You are on page 1of 2

Augusto Frederico Schmidt

A AUSENTE Os que se vo, vo depressa, Ontem, ainda, sorria na espreguiadeira. Ontem dizia adeus, ainda, da janela. Ontem vestia, ainda, o vestido to leve cor-de-rosa. Os que se vo, vo depressa. Seus olhos grandes e pretos h pouco brilhavam. Sua voz doce e firme faz pouco ainda falava, Suas mos morenas tinham gestos de bnos. No entanto hoje, na festa, ela no estava. Nem um vestgio dela, sequer, Decerto sua lembrana nem chegou, como os convidados Alguns, quase todos, indiferentes e desconhecidos. Os que se vo, vo depressa. Mais depressa que o s pssaros que passam no cu, Mais depressa que o prprio tempo, Mais depressa que a bondade dos homens, Mais depressa que os trens correndo nas noites escuras, Mais depressa que a estrela fugitiva Que mal faz um trao no cu. Os que se vo, vo depressa. S no corao do poeta, que diferente dos outros coraes, S no corao sempre ferido do poeta que no vo depressa os que se vo> Ontem ainda sorria na espreguiadeira, E o seu corao era grande e infeliz. Hoje, na festa ela no estava, nem a sua lembrana. Vo depressa, to depressa os que se vo... (De Pssaro Cego)

VAZIO A poesia fugiu do mundo. O amor fugiu do mundo Restam somente as casas, Os bondes, os automveis, as pessoas, Os fios telegrficos estendidos, No cu os anncios luminosos.

A poesia fugiu do mundo. O amor fugiu do mundo Restam somente os homens, Pequeninos, apressados, egostas e inteis. Resta a vida que preciso viver. Resta a volpia que preciso matar. Resta a necessidade de poesia, que preciso contentar. Publicado: Pssaro cego (1930)

POEMA Encontraremos o amor depois que um de ns abandonar os brinquedos. Encontraremos o amor depois que nos tivermos despedido E caminharmos separados pelos caminhos. Ento ele passar por ns, E ter a figura de um velho trpego, Ou mesmo de um co abandonadoo, O amor uma iluminao, e est em ns, contido em ns, E so sinais indiferentes e prximos que os acordam do seu sono subitamente.

You might also like