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1. Introdução

A economia brasileira viveu vários ciclos ao longo da história. Em cada ciclo,


um setor foi privilegiado em detrimento de outros, e provocou sucessivas mudanças
sociais, populacionais, políticas e culturas dentro da sociedade brasileira.
O primeiro ciclo econômico do Brasil (Século XVI) foi a extração do pau-
brasil, madeira avermelhada utilizada na tinturaria de tecidos na Europa, e
abundante em grande parte do litoral brasileiro na época do descobrimento.
Em seguida veio o ciclo da cana-de-açúcar (séculos XVI-XVIII), utilizada na
Europa para a manufatura de açúcar em substituição a beterraba. O plantio de cana
adotou o latifúndio como estrutura fundiária e a monocultura como método agrícola,
o que introduziu o modo de produção escravista no Brasil, baseado na importação e
escravização de africanos. O tráfico negreiro só foi interrompido em 1857, com a Lei
Eusébio de Queirós.
Durante todo o século XVIII, expedições chamadas entradas e bandeiras
vasculharam o interior do território em busca de metais valiosos (ouro, prata, cobre)
e pedras preciosas (diamantes, esmeraldas). Afinal, já no início do século XVIII
(entre 1709 e 1720) estas foram achadas no interior da Capitania de São Paulo
(Planalto Central e Montanhas Alterosas), nas áreas que depois foram
desmembradas como Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
A descoberta de ouro, diamante e esmeraldas nessa região provocou um
afluxo populacional vindo de Portugal e de outras áreas povoadas da colônia, como
São Paulo de Piratininga, São Vicente e o litoral nordestino. Já de início, o choque
na corrida pelas minas levou a um conflito entre paulistas e outros (Guerra dos
Emboabas).
Já no início do século XIX, começa uma nova fase da economia brasileira
com o Ciclo do café e a Industrialização.
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2. Período de 1889 a 1930

O período da história política brasileira que vai de 1889 a 1930 costuma ser
designada pelos historiadores como República do Café-com-Leite.
Na primeira República, a política funcionava na base da troca de favores. Na
economia, além da agricultura exportadora, predominantemente cafeeira, houve
significativo desenvolvimento da indústria. Ampliou-se o número de operários, que
organizaram os primeiros movimentos para lutar pelos direitos trabalhistas.
Em 1920, a economia brasileira era essencialmente agrícola. Quase 70% da
população em atividade trabalhava na agricultura. Nessa sociedade, havia nas
fazendas grande número de trabalhadores que recebiam salários miseráveis e, por
isso, dependiam dos coronéis, que exploravam sua força de trabalho. Mas os
poderes dos coronéis ultrapassavam os limites da fazenda, chegando também às
cidades. Os principais empregos e cargos estavam sujeitos à influência pessoal: na
prefeitura, na delegacia, na escola etc.
Campos Sales, político e fazendeiro paulista, foi o segundo presidente civil
da república e um dos principais responsáveis pelo sistema de alianças entre
governadores de estado e governadores federais.
Por meio de tantas alianças e fraudes, as oligarquias agrárias estiveram no
poder durante boa parte da Primeira República. Em São Paulo e Minas Gerais, elas
estavam organizadas em torno de dois partidos políticos: o PRP (Partido
Republicano Paulista) e o PRM (Partido Republicano Mineiro).
São Paulo era o primeiro estado em produção de café; Minas Gerais era o
segundo e destacava-se também pela produção de leite. Nasceu daí o apelido para
a aliança entre PRP e PRM: política do café-com-leite.

2.1 Economia

A estrutura dominante da economia brasileira, no período, era baseada na


produção de matérias primas e gêneros tropicais destinados à exportação e sujeita
às oscilações do mercado internacional.
Os principais produtos agrícolas de exportação sofriam a concorrência de
outros países. Assim, as exportações brasileiras acabaram se concentrando em um
único produto: o café. Destacaram-se também, no período, as produções de açúcar,
algodão, borracha e cacau.
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Participação em Porcentagem dos


Principais Produtos na Receita de Exportação do Brasil
Algodã
Período Café Açúcar Borracha Couros e Peles Outros Total
o
1891-1900 64,5 6,0 2,7 15,0 2,4 9,4 100,0
1901-1910 52,7 1,9 2,1 25,7 4,2 13,4 100,0
1911-1913 61,7 0,3 2,1 20,0 4,2 11,7 100,0
1914-1918 47,4 3,9 1,4 12,0 7,5 27,8 100,0
1919-1923 58,8 4,7 3,4 3,0 5,3 24,8 100,0
1924-1928 72,5 0,4 1,9 2,8 4,5 17,9 100,0

2.2 Café

Desde o início do século XIX até a década de 1930, o café foi o produto que
impulsionou a economia brasileira. Introduzido por Francisco de Melo Palheta ainda
no século XVIII, a partir de sementes contrabandeadas da Guiana Francesa, ficou
concentrado a princípio no Vale do Paraíba e depois nas zonas de terra roxa do
interior de São Paulo e do Paraná. Desde 1820, o café aparece entre os principais
produtos de exportação do Brasil. De 1840 até 1970, por mais de um século,
portanto, o café respondeu por mais de 40% do valor total das exportações
brasileiras, chegando há certos anos, a atingir 80% de seu total.
Em relação à economia da Primeira república: o café não foi a única
produção relevante e a própria economia cafeeira é bastante complexa, pois, além
das fazendas de café, comportam atividades comerciais, de transportes, bancárias e
outras de natureza urbana. Ainda assim, não se pode negar que o café foi o núcleo
em torno do qual grande parte da economia brasileira esteve articulada (direta ou
indiretamente) e também o fulcro da política econômica de todo o período.
A economia cafeeira em São Paulo foi o grande motor da economia
brasileira desde a segunda metade do século XIX até a década de 1920. Como o
Brasil detinha o controle sobre grande parte da oferta mundial desse produto, podia
facilmente controlar os preços do café nos mercados internacionais, obtendo assim
lucros elevados. Segundo Celso Furtado, o maior problema deste sistema
econômico era que, sendo o Brasil um país abundante em terras disponíveis para a
agricultura e em mão-de-obra subempregada, os lucros obtidos incentivavam novas
inversões de capitais no setor, elevando gradualmente a oferta de café a ser
exportado. Por outro lado, a demanda mundial de café tinha a característica de ser
inelástica em relação ao preço e à renda dos consumidores, isto é, o seu
crescimento dependia fundamentalmente do crescimento populacional dos países
consumidores. Assim, tinha-se uma situação de crescimento da oferta de café muito
superior ao crescimento de sua demanda, indicando uma tendência estrutural de
baixa de preços no longo prazo.
Em 1906, diante da previsão de safra extremamente elevada, que se tornou
claro o diagnóstico de superprodução: o Brasil exportava, em média, de 9 a 10
milhões de sacas de café por ano. A safra de 1906, prevista de 16 milhões de sacas,
atingiu cerca de 20 milhões, havendo ainda, no mercado, um estoque de 9 milhões
de sacas. A entrada da safra brasileira em meados de 1906 iria provocar o declínio
abrupto do preço do café e o agravamento da crise já em curso.
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Diante dessa perspectiva, em fevereiro de 1906 reuniram-se, em Taubaté, os


Presidentes dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e consideram
necessária a intervenção no mercado cafeeiro a fim de evitar o aprofundamento da
crise.
As políticas governamentais de valorização do café, conforme instituídas do
Convênio de Taubaté, consistiam basicamente na compra, por parte do governo
federal, dos estoques excedentes da produção de café, por meio de empréstimos
externos financiados por tributos cobrados sobre a própria exportação de café. No
curto prazo, tal política ajudou a sustentar os preços internacionais do produto,
sustentando a renda dos exportadores. Porém, a médio e longo prazo, essa política
deu uma posição de favorecimento do café sobre os demais produtos brasileiros de
exportação, além de inflar artificialmente os lucros do setor (pois essa política não
tinha nenhum impacto sobre a demanda internacional pelo produto), o que
estimulava novas inversões de capitais ma produção, pressionando ainda mais a
oferta nacional de café.
A crise internacional de 1929 exerceu imediatamente um duplo efeito na
economia brasileira: ao mesmo tempo em que reduziu a demanda internacional pelo
café brasileiro, pressionando seus preços para baixo, impossibilitou ao governo
brasileiro tomar empréstimos externos para absorver os estoques excedentes de
café, devido ao colapso do mercado financeiro internacional. Todavia, o governo não
poderia deixar os produtores de café a sua própria sorte e vulneráveis os efeitos da
grande crise; o custo político de uma atitude como essa seria impensável para um
governo que ainda estava se consolidando no poder, como era o caso do governo
de Getúlio Vargas no início da década de 30. Por isso, a partir deste período, o
Estado brasileiro passou a desempenhar um papel ativo na economia nacional.

2.3 Açúcar

O açúcar, que até 1830 era o principal produto brasileiro de exportação, foi
perdendo sua posição devida, basicamente, à concorrência do açúcar de beterraba
produzido na Alemanha, Bélgica e França. Além disso, a produção do açúcar de
cana em Cuba e Porto Rico, ex-colônias espanholas dominadas pelos Estados
Unidos, possuía tarifas preferenciais nesse país.
Diante da concorrência internacional, o açúcar produzido no Brasil passou a
ser vendido, cada vez mais, no mercado interno.
A quantidade exportada, cuja média anual era de 133 mil toneladas na
década de 1891-1900, reduziu-se, em 1911-1920, a uma média de 62 mil toneladas
por ano.
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As regiões produtoras, particularmente o Nordeste, tentaram substituir o


mercado externo pelo interno. Começaram a aumentar suas vendas para o Sul do
Brasil, onde a monocultura do café não deixava espaço para a cana. Mas, devido às
crises do café, São Paulo começou a dedicar-se à produção de açúcar. Assim, a
produção paulista passou de 96 mil sacas, em 1894, para mais de um milhão em
1930. Com isso, a situação das velhas regiões produtoras de açúcar do Nordeste
agravou-se ainda mais.
Como conseqüência, a produção açucareira começou a ser limitada a partir
de 1933 e posteriormente controlada pelo Instituto do açúcar e do Álcool, que
passou a distribuir as cotas de produção entre as diversas regiões do país, além de
controlar os preços.
Com a crise, especialmente no início do século XX, veio a concentração da
produção em grandes unidades, com as modernas usinas substituindo os engenhos
do passado. Ao mesmo tempo, os fornecedores de cana foram perdendo sua
importância – pois asa usinas passaram a ter sua própria produção – e, não raro,
foram obrigados a vender suas terras ao usineiro, o novo senhor do açúcar.

2.4 Borracha

No período em que ocorreu a ampliação da produção cafeeira, a borracha


fornecida pela seringueira tornou-se o segundo produto mais importante na pauta as
exportações brasileiras. Embora já fosse utilizada há muito tempo pelos índios para
fazer calçados, bolas e alguns utensílios, a borracha teve a sua primeira utilização
para apagar traços de lápis. Mas foi só a partir de 1890, paralelamente ao aumento
da produção de automóveis, que a borracha se tornou uma das principais matérias-
primas industriais.
O Brasil, que tinha a maior reserva de seringueiras do mundo, viu sua
produção aumentar constantemente, como mostra o quadro abaixo:

Ano Toneladas

1827 31

1880 7 000

1887 17 000

1901-1910 Média anual: 34 000

A quantidade máxima foi exportada em 1912, quando atingiu 42 mil


toneladas, representando quase 40% do total das exportações do país.
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Essa verdadeira explosão da borracha trouxe a Amazônia luxo e riqueza


para os seringalistas e doenças e miséria para os seringueiros. A população da
Amazônia subiu de 476 mil habitantes, em 1890, para 1,1 milhões em 1906. Mas, a
partir de 1912, iniciou-se um processo de decadência, tão rápido quanto
avassalador.
A explicação para essa decadência está na própria forma de exploração,
que avançou em etapas sucessivas desde o baixo Amazonas (estado do Pará),
passando pelo médio Amazonas (estado do Amazonas), a te atingir o atual estado
do Acre, que se tornou a principal região produtora.
Mas a exploração da borracha era e continuou sendo feita até hoje pelos
métodos mais rudimentares: procura da seringueira, em meio à floresta virgem e
densa, e extração do látex, que depois de defumado e enrolado é entregue pelo
seringueiro ao administrador ou seringalista no centro da propriedade.
Essa forma primitiva de exploração acarretou baixa produtividade a um
custo elevado, sendo facilmente superada pelos ingleses. Eles, já no fim do século
passado, levaram mudas de seringueira do Brasil e passaram a cultivá-las em suas
colônias de Ceilão e Cingapura. A conseqüência não poderia ser mais desastrosa
para o nosso país. Das 423 mil toneladas produzidas no mundo em 1919, 382 mil
procediam do Oriente e apenas 34 mil do Brasil. Da efêmera riqueza dos anos
anteriores nada restou, a não ser uma Amazônia em ruínas, povoada por uma
população na miséria, fruto da exploração dos anos de suposta prosperidade.

2.5 Cacau

Cultivado no sul da Bahia, principalmente nos municípios de Itabuna e


Ilhéus, o cacau teve o destino semelhante ao da borracha no mercado externo.
Paralelamente ao aumento do consumo de chocolates na Europa e nos Estados
unidos, a produção brasileira de cacau cresceu durante toda a Primeira república,
conforme mostra a tabela abaixo:
Ano Toneladas

1880 1 668

1890 3 502

1895 6 732

1900 13 131

1905 21 090

1915 44 980

1925 65 526

1935 100 000


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Os ingleses, entretanto, investiram na produção de cacau na região africana


da Costa do Ouro, área sob seu domínio (a região da Costa do Ouro, hoje integra
Gana). Tal como sucedeu com a borracha, em pouco tempo o produto dessa região
conquistou os mercados internacionais, fazendo declinar a produção do cacau
brasileiro. Os números deixam clara essa situação: em 1935, o Brasil exportou 100
mil toneladas de cacau, enquanto a Costa do Ouro exportou 260 mil toneladas.

2.6 Industrialização

A Primeira República (1889-1930), período de grande vigor da economia


cafeeira, foi também a época em que a Industrialização ganhou impulso, em parte
devido à expansão dos cafezais: com as crises de superprodução, muitos
produtores de café aplicaram parte de seus lucros na indústria.
Em 1889, havia no Brasil pouco mais de 600 fábricas, nas quais
trabalhavam 54 mil operários. Trinta e um anos depois, existiam no país cerca de 13
mil indústrias, que empregavam 275 mil operários. Havia ainda, 233 usinas de
açúcar, onde trabalhavam 18 mil operários, e 231 salinas, que empregavam cerca
de 5 mil trabalhadores.
Concentrando 31% das indústrias, o principal centro de industrialização
brasileira era o estado de São Paulo, onde viviam os mais importantes produtores de
café do país. Em São Paulo também havia um grande número de ex-escravos e
imigrantes que viviam do trabalho agrícola. Muitos destes trabalhadores deixaram o
campo e, em busca de novas oportunidades de vida, acabaram constituindo mão-
de-obra para o setor industrial.
Também se destacaram, pela concentração industrial, os estados do Rio
Grande do Sul (13,3%), Rio de janeiro (11,5%) e Minas Gerais (9,3%).
Procurando substituir importações, especialmente durante a Primeira Guerra
Mundial, que dificultou as exportações européias, a indústria nacional se
desenvolveu, dedicando-se principalmente a fabricação de tecidos de algodão,
calçados, materiais de construção, alimentos e móveis. Em 1928, a renda do setor
industrial superou, pela primeira vez, a renda da agricultura.
A industrialização, que dava emprego para um número crescente de
operários, foi um fator de mudança na composição da sociedade. Antes desse
período, grande parte da força política e social ficava no setor rural. Com o avanço
da industrialização, o setor urbano cresceu em importância: operários e setores
médios urbanos passaram a exigir cada vez mais o direito de participar da vida
política do país.
Em julho de 1917, foi organizada em São Paulo a primeira greve geral da
história do Brasil, provocada pelo descontentamento dos operários com as
condições de trabalho às quais eram submetidos.
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3. Período de 1930 a 1946

O ano de 1929 foi especialmente difícil para os cafeicultores brasileiros. A


produção de café daquele ano atingiu, aproximadamente, 21 milhões de sacas, mas
apenas 14 milhões delas foram exportadas. Vários países foram abalados pela
grave crise econômica, proveniente, principalmente, pela superprodução da indústria
norte-americana, que cresceu mais que as necessidades de seu mercado interno e
produziu mais que o mercado internacional podia comprar. O grande marco dessa
crise de superprodução foi a queda das ações das grandes empresas na Bolsa de
Valores de Nova York. Como as ações perderam quase todo o seu valor, empresas e
bancos foram à falência e milhões de trabalhadores norte-americanos ficaram
desempregados.

3.1 Governo Getúlio Vargas (1930 à 1945)

Diante de todos os acontecimentos, Vargas empenhou-se em


estabilizar a situação da cafeicultura, e, ao mesmo tempo, diversificar a
produção agrícola. Além disso, estimulou o desenvolvimento industrial.

3.2 Café

A crise do café continuou durante o período de Vargas. A queda do preço


internacional do café, precipitada pelos eventos internacionais de 1929, indicava
também a superprodução a que o setor fora levado pelo Programa de Valorização do
Café.
Com o objetivo de defender o setor e tentar de restabelecer o equilíbrio entre
oferta e a procura, Vargas proibiu o plantio de novas mudas de café durante três
anos e ordenou a queima de milhões de sacas estocadas em depósitos do governo.
Como resultado, o preço do café em 1933 reduziu-se a cerca de um terço do que
era em 1928. O Programa de Valorização do Café foi suspenso em 1929, mantendo-
se apenas ações de pequena expressão incapazes de impedir a queda do preço
internacional do grão.
Após a safra de 1934, houve declínio da produção de café e a partir de
1937, o governo procurou alterar a política cafeeira principalmente porque a
produção de outros países crescera muito. Assim, foram eliminados impostos sobre
a exportação brasileira de café a fim de permitir a redução de seu preço no mercado
internacional. Ao mesmo tempo, surgiu a proposta de um acordo internacional entre
os países produtores de café, proposta que não prosperou na época.
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O início da Segunda Guerra Mundial coincidiu com as grandes safras


brasileiras em 1940 e 1941, o que fez reviver a intervenção mais ativa do
departamento Nacional do Café. No entanto, em 1942, sob o efeito de fortes geadas,
a produção brasileira de café declinou e facilitou a sustentação de preços elevados
no mercado interno.
Ao fim da guerra, sob os efeitos adversos do clima sobre a produção
brasileira, registrou-se novamente a elevação do preço do café. Em 1947, o governo
brasileiro definiu um regime cambial em que a taxa oficial (cruzeiro por dólar) era
fixa, implicando, segundo vários analistas, alguma sobrevalorização do cruzeiro e
significativa redução da competitividade das demais exportações agrícolas
brasileiras (em especial do algodão). Desse modo, ao contrário do ocorrido nos anos
30, o café voltou a ser, de longe, o mais importante produto da pauta de exportação
do Brasil.

3.3 Algodão

Para diversificar a produção agrícola e compensar a estagnação da


economia cafeeira, o governo incentivou o cultivo de outros produtos como algodão,
cana-de-açúcar, óleos vegetais e frutas tropicais, porém o único que alcançou
alguma importância foi o algodão.
Esse produto, cuja exportação alcançara 323 529 toneladas em 1939, teve
suas vendas diminuídas durante a guerra, pois os nossos principais compradores
eram as potências do Eixo: Alemanha e Japão.
De 1940 a 1945, nossas exportações de algodão mantiveram a média anual
de 170 mil toneladas, subindo nos três anos seguintes para 300 mil toneladas,
conservando-se, depois de 1956, com uma média anual abaixo de 100 mil
toneladas.

3.4 Industrialização

Além de diversificar a produção agrícola, o governo Vargas preocupou-se


em estimular o desenvolvimento industrial. Para isso, aumentou os impostos de
importação, elevando os preços dos produtos estrangeiros, e diminuiu os impostos
sobre a indústria nacional, estimulando a produção e o consumo de produtos
nacionais. A política industrial nesse período tinha por objetivo substituir importações
de artigos estrangeiros por produtos fabricados no Brasil.
Em conseqüência dessa política econômica, o número de indústrias no país
dobrou (alimentos, tecidos, calçados, móveis etc.), e a elas somaram-se filiais de
indústrias estrangeiras voltadas para a produção química, farmacêutica, de
eletrodomésticos, de motores de veículos, de pneus, etc.
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Em função das dificuldades para a criação de indústrias de base – voltadas


para a produção de máquinas e equipamentos pesados, produtos químicos básicos,
minérios etc. – o governo passou a intervir na economia, fundando empresas
estatais para atuar nos campos siderúrgicos e de mineração. Duas empresas são
exemplos dos empreendimentos do Estado nesse setor:

 Companhia Vale do Rio Doce, destinada à exploração do minério de ferro


em Minas Gerais;

 Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), instalada a partir da construção


da Usina de Volta Redonda, no Rio de Janeiro. O aço fornecido por essa
usina foi fundamental para a industrialização no país, pois era utilizado
como matéria-prima em outros setores fabris.
Contudo, vários fatores contribuíram para dar novo impulso à produção
industrial interna, tais como:

Diminuição das importações, fruto da desvalorização da moeda ocorrida a


partir da crise de 1929 e da política econômica do governo. Enquanto no
período de 1926-1930 importamos em média anual 5,46 milhões de
toneladas, no qüinqüênio seguinte (1931-1935) essa média caiu para 3,83
milhões de toneladas.

Segunda Guerra Mundial, fato que acarretou um declínio no comércio


internacional, e conseqüentemente, a diminuição da importação de produtos
manufaturados.

Atendimento ao mercado externo, especialmente dos países vizinhos, que


enfrentavam as mesmas dificuldades de importação com os seus
tradicionais fornecedores. Em 1943, os produtos têxteis ocuparam o
segundo lugar em nossa pauta de exportações com a participação de 13%,
logo abaixo do café.
Construção da CNS, que entrou em funcionamento em 1946 e marcou o
início da siderurgia brasileira.
Apesar do desenvolvimento alcançado nesse período, o setor industrial não
superou a tradicional agricultura de exportação. Nos anos finais da Segunda Guerra
Mundial (1942-1945), produtos agrícolas como algodão e café voltaram a ser
exportados em condições favoráveis.
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4. Período de 1947 a 1979

A economia brasileira deste período caracterizou-se pelo modelo de


substituição de importações, já iniciada pelo governo Vargas, com o PIB crescendo a
uma taxa média de 7,4% e uma inflação de 28,5% ao ano.
Tal modelo, foi uma reação aos choques externos que afetavam uma
economia primária exportadora dependente de café. Na dinâmica deste processo, o
governo tornou-se um agente importante criando mecanismos de intervenção direta
e instrumentos de política econômica que permitiram o crescimento sustentado da
economia brasileira durante mais de meio século.
O modelo de substituição de importações tinha dois pilares. O primeiro
baseava-se num sistema de preços dos bens comercializáveis de economia que não
correspondia ao vetor de preços externos. Barreiras tarifárias e não tarifárias
isolavam os preços domésticos dos externos, garantindo-se ao produtor um
mercado interno cativo sem a concorrência externa.
O segundo pilar era formado pelo tripé: estatais, multinacionais e empresas
domésticas, que dividiam entre si os vários setores da economia. As estatais
tomavam conta da infra-estrutura, as multinacionais dedicavam-se aos setores de
ponta e as empresas privadas domésticas cuidavam dos setores tradicionais.

4.1 Fortalecimento da Indústria

Uma das mais importantes realizações econômicas, foi o desenvolvimento


da indústria de base, a partir de 1946, quando começou a funcionar a CSN de Volta
Redonda. Nesse ano passaram a ser produzidas no Brasil barras de ferro, folhas-de-
flandres e chapas de aço, necessárias ao funcionamento de outras indústrias, que,
desde então, foram se expandindo, como as indústrias de ferramentas, pregos,
parafusos, utensílios de cozinha, latas, motores, automóveis, aviões, navios, etc.
A indústria automobilística surgiu no Brasil na segunda metade da década
de 1950, com a produção de automóveis, caminhões e ônibus. Na década de 1960,
foi iniciada a fabricação de tratores. A indústria automobilística estimulou o
desenvolvimento de fábricas de autopeças e de componentes de automóveis, como
assentos, faróis, faroletes etc.
A indústria de base também exigiu a construção de novas e mais potentes
usinas hidrelétricas, setor que tomou grande impulso com a instalação da usina de
Paulo Afonso, no Rio São Francisco - BA, em 1955. Seguiram-se as usinas de
Furnas e Três Marias, em Minas Gerais, e outras menores em vários estados.
Também entrou em operação a grande hidrelétrica de Itaipu, na divisa entre Brasil e
Paraguai. O objetivo era o de satisfazer às necessidades energéticas da grande
indústria, especialmente a multinacional, que passou a receber energia a baixo
custo.
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Com a criação da Petrobrás no segundo governo de Getúlio Vargas,


estabeleceu-se o monopólio estatal sobre a exploração de petróleo em território
nacional. Estimulou-se, com isso, o desenvolvimento da indústria de derivados de
petróleo, como fabricas de asfaltos, fertilizantes, borracha sintética, etc.
Expandiram-se também, como conseqüência do desenvolvimento da
indústria de base, inúmeros outros setores industriais, entre os quais as fabricas de
rádios, televisores, geladeiras e eletrodomésticos em geral, além da indústria de
ladrilhos, louças, vidros, etc.
Esse surto industrial, que se seguiu ao desenvolvimento da indústria de
base a partir do término da Segunda Guerra Mundial, limitou-se praticamente à
região sudeste. Nas outras regiões permaneceu o predomínio das atividades
econômicas tradicionais.
A conseqüência da industrialização e da concentração da propriedade da
terra foi o incremento das correntes migratórias, principalmente do Nordeste para o
Sudeste e do campo para a cidade. Com isso a população das grandes cidades
cresceu rapidamente, tornou-se maior que a rural e seus problemas multiplicaram.

4.2 Governo Dutra (1946 à 1950)

O governo Dutra foi influenciado pelos acontecimentos internacionais que


marcaram o pós-guerra.
A equipe do Governo Dutra defendia que, para combater a
inflação, não podia autorizar aumentos salariais.
Procurando criar uma política de investimentos em setores
públicos considerados prioritários – saúde, alimentação, transporte e
energia – o governo Dutra elaborou o Plano Salte, sigla formada pelas
iniciais desses setores.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o lucro com as exportações brasileiras
superou as despesas com a importação. Assim o governo conseguiu pagar os
compromissos de sua dívida externa e ainda conseguiu acumular reservas cambiais
de milhões de dólares. No mandato de Dutra, o nacionalismo econômico da era
Vargas foi abandonado: abriu-se a economia do país às empresas estrangeiras, sem
a preocupação de incentivar o desenvolvimento industrial nacional. Com essa
política de abertura ao estrangeiro, o governo Dutra facilitou a importação de bens
supérfluos.
Pressionado por grupos nacionalistas, o governo Dutra passou a dificultar as
importações, mas já era tarde. Em dois anos, quase 80% da reserva cambial
brasileira havia acabado.
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4.3 O retorno de Vargas (1951 à 1954)

Getúlio Vargas voltou ao poder em 31 de janeiro de 1951, e dizia que voltava


não apenas como líder político, mas como líder popular. Retomou duas diretrizes
que associara a sua imagem pública: o nacionalismo econômico e a política
trabalhista.
Vargas afirmou que daria continuidade a obra de implantação das indústrias
de base. Sua política econômica estava estruturada no Plano Lafer (Plano Nacional
de Reaparelhamento Econômico), a fim de impulsionar a industrialização nacional.
Isso entusiasmou grande parte da população, a maioria dos estudantes, parte dos
militares e vários políticos importantes. Esses setores da sociedade defendiam que o
Brasil deveria montar suas próprias indústrias de extração e refino de petróleo. Para
isso tinham lançado uma campanha com o slogan: .
Em 3 de Outubro de 1953, o Congresso Nacional aprovou a lei que criava a
Petrobras e estabelecia o monopólio estatal da pesquisa, do refino e do transporte
marítimo do petróleo brasileiro.
Ainda em 1953, o governo propôs uma Lei de Lucros Extraordinário, que
limitava a remessa ao exterior dos lucros das empresas estrangeiras estabelecidas
no Brasil. A lei, entretanto, foi barrada no Congresso, devido às pressões os grupos
internacionais.
No dia 1º de Maio de 1954, Vargas autorizou um aumento de 100% no
salário mínimo, atendendo a proposta do ministro do trabalho, João Goulart. Essa
medida provocou enormes protestos entre os patrões e o presidente foi acusado de
pretender instalar no Brasil, uma república sindicalista, igual a que Perón havia
instalado na Argentina.
Durante essa fase do governo Vargas, o salário mínimo recuperou
significativamente seu poder aquisitivo.

Salário Mínimo Real em São Paulo

Porcentagem em relação
Ano
ao salário de 1944 (=100)

1951 53,0

1952 124,8

1953 101,7

1954 138,3
16

4.4 Governo Juscelino Kubitschek (1956 à 1961)

No início dos anos 60, o modelo de substituição de importação teve uma


grande crise. A proposta de fazer “Cinqüenta anos em Cinco” acelerou o
processo de industrialização no Brasil com a execução do Plano de
Metas. Todavia, as finanças públicas foram mal administradas. O
financiamento do déficit público foi feito com emissão de moeda e
empréstimos externos. Não havia títulos da dívida pública para financiar
o déficit público de modo não inflacionário.
No começo da década de 60 a inflação aumentou e o país não
conseguiu honrar os compromissos externos. Ademais, o sistema financeiro era
bastante rudimentar, não tinha instrumentos de crédito para financiar os bens
duráveis e automóveis produzidos aqui, nem tampouco havia crédito imobiliário. Não
havia um Banco central, pois o Banco do Brasil, um banco comercial, era também
um banco central.
Entre as principais realizações do governo JK, destacam-se:

 Construção de usinas hidrelétricas – Furnas e Três Marias


 Implantação da indústria automobilística, que produzia mais de 300 mil
veículos por ano, com 90% das peças fabricadas no Brasil.

 Ampliação da produção de petróleo de 2 milhões para 5,4 milhões de barris;


 Construção de 20 mil quilômetros de rodovias, entre elas a Belém - Brasília;

 Construção da nova capital, Brasília, inaugurada em 21 de Abril de 1960.

4.5 Governo Jânio Quadros (1961)

Jânio Quadros assumiu a presidência da República em 31 de Janeiro de


1961.
Ele era contrário ao comunismo e queria manter o país aberto
ao capital estrangeiro. Em pouco tempo, sua política econômica
antiinflacionária e sua política externa, promovendo a aproximação
com os paises socialistas (União Soviética, China e Cuba),
contribuíram para aumentar a pressão externa e interna. O próprio
setor direitista, que anteriormente o apoiava, passou a lhe fazer violenta oposição.
Não resistindo as pressões políticas, Jânio Quadros, renunciou o cargo no
dia 25 de Agosto de 1961.
17

4.6 Governo João Goulart (1961 à 1964)

João Goulart assumiu a presidência no dia 7 de setembro de 1961, e


reforçou sua linha de governo nacionalista e reformista.
Sua estratégia socioeconômica foi formalizada por meio do
Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, organizado por
Celso Furtado, ministro do planejamento. Esse plano tinha como
objetivos;
 Promover melhor distribuição das riquezas nacionais,
desapropriando os latifúndios improdutivos para defender interesses sociais;

 Encampar as refinarias particulares de petróleo;

 Reduzir a dívida externa brasileira;


 Diminuir a inflação e manter o crescimento econômico sem sacrificar
exclusivamente os trabalhadores.
A inflação e o custo de vida não paravam de subir. As despesas com as
importações aumentavam, e caíam os preços das exportações. Diminuía o ritmo de
crescimento da indústria. Os grandes empresários nacionais e estrangeiros
reduziam os investimentos na produção, pois desconfiavam das intenções políticas
de Jango.
Em 13 de Março de 1964, Jango, falando a mais de 300 mil pessoas num
comício em frente à Estação da Central do Brasil, expôs as dificuldades de seu
governo e anunciou a necessidade de um conjunto de reformas de base para o país.
Entre essas medidas, que acirravam ainda mais os ânimos das elites dominantes e
contrariavam os interesses estrangeiros, estavam: Reforma Agrária, Reforma
Educacional, Reforma Eleitoral e Reforma Tributária.
Além das reformas de base, Jango procurou pela Lei de Remessa de
Lucros, limitar o envio de dólares das empresas multinacionais para o exterior. A
aprovação dessa lei provocou forte reação entre representantes da multinacional,
bem como dos grupos políticos e defensores dos interesses estrangeiros.
Em 31 de Março, de 1964, explodiu a rebelião das Forças Armadas contra o
governo de João Goulart. Sem condições de resistir ao golpe militar, o presidente
deixou Brasília em 1º de Abril de 1964. Passou pelo rio Grande do sul e, em seguida,
foi para o Uruguai como exilado político.

4.7 Governo Castelo Branco (1964 à 1967)

O Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, assumiu o governo em 15


de abril de 1964.
18

As relações diplomáticas com Cuba – único país latino-americano que


adotava um regime socialista - foram rompidas, e foi extinta a Lei de Remessas de
Lucros, permitindo que as multinacionais enviassem às suas matrizes no exterior
grandes somas de dinheiro, resultado dos lucros que obtinham no Brasil.
A economia era dirigida por Roberto Campos, ministro do planejamento, e
Otávio Gouveia de Bulhões, ministro da fazenda, que elaboraram o Programa de
Ação Econômica do Governo (PAEG).
O PAEG além de ser um programa de estabilização para combater a
inflação, foi também de reformas abrangentes, que criou as bases para a retomada
do crescimento econômico do modelo de substituição de importações até o final da
década de 1970. A grande oportunidade perdida pelo PAEG foi não ter feito uma
reforma na educação de primeiro e segundo grau. A preocupação dos economistas
naquela época era com a acumulação de capital físico, uma variável crucial do
modelo Harrod-Domar, a base teórica dos modelos de crescimento econômico, tanto
do PAEG da dupla Campos - Simonsen, como do Plano Trienal. A experiência dos
países asiáticos, que tiveram êxito em crescer com justiça social, mostra que a
educação é um ingrediente fundamental no processo de desenvolvimento
econômico. No Brasil, a educação sempre foi tratada com descaso, a despeito da
existência de evidência empírica, produzida por um bom número de economistas,
desde o início da década de 1970, que a taxa de retorno do investimento em
educação é maior do que a taxa de retorno do investimento em capital físico.
As principais reformas do PAEG foram: tributária, previdenciária, bancária e
financeira.
A tributária criou um sistema moderno de impostos, acabando com os
impostos em cascatas e substituindo-os por impostos sobre o valor adicionado, o
ICM (estadual) e o IPI (federal). O Brasil foi um dos primeiros do mundo a usar este
tipo de imposto, hoje adotado pela maioria dos países. Impostos anacrônicos, como
o do selo, foram abolidos; e os de importação e exportação passaram para a esfera
federal.
A reforma previdenciária acabou com os vários institutos de categorias
profissionais (IAPI, IAPC, IAPTEC, IAPB, etc.) e fundiu-os num único, o Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS). O antigo sistema do IAPs deveria ter seguido
o de capitalização. Todavia, com o passar dos anos foi transformando-se num de
repartição simples, no qual a contribuição dos trabalhadores em atividade financia a
previdência social. O sistema de repartição simples continua sendo usado no Brasil.
A reforma bancária criou o Banco Central, com diretoria independente e com
mandatos fixos. A antiga Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) deu
lugar ao Conselho Monetário Nacional, com nove membros: o ministro da Fazenda,
que o presidia, o presidente do Banco do Brasil, o diretor da Consultoria e
Assessoria em Comércio Exterior (Cacex) do Banco do Brasil, e seis membros com
mandatos fixos dos quais quatro eram os diretores do Banco central.
Já a reforma do sistema financeiro teve como objetivo segmentar este
mercado, com a especialização das empresas. Os bancos comerciais cuidando do
crédito de curto prazo, os de investimento dedicando-se ao crédito de longo prazo,
as empresas de financiamento operando no ramo de crédito ao consumidor e as de
19

crédito imobiliário no financiamento de imóveis. Foi criado também o Banco Nacional


de Habitação (BNH) que entre outras funções administrava o Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS). Os recursos do BNH destinavam-se ao financiamento
imobiliário ou a obras de infra-estrutura urbana.
O FGTS era não somente um mecanismo de poupança forçada, mas
também resolveu um problema que existia nas relações entre o capital e o trabalho.
O trabalhador quando atingia dez anos numa empresa adquiria estabilidade. Na
prática este mecanismo não funcionava porque a empresa demitia o trabalhador
antes que atingisse uma década como empregado. Acabou-se com este dispositivo
legal, e o trabalhador passou a ter um fundo com uma contribuição mensal de 8% do
salário, que poderia ser sacado quando ele fosse demitido ou debaixo de certas
condições, como financiamento da casa própria.

4.8 Governo Costa e Silva (1967 à 1969)

Para suceder Castelo Branco na Presidência da República, foi escolhido


pelo Alto Comando Militar e eleito indiretamente pelo Congresso
Nacional, o Marechal Artur da Costa e Silva, tomou posse em 31 de
março de 1967.
O governo Costa e Silva optou por manter a taxa de inflação em
dois dígitos e introduziu a política de minidesvalorização cambial, uma
política de administração cambial, que desvalorizava a moeda nacional
pela diferença entre as taxas de inflação doméstica e externa. Esta
iniciativa era um avanço com relação à política de câmbio fixo que desestimulava as
exportações e incentivava as importações. Todavia, ela tinha como escopo fixar a
taxa de câmbio real da economia, uma variável real que não deveria ser controlada
pelo Banco Central, pois ele não controlava, no longo prazo, variáveis reais e sim
variáveis nominais.

4.9 Governo Médici (1969 à 1974)

Em razão da doença de Costa e Silva, uma Junta Militar assumiu o poder


em 31 de Agosto de 1969, impedindo a posse do vice-presidente Pedro
Aleixo. Após dois meses, a Junta Militar entregou o poder ao General
Emílio Garrastazu Médici.
No governo Médici, período conhecido como “anos de chumbo”,
o poder ditatorial e a violência repressiva contra as oposições foram
ainda maiores. Os direitos fundamentais do cidadão foram suspensos.
Qualquer um que se opusesse ao governo podia ser preso. Nas
escolas, nas fábricas, nos teatros, na imprensa sentia-se a “mão de ferro” do
autoritarismo.
20

O governo Médici foi marcado ainda por um período de desenvolvimento


econômico que a propaganda oficial chamou de “Milagre Brasileiro”. Na verdade, o
chamado “milagre brasileiro” de milagre não teve nada. O “milagre” foi a época em
que se colheram os frutos das sementes plantadas pelo PAEG.
Comandada pelo ministro da Fazenda, Delfim Neto, a economia cresceu a
altas taxas anuais, tendo como base o aumento da produção industrial, o
crescimento das exportações e a acentuada utilização de empréstimos do exterior.
Em compensação, o governo adotou uma rígida política de arrocho salarial,
diante do qual os trabalhadores e os sindicatos não podiam reagir ã repressão
política.
Entretanto, o “milagre” durou pouco, pois não se baseava na forma
predominante nas próprias forças econômicas do país, mas numa situação externa
favorável e na tomada de empréstimos internacionais. Ao desaparecer essa situação
– por exemplo, com o aumento do preço do petróleo no mercado externo, em 1973 -,
a economia brasileira sofreu grande impacto. A inflação começou a subir e a dívida
externa brasileira elevou-se de maneira assustadora. Teve inicio então, uma longa e
amarga crise econômica.

4.10 Governo Geisel (1974 à 1979)

O sucessor de Médici foi o General Ernesto Geisel, que governou de 1974 a


1979. O novo presidente dizia-se disposto a promover um processo “gradual, lento e
seguro” de abertura democrática.
O governo Geisel começou sua ação democratizante diminuindo a severa
ação da censura sobre os meios de comunicação. Depois, garantiu a realização, em
1974, de eleições livres para senador, deputado e vereador.
No plano econômico, o presidente preferiu introduzir controles
quantitativos adicionais nas importações e financiar o II PND (Plano
Nacional de Desenvolvimento) endividando-se externamente. No curto
prazo a opção pelo endividamento era mais vantajosa para a economia
brasileira. No longo prazo, a dívida externa tornava o país vulnerável à
taxa de juros externa.
Quando o cenário internacional mudou no final da década de 1970 e a taxa
de juros externa aumentou de forma acentuada, o país quebrou.
21

5. Período de 1979 a 2004

O período de 1979 a 2004 é caracterizado pela crise fiscal do Estado e pela


transição para um novo modelo de crescimento. Este período tem duas fases: na
primeira, de 1979 a 1994, a inflação entrou numa trajetória de hiperinflação e a taxa
foi de 460,3% ao ano – o PIB cresceu a uma taxa média de 2,4%; na segunda fase,
o Plano Real debelou a hiperinflação e a taxa de inflação foi de 16,1% ao ano, mas a
economia cresceu apenas a uma taxa de 2,5%.
Neste período a economia brasileira teve um processo de crise e transição
do modelo de substituição de importações para o da economia aberta. Neste último
os preços domésticos dos bens comercializáveis não estão isolados dos preços
externos por barreiras não-tarifárias, nem tampouco existe proibição para a
importação de bens similares aos produzidos no país. Neste novo modelo o Estado
terá uma função importante, mas sua natureza será completamente diferente do
papel do Estado no de substituição de importações. A escolha de 1979 como início
do período de crise e transição deve-se a duas razões. Em primeiro lugar, o
processo de substituição de importações tinha chegado ao seu final depois do II
PND do governo Geisel. Em segundo lugar, no governo João Figueiredo
começavam os erros de política econômica que será a marca registrada dos
próximos 15 anos.

5.1 Governo Figueiredo (1979 à 1985)

O General Ernesto Geisel indicou como sucessor o General João Baptista


Figueiredo, que foi confirmado pelo Congresso, como seus
antecessores.
22

No dia 10 de dezembro de 1979 foi anunciado o primeiro pacote de medidas


de política econômica, ainda com Delfim Neto como ministro do Planejamento. Tal
pacote produziu um crescimento econômico transitório seguido pela primeira
recessão no país depois da II Guerra Mundial.
Contudo, o governo Figueiredo não foi capaz de equacionar sérios
problemas:
 Dívida externa – ao obter empréstimos do FMI, o governo brasileiro teve de
se submeter às exigências dos banqueiros internacionais, que passaram a
ditar as regras de “ajustamento” da economia. Sem poder pagar os
empréstimos já obtidos, o governo e as empresas passaram a pedir outros
para saldar as dívidas anteriores.
 Inflação – bateu recordes históricos durante o governo Figueiredo, superando
a cifra de 200% ao ano. Os mais prejudicados com a inflação foram os
trabalhadores, que tinham seus salários corroídos dia a dia pela elevação do
custo de vida.
 Desemprego – a falta de investimento no setor produtivo (expansão das
empresas) resultou numa redução do crescimento econômico, cuja
conseqüência mais grave foi o aumento do desemprego. Em 1983, os níveis
de desemprego eram altíssimos, chegando a ocorrer uma série de saques a
lojas e supermercados.

5.2 Governo José Sarney (1985 à 1990)

O governo de José Sarney foi inicialmente marcado pela frustração político-


ideológica da volta à democracia com a morte de Tancredo Neves. Ocupando o
posto de vice-presidente, Sarney foi o primeiro civil a tomar posse do governo
presidencial após os anos da ditadura. Historicamente ligado às tradicionais
oligarquias nordestinas, o governo José Sarney tinha a difícil missão de recuperar a
economia brasileira sem abrir mão dos privilégios das elites que apoiavam.
Buscando contornar a crise
da economia, Sarney montou uma
equipe econômica contrária a antiga
política econômica do período
militar, liderada pelo ministro da
Fazenda, Dílson Funaro. A nova
equipe foi responsável pela criação,
em 1986, do Plano Cruzado.
Adotando políticas de controle dos
salários e dos preços, o governo
esperava conter o desenfreado
processo de inflação que assolava a
economia brasileira. No primeiro
instante, os objetivos desse plano foram alcançados: a inflação atingiu valores
23

negativos, o consumo aumentou e os fundos aplicados foram lançados na


economia.
Alguns meses mais tarde, a euforia de consumo levou o plano à falência. A
estabilização forçada dos preços retraiu os setores produtivos e acabou fazendo
com que os bens de consumo desaparecessem das prateleiras dos supermercados
e das empresas. Muitos fornecedores passaram a cobrar um ágio sob a obtenção de
determinados produtos. Além disso, as reservas cambiais do país foram
empregadas na obtenção das mercadorias essenciais que desapareceram da
economia nacional.
A fuga das reservas motivou um processo de crise econômica marcado pela
moratória, ou seja, o não pagamento dos juros da dívida externa brasileira. Não
suportando mais tal conjunto de medidas, o controle dos preços foi eliminado e
assim a inflação voltava a disparar. Mesmo ainda tentando novos planos (Bresser,
1987; e Verão, 1989) a economia brasileira não conseguia vencer seu problema
inflacionário. No ano de 1989, a inflação anual já alcançava 1764%.
A ineficiência do campo econômico, só não ganhou maior destaque na
época devido às movimentações políticas em torno da Constituição de 1988.
Esperada como uma nova lei que acabasse com os últimos entraves do sistema
repressivo militar e garantisse as liberdades civis e políticas, a nova constituição
ofereceu ganhos significativos nas questões das liberdades e dos direitos
individuais.
Em contrapartida, essa nova constituição criou um grande problema
judiciário devido a sua extensão e riqueza de detalhes. Muitos aspectos da
economia, dos poderes instituídos e alguns grupos da sociedade foram prejudicados
com o aspecto eminentemente burocrático da constituição. Além disso, sua infinitude
de artigos abriu brechas para a contradição das diretrizes constitucionais.

Mesmo com tais problemas, a nova carta reintroduziu a população ao jogo político
nacional e garantiu o estabelecimento de princípios democráticos.

5.3 Governo Collor (1990 à 1992)

No ano de 1989, as eleições presidenciais do Brasil foram marcadas pela


frustração do governo Sarney (assolado pela crise econômica) e as expectativas de,
finalmente, ocorrerem eleições diretas depois de mais de trinta anos sem espaço
para as práticas democráticas. O segundo turno dessas eleições
polarizou o confronto entre Luis Inácio Lula da Silva, do Partido dos
Trabalhadores; e Fernando Collor, do Partido Republicano Nacional.
Contando com recursos de vários representantes do
empresariado nacional e aproveitado sua habilidade frentes às
câmeras, Fernando Collor de Mello prometia resolver os problemas
que assolavam o Brasil. Após assumir o cargo, o novo governo anunciou um pacote
de medidas chamado de Plano Collor. Além de buscar a abertura dos mercados, a
24

participação do capital estrangeiro e a diminuição do gasto público, o plano congelou


a renda das cadernetas de poupanças de milhares de brasileiros. E extinguiu a
moeda vigente, o cruzado, restabelecendo o Cruzeiro.
Foi no governo Collor que tiveram início as grandes mudanças que vão
caracterizar o novo modelo de crescimento: abertura da balança comercial do
balanço de pagamentos; reforma do Estado, com início das privatizações das
empresas estatais; e abertura da conta de capital do balanço de pagamentos e
securitização da dívida externa com o Plano Brady. A abertura da balança comercial
foi decorrente da ineficiência do processo de substituição de importações, e não
uma opção ideológica.
A reforma do Estado com a privatização das empresas estatais foi
conseqüência da crise fiscal e também não foi uma opção ideológica. O Estado
simplesmente não tinha recursos para fazer aporte de capital para as empresas
estatais. A abertura da conta de capital talvez tenha sido feita de modo precipitado,
pois esta abertura não ocorreu de modo estruturado, mas sim como resultado de
vários mecanismos que permitiram o fluxo de recursos para aplicação em vários
tipos de ativos no mercado de capitais no Brasil, e da retirada de proibições que
impediam aplicações de brasileiros no exterior. A conseqüência da abertura da conta
de capital é que a taxa de juros real da economia de longo prazo passa a depender
de dois fatores: A taxa de juros real internacional e do risco país.

5.4 Governo Itamar Franco (1992 à 1994)

Em decorrência do impeachment de Collor, Itamar franco como vice-


presidente assumiu a Presidência. O clima era de descontentamento social, de
pressões políticas e de instabilidade econômica. Em 21 de abril de 1993, o
eleitorado foi às urnas para decidir sobre sistema e forma de governo republicana.
Foi quando em fevereiro de 1994, o então Ministro da
Fazenda Fernando Henrique Cardoso anunciou as medidas do Plano
Real. De acordo com seus principais pontos, o Plano Real defenderia
a paridade monetária entre o real e dólar por meio de uma política de
intervenção onde o governo manteria a economia estável mediante a
venda de dólares e a elevação das taxas de juros.

As taxas de juros elevadas eram responsáveis pela atração do capital


especulativo internacional. Mesmo sendo uma alternativa para que as reservas
cambiais fossem fartas e as taxas inflacionárias caíssem com a estabilização do
valor da moeda, a política de controle cambial também oferecia riscos. Caso o
crescimento da economia não passasse a depender menos do capital especulativo,
qualquer tipo de oscilação ou crise na economia nacional colocaria em risco o êxito
do plano.

Para implementar uma estabilização econômica, o Plano Real também incentivou o


processo de importação de produtos. A facilitação no repasse de tecnologias para a
economia interna seria uma porta de entrada para o desenvolvimento industrial.
25

Com a estabilização monetária e a baixa da inflação o poder de consumo da


população de média e baixa renda atingiu índices positivos.
5.5 Governo Fernando Henrique Cardoso (1995 à 2002)

A euforia de consumo do Plano Real, além de surtir números positivos na


economia também foi responsável por uma reviravolta na disputa
presidencial de 1994. Apontado como condutor do Plano Real,
Fernando Henrique Cardoso conseguiu conquistar a presidência em
primeiro turno, com mais de 50 % dos votos válidos.
O Plano Real, diferente dos demais planos de estabilização,
explicitou a questão fiscal e inicialmente criou alguns mecanismos para
um período de transição do Governo Itamar Franco para o do
Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando o ataque à questão fiscal seria
realizado. No início, portanto, o Plano Real mudou o regime monetário, mas não o
fiscal. Muitos analistas afirmam que o Real usou até a crise cambial de 1999, a
âncora cambial, mas na verdade, observando-se o comportamento do Banco Central
durante este período, ele interveio tanto no mercado de câmbio como no de reservas
bancárias, fixando desde o começo uma taxa de juros extremamente elevada. A taxa
de juros foi empregada tanto na crise mexicana, como na asiática, para defender a
taxa de câmbio. O resultado destas políticas foi uma taxa de juros real de 22,5 ao
ano no primeiro mandato de FHC.
No primeiro ano de Fernando Henrique o déficit público aumentou, pois o
superávit primário tornou-se negativo. FHC e sua equipe econômica construíram um
elevado grau de reputação e de confiança da população no início do Plano Real,
porque não utilizaram nenhum tipo de mecanismo que quebrasse contratos ou que
surpreendesse a população, como nos planos heterodoxos. Com esta confiança e
reputação, o governo foi capaz de financiar o déficit público emitindo títulos da divida
publica nos mercados doméstico e internacional. A divida publica teve um aumento
substancial, praticamente dobrando em quatro anos, numa trajetória explosiva que
seria insustentável no longo prazo. Não somente o tamanho da dívida, mas também
sua composição, ou indexada a taxa de juros do mercado de reservas bancárias (a
taxa Selic) o indexada ao câmbio representava um problema, que depois o
Presidente Lula denominou de “Herança Maldita”.
No final do seu primeiro mandato, FHC foi obrigado a implementar uma
política fiscal austera, com um superávit primário que sinalizasse aos detentores da
divida pública o compromisso em pagá-la. A política cambial do primeiro mandato
também se mostrou insustentável, e o governo em janeiro de 1999 foi obrigado a
flutuar o câmbio, adotando o regime de câmbio flexível. O regime de metas de
inflação acabou sendo implantado para tornar o Banco Central responsável pela
taxa de inflação no longo prazo, um objetivo que de maneira explícita ou implícita,
tinha sido adota pelos bancos centrais do mundo desenvolvido a partir dos anos
1990.
26

O tripé da política macroeconômica brasileira – superávit primário, câmbio


flexível e metas de inflação – não foi uma decisão autônoma do governo FHC, mas
sim uma conseqüência dos erros de política econômica cometidos pelo próprio
governo.
A despeito dos erros praticados no primeiro mandato de Fernando Henrique
cabe ressaltar alguns avanços importantes: a negociação das dívidas públicas
estaduais e sua consolidação pelo governo federal; a privatização dos bancos
estaduais que sacavam a descoberto do Banco Central, emitindo moeda, e
funcionando na prática como se fossem bancos centrais; a Lei de Responsabilidade
Fiscal que procuravam impedir a desorganização das finanças públicas; a criação de
um arcabouço legal para a regulação de vários setores da economia; e o
saneamento do sistema financeiro, tanto o público (Banco do Brasil e Caixa
Econômica Federal) como setor privado, com o Programa de Estimulo à
Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer).
Depois da crise cambial de 1999, a política monetária fez uma aterrissagem
suave até estabelecer um novo regime de metas de inflação em meados daquele
ano. O Brasil estava, então, em condições de entrar num período de crescimento
sustentado, com uma taxa de crescimento do produto real de 1% ao trimestre – isto
aconteceu em 2000. Todavia, no primeiro semestre de 2001 ocorreu uma crise de
energia, em grande parte devida à incompetência administrativa do governo que
provocou um choque violento na economia, e destruiu a possibilidade de Fernando
Henrique fazer o seu sucessor. A estabilização acabou com a inflação, mas produziu
uma superdívida pública.
Em 2002, a economia brasileira foi submetida a um novo choque, o choque
político da eleição bastante provável do candidato Lula à presidência da república.
Historicamente, o PT sempre defendia políticas que não resistiam a qualquer tipo de
análise de consistência técnica do ponto de vista econômico. O PT defendia
plebiscitos para decidir o pagamento das dívidas públicas, interna e externa,
afirmava que antes de explorar era preciso matar a fome do povo, e acreditava que
o voluntarismo era suficiente para resolver os problemas da economia.
Com esta perspectiva, era natural que ao invés de comprar reais os
investidores começassem a vendê-los. A conseqüência foi uma rápida depreciação
do Real e o aumento do risco país.
O aumento do risco país provocou o aumento da taxa de juros real. A dívida
pública, que era praticamente indexada ao câmbio e à taxa de juros, aumentou. O
choque político transformou-se em choque fiscal. A herança maldita do PT
converteu-se, na prática, num problema sério, com a ameaça da volta da inflação. A
taxa de inflação, em termos anuais já ultrapassava um dígito. Com um cenário
incerto quanto a postura do governo petista com relação a política monetária
(fixação da taxa de juros do Banco Central), a expectativa de inflação aumentou, e
um fenômeno que seria transitório ameaçava tornar-se permanente.

5.6 Governo Lula (2002 - )


27

Os problemas enfrentados durante a crise econômica no segundo mandato


de Fernando Henrique Cardoso reavivou antigas questões políticas que marcaram a
recente experiência democrática no país. Vivia-se o impasse
de uma democracia plena onde os problemas de ordem social
e econômica não pareciam ter uma clara via de solução. As
esquerdas tentavam, desde o inicio da Nova Republica,
postarem-se como uma opção a população brasileira.
O Partido dos Trabalhadores, valendo-se da trajetória
política junto às classes trabalhadoras de Luis Inácio Lula da
Silva era um dos maiores partidos de oposição da época.
Conquistando alguns governos em esfera estadual e
municipal tentavam alavancar o antigo desejo de colocar Lula
a frente da presidência. Em 2002, o sonho de um mandato
popular e de uma nova esperança ao povo brasileiro finalmente colocou o antigo
sindicalista no cargo máximo do Estado brasileiro.
O Governo Lula iniciou-se com duas decisões estratégicas a serem
tomadas. Em primeiro lugar, a dívida deveria ou não ser reestruturada? Segundo, o
Banco Central deveria usar ou não a taxa de juros para trazer de volta a inflação
para uma taxa anual de um dígito? A primeira opção foi usada pela Argentina e
provocou uma depressão, atingindo as classes menos privilegiadas. É possível que
a experiência argentina tenha convencido o presidente que, do ponto de vista do
trabalhador e das classes de renda mais baixa, a melhor opção seria pagar a dívida.
Este diagnóstica implicava numa política de superávits primários para tornar a dívida
pública sustentável. A segunda decisão, de trazer de volta a taxa de inflação para o
patamar de um dígito, era um imperativo político, pois o combate à inflação levou
Lula a ser derrotado três vezes no passado, e certamente pensando na reeleição era
melhor seguir Maquiavel e fazer o mal de uma única vez. O governo optou por
combater a inflação elevando a taxa de juros. Esta política, num país com a dívida
pública indexada à taxa de juros do Banco Central e sendo em grande parte rolada
no curto prazo, tinha implicação fiscal, pois aumentava ainda mais o déficit público.
Logo, para segui-la era necessário aumentar o superávit primário. O governo Lula
teve início, portanto, com uma combinação de políticas, monetária e fiscal,
recessivas. A teoria econômica é incapaz de precisar as defasagens envolvidas nas
políticas, mas sabe-se de outras experiências que num prazo entre um e dois anos a
economia começa a recuperar-se e aproximar-se da trajetória de crescimento do
produto potencial. Este fato ocorreu no Brasil. A política macroeconômica
responsável criou um ambiente para que a economia brasileira possa crescer, nos
próximos anos, a uma taxa de um por cento ao trimestre.
Cabe ainda ressaltar que no governo Lula houve uma mudança da
composição da dívida pública, tornando a economia brasileira menos vulnerável aos
choques externos. A dívida pública indexada em dólares praticamente desapareceu.
Tal fato ainda não ocorreu com a dívida pública indexada à taxa de juros fixada pelo
Banco Central, mas sua proporção na dívida total tem declinado. Estes fatos são
importantes porque não permitem que um choque externo que afeta o câmbio
transmita-se imediatamente para as contas públicas, e que uma mudança de política
monetária afete instantaneamente o déficit público.
28

6. Período de 2004 a Maio de 2008

Este período iniciado em 2004, é de um novo tempo de crescimento


sustentado, uma obra inacabada, com linhas mestras já bem definidas, mas com
contornos que serão desenhados ao longo do caminho. Entre 2004 e 2007, o PIB
cresceu a uma taxa anual média de 3,7% e a taxa de inflação foi de 3,9% ao ano.

6.1 Continuação do Governo Lula

A transição do modelo de substituição de


importações para o da economia aberta foi
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praticamente completada no segundo ano do primeiro mandato do Presidente Lula,


com a adesão do PT aos principais pontos que caracterizam o novo modelo de
crescimento da economia brasileira que substituiu o antigo e exitoso de substituição
de importações. A transição foi longa, pois levou praticamente uma geração (quase
25 anos), e seu custo elevado se medido em termos de crescimento do produto.
Mas é importante reconhecer que não há mais divergência entre os principais
partidos políticos do país quanto ao “modelo”. Isto é, um consenso se estabeleceu
quanto aos principais pontos em que se assenta esta nova plataforma de
crescimento. Isto não significa dizer que exista consenso de como operar os
parâmetros deste novo modelo e de como resolver os vários problemas com que se
defronta o nosso país.
Mesmo com os escândalos de corrupção e atualmente a dos Cartões
Corporativos, o governo Lula manteve-se firme com sua política de crescimento
econômico.
No dia 30 de abril de 2008 a agência de classificação de risco Standart &
Poor’s anunciou a elevação do rating do Brasil a grau de investimento. Segundo
Fabio Anderaos, analista da Itaú Seguros, com a elevação do Brasil à categoria de
investment grade pela S&D, as ações dos bancos tendem ser mais beneficiadas no
curtíssimo prazo, porque eles são o termômetro da economia, em seguida, o efeito
positivo, se dará de maneira mais difusa, privilegiando empresa com fundamentos
mais sólidos e também com ações com maior liquidez em Bolsa.
Tal anúncio refletiu rapidamente na economia brasileira, no dia 2 de maio de
2008, a Bolsa bateu Recorde com 69367 pontos e o dólar fechou a R$1,65, o mais
baixo desde 10 de maio de 1999.
7. Conclusão

A história econômica do Brasil passou por vários modelos de


desenvolvimento econômico o que causou um retardamento no crescimento do país.
Os políticos se preocupavam com suas conquistas “pessoais” em quanto o
povo sofria as conseqüências de suas decisões erradas.
Brigas e ataques entre os partidos políticos se arrastaram por anos evitando
uma hegemonia de idéias sobre o futuro do país.
Atualmente os principais partidos políticos parecem estar de comum acordo
sobre o modelo econômico a seguir. Estão aprimorando idéias que deram certo no
passado e colhendo seus frutos, porém a lista de problemas da economia brasileira
que demandam soluções ainda é extensa.
Contudo, espera-se que o governo Lula, bem como os governos
subseqüentes, trabalhem com seriedade na solução de tais problemas, permitindo
que o crescimento econômico se faça com justiça social, e o povo brasileiro possa
viver dignamente podendo escolher o que quer comer e não apenas o que ele pode
comprar.
30

8. Anexos
8.1 ANEXO A - Tabela PIB X Inflação de 1964 a 2006.
ANOS PIB INFLAÇÃO
1964 3,4 92,1
1965 2,4 34,3
1966 6,7 39,1
1967 4,2 25
1968 9,8 25,4
1969 9,5 19,3
1970 10,4 19,3
1971 11,3 19,5
1972 11,9 15,7
1973 13,9 15,6
1974 8,1 26,9
1975 5,1 29,3
1976 4,9 38,8
1977 4,9 38,8
1978 4,9 40,7
1979 6,76 77,3
1980 9,2 110
1981 -4,25 95,2
1982 0,83 99,72
1983 -2,93 210,99
1984 5,4 223,8
1985 7,85 235,1
1986 7,49 65,3
1987 3,53 415,83
1988 -0,06 1037,56
1989 3,16 1782,89
1990 4,35 1476,71
1991 1,03 480,23
1992 0,47 1157,84
1993 4,67 2708,17
1994 5,33 1093,89
31

1995 4,42 14,78


1996 2,15 9,34
1997 3,38 7,48
1998 0,04 1,7
1999 0,25 19,98
2000 4,31 9,81
2001 1,31 10,4
2002 2,66 26,41
2003 1,15 7,67
2004 5,71 12,14
2005 2,94 1,22
2006 3,7 3,79

9. Referências Bibliográficas

1. Gremaud, Amaury Patrick. Formação econômica do Brasil. São


Paulo: Atlas, 1997.
2. Cotrim, Gilberto. Historia Global: Brasil e Geral – volume único – 6. ed.
Reform. São Paulo: Saraiva, 2002.
3. Piletti, Nelson. História do Brasil – 14. edição. São Paulo: Ática, 1996.
4. Revista Conjuntura Econômica – Edição 60 Anos – Novembro de 2007.
5. Internet
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_econ%C3%B4mica_do_Brasil
14/03/2008

http://www.newton.freitas.nom.br/ 01/05/2008
http://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil 14/03/2008
http://www.planalto.gov.br 01/05/2208
http://economia.uol.com.br 03/05/2008
5. Televisão
Jornal da Globo exibido dia 02/05/2008
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