causa da prática do sexo pré-conjugal. As mulheres
argumentam assim:
- Se ele conseguir me convencer a dormir com ele antes de casar, o que o impede de fazer o mesmo com a
secretária?
Não se pode ter satisfação plena sem confiança, e a melhor maneira de se conquistar essa confiança é só
praticar o sexo após o casamento. O que o torna significativo é o compromisso com a totalidade do ser.
O segundo ingrediente necessário a um relacionamento sexual completo é a ausência de sentimento de culpa.
Sem essa leveza de consciência, não pode haver uma entrega sem inibições, uma união psicológica das
personalidades. Sempre haverá alguma coisa lá dentro que não está satisfeita, não está certa. Li recentemente que
85% das energias psíquicas das pessoas são empregadas em suportar o peso dos complexos de culpa. Deus nos criou de
tal maneira, que quando violamos suas leis, passamos a carregar um incômodo senso de culpa.
Logicamente muitas pessoas dizem que não sofrem sentimentos de culpa. O fato é que muitas vezes eles se
manifestam sob a forma de depressão ou raiva. Geram insensibilidade e frustração. Uma pessoa explicou isso da
seguinte maneira:
- Embora eu sempre racionalizasse meus atos, por dentro estava morrendo aos poucos.
Joyce Landorf, cm seu livro Tough and Tender (Forte e terno), conta de um homem que foi procurar o marido
dela, e lhe perguntou por que a vida parecia tão inútil. O que ele disse, em parte, foi o seguinte:

"Sabe, Dick, estou do jeito que quero. Sou livre de compromissos matrimoniais. Tenho um belo
apartamento na praia, e durmo com as mulheres mais maravilhosas, uma após outra. Tenho toda
liberdade e faço o que acho certo. Contudo, alguma coisa está me incomodando muito, e não consigo
descobrir o que é. Todos os dias, quando me apronto para ir trabalhar, olho-me no espelho e penso
comigo mesmo: Como foi minha diversão sexual de ontem à noite? A garota era muito bonita. Estava tudo
ótimo na cama, com ela, e hoje de manhã, saiu sem me amolar. Mas será que a vida é só isso? E pergunto
a mim mesmo: se é esse o tipo de vida que todo homem deseja, por que estou tão deprimido? Por que
estou sentindo um frio interior, um vazio dentro de mim o tempo todo?... Sei que os outros caras acham
que seria maravilhoso ter esse tipo de liberdade, mas, sinceramente, Dick, odeio esta vida.”

O senso de culpa gera no individuo uma espécie de hesitação psicológica que o impede de entregar-se sem
reservas ao parceiro. A desconfiança e o sentimento de erro sufocam a satisfação que se possa ter num ato sexual.
Lemos em Gênesis o seguinte: “Conheceu Adão a Eva sua mulher.” (Gn 4.1 - IBB.) O verbo conhecer não é
empregado aqui com o objetivo de abrandar a linguagem, em vez da expressão “ato sexual”, camuflando um pouco o
sentido; não. Na verdade, a união sexual é a mais elevada forma de conhecimento; é a mais clara forma de se
expressar uma união psicológica e emocional.
Já os animais não possuem essa dimensão espiritual. Em conseqüência disso, o sexo, para eles, é um ato
puramente biológico. O relacionamento deles só ocorre no plano físico. Fazem algo que lhes é natural, sem se
preocuparem com questões como confiança mútua e moralidade.

A Confiança é a Base

O amor livre coloca os homens ao nível dos animais. Praticá-lo é obedecer aos desejos carnais, em tudo que
eles ordenam, sem responsabilidades pelos atos. Assim, o sexo fica reduzido a um mero prazer biológico. Judas faz
referência àqueles que são imorais, comportando-se “como brutos sem razão” (v. 10). Paulo afirma que Deus
entregou alguns a “paixões infames”. A prática errada do sexo nos torna subumanos. Ele passa a ser uma relação
puramente animalesca.
Foi por isso que certo homem casado, que se deitou com várias mulheres, chegou à seguinte conclusão: “Mulher
só presta para o sexo. Fora disso, eu não daria dois centavos por elas.” Observemos que, ao separar o biológico do
espiritual (que é o que se faz realmente quando se leva uma vida promíscua), esse homem via as mulheres apenas
como objetos para satisfazerem as suas paixões. O valor delas como pessoas era irrelevante para ele. Degradava as
mulheres, e também se degradava a si mesmo.
Um certo rapaz conversava com seu pastor, sentado ao lado da namorada, Jan, com o braço em torno do ombro
dela.
- Mas eu e San somos um, dizia. Temos união e confiança em nosso relacionamento. Por que temos de esperar a
obtenção da certidão de casamento primeiro? De qualquer modo, de que vale um pedaço de papel? O fato é que
planejamos nos casar.
A verdade é que o sexo pré-conjugal vem sempre acompanhado de sentimentos de culpa e desconfiança. Ali são
plantadas sementes que mais tarde irão dar frutos amargos. O ciúme e a depressão muitas vezes ficam enraizados no
solo da permissividade. E, além disso, as melhores racionalizações soltam o tiro pela culatra.
Susan e Mike viveram juntos vários anos, e então resolveram legalizar sua situação. Enquanto ela estava
tomando as providências para o casamento, Mike encontrou uma ex-namorada em uma festa. As chamas que estavam
abafadas voltaram a arder, e ele e Dons se apaixonaram novamente um pelo outro. Antes de se passar uma semana,
já estavam juntos na cama. Então Mike telefonou para Susan para cancelar o casamento, ou pelo menos adiá-lo, até
que ele tivesse tempo para “colocar a cabeça em ordem”.
A moça argumentou que ele lhe devia a reparação do casamento. Afinal, ela se entregara a ele durante três
anos - e isso devia valer alguma coisa. Mike não concordou. Reconhecia que prometera casar-se com ela, mas achava
que tais promessas não equivaliam a um compromisso matrimonial. Ademais, o fato de ter tido relações sexuais com
ela não o obrigava a casar-se. Pois era óbvio que, se o sexo fosse equivalente a casamento, muitos homens tinham
que ser polígamos. Não sentia nenhuma obrigação para com Susan e poderia perfeitamente casar-se com Dons.
De qualquer jeito, eles estavam num beco sem saída: se cancelassem o casamento, Susan sentiria que estava
sendo traída; se casassem, isso queria dizer que Mike estava sendo forçado a uma situação que não desejava.
Imagine-se só a frustração de um casal assim, às vésperas de seu casamento. Ao invés de estarem aguardando
ansiosamente o momento de se unirem sexualmente, apenas realizavam uma cerimônia sem significado. É como abrir
um presente cuja compra presenciamos.
Estou cansado de ouvir falar da liberdade sexual. É um tipo de vida caracterizado por promessas não cumpridas,
conversas vazias sobre o amor, carregado de sentimentos de culpa, egoísmo e amarga frustração. Por mais que
ofereça prazer físico, este não compensa os prejuízos espirituais e emocionais que acompanham tal conduta.
Warren Wiersbe diz o seguinte: “Os jovens estão ligando seus brinquedinhos de seis volts em um gerador de 220
volts, e assim queimam todos os seus fusíveis antes de terem tido oportunidade de viver.” (Be Challenged - Aceite o
Desafio - Moody Press.)

O Verdadeiro Amor Faz Sacrifícios

Em 1 Coríntios 7, Paulo aborda a questão do relacionamento sexual no casamento. Diz ele: “O marido conceda
à esposa o que lhe é devido, e também semelhantemente a esposa ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o
seu próprio corpo, e, sim, o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio
corpo, e, sim, a mulher” (vs. 3 e 4). Notemos que o que deve vir em primeiro lugar na mente do cônjuge é o bem do
outro. O verdadeiro amor é basicamente altruísta.
Então um amor inconseqüente acha-se na posição oposta à do verdadeiro amor. Uma atração natural, em si
mesma, não é errada. Se conhecermos alguém cuja aparência e personalidade nos atraem, e cuja companhia
apreciamos, tudo bem. Mas se casarmos com esta pessoa com base apenas nesse tipo de atração, pode ser que mais
tarde encontremos outra mais atraente, mais simpática e com maior atração sexual. Um amor assim está sujeito a
variações, pois o objeto dele pode perder seu elemento atrativo. Existem alguns casamentos que se firmam baseados
na força desse amor superficial, mas são muito poucos.

O Amor é um Compromisso
O conceito de amor expresso pelo Novo Testamento é um compromisso para se buscar o que é melhor para a
outra pessoa. O entusiasmo diz: “Não agüento esperar.” Mas o amor afirma: “Pagarei o preço que for necessário para
respeitar você. Estou disposto a esperar;"
A expressão amor livre é uma contradição. Se é amor, nunca é livre. Envolve sacrifícios por parte de quem
ama. E se é livre, não é amor.
É claro que o sexo faz parte do amor conjugal, mas não é sinônimo de amor. É possível haver uma coisa sem a
outra. Muitos casais têm relações sexuais sem a menor compreensão do que seja um compromisso de amor. Por outro
lado, também é possível haver amor sem sexo. Em caso de enfermidade ou de alguma deformidade física, por
exemplo, quando o sexo se torna impossível, o amor pode suportar esse tipo de pressão.
Pelo fato de o egoísmo ser nato em nós, nossa tendência natural é querer que nossas paixões sejam satisfeitas
sem considerarmos se isso é bom ou não para nosso cônjuge. Muitas vezes um rapaz diz para a namorada: “Eu a amo";
mas talvez a sentença mais certa seria: “Amo a mim mesmo; quero você.”
Que melhor maneira poderia haver de se demonstrar amor por outrem do que renunciar ao prazer sexual, pelo
bem do outro. Afinal, a honra e a boa consciência de um homem ou de uma mulher são bens preciosos. Por que não
combinarem acerca de um tipo de conduta e se manterem fiéis ao combinado, custe o que custar?

A Culpa Tem Conseqüências Amargas

O sentimento de culpa gerado pelo pecado sexual pode levar um individuo à raiva e à violência. Recentemente,
um homem me ligou da Flórida. Lera meu livro How Te Say No to a Stubborn Habit (Como resistir a um hábito
renitente). Fizera exames que haviam revelado que era intensamente raivoso. Numa escala de um a cem, ele teria o
nível 96. Um psiquiatra lhe havia dito que era a pessoa mais irritadiça que ele já vira. O que faria com que um homem
se tornasse tão frustrado e nervoso? Tivera um lar feliz na infância; tinha sucesso no oficio de mecânico; e gozava de
um relacionamento conjugal relativamente bom.
Mas pouco depois a verdade aflorou: havia pouco tempo ele tivera experiências de homossexualismo. O senso
de culpa lhe trouxe tal sentimento de frustração, que sua vontade era agredir todo mundo e cometer suicídio. Por
quê? Porque o senso de culpa não resolvido gera autodesprezo, e o autodesprezo leva à hostilidade. É por isso que a
pornografia e a imoralidade, qualquer que seja o tipo, gera violência. Quando se dá busca num apartamento de um
criminoso, quase sempre se encontram ali objetos da mais baixa pornografia e outros artigos de perversão. Fui
informado de que muitos filmes pornográficos exibem cenas de violência bem como de sexo explícito. E o sexo visto
na tela não é um relacionamento de amor terno.
Geralmente, ao analisar um assassinato, a policia sabe dizer se ele foi cometido por maníaco sexual, devido à
fúria com que é realizado. Se a vitima apresenta muitos ferimentos de facada, em vez de uma meia dúzia deles, isso
revela que o assassino estava dominado por hostilidade e raiva.
Isso explica por que um crime de estupro não é tanto um delito sexual, mas um crime de violência. Uma pessoa
que não tem nenhuma restrição sexual sente tal ódio por si mesma, que não pensa mais em decência e auto-respeito.
Já que coloca em prática suas fantasias sexuais, por que não pode exercitar seu desejo de humilhar uma mulher? Em
uma sociedade onde a moralidade não passa de uma questão de preferência pessoal, que diferença faz um detalhe ou
outro? Numa mente e consciência poluídas, tudo é permitido (ver Tito 1.15,16).
Nos Estados Unidos, o número de maridos que espancam as mulheres está alcançando proporções epidêmicas.
Muitas delas abandonam o lar apavoradas com os imprevisíveis acessos de raiva de um marido agressivo. Os maus
tratos a crianças também estão generalizados, havendo cerca de dois milhões de menores por ano que são
espancados, torturados e que passam fome. Um relatório recente afirma que nos últimos anos os números dobraram.
Ocasionalmente, temos visto até casos de crianças que morrem, espancadas por pais impelidos pela frustração e
agressividade.
E depois há também o sadomasoquismo e incesto. Em cada dez crianças, uma talvez carregue um terrível
segredo de relações sexuais entre membros de uma família. Quase sempre elas são fruto de uma relação entre pai e
filha. Antigamente, acreditava-se que a idade média de uma filha que era molestada pelo pai era de 12 a 15 anos,
mas hoje sabe-se que crianças de até 5 a 10 anos estão sofrendo abusos sexuais. É impossível calcular os inevitáveis
temores, autodesprezo, depressão e tendências suicidas que surgirão na vida de uma criança dessas. Na cidade de San
José, Califórnia, cinco por cento das crianças das escolas primárias estão fazendo tratamento devido a abusos sexuais.
Ninguém sabe estimar o número de casos que não chegam a ser conhecidos.
A Bíblia fala claramente dessa relação que existe entre a imoralidade sexual e a consciência morta, que é capaz
de qualquer ato de crueldade. Pedro escreveu o seguinte: “Especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em
imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades
superiores, ao passo que anjos, embora maiores em força e poder, não proferem contra elas juízo infamante na
presença do Senhor. Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal
daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de ser destruídos.” (2 Pe 2.10-12.)
Um pecado nunca fica isolado. Se tolerarmos um erro em um aspecto de nossa vida, ele invadirá outra. Se nos
rebelarmos contra um dos mandamentos de Deus será mais fácil desobedecer também a outros. Ainda não se
descobriu um modo de controlar as conseqüências do pecado.

A Salvaguarda de Deus
As doenças sexualmente transmissíveis são a salvaguarda de Deus para conter a promiscuidade. O número de 18
de setembro de 1.981 do Chicago Tribune traz um longo artigo sobre as doenças venéreas - hoje denominadas
doenças sexualmente transmissíveis. Segundo o relatório ali apresentado, de cada dez mulheres nas idades de 15 a 35
anos, uma pode tornar-se estéril sem o desejar, até 1990, em conseqüência da epidemia de doenças venéreas que
hoje grassa no país. Estão ocorrendo anualmente pelo menos um milhão de casos de infecção, provocando
esterilidade feminina com cerca de 150.000 a 200.000 vítimas por ano. “Ninguém gosta de falar sobre as moléstias
sexualmente transmissíveis”, afirma o Dr. James W. Curan, chefe do departamento de pesquisa operacional da divisão
de controle de doenças venéreas da cidade de Atlanta. “As pessoas - inclusive muitos médicos - não estão percebendo
como este problema é sério. Se fosse outro tipo de doença, todos estariam alarmados, e tomariam providencias
contra ela.”
“Essas moléstias trazem consigo sérios problemas sociais e de saúde. Todos deveriam saber que elas podem
levar a graves complicações clínicas, entre as quais esterilidade e outros prejuízos para a saúde das mães e dos
filhos”, diz ele.
Anteriormente, os perigos trazidos por essas doenças eram subestimados. Mas hoje se sabe que são causadoras
de males tais como esterilidade do homem e da mulher, gravidez problemática, que pode até ameaçar a vida da
pessoa, morte de fetos e de recém-nascidos, surdez, retardamento mental, e outras perturbações crônicas
prejudiciais. Para resumir, o artigo afirma que algumas das conseqüências das mais de vinte moléstias sexualmente
transmissíveis são:
. Mais de 9.000 mulheres morrem anualmente de complicações de inflamações pélvicas;
. Os custos diretos e indiretos dessa doença sobem a $2,7 bilhões de dólares por ano. Mais de 112.000 mulheres
são hospitalizadas anualmente, para tratamento dessas moléstias;
. Em 1980, houve 858.000 casos de doença inflamatória pélvica; e 20% dessas mulheres tornaram-se estéreis;
. O número de casos de gravidez extra-uterina subiu de 19.300, em 1971, para 41.000, em 1976. A maioria
deles foi provocada por uma doença que obstrui as trompas, de modo que o ovo fertilizado não pode chegar ao útero;
. Mulheres contaminadas com clamídia podem passar os micróbios da doença para o filho, durante o parto. Isso
causa cerca de 75.000 mil casos de conjuntivite e infecção ocular, e 30.000 casos de pneumonia por ano;
. A clamídia, que é uma das principais causas de morte em países do terceiro mundo, aumenta também os
riscos de abortos e do nascimento de crianças mortas;
. Entre 300.000 e 400.000 moças adolescentes contrairão infecções pélvicas neste ano, que provocarão a
esterilidade de vinte por cento delas;
. De 10 a 15 milhões de pessoas contaminaram-se com herpes genital, uma doença que dura o resto da vida, e
que tem agravamentos periódicos, intercalados por períodos de abrandamento. As verrugas genitais afligem cerca de
500.000 pessoas a cada ano, e os parasitas genitais têm proporções epidêmicas.
Os pesquisadores, de um modo geral, encaram essas doenças como problemas de saúde, mas trata-se também
de uma questão moral. É mais um preço que a sociedade paga pela sua rebelião contra as leis estabelecidas por Deus.

O Principio da Redução de Retomo

O poeta Robert Burns escreveu o seguinte:

Mas os prazeres são como papoulas na campinas:


Arranca-se a flor, suas pétalas esfacelam-se;
Ou como flocos de neve sobre um rio:
Num momento branquejam - em seguida derretem-se para sempre.

A amarga ironia do pecado sexual é que não existe liberdade para se desfrutar dos prazeres que ele promete. A
satisfação diminui, ao mesmo tempo em que os desejos aumentam. Quando se chega a um ponto, descobre-se que
tem que ir mais adiante. Para se manter a mesma satisfação erótica será necessário buscar novos estímulos. É por isso
que, muitas vezes, uma prática sexual desregrada leva ao alcoolismo e às drogas.
A imagem do fogo é empregada para descrever o desejo frustrado. Paulo faz uma referência a homens que “se
inflamaram mutuamente em sua sensualidade” (Rm 1.27). E, literalmente, um ardente desejo que se frustra é um
pedaço do inferno. E assim como as chamas do inferno nunca se extinguem, também é a pessoa consumida pela
lascívia: “o inferno e o abismo nunca se fartam, e os olhos do homem nunca se satisfazem.” (Pv 27.20.)
George Gilder, em seu livro Sexual Suicide (Suicídio sexual - The New York Times Book Co.), faz a seguinte
referência à revolução sexual:

“A atividade erótica tornou-se uma busca dissoluta, disforme e destrutiva de prazeres que se
tornam cada vez mais fugidios, por meio de técnicas cada vez mais drásticas. No afã de querer sempre
orgasmos melhores e sensações mais intensas, uma sociedade frustrada se entrega a uma corrida cada
vez mais desenfreada... mas acaba sempre voltando à crescente aridez e às formas indistintas de sua
própria sexualidade.”

O inferno mesmo é constituído de desejos que nunca são satisfeitos. As chamas ardem no interior da alma, mas
nunca se extinguem. O rico da parábola não contava com nem uma gota de água para refrescar-lhe a língua (Lc
16.24). Mas sejam quais forem os tormentos externos do inferno, o fato é que os interiores serão bem piores. Aqueles
que se entregam a uma sensualidade desgovernada já conhecem essa tortura que é estar amarrado a paixões que eles
amam e detestam ao mesmo tempo.

Quem é o Dono de Seu Corpo?

Uma tentação sexual é a melhor oportunidade que temos de reafirmar nossa fidelidade a Cristo. Paulo disse:
“Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e
que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.” (1 Co
6.19,20.) Ele defende a idéia da pureza sexual com base na questão da propriedade. No Velho Testamento, a glória
de Deus permanecia no Santo dos Santos. Hoje o lugar da habitação de Deus é o coração daquele que nasceu de novo.
É inaceitável que um filho de Deus se una a outra pessoa, que não o seu cônjuge, num ato sexual. Seria o mesmo que
introduzir um animal no Santo dos Santos. Paulo diz que isso equivaleria a unir os membros do corpo de Cristo a uma
prostituta.
Não existe uma solução fácil para o problema da tentação sexual. Às vezes nossos desejos exigem que
sacrifiquemos valores permanentes no altar dos imediatos. É por isso que temos de render nossos direitos de posse
sobre nosso corpo. Temos que reconhecer a posse total de Cristo sobre nossa pessoa. Os prazeres pecaminosos terão
que ser substituídos por outro tipo de prazer. “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de
alegria, na tua destra delícias perpetuamente.” (SI 16.11.) Deus não nos faz essas restrições com o objetivo de privar-
nos de bens, mas para dar-nos uma satisfação maior.

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. Vamos fazer um estudo do texto de 1 Coríntios 6.12-20, respondendo às perguntas abaixo. Talvez seja bom
utilizar um comentário bíblico.
a. Paulo apresenta três razões para pureza sexual. Cada uma delas pergunta: Não sabeis... Diga quais próprias
palavras.
b. Em sua opinião, por que a imoralidade é diferente dos outros pecados?
c. Que indicações encontramos neste texto que sugerem que Paulo considerava o ato sexual como sendo espiri-
tual, além de físico?
d. Quais as implicações dos versos 19 e 20 com relação à pureza sexual?

2. Leia Provérbios 7, e descreva em que resulta a imoralidade.

3. Decore 1 João 2.15-17. Relacione os contrastes entre os valores do mundo e o valor da vontade de Deus.

4. Analise o primeiro pecado (Gn 3). Qual foi a natureza da mentira nele empregada? Quais as analogias entre
essa tentação e a tentação sexual?

Está Bem, Mas...

“Não tenho nenhuma sensação de que estou errado, quando estamos juntos... Havia pensado que iria me sentir
muito culpado, mas não me sinto. Nosso relacionamento é muito satisfatório para os dois.”
Ele me olhava diretamente nos olhos. Seus dez anos de casamento tinham sido totalmente vazios. Agora, ele
encontrou uma pessoa que realmente o compreende. Ela o faz sentir-se muito homem. O marido dela era alcoólatra,
e negligenciara a família havia anos. Era um homem de cara dura, que não sabia comunicar-se. No relacionamento
deles não havia aconchego, ternura. Agora, essa mulher conheceu um homem que sabia partilhar a vida dele com ela.
Será que eles não tinham quase o direito de terem um caso? Por que um relacionamento desses seria errado?
Devido ao grande número de casamentos infelizes, não é de surpreender que tantos cônjuges conheçam outras
pessoas com quem se relacionam melhor. O entusiasmo de uma nova ligação, a sensação de valor próprio que advém
do fato de ser respeitado, e a vibração de uma relação sexual amorosa - tudo isso contribui para se ter a sensação de
que talvez não estejamos totalmente errados.
É lógico que pode ser uma relação maravilhosa. De que outra forma se poderia descrever uma ligação entre um
homem e uma mulher que se complementam perfeitamente? A esse tipo de relacionamento tem-se inclusive
creditado a preservação da sanidade emocional. Uma senhora contou-me que, se não fosse por causa de um caso que
mantinha com outro homem, ela “teria ficado louca há muito tempo”, pelo fato de seu marido ser um homem de
convivência impossível. A alegria que encontrara neste novo relacionamento era para ela como um oásis no deserto.
Supondo que esse relacionamento seja mesmo muito bom e até afetuoso, ainda assim temos que perguntar:
mas a que preço?
Uma pessoa que comete adultério está violando pelo menos cinco, ou talvez seis, dos Dez Mandamentos. O
mandamento: “Não adulterarás” (Ex 20.14) enfeixa a questão; mas ainda persiste a pergunta: “Será ele errado só
porque Deus o proibiu?” E a resposta é: sim, Se Deus é Deus, então ele tem o direito de determinar que seja errado.
Além disso, o adultério é intrinsecamente errado devido à natureza do homem e da mulher. Deus é o Criador, e foi
ele quem estabeleceu os princípios que temos de observar para podermos atingir o máximo de nosso potencial.
Quando transgredimos esses princípios, estamos pecando.

A Perspectiva Divina

A palavra adultério não designa apenas relacionamento sexual extraconjugal, mas qualquer outro tipo de
devassidão sexual. Neste único mandamento temos o ponto-de-vista divino em relação aos pecados sexuais.
Outro mandamento: “Não dirás falso testemunho” (20.16) nos traz à mente outra responsabilidade. A cerimônia
de casamento é um juramento que se faz perante Deus e outras pessoas. No adultério essa promessa é quebrada; o
adúltero está voltando atrás num compromisso que assumiu.
Vez por outra ouvimos os jovens dizerem:
- Não vamos realizar uma cerimônia de casamento, porque isso não tem sentido. Certidão de casamento é
apenas um pedaço de papel.
Concordo que a folha de papel em si mesmo não é relevante. Para falar a verdade, não sei onde está a minha
certidão de casamento, e se ela fosse necessária para salvar minha vida, acho que morreria. Mas sei que tenho uma,
e que está em algum lugar. Em si mesma, ela nada mais é que uma folha de papel, arquivada em algum lugar, mas o
importante não é o papel, e sim o que ele significa. Eu fiz um juramento que me coloca sob um compromisso para o
resto da vida. Tem a mesma função do contrato que assinei, quando comprei minha casa. Não existe nenhum outro
relacionamento onde se tem mais a ganhar e a perder do que o casamento. Nenhum outro contrato implica em riscos
mais elevados do que o casamento. Se um dos interessados desiste do acordo, os resultados são devastadores. Então
cada pessoa que entra nisso precisa ter a certeza de que o outro participante não irá dar para trás, quando a situação
começar a ficar difícil. Esta é a finalidade da cerimônia de casamento: os noivos irão fazer seu juramento na presença
de testemunhas, para que ambos possam se responsabilizar pelo compromisso que estão assumindo. O adultério
quebra esse juramento.
E um adúltero diz falso testemunho de outras formas também. Ele mente à esposa, dando explicações
enganosas para o fato de chegar tarde à casa. O profeta Isaías condena os filhos rebeldes que acrescentam “pecado
sobre pecado” (Is 30.1). Quando pecamos e depois tentamos encobrir nosso erro, estamos multiplicando a ofensa.
Deus diz: “Não dirás falso testemunho” (Ex 20.16).
Um outro mandamento diz: “Não furtarás” (v. 15). Como vimos no caso de Davi, o adultério é roubo. Tirar a
esposa de outro homem é roubar o seu bem mais valioso.
Talvez agora possamos compreender por que uma relação sexual, apesar de bela e terna, pode ser também
pecaminosa e corrupta. O relacionamento pode ser gratificante, mas o método como essa satisfação é obtida
constitui transgressão da lei de Deus. Suponhamos, por exemplo, que uma pessoa esteja com muita fome, e assalte
uma loja para furtar alimentos. Talvez ela diga: “Essa é a melhor coisa que já comi. Como pode ser errado eu comer
uma carne tão boa?” A resposta é que o alimento pode ter um bom sabor, mas esse individuo teve que violar um
mandamento para obtê-lo. O padrão que Deus coloca para nós é “Não furtarás”.

À Cobiça é Rebelião

Uma relação adulterina implica em transgressão de mais um mandamento: “Não cobiçarás”. Deus diz
especificamente: “Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo,
nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem cousa alguma que pertença ao teu próximo.” (Ex 20.17.)
Cobiçar significa desejar algo que não nos pertence, e dessa forma estamos acusando a Deus de nos haver sonegado
alguma coisa. A cobiça constitui rebelião contra Deus.
E Deus nos dá ainda outro mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe.” (Ex 20.12.) Na maioria dos casos de
relacionamento extraconjugais, as pessoas estão desonrando a herança recebida, já que trazem vergonha para sua
família.
Mas talvez o mais importante de todos os mandamentos seja o primeiro: “Não terás outros deuses diante de
mim.” (Ex 20.3.) Sempre que colocarmos nossas paixões acima da vontade de Deus, estaremos elevando este nosso
deus acima do Senhor Deus Jeová. Estaremos afirmando que encontramos uma satisfação pessoal que nos é mais
importante do que obedecer ao nosso Criador.
Por isso, aquele que não vê erro algum em seu caso extraconjugal está enganado. Ele acha que o fato de o re-
lacionamento ser afetuoso justifica sua conduta, mas o que não percebe é que, ao agir assim, está sacudindo o dedo
contra Deus. Ao que parece, Judas gostava muito de prata. Ele traiu a Cristo por 30 moedas que talvez ele pensasse
fossem satisfazer seu amor pelo dinheiro. Era errado ele possuir um pouco mais de prata? Claro que não! Eu próprio
gostaria de ter objetos de prata. O erro foi que ele teve de trair a Cristo para obter esse dinheiro. O adultério é
errado porque, para praticá-lo, temos que nos rebelar contra Deus.

A Racionalização

Consideremos mais algumas racionalizações que são apresentadas em defesa da prática sexual ilícita.
Todos nós cometemos adultério na mente, portanto o ato em si não torna o pecado mais grave. “Eu encaro
a coisa dessa maneira: todos nós pecamos no coração. E já que o desejo é o mesmo que adulterar, que diferença faz
se eu viver com essa mulher divorciada?” Essa foi a argumentação de um homem de 35 anos, quando soubemos que
estava tendo um caso com uma comissária de vôo. E como ela era divorciada, parecia que não havia muita razão para
se preocupar com o fato, pensava ele.
Legalmente, não existe diferença entre um ato de adultério e um coração adúltero, pois as duas coisas
constituem rebelião contra Deus (Mt 5.28). Mas existem outras diferenças. No primeiro, existe o envolvimento de uma
outra pessoa, que se torna cúmplice dessa rebelião. Embora todo pecado seja cometido basicamente contra Deus
(como Davi entendeu depois), no momento em que participamos do pecado de outrem, multiplicamos nossas
transgressões. E as conseqüências de alguns pecados são mais graves que as de outros. O pensamento lascivo às vezes
pode ser perdoado sem que nosso relacionamento com outras pessoas seja afetado. Mas um ato sexual não pode ser
esquecido facilmente por causa do compromisso envolvido nele. Como o sexo é um ato espiritual, além de biológico,
a sua prática errada macula profundamente a alma. Paulo escreveu o seguinte: “Fugi da impureza! Qualquer outro
pecado que uma pessoa cometer, é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio
corpo.” (1 Co 6.18.)
Portanto, o pecado sexual é diferente dos outros devido à intimidade do relacionamento com outro ser
humano. Aliás, Paulo disse também o seguinte: “Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta, forma um só
corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne.” (1 Co 6.16.) Além e acima da união de dois corpos
ocorre a união de dois espíritos e, perante Deus, é considerada uma união espiritual. Isto não quer dizer que o ato
sexual por si mesmo é o casamento. Um homem não se casa com uma prostituta ao se relacionar com ela. Mas ocorre
ali uma união espiritual, reconhecida por Deus, e que macula o corpo, a alma e a mente. Assim, aqueles que praticam
um ato sexual ilegítimo terão que sofrer sanções maiores do que os que pecam apenas na mente. Não podemos
simplesmente dizer que, se cometemos um, podemos cometer logo o outro, pois isso não é verdade.

Será que não mereço a felicidade? “Tenho direito de ser feliz... e talvez esta seja minha única oportunidade
de encontrar a felicidade. Ademais, para começar, eu não devia nunca ter-me casado com Marvin. Então, por que não
posso ter este relacionamento? Eu mereço essa felicidade.”
A Declaração de Independência dos Estados Unidos afirma que nós temos “direito à vida, à liberdade e à busca
da felicidade”, mas isso não significa que temos de buscar a felicidade a qualquer preço, e por qualquer meio, mesmo
que seja estupro e adultério. Temos o direito de buscar a felicidade apenas por meios legítimos. O direito à felicidade
por meio do adultério é puro egoísmo. Aparentemente, o cônjuge traído não tem direito à felicidade, e nem os filhos.
Não podemos buscar a felicidade por meios ilegítimos, sem que outra pessoa renuncie aos seus direitos à
felicidade. Roy Hession escreveu o seguinte acerca do adultério:

“Alguém teve de pagar o preço de perder o companheiro de sua vida; uma outra pessoa está
chorando pela noite adentro; uma outra pessoa foi furtada em sua felicidade; essa outra pessoa teve seu
lar desfeito; uma outra pessoa está solitária, lutando sozinha; algumas crianças ficaram sem o pai ou sem
a mãe. É muito fácil nos esquecermos dos terríveis males que alguém está sofrendo, enquanto nós
desfrutamos de um novo amor” (Forgotten Factors - Christian Literature Crusade).

C.S. Lewis observou que o principio da busca da felicidade pelo uso de meios imorais, “depois que entra nesse
departamento, mais cedo ou mais tarde, vaza para as outras partes de nossa vida, até ocupá-la toda. Desse modo,
estamos avançando para um estado na sociedade em que, não somente todos os homens mas, todos os seus impulsos
exigirão carta branca” (God in the Dock - Deus no banco dos réus - Eerdmans).
Será que alguém pode ser feliz sabendo que está entristecendo o Espírito Santo? E se Cristo tivesse preferido
não enfrentar a tortura da cruz na busca de sua própria felicidade? Pascal disse o seguinte, aliás, com muita
sabedoria: “A felicidade não está em nós nem fora de nós; está em Deus.”
Temos a obrigação de obedecer a Deus e de adorá-lo, mas não somos obrigados a ser felizes. “Para mim, o
direito de ser feliz não faz muito sentido, assim como não teria sentido o direito de ter um metro e oitenta de altura,
ou de ser filho de um milionário, ou de querer tempo bom, quando temos um piquenique programado” (Lewis, God in
the Dock).
Ninguém tem o direito de buscar a felicidade à custa da perda de caráter. E menos direito ainda de buscá-la de
uma forma que constitui desobediência a Deus.
E o que dizer da afirmação: “Para começar, eu nem deveria ter-me casado com Marvin?”
Será que nos esquecemos de que Deus é um especialista em cuidar de situações difíceis, apesar de nossos erros
e fracassos? Ninguém agiu pior do que Adão e Eva. Eles tinham uma ótima oportunidade de obedecer, mas a
incredulidade deles trouxe destruição a toda a raça humana. E Deus não deixou que fugissem à responsabilidade de
seu ato, mas prometeu resolver o problema deles, nas condições que se encontravam.
A solução de Deus para um pecado (um casamento errado) não é deixar-nos cometer outro pecado (arranjar
uma desculpa para rompermos os votos matrimoniais). Ele está mais preocupado em transformar-nos do que em
modificar nossas circunstâncias. Ter paciência em meio a um casamento problemático é mais honroso que procurar
sair dele. Depois que nos arrependemos do pecado, Deus usa essa experiência para desenvolver em nós a maturidade.
Alguns adotam a seguinte racionalização: pode-se pecar moderadamente, e ainda assim ficar satisfeito. “Leio
pornografia, mas nunca dormiria com outra mulher.” As pessoas pensam que são capazes de ir só até certo ponto, e
nunca ultrapassá-lo. Acreditam-se bem seguras em seu mundo particular. Aqui se enquadram também aqueles que
assistem filmes pornográficos vez por outra, ou que lêem romances sensuais. É um tipo de pessoa que peca
vicariamente. Não comete adultério, mas assiste novelas de televisão e se identifica com os personagens que o
fazem. Sente atração pelos caminhos do ímpio, mas por enquanto tem permanecido dentro dos apriscos da igreja - a
não ser em sua vida íntima particular e em sua mente.
Lembremos que, quanto mais alimentarmos nossa natureza animal, mais forte ela se tornará. Consideremos,
por exemplo, um alcoólatra que acha que pode parar de beber na hora que quiser - e muitas vezes pode mesmo. Mas
seu desejo pelo álcool está constantemente crescendo, e em pouco tempo ele não será mais capaz de negar-se uma
bebida, mesmo que o queira com todas as forças.
O mesmo acontece com a sensualidade. Pode começar com uma publicação pornográfica ou um filme
impróprio. Mas daí a pouco essas coisas já estarão levando o indivíduo à prática de atos sexuais. É como alimentarmos
um tigrezinho faminto. Agora ela ainda está sob nosso controle, mas acabará tornando-se um animal feroz.
Um jovem disse: “Achei que, se eu assistisse filmes impróprios, saciaria minha curiosidade e a esgotaria, mas
hoje estou amarrado nessas coisas.”
Cristo negou com firmeza que uma pessoa pudesse pecar e ainda ficar no controle da situação. Ele disse que
quem comete pecado é escravo dele. (Ver João 8.34.)
Já ouvi relatos sobre pessoas que se encontravam em barcos à deriva no mar e que, dominados pela sede,
insistiram em beber a água salgada, apesar de avisadas para não o fazerem. Mas ela parecia muito boa, e aqueles
náufragos achavam que lhes saciaria a sede. Não percebiam que bastaria meia xícara do líquido para aumentá-la
muito mais. Assim, eles iriam morrer antes dos outros que se controlaram, e esperaram pelo resgate. Ninguém se
satisfaz com um pouquinho de água salgada.
Quando Cromwell era primeiro ministro da Inglaterra, foi certa vez a um circo. Um domador de animais entrou
no picadeiro, estalou um chicote, e uma imensa cobra veio rastejando-se e se enroscou no corpo dele. Mas logo em
seguida, a multidão ali presente fez um silêncio profundo, pois começaram a ouvir o estalar de ossos esmagados. Daí
a pouco o domador estava morto. Ele havia treinado a serpente durante treze anos. Quando iniciara, ela tinha apenas
cerca de vinte centímetros de comprimento. Nessa ocasião, ele poderia tê-la esmagado entre o indicador e o polegar.
Mas acreditara que tinha o animal sob seu controle, e julgou-se seguro com ele. Estava totalmente enganado.
A Palavra de Deus afirma que não somos capazes de manter o pecado sob controle. Se voluntariamente lhe
cedermos espaço, ele exigirá sempre mais, até afinal nos dominar por inteiro.
Sempre que criarmos uma racionalização, devemos pedir a Deus que nos mostre o erro que há nela. Para a
carne e o diabo, o princípio básico é o engano. Na verdade, deveríamos ter medo do pecado, sabendo que, se
brincarmos com ele, poderemos ser apanhados em seus laços.
Temos ouvido o ensino de que o “temor do Senhor” significa que temos de honrar e respeitar a Deus, mas não
precisamos ter medo dele. Pois tive uma grande surpresa ao descobrir que essa tese não tem como ser provada
biblicamente. Se lermos passagens como Deuteronômio 5.13-15, veremos que ali o temor do Senhor está associado
diretamente à sua ira e ao seu castigo.
Como Deus nos disciplina? Permitindo que o pecado tenha mais e mais controle sobre nós. Ele nos dá aquilo que
desejamos, e muito mais. Quanto maior a rebeldia, maior a profundidade da escravização.
Podemos argumentar que ninguém compreende o que estamos passando. É possível que ninguém compreenda,
mas Deus entende. Embora ele nos ame muito, não muda sua atitude só porque estamos vivendo uma situação difícil.
Ele quer que abandonemos nossas racionalizações, seja qual for o preço que tenhamos de pagar.

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. O texto de Provérbios 6.26-35 descreve o pecado de adultério. Que outros pecados se acham lado a lado com
o adultério? Quais são as conseqüências relacionadas?

2. Leia Deuteronômio 6.4-9. Por que será que Satanás está tão interessado em destruir a família? E por que o
adultério é um meio tão atraente para se alcançar este fim?

3. Leia atentamente Hebreus 13.4. O que este versículo ensina a respeito do casamento?

4. Leia Apocalipse 18.2-8. Qual é o critério pelo qual Deus julgará a meretriz Babilônia? Isso nos ensina alguma
coisa sobre o castigo eterno?

Vou Arriscar

“Sei que é certo manter a pureza; mas vale a pena?” indagou um rapaz. “Deus diz que é errado cometer
imoralidade, mas mesmo assim, pode ser que a pessoa que se priva esteja se furtando prazeres excepcionais por
razões de pouca importância”, argumentou ele. “Diga-me qual é a pior coisa que pode me acontecer, se eu insistir
em praticá-la.”
Ele estava pesando os prós e os contras. Ele tinha um raciocínio direto: se o preço não fosse muito elevado, não
iria levar em consideração a opinião de Deus. É verdade que teria de pagar pelos seus pecados, mas, se conseguisse
manter o controle das conseqüências, poderia conseguir se safar, pagando um preço baixo. Em todas as situações
existem possibilidades de se negociar - talvez ele conseguisse fazer isso também com relação às suas práticas sexuais.
E resolveu que iria arriscar.
Será que a desobediência vale o preço que temos de pagar por ela? E teremos sempre que pagar pelo pecado,
ou podemos simplesmente ignorar as conseqüências dele, ao fazer o que quisermos? Se os prazeres do pecado
pudessem - pelo menos uma vez - compensar os efeitos dele, Deus estaria premiando o pecado.
Estamos ficando acostumados com os cartões de crédito, que nos possibilitam comprar qualquer coisa agora e
pagar depois. O problema é que sempre temos de pagar, e, às vezes, a juros elevadíssimos. Não podemos gozar dos
prazeres sem nos tornarmos escravos seus. Alguns pecados produzem conseqüências mais graves do que outros, e o
apóstolo Paulo destaca o pecado sexual (1 Co 6.18).
O pecado é enganoso por três razões. Primeiro, ele realmente paga alguns dividendos. Vamos ser sinceros e
reconhecer um fato: o pecado traz mesmo algum prazer. Se ele não fosse tão agradável, a estrada da sensualidade
não seria tão transitada. E isso conta muito para a geração imediatista, onde o que vale é o agora.
O pecado nos engana, também, porque a maioria de suas conseqüências acha-se camuflada. Tiago escreveu
o seguinte: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.” (Tg 1.14.) A palavra “atrai”
contém a idéia de colocar-se uma isca na armadilha. Os caçadores deixam uma posta de carne fresca presa à
armadilha, e esta fica escondida na neve. O urso que passa por ali vê logo a recompensa imediata, pois a carne é
saborosa, mas as conseqüências desagradáveis estão escondidas.
O termo “seduz” é usado também quando se fala sobre colocar isca num anzol. E nesse caso também existem
as duas idéias, a da gratificação imediata e a de ocultamento. O peixe vê a promessa de algo atraente, mas não as
conseqüências. E como os ursos e os peixes ignoram os princípios da armadilha e do anzol, são apanhados. Não têm a
menor idéia de que mais adiante os aguardam sofrimento e morte.
Da mesma forma, uma pessoa pode fantasiar em cima de uma experiência sexual exótica, e até mesmo
desfrutá-la por algum tempo, desde que esteja cega para o que na realidade está acontecendo a ela e a outros, e
principalmente a Deus, que se entristece com a nossa desobediência.
O pecado é enganoso porque parece controlável. Sempre que conseguimos pecar sem sermos apanhados,
criamos uma certa confiança de que podemos controlar nossas paixões. Duas pessoas não casadas podem achar que
são capazes de interromper suas relações sexuais quando quiserem - e talvez o possam mesmo. Mas a cada vez que
ultrapassam os limites demarcados por Deus, a consciência deles fica mais cauterizada, e suas defesas mais
enfraquecidas. E apesar de se orgulharem do fato de serem tecnicamente puros, irão descobrir que há outros pecados
em sua vida que não conseguem controlar mais. Um homem de ânimo dobre é inconstante em todos os seus caminhos
(Tg 1.8).
Certo homem, que estava decidido a desafiar os céus e o inferno para obter o que desejava, argumentou: “Mas
você tem de reconhecer que Davi ficou com Bate-Seba, apesar do pecado!”
É verdade. E Sansão ficou com Dalila, e Judas com sua prata. Mas pense só no preço que tiveram de pagar!
Em Gálatas 6.7, lemos o seguinte: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba: pois aquilo que o homem semear,
isso também ceifará.” Paulo está nos advertindo contra o engano, isto é, contra o fato de pensarmos que poderemos
encontrar uma escapatória qualquer na forma como Deus governa o mundo. É tolice pensar que podemos “passar a
perna” em Deus.

Colhemos o que Semeamos

Consideremos três leis de semeadura e colheita. O pecado sempre reproduz pecado. Algumas vezes reproduz
mais do mesmo tipo. Davi não consultou a Deus com relação ao casamento e acabou tendo sete esposas. Essa vida
imoral levou-o a cometer imoralidade ainda maior - roubou a mulher de outro homem e cometeu adultério. Em
questão de horas pôs a perder o que levara anos para obter.
Além disso, às vezes colhemos também outros pecados. As obras da carne vêm sempre acompanhadas. Elas
tendem a gerar outras formas de desobediência. Davi começou com adultério e terminou com morte.
Esse princípio se aplica a outras formas de pecado também. A desonestidade gera desonestidade. Quando uma
pessoa rouba e não é apanhada, tentará roubar outras vezes. E a cada vez que o pecado é cometido, suas garras se
apertam mais.
Como Deus castiga seus filhos quando pecam? Geralmente esperamos que ele mande um raio do céu. Ou talvez
pensamos que ele permitirá que soframos um acidente ou uma doença fatal. Acho que Deus muitas vezes nos dá mais
daquilo que queremos. Um ato de imoralidade conduz a outro, que por sua vez leva a outro, mas juntamente com o
prazer vem uma escravização maior.
Lembremos o que aconteceu quando os filhos de Israel clamaram a Deus no deserto pedindo carne. Estavam
insatisfeitos com o menu que tinham ali. Como os glutões hoje, estavam exigindo maior variedade de alimentos. Deus
ficou irritado com aquele desejo sensual, e disse: “Não comereis um dia, nem dois dias, nem cinco, nem dez, nem
ainda vinte; mas um mês inteiro, até vos sair pelos narizes, até que vos enfastieis dela, porquanto rejeitastes ao
Senhor que está no meio de vós, e chorastes diante dele, dizendo: Por que saímos do Egito?” (Nm 11.19,20.)
O castigo para o seu pedido de carne foi muita carne. Não há dúvida de que durante algum tempo eles
gostaram daquela carne, mas pouco depois ela se tornou detestável. Aquele que cai na armadilha dos prazeres
sensuais depois descobre que está amarrado a uma coisa que agora detesta.
Uma evidencia segura de que nos arrependemos profundamente de nossos velhos pecados é o temor de cair
neles outra vez, para que Deus não nos castigue com uma escravidão ainda mais profunda. Uma pessoa que obteve
vitória sobre o alcoolismo disse-me que nunca tomaria nem mais uma dose em sua vida. Tem medo de que o circulo
vicioso da dependência do álcool comece de novo. Ela finalmente aprendeu um principio básico. Aquilo que
semeamos, isso colhemos.

Colhemos em Outra Estação

Já notou como as pessoas encaram o pecado sem seriedade? Uma das razões de haver tantos divórcios entre
aqueles que se dizem convertidos é que todos nós conhecemos pessoas que abandonaram seus cônjuges por outros, e
hoje se acham felizes e bem ajustadas. Parece que Deus já não é mais tão rigoroso como costumava ser. Talvez
algumas das conseqüências não estejam mais sobrevindo aos que pecam.
“Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está
inteiramente disposto a praticar o mal.” (Ec 8.11.) Não sei por que Deus é tão paciente com a desobediência. Ele não
acerta as contas no fim de cada mês. Ele está esperando que a semente plantada brote e amadureça. Se alguém tem
alguma dúvida em relação a Deus, é melhor lembrar que ele nunca muda. Ele odeia o pecado hoje, como sempre o
odiou.
Podemos comparar uma vida pecaminosa a um almoço tipo rodízio - pegue tudo o que quiser e pague depois.
Naturalmente as contas virão no devido tempo: o caráter do individuo fica corroído; o coração condena (1 Jo 3.21), a
alegria e a certeza da orientação divina se dissipam; relacionamentos se rompem. E tudo isso pelo prazer do pecado.
E ainda não é tudo. As conseqüências a longo prazo são uma vida destruída, sem obras que resistam ao fogo do juízo
divino. Mesmo para os nascidos de novo, os efeitos da desobediência têm preços exorbitantes, a “perder de vista”.
Quantas crianças não estão por aí confusas, magoadas, sentindo-se rejeitadas, porque a mãe foi infiel ao
marido, ou o pai é alcoólatra. Pensemos nas vidas destroçadas, nos valores errôneos, nas suspeitas e ódio que o
pecado traz em sua esteira. O tempo que temos na terra não passa de uma migalha, em comparação com a
interminável vida por vir, e, no entanto, Deus nos julgará de acordo com a maneira como vivemos esses breves anos,
e o efeito deles, para o bem ou para o mal, durará pela eternidade.
Estou convencido de que muitas pessoas terão que chegar à eternidade para afinal crerem que Deus estava
certo, e que o pecado é tão maligno quanto ele afirma. As conseqüências dele acham-se contidas na própria natureza
do pecado, e ninguém poderá livrar-se delas. Um casal não casado pode querer minimizar algumas das conseqüências
do seu erro. O controle de natalidade pode ocultar seu pecado dos olhos do mundo, mas Deus sabe dele. O Senhor nos
adverte do seguinte: “O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa,
alcançará misericórdia.” (Pv 28.13.)
A paciência de Deus não é absolutamente uma indicação de que o pecador não está recebendo castigo pelo
erro.

A Colheita é em Maior Quantidade do que a Semeadura

Vemos isso na história de Davi. Ele pensara que poderia manter em segredo o seu erro, mas Deus via de outra
forma os seus atos imorais. Deus disse a Davi: “tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto perante todo o Israel e
perante o sol.” (2 Sm 12.12.) E mais tarde, Absalão, filho de Davi, cometeu imoralidade publicamente. Davi tinha
pensado que poderia manter o segredo, mas Deus disse que ele próprio se encarregaria de tornar público aquele seu
ato.
Davi disse a Nata que o homem que havia roubado a ovelha devia pagar quatro vezes mais. Ele não sabia que
estava falando de si próprio. E quatro de seus filhos morreram prematuramente. Primeiro, o filho de Bate-Seba
morreu. Depois, Amnon estuprou sua irmã Tamar. Em seguida, Absalão matou Amnon por causa disso. Mais tarde,
Absalão também morreu, porque queria tirar o trono de Davi. E finalmente Adonias foi morto, porque desejava
tornar-se rei. No final, Davi retornou à comunhão com Deus, mas seus filhos, não.
O pecado é como o fermento - uma pequena quantidade leveda toda a massa. As influências dele são muito
maiores do que seu tamanho ou forma; suas conseqüências são imprevisíveis. Não admira que precisemos de um
Redentor para nos retirar desse emaranhado. Se nós próprios tentarmos fazer isso, será como querer enxugar o chão,
com uma torneira jorrando água nele. Deus quer que compreendamos que o pecado é um artigo de preço
elevadíssimo. Charles G. Finney escreveu o seguinte: “O pecado é a coisa mais cara do universo. Não existe nada que
custe o preço dele. Perdoado ou não, seu custo é tremendamente alto. Quando perdoado, seu custo recai
principalmente sobre o grande substituto Redentor; não sendo perdoado, terá que recair sobre a cabeça do pecador
que o cometeu.” (Great Sermons from Master Preachers of All Ages - Grandes sermões dos maiores pregadores de
todas as épocas - Zondervan.)
E Finney disse também o seguinte: “E quantas lágrimas ele tem custado, lágrimas que se derramam como água;
e quanta dor, nas mais diversas formas, essa empreitada tem causado e custado aos homens; é, este pecado que você
guarda debaixo da língua como um doce bocado! Deus o odeia muito, quando vê o quanto ele custa, e diz: ‘Ah, não
pratique essa abominação que odeio!’” (Great Sermons.)
A idéia de que podemos pecar e arcar com os riscos envolvidos começou já no jardim do Éden. Eva pensou que
poderia satisfazer seu desejo carnal e também elevar seu status. Era um jogo justo? Ninguém nunca poderia predizer
a extensão da destruição que o pecado iria trazer. Por toda a eternidade, multidões e multidões estarão em
tormento, porque Adão e Eva desobedeceram a Deus.
Vamos rever aquilo que chamo de ciclo da desobediência.
Primeiro, estamos no controle da situação. Estabelecemos os limites da desobediência.

Segundo, ganhamos algumas batalhas; conseguimos nos refrear e ficamos com a sensação de que estamos com
o controle total da situação. Podemos acreditar que, quando quisermos, poderemos deter-nos, na caminhada da
desobediência, mas, se deixamos de partilhar de certos prazeres proibidos, permanecemos nas proximidades da
tentação.

Terceiro, pesamos os prós e os contras, e chegamos à conclusão de que tomamos a decisão acertada. A
realização de nossos desejos egoístas supera quaisquer conseqüências que possamos prever para eles.

Quarto, assinamos o contrato. Entregamo-nos totalmente a certas práticas de vida, crendo que existem
exceções - para nos.

Quinto, de repente, os termos do acordo mudam, como aconteceu com Jeazi, que pensou estar conseguindo
ouro, e terminou com lepra (2 Rs 5.22-27). Aí é que descobrimos que não lemos os itens em letra miúda. De repente,
descobrimos que não estamos mais no controle, e quando tentamos escapar do dilema, vemos que o acordo nos
impede.

Sexto, Satanás aparece para receber sua parte. Nem queremos acreditar no que está acontecendo. O controle
está fora de nossas mãos.

Sétimo, ficamos totalmente desesperados e suplicamos a Deus que nos envie uma libertação rápida. Mas Deus
não irá pagar nossa fiança, enquanto não tivermos aprendido a lição.

As pessoas que trabalham com alcoólatras afirmam que não adianta tentar ajudá-los, enquanto eles não
chegarem ao fim de suas forças. É preciso esperar que cheguem ao fim de tudo, sentindo-se totalmente acabados.
Eles precisam se convencer, por experiência própria, de como é elevado o preço que a bebida cobra.
Você já ouviu uma pessoa que se acha presa nas garras do pecado dizer: “Ah, se eu tivesse sabido.” O que essa
pessoa está dizendo realmente é: “Ah, se eu tivesse acreditado em Deus!” Cada pecado que cometemos
deliberadamente é uma decisão tomada contrariamente à orientação e bondade de Deus.
E se dissermos: “Aprendi a conviver constantemente com meus sentimentos de culpa”, na verdade, estamos
afirmando: “Aprendi a viver numa atitude de desobediência a Deus.”

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. Qual é a mensagem básica de 1 Timóteo 5.6?

2. Leia Tito 1.15. Quais são os efeitos de uma mente e consciência poluídas?

3. Á luz de João 8.34, debater a tese de que uma pessoa pode pecar e ainda assim estar no controle da
situação.

4. Faça uma comparação entre o modo como o mundo encara os prazeres do pecado e o modo como Paulo os
encara (Tt 3.3), contrastando-os.

5. Faça uma aplicação das três leis da semeadura e colheita à situação de nosso país.

Não Consigo Deixá-la

“Sei que é pecado. E já tentei largá-la - Deus sabe que tentei - mas não consigo.”
As últimas palavras dele prenderam minha atenção. Estávamos no fim de uma discussão a respeito das falhas da
sua esposa e de um caso que ele estava tendo, ocultamente, com uma mulher a quem amava muito. E ele pronunciou
aquelas palavras lenta e deliberadamente: “Não consigo deixá-la.”
Essa questão de não conseguir largar alguma coisa aplica-se também a outros pecados tais como drogas,
bebida, glutonaria, etc., mas o rompimento de um relacionamento com outro ser humano é o mais difícil, pois houve
aí um partilhar de intimidades. Aqueles que têm um casamento falido consideram praticamente impossíveis romper
um caso. Os que já foram casados passam pela mesma angústia, ao pensarem no rompimento de uma relação dessas.
Quem já conheceu as alegrias da realização sexual acha a possibilidade da abstinência uma idéia totalmente fora da
realidade. A morte do cônjuge, ou o desquite, ou o divórcio causam um vácuo que só pode ser preenchido pela
intimidade sexual (ou pelo menos é o que dizem). Se alguém sugerir o contrário ouve logo a objeção: “Você não
compreende a situação.”
No entanto, Deus pede que deixemos “descansar” os mais queridos anseios do coração. Ele sabe que não
estamos à mercê de nossos sentimentos, por mais fortes que sejam os clamores das nossas paixões. Lemos na Bíblia o
seguinte: “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados
além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais
suportar.” (1 Co 10.13.)
Consideremos a espantosa declaração de Cristo: “Eu, porém, vos digo: Qualquer que olhar para uma mulher
com intenção impura, no coração já adulterou com ela.” (Mt 5.28.) Por esse padrão tão elevado, todos os homens são
culpados. A lascívia está alojada no coração de cada ser humano. E como podemos assumir o controle desses desejos?
Mas Cristo já previa essa pergunta nossa. Ele sabe que renunciar à lascívia é o mesmo que arrancar uma parte de
nosso corpo.
Então ele continua: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se
perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. E se a tua mão direita te faz tropeçar
corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros e não vá todo o teu corpo para o inferno.”
(Mt 5.29,30.) A palavra tropeço, segundo Barclay, significa “isca em armadilha”. A figura aqui projetada é de uma
cova feita no chão, enganosamente encoberta com uma fina camada de galhos, de modo que um transeunte
descuidado pise neles e caia na cova. Cristo está dizendo que se nosso olho ou mão nos leva a tropeçar - se somos
tentados sexualmente - temos que tomar uma atitude drástica.
Na maioria das vezes, a lascívia começa pelos olhos - com um olhar. Depois então se trocam palavras ternas que
intensificam o desejo, em seguida as carícias, que abrem totalmente as comportas que retinham a paixão. Cristo
disse que, se tivermos de cortar a mão ou arrancar um olho para nos mantermos sexualmente puros, então que o
façamos. Infelizmente, essas palavras dele são muitas vezes postas de lado, pois se argumenta que ele estava usando
linguagem figurada, ou então que cortar a mão ou arrancar o olho não serve como salvaguardas, pois sempre há o
outro.
Embora Cristo não estivesse dizendo que amputássemos partes de nosso corpo, ele espera que tomemos
providências para cortar de nós a causa de nossa lascívia, ou nos afastarmos da tentação. Ele reconhece que existe
um notável paralelo entre removermos membros de nosso corpo e negarmos vazão às nossas paixões. Ele entendia que
ambas iriam exigir medidas drásticas. Observemos estes paralelos.

A Amputação é Dolorosa

Sentado aqui em meu gabinete, tento visualizar a amputação de meu braço direito, e até mais, a remoção de
meu olho direito. Só essa possibilidade já é horrenda. Na antiguidade não havia anestésico e nenhuma outra forma de
aliviar a dor cruciante que acompanharia uma operação dessas. Não havia agulhas, nem drogas para aplacar a dor,
nem delicados instrumentos cirúrgicos - apenas grosseiras ferramentas de corte. Cicatrizes horríveis permaneciam
como lembretes do tormento enfrentado. Em nossos dias existem anestésicos que diminuem a dor. Ela pode ser
cruciante, mas sempre há a esperança de recuperação. As feridas cicatrizam e a pessoa recupera as forças.
Cristo sabe que valorizamos enormemente nossos olhos e mãos. Faríamos qualquer coisa para poupá-los. Não
deixaríamos que fossem removidos, a não ser que isso fosse absolutamente necessário. E é tão difícil desistirmos de
usufruir do prazer, como aceitar a remoção de um olho ou mão. Qualquer um que já experimentou o êxtase de uma
atração sexual sabe disso. Consideremos um homem que está sonhando com um amor pecaminoso. Parece-lhe que a
felicidade se acha ao alcance de sua mão, e, no entanto, quando o alvo ambicionado já estiver para ser alcançado,
ele terá que dizer: “Não.”
Conversei recentemente com um homem que estava amando outra mulher, mas os dois haviam resolvido
terminar seu relacionamento, para que ele pudesse voltar para a esposa e os filhos, e reconstruir um casamento
deteriorado. Mas ele ainda tinha uma profunda afeição pela outra mulher, e não entendia por que seus sentimentos
para com a esposa não se modificavam. É que seria preciso um processo de cura, como quando acontece na perda de
um cônjuge pela morte. Haverá sofrimento, lágrimas e solidão. Quem pode entender a profundidade dessa dor
emocional? E, no entanto, Cristo diz: “Corte!”
Como?
Primeiramente, afastando-se da tentação. O conselho de Paulo é: “Fugi da imoralidade.” (1 Co 6.18.) E diz
também: “Foge, outrossim, das paixões da mocidade.” (2 Tm 2.22.) Isso quer dizer fugir das tentações sem dar o novo
endereço.
Mas, e se a tentação estiver perto - na casa ao lado ou no emprego? A semente da sensualidade tem que ser
esmagada, antes que tenha ocasião de lançar suas raízes na mente e no corpo. Custe o que custar, destrua-a - é
veneno adocicado. Teatros, bares e outros locais semelhantes constituem atrativos para os desejos carnais. Talvez
seja preciso mudar de emprego para diminuir o bombardeio dos estímulos sexuais; romper relacionamentos que se
tornaram portas de entrada para a sedução; cessar totalmente as idas a bancas de jornais que apresentam
publicações pornográficas e livros provocantes, e abandonar companhias que influenciam para o mal. (Pv 1.10-19.)
Mas alguém poderá dizer: “Não existe meio de se escapar à tentação. Ela está no meu trabalho, e mesmo que
mude de emprego, isso não me garante imunidade contra a possibilidade de futuras atrações.”.
Verdade, mas isso não anula as palavras de Cristo. Muitas vezes sabemos exatamente o que temos de fazer para
reverter as ondas de tentação que penetram nosso mundo emocional interior.
Temos que pedir a Deus que não nos deixe “cair em tentação”. Todos os dias nos defrontamos com o pecado
sob os mais variados disfarces. Deus pode orientar-nos para que não caiamos nesses abismos. Ele pode nos guardar,
para que não tropecemos. Se lho pedirmos, ele nos protegerá das circunstâncias que são mais vulneráveis. “É porque
o Senhor sabe livrar da provação os piedosos, e reservar, sob castigo, os injustos para o dia do juízo.” (2 Pe 2.9.)
Quando fugimos, temos Deus do nosso lado.
Temos que lançar fora a pedra de tropeço, como uma mulher trataria um assaltante. Não é hora de tratamento
cortês nem longas despedidas. Nunca devemos tratar o pecado com compaixão e concessões.
É doloroso negar vazão às nossas paixões, mas não é impossível. Muitas pessoas já tiveram de amputar um braço
ou remover uma vista por causa de gangrena. Elas passaram por esse sofrimento para conter a expansão do veneno.
Cristo sabia que não seria fácil. No entanto, ele pediu que nos submetêssemos a isso para o nosso próprio bem e por
amor ao seu nome.

A Amputação Deve Ser Total

Suponhamos que uma pessoa vá ao médico com um tumor canceroso no braço e ele diga: “Estou pensando em
fazer a amputação por etapas. Na primeira vez vamos cortar uma boa parte dele, e mais tarde, cortaremos mais um
pouco. Por enquanto não vamos decidir se amputaremos tudo ou não.”
Absurdo? Lógico. O paciente quer que ele ampute um pouco acima do tumor para se ter certeza de que o
removeu todo. Ele deseja que a cirurgia seja radical. Depois que a decisão é tomada, não se pode mais repensá-la.
Isso deve aplicar-se também aos pecados sexuais. Benjamim Needier, um escritor puritano, coloca essa verdade
nos seguintes termos: “Não podemos separar-nos do pecado como se nos afastássemos de um amigo que se espera
rever, e com o qual se deseja ter a mesma familiaridade de antes, ou até maior. Temos que sacudir a mão para soltá-
lo dela, assim como Paulo sacudiu a víbora no fogo.” (Puritan Sermons - Sermões puritanos - Richard Owen Roberts
Publishers.)
Como podemos aplicar isso a nós? Temos que “queimar todas as pontes” que ficaram para trás - não voltar
(lembremos da mulher de Ló). Do mesmo modo como os antigos judeus davam buscas em toda a casa, com uma vela
na mão, para se certificarem de que não havia nenhum fermento ali, nós devemos examinar nossa vida, com esse
esmero, para ver se não há nenhum restinho de veneno que venha a amortecer todo o nosso corpo. E encontrando-o,
temos de arrancá-lo, mesmo que ele resista como um dente implantado na mandíbula.
O que abre a porta da vulnerabilidade sexual? A televisão? Os filmes? Ter admiração pela esposa ou marido de
outra pessoa? Em Romanos nós lemos: “Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne, no
tocante às suas concupiscências.” (13.14.)
Quando falo em se romper totalmente com o pecado, não me refiro apenas aos pecados de natureza sexual.
Qualquer pecado que abrigarmos em nossa vida, pode ser causa de cairmos em tentações sexuais. Paulo ensinou
que a imoralidade, a impureza, a sensualidade, a idolatria, a feitiçaria e outros pecados sensuais têm todos uma
mesma raiz - a carne (ver Gálatas 5.19-22). Se fizermos concessões em um aspecto desses, teremos problemas em
outras áreas. Um problema de ira não resolvida pode levar à embriaguês; um caso de desonestidade, à imoralidade.
Todo conselheiro sabe que essa relação de causa e efeito na conduta humana acha-se habilidosamente
camuflada. Por que estamos sempre sendo derrubados pelo mesmo pecado várias e várias vezes? Em muitos caos é
porque não fizemos uma sondagem bem profunda; pode ser que estejamos negando a Deus o acesso a certas áreas de
nossa personalidade. Isso é ilustrado por um relato notável que encontramos em Josué 7. O povo de Israel lutou
contra os homens de Ai e foi derrotado. Josué e seu exército perderam 36 soldados nesse embate. Se um especialista
em estratégia militar fosse analisar as causas do fracasso, o que diria? Ele iria fazer um levantamento do exército,
examinar as táticas empregadas e recomendaria o uso de equipamento mais sofisticado e uma estratégia mais
eficiente. Prepararia um plano detalhado de horários para fortalecer ainda mais o exército israelita, para que eles
pudessem derrotar o inimigo rapidamente e com um mínimo de baixas.
Na verdade, a força do exército de Israel tinha muito pouco a ver com sua derrota ou vitória. A verdadeira
causa do fracasso era que Acã tinha roubado uma peça de roupa que devia ter sido destruída com a tomada da cidade
de Jericó. Mas nenhum analista secular poderia ter chegado a essa conclusão. A primeira vista, não havia relação
alguma entre o roubo de uma peça de vestuário com a derrota do exército. Mas Deus estabelecera a relação.
Como a raiz de todos os pecados é uma só (rebelião), qualquer pecado, por mais remota que seja a relação
dele com outro, pode ser a causa desse outro. As forças que abrem a porta do coração para a lascívia podem provir de
uma fonte muito diferente.
Um homem que não conseguia vencer o hábito de comprar publicações pornográficas conseguiu superar o
domínio deste pecado, quando se arrependeu totalmente de outros pecados que antes havia ignorado. Entre esses
pecados incluíam-se a devolução de objetos roubados, pedir perdão aos pais por sua atitude de rebelião, e confessar
a Deus sua ira contra ele por causa de suas dificuldades na vida.
Alguém pode achar que o simples fato de trapacear na declaração de imposto de renda não poderia levá-lo a
cometer um pecado sexual; mas pode. Se a ambição causou uma derrota militar, pode ocasionar uma derrota moral
também. É por isso que a música rock pode conduzir à sensualidade, e o senso de culpa à raiva - em última análise,
todos os pecados se acham relacionados entre si, e têm as mais diversas conseqüências. A.W. Tozer escreveu o
seguinte: “A área de nossa vida que retiramos da cruz, mesmo que seja uma partícula mínima, provavelmente será a
raiz de todas as nossas derrotas e problemas espirituais.”
Tire aí uma meia hora, sem pressa, e faça a oração do salmista: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração;
prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.”
(SI 139.23,24.)

Vale a Pena Fazer a Amputação

Vale a pena suportar a dor? Pergunte-o a um canceroso que se submeteu à cirurgia e depois ouviu o médico lhe
dizer: "Extirpamo-lo todo.”
E as alegrias de uma cura física nada são se comparadas com as vantagens de uma libertação moral. Cristo disse
que, se tivermos de escolher entre um olho e a salvação da alma, será loucura optar pelo olho. A alma vale muito
mais. Destruir a alma por causa de culpa e vergonha (mesmo que sejamos salvos como que pelo fogo) é um preço por
demais elevado para se dar por um prazer proibido. Christian Bovee disse o seguinte: “O corpo de um homem sensual
é o caixão de uma alma morta.”
Uma pessoa mutilada, que tem apenas uma das mãos e um olho, acha-se incapaz de realizar seus sonhos mais
ambicionados. As esperanças de toda uma vida estão destroçadas. Sua única opção agora é ajustar-se à situação e
conviver com seus anseios frustrados. Ele terá que sepultar seus planos para o futuro, e redirecionar sua vida para
objetivos mais simples. Ou ele se readapta ou se destrói.
Cristo sabe de nossas frustrações. E, no entanto, ele diz: “É melhor viver sem um companheiro(a), do que tê-lo
em desobediência à vontade de Deus. É preferível seguir pela vida com um casamento problemático, mas sendo amigo
de Deus, do que se realizar emocionalmente, mas incorrendo no desagrado divino. Deus é amigo dos frustrados, dos
solitários e dos tentados; mas ele julgará aqueles que cometem imoralidade. “Porque Deus julgará os impuros e
adúlteros.” (Hb 13.4.)
O escritor Walter Trobisch disse o seguinte, com muito acerto: “Quer sejamos solteiros ou casados, a situação
que temos de encarar é a mesma: viver uma vida realizada, a despeito de desejos não realizados.” (Love is a Feeling
to be Learned - Amor, sentimento a ser aprendido - InterVarsity Press.)
O pecado sexual, por mais atraente que seja, nunca vale mais do que um braço ou perna. Alguém já disse:
“Como somos ágeis para satisfazer a fome e a sede de nosso corpo, mas tão lentos para saciar a fome e a sede de
nossa alma.” E li este belo conselho em algum lugar: quando temos de transpor um abismo, é melhor fazê-lo de uma
só vez, num salto longo, em vez de dois curtos. Precisamos obedecer imediatamente, seja qual for o preço.

Rompendo um Relacionamento

Voltemos ao homem que disse: “Não consigo abandoná-la.” Os dois parecem estar vivendo perfeitamente em
harmonia, mas Deus disse: não podem ficar juntos.
Criou-se um sentimento de dever. Eles se entregaram voluntariamente à mais íntima das relações, e é possível
que essa mulher lhe diga: “Se você me deixar, eu me suicido. Você é a única pessoa do mundo que me compreende.”
Ou talvez ela diga: “Se você me deixar, vou falar de nosso caso para a cidade toda. Vou difamá-lo. Você tem
mais a perder do que eu.”
O que o homem pode fazer?
Ele pode abordar a questão com um espírito de humildade. Confessar a sua parte nesse erro. É inútil ficar a
discutir de quem é a culpa; ambos são culpados, talvez um mais e o outro menos. Ele deve fazê-la ver que está
sinceramente arrependido de haver roubado a intimidade dela, de haver roubado algo que não lhe pertencia, e de
haver entrado por um caminho que conduz à destruição. Ele deve dizer-lhe que está tudo terminado, e que essa sua
decisão é definitiva.
Ele deve estar disposto a submeter-se a qualquer castigo que o Senhor permita vir sobre ele. O medo de se ver
exposto não deve impedi-lo de confessar e abandonar o pecado. O desvio é sempre mais penoso do que a estrada
principal.
Aconteça o que acontecer, provavelmente não será tão grave quanto perder um olho ou a mão. Ninguém ainda
conseguiu que o caminho dos transgressores se tornasse fácil.
É; a verdade é que você conseguirá abandoná-la.

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. À luz de 2 João 6, o que o fato de uma pessoa estar disposta a abandonar o pecado nos revela sobre seu
amor a Deus?

2. Deus nos pede que façamos algo que nos é impossível praticar? Se não, como recebemos a capacitação para
fazer o que devemos?

3. Já que os olhos geralmente estão muito relacionados com as tentações sexuais (Mt 5.28), que medidas
práticas devemos tomar para nos mantermos puros? De que forma podemos auxiliar-nos mutuamente neste aspecto?
4. Se um homem começa a sentir amor pela esposa de outro, que providências deve tomar para reestruturar
tanto o seu casamento como esse outro?

5. Temos em Gênesis 22 o exemplo de um homem que se dispôs a colocar de lado as afeições humanas para
fazer a vontade de Deus. Que bênçãos ele recebeu em conseqüência dessa obediência?

E se Eu Fizer Sozinho?
É Errado?

Talvez uma das práticas sexuais mais difundidas entre os jovens seja a masturbação. “Nenhuma outra forma de
atividade sexual tem sido discutida com tanta freqüência, tem sido tão condenada indiscriminadamente e tão
praticada em toda a parte, como a masturbação.” (Auto-erotismo, em The Encyclopedia of Sexual Behavior, - A
enciclopédia da conduta sexual - publicada por Hawthorne Books.) A sensação de culpa que vem associada a essa
prática muitas vezes é excessiva. Ainda na semana passada, recebi uma carta em que a pessoa dizia o seguinte: “Por
favor, ajude-me... eu pratico a masturbação. Será que posso ter esperança de uma solução? Já pensei até em
suicídio.”
Há uma geração atrás, a masturbação era quase que unanimemente condenada por conselheiros cristãos e
pastores. Mas os tempos mudaram. E hoje alguns líderes de juventude dizem aos jovens que isso não é pecado, a não
ser se praticado com muita freqüência.
Existem vários argumentos que favorecem essa opinião. Quase todos os rapazes e uma boa porcentagem das
moças já praticaram a masturbação em alguma fase da vida. Sejam quais forem as lutas e conflitos que alguém
enfrenta por causa desse problema, um consolo ele pode ter: faz parte de um grande grupo.
Essa prática também não causa nenhum efeito físico danoso. Ao contrário do que diziam as gerações passadas,
com suas lúgubres advertências, não produz insanidade mental e não torna as pessoas mais susceptíveis a doenças.
Esses temores, que tinham por finalidade desestimular sua prática, eram infundados.
Entretanto, talvez a argumentação mais repetida em favor de uma atitude menos rigorosa com relação à
masturbação é a de que ela geralmente é seguida de um excessivo e destrutivo senso de culpa. A lógica desse
argumento é óbvia: se ela for tratada como uma forma normal de vazão sexual, o senso de culpa desaparecerá.
Embora a Bíblia condene todos os tipos de pecados sexuais, não faz uma referencia explícita à masturbação. A
expressão de Paulo “desonrarem os seus corpos entre si” (Rm 1.24) é uma referência ao homossexualismo. E como
existem referências a essa prática até na literatura egípcia antiga (1500 a 1000 a.C.), a omissão dela não pode ser
atribuída a um desconhecimento da questão. Se considerarmos todos os detalhes das leis expostas no livro de
Levíticos, é de se admirar que não haja nenhuma menção a isso. Talvez Deus não tivesse desejado colocar sobre os
nossos ombros um fardo pesado demais.
Mas antes de nos apressarmos a considerar a masturbação como uma inofensiva liberação de energia sexual,
temos que dar atenção à advertência de Pedro: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos
absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma.” (1 Pe 2.11.) Paulo ensinou que devemos guardar a
mente, para que não pense no que é mal. “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se
algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.” (Fp 4.8.)
Mesmo quando a masturbação é praticada espaçadamente, ela é acompanhada de fantasias sexuais que são
consideradas como lascívia ou desejo carnal. E mesmo aqueles que já se convenceram de que não é pecaminosa e
talvez experimentem menos senso de culpa, têm que reconhecer que essa prática lhes dá uma sensação de vergonha,
ou pelo menos de derrota. E é interessante notar que, embora outros tipos de atividade sexual sejam livremente
comentados em sociedade, e algumas pessoas cheguem a confessar, sem o menor resquício de vergonha, que têm
uma vida imoral, o fato é que a masturbação ainda causa um certo constrangimento. Walter e Ingrid Trobisch
publicaram as cartas que trocaram com uma moça de nome Ilona, que estava lutando contra essa prática. E ela
escreveu o seguinte: “Na superfície, a masturbação parece-me uma coisa linda, que desejo praticar. Mas bem lá no
fundo, ela é um fardo. E todas as vezes que a pratico tenho sentimento de culpa, embora ninguém me tenha proibido
de fazê-lo.” (My beautiful Feeling - Minha linda emoção - InterVarsity Press.) A masturbação implica em usar-se
egoisticamente um dom que Deus nos deu com a finalidade de estabelecermos uma relação íntima com outra pessoa.
É como abortar a possibilidade de um relacionamento terno e afetivo.
Em alguns indivíduos, esse hábito leva à escravização. Embora ele possa ser visto como uma liberação
temporária da tensão sexual, eventualmente pode incendiar as paixões de quem o pratica. Algumas vezes, a prática
da masturbação é o mesmo que querer apagar um fogo jogando combustível nele. Alguns se masturbam várias vezes
por dia, incapazes de se libertarem das garras do vício.
A masturbação excessiva, em muitos casos, é indicação de que existe um problema mais profundo, que pode
não ser de natureza sexual. A sensualidade grassa bem no solo de uma vida de autogratificação: glutonaria, sono
demais, escape às dificuldades, etc. Pode também ser evidência de problemas espirituais profundos que não foram
solucionados.
Uma pessoa que se julga injustiçada na vida, por exemplo, pode masturbar-se, pensando da seguinte maneira:
“Considerando o que tenho passado, bem que tenho direito a esse prazerzinho.” Isso então se torna uma espécie de
compensação para as tristezas da vida, e assim a escravização a ela vai sempre aumentando. É como escreveu Ilona:
“Geralmente, existe bem lá no fundo uma sensação de insatisfação consigo mesmo e com a vida, que se tenta superar
com um breve momento de prazer. Mas ninguém consegue isso. A desejada satisfação não é obtida.” (My Beautiful
Feeling.)
Quando uma pessoa se acha em rebelião contra Deus, contra seu cônjuge ou seu emprego, terá primeiro que
resolver essas questões para que possa superar o vício da masturbação. Se não fizer isso, não terá realmente desejos
de se modificar, mas optará pelo recurso da não-resistência, e voltará à prática. Então ela assume a atitude de quem
pergunta: “De que adianta esse esforço todo, afinal?”, e isso abafa qualquer intenção de modificar-se.
Quando a Bíblia afirma que o poder do pecado está na lei, dá a entender que nos encontramos sob o domínio do
pecado por causa de sua condenação. E enquanto houver uma sensação de derrota ou de autodesprezo, será difícil
manter a luta.
Nossa sexualidade tem uma conexão muito íntima com o mais profundo de nosso ser, e por isso a masturbação
provoca vergonha e senso de culpa. É por essa razão que ela pode tornar-se uma das principais pedras de tropeço ao
nosso crescimento espiritual. E quanto mais ela se tornar o centro de atenção de nossa mente, mais forte também ela
se torna.
Embora, num certo sentido, todo pecado seja maligno, não há dúvida de que alguns são mais graves que outros.
Cristo condenou os fariseus por negligenciarem os aspectos mais importantes da lei, embora dessem os dízimos
fielmente (Mt 23.23). O pecado da justiça própria está entre os mais abomináveis para Deus, mas como não está
associado à sexualidade, não gera muito sentimento de culpa. E, no entanto, esses pecados do espírito são mais
odiosos para Deus que os pecados da carne. Não devemos, nem por um momento, justificar os pecados sensuais; mas,
às vezes, no meio da batalha, perdemos nosso senso de perspectiva.

A solução, portanto, não é tratar a masturbação com menos seriedade. Parece pouco provável que ela possa ser
praticada em fé - e, como disse Paulo, o que não é de fé, é pecado. Pelo contrário, deve ser encarada como um
hábito carnal que Deus quer que abandonemos, mesmo que seja necessário algum tempo, até que se consiga abster-
se totalmente dele.
Quanto ao senso de culpa, existe uma cura excelente. A consciência pode ser purificada, e assim a pessoa
estará em paz com Deus, mesmo quando ainda está em luta com o problema.
Ninguém é obrigado a se masturbar. O que acontece é que o impulso sexual é muito forte, e somos tentados a
deixar que nossas paixões nos enganem, e levem a melhor. A tendência das pessoas em nossos dias é evitar, a todo
custo, as pressões da tentação. Estamos condicionados a optar pelo princípio da menor resistência, mas existem
alternativas que podem ajudar-nos a reduzir a freqüência desta prática sexual, se não de eliminá-la totalmente. O
intervalo entre uma ocasião e outra pode ir-se tornando cada vez maior, e Deus fica junto de nós, para nos fortalecer
e perdoar.

A Perspectiva Correta

Muitos são os que ficam um pouco frustrados ao perceberem que Deus não atende imediatamente à sua petição
no sentido de ficarem logo livres desse vício. Mas algumas pessoas estão pedindo algo que é impossível: estão
querendo que Deus remova seus desejos sexuais. E normalmente ele não o faz. Esses desejos nos foram dados por
Deus, embora seja verdade que, se cedermos às imposições deles com muita freqüência, acabarão por tornarem-se
mais e mais intensos. Deus prefere que aprendamos a superar a tentação, em vez de neutralizar nosso impulso sexual,
e dessa forma remover totalmente a tentação de nosso caminho.
Aliás, devemos agradecer a Deus pelas tentações (observe que eu não disse “pelo pecado"). Certo homem
afirmou: “Eu disse a Deus que lhe agradeceria mesmo que fosse tentado até o dia de minha morte.”
Uma vida de gratidão nos ajuda a enxergar essa luta com mais objetividade e sob a perspectiva certa. Quem
está lutando contra a masturbação, muitas vezes se acha tão envolvido com o problema, que não consegue ver a si
mesmo com mais objetividade. Se vivermos continuamente louvando a Deus, isso nos ajudará a sair de nós mesmos e
entender que Deus tem um propósito para tudo.
Se você, leitor, está enfrentando esse problema, sugiro que não encare a superação da masturbação como sua
prioridade máxima. Se a encarar assim e vez por outra fracassar, ficará desanimado. Ao invés disso, resolva que seu
objetivo de vida será tornar-se um adorador de Deus em espírito. Isso ajuda a enxergar nossa vida pela perspectiva
certa. Se buscarmos o reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar, eventualmente a vitória nos será acrescentada
(ver Mateus 6.33). Nosso objetivo supremo deve ser o de nos tornarmos pessoas cheias do Espírito, cristãos
entusiastas. E se nesse processo Deus nos conceder vitória completa sobre esse hábito, ótimo. Entretanto, se
continuarmos a lutar com ele, não deixemos que isso venha a dissuadir-nos do desejo de conhecer melhor ao nosso
Deus.
Pode ser que, num certo dia, não sintamos desejo nenhum, e comecemos a pensar que superamos a tentação.
Mas depois, de repente, somos inflamados e nos descobrimos ardendo em desejo. Mais tarde ficaremos surpresos,
perguntando-nos como foi que isso aconteceu. É lógico que não podemos nunca supor que um hábito que conseguimos
superar está totalmente desarraigado de nós. Mas é muito importante que nos coloquemos nas mãos de Deus todos os
dias de nossa vida, mesmo achando que não seremos tentados.
E quando a pessoa não tem vontade de parar? Talvez alguém ache que merece ter esse prazer secreto e, além
disso, pode pensar que nunca conseguiria superar o vício.
Mary V. Stewart relatou sua luta da seguinte maneira: "Eventualmente eu parei - também não sem luta nem
sem tropeços, mas parei. Queria o Espírito de Deus mais do que desejava aquela vibração física transitória. E mais
que isso, comecei a perceber que fazia sentido abster-me dela em função de uma melhor preparação para uma união
verdadeira com uma pessoa de verdade.” (My Beautiful FeeIing.)
Naturalmente Deus é paciente, pois ele sabe que a sexualidade tem raízes muito profundas em nosso ser. E ele
pode estar operando em outras áreas de nossa vida, colocando-as no alinhamento certo, para que continuemos a
crescer espiritualmente, embora nos vejamos a braços com esta luta. Eventualmente, porém, Deus vai fechar o
cerco; irá sondando, com muita paciência, pedindo que lhe entreguemos os ídolos mais caros ao coração. E melhor
ainda, nos sentiremos motivados a encarar as questões subjacentes que podem ter contribuído para que nos
resignássemos a viver em derrota. Mas, enquanto estivermos voltados para dentro de nós mesmos, querendo descobrir
se já obtivemos a vitória ou não, continuaremos subjugados ao vício. Todos os desejos maus procedem do coração do
homem; o potencial para pecar está sempre conosco. Nosso maior anseio deve ser a fé no Senhor Jesus Cristo e na
obra que ele realizou em nosso favor.
Gostaria de sugerir aqui algumas medidas básicas para ajudar a superar a tentação.
1. Confessar e abandonar qualquer pecado que esteja servindo de causa para nossa tentação. Devemos
evitar literatura pornográfica, programas eróticos de televisão e qualquer outro tipo de estímulo. Lemos em 1 João
1.9 que Deus faz duas coisas por nós: ele nos purifica e perdoa. E as duas têm que ser recebidas pela fé. Mas o
processo de purificação implica em que sejamos completamente sinceros com Deus, dispostos a obedecer e a ficar
distantes das coisas que nos arrastam à sensualidade.
Lembremos, porém, que isto não põe fim à tentação, pois o pecado brota de dentro de nós. É como escreveu
Tiago: “Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.” (Tg 1.14.) Mas,
mesmo assim, podemos ter controle sobre muitos dos estímulos externos.
2. Devemos aceitar a nós mesmos e às nossas circunstâncias. Quem é solteiro, de graças a Deus por isso,
embora deseje casar-se. Quem estiver revoltado contra Deus por não lhe haver dado um cônjuge, provavelmente
nunca irá conseguir superar a tentação. Ele pensa assim: “Mereço este pequeno prazer, porque me sonegaram
outros"; e ao enfrentar a tentação, rende-se a ela. Deus tem todo o direito de fazer com os seus aquilo que deseja, e
se não aceitarmos esse fato, fracassaremos na batalha contra o pecado.
O intuito de Satanás é levar-nos a ficar descontentes com o que temos na vida. Alguém já disse que o
casamento é como uma janela de telinha cheia de mosquitos: os que estão do lado de dentro querem sair e os de fora
querem entrar. De qualquer modo, são muito poucas as pessoas satisfeitas com o que tem.
Deus quer que estejamos contentes, mesmo tendo desejos que não são satisfeitos. Ele deseja ensinar-nos que a
vida não consiste apenas na realização sexual.
Lembra-se da parábola do oleiro e da massa? Paulo disse que a massa não tem autoridade para dizer ao oleiro o
que ele deve fazer. Ela tem que se submeter a ele, acatando as decisões que ele tomar em relação a ela. Depois que
aceitamos a vontade de Deus para nós e entendemos que todas as circunstâncias, até as mais desalentadoras, provêm
de sua mão, ficamos melhor preparados para dizer não às tentações, e dizer sim a Deus.
3. Crer que Deus, por intermédio de Cristo, já conquistou a vitória sobre as paixões pecaminosas. Às vezes
é difícil crer nisso, pois as pessoas perguntam: “Se é assim, por que então tenho sido dominado por esses desejos?”
Pois aí está o maior teste a que sua fé é submetida: vai acreditar em Deus ou em suas paixões? Não estou querendo
dizer que a vitória é automática, mas, sim, que os fundamentos dela estão em Cristo.
Todos nós temos que aprender que, quando não estamos vivendo em vitória, nossa fé se dissipa. É claro que
edificar a fé leva tempo. Paulo orou no sentido de que fossem “iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes
qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos.” (Ef 1.18.) A
memorização dos capítulos 6, 7 e 8 de Romanos pode ajudar-nos a imprimir a Palavra de Deus em nossa vida, e a
edificarmos nossa fé.
Aqueles que estão dominados pelo vício da masturbação, e que talvez a pratiquem várias vezes por dia,
possivelmente precisarão orar rejeitando os poderes satânicos, pois os espíritos demoníacos tiram vantagem de nossas
fraquezas, e inflamam nossas paixões. Isso é feito primeiramente com a submissão de nossa vida a Deus, e depois com
a rejeição de Satanás, dizendo: “Saia, Satanás, pois está escrito...” (e citar aqui um verso bíblico reafirmando sua
posição ao lado de Cristo). Tiago nos dá a seguinte promessa: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e
ele fugirá de vós.” (Tg 4.7.)
4. O momento em que a tentação é mais fácil de ser vencida, é quando a fantasia surge na mente. É nesse
instante que temos de tomar a decisão de resistir, pois daí para frente ela se tornará cada vez mais forte. Quando os
pensamentos começam a envenenar a mente, e a paixão desperta, aí é quase impossível evitar a masturbação. Uma
coisa que ajuda muito é cultivar maior sensibilidade às influências do Espírito Santo.
Sim, haverá quedas nesse combate. Mas Deus também compreende que somos criaturas sexuadas, e sabe como,
às vezes, a batalha pode tornar-se difícil. Portanto, precisamos ter certeza de que ele nos aceita, e lembrar que,
mesmo quando pecamos, somos “aceitos no Amado”.
Procure, a partir de agora, começar a cultivar hábitos que o levem a ter uma vida totalmente dedicada a Deus.
Ele estará com você a cada passo.

ESTUDO E APLICAÇÃO
1. Cultivar o hábito de sair da cama assim que acordar pela manhã. Mas, se demorar um pouco mais nela, orar e
louvar a Deus, agradecendo-lhe pela noite de descanso. Ficar na cama é invocar pensamentos lascivos, que parecem
estar sob controle, mas que, pouco depois, não estarão mais.
Então é melhor passar 5 ou 10 minutos em comunhão com Deus, entregando-nos totalmente a ele. Isso pode
tomar algum tempo. Peçamos a Deus que nos mostre os erros de nossa vida que estamos retendo conosco. Gastemos o
tempo que for necessário, até sentirmos que o novo dia está nas mãos de Deus.

2. Decorar versículos tais como Efésios 1.22; 2.4-6; 3.20-21. A Palavra de Deus purifica nossa mente e nos dá
confiança para enfrentarmos as tentações (Jo 15.3).

3. Resolver antecipadamente como iremos reagir aos pensamentos de natureza sexual. Recitemos versos (como
Mateus 5.8), várias vezes seguidas. Isso, por si só, não é garantia de que resistiremos às tentações, mas, se estivermos
submissos à autoridade da Palavra, seremos capacitados a exercer autoridade sobre nossos pensamentos e ações.

4. À noite, antes de dormir, devemos pedir a Deus que purifique nossa mente e a proteja de pensamentos
impuros.

5. Se pecar, pedir perdão imediatamente. Não devemos perder tempo. Deus não vê dificuldade em nos
perdoar. Talvez achemos difícil ir a ele, por estarmos decepcionados com nós mesmos. Mas Deus nos perdoa
completamente. Ele nunca diz: “Ah, você de novo!”
Deus aproveita até nossa constante necessidade de confessar, para revelar-nos a maravilha de sua graça.

Meu Amigo, o Homossexual

Qualquer discussão sobre a sexualidade humana deve abordar a questão da homossexualidade. Já se foi o
tempo quando esse assunto era descartado com a explicação (provavelmente errada) de que eram muito poucas as
pessoas que manifestavam desejos sexuais para com indivíduos do mesmo sexo. Hoje a coisa é diferente. Muitas
pessoas, inclusive pessoas genuinamente convertidas se vêem dominadas por paixões sobre as quais, ao que parece,
não conseguem exercer controle.
O termo homossexual aplica-se a homens ou mulheres que tem desejo sexual por pessoas de seu sexo, embora
muitas vezes se use a palavra lésbica para designar mulheres homossexuais. Infelizmente, existem outras palavras
que muitas vezes são empregadas quando se fala de tais pessoas, termos pejorativos que todos nós conhecemos. Esse
tipo de linguagem só serve para aprofundar ainda mais o abismo que separa os “homo” dos heterossexuais (pessoas
que têm atração por indivíduos do sexo oposto).
Muitos de nós talvez pensem que nunca conheceram um homossexual, desconhecendo que, dentro das próprias
igrejas evangélicas, há esse tipo de pessoa, embora tenham receio de revelar sua inclinação sexual.
Alguns homossexuais são estereotipados. Mas nem sempre podemos reconhecê-los pelo modo de vestir ou falar.
Também não é verdade que todos eles estejam atrás de crianças. Embora isso aconteça, o número de homossexuais
que molestam menores provavelmente é igual ao de heterossexuais que o fazem.
Outro erro que muitos de nós cometemos é desconhecer a profundidade de sentimentos que geralmente está
relacionada com o homossexualismo. Comentários superficiais, tais como: “Por que ele não se casa?” são perniciosos,
pois revelam uma compreensão superficial dos sentimentos e pensamentos de um homossexual. Depois que os
conhecemos e conversamos com eles, essas incompreensões se dissipam. Se fizéssemos algum esforço para
compreender o sofrimento e o sentimento de rejeição que os homossexuais suportam, seríamos mais compreensivos e
compassivos com eles. Eles têm a mesma necessidade de amor e respeito que todos nós temos; aliás, muitos deles são
pessoas até mais sensíveis.
Coloque-se no lugar de um homossexual. Você é um rapaz de 18 anos. Sente uma atração erótica fortíssima por
outros homens. Você não escolheu essa condição conscientemente. Na adolescência seus desejos já tendiam para
pessoas do mesmo sexo. Seus amigos sentem atração por garotas, mas você não se interessa por elas. As pressões da
sociedade e seus sentimentos estão sempre lhe lembrando que você é anormal; e seus colegas o tratam por meio de
palavrões. Você tenta modificar-se, mas não consegue. Suplica a Deus que o ajude, mas suas paixões continuam
fortes.

O que deve fazer?


Contar a seus pais? Talvez eles não compreendam. Os pais só faltam subir pelas paredes, quando ficam sabendo
que têm um filho homossexual.
Contar ao pastor? Se ele é daqueles que atacam os homossexuais de púlpito não o faça. Não se sabe o que ele
irá dizer-lhe.
Por causa disso, a reação mais comum de um homossexual é procurar aqueles com os quais se identifica, e
provavelmente buscar a aceitação das pessoas que tem o mesmo ponto-de-vista que ele. Se já se converteu, tentará
defender-se ao ponto de interpretar as Escrituras de uma forma que mostre que sua conduta é correta aos olhos de
Deus e de outros. Se é incrédulo, irá reunir-se a grupos “gays” mais radicais, que estão lutando para que o
homossexualismo se torne tão respeitável como o heterossexualismo.
Muitos homossexuais partem para esse tipo de reação devido à insensibilidade da igreja. Tornam-se amargos,
porque percebem que os cristãos não fazem nenhum esforço para entendê-los. Por isso, alguns riscam a igreja de sua
vida, e procuram encontrar sua identidade em outras partes.
Ninguém devia abordar a questão do homossexualismo sem muito amor no coração. Duvido que algum deles já
tenha se modificado, simplesmente por ter ouvido um sermão contra isso. O ensino da Bíblia deve ser acompanhado
de compreensão, paciência e amor. David Augsburger disse, certa vez, com muita sabedoria: “É bem mais fácil dizer
a uma pessoa como ela deve resolver seu problema, do que ficar ao lado dela sentindo sua dor.”
Isso não quer dizer que vamos mudar a interpretação da Bíblia para fazer média com a mentalidade de hoje.
Não significa também que tentamos compreender os homossexuais e ouvir as suas argumentações, e sentir a dor da
rejeição que eles sofrem, antes de fazermos comentários sobre sua conduta.

O que a Bíblia Diz Sobre Isso?

A Bíblia afirma que a atividade homossexual é pecado. Na legislação do Velho Testamento havia vários pecados
que eram punidos com a morte, Entre eles contavam-se o adultério e o homossexualismo. Deus diz especificamente:
“Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram cousa abominável;
serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles.” (Lv 20.13.)
Lemos em Romanos 1.26-27 que o homossexualismo é contrário à natureza. Isso significa que essa prática é uma
luta contra a natureza do próprio corpo. Isso se confirma pelo emprego que Paulo faz dos verbos mudar e deixar,
querendo dizer com isso que o homossexual deixa de lado aquilo que seu corpo naturalmente deseja. Associados a isso
estão a culpa e o medo que muitas vezes levam o indivíduo a buscar novas relações homossexuais. E quando Paulo diz
“Deus os entregou”, ele está querendo ensinar que Deus entrega uma pessoa ao pecado, intensificando o senso de
culpa em seu coração. A essa altura, ela se arrepende plenamente ou então é mais dominada pelas suas paixões.
Paulo fala do homossexual como homens que “se inflamaram mutuamente em sua sensualidade”. Esta frase descreve
o fogo consumidor da paixão homossexual.
Alguns evangélicos dizem que o homossexualismo deve ser aceito como uma inclinação sexual alternativa.
Fazem distinção entre atos homossexuais - que seriam praticados em conseqüência de uma decisão consciente por
parte do indivíduo e inclinação homossexual. As pessoas que esposam este ponto-de-vista crêem que alguns indivíduos
já nascem com tendências homossexuais e, portanto, não têm culpa de pecados pessoais, não sendo responsáveis por
essa inclinação que tem.
Existe diferença entre conduta homossexual e desejo homossexual, assim como há diferença entre conduta e
desejo heterossexual, mas isso não deve levar-nos a crer que tais desejos são normais.
O Dr. George Rekers escreveu o seguinte: “Todo desejo homossexual é anormal, e vai contra um ajustamento
sexual normal. Cada vez que um indivíduo experimenta o desejo homossexual ele condiciona seu sistema nervoso para
dar, respostas cada vez mais fortes a estímulos homossexuais.” (Growing up Straight - Crescendo corretamente -
Moody Press.)
A Bíblia é muito clara e coerente: tanto os atos de homossexualismo com as atitudes são condenados por Deus.
São perversões dos desígnios de Deus para o homem. Pode ser natural para uma pessoa o fato de ser cleptomaníaca,
mas, mesmo assim, é perversão do plano de Deus para o homem. Até mesmo os homossexuais reconhecem que seus
desejos e condutas são contrários à natureza.
Não estou querendo com isso negar que reconheço que o impulso homossexual seja um passo de adaptação que
se dá na infância, um ato inconsciente, mas mesmo nesse caso, a pessoa pode tomar outro tipo de decisão, mais
tarde, e modificar sua conduta. Ruth Barnhouse, que é uma psicoterapeuta evangélica, escreveu o seguinte: “O
processo de psicoterapia consiste, em grande parte, em levar o paciente a compreender que ele não é vitima de um
mal que está acima de suas forças, mas que algumas direções tomadas no passado, por mais inconscientes que
tenham sido, podem ser reavaliadas, e que ele tem possibilidade de tomar uma direção diferente.”
Os desejos homossexuais não podem ser desculpados com base na tese de que o individuo é assim desde
criança, e que, portanto, esse impulso é “natural” nele. Não sei de nenhuma evidência de que o homossexualismo
seja transmitido geneticamente. Pelo contrário, ele resulta da atuação de fatores ambientais sobre a criança, os
quais geralmente estão aliados a certas experiências que a tornam mais vulnerável e redirecionam suas inclinações
sexuais.

O que Causa o Homossexualismo?

Precisamos resistir à tendência de se pensar que todos os homossexuais se encaixam num estereótipo bem
definido. Contudo, no se pode negar que, quando tentamos identificar as causas do homossexualismo, surgem alguns
elementos de ordem geral.
Em primeiro lugar, há a família. Segundo Rekers: “De um modo geral, aqueles que se tornam homossexuais são
filhos de homens distantes, hostis, que têm atitudes de rejeição para com eles. Mais de quatro quintos dos
homossexuais adultos, do sexo masculino, declaram que, quando eles eram crianças, seus pais estavam sempre
ausentes do lar, ou física ou psicologicamente.” (Growlng up - Crescimento.) Esses indivíduos não tiveram no lar um
bom modelo masculino, e, por causa disso, ficaram confusos em sua identidade sexual. Eles simplesmente não
conseguiam identificar-se de maneira significativa com o seu sexo. E, muitas vezes, um pai ausente e passivo está ao
lado de uma mãe super-protetora e dominante. Assim, o garoto se identifica mais com a mãe, e assume o papel
sexual dela. Um certo homem me disse: “Minha mãe costumava vestir em mim roupas de menina. Na escola as
crianças diziam: ‘Ele deve ser aquilo...’ Achei que eles estavam com a razão e comecei a duvidar de minha
identidade. Dentro em pouco estava-me sentindo atraído por outros homens.”
Se uma mulher odeia os homens e transmite isto para o filho, está tornando seu filho vulnerável a tentações
para o homossexualismo. E principalmente quando não há um homem em casa, o garoto pode começar a esquivar-se
do papel masculino com o qual deveria identificar-se. É impossível calcular a extensão do dano psicológico provocado
na criança pela hostilidade entre o casal, e que contribui para essa confusão dos sexos.
A crueldade com menores também pode contribuir para a reversão da identidade sexual. Uma menina que sofre
abusos por parte do pai talvez crie uma profunda aversão para com os homens, que poderá conduzi-la para o
lesbianismo. Vamos citar Rekers novamente: “Certos tipos de família deixam a criança com conflitos emocionais não
resolvidos ou com sensações que irão tentá-la a buscar um atalho para o carinho, tendo relações sexuais com uma
pessoa do mesmo sexo.” (Growing up)
Outra causa de homossexualismo é o abuso sexual. Quase todas as crianças, numa certa fase, são atraídas
sexualmente para pessoas do mesmo sexo. Para a maioria, essa experiência é bem passageira. Mas se esses
sentimentos forem explorados, eles podem persistir e acabar se tornando uma prática homossexual. Os psicólogos
afirmam que, por ocasião da puberdade, as crianças são altamente impressionáveis, e se começarem a prender-se a
pessoas do mesmo sexo, seus desejos homossexuais poderão intensificar-se. Não há dúvida de que a pornografia
homossexual pode contribuir para que uma pessoa assuma uma conduta desse tipo.
Uma criança pode ser induzida ao homossexualismo também por um adulto, homem ou mulher, que deseje
manter relações sexuais com ela. Isso pode levá-la a fugir de relações normais, e assim seus sentimentos para com
pessoas do mesmo sexo se intensificarão. Muitos dos que têm esse tipo de experiência homossexual acreditam,
erradamente, que estão condenados a crescer assim. Desse modo, uma experiência isolada acaba sendo um ponto de
partida para uma forma fixa de conduta e de mentalidade. Atribui-se ao Rabi Akiba a seguinte declaração: “No
começo, (o pecado) é como um fio de uma teia de aranha, mas no fim torna-se como um cabo de um navio.”
Sempre ouvimos dizer que Deus vai castigar muito os Estados Unidos pelos pecados de seu povo, que tem
conhecimento claro da verdade. E muitas vezes eu próprio me pergunto por que não temos terremotos mais graves e
grande fome. Mas, na verdade, este país já está sendo castigado e recebendo uma punição muito mais severa do que
esses fenômenos da natureza. O castigo final de Deus sobre Israel foi o distanciamento das famílias. (Dt 28.32,64.) As
conseqüências emocionais do divórcio sobre os filhos são bem mais graves do que seria uma calamidade natural. Não
é de se admirar que uma das últimas palavras de Deus para a humanidade, no Velho Testamento, tenha sido as
seguintes, relacionadas com a vinda de João Batista (Mt 17.13): “Ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o
coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha e fira a terra com maldição.” (Ml 4.6.)
Com o rompimento das relações familiares e as atitudes de desamor e de grosseria dos pais entre si e para com
os filhos, não nos surpreendemos que existam tantas pessoas que sentem as dores da rejeição e da amargura. Por
causa disso, vemos muitos que são compelidos por esse tormento interior a buscar um relacionamento pecaminoso,
numa tentativa de aliviar sua ansiedade, seus temores e a amargura latente em seu coração. É por isso que o
homossexualismo está crescendo tanto.
Os homossexuais, quer estejam cientes disso ou não, são pessoas muito sensíveis. Eles próprios foram vitimas
de tantos erros, que se tornaram mais conscientes das atitudes e sentimentos dos outros. E muitas vezes desligam-se
totalmente do convívio da igreja por temor de serem rejeitados mais uma vez. Infelizmente, isso quer dizer que se
sentem ofendidos e abrigam mágoas contra outros com muita facilidade.
Aqueles que reconhecem seu problema devem receber nosso apoio e compreensão. Quem de nós nunca se viu
amarrado a um pecado que lhe adveio devido às falhas de uma pessoa que exercia grande influência sobre ele? O
homossexualismo é uma das muitas conseqüências do fato de este mundo estar decaído.

Existe Uma Saída?

Cristo pode transformar um homossexual em heterossexual? As opiniões dos cristãos divergem nisso.. Alguns
acham que não podemos desejar tanto, já que muitos se tornam homossexuais mesmo depois de longo
aconselhamento. O máximo que podemos esperar é que aprendam a resistir à tentação, dizem esses. Uma vez
alcoólatra, sempre alcoólatra; e uma vez homossexual, sempre homossexual, pelo menos no que se refere à sua
inclinação básica, afirmam. É possível uma pessoa não se dar às práticas homossexuais, embora ainda tenha desejo de
fazê-lo. E o argumento é o seguinte: todos nós temos que resistir às tentações sexuais, sejam elas homo ou
heterossexuais. Em qualquer dos casos, aplica-se o mesmo princípio bíblico: “Não reine, portanto, o pecado em vosso
corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões.” (Rm 6.12.)
Embora este ponto-de-vista seja louvável, eu creio que Deus pode levar um indivíduo a ultrapassar isso, quero
dizer, a redirecionar sua inclinação sexual. Falando de diversos tipos de pecadores, Paulo inclui os homossexuais, e
afirma: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome
do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.” (1 Co 6.11.) Ele deu a entender que Cristo tinha libertado essas
pessoas de uma prática de vida errônea, anterior à conversão.
Logicamente não é fácil. O homossexual que já recebeu a Cristo não deve pensar que Deus não o ama. Nem
deve concluir que não pode crescer na fé, enquanto ainda se encontra em luta com o problema. Tenho conhecido
pessoas que produziam o fruto do Espírito mesmo quando ainda analisavam sua condição com tristeza e contrição,
mas sentindo-se incapazes de se modificarem. São peregrinos como nós, em demanda da cidade celestial.
Em amor, eu gostaria de sugerir aos homossexuais alguns passos básicos, cada um dos quais leva algum tempo.
Às vezes um deles pode coincidir com outro, ou talvez não precise repetir-se, mas creio que Cristo pode libertar um
individuo tanto do desejo como das práticas homossexuais.

Arrepender-se do pecado, sem procurar justificar-se. Se alguém está perguntando por que deve arrepender-
se de desejos que não assumiu conscientemente, pense o seguinte: suponhamos que quando você nasceu sua família
estava envolvida em sérias dívidas, e a responsabilidade do pagamento delas foi transferida para você. Como
herdeiro, você está sob a obrigação de pagá-la, apesar de não ter tido participação ativa nessa questão.
Creio que nenhum de nós se arrepende plenamente, enquanto não compreender que é responsável por sua
incapacidade de obedecer a Deus. O Senhor nos responsabiliza a todos, embora sejamos por natureza filhos da ira. A
graça de Deus só é derramada sobre nós, depois que atingimos essa condição de total contrição e humildade.
Davi aprendeu o seguinte: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; o coração compungido e
contrito não o desprezarás, ó Deus.” (SI 51.17.) Não pode haver desculpas, nem explicações apelando para nossa
formação genética, nem para o ambiente. Temos que aceitar a responsabilidade de cada uma de nossas atitudes e
decisões. O homossexual tem que renunciar à sua forma de vida, assim como um alcoólatra ou um idólatra têm que
renunciar à deles.

Desencavar amarguras escondidas. Muitos homossexuais abrigam um profundo sentimento de temor e


amargura para com pessoas do sexo oposto. Mesmo quando eles não admitem possuir tais sentimentos, se fizermos
uma sondagem mais profunda, descobriremos atitudes negativas (se não raiva mesmo) para com uma pessoa do sexo
oposto, quer de sua família, ou não.
E pode haver também uma amargura ainda maior contra aqueles que fizeram alguma coisa errada contra ele. E
como o homossexualismo se desenvolve mais em famílias cujos relacionamentos foram rompidos, não é difícil
compreender por que esses sentimentos são tão enraizados e tão difíceis de serem removidos. Em alguns casos, eles
remontam à primeira infância. (Aqueles que desejarem conhecer a experiência de um conselheiro no trabalho com
homossexuais, ajudando-os a sondar bem no fundo de seus sentimentos, devem ler os livros: “Cura Para o
Homossexual”, publicado pela Colab, e “Avesso do Amor”, do Pastor Reuel Feitosa).

Procurar uma pessoa ou grupo que lhe dê apoio. Uma moça que estava lutando com o problema do
lesbianismo escreveu o seguinte: “Eram muito poucas as pessoas dispostas a ouvir, e bastante esparsas. E eu precisava
desesperadamente de pessoas que me ouvissem, às vezes por horas a fio. E não queria soluções estereotipadas.
Geralmente, essas soluções são muito simplistas ou ingênuas demais, e não ajudavam em nada. Eu precisava de
alguém que me ouvisse com a paciência e a compaixão de Deus.” Todos nós precisamos encontrar um amigo,
genuinamente convertido, que nos dê aceitação. Aliás, nossos vícios só poderão ser superados, se nos sentirmos
responsáveis perante alguém. Sem amizade e sem esse senso de responsabilidade, não pode haver libertação.

Não desanimar. Lembre-se de que todos nós lutamos com alguma coisa. Vamos aprendendo a demolir as
fortalezas da imaginação por meio da meditação na Palavra de Deus e pelo reconhecimento de nosso pecado. Mas,
enquanto neste processo, se andarmos em submissão a Deus, podemos ser uma bênção e um testemunho para outros.
Temos que depender da graça de Deus, mesmo em meio às tentações.

Lembrar que Deus não nos rejeita como pessoas. É importante que nos sintamos amados por Deus e por
outros, para que possamos ter aquela consciência de realização, a sensação de bem-estar, apesar dos impulsos para o
homossexualismo. É possível que este sentimento nos venha de forma gradual, pois às vezes é muito difícil aceitar a
idéia de que Deus nos ama. É importante não ficar culpando a Deus pelos nossos males, mas colocar de lado toda a
amargura. Enquanto colocarmos em dúvida sua bondade para conosco, continuaremos sendo derrotados.
Um homossexual me explicou como conseguira libertar-se. Sempre que se via tentado, recorria a Deus e o
louvava. Além disso, memorizara mais de duzentos versículos das Escrituras, e afinal Deus modificou seu desejo.
O segredo é a submissão a Deus. Quando nos submetemos, nos dispomos a aceitar qualquer luta que nos
sobrevier, sem o sentimento de raiva, que só faz intensificá-las.

Por último, deve haver uma renovação da mente. Conseguimos isso aprendendo os princípios da batalha
espiritual. Primeiro, precisamos reconhecer nossa posição em Cristo, para podermos, com toda firmeza, resistir às
tentações.

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. Paulo disse que pessoas que antes eram homossexuais foram lavadas, santificadas e justificadas (1 Co 6.11).
Analise bem essas três palavras e veja como elas podem ser aplicadas à sua situação em particular.

2. Paulo disse que todos nós somos “por natureza filhos da ira” (Ef 2.3). Já que todos somos responsáveis pela
nossa natureza corrupta, isso não significaria então que somos responsáveis também por condições sobre as quais não
temos controle? Como isso se aplicaria àqueles que têm inclinações homossexuais desde a puberdade?
3. Aqueles que se envolvem em práticas homossexuais recebem “em si mesmos a merecida punição de seu
erro” (Rm 1.27). Em sua opinião, qual seria essa punição?

4. Leia Filipenses 4.4-9. Que indicações Paulo nos dá sobre como devemos pensar no que é puro e bom, em vez
de abrigarmos pensamentos ímpios?

O Primeiro Passo em Direção


à Libertação

“Diga-me, de homem para homem, existe uma solução ou não? Se existe, quero saber qual é; se não, vou
estourar os miolos.”
Foi esse o grito de desespero de um homem que se encontrava amarrado a um pecado sexual. Era homossexual
praticante, dominado por terrível senso de culpa, cansado de suas ligações secretas, e de fazer promessas que não
conseguia cumprir.
Por onde ele deve começar? Exatamente no mesmo lugar onde todos nós temos de começar. Temos que saber
que podemos ser perdoados e começar uma nova vida. Temos que acertar o passado antes de seguirmos adiante para
o futuro, pois o pecado que nos condena é nosso feitor. Se continuarmos a nos sentir culpados, impuros, e estivermos
dominados pelo auto-desprezo, estaremos condenados a continuar escravizados ao pecado.
Veja se você consegue identificar-se com o que disse William Justice:

“Cada vez que fracassamos em nossa tentativa de cumprir o dever, temos a tendência de nos punir
por isso, e o resultado é outro fracasso. E a cada vez que falhamos, a reação é a mesma: não podia ter
falhado!... Mas depois de cair outra vez no erro, eu me castigo de tal maneira, que o resultado é uma
sensação de fracasso ainda mais intensa. E o circulo se fecha aí, apenas para reiniciar de novo. Deixei de
conduzir-me como era meu dever, e por isso me sinto culpado. Dominado pelo senso de culpa, sinto que
preciso pagar pelo erro. Para isso, tomo uma atitude que me deixará com a sensação de ter fracassado...
e assim o ciclo vai se repetindo, rodando sempre mais e mais para baixo. Isso pode ser comparado a uma
bola de neve que está rolando morro abaixo e que a cada giro que dá aumenta de tamanho e de
velocidade. A carga de culpa que vai sempre acrescentando a si é sempre maior e a velocidade da queda
mais e mais rápida. Este círculo vicioso dos perdidos está sempre girando, constantemente para baixo, e
tem o potencial de durar pela eternidade. Pelo menos, está é uma característica do inferno!” (Guilt and
Forgiveness - Culpa e perdão - Baker Book House.)

O tempo não apaga a culpa. Não se trata simplesmente de uma sensação que, depois de algum tempo,
aprendemos a ignorar. Tampouco ela surge em nós por causa das repressões da sociedade. Não; ela é uma reação
natural do homem, dada por Deus, uma reação às suas falhas morais. Nenhum tipo de fuga, seja pelas drogas, pelo
sexo ou por prazeres que ocupem nossa atenção, pode remover essa impureza. Se não buscarmos o perdão e a
purificação, nossa atitude será a de desistir de tudo e dizer: “Já estou mesmo com a vida atrapalhada; então, por que
não faço de novo?”
Felizmente, Deus tem uma excelente cura para o senso de culpa: o perdão dos pecados, pois Cristo, com sua
morte, fez a propiciarão por nossos pecados.
Um ateu perguntou a Billy Graham o seguinte: “Se Hitler, em seu leito de morte, tivesse recebido a Cristo, ele
iria para o céu; e uma pessoa que tivesse levado uma vida correta, mas tivesse rejeitado a Cristo iria para o inferno?”
É uma pergunta capciosa. O objetivo era fazer com que o evangelho fosse posto em ridículo. Mas a resposta é sim. Se
Hitler viesse a confiar em Cristo, Deus poderia perdoá-lo totalmente, pois a morte de Cristo abarcou os pecados dele
também. Deus dá tanto valor a Cristo, que ele aceitaria até Hitler, se este o buscasse confiado nos méritos de Cristo.
Mas ele não pode aceitar ninguém que não vá a ele através do Senhor Jesus Cristo.
Lemos em Zacarias 3 que o sumo sacerdote Josué estava sendo purificado pelo Senhor, enquanto Satanás, que
observava aquilo, atirava acusações contra ele. Por que Satanás estava tão interessado nos pecados de Josué? Não era
porque estivesse querendo que ele não entrasse no céu com roupas sujas. Ele estava irado, porque constatava que
Deus podia colocar roupas limpas num pecador. Queria que Josué continuasse com suas roupas imundas.
Cristo pode purificar-nos apesar de todos os protestos do diabo e de nossa consciência manchada. Spurgeon
escreveu o seguinte:

“Fique onde está, e lembre-se, você está na única posição em que a sujeira pode ser lavada; está
diante do anjo da aliança. O pecado deve ser confessado perante Cristo. Se o confessar em qualquer
outra situação, a tristeza que sente não é arrependimento, é remorso. ‘O que é remorso?’ indagará
alguém. Remorso é um arrependimento que se tem longe de Cristo. O verdadeiro arrependimento é
tristeza pelo pecado na presença de Jesus. Do modo como você está, pecaminoso e sujo, existe apenas
uma voz que pode pronunciá-lo limpo. Não se afaste dessa voz. Existe uma única mão que pode tocá-lo
tornando-o puro; fique numa condição em que esteja perto dessa mão, e, apesar de suas roupas estarem
imundas, não rejeite o rosto de seu melhor amigo, de seu único amigo, mas murmure a seguinte oração:
‘Senhor, se quiseres, podes purificar-me. Tu podes purificar-me. Purifica-me! Purifica-me agora! Por teu
amor!’” (Treasury of the Bible Old Testament - Tesouraria Bíblica - Velho Testamento - Zondervan.)

Você já se indagou se recebeu perdão completo? Ou talvez tenha duvidado de que seu arrependimento fosse
genuíno? O arrependimento não é apenas uma mudança de mente (como muitos pensam). É uma mudança de direção,
também.
A Bíblia é muito clara. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos
purificar de toda injustiça.” (1 Jo 1.9.)

A Confissão Anda Junto com o Arrependimento

A palavra confessar literalmente significa “concordar com”. A confissão tem que estar junto com o
arrependimento. As duas palavras revelam uma submissão sincera a Deus, e, ao mesmo tempo, o reconhecimento da
malignidade do pecado. Se apelarmos para a graça de Deus a fim de justificarmos uma conduta errada, não estamos
concordando totalmente com Deus.
Um estudante de medicina, membro de igreja, resolveu praticar um aborto em sua esposa. Mesmo sabendo que
era pecado, orou antes da cirurgia, nos seguintes termos: “Ó Deus, perdoa o pecado que estou para cometer, e guia
minha mão.” Infelizmente, a esposa dele morreu em conseqüência de complicações resultantes da operação. O fato é
que ele não fora totalmente sincero naquele “concordar”. Embora nunca devamos pôr condições à graça de Deus,
precisamos lembrar que confessar implica em não escondermos nada dele. É uma concordância plena.
O Salmo 51 é um exemplo da verdadeira confissão. Davi teve que relembrar os compassivos atributos de Deus,
para depois apresentar-se a ele pedindo perdão e purificação. Ele começa dizendo: “Compadece-te de mim, ó Deus”
(v. 1). O termo hebraico aí empregado significa “dar favor imerecido”. Ele estava pedindo algo que não merecia
ganhar. E apelou para a benignidade divina, para suas “misericórdias” (v.1). A palavra benignidade, no original, vem
da mesma raiz que a palavra cegonha, aquela ave de grande porte que faz seu ninho bem no alto das árvores, e é
conhecida por seu zeloso cuidado com os filhotes (e por isso sua imagem é associada ao nascimento de bebês). E em
seguida ele menciona as misericórdias de Deus. Davi estava pensando na compaixão de uma mãe pelo seu frágil bebê,
que nada pode fazer em favor de si mesmo. Ela nunca o abandona.
Deus tem sentimentos que podem ser movidos pelas nossas sensações de desamparo e fracasso. Ele não nos vira
as costas. Pelo contrário, somos nós que damos as costas para ele. Não precisamos fazer nada para convencê-lo a
aceitar-nos; a única coisa que temos a fazer é voltar-nos para ele e receber sua graça.
Aqui podemos sentir a submissão plena de Davi. Ele não está pedindo a Deus que o ajude a sair da enrascada
em que se meteu. Ele entrega tudo na mão de Deus, e aceita com satisfação o que ele fizer.
Uma pessoa totalmente arrependida não se apresenta diante de Deus com um plano já traçado. Não faz
nenhuma tentativa de subornar ao Senhor, nem heróicas promessas de se comportar bem da próxima vez. A auto-
justificação conduz ao autodesprezo.
Jó passou horas e horas reclamando do modo como Deus o tratara. Mas, quando afinal viu a Deus, esqueceu
todos os discursos que havia ensaiado tão bem. “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por
isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza.” (Só 42.5-6.)
Enquanto estivermos nos agarrando a uma partícula de justiça própria, na verdade ainda não nos
arrependemos. Enquanto abrigarmos a idéia de manter em aberto a opção de pecar - isto é, se pensarmos que talvez
venhamos a pecar de novo - na verdade não chegamos a uma concordância plena.
E o preço disso é uma escravização maior ao pecado.

Reconhecendo a Rebelião Contra Deus

Às vezes temos um trabalhão imenso para ocultar nosso pecado. Um homem que estava amando a esposa de
outro mantinha um aparelho em seu telefone para saber se ele estava sendo censurado. Nós lançamos mão de
mentiras, enganos e atos teatrais para manter nosso pecado em segredo.
Manter o segredo é a palavra de ordem.
Que engano!
Todo pecado é cometido contra Deus, o grande Legislador. Davi emprega três palavras quando se refere à sua
imoralidade: transgressões, iniqüidade e pecado. Todas as três sugerem um padrão absoluto. Ele pecara de punho
cerrado contra Deus.
Davi reconheceu abertamente sua rebelião: “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os
teus olhos.” (Sl 51.4.)
Nós podemos ser tentados a dizer: “Espere aí, Davi. Você pecou contra Bate-Seba e matou Urias - não foi um
ato particular, entre você e Deus apenas.” Mas ele reconheceu que o pecado é cometido primeiramente contra Deus.
Podemos magoar outros com nosso pecado, mas ele constitui uma rebeldia contra o Legislador. Suponhamos que uma
criança desobedeça aos pais que lhe haviam dito que não tocasse num vaso de porcelana que está sobre um móvel.
Mas ela toca e o objeto de adorno cai no chão e se quebra. O irmãozinho menor pisa sobre os cacos e se machuca. A
questão básica é a desobediência aos pais. O fato de o menorzinho haver-se ferido é secundário.
Se Bate-Seba não tivesse ficado grávida, Davi não teria matado Urias, mas sua comunhão com Deus teria ficado
rompida assim mesmo. Para Deus não importa muito se as conseqüências de nosso pecado se tornaram conhecidas de
outras pessoas.
Um casal de namorados, membros de igreja, ante a suspeita de que a moça estivesse grávida, ficou muito
perturbado. Mas depois que ela foi ao médico e ficou sabendo que tudo não passava de “suspeita”, eles se sentiram
bastante aliviados, e foram a um elegante restaurante de Chicago, para comemorarem o fato com um jantar. Estavam
felizes de saber que seus temores eram infundados. Isso não é arrependimento.
Uma jovem que pratica um aborto pode ter senso de culpa por ter matado uma criança, e, no entanto, se
esquece do que fez contra Deus. Isso é uma concordância pela metade.
“Todas as cousas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.” (Hb 4.13.)
Atos que são praticados secretamente serão proclamados do alto dos telhados. A vergonha não será mais escondida.
No céu, os pecados secretos já são públicos. O Dr. Lewis Sperry Chafer disse o seguinte: “Um pecado secreto na terra
é um escândalo público no céu.”
Conta-se que certa mulher foi lavar sua roupa suja num rio, mas ela estava com vergonha de expor a roupa
imunda e não quis tirá-la do cesto diante das outras mulheres. Então ela mergulhou todo o cesto na água diversas
vezes, e depois voltou para casa. Algumas vezes, nós confessamos nossos pecados assim. Nós os colocamos diante de
Deus rapidamente, tudo num trouxa só. Na verdade, não estamos sendo sinceros nem com Deus nem com as pessoas
que nos cercam.
John White escreveu o seguinte: “Quando vamos falar com Deus sobre nossos pecados temos que fazer uma
opção: ou nos justificamos a nós mesmos, ou justificamos a Deus. Não podemos fazer as duas coisas. Se eu estiver
certo, então Deus está errado. Se eu disser: ‘Se o Senhor me condenar, estará agindo totalmente errado, pois não
posso ser responsabilizado pelo que faço’ e assim por diante, estou contestando o justo julgamento de Deus. Estou
atribuindo erro a Deus, quer esteja ciente disso ou não.” (Daring to Draw Near - Atrevendo a se aproximar -
InterVarsity Press.)
Você ainda está suavizando a malignidade de seu pecado? Está chamando seu adultério de “caso”? Está
argumentando que tem certas necessidades que Deus precisa levar em consideração? Se assim for, não está em plena
concordância com Deus.
Certo homem tinha o hábito de ficar olhando as publicações pornográficas na banca de uma loja. Nunca
comprava nada, mas gostava de parar ali e ficar folheando-as, apenas para ficar em dia com as últimas novidades.
Depois ele confessava seu pecado, restaurava sua comunhão com Deus, mas passado algum tempo lá estava ele de
volta, olhando de novo.
Um dia ele compreendeu que realmente não achava que o que fazia era pecado. Havia confessado o pecado
apenas por causa do senso de culpa, e não por reconhecer que ofendera a Deus. Mas ao entender que suas ações eram
praticadas diante de Deus e que o Senhor poderia castigá-lo, permitindo que fosse apanhado nas armadilhas da
sensualidade, passou a ter um temor salutar dessa prática secreta. “Depois disso”, falou ele, “nunca mais quis tocar
naquilo, temendo o que Deus poderia fazer à minha vida. Nunca mais considerei aquilo uma opção viável.”
Como um alcoólatra recuperado, que não pode arriscar-se a tomar nem um copo de vinho, esse homem
finalmente reconheceu que a pornografia era um mal, e não confiava em si mesmo para enfrentá-lo. Sabendo que
aquilo era uma porta aberta para a escravização, permitiu que Deus o removesse de sua vida completamente. Jesus
disse: “Não peques mais, para que não te suceda cousa pior.” (Jo 5.14.) Aí vemos o erro do raciocínio seguinte: “Se
eu pecar muito, posso ser muito perdoado, e experimentarei um maior volume da graça de Deus.” Deus pode deixar-
nos emaranhados no pecado, e até permitir que nosso coração se endureça.

Assumindo a Responsabilidade Pelo Pecado

Davi emprega as palavras me, mim, meu, minha dez vezes nos três primeiros versos do Salmo 51. Ele não
acusou Bate-Seba, embora ela também tivesse culpa - por que tinha de estar tomando banho num terraço, ao sol da
tardinha?
Davi não apresentou desculpas para o pecado. Alguém escreveu o seguinte num muro de uma cidade grande:
“Ele caiu porque foi empurrado.” A idéia era de que ninguém é diretamente responsável pelo que faz. A culpa é de
sua herança genética ou do ambiente em que vive.
Somos tentados a dizer também que o padrão de conduta que Deus coloca diante de nós é muito elevado, e que
ele deve estar zombando de nós, estabelecendo um padrão que sabe que não podemos alcançar. Mas devemos
lembrar que ele veio até nós para ajudar-nos. Santo Agostinho disse: “Ó Deus, exige de nós o que quiseres, mas dá-
nos o que exiges.” Por intermédio de Cristo, podemos ser perdoados e aceitos diante de Deus.
Concordar com Deus implica em reconhecer que não temos mais nenhuma desculpa a apresentar. Chegamos à
presença dele sem defesas próprias e sem fazer objeções às medidas que ele queira tomar. Tozer escreveu o
seguinte: “Para Deus nos resgatar, primeiro ele nos quebranta, destroça nossas próprias energias e arrasa nossa
resistência. Aí então ele penetra em nossa natureza com aquela sua vida eterna que existe desde o começo. Assim ele
nos derrota, e com essa derrota benigna, nos salva para si mesmo.”

Aceitar a Purificação Bem Como o Perdão


É; há uma diferença. Uma pessoa pode ser perdoada e ainda sentir-se impura. Davi fez a seguinte oração:
“Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado.” (SI 51.2.) A purificação é a aplicação
do perdão em nosso interior. O perdão é um ato de Deus, realizado à parte de nós. Está relacionado com a nossa
situação legal diante de Deus. Quando ele nos perdoa, ele credita em nossa conta a justiça de Cristo. A purificação é
um ato que Deus opera em nosso interior, limpando nossa mente e consciência.
Se alguém já buscou o perdão de Cristo, mas ainda tem sentimento de culpa, deve insistir na purificação, e
assim seu coração ficará em harmonia com seu conhecimento teológico. Depois que confessamos um pecado
especifico, não o confessamos mais; pela fé, temos a purificação.
Uma consciência impura sufoca a alegria e a satisfação que Cristo veio trazer-nos. Davi sabia que os erros
causados pelo seu pecado não poderiam mais ser reparados e, no entanto, ele pôde cantar de alegria. Desejava
sentir-se tão limpo interiormente, que a mancha do pecado desaparecesse para sempre.
A neve cai do céu branquinha, sem nenhuma impureza visível. Às vezes sua brancura é tão intensa, que quase
pode cegar um individuo. E, no entanto, Davi pede a Deus que o torne “mais alvo que a neve”. Não é grande a graça
do nosso Deus em fazer isso?
Quase todos os ataques satânicos são dirigidos à nossa consciência. Os espíritos malignos querem fazer com que
nos sintamos impuros, imundos, sem esperanças de recuperação. E não é tentando convencer-nos a nós mesmos de
que somos pessoas boníssimas, que poderemos superar esses sentimentos de autodesprezo. Antes temos de
reconhecer que não há nada de bom em nós; não temos recursos interiores para resistir a tais ataques. Mas quando
passamos a depender de Cristo, somos purificados, e é assim que o pecado perde sua força sobre nós.
Os psiquiatras estão tratando das pessoas, dando-lhes comprimidos para dormir, quando Deus quer que elas
fiquem despertas, sentindo todo o peso de sua consciência culpada. Depois que somos purificados, aí então ficamos
em paz diante de Deus e de nós mesmos.

Aceitar a Disciplina de Deus

Uma maneira de se saber se uma pessoa se arrependeu realmente de todo o coração é observar sua atitude
para com a disciplina. Nenhum de nós gosta de ver seus pecados expostos aos olhos de todos; mas, se o forem,
devemos aceitá-lo sem queixas.
A diferença entre Davi e Saul está justamente na atitude que tiveram quando se arrependeram. Saul disse:
“Pequei; honra-me, porém, agora diante dos anciãos do meu povo e diante de Israel.” (1 Sm 15.30.) Uma pessoa pode
repetir essa confissão milhares de vezes, mas ela não lhe granjeará a misericórdia de Deus.
Davi também disse: “Pequei”, mas não fez nenhum esforço para manter sua reputação, nem sua posição de rei.
Tempos depois, quando foi obrigado a deixar Jerusalém, pediu que a arca de Deus fosse levada de volta para esta
cidade. “Se achar eu graça aos olhos do Senhor, ele me fará voltar para lá, e me deixará ver assim a arca como a sua
habitação. Se ele, porém, disser: Não tenho prazer em ti; eis-me aqui, faça de mim como melhor lhe parecer.” (2 Sm
15.25-26.)
Certa mulher ficou muito desgostosa com o tratamento que recebera da igreja, ao ser disciplinada por ela. E se
pôs a difamar os diáconos, falando mal do que haviam feito. Uma atitude assim revela que não houve
arrependimento. Uma pessoa quebrantada pelo seu pecado submete-se à disciplina, mesmo que ela seja injusta,
recebendo-a como se estivesse vindo de Deus. Mas se houver apelos para tratamentos especiais, se houver tentativas
de auto-justificação, o arrependimento não foi completo.
Nenhum ato de adultério se tornou mais público que o de Davi. Durante esses trinta séculos, milhares e
milhares de pessoas já leram a história de seu pecado. Sua oração de arrependimento não apenas foi escrita, mas
também cantada no templo. Que ironia, que um homem que tentou ocultar seu pecado tivesse de vê-lo tão exposto!
Não estou sugerindo que todos os pecados sexuais devam ser divulgados publicamente, mas quando
concordamos com Deus sobre nosso pecado, não mais tentamos esconde-lo. “O que encobre as suas transgressões,
jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” (Pv 28.13.) o homem arrependido entrega
a Deus sua reputação, e confia em que ele fará “o que for melhor aos seus olhos”. Richard Roberts escreveu certa vez
que uma pessoa está realmente arrependida “quando o temor da vergonha e de ver o pecado exposto, coisa que antes
a apavorava, agora é considerado como nada, diante da perspectiva de purificação e de renovação interior”.
A submissão à disciplina implica também em fazer a reparação. Pode ser que essa reparação consista apenas
em nos humilharmos e pedirmos perdão àqueles contra quem erramos. Mas, se não tivermos um espírito de contrição,
ainda estamos abrigando amargura no coração.

Uma Ficha Limpa

O Velho Testamento fala de dois tipos de pecado. O primeiro é o pecado cometido num momento de
alucinação, sem pensar muito. O outro é um pecado de desobediência frontal, ou um pecado arbitrário. Davi cometeu
os dois. Urias levou quatro dias para voltar a Jerusalém, e permaneceu na cidade três dias antes de voltar à frente de
batalha. Davi teve muito tempo para tramar seu plano de mandar matar o soldado. Foi um pecado arbitrário,
pensado.
Ademais, adultério e assassinato eram pecados para os quais não havia sacrifícios de animais. Ambos deviam ser
punidos com apedrejamento. Foi por isso que Davi disse: “Pois não te comprazes em sacrifícios, do contrário eu tos
daria; e não te agradas de holocaustos.” (Sl 51.16.) Não havia reparação para esses pecados. Davi poderia chorar
noite e dia e viver com remorso até o fim de sua vida, que a virtude de Bate-Seba não seria mais restaurada, nem
Urias voltaria a viver e, no entanto ele recebeu o perdão, porque se apresentou a Deus com uma atitude de total
dependência da graça do Senhor.
Conhece pessoas que cometeram pecados para os quais não há reparação? Conheço um homem crente que vive
atormentado pela lembrança de que gerou um filho, e que aquela mulher está em algum lugar cuidando dele sozinha.
E há também um casal que doou um filho para ser adotado. Depois que se converteram a Cristo, vieram a
descobrir que o filhinho deles fora entregue a uma família que pertence a uma seita religiosa falsa. Agora têm que
viver sempre lembrando que seu filho não está recebendo uma formação cristã.
Certo homem tornou-se muito hábil na arte da sedução, e começou a induzir jovens à prostituição. Nessas suas
ligações amorosas, gerou várias crianças. Será que uma pessoa assim pode ser perdoada?
Todos nós podemos ser perdoados e purificados. Se tentarmos nos purificar a nós mesmos, continuaremos sujos,
mas quando Deus nos lava, aí então ficamos limpos.
Quem diz que Deus pode perdoá-lo, mas ele mesmo não se perdoa, está abrigando um orgulho diabólico. Será
que exigiremos de nós mais do que Deus exige? Será que temos o direito de reter o perdão quando o próprio Deus, o
Deus puro e santo, já o concedeu? O remorso nada mais é que uma tentativa de resolver o problema do pecado sem a
atuação de Cristo.
Lemos em João 8 o relato sobre a mulher que foi apanhada em adultério. Os fariseus queriam que Cristo a
apedrejasse, e ele consentiu, convidando-os a serem os primeiros a lançar as pedras. Vendo que não conseguiam fazê-
lo, devido aos seus próprios pecados, ele virou-se para ela e disse: “Nem eu tão pouco te condeno; vai, e não peques
mais.”
Alguém já disse que Deus lança nossos pecados nas profundezas do mar e depois coloca ali uma placa: “É
proibido pescar.”
“Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito não o desprezarás, ó
Deus.” (SI 51.17.) Esses são os primeiros passos para se ser liberto da sensualidade.

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. Um exemplo claro de arrependimento insincero é o do Rei Saul. Leia as passagens seguintes, e veja porque
Saul não chegou a uma “concordância plena” com Deus - 1 Sm 15.24-31; 24.16-22; 26.21-25; 28.6-25.

2. Leia Jó 40.1-5. De que foi que Jó teve de se arrepender? Quais são algumas das características de seu
arrependimento?

3. Leia a oração de arrependimento de Daniel (Dn 9.3-19). Que outras verdades adicionais ele acrescenta ao
nosso conhecimento sobre arrependimento?

4. Podemos resumir o livro de Juízes no circulo vicioso de arrependimento e castigo, visto no trecho 2.11-23.
Quais eram os passos deste círculo? Que castigos Deus impôs a eles? Como isso pode aplicar-se a nós?

10

Cristo Pode Transformar-nos

“Cada alma renovada é o cenário e o palco onde se acham em combate perpétuo as duas forças contrárias mais
poderosas do mundo: o espírito e a carne; isto é, a luz e as trevas, a vida e a morte, o céu e o inferno, o bem e o
mal, Miguel e seus anjos contra o dragão e os seus”, escreveu o pensador puritano John Gibbon. (Puritan Sermons,
Vol. 1 - Sermões Puritanos - Richard Robens Publishers.)
Todos nós já nos irritamos alguma vez com pessoas que, seriamente, esperam que façamos o impossível. É
como dizer: “Anime-se!” para uma pessoa que está deprimida, como se nossas emoções pudessem ser controladas,
como um torneira que se abre e fecha quando se quer.
A Bíblia está cheia de mandamentos aparentemente impossíveis. “Não reine, portanto, o pecado em vosso
corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões.” (Rm 6.12.) Paulo escreveu isso como se pudéssemos dizer
simplesmente:
“Está bom, lascívia, faça o que quiser, mas não vou obedecer-lhe mais. Nada mais de fantasias, pornografia,
masturbação. Acabou!”
Quem de nós nunca disse: “Nunca mais”, para um determinado pecado, apenas para mais tarde voltar a dizer a
mesma coisa?
Será que Paulo está nos dando um mandamento impossível? Será que Deus está zombando de nós, quando
coloca diante de nós padrões tão elevados, e depois nos repreende por não conseguirmos alcançá-los? Mark Twain
expressou raiva contra Deus por ter ele dado a cada ser humano uma fonte de alegria e prazer, e depois ter proibido
sua apreciação antes do casamento, restringindo-o a apenas um companheiro.
Alguns dos mandamentos de Deus são impossíveis? Pensemos nas palavras de Cristo para o homem que estivera
paralítico trinta e oito anos: “Toma o teu leito e anda.” (Jo 5.11.) O homem poderia ter argumentado: “Então me
cura, primeiro, e depois eu andarei.” Mas ele não disse isso. Pela fé, ele obedeceu, e Deus tomou o controle da
situação a partir daí. Aquele homem paralítico recebeu a ordem de fazer o que era impossível, e, para surpresa sua, o
conseguiu.
Vejamos o mandamento: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às
suas paixões.” (Rm 5.12.) Paulo reconhecia que todo coração humano tinha essa inclinação para a lascívia. Como
podemos conseguir que ela não reine em nós? A capacitação vem juntamente com o mandamento. Sejam quais forem
as nossas escusas e racionalizações, o fato é que Paulo não daria o mandamento de nos afastarmos das paixões, se
não acreditasse que isso era possível a todos nós. Tudo que Deus nos manda fazer está cimentado no que ele já fez
para tornar possível a nossa vitória. A obra de Jesus na cruz nos trouxe o perdão e um caminho de acesso a Deus, e o
Espírito Santo que em nós habita dá-nos o poder para a vida. O padrão de Deus é de fato elevado, mas seu poder está
à nossa disposição, para resistirmos às paixões ou a qualquer outro pecado. É necessário que compreendamos
plenamente a provisão feita por Deus para nós, a fim de que possamos aplicá-la à nossa vida.

Compreendendo a Cruz

A morte de Cristo na cruz nos traz duas bênçãos. Nós, entretanto, estamos mais familiarizados com a primeira
do que com a segunda. O leitor se lembra de quando compreendeu que o perdão dos pecados não é baseado em suas
boas obras, mas que a morte de Cristo constituiu um sacrifício completo, pelos nossos pecados, perante Deus? Jesus
pagou a Deus toda a nossa dívida. Ele disse na cruz: “Está consumado.” Isso quer dizer totalmente pago.
Você já conversou com alguém que acredita que a salvação resulta de um esforço conjunto entre o homem e
Deus? É preciso aliar à fé as boas obras, argumentam alguns. Essa doutrina gera incertezas. Nunca podemos estar
certos de que fizemos nossa parte corretamente; e mais, a Bíblia ensina que Deus não aceita nossa justiça. Já que a
obra de Cristo é completa, nossa responsabilidade é crer (Ef 2.8-9). O Novo Testamento ensina que Cristo não apenas
pagou toda a nossa divida, mas também ganhou a guerra toda. Sua provisão para nós não termina com seu sacrifício
em nosso favor. Temos em Colossenses uma descrição de sua obra contínua. “Perdoando todos os nossos delitos;
tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial,
removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs
ao desprezo, triunfando deles na cruz.” (Cl 2.13-15.)
É verdade que Satanás ainda está solto e a rebelião contra Deus é geral, mas isto não deve levar-nos ao engano.
Como os homens estão agitando os punhos cerrados contra Deus e fazendo o que querem, podemos ficar com a
impressão de que a vitória de Cristo não foi decisiva.
Mas não há margens para dúvidas. Ele se acha muito acima de todos os poderes contrários a ele. “(Deus)
ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado e
potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no
vindouro. E pôs todas as cousas debaixo dos seus pés.” (Ef 1.20-22.)
Isso se refere a anjos, demônios e nações. Deus está tolerando a rebelião humana porque, em sua misericórdia,
resolveu adiar a aplicação do castigo. Ele está esperando que o mundo chegue à beira da autodestruição; e depois
voltará para governar como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Todas as questões legais concernentes à sua
autoridade e poder já estão resolvidas; Cristo governará o mundo.
Temos que estar firmemente convencidos de que Cristo é o Conquistador poderoso, para enxergá-lo sentado no
céu. Sua obra está consumada. A batalha já terminou. Ele está representando o seu povo perante Deus.
Qual a importância disso para nós que estamos nessa luta, em que damos dois passos para frente e três para
trás? Sabemos que Cristo é vitorioso, mas ele parece tão distante de nossos combates pessoais.
A boa-nova é que todos os que receberam a Cristo estão identificados com a sua vitória. Paulo, mais de cem
vezes, se refere ao fato de estarmos “em Cristo”. Estamos até sentados com ele à mão direita de Deus, o Pai (Ef 2.6).
Todos nós temos dois endereços: um na terra e outro no céu. Fomos libertos do domínio das trevas e trasladados para
o reino do seu amado Filho (Cl 1.13).
Se compreendermos bem essas verdades, saberemos que não somos mais obrigados a obedecer às nossas
paixões. Podemos partilhar da autoridade que Cristo exerce sobre elas. Se isso não fosse verdade, seria impossível
guardarmos os mandamentos do Novo Testamento. Deus estaria esperando de nós o impossível. Assim como ele sabe
que não temos capacidade para perdoar nossos próprios pecados, sabe também que não conseguiremos nos libertar
deles por nós mesmos. Andrew Murray afirmou o seguinte: “Lembremos que, por mais que detestemos essas facetas
de nosso ego que se revelam interiormente, e por mais que desejemos ser libertos disso, nenhum esforço próprio,
nem autodesprezo, nem auto-crucificação nos trará o menor alívio. É Deus quem deve operar essas coisas em nós.”
Paulo nos exorta à santidade diversas vezes, não porque nós mesmos possamos mudar nosso caráter. Mas
podemos permitir que Deus nos transforme, pois estamos em Cristo, e este fato pode afetar nossa conduta.
Lendo as cartas de Paulo, ficamos impressionados com o número de mandamentos que ele dá e que se acham
fundamentados no fato de estarmos em Cristo. Lemos em Romanos, por exemplo, que sendo batizados em Cristo
participamos de sua morte e ressurreição. Por causa do que Deus realizou aí, ele pôde dar-nos o seguinte
mandamento: “Assim também considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus.” (Rm 6.11.)
A seguinte afirmação de Paulo: “Se fostes ressuscitados juntamente com Cristo” constitui a base para toda uma série
de injunções entre as quais “buscai as cousas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus” (Cl 3.1), e
“fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão, lascívia, desejo maligno, e a avareza,
que é idolatria.” (3.5.)
Em alguns casos, Paulo escreve capítulos inteiros dizendo primeiro o que somos em Cristo, para depois
apresentar mandamentos específicos sobre a conduta cristã (Ef 1-3). As bases nas quais podemos resistir às tentações
não são os nossos sentimentos do momento, pois nossas emoções variam muito; nem o fato de termos tido pela manhã
um bom momento devocional, na presença do Senhor, pois isso não acontece todos os dias. Tampouco não é porque
já nos convertemos há vinte anos, e nem pela profundidade de nossa devoção a Deus. E certamente não é também o
fato de estarmos cansados de errar, e resolvidos a tomar uma providência. Seria o mesmo que achar que um elefante
poderia voar se resolvesse seriamente fazer uma tentativa. As bases sobre as quais podemos obedecer aos
mandamentos é a obra que Deus já realizou por nós, através de Jesus Cristo.
Se Cristo, que é o nosso cabeça, está no céu, e se somos membros de seu corpo, conclui-se que nós também
temos acesso ao Pai, e estamos “sentados” à destra de Deus. O pecado também está debaixo de nossos pés.

Usando Nossa Autoridade

Eu costumava meditar muito nas palavras de Paulo: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não
estais debaixo da lei, e, sim, da graça.” (Rm 6.14.) Não conseguia entender como estamos livres do poder do pecado
simplesmente por estarmos debaixo da graça. Mas depois vim a compreender que, se estivéssemos debaixo da lei,
teríamos que servir a Deus para receber suas bênçãos. Mas estando debaixo da graça, primeiro Deus me abençoa, e
depois me capacita a servi-lo. E dessa posição de força podemos obedecer a ele.
Deixe-me ilustrar isso.
Havia em St. Louis uma mulher solteira que estava vivendo com um homem mais velho, casado. Ela tinha muito
senso de culpa por causa desse relacionamento, e vivia irritada. Um dia um amigo lhe sugeriu que se mudasse
imediatamente, e ela respondeu:
- Não posso... o apartamento é meu.
Ela já havia pedido ao companheiro para sair, mas ele não queria, e ameaçou-a dizendo que, se ela insistisse,
ele se vingaria. Como já viviam juntos havia mais de um ano, ele argumentava que tinha direitos sobre o imóvel
também, apesar de não serem casados legalmente.
A mulher ignorou as ameaças dele e procurou um advogado para conseguir um mandato para que ele fosse
despejado.
Ele ficou furioso e brigou e esbravejou. Ela teve tanto medo que precisou de proteção policial. Afinal, depois
que ele saiu, ela mandou trocar as fechaduras das portas. Embora ela ainda esteja atemorizada, está caminhando
para uma restauração espiritual e emocional.
O que fez com que uma mulher de pouco mais de cinqüenta quilos expulsasse um homem de noventa? A lei
estava do lado dela. Em última análise, aquele homem não tinha direito algum sobre a casa, por mais que berrasse.
Todas as nossas batalhas legais, no campo espiritual, já estão resolvidas; temos todo o direito de expulsar o
inimigo (a carne e o diabo) das dependências de nossa vida. Esses inimigos não nos deixam viver em paz. Eles
discutem, mentem e ameaçam. Ficam a lembrar-nos todos os benefícios que teríamos se os deixássemos estar ali
tranqüilos. Fazem até promessas de se modificarem, mas não querem sair. E mesmo depois que são obrigados a sair,
tentam entrar em contato conosco novamente, para ver se já estamos dispostos a fazer-lhes concessões.
Mas podemos dizer não para a carne. Nossos inimigos já foram derrotados. A fé lhes ordena, em nome de Jesus,
que saiam, apesar dos protestos que possam fazer. Mas se não estivermos bem cientes de nossa condição em Cristo, e
não compreendermos nossos direitos, iremos dizer: “Tentei mudar, mas não consegui.” E nem mesmo o fato de nos
rendermos totalmente a Deus - embora isso seja de grande importância - nos será de muita valia se não tivermos toda
a convicção de que Deus nos capacita a dizer não às nossas paixões carnais. Em Cristo já temos a vitória nessa guerra.
Quando Cristo morreu, ele tinha em mente pessoas como nós, e por isso seu poder pode ser estendido a
qualquer um. Nossas paixões talvez sejam muito fortes, mas isso não é motivo para estarmos debaixo das ordens
delas. Não se trata também de nos tornarmos mais fortes que elas para superá-las. Não é pela resolução que obtemos
forças, mas pela fé na vitória de Cristo. E se compararmos nossos desejos com o poder de Deus, ganharemos renovado
ânimo. Existe esperança para nós nessa luta.
Quando Hudson Taylor aprendeu a depender totalmente de Deus, descobriu a maravilhosa verdade que o lugar
onde estava e a extensão das dificuldades que enfrentava não tinham muita importância. Afinal, Deus iria suprir as
suas necessidades, e, portanto, o fato de elas serem pequenas ou grandes não significavam nada. “Não faz muita
diferença para o meu servo que eu o mande comprar coisas que custam pouco ou artigos mais caros. Em qualquer um
dos casos, é a mim que ele recorre para pedir o dinheiro, e me traz as compras.” (Hudson Taylor's Spiritual Secret -
O segredo espiritual de Hudson Taylor - Moody Press.) Os recursos espirituais de que dispomos são proporcionais às
nossas emergências, quaisquer que forem. O problema das paixões carnais não é insolúvel.
Se resistirmos à autoridade de Cristo sofreremos fracassos. Podemos até nos sair bem por algum tempo, mas
sem uma continua dependência dele, falharemos.

Compreendendo o Espírito Santo

É possível que, antes de nos convertermos, não tenhamos sentido nenhum conflito interior. Talvez déssemos
satisfação aos nossos desejos da forma que achávamos mais adequada. Mas depois que confiamos em Cristo como
nosso Salvador, recebemos o Espírito Santo. E o Espírito se contrapõe à carne. Paulo fala desse conflito: “Porque a
carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que
porventura seja do vosso querer.” (Gl 5.17.)
Mas o apóstolo antecede essa descrição do conflito com uma afirmação muito importante: “Digo porém: Andai
no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.” (5.16.) É uma promessa que podemos segurar com todas
as forças. Por mais fortes que nossas paixões possam ser, não são mais fortes que o Espírito Santo. Se andarmos no
Espírito, nossas paixões não poderão governar-nos de modo algum.
Paulo salientou a necessidade de cooperarmos com o Espírito Santo, para nos libertarmos do poder da carne.
“Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo,
Certamente vivereis.” (Rm 8.13.) Se compreendermos então o poder do Espírito Santo, resistiremos à tentação, e
sairemos desse pântano que é a escravidão moral. “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas cousas não há lei.” (GI 5.22-23.) Aí está:
domínio próprio.
Muitos de nós sabemos do poder do Espírito Santo, mas erradamente concluímos que andar no Espírito é algo
reservado apenas para pastores, missionários e místicos. O poder do Espírito Santo acha-se fora do alcance de pessoas
comuns. Mas também muitos são os que invertem as coisas. Acham que, se conseguirem obter mais vitórias sobre a
carne, Deus os recompensará dando-lhes a plenitude do Espírito Santo. E assim continuam lutando na esperança de
que algum dia se tornem bons e estejam à altura de experimentarem o poder do Espírito. Mas Paulo diria que essas
pessoas entenderam a coisa ao contrário. Não é como recompensa pela nossa luta contra a carne que recebemos o
Espírito Santo, mas para nos auxiliar nessa luta, a fim de que obtenhamos sucesso nela. Aquele que vive derrotado na
vida cristã precisa do poder do Espírito Santo agora, não daqui a cinco anos. E ele é dado a todos os filhos de Deus.
Como o poder do Espírito pode entrar em operação? Há dois requisitos básicos. Primeiro, não podemos
entristecer o Espírito Santo (Ef 4.30). Paulo apresenta uma longa lista de pecados que temos de confessar, para que
ele não seja impedido de atuar. O Espírito, às vezes, é representado por uma pomba, uma ave muito sensível e
mansa. Temos que fazer um auto-exame e verificar se há pecados em nós que ainda não foram afastados. Em segundo
lugar, temos que receber a plenitude do Espírito Santo pela fé. Cristo convidou as pessoas a irem a ele beber: “Quem
crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito
que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até esse momento não fora dado, porque Jesus não havia
sido ainda glorificado.” (Jo 8.38-39.) Para o Espírito Santo ser dado, seria preciso haver antes a ascensão de Cristo. A
obra dele na cruz é a base sobre a qual Deus pode perdoar-nos; sua ascensão, a base sobre a qual podemos ser cheios
do Espírito.
Como podemos aplicar essa realidade à nossa vida? Talvez nos sintamos indignos do poder do Espírito, ou
pensemos que pode haver no futuro uma ocasião mais adequada. Mas a verdade é que, se já recebemos o perdão da
cruz, podemos ter também o poder da ascensão.
F. B. Mayer narra sua experiência da seguinte maneira. “Saí da reunião de oração, e afastei-me caminhando
pela estradinha e orando: “Senhor se já houve uma pessoa que precisa do poder do Espírito Santo, essa pessoa sou eu.
Mas não sei o que fazer para recebê-lo. Estou cansado demais, fatigado demais e com os nervos em frangalhos, para
me pôr agora a agonizar em oração.” Então uma voz me disse: “Do mesmo modo como você recebeu o perdão das
mãos do Cristo que morria, agora receba o Espírito das mãos do Cristo vivo.” E Mayer diz mais: “Então eu o recebi
pela primeira vez, e continuo recebendo-o desde então.”

A Necessidade de se Ter Fé

Deus quer que creiamos nele, em vez de atendermos às nossas emoções. É verdade que Satanás influencia
nossos sentimentos, mas devemos ser capazes de ficar firmes na verdade. O homem de fé crê em Deus, mesmo em
meio às variações das circunstâncias da vida. Ele está sempre confiando.
Uma das mais belas ilustrações de fé é a daqueles dez leprosos que foram a Cristo desejando ser curados. E
Jesus lhe disse que fossem apresentar-se ao sacerdote, que os declararia curados. “Aconteceu que, indo eles, foram
purificados.” (Lc 17.14.) Eles obedeceram, não duvidando de que estavam curados.
Como podemos aumentar nossa fé? D. L. Moody disse que lutou durante muitos anos para ter uma fé forte, mas
ela sempre lhe escapava. Depois ele leu o seguinte texto: E assim a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra
de Cristo.” (Rm 10.17.) Ele parou de orar pedindo fé, e começou a dedicar mais tempo à leitura da Bíblia.
Nossa fé aumenta, quando aprendemos a louvar a Deus por tudo que acontece conosco. Ele ainda está
procurando adoradores (Jo 4.24). Deus é glorificado por uma vida de constante louvor e ação de graças. “O que me
oferece sacrifícios de ações de graça, esse me glorificará.” (SI 50.23.)
Você verá que o seu amor por Deus aumenta na medida em que decresce o seu amor pelos prazeres. Assim
como perdemos o apetite para o almoço quando chupamos uma bala, assim também os prazeres do mundo estragam
nosso apetite para as coisas de Deus. Ele quer levar-nos a desejar a sua própria Pessoa - e isso acontece, quando nos
embebemos de sua Palavra. Aproprie-se da promessa de que a lascívia não terá necessariamente que ter domínio
sobre seu corpo mortal.

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. O que você acha que Paulo quer dizer quando fala de estarmos mortos com Cristo? (Rm 6.1-7.)
2. Dê um exemplo de como uma pessoa pode considerar-se “morto para o pecado”? (v. 11.)

3. O que significa tornar-se “servo da justiça” (v. 18)?

4. Em Romanos 8.13 lemos “se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo”. Qual é a nossa parte nesse
processo?

5. Como podemos contrastar as obras da carne com o fruto do Espírito? (Gl 5.16-26.)

6. Que medidas práticas você pode tomar agora mesmo para aplicar à sua vida a vitória que nos vem pela cruz
e pelo Espírito Santo?

11

Podemos Controlar Nossos


Pensamentos

“Nesses últimos três anos minha mente tornou-se muito impura. Pensamentos que antes nunca entravam nela
estão constantemente em minha cabeça. Acho-me obcecado por essas coisas. Fico vendo, em pensamento, as pessoas
tendo relações sexuais. Não consigo me libertar disso. Embora tenha orado a respeito deste problema, a oração me
parece irreal, sem profundidade; e estou tendo dificuldade em concentrar o pensamento em Deus. Sei que ele é
misericordioso e não tenho a intenção de frustrar sua bondade e longanimidade para comigo. O problema é minha
mente, que parece estar fora de meu controle. O que você acha disso?”
Esta carta me veio de uma pessoa que ouvira uma pregação minha pelo rádio. Existem muitas pessoas que estão
obcecadas pela sensualidade. A pureza sexual lhes parece totalmente impossível.
Na clássica obra de João Bunyan, Mansoul (Alma Humana), uma fortaleza estava sendo atacada por forças
malignas poderosíssimas, mas os inimigos só conseguiram tomá-la depois que os portões foram abertos do lado de
dentro. Lembra-se da discussão que os inimigos tiveram sobre a estratégia que utilizariam para capturar a fortaleza?
Diabolus diz o seguinte aos seus seguidores:
“- Vamos lisonjeá-los, enganá-los, fingindo coisas que não vão acontecer, fazendo promessas que nunca vão
obter. Mentiras, mentiras, mentiras - essa é a única maneira de se fazer com que a Alma-Humana nos deixe entrar.
Assim nossas intenções ficarão ocultas e estaremos invisíveis; todos, menos um de nós.” (Chronicles of Mansoul -
Crônicas da alma humana - Regal.)
E foi assim que Satanás conseguiu que a mente humana colaborasse com ele, e desde então estamos sofrendo
as conseqüências. E sua estratégia continua a mesma: mentiras, mentiras, mentiras.
Todos nós sabemos que as batalhas são ganhas ou perdidas na mente. A parte mais importante de nossa pessoa
é aquela que ninguém vê - a não ser Deus. Se pudéssemos projetar numa tela todos os pensamentos que tivemos na
semana passada, teríamos uma boa idéia de como está nossa situação espiritual.
A mente é um ponto muito estratégico, porque opera em colaboração com o cérebro. Os nossos pensamentos
não têm uma natureza física; são essencialmente espirituais. Isso quer dizer que os pensamentos não nos são impostos
pela condição química do cérebro, nem pelas sensações do corpo. No entanto, todos nós sabemos o que é ser escravo
da mente. Jonathan Edwards diria que dispomos do equipamento natural para pensar corretamente (mente, emoção e
vontade), mas falta-nos a capacidade moral para isso. E todo aquele que for sincero terá que concordar com ele.
Como a mente tem uma natureza espiritual, ela se situa no mesmo plano de Deus, os anjos e os demônios. Não
admira que ela seja o palco de incríveis batalhas. Temos que lutar com os nossos desejos carnais, bem como com as
forças espirituais que disputam nossa adesão a elas.
Paulo escreveu o seguinte: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da
vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12.2.) O segredo
de tudo então é sofrer uma transformação (o termo grego aí empregado é metamorfosis), em vez de se deixar
colocar na forma do mundo. Deus quer modificar nossa maneira de pensar, para que nossa vida possa ser conformada
à imagem de Cristo.
Levemos em conta forças contra as quais temos de lutar. Por natureza, temos uma “disposição mental
reprovável” (Rm 1.28) um “entendimento cego” (2 Co 4.4). Aliás, Paulo escreve o seguinte: “O pendor da carne é
inimizade contra Deus, pois não está sujeita à lei de Deus, nem mesmo pode estar.” (Rm 8.7.) Recebendo a Cristo
como Salvador, nos tornamos nova criatura, mas muitas vezes continuamos com o mesmo padrão de pensamento de
antes.
Se ficarmos descuidados, Satanás poderá introduzir idéias erradas em nossa mente, como fez com Ananias e
Safira. (At 5.3.) Não admira que Paulo tenha comparado a mente a uma fortaleza, a uma torre fortificada, e então
dito: “Anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo
pensamento à obediência de Cristo.” (2 Co 10.4-5.)
Que segurança é saber que nosso pensamento vagueante pode ser capturado e levado cativo em submissão a
Cristo. Aí então o Espírito tem liberdade para operar em nossa mente e libertar-nos da imoralidade. “Porque o pendor
da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.” (Rm 8.6.)
Mesmo que nos rendamos e submetamos a Deus, e roguemos e supliquemos, se nossa mente não estiver
renovada, estaremos sempre voltando aos hábitos de pensamentos e conduta pecaminosa. Deus nos fornece tudo de
que precisamos para desarticular as imaginações da mente, de modo que possamos servir a Cristo livremente. Tudo
que Deus nos pede para fazer é possível, por causa da obra que Cristo realizou.
Como podemos renovar nossa mente? Não existe uma fórmula mágica, mas precisamos introduzir algumas
atitudes específicas em nossa vida espiritual. Se formos coerentes, veremos que as promessas do Novo Testamento
são perfeitamente verdadeiras.

Precisamos Ter uma Mente que Louva

Temos que começar tendo uma compreensão correta da natureza de Deus. Conhece aquele pensamento:
“Quanto menor for o seu Deus, maior será o seu problema; quanto maior o seu Deus, menor o seu problema”?
Já vimos que Deus corre um risco muito grande quando somos tentados. Ele se entristeceu profundamente com
o pecado de Davi. Teve que desistir dos planos maiores que tinha para aquele homem no futuro, e seu nome foi
blasfemado pelos pagãos.
Se quisermos ter pensamento corretos, a primeira pergunta a fazer será esta: será que tenho um coração
voltado para Deus? Muitas vezes desejamos a vitória espiritual, mas a encaramos como um fim em si mesma, quando
essa libertação, na verdade, deve ser um passo em direção à semelhança de Cristo, que é o objerivo supremo de Deus
para cada um de nós. A comunhão com Deus é mais importante do que a vitória sobre o pecado (embora precisemos
desta, para termos a primeira). Quando falamos em libertar-nos da imoralidade, devemos fazê-lo tendo Deus em
primeiro lugar em nossa mente.
Desejo dominar minhas paixões apenas para ter uma consciência pura, ter sucesso na vida e uma boa família,
ou estou totalmente empenhado em viver para o louvor da glória de Deus?
Deus permite que passemos por lutas, para que no fim tenhamos um maior amor por ele. Muitas vezes, ao
falharmos, nós fugimos, na esperança de nos escondermos de Deus, como fez Adão no jardim. Mas Deus está nos
chamando, mesmo em meio à nossa vergonha e peso da culpa. Está esperando que larguemos nossos brinquedinhos e
rendamos o coração totalmente a ele. Ele peneira nossa vida a fim de separar o trigo da palha. Ele nos submete a
provas para ver a quem amamos realmente. Quando somos acossados por terríveis tentações, para que lado nos
viramos? Seja qual for o lado, a pessoa com quem temos de nos haver é Deus.
Um conhecido meu estava tão cansado de sua lascívia, que orou a Deus nos seguintes termos: “O Deus, quando
cometo adultério envergonho teu nome. Tira esses pensamentos de minha mente, ou então me mata. Não quero mais
desonrar-te.” Num caso desses, Deus e os anjos bem como quaisquer demônios que pudessem estar escutando,
reconheceram que aquele homem estava totalmente submisso a Deus. Isso foi o começo de sua libertação do domínio
de desejos sexuais quase insuperáveis.
Será que somos zelosos com a honra de Deus? Ou apenas queremos nos ver livres do tormento da tentação
sexual, para que nossa vida seja mais fácil? Se estivermos preocupados somente com nós mesmos, então estamos
utilizando Deus para atingirmos objetivos próprios. Assim ele se torna um meio para alcançarmos uma consciência
limpa e uma auto-imagem de integridade.
Se realmente amarmos a Deus de todo o coração, mente e alma, mesmo que ele não nos liberte das frustrações
sexuais continuaremos a adorá-lo. Temos a obrigação de continuar observando o primeiro mandamento, quer ele faça
ou não o que achamos que deve fazer.
Façamos a nós mesmos a seguinte pergunta: o que mais nos preocupa quando sucumbimos à tentação? É o senso
de culpa que experimentamos, é a preocupação em saber se seremos descobertos ou não, ou o fato de que com nosso
ato entristecemos o Espírito Santo? (Ef 4.30.)
A melhor resistência à lascívia que alguém poderia desejar é a comunhão com Deus. Certo homem, escrevendo
anonimamente na publicação Leadership (Liderança), referindo-se à sua luta contra a pornografia, disse que os
argumentos contra ela não tiveram nenhum efeito sobre ele. As simples ameaças de fracasso no casamento, senso de
culpa ou castigo não o impediam de freqüentar boates de strip-tease e livrarias pornográficas. Depois ele leu um livro
de François Mauriac e sua atitude mudou. Ali, o autor chegava à conclusão de que existe apenas uma razão para se
buscar a pureza. “É a razão que Cristo sugere nas bem-aventuranças: ‘Bem-aventurados os puros de coração, porque
verão a Deus’. A pureza é a condição básica para se chegar a um amor maior, para se possuir um bem que é superior a
todos - o próprio Deus.” E o homem continua: “Quando pecamos, somos nós os perdedores, pois prejudicamos o
desenvolvimento de nosso caráter e nosso crescimento em direção à semelhança de Cristo, que teria ocorrido se não
tivéssemos pecado... Isso era uma exposição do que eu estava perdendo, enquanto continuasse a abrigar a lascívia em
minha vida: estava prejudicando minha comunhão íntima com Deus.”
Acredito que foi Jorge Müller quem disse: “O principal dever do cristão é satisfazer os anseios de sua alma em
Deus.” Essa é a razão suprema para entregarmos a Deus o controle de nossas paixões carnais.
Quanto tempo você passa louvando a Deus? Sua comunhão com ele está crescendo?

Pensar Sobre a Verdade

Escrevendo sobre os gentios, Paulo disse que andavam “na vaidade dos seus próprios pensamentos,
obscurecidos de entendimento” (Ef 4.17-18). E o escritor do Salmo 2 pergunta: “Por que se enfurecem os gentios, e os
povos imaginam cousas vás?” (v.1.)
O homem moderno se enche de imaginações vãs. As novelas de televisão, a literatura erótica e os filmes
pornográficos levaram milhões de pessoas a criar fortes fantasias baseadas em mentiras tais como: o caminho do
homem é melhor do que o de Deus. Essa inundação de sensualidade tem gerado muita insatisfação e uma insensível
desconsideração pelos direitos dos outros. Ninguém está satisfeito: uma esposa mais sexy traria maior satisfação; ter
uma vida livre, fazendo o que se deseja, é melhor do que estar amarrado a uma família; a suprema felicidade do
homem é uma vida tranqüila. O senso de responsabilidade é coisa fora de moda. Devemos fazer aquilo que nos faz
sentir bem no momento.
Algumas pessoas estão suspensas entre dois mundos: a realidade do dia-a-dia, e a atração da imaginação, onde
se supõe estar a felicidade. Assim o mundo real se torna cansativo e enfadonho, em comparação com o criado pela
nossa imaginação desenfreada. As lindas garotas das revistas pornográficas deixam os homens insatisfeitos com sua
esposa de aparência comum. A exaltação oferecida pelas drogas e pelo álcool proporciona às pessoas uma fuga da
realidade de uma existência monótona. Quando a tensão se torna muito forte, o individuo abandona tudo e dá um
mergulho no mundo da fantasia. Uma certa senhora crente relata que ficou tão viciada em novela, que resolveu ter
um caso. Pensou ela: há muita coisa lá fora que estou perdendo. E assim famílias se separam, quebram-se votos e
vidas são destroçadas - tudo por causa de mentiras.
Samuel Baker narra a história de alguns soldados egípcios que se encontravam no deserto Núbio, quase a morrer
de sede. À distância avistaram algo que lhes pareceu ser água, mas seu guia árabe afiançou-lhes que era apenas uma
miragem. Daí houve uma discussão entre eles, e acabaram matando o guia. E o regimento todo saiu correndo em
direção à água. Aqueles soldados foram penetrando mais e mais no deserto, quilômetros e quilômetros, sendo
enganados pela visão da miragem.
Afinal compreenderam que o lago que tinham imaginado não passava de areia ardente. E eles morreram na
busca de algo que não existia. Um esquadrão de busca mais tarde encontrou seus corpos ressequidos.
Eis algumas das mentiras em que muitas pessoas acreditam.
. Deus é injusto, pois nos dá desejos e depois restringe a satisfação deles.
. Se formos bem cautelosos, podemos pecar secretamente, sem causar prejuízo a ninguém.
. Um bom prazer erótico vale qualquer castigo que Deus possa impor-nos depois.
. Uma pessoa pode viver no mundo da fantasia e ainda assim ser um bom cristão.
Temos que rejeitar firmemente essas mentiras, e depois passarmos a meditar na verdade. Cristo orou ao Pai da
seguinte maneira: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (Jo 17.17.) Temos que meditar nas Escrituras
dia e noite. Deus nos promete o seguinte: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se
detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes o seu prazer está na lei do
Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.” (SI 1.1,2.)
Isso é aplicar na prática o princípio da substituição. Jesus falou a respeito de um homem que tinha sido
possesso por demônios. Depois que o espírito mau foi expulso do homem, ele andou por lugares áridos buscando
descanso. Mas não encontrando, resolveu voltar à sua antiga habitação que, para satisfação dele, ainda estava
desabitada, varrida e em ordem (Lc 11.26). Embora aquele homem tivesse ficado liberto durante algum tempo, não
colocara nada de bom no lugar do demônio. Quando este voltou, trouxe consigo mais sete, ainda piores que ele, e o
estado daquele homem ficou pior que antes. É importante que nossa mente esteja purificada, mas também que seja
preenchida com a Palavra de Deus.

Alimentar a Mente

Deus sempre teve dificuldade para fazer o homem compreender que nossa dependência dele se processa
momento a momento. Foi por isso que ele disse aos israelitas que não deviam guardar o maná de um dia para o outro
(a não ser o sábado). Aquela cena de milhares de pessoas agachadas na terra, todos os dias, era um lembrete de que
precisavam da bênção de Deus a cada dia.
Por que Deus foi tão rigoroso nisso? Porque não queria que chegassem ao ponto de poderem sobreviver por si
mesmos. Estava-lhes ensinando que deviam depender dele sempre.
No Novo Testamento, Cristo nos é apresentado como o maná que veio dos céus. “Em verdade, em verdade vos
digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do céu, o verdadeiro pão do céu é meu Pai que vos dá. Porque o pão de Deus é
o que desce do céu e dá vida ao mundo.” (Jo 6.32-33.) Cristo nos convida a recebermos alimento espiritual dele.
Temos que recebê-lo dele a cada dia, como aconteceu a Israel. Muitos de nós vamos à igreja achando que receberão
bênçãos para a semana toda.
Se passássemos pelo menos vinte minutos com Deus todos os dias, antes das 9 da manhã, nossa vida seria
transformada. Esse ato de disciplina nos manteria espiritualmente renovados, e começaríamos cada dia entregando-
nos a Deus.
A primeira grande dificuldade é começar. A segunda é perseverar.
Conhece a história daquele índio que disse que havia dentro dele um cachorro bom e um mau? E quando alguém
lhe perguntou qual era o mais forte, ele respondeu:
- Aquele que eu alimento melhor.
Alguns de nós deixamos nossa nova natureza quase a morrer de fome, e chegamos ao ponto de perder todo o
apetite pelas coisas espirituais. Depois, para recuperá-lo, leva tempo.
Os estudos que apresentamos ao final deste capitulo podem auxiliar nessa recuperação.
Seja Mal Educado com os Pensamentos Pecaminosos

Imagine que sua mente é um castelo, e depois resolva quais os pensamentos que permitirá adentrá-lo, e quais
os que expulsará de suas dependências. E quando a lascívia, a cobiça, a ingratidão e outros inimigos baterem
querendo entrar, não lhes dê a mínima satisfação. Trate-os como trataria um homem que tocasse sua campainha às
duas da madrugada. Por mais agradáveis que sejam suas palavras, você não está com disposição para conversar.
Mantenha a porta trancada e leve o problema para o seu novo senhorio. Lembremos do conselho das Escrituras:
“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” (Pv 4.23.)
Nosso maior problema é aceitar o fato de que esses pensamentos são realmente pecaminosos. Por vezes nossa
intenção é abrigá-los apenas alguns minutos, mas o que acontece é que eles enfraquecem nossas defesas, e no
primeiro ataque sucumbimos.
Além disso, os pensamentos pecaminosos podem se apresentar com um rótulo diferente - isto é, como amigos,
em vez de inimigos. Eles nos dirão que outras pessoas consagradas também lutam com o problema da lascívia - “Isto
faz parte da vida”. Eles podem também levar-nos à autopiedade: "Você merece uma quebra da rotina hoje.”
A essa altura, os pensamentos não estão mais batendo à porta - estão arrancando-a das dobradiças. Outras
idéias correlatas ocorrem para reforçar as primeiras, e daí a pouco percebemos que estamos quase a entregar os
pontos.
O que devemos fazer?
Dar graças a Deus pela tentação e enxergá-la como uma oportunidade de provar que Cristo é mais forte do que
a carne. Lembremos que o Espírito Santo levou Jesus ao deserto para ser tentado pelo inimigo. E se Deus permite que
passemos por tentações, é porque deseja ensinar-nos algumas lições que só aprenderíamos nesse tipo de situação.
Vamos lembrar também que estamos em Cristo, sentados acima de todo principado e potestade. Por causa do
que ele fez por nós na cruz, não precisamos render-nos à tentação. Firme-se na certeza de que esses inimigos já
foram derrotados.
Lembremos que nossa verdadeira luta não é com a tentação, mas com Deus. É a ele que vamos prestar contas,
quer cedamos ou não à tentação. Até certo ponto temos responsabilidades diante dos outros e de nós mesmos, mas,
em última análise, temos que comparecer diante de Deus. A verdadeira pergunta então é: vamos acreditar nele ou
não?
Vamos recitar versos da Bíblia que nos asseguram da vitória. A posição em que nos encontramos nessa luta é de
força.
A carne e Satanás mentem para nós. Eles querem nos sobrepujar, e fazer-nos pensar que temos de obedecer às
nossas paixões. A verdade é que, em Cristo, não temos.
Não desanimemos quando as tentações se repetirem. Satanás tentará minar nossa resistência, mas continuemos
a submeter nosso pensamento completamente a Deus.

Os Efeitos de Longo Alcance

“E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” (2 Co 3.18.) Chegamos à
semelhança de Cristo, quando contemplamos a glória do Senhor na Palavra de Deus. E ao meditarmos nele, como é
revelado nas Escrituras, somos transformados.
Não sei como isso acontece; é Deus quem o efetua. Existe um pensamento que exprime essa idéia: “Você não é
o que pensa ser; mas o que pensa, isso você é.”
Conhece aquele conto de Nathaniel Hawthorne sobre um grande rosto de pedra esculpido numa montanha?
Havia uma montanha onde alguns penhascos tinham sido reunidos, e lembravam uma fisionomia humana. Um
garotinho de nome Ernest perguntou à sua mãe o que representava aquela expressão, que era nobre e bondosa, e ela
lhe contou a lenda que passava de uma geração a outra. Algum dia, no futuro, iria nascer ali uma criança que teria os
traços da grande face de pedra, e seria o maior homem de sua época.
Ernest nunca esqueceu aquela lenda. Certo dia, espalhou-se pelo vale a noticia de que iria chegar ali um
homem que se parecia muito com o rosto de pedra, e ele ficou entusiasmado, como todos os outros moradores do
lugar. Mas Ernest ficou decepcionado. O homem era ambicioso, e seu semblante não tinha a bondade estampada no
grande rosto de pedra.
E o menino passou a ficar todos os seus momentos de folga na contemplação dos gloriosos traços daquele rosto,
ansiando pelo dia em que o homem certo iria aparecer no vale. E outros homens surgiram, mas nenhum deles se
parecia com o rosto de pedra.
Ernest chegou à meia-idade; era um homem generoso e atencioso. Nenhum de seus amigos achava que ele fosse
um homem acima do normal; e ele, muito menos. Quando envelheceu, era uma pessoa de grande sabedoria e
bondade. E ali acorriam pessoas de longe e de perto, para conversar com ele.
Certo dia, chegou ao vale um poeta que ouvira falar de Ernest. Este escutou o poeta com atenção e ficou tão
impressionado, que julgou ver nesse novo amigo uma semelhança com os belos traços recortados na montanha. Mas o
poeta replicou que não era digno de tamanha honra.
E mais tarde, quando Ernest falava a um grupo que se reunira ao ar livre para ouvi-lo, o poeta reconheceu que
ele, sim, era muito parecido com o grande rosto de pedra que durante tanto tempo contemplara.
Embora seja muito necessário que resistamos às tentações, não é só isso que nos transforma à semelhança de
Cristo. Temos também que saturar nossa mente da grandeza de Jesus Cristo e ter um desejo insaciável de sermos
semelhantes a ele. Aí então, lenta e talvez imperceptivelmente, iremos amoldando-nos à sua imagem. Quando nos
tornamos dominados por tudo que Jesus significa para nós, as tentações, que antes pareciam tão fortes, perdem todo
o seu atrativo. Paulo disse o seguinte: “Para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus
sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte.” (Fp 3.10.)

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. O melhor modo de renovar nossa mente é memorizar versículos bíblicos diariamente. Leia e releia várias
vezes capítulos inteiros, até que as palavras e idéias neles contidas se fixem em sua mente para sempre. Comece com
o Salmo 1.º, João 15.1-11; Colossenses 3.1-11.

2. Procure textos que se relacionem diretamente com outras lutas que você talvez esteja enfrentando, usando
para isso uma concordância ou a Bíblia das Edições Vida Nova. Decore esses textos.

3. Aprenda a encarar suas tentações como um “sistema de alarme”. Assim que certos pensamentos começarem
a penetrar em sua mente, afaste-os, citando versos que já decorou.

4. Tenha pelo menos vinte minutos de comunhão com Deus todos os dias, antes das nove da manhã. Durante
esse período de oração e leitura da Bíblia, reivindique, para esse dia, as promessas divinas de dar-nos a vitória
espiritual.

12

Resistindo às Estratégias
de Satanás

“Os pesadelos aos quais me acostumara no decorrer dos anos foram diminuindo; mas outro tormento de cunho
mais real começou a se insinuar. Meus contatos com o ocultismo tinham sido extremamente emocionantes, mas
depois que Cristo entrou em minha vida, Satanás começou a mostrar sua verdadeira natureza - medo, confusão e
dúvida. O diabo se encoleriza muito, quando perde um dos seus associados do crime. Mas com Jesus a meu lado, ele é
como um leão que ruge, porém, um leão sem dentes.” (Terry Bradley - Moody Monthly, outubro de 1976.)
Todo aquele que quiser ter uma vida santa e levar isso a sério, entrará em conflito com o diabo, ou mais
especificamente, com os demônios que se acham sob o controle dele. As pessoas que, em alguma fase da vida, se
entregaram à sensualidade serão totalmente dominadas por pensamentos e impulsos malignos. Os desejos sexuais
constituem uma parte importante da natureza humana, e por isso Satanás faz do sexo um campo de batalha para nós,
já que para se ter uma relação familiar feliz é necessário manter-se a pureza sexual. Ele irá tentar convencer-nos de
que podemos obter prazer e companheirismo saindo dos limites determinados pela vontade de Deus, e que as
conseqüências podem ser camufladas.
Satanás ataca, subjuga, controla, e como não tem escrúpulos, usa todas as formas de engano imagináveis que
tenha em seu arsenal. Todo cristão genuíno é inimigo declarado dele. Ele promete liberdade, mas está sempre
escravizando; ele fascina, acenando com prazeres, mas acaba aviltando o indivíduo.

. Certa mulher, cuja mente está saturada de sensualidade, diz que sempre que canta hinos na igreja, coloca
nas palavras deles um sentido duplo (sexual); e quando lê a Bíblia, as palavras dela adquirem uma conotação sexual.
Tudo que vê está poluído.
. Um certo homem sente-se sexualmente estimulado pela filhinha dele, que ainda não tem dois anos de idade.
Ele não gosta de ficar sozinho com ela, pois não confia em si mesmo.
. Uma mocinha tinha impulsos sexuais tão fortes, que fazia propostas a todos os homens que se aproximavam
dela. E quando alguns policiais vieram prendê-la, insistiu para que tivessem relação sexual com ela.
. Um universitário, membro de igreja, foi preso por conduta indecorosa em público. Ao andar pela rua, expunha
os órgãos genitais.
. Certo homem desejava (e mantinha) relação sexual com animais. E só conseguia pensar no sexo entre seres
humanos de maneira pervertida ou estranha.

Há muitas pessoas que tem fantasias e paixões que não contam a ninguém por temor de serem rejeitados.
Pensam que são anormais, diferentes, e não tem nenhum valor nem para Deus, nem para os outros. Uma idéia errada
muito comum é a de que cometeram o “pecado imperdoável”. Estão convencidos de que nem Deus os tolera mais.
Essas pessoas se odeiam, e crêem que se Deus é justo, ele também as odeia. Estão vivendo numa prisão de medo e
aflição, e pensam que não há mais salvação para elas. Tentam fazer promessas a Deus e a si mesmas e, no entanto,
acabam repetindo o pecado.
O que elas precisam urgentemente é abrir o coração para alguém que as compreenda e aceite sem, contudo,
aceitar sua conduta. “O que você precisa é expor seu coração ao sol de outro coração que tenha respeito e
compreensão, e assim fazendo começará a redescobrir o respeito próprio.” (John White, Eros Defiled - Eros maculado
- InterVarsity Press.)
Nós obtemos a compreensão de nossa identidade a partir da impressão que causamos a outras pessoas. Quem
abriga um vicio escondido no coração, se tiver medo de falar a outros sobre isso, vai ficar carregando aquele peso no
tormento da solidão. Falar de nossos problemas é uma coisa muito importante, mas é apenas o início. Quando
praticamos um pecado constantemente, estamos empenhados numa guerra espiritual. Satanás precisa sofrer uma
confrontação direta. Consideremos, primeiramente, como podemos resistir a ele e reduzir a força de suas garras
sobre nós.
O grande desejo que Satanás tem a nosso respeito não se baseia no fato de ele pensar que tenhamos valor
intrínseco. Na verdade, sua vontade é destruir-nos, e ele o faria imediatamente, se Deus não o impedisse. Ele deseja
arruinar-nos, para ferir a Deus. Ele nos odeia com a mesma intensidade com que odeia a Cristo. Se sucumbirmos ao
pecado com a desculpa: “Ah, eu sou assim mesmo”, ele exultará.

Examinando Suas Estratégias

Vejamos algumas das técnicas mais comuns que Satanás emprega, a fim de nos enganar e nos fazer pecar.

Ele atua ocultamente. Tanto Satanás como os demônios que estão sob seu comando atuam às ocultas, para que
não sejam facilmente descobertos. São como policiais à paisana, que exercem seu ofício sem serem reconhecidos. O
objetivo de Satanás é levar-nos a servir a ele, enquanto pensamos que estamos servindo a nós mesmos. Ele transmite
suas sugestões para nós de forma tão ardilosa, que pensamos que essas idéias são nossas.
A primeira “capa” que ele usa é a carne. “Ora, as obras da carne são conhecidas, e são: prostituição, impureza,
lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices,
glutonarias e cousas semelhantes a estas.” (Cl 5.19-21.) Muitas vezes, quando estamos em luta com a sensualidade,
geralmente atribuímos o problema à carne, mas os demônios usam a carne para intensificar nossos desejos. É por isso
que nem sempre é possível fazer uma distinção clara entre as obras da carne e as obras de Satanás, pois elas se
confundem numa só.
Os demônios ficam a observar-nos e depois concentram seu ataque em nossas fraquezas mais vulneráveis. E eles
usam uma das dezenas de máscaras que correspondem às obras da carne. Eles atuam sobre um desejo da carne,
pervertem-no, inflamam-no, e levam-nos a pensar: “Ah, já nasci assim.” Juntamente com o desejo ampliado vem a
sensação de culpa, e a mente fica dominada por um sentimento de total impotência. Uma palavra que define isso
muito bem é obsessão. Para Satanás não importa qual é a forma de impureza; seja pornografia, adultério,
homossexualismo, ou outras expressões de pensamentos ou conduta pecaminosos. Desde que se entristeça o Espírito
Santo e a alegria desapareça de nossa vida, ele é o vencedor.
Uma outra forma de camuflagem é a mente humana. Os espíritos imundos injetam pensamentos em nossa
mente, e outra vez somos levados a pensar que tais idéias (geralmente racionalizações) provêm de nós mesmos.
Ananias e Safira mentiram ao dizer o preço de uma propriedade que haviam vendido. A ambição impediu que
fossem sinceros. É que eles tinham visto ali uma ótima oportunidade de serem admirados na igreja, e ao mesmo
tempo reservarem alguma coisa para o período das vacas magras. Por que não dizer uma mentirinha?
Eles não eram obrigados a vender nada, como Pedro lhes disse claramente (At 5.4). Mas eles queriam um pouco
de glória, e depois de pensarem e discutirem o assunto entre si, resolveram dizer uma mentira.
Pedro perguntou a Ananias: “Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito
Santo?” (V. 3.) Eles não tinham percebido que Satanás estava presente pessoalmente em sua casa. Eles nem sonhavam
que ele próprio instilara aquela sugestão na mente deles, esperando que a aceitassem. Até onde sabiam, aquela
decisão fora toda deles mesmos.
O Novo Testamento ensinava que Satanás participa ativamente nas situações que nos levam a temer
testemunhar de Cristo (Lc 22.31-32), a guardar rancor (2 Co 2.10-11), ao adultério (1 Co 7.5) e a traições (Jo 13.27).
Satanás e suas hostes estão instilando mentiras na mente humana em situações como essas e em centenas de outras.
“Ah, então é o diabo que me faz agir assim!” dirá alguém.
Não exatamente. Ele nos dá a idéia, mas somos nós que resolvemos levá-la adiante, e é por essa decisão que
Deus nos responsabiliza. Adão e Eva tentaram culpar um ao outro e até lançaram a culpa sobre Satanás. Fora ele que
tentara Eva para comer o fruto. E o que Deus disse a esse respeito? Disse que cada um teria que sofrer as
conseqüências de sua desobediência. (Gn 3.14-21.)
A estratégia de Satanás é inflamar os desejos e depois instilar a racionalização na mente da pessoa. E como ele
usa esses disfarces, na maioria dos casos nós nem sabemos que fomos enganados. Somos como um soldado que
resolvesse ficar sentado no seu alojamento, recusando-se a crer na realidade da guerra, mesmo vendo que o prédio
está sendo bombardeado.

Ele provoca uma cegueira espiritual durante a tentação. Satanás não apenas coloca idéias em nossa mente,
mas também nos torna cegos às conseqüências do pecado. No instante em que somos tentados, esquecemos os versos
das Escrituras, não nos lembramos do senso de culpa, nem da aflição e das lágrimas que acompanham um pecado
sexual. Cristo disse que Satanás arrebata as sementes da Palavra de Deus que caem na mente humana (Mc 4.15).
Pedro esqueceu completamente a profecia de Cristo de que ele iria negá-lo, e só se lembrou dela depois que o galo
cantou.
Certo homem ficou fascinado com os encantos de uma mulher incomumente atraente que conheceu numa
estação rodoviária. Encantou-se tanto com a beleza dela, que se viu convidando-a para irem a um motel. “Eu nem
sabia direito o que estava dizendo... e não me importava se alguém estivesse vendo, ou se fossemos descobertos - só
uma coisa me interessava.”
O livro de Provérbios contém uma descrição bastante precisa deste tipo de experiência. Àquele que é seduzido
por uma prostituta segue-a “como o boi que vai ao matadouro... até que a flecha lhe atravesse o coração; como a ave
que se apressa para o laço, sem saber que isto lhe custará a vida”. (Pv 7.22,23.) Um animal não raciocina além de
suas percepções. Não pensa nem em Deus nem no amanhã. Para ele, só importam seus desejos imediatos. E nós
também, quando perdemos de vista as verdades espirituais, agimos como animais. “Não sei por que fiz aquilo. Não é
do meu feitio. Foi uma estupidez tão grande!”
Não é quando vemos um bêbedo caminhando pela rua, com a roupa suja de seu próprio vômito, que nos
sentimos atraídos para o alcoolismo. Tampouco quando vemos lares destruídos e crianças chorando somos levados ao
adultério. Na maior parte dos casos, tais conseqüências do pecado estão longe de nossa mente. O mesmo se deu com
os judeus que rejeitaram o Messias e a quem Jesus disse: “Mas isto está agora oculto aos teus olhos.” (Lc 19.42.)
Então, a principal arma do diabo é o engano. Ele quer nos enganar, levando-nos a crer que estamos apenas
“fazendo uma coisa muito natural ao homem”.

Satanás usa habilidosamente a arte da abordagem lenta. Muitas vezes, Satanás ataca uma pessoa consagrada
usando a tática da aproximação lenta. Primeiro ele nos leva do conhecido para o desconhecido. Dá-nos tempo de
racionalizar, de inventarmos desculpas para irmos ver determinada pessoa ou a certa loja onde se vende impressos
pornográficos. Ele se sente satisfeito, quando pecamos na mente, e não vemos efeitos perniciosos, pois gosta que
pensemos que podemos controlar nossos pecados e nos afastarmos deles assim que quisermos. Ele não se preocupa
tanto com o “tamanho” de nosso pecado, se é pequeno ou grande, como com a percepção que possamos ter dele. O
fato é que os pequeno pecados eventualmente se tornarão grandes, enquanto estivermos pensando que nós próprios
somos capazes de controlá-los.
Um hábil vigarista de Chicago conseguiu convencer um homem de negócios a dar-lhe 5.000 dólares como
investimento. Passados três meses, ele devolveu ao investidor a quantia de 10.000 dólares. Repetiu a mesma tática
várias vezes, sempre tendo o cuidado de devolver o dinheiro ao investidor com uma alta margem de lucro. Assim ele
conquistou a confiança do outro, até que um dia lhe pediu 50.000 dólares, e o homem lhe deu. Foi a última vez que
os dois se encontraram.
Lembra-se da história de Sansão? A fraqueza dele eram as mulheres, e em particular as mulheres dos filisteus.
Ele negou revelar a Dalila a origem de sua força três vezes, mas afinal acabou cedendo. Observemos bem isso:
Satanás não se importa com o número de vezes que dizemos não às tentações, desde que permaneçamos nas
proximidades delas. Mais cedo ou mais tarde, ele nos pegará.
Ele tem o tempo a seu favor. Se lhe cedermos um centímetro hoje, ele está disposto a esperar cinco anos para
obter um quilômetro. O processo do pecado nunca é estático; ou ele vai para frente ou para trás, pois não há meio-
termo. E Satanás fica satisfeito mesmo que o pêndulo fique a oscilar para frente e para trás. Algum dia, quando
estivermos cochilando, cairemos na sua eficaz armadilha.
O que vamos aprender com essa técnica da abordagem lenta? Mesmo que sejamos vitoriosos hoje, não podemos
estar certos de vitórias no futuro. O senso de autoconfiança e bem-estar que gozamos hoje pode levar-nos, amanhã, a
palmilhar a trilha da destruição.

Satanás atua através da culpa. Ele procura fazer com que nos sintamos tão derrotados espiritualmente, que
desistamos da idéia de lhe opormos resistência. Ele quer que sintamos um excessivo peso de culpa ou então que não
tenhamos nenhum senso de culpa. À maioria de nós gosta de sentir-se culpada quando cai em pecado. Afinal, querem
provar a si mesmos que têm sensibilidade moral, e esse sentimento de culpa é um testemunho de que gozam de um
relacionamento com Deus. Há pessoas, porém, que se sentem culpadas por não terem um forte senso de culpa. Certo
homem explicou isso da seguinte maneira:
“Quando fui ver aquele filme pornográfico, achei que Deus iria mandar castigo do céu sobre mim. E, no
entanto, no dia seguinte, fui trabalhar normalmente, como sempre. O céu não caiu sobre minha cabeça. Já se
passaram algumas semanas, e ainda não confessei este pecado, pois não estou sentindo tanta culpa, como achava que
iria sentir. Acho que vou ver um outro.”
Paulo fala sobre espíritos enganadores, que irão atrair os crentes para que se afastem da verdade, “cauterizada
a própria consciência” (1 Tm 4.2). O jornal Chicago Tribune publicou um artigo sobre um homem que foi preso por
ter praticado mais de vinte estupros. Apesar de todo o terror que infundiu às mulheres (e uma delas depois tentou o
suicídio), ele afirmou que não tinha nenhum sentimento de culpa, e que só o experimentou depois de preso. Ele
praticava seus crimes sem a menor dor na consciência.
O reverso dessa medalha é o excessivo senso de culpa. Algumas pessoas se convenceram de que são terríveis
demais, e que Deus não pode perdoá-las. Estão fugindo de Deus, achando que ele prefere vê-las mortas. Infelizmente,
elas se consideram indignas da graça de Deus. Enquanto estiverem odiando a si mesmas, Satanás está sendo vitorioso.
Quando ele consegue colocar em nós um excessivo peso de culpa, pouco depois começamos a pensar que
ultrapassamos a possibilidade de ser perdoados. Quando, porém, não temos o senso de culpa que precisaríamos ter,
ele nos leva a crer que não estamos devidamente arrependidos de nosso pecado. De qualquer forma, ficamos fora do
alcance da graça de Deus.
Ele ateia em nós ressentimento contra Deus. Já no jardim do Éden, Satanás acusou a Deus de mau. Ele deu a
entender para Adão e Eva que Deus não desejava o bem deles. E ele emprega a mesma estratégia hoje. Muitas
pessoas (inclusive convertidas) revoltam-se contra Deus argumentando que ele é injusto, pois deu-lhes desejos
sexuais, e depois espera que elas se ajustem às suas restritas leis. Uma mulher com forte impulso sexual tem um
marido impotente. Não é justo que ela procure um homem que possa apreciar sua beleza física, e dar-lhe a satisfação
que deseja? Ou o que dizer de uma pessoa solteira, que se acha presa numa teia de solidão e busca uma intimidade
com outra, para atender aos desejos que há em seu coração, como no coração de qualquer ser humano? Uma pessoa
que nos escreveu resume as racionalizações do mundo com as seguintes palavras: “E assim nós acabamos tendo
impulsos sexuais que praticamente nos impelem a quebrar as regras estabelecidas por Deus. Dizem os cientistas que
os homens atingem o pico de sua força sexual aos 18 anos. Em nossa cultura, não podemos nem casar legalmente
antes dessa idade. Portanto, quando um homem se casa, se ele permaneceu puro, já desperdiçou sua época de maior
possibilidade sexual... Será que nossos hormônios e cromossomos não poderiam ter sido dispostos de uma forma em
que as pessoas tivessem satisfação com apenas um cônjuge? Por que não somos como os animais, que, a não ser em
determinados períodos, levam sua vida rotineira sem nem pensarem em sexo. Se eu soubesse que a lascívia iria
atacar-me apenas em outubro ou maio, seria mais fácil controlá-la.” (Anônimo - em Leadership Magazine, Vol. 3, n.º
4, 1982.)
Vemos ressentimento contra Deus também no fato de alguém considerar normal o homossexualismo. O
argumento é que é injusto exigir-se que uma pessoa renuncie à sua inclinação sexual, e nisso está implícito um
questionamento da justiça de Deus. A tendência hoje é satisfazer nossas paixões, quando não conseguimos harmonizá-
las com a vontade de Deus, e depois dizer que estamos fazendo a vontade de Deus assim mesmo.

Satanás explora a amargura. Acredito que muitas pessoas deviam “perdoar a Deus”. É verdade que ele não
precisa de perdão, mas elas têm que sepultar seus ressentimentos e submeter-se à autoridade dele. Foi o que Cristo
ensinou àqueles que se queixavam das desigualdades da vida. Disse ele: “Porventura não me é licito fazer o que quero
do que é meu?” (Mt 20.15.)
A queda de Satanás foi devida à rebelião contra Deus, e um pouco desse veneno caiu em todos os corações
humanos. Quando ficamos irados com Deus, tomamos o lado de Satanás. E ele fica muito feliz, quando concordamos
com ele.

O Caminho Para a Libertação

Reconhecer a autoridade de Deus. Infelizmente, a ascensão de Jesus muitas vezes é vista por nós apenas
como um artigo do credo apostólico. Mas no Novo Testamento, ela é apresentada como uma evidência positiva de que
Cristo derrotou todos os seus inimigos. Lemos o seguinte em Efésios: “O qual exerceu ele (Deus) em Cristo
ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e
potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no
vindouro. E pôs todas as cousas debaixo dos seus pés e, para ser o cabeça sobre todas as cousas, o deu à igreja.” (Ef
1.20-22.)
Cristo está sentado à direita de Deus. Os sacerdotes do Velho Testamento, quando ofereciam sacrifícios nos
altares de bronze, ficavam de pé. Eles nunca podiam sentar-se, porque seu trabalho nunca terminava. Mas Cristo está
sentado; ele já conquistou a vitória. Além disso, Cristo não apenas está acima de todos os principados e potestades,
mas muito acima deles. O simbolismo aqui contido é óbvio: sua vitória foi por uma larga margem; o resultado, sem
contestação. Ele obteve uma vitória decisiva e definitiva. Seus inimigos agora estão debaixo de seus pés. As nações
podem esbravejar e conspirar contra o Senhor, mas “Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles” (SI
4.2). Satanás pode gritar e esbravejar; pode ameaçar e humilhar; seduzir e enganar, mas sua derrota humilhante já é
fato. É uma questão de tempo apenas, e ele será desmascarado e atirado no lago de fogo para sempre (Ap 20.10).
Estar à direita de Deus é para Cristo uma posição da mais alta honraria. Ele tem fácil acesso ao Pai, e tem
garantia de incondicional aceitação. Cristo esmagou a cabeça da serpente e o diabo sabe disso muito bem.
Como podemos conciliar a idéia de que aqueles que nasceram de novo estão em Cristo e partilham de sua
vitória, com o fato de que Satanás faz incursões tão profundas na vida deles?
Primeiro, temos que, pela fé, aplicar a vitória de Cristo à nossa experiência; isto é, sejam quais forem as nossas
tentações, precisamos ter a firme convicção de que Cristo triunfou verdadeiramente. Mas, apesar disso, a vitória não
é automática.
Cristo deu aos discípulos autoridade sobre todos os demônios, e, no entanto, tempos depois, eles tiveram um
confronto com um demônio que não atendia às palavras deles. Cristo repreendeu-os por sua falta de fé, e acrescentou
que alguns desses espíritos maus só podem ser expulsos com jejum e oração (Mt 17.21). Deus quer ensinar-nos que a
fé tem que ser edificada em nosso coração, e nunca podemos assumir o triunfo de Cristo sem uma conscientização.
Deus permite que enfrentemos lutas com Satanás para ensinar-nos qual é a natureza do pecado, e mostrar-nos
nossa fraqueza. Se tivéssemos vitórias instantâneas, provavelmente começaríamos a pensar: afinal, o pecado não é
tão maligno assim. Posso me deleitar com ele quando quiser e depois ser perdoado, e me sair disso sem nenhuma
inquietação. O conflito espiritual é um dos meios pelos quais Deus nos disciplina, para nos apercebermos de quanto o
pecado pode ser corrosivo.
Se um soldado israelita por acaso penetrar em território árabe (ou vice-versa), estará expondo-se a uma dura
luta. Ele pode argumentar que chegou ali por acidente, não sabendo onde andava, e sem intenção de fazer mal a
ninguém. Não importa. Ele pode lançar apelos de misericórdia, baseando-se na sua condição de cidadão de outro país,
mas não será devolvido ao seu povo sem as marcas da batalha. Assim aprenderá uma lição muito importante; ficará
sabendo até onde vão as linhas demarcatórias dos limites; bem como onde pode ou não passar as “férias” no ano
seguinte.
As pessoas que se tornam dominadas por uma compulsiva sensualidade sabem onde foi que cruzaram a linha de
limite, seja num incesto, contato com a pornografia ou sexo extraconjugal. Algumas vezes elas entram no território
de Satanás com pleno conhecimento do que estão fazendo, cientes de que estão entrando no mundo que jaz sob o
governo dele (1 Jo 5.19). Querem ser livres, mas, na verdade, se envolvem numa séria luta.
O primeiro passo é saber que a derrota de Satanás já é fato consumado. Temos que “ver” Cristo sentado à
direita de Deus, tendo seus inimigos a seus pés. Depois, vejamos-nos em Cristo.

Renunciar ao pecado. Muitas vezes subestimamos a intensidade do conflito que teremos com nossas paixões.
Achamos que, pelo simples fato de sabermos que estamos em Cristo, já obtemos a vitória, e por isso podemos encarar
com toda confiança o que nos sobrevier. Mas a verdade é que o inimigo procura usar nosso passado como uma
plataforma de lançamentos, de onde remessa contra nós seus ataques.
A advertência que encontramos em Efésios 4.27: “Nem deis lugar ao diabo”, pode ser traduzida também assim:
“Não deis moradia ao diabo”. Não podemos dar a ele nenhum motivo para supor que pode continuar a controlar-nos.
Quando uma pessoa entra ilegalmente em outro país, muitas vezes é bastante difícil deportá-la, principalmente
se ela já viveu ali alguns anos na clandestinidade. Ela argumentará com firmeza que adquiriu direitos de
permanência. Temos que resistir a Satanás e renunciar às práticas que nos situam no território dele. Eis alguns
pecados a que devemos renunciar em nome de Jesus:

. Práticas do ocultismo tais como leitura da sorte, tábua Uíja, astrologia, leitura da mão, percepção extra-
sensorial e a consulta de horóscopos. Peça a Deus que lhe traga à memória tudo que praticou e que possa estar dando
permissão a Satanás para atormentar sua vida.
. Práticas sensuais, tais como alcoolismo, drogas, sexo ilícito, controle da mente e pornografia.
. A influência dos erros de outros sobre você. No segundo mandamento, Deus afirma que permite que os efeitos
dos adoradores de ídolos permaneçam sobre a família dele até a terceira e quarta gerações (Ex 20.5-6). As pessoas
que se dão a seitas falsas muitas vezes acabam caindo na idolatria. Renuncie a qualquer influência que possa ter-lhe
sobrevindo por meio de seus ancestrais, e mesmo daqueles que têm tentado ajudá-lo, estando eles próprios sob
controle satânico.
Às vezes, Deus liberta uma pessoa de pensamentos e conduta compulsivos instantaneamente. Em outros casos,
ele o faz através de um processo lento e constante. Embora Deus tivesse dado a terra toda aos israelitas, ele disse a
Josué que os inimigos seriam expulsos dela “pouco a pouco” (Dt 7.22).
A questão central é saber se estamos dispostos a nos arrepender cabalmente de todo pecado e a nos submeter
de bom grado a qualquer disciplina que nos advenha como resultado da desobediência. Se soubermos o que somos em
Cristo, temos o direito de ser livres da escravidão moral.

Continuar a resistir. Muitos são os que resistem a Satanás, e como obtêm a vitória, pensam: “Ah, finalmente
estou livre!” É aí que correm perigo. Essa sensação de autoconfiança, mesmo quando parece vinda de Deus, pode
predispor-nos a outra queda. E quando isso acontece, Satanás nos leva a pensar que a vitória não vale o preço que
temos de pagar. Ele faz tudo para que nos lembremos dos prazeres da sensualidade, mas não o sofrimento que os
acompanha. E quando nos vemos de volta no mesmo atoleiro, pensamos: é, afinal, isso não tem nada de real,...
exatamente como eu pensava!
Contudo, se Satanás nos atacar cem vezes, temos que resistir-lhe cem vezes. Cristo foi tentado três vezes, em
rápida sucessão. Resistir a Satanás não é como tomar um remédio duas vezes por semana; temos que resistir todas as
vezes que percebermos que nossa mente está sendo atraída para as velhas luxúrias. Precisamos cultivar um espírito
sensível ao primeiro toque do Espírito Santo. E quando o inimigo nos atacar, devemos dizer:
- Rejeito este pensamento em nome de Jesus.
Isso não significa que a batalha está encerrada. Pode ser até que o desejo venha a intensificar-se. O objetivo de
Satanás é criar incredulidade em nosso coração, e dessa forma desequilibrar-nos. E ele sugere centenas de razões por
que as Escrituras não se aplicam àquela dada situação. Tenta inclusive convencer-nos de que somos diferentes dos
outros.
O que fazer então? Submetamos-nos a Deus, e resistamos firmes. Afirmemos com insistência que pertencemos a
Cristo e que Satanás não possui nenhuma autoridade sobre nós. Expressemos em oração nossa resistência.

Revestir-se da Armadura de Deus. Se tivermos de lutar contra um leão, não poderemos fazê-lo de mãos
vazias. Se tivermos de enfrentar tanques, não será com um bodoque que conseguiremos vencê-los.
Deus nos apresenta as peças da armadura espiritual de que necessitamos para resistir às ciladas do diabo.
Notemos que ele não espera que conquistemos mais terreno, mas que simplesmente permaneçamos firmes no terreno
que Cristo já conquistou (Ef 6.10-20).
Não vamos analisar detalhadamente aqui as peças da armadura, mas observemos que entre elas estão verdade,
justiça, testemunho, fé, pensar no que é digno e o emprego da oração e intercessão. E se estiver faltando uma peça,
podemos estar certos de que o ataque do inimigo se concentrará exatamente aí.
Lembremos que essa batalha é contra os espíritos malignos, inescrupulosos e destrutivos, que, por natureza,
são mentirosos. Se disserem a verdade em alguma situação, fazem-no apenas com o intuito de enganar. Eles são
maus, malévolos e atrevidos. Não devemos nunca pensar que irão proporcionar-nos os prazeres do pecado sem voltar
para fazer a cobrança.
No livro de Efésios, Paulo emprega a expressão “nos lugares celestiais” cinco vezes. E usa a mesma frase em
relação à nossa luta, dando a entender que, quando nos dispomos a levar a sério nosso relacionamento com Deus,
estamos entrando num conflito espiritual. Satanás gostaria que nós o temêssemos, para que malbaratássemos nossa
vida. Ele até aceita que tenhamos uma conduta moral boa, desde que não andemos no Espírito nem produzamos o
fruto que Cristo disse que poderíamos produzir. Devemos sistematicamente certificar-nos se estamos revestidos dessa
armadura.

Ter uma reação imediata contra Satanás. É preciso que tenhamos estas informações todas à mão, para as
utilizarmos no momento necessário. É pouco provável que recebamos uma notificação de ataque com meia hora de
antecedência, pois Satanás ataca em questão de segundos. Gosto muito de um texto do escritor puritano Gibbon,
onde ele fala sobre essa preparação para o conflito.

“Prepare de antemão respostas e contestações para rebater as sutis insinuações de teu inimigo.
Um exemplo: se Satanás lhe disser, como faz muitas vezes, que o pecado é agradável, pergunte se são
agradáveis também as pressões da consciência, se é agradável estar sob a ira do juiz todo-poderoso. E se
ele disser: ‘Ninguém o vê; você pode fazer isso com toda a segurança’, pergunte-lhe se pode obstruir a
visão do Deus que tudo vê, se ele sabe de um lugar onde se possa pecar e onde não se encontre a
presença divina, ou se ele pode apagar teus feitos do livro de registros de Deus... Se ele falar sobre
vantagens terrenas que lhe podem advir, pergunte-lhe qual dos livros de registro será examinado no
último dia, e qual o proveito que uma pessoa tem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma, ou o
que ele poderá lhe oferecer em troca de sua alma... E quando o pecado, como no caso de Jael, convidá-
lo para entrar em sua tenda, com o chamariz e a isca de um tratamento principesco, lembra-te do cravo
e da marreta que deixaram o general Sísera morto, pregado ao chão.” (John Gibbon - Puritan Sermons -
Vol. 1 - Richard Roberts Publishers.)

Paulo nos adverte nos seguintes termos: “Mas receio que, assim como a serpente enganou Eva com sua astúcia,
assim também sejam corrompidas as vossas mentes, e se apartem da simplicidade e pureza devidas a Cristo.” (2 Co
11.3.) Não podemos ficar ignorantes quanto aos ardis de Satanás, permitindo assim que ele tenha vantagens sobre
nós.

Procurar aconselhamento. Em alguns casos, é necessário procurar um pastor ou um conselheiro cristão que
tenha tido experiência de expulsão de demônios. Embora Satanás não possa possuir aquele que nasceu de novo (a
possessão implica na idéia de propriedade, que pertence somente a Deus), contudo este pode atuar na vida dele,
principalmente se ele der abertura a influências malignas. O Novo Testamento fala de pessoas “endemoninhadas”,
uma forma específica de opressão e mesmo da habitação de demônios nelas. É possível que aqueles que estiveram
envolvidos com o ocultismo, ou que se entregaram a Satanás antes de se converterem precisem de uma experiência
de confrontação direta com os espíritos imundos.
Neste ponto, a grande arma de Satanás é o medo. Ele nos leva a pensar que é melhor continuar na escravidão,
do que passar pelo tormento de um conflito direto com os demônios. Não creia nisso. Ele teme que sua influencia
sobre a pessoa termine logo. Quer que nos esqueçamos daquilo que somos em Cristo, e nos acomodemos a uma vida
de fracassos. Mas não é essa a vontade de Deus.
Alguém certa vez me disse o seguinte: “Eu não estava conseguindo libertar-me da imoralidade. Supliquei a Deus
que me modificasse; conhecia todos os ensinos sobre a nossa vitória em Cristo, mas para mim não funcionavam. Não
havia jeito. Um dia, aquele conflito chegou a um impasse. Estava resistindo a uma determinada tentação havia meia
hora, mas me via sendo vencido por ela. Tive raiva, ao pensar que logo iria ceder mais uma vez. Chamei um irmão na
fé e, com toda a sinceridade, contei-lhe o que estava-se passando comigo. Então, juntos, repreendemos a Satanás, e
após alguns instantes tive uma grande sensação de paz. Era maravilhoso estar livre! Isso não quer dizer que não sou
mais tentado, mas agora sei que posso obter a vitória.” Você se identifica com ele?

ESTUDO E APLICAÇÃO

1. Decorar previamente versículos das Escrituras para poder recorrer a eles no instante da batalha espiritual (1
Jo 4.4; Tg 4.6-7; 1 Pe. 5.8-9; Ef 2.6.)

2. Depois de limpar o passado, aprenda a obedecer imediatamente aos primeiros toques do Espírito Santo. No
momento em que a tentação chega à mente, é mais fácil resistir a ela - daí para frente ela se torna mais difícil. Se
for necessário diga: “Vai-te, Satanás, pois está escrito...” e em seguida cite os versos da Bíblia que decorou.

3. Peça a Deus que lhe revele as desculpas que você tem dado para entregar-se à sensualidade, na mente ou no
corpo. Arrependa-se seriamente dessas racionalizações.

4. Passe alguns minutos recitando versículos bíblicos antes de dormir. Isso purificará sua mente e a protegerá
de pensamentos divagantes que ocorrem cedo de manhã.
5. Medite nas palavras de Cristo: “Não peques mais, para que não te suceda cousa pior” (Jo 5.14). O que isso
nos ensina a respeito da disciplina de Deus para conosco, com o fim de impedir-nos de pecar levianamente?

6. Analise bem as peças da armadura espiritual citadas em Efésios 6.10-20. Quais as peças que tendemos a
ignorar? O que podemos fazer para usar essa armadura de maneira mais coerente?

7. Aprenda a orar em meio à batalha contra Satanás. Diga, por exemplo: “Senhor, inclino-me diante de ti em
louvor e adoração. Rendo-me a ti completamente e sem reservas. Tomo posição firme contra as operações do
inimigo, que deseja embaraçar-me neste momento de oração, e dirijo-me somente ao Deus verdadeiro e vivo,
recusando qualquer envolvimento com Satanás em minha oração...” Em seguida, louve a Deus, e reafirme sua posição
em Jesus Cristo, e revista-se da armadura de Deus.

13

A Cura Emocional

A liberdade sexual está destruindo a estabilidade emocional de nossa sociedade. Metade das separações entre
casais é causada pelo fato de um dos cônjuges passar a gostar de outra pessoa, que lhe parece mais atraente.
Levando-se em conta o alto número de desquites e divórcios, pode-se concluir que metade das crianças que vão
nascer este ano serão criadas apenas por um dos pais. Acrescente-se a isso os milhares de nascimentos ilegítimos que
ocorrem por ano, e assim podemos compreender por que milhões de crianças e jovens estão crescendo com
sentimentos de rejeição e abandono, emocionalmente desequilibradas. Durante a guerra do Vietnã, os soldados
americanos geraram cerca de doze mil crianças, que foram consideradas parias naquele país, devido ao seu sangue
mestiço. Muitas delas acabaram morrendo de fome, e outras foram abandonadas pelas ruas, como animais. E muitas
das crianças nascidas no ocidente também sofrem um profundo sentimento de rejeição, como é o caso de uma jovem
americana de quinze anos, que foi repudiada pelos pais. Eles deram as roupas dela para outras pessoas e venderam
sua bicicleta. Não queriam mais ouvir falar dela.
O aborto, uma espécie de “operação limpeza” que vem na esteira da liberação sexual, evidencia o fato de que
os filhos são considerados itens descartáveis, à mercê do capricho dos pais.
E existem muitos outros tipos de males.
As moças que são constrangidas a deitar-se com seus namorados por exigência deles, quando se casam tornam-
se amargas. O sentimento de culpa e a hostilidade provocam frigidez, e obstruem as linhas de comunicação entre
eles. A impotência masculina em muitos casos pode ser atribuída à promiscuidade. Dezenas de milhares de pessoas
hoje estão revoltadas, porque contraíram alguma forma de doença venérea de um cônjuge em quem confiavam
plenamente. Sentem-se traídas, rancorosas.
E, à medida em que a liberação sexual vai deixando suas marcas sobre a alma humana, mais ausentam os
problemas emocionais e a necessidade de uma restauração. Quando uma criança não tem certeza se é ou não
querida, quando uma mulher vê seu marido dedicar seus afetos a outra pessoa, o espírito delas fica esmagado. Aliás,
a dor emocional é muito mais difícil de ser superada do que uma doença física. “O espírito firme sustém o homem na
sua doença, mas o espírito abatido quem o pode suportar?” (P 18.14.)
Consideremos a seguinte história. Uma mulher casada, num momento de paixão desgovernada, teve relações
sexuais com o irmão de seu marido. Pouco depois, ficou grávida, e durante vinte anos viveu sob a tensão de não saber
se o marido era ou não o pai biológico de sua filha.
Depois o marido sofreu um acidente de carro e ficou muito mal, e a família toda se uniu, desejando o
restabelecimento dele. Entretanto, meses mais tarde ele morreu, sem ficar sabendo do segredo da esposa. Após o
sepultamento, a mulher não conseguiu suportar mais o peso de sua culpa, e infelizmente contou à filha a história
toda.
Não é difícil adivinhar o efeito que isso teve sobre a jovem. Hoje ela leva uma vida totalmente desregrada:
drogas, bebidas, sexo ilícito e toda forma de perversão.
O que causou o mergulho dessa moça na ruína moral? Com uma simples declaração de sua mãe, ela perdeu sua
segurança (sua identidade). Passou a desprezar profundamente a mãe, e sua origem estava cercada de incertezas.
Tornou-se revoltada, por não saber quem realmente era.
Ou vejamos a história de uma mulher que teve um filho com o próprio pai. Certo dia, o rapaz descobriu os
registros da família e, quando ficou sabendo que seu pai era na verdade o avô, suicidou.
Esses dois jovens representam milhares de outros que estão expressando hostilidade para com os pais. A
necessidade de ser querido e amado é tão forte no ser humano que, quando uma criança se sente insegura, não
consegue suportar. E algumas pessoas tentam obter esse senso de valor próprio através de uma busca constante de
relações sexuais que ofereçam certas satisfações. Uma jovem cujo pai não é bem afetuoso, por exemplo,
provavelmente desejará o amor de um homem que professe amá-la. E se o preço a ser pago for a sua virgindade, ela
fará o sacrifício, mas com o objetivo de fortalecer sua auto-estima e sentimento de aceitação. Mais tarde, o
relacionamento se deteriora (isso fatalmente acontece), e seu senso de valor próprio fica destruído. Então ela se
encontra numa situação pior que antes. E o ciclo da insegurança vai se repetindo. O passo seguinte pode ser as drogas
ou a bebida. Muitas pessoas simplesmente não conseguem suportar a dor da rejeição.
Uma recente pesquisa sobre o alcoolismo dos adolescentes, realizada em Chicago, revelou que a causa básica
era que os jovens de hoje sentem-se tão inseguros, devido à ruptura dos lares, que não toleram o peso do vazio que
sentem, e, por isso, recorrem à bebida, a fim de suavizar um pouco seu sofrimento emocional.
Diante de fatos contundentes tais como ilegitimidade, incesto, sevícias de crianças e fracasso paterno, como é
que uma pessoa pode se reencontrar emocionalmente? Será que um indivíduo pode estabelecer firmemente sua
própria identidade à parte do núcleo familiar?
Vejamos então alguns pontos de partida para a restauração emocional.

Perdoar Aqueles que de Alguma Forma nos Prejudicaram

É muito difícil, mas não impossível. Embora todas as fibras de nosso ser se revoltem contra a idéia de perdoar
os pais, cônjuge, namorado, temos que perdoar. O sentimento de revolta nunca poderá modificar nosso passado; não
fará com que nosso adversário se prostre à nossa frente em humilde confissão. O mais provável é que essa pessoa que
nos causou tanto mal não ligue a mínima importância para o nosso sofrimento. O pecado entorpece a sensibilidade,
extingue a mais natural centelha de bondade e decência humana. Uma pessoa que comete um pecado sexual e depois
tenta encobrir o erro por si mesmo (sem buscar a misericórdia de Deus) é capaz de qualquer crueldade, verbal ou
física. A Bíblia fala de indivíduos que são ignorantes e que “tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução
para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza” (Ef 4.19). E Paulo fala também de pessoas que “têm
cauterizada a própria consciência” (1 Tm 4.2).
É por isso que o homem que abandona a família ignora totalmente os sentimentos de seus filhos. Eles desejam
do pai seu reconhecimento e aceitação, mas ele não lhes manda nem um cartão de aniversário. Sei de crianças que
choraram, querendo que o pai as amasse, mas esses homens, egoisticamente, só viam suas próprias necessidades
biológicas. Em suma, uma pessoa que se entrega totalmente à sensualidade fica reduzida ao nível de um animal. Para
ela só importam as coisas que ela vê, pensa e sente; os sentimentos dos outros são irrelevantes.
Esses indivíduos raramente reconhecem suas falhas e pedem perdão de seus erros. Somente Deus pode fazê-los
recuperar o bom-senso. Seu coração de pedra nunca será trocado por um coração de carne, a não ser que aconteça
um milagre (Ez 11.19).
Portanto, temos que perdoar aqueles que nos causaram males, mesmo que nunca nos peçam perdão. O mais
provável é que nunca o façam. Nesse caso, o perdão é um ato que praticamos basicamente para o nosso próprio bem,
pois a hostilidade impede qualquer possibilidade de termos uma restauração emocional.
Como podemos perdoar? Relembrando-nos de como Deus perdoou nossas inúmeras falhas. Essa é a prescrição do
Novo Testamento. “Perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou.” (Ef 4.32.) Temos que
perdoar quer sintamos vontade de fazê-lo ou não. É uma decisão que temos de tomar, por mais que nos custe.
Mas, e se a amargura continuar? Temos que rejeitá-la em nome de Cristo, e fazer uma afirmação de fé de que
confiamos nas promessas de Deus. Podemos até querer nos vingar, mas isso é da responsabilidade de Deus. “Não vos
vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu
retribuirei, diz o Senhor.” (Rm 12.19.)
Como um homem perdoa a esposa por ter cometido adultério? Faz dois anos uma senhora foi envolvida num
caso desses. Desde que se casara, vivera sempre sentida por não haver namorado determinado homem que
considerava sexualmente atraente. E a semente daquela idéia foi crescendo, até que afinal ela teve uma
oportunidade de realizar suas fantasias.
E durante dois anos ela ficou com aquela lembrança de que havia traído o marido. Contudo arrependeu-se e
conseguiu assim superar os sentimentos de culpa e vergonha, mas achava que ainda tinha que fazer mais uma coisa.
Tinha que contar ao marido o que acontecera. A reação dele foi de muita cólera, e ficou emocionalmente arrasado.
Nunca pensara que uma coisa dessas pudesse acontecer a um casal que estava casado havia dez anos e que tinha um
relacionamento feliz. E então rejeitou a mulher. Hoje eles quase não se falam, e não têm mais relações conjugais.
Seria muito fácil dizer que a mulher errou ao contar o segredo ao marido. É difícil dizer se ela fez bem ou mal,
mas Deus pode usar essa experiência para abençoar o casamento deles, se cada um reagir da maneira correta.
Já que a esposa se arrependeu, como o marido deveria agir? Felizmente, Deus não retém o seu perdão; nem nós
devemos retê-lo. É verdade que poderíamos dizer que o que aconteceu foi injusto, mas isso não vem ao caso. A maior
parte do que nos sucede na vida é injusta. Aliás, de tudo que aconteceu a Cristo, pouco era justo.
Obedecendo a uma ordem de Deus, o profeta Oseías casou-se com uma mulher de nome Gômer. Ela era
adúltera, e até teve um filho com um de seus amantes, dai o seu nome: Lo-Ami (que significa Não-meu-povo). Depois
ela se tornou prostituta, passando de um homem para outro. E, no entanto. o profeta esperou-a o tempo todo,
chegando a comprá-la num leilão de escravos, onde ela era vendida após ter chegado ao fim de sua vida de pecados.
A profecia que fora feita tanto para Gômer como para Israel, fora a seguinte: “Desposar-te-ei comigo para sempre;
desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdia; desposar-te-ei comigo em
fidelidade, e conhecerás ao Senhor.” (Os 2.19-20.)
Está claro que ela foi plenamente restaurada e até considerada uma mulher pura de novo. Aliás, o profeta diz:
“Será ela obsequiosa como nos dias de sua mocidade” (2.15). O pássaro de asa quebrada volta a voar. Jesus tem um
julgamento muito severo para aqueles que se recusam a ser dadivosos com o perdão, assim como Deus o é. O servo
que fora perdoado por seu senhor, mas não perdoara o seu conservo, foi entregue aos algozes até que pagasse tudo
que lhe devia. E depois Cristo acrescenta: “Assim também meu Pai celeste vos fará, se do intimo não perdoardes cada
um a seu irmão.” (Mt 18.35.) É lógico que um marido traído pode perdoar a sua esposa, e o casamento pode ser
maravilhosamente restaurado. Uma experiência dessas, apesar de tão traumatizante, não precisa necessariamente
significar o fim dos sonhos do casal.
Debora Roberts, uma jovem que foi estuprada quando estava fazendo trabalho de visitação para uma igreja do
setor sul de Chicago, veio a aprender depois que, quando conseguiu sentir-se digna e honrada novamente, readquiriu
sua integridade pessoal. Ela perdera a virgindade e juntamente com isso seu respeito próprio. Como poderia perdoar
o estuprador? Mas entendeu que, enquanto não o perdoasse, nunca se libertaria dos sentimentos de culpa e vergonha
que carregava. Após vários meses de sofrimento, ela chegou à seguinte conclusão: “Ninguém nunca deveria ter o
privilégio de roubar de outrem o seu senso de dignidade. Isto é: se uma pessoa vive constantemente com sensação de
culpa ou vergonha por causa de um pecado cometido por outro, na verdade, está permitindo que esse outro controle
sua vida. Seria uma tragédia se Roger Gray tivesse um controle permanente sobre Debora Roberts, e ela não pudesse
nunca mais reconstruir sua vida.” (Raped - Estuprada - Zondervan.)
Você quer que seus pais, sua esposa ou marido fiquem a controlar sua vida? Quer que sejam eles quem resolvam
o que você irá sentir, que determinem a extensão de sua amargura? Você precisa tomar a deliberação de perdoar, se
não por outro razão, pelo menos pelo fato de que você merece isso. Em nome de Jesus, tome a deliberação de
perdoar.

Perdoar a Deus

Perdoar as pessoas é uma coisa. Mas e quanto a perdoar a Deus? Não é ele o soberano Senhor do Universo? Jó
queixou-se violentamente contra Deus, por não haver morrido no ventre materno. Para ele isso teria sido melhor do
que as tragédias que lhe sobrevieram e que tinha de aceitar.
Deus poderia ter banido Satanás para outro planeta, poderia ter criado um homem que deliberasse obedecer-
lhe. “Onde estava Deus quando meu pai e meu irmão me estupraram, quando eu tinha 10 anos?” indagou
amargamente uma jovem de pouco mais de vinte anos. “Que Deus é esse que viu isso sem fazer nada?”
Foi esse exatamente o mesmo problema que Debora Roberts teve de enfrentar. Depois de ler o Salmo 121, com
suas grandes promessas de proteção e orientação de Deus para aqueles que o servem fielmente, ela perguntou: “E
isso aqui, Deus? Será que eu não deveria crer em tuas promessas? Pensei que eu era uma filha querida para ti. Será
que entendi erradamente, e aquilo não era uma promessa de que irias proteger-me? Simplesmente não estou
compreendendo nada. Tu és um Deus de amor ou um Deus vingativo? Tinhas um motivo para que eu fosse estuprada?
Querias realmente que aquilo me acontecesse? Que motivo seria suficientemente importante para justificar essa dor?
Quase me matei por causa disso. Tu te lembras?” (Raped.)
Sua conclusão final foi a mesma que todos nós somos forçados a aceitar: o amor de Deus não impede que
passemos por tragédias como o abuso sexual ou outros tipos de maus tratos. Cristo era o “Filho amado” de Deus e, no
entanto, o Pai não o protegeu dos horrores da crucificação. Esse crime, a despeito de sua hediondez, tornou-se uma
fonte de bênção para nós. Os horrores da sexta-feira santa devem ser vistos pelo prisma das alegrias do domingo da
ressurreição.
Deus pode fazer o mesmo com os lancinantes sofrimentos de nossa vida. Jefté era filho ilegítimo e, no entanto,
Deus o usou de forma poderosa (Jz 11.1,29,32). Raabe era uma prostituta, mas acabou se tornando uma das heroínas
da fé (Hb 11.31).
Quando alguém fica com raiva de Deus, na verdade, está trocando de lugar com ele. Está querendo colocar-se
acima dele, pois o que está tentando é trazê-lo perante seu tribunal pessoal para submetê-lo a um julgamento.
William Cowper falou algo de muito interessante sobre aqueles que desejam acusar a Deus:

Arrancam das mãos de Deus


Sua balança e seu cetro.
Rejulgam sua justiça
E tornam-se juizes de Deus.

Confesse a Deus sua amargura contra ele. Pense apenas em sua graça infinita, e assim será perdoado e aceito.
Alguém disse que Deus pode consertar a vida estraçalhada de qualquer pessoa, desde que se lhe entreguem os
pedaços. A amargura tem que ser rendida a Deus.

Veja-se Como Uma Pessoa Preciosa Para Deus

O autodesprezo é uma das mais eficazes armas de Satanás. Quando nos rejeitamos a nós mesmos, estamos
depreciando o mais elevado plano da criação divina na terra.
Aqueles que sofreram algum tipo de crueldade muitas vezes culpam a si mesmos pela sua sorte, embora na
realidade sejam vítimas dos pecados de outrem. Alguns filhos de pais separados podem pensar que foram a causa da
separação. Uma criança que é forçada a uma relação incestuosa sente-se imunda; e uma moça que é estuprada por
um maníaco sexual é dominada por sentimentos de autodesprezo. Uma culpa falsa, se não for resolvida, é tão
destrutiva como a verdadeira.
Deus quer que tenhamos sentimentos positivos a nosso respeito. Isto é, que possamos agradecer-lhe por termos
sido criados por ele, e possamos estar satisfeitos com nossa aparência. E mais: temos que aceitar as circunstâncias de
nossa vida como parte de um plano através do qual Deus deseja revelar sua misericórdia e longanimidade.
Leia o livro de Efésios e vá anotando todos os termos descritivos aplicados a nós como povo de Deus. Fomos
escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo, adotados, aceitos, redimidos do poder do pecado, e recebemos o
dom do Espírito Santo. Nós nos tornamos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo. E se o valor de um objeto é
determinado pelo preço que se paga por ele, nós temos um alto valor, pois fomos comprados por um preço muito
elevado (1 Pe 1.18-19). Portanto, nosso corpo agora pertence a Deus (1 Co 6.19-20).
Até mesmo nossas características físicas foram determinadas por Deus. Davi escreveu que Deus entretece os
traços de uma pessoa que ainda não nasceu com grande meticulosidade (Sl 139.13-16). Lembremos que antes mesmo
de nascermos, Deus já nos havia chamado pelo nome, dando-nos o privilégio especial de ser um de seus filhos.
A cura emocional leva tempo, mas o seu ritmo pode ser acelerado, se aceitarmos o perdão e a purificação, e
depois afirmarmos, como afirmam as Escrituras, que somos a primeira prioridade de Deus em sua lista de interesses
no universo.

Fale de Suas Lutas

Você já se indagou por que os fatos às vezes não se resolvem por si mesmos? Aqueles que crêem no aconselha-
mento bíblico vez por outra caem na armadilha de pensar que o antídoto para os problemas é a instrução na Palavra
de Deus, que basta memorizar as verdades das Escrituras e aplicá-las à vida. Mas não é assim.
Por vezes, o segredo de se superar as batalhas pessoais está no relacionamento com outros. Ontem mesmo um
homem me falou das lutas secretas que ele tem enfrentado, e que nunca fora capaz de externar. Quando terminou,
dei-lhe algumas sugestões, mas elas não eram tão importantes, quanto o fato de ele haver conseguido abrir o seu
interior para outro ser humano. Para ele foi um alivio ter podido abrir-se totalmente, e ainda assim ser aceito e
confortado.
A resposta para nossa pergunta “Quem sou eu?” nos vem de outras pessoas. É por isso que os pais têm um papel
tão importante na ajuda que dão ao filho, para ele estabelecer sua identidade. Mas se falharem, o corpo de Cristo
tem a responsabilidade de contribuir com o apoio tão necessário à cura emocional. Afinal, somos a continuação do
ministério de Cristo na terra. Cristo se acha fisicamente presente no mundo através de nós.
Certa mulher estava tão dominada por uma auto-aversão, que não conseguia nem olhar-se no espelho. Para
partir o cabelo, procurava espiar-se com o canto do olho, nunca se olhando diretamente. Mas ela mudou; e o que a
mudou? Alguém lhe disse que ela era amada e querida. Depois a abraçaram fazendo-a sentir-se um ser humano
valioso. Seria impossível avaliar quantos problemas emocionais seriam solucionados, se todos nós exercitássemos
pelos outros a mesma ternura e interesse que Cristo, nosso Salvador, tinha.

Quem Você é?

Certo pastor luterano disse a alguns alunos de seminário que teriam menor probabilidade de cair em tentações
morais, se andassem sempre vestidos com a roupa clerical. Ele compreendera que a percepção que temos de nossa
identidade determina a maneira como agimos.
Como você vê a si mesmo? Se a resposta for amargo, encolerizado, culpado, ou qualquer outro adjetivo
negativo, você estará continuamente escorregando para um pântano moral. Não terá motivação para volver os olhos
para cima, nem desejos de passar a caminhar num plano mais elevado. Esses pensamentos negativos irão tomar conta
de sua vida até se tornarem hábitos comuns da vida diária.
Ou será que você está disposto a enxergar-se sob uma nova perspectiva? Está disposto a aceitar pela fé o fato
de que é amado e querido, mesmo que não o sinta? O retrato que Deus faz de você é bem diferente do que você fez
de si mesmo. Ele pode mudar essa visão que você tem de si mesmo, e a partir dai modificar sua conduta e
sentimentos.
A Bíblia contém narrativas de várias pessoas que sofreram crises de identidade, Moisés indagou a Deus: “Quem
sou...?” Mas Deus não respondeu a esta pergunta diretamente. O que ele disse foi: “Eu Sou o que Sou.” (Ex 3.14.) E
em seguida Deus lhe disse para falar o seguinte aos filhos de Israel: “Eu Sou me enviou avós outros.” (Ex 3.14.) Moisés
compreendeu então que sua identidade pessoal só poderia ser entendida com base no seu relacionamento com Deus.
Na verdade, não importava muito quem ele era, desde que soubesse quem Deus era, e lhe obedecesse.
Houve ocasiões em que Deus até mudou o nome de uma pessoa para dar-lhe uma nova imagem, e assim ela
pudesse erguer a cabeça. Dessa forma, ele estava comunicando a essa pessoa a confiança de que bênçãos especiais a
aguardavam à frente.
Abrão significa “pai grande”, mas ele se torna Abraão, “pai de muitas nações”.
Jacó significa “trapaceiro"; mas ele passa a chamar-se “Israel”, “um príncipe de Deus”.
Simão, que provavelmente deriva de Simeão, significa “ouvir"; mas ele torna-se Pedro, “a rocha”.
Agora é sua vez. Qual é seu nome? Será culpa, raiva, sensualidade? Deus quer dar-lhe um novo nome que o
identifique como um filho querido dele. E ao vencedor ele diz: “Bem como lhe darei uma pedrinha branca e sobre
essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe.” (Ap 2.17.)
Deixando o passado para trás, e com o futuro nas mãos de Deus, você pode ser emocionalmente sadio.

ESTUDO E APLICAÇÃO
1. Que experiência da infância pode destruir nossa auto-estima? Qual a responsabilidade dos pais na edificação
da auto-estima dos filhos?

2. Como foi que Cristo procedeu para com uma mulher que havia sido apanhada em vergonha e culpa? (Jo 8.1-
11.) Quais as lições que podemos tirar disso para nós?

3. Qual é a responsabilidade dos membros do Corpo de Cristo, uns para com os outros, em situações onde
surgem problemas emocionais? Medite sobre passagens tais como Romanos 12.5; 14.1-4; 1 Coríntios 12.26-27; Gálatas
6.1-5.

4. Como Cristo aproveitou as fraquezas de Pedro para edificá-lo? Leia passagens como Mateus 14.28-31; 16.16-
23; 18.21-22; Lucas 5.8-10; 22.31-32; João 6.66-68; 13.1-14; 18.10-11.

5. Como o fato de sermos aceitos em Cristo constitui o fundamento para aceitarmos os outros? (Ef 1.6.)

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Diante do Futuro

E agora, para onde vamos? Á informação que recebemos não valerá nada, se não estivermos dispostos a aplicá-
la na solução de nossos problemas.
Suponhamos que alguém more numa cidade que está constantemente sob ataque inimigo. Esse inimigo penetra
ali, atormenta os habitantes do lugar, e depois vai embora, mas volta sempre, entrando todas as vezes por um mesmo
rombo na muralha. Você não acha que os cidadãos ali deveriam procurar uma estratégia de defesa?
Alguns de nós estão sempre sucumbindo aos mesmos pecados, várias e várias vezes, e no entanto não tomamos
a menor providência para “fechar o rombo da muralha”.
A vida cristã, para a maioria de nós, é uma “salada mista”. Momentos de vitória são intercalados por horas de
derrota. Os preparativos que fazemos durante os momentos positivos irão determinar nossa reação no momento em
que a tentação vier.
E como a mente é o principal campo de batalha do pecado, precisamos defendê-la com todo cuidado, ficando
alerta contra fantasias e racionalizações pecaminosas.
Você já sabe exatamente o que vai fazer quando a sensualidade chegar à sua vida? Gostaria de aconselhá-lo a
planejar antecipadamente sua estratégia para essa confrontação inevitável.

Comece falando de seu problema a uma ou duas pessoas de sua confiança. Você se sentirá fortalecido pelo
apoio delas em oração, e Deus abençoará este seu ato de humildade. Quando confessamos um problema desses para
outrem, isto é sinal de que esgotamos nossos próprios recursos. Significa que estamos mais preocupados em superar o
problema, do que em pensar no que os outros vão dizer.

Nada Pode Substituir a Submissão

O arrependimento começa com um ato, mas deve continuar como uma atitude. Temos que estar dispostos a
aceitar o que Deus deixa acontecer em nossa vida. Nada pode substituir uma atitude de submissão plena a Deus,
antes das nove horas da manhã. Não pensemos que orar é apenas conversar com Deus; orar é também esperar em
silêncio, pedindo-lhe que nos mostre em que aspecto de nossa vida estamos em desarmonia com ele.
Esteja sempre com todas as contas acertadas perante Deus. Não deixe que “ervas daninhas” (pensamentos “flu-
tuantes") comecem a brotar, senão elas voltarão a criar raízes em sua mente. Esteja em comunhão com Deus o dia
todo, custe o que custar, mesmo que tenha de orar dez vezes por dia.

A Meditação nas Escrituras

A Palavra de Deus é um agente purificador. “Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3).
Isso também nos deixa mais fortes contra o pecado. “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?
Observando-o segundo a tua palavra.” (SI 119.9.)
Podemos apropriar-nos do poder da Palavra de Deus, se a lermos diariamente, anotando tudo que aprendemos
em cada texto lido. Nada pode tomar o lugar da Palavra de Deus; ela deve ocupar todos os espaços de nossa mente.
Podemos memorizar versos da Bíblia que estejam diretamente relacionados com os aspectos nos quais somos mais
tentados, e aplicá-los depois, nos momentos certos, mesmo quando já em cima da hora. E quando a tentação se
aproximar, podemos dizer: “Resisto a essa tentação em nome de Jesus”, e citar em seguida os versos memorizados.
Certo homem adquiriu o costume de recitar o versículo de Mateus 5.8: “Bem-aventurados os limpos de coração,
porque verão a Deus”, cinco vezes, logo que se via confrontado por pensamentos sensuais. Só então ele conseguiu
dizer não para a lascívia, e sim para Deus.
Cada Tentação é um Degrau Para Cima

Você está enfrentando lutas espirituais? Todos nós estamos. Mas temos aí uma oportunidade para
demonstrarmos que Cristo é mais forte que a carne. Deus utiliza as provações em nossa vida para separar a escória do
que é precioso e eterno. E assim pergunta a cada um de nós: “Está disposto a desistir dos ídolos do seu coração em
favor de uma comunhão comigo?”
Graças a Deus pelas tentações. Ele está permitindo que passemos por essas provas, porque deseja que
aprendamos algumas lições. Temos que dar contas a ele, e se tivermos uma atitude de louvor a Deus pelo nosso
“espinho na carne”, isso proporciona a Deus a oportunidade de aperfeiçoar o seu poder na fraqueza. Decore salmos
de louvor a Deus, e empenhe-se na adoração.

Não desista nunca. Cada fracasso que sofremos nos leva a uma posição de maior rendição a Deus. Aprendemos
que o pecado é maligno e que Deus é justo. Cada vez que Deus nos permite cair num estado de desvalimento, nos
arrependemos mais profundamente. A argila se submete totalmente às mãos do oleiro.
Você deve cuidar dos detalhes de seu plano de ação. Pense exatamente o que irá fazer quando a tentação lhe
sobrevier. Entre na batalha bem preparado - pronto para qualquer emergência.
“Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará.” (Jo 8.31,32.)
"Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (V. 36.)

Aprenda a viver bem com DEUS


e com seus
IMPULSOS SEXUAIS

Como se apropriar da graça e do poder de Deus


para vencer as tentações de natureza sexual.

O cristão possui desejos dados por Deus que precisam ser dominados, harmonizados e utilizados da forma
correta: o deseja de expressar sua sexualidade precisa ser conciliado como desejo de ser puro aos olhos de Deus.

Quantas vezes a urgência do deseja sexual entra, em conflito com a importância do desejo espiritual. E hora de
escolha: ceder á tentação ou enfrentá-la e vencê-la. Quando o cristão cede, o resultado é tristeza, frustração,
pecado, sentimentos de culpa, indignidade e rejeição.

O autor deste livro, pastor de uma grande igreja, escreve sobre os problemas da impureza: adultério,
sensualidade, masturbação, homossexualismo, e suas devastadoras conseqüências. Em todas as suas considerações ele
aponta ao leitor o caminho para Deus, de quem pode receber a graça e o poder para viver vitoriosamente com suas
paixões.

Editora Betânia
Leitura para uma vida bem sucedida
Caixa Postal 5010 - 30000 Venda Nova, MG

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