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Pensadores da lógica geralmente dividem seus argumentos em duas sub-classes: a classe dos
argumentos dedutivos (inferências necessárias) e a classe dos argumentos indutivos (inferências
prováveis). Neste sentido, Pierce sustenta que existem duas classes distintas de inferências
prováveis: inferências indutivas e inferências abdutivas. Pierce chegou a esta conclusão pensando
sobre o que aconteceria se fossem intercambiadas as proposições do silogismo AAA-1 (Barbara -
um dos silogismos lógicos válidos). Este silogismo tem a forma: Todos os M´s são P´s; todos os S´s
são M´s; então, Todos os S´s são P´s. Pierce tomou este silogismo como representativo da dedução,
mas também pareceu relacioná-lo ao problema de desenvolver conclusões com base em um
conjunto de amostras considerado.
Para prosseguir o raciocínio, vamos tomar um M como sendo membro de uma população de algum
tipo, assim como uma bola na população total de bolas dentro de uma urna particular. Vamos tomar
P como sendo alguma propriedade que um membro desta população pode ter, por exemplo "ser
vermelho". E, finalmente, vamos tomar por S como sendo um membro de uma amostra aleatória
tomada desta população. Assim, o silogismo em Barbara considerado será: Todas as bolas nesta
urna são vermelhas; todas as bolas nesta amostra aleatória são tomadas desta urna; então, todas as
bolas nesta amostra aleatória particular são vermelhas. Neste raciocínio, Pierce considerou a
premissa principal como sendo a regra e a secundária como sendo o caso específico e a conclusão
como sendo o resultado do argumento. O argumento é uma parte de dedução (inferência
necessária): um argumento da população à amostra aleatória.
A partir do argumento descrito acima (silogismo AAA-1), vamos definir um novo argumento
trocando a conclusão (o resultado) pela premissa primária (a regra). O argumento resultante se
torna: Todos os S´s são P´s (resultado); todos os S´s são M´s (caso particular); então, todos os M´s
são P´s (regra). O argumento resultante adquire a forma do silogismo inválido AAA-3. Instanciando
as variáveis com base no cenário das bolas, pode-se obter o seguinte: Todas as bolas nesta amostra
particular são vermelhas; todas as bolas desta amostra particular foram tomadas desta urna; então,
todas as bolas nesta urna são vermelhas. O que temos, neste caso, é um argumento da amostra para
a população. Este tipo de argumento é o que Pierce entende como sendo o significado nuclear da
indução. Ou seja, para Pierce, indução no sentido mais básico é um argumento da amostra aleatória
para a população.
A partir do silogismo AAA-1, vamos definir um novo argumento trocando a conclusão (resultado)
pela premissa secundária (o caso particular). O argumento resultante será: Todos os M´s são P´s
(regra), Todos os S´s são P´s (resultado); então, todos os S´s são M´s (caso particular). O argumento
resultante adquire a forma do silogismo inválido AAA-2. Instanciando as variáveis com base no
cenário das bolas, pode-se obter o seguinte: Todas as bolas nesta urna são vermelhas; todas as bolas
nesta amostra particular são vermelhas; então, todas as bolas nesta amostra particular foram
tomadas desta urna. Esta é uma forma de argumento provável inteiramente diferente tanto da
dedução quanto da indução. Ela adquire ares de conjectura. Este novo tipo de argumento Pierce
chamou de abdução.
A mais importante extensão que Pierce fez a partir destas noções foi integrá-las em uma visão do
método científico. Nesta visão, dedução, indução e abdução deixam de ser simplesmente formas de
argumentos: eles se tornam fases da metodologia científica.