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DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
Resumo................................................................................................................... ....3
Introdução.................................................................................... ..............................4
1.Modelo de conservação........................................................................................9
Bibliografia............................................................................... ................................18
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Resumo
Este ensaio apresenta a análise das teorias básicas de transformação social na agricultura e
tem por objectivo ver como estas teorias podem ser aplicáveis em Moçambique. Assim,
apresenta-se as principais linhas dos modelos e suas críticas, e, em seguida, reflecte-se sobre a
sua aplicabilidade em Moçambique, onde se conclui que nenhum modelo só por si é capaz de
explicar o processo de desenvolvimento agrário em Moçambique.
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Introdução
O ensaio baseou-se na pesquisa bibliográfica, isto é, livros, artigos, monografias e revistas que
versam sobre a matéria, bem como apontamentos da aula de Estruturas Socio-económicas nas
Zonais Rurais. A escassez de livros constituiu a principal limitação, pelo que se recorreu
essencialmente à Internet como alternativa.
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Problema: Progressão Geométrica da População versus Progressão
Aritmética da Produção Alimentar
Desde a revolução industrial do século XVIII, a humanidade tem se debatido com os problemas
de falta de alimentos e insegurança alimentar e luta pela busca permanente de alternativa que
ajudem a reverter a situação. A revolução industrial criou condições para a redução de
mortalidade infantil e a ocorrência de várias doenças outrora consideradas endémicas, devido ao
desenvolvimento da ciência, cuja consequência foi o aumento exponencial da população.
O relatório do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA, 1996: 1 e 70-72), indica que
em meados de 1996, a população do mundo ficou em 5,8 biliões, com crescimento de quase 87
milhões de um ano. Mais de 90 por cento deste crescimento está concentrado nos países em
desenvolvimento. Embora a velocidade das taxas de crescimento da população global esteja a
diminuir, as populações da África Sub-sahariana e partes do sul da Ásia ainda estão em expansão
em torno de 3% ao ano, o suficiente para duplicar o seu número em uma geração.
Se se demorou 123 anos para a população mundial crescer de 1 bilião para 2 biliões, levou
apenas 33 anos para o terceiro bilião, 14 anos, para o quarto bilião, e 13 anos para o quinto
bilião. Onze anos depois, algures em 1998, passou os 6 mil milhões de marca.
A Ásia tem 3,5 biliões, pouco menos de 750 milhões de África, América Latina e as Caraíbas
cerca de 500 milhões de habitantes. Em contrapartida, a Europa tem 727 milhões de pessoas e a
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América do Norte tem 295 milhões de habitantes. Três quartos da população do mundo estão
concentrados nos países em desenvolvimento.
Em 2007, a região da SADC tinha 252.4 milhões de habitantes distribuídos da seguinte maneira:
África do Sul 47.7; Angola 16.9; Botswana 1.8; Lesotho 1.8; Madagáscar 19.6; Malawi 13.5;
Maurícias 1.3; Moçambique 20.5; Namíbia 2.1; RDCongo 61.2; Swazilândia 1.0; Tanzânia
39.7; Zâmbia 12.1; Zimbabwe 13.2 (UNFPA, 2007:90). (vide a tabela 4 abaixo).
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Ainda de acordo com UNFPA (ibidem), a Comunidade terá uma população de cerca de 494.4,
distribuída de modo seguinte: África do Sul 48.7; Angola 43.5; Botswana 1.7; Lesotho 1.6;
Madagáscar 43.5; Malawi 29.5; Maurícias 1.5; Moçambique 37.6; Namíbia 3.1; RDCongo
177.3; Suazilândia 1.0; Tanzânia 66.8; Zâmbia 22.8; Zimbabwe 15.8. O gráfico abaixo ilustra a
tendência desta evolução.
Gráfico 4. Tendência demográfica da SADC até ao ano 2050
Fonte: Elaborado com base em dados fornecidos pelo UNFPA (2007) State of World Population
2007 – Unleashing the Potential of Urban Growth. New York.
Porém, o aumento da população não foi nem é acompanhado pelo aumento da produção de
alimentos, facto agravado pela movimentação da população das zonas rurais para os grandes
centros urbanos a busca de emprego nas indústrias e no sector terciário. Esta situação agrava a
situação da fome que é uma das expressões mais graves da pobreza. É um problema real que
coloca a população mundial, sobretudo a maioria residente nas zonas rurais em grande risco de
sobrevivência.
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De acordo com Sachs et al (2005:49), os pequenos agricultores e suas famílias constituem,
talvez, metade da população mundial que sofre com de fome crónica, e a proporção desta
população que vive na África a Sul do Sahara ainda é maior. São agricultores que carecem de
insumos agrícolas para regenerar solos empobrecidos (fertilizantes), técnicas agro – silvícolas e
os seus rendimentos são baixos.
Portanto, está a falar-se de uma situação rural onde os determinantes de produtividade tais como
o capital físico, o capital humano, o conhecimento tecnológico e o capital social são deficientes,
isto é, os agricultores não têm maior quantidade de equipamentos e estruturas de mercado, a
maioria deles é iletrada e, por consequência, não tem acesso a tecnologias mais sofisticadas. Este
facto é agravado pela grande estratificação social, onde se destaca um maior declive nas relações
de género que faz com que os acessos aos recursos produtivos, incluindo a terra, a mão-de-obra,
o crédito, a formação e a tecnologia sejam determinados pelo sexo e, frequentemente, sejam os
homens a obterem a aprovação destes em detrimento das mulheres, não obstante estas serem a
maior força de trabalho nas zonas rurais.
Perante esta situação qual é a alternativa possível? A resposta imediata a essa pergunta dada por
agro – economistas e sociólogos tem sido o desenvolvimento da agricultura. Contudo, se estes
convergem nesta resposta, não conseguem, por sua vez, se conciliar nas formas e estratégias a
seguir para o desenvolvimento da agricultura, facto que faz emergir várias teorias que tentam dar
resposta às formas possíveis que possam conduzir ao desenvolvimento da agricultura e à
transformação social. No presente trabalho analisa-se alguns dos modelos propostos, com o
objectivo de perceber as teses que defendem e as críticas a que são sujeitas, com o intuito de
fazer uma reflexão sobre aplicabilidade destas teorias na agricultura em Moçambique.
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Abordagem analítica dos Modelos de Transformação Social na
Agricultura
induzidas. A questão central da discussão travada entre os diversos modelos é como produzir e
quanto produzir? Trata-se da procura de métodos e meios de produção que garantam uma
maior produtividade. Assim, cada modelo tenta dar uma resposta a estas questões, mas como é
óbvio, as respostas são diferentes, para um mesmo problema. Reconhece-se, no entanto, que a
maioria das actividades económicas e sociais se desenvolvem em torno da agricultura e a
agricultura cria condições para o crescimento económico nas zonas rurais, transformação da
estrutura social, garante a capitalização da força de trabalho, permite a acumulação da riqueza e
reduz a pobreza e cria o bem – estar e a segurança alimentar.
1. Modelo de conservação
De acordo com ADPP (2004), o modelo de conservação parte dos seguintes pressupostos:
Assim, à luz deste modelo a escassez da terra está aumentar e está a usar-se cada vez mais a terra
menos fértil que causa a queda da produtividade marginal do trabalho e da terra, urgindo a
necessidade de manter a produtividade do solo alta ou equilibrada
Neste modelo advoga-se o uso de adubos orgânicos, o uso de terra e trabalho intensivos e a
formação de capital humano intensivo em matérias de drenagem, irrigação e facilidades físicas
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concorrentes à utilização efectiva da terra e água. Aponta-se o fomento de métodos de cultivo
que aumentem a produção ao mesmo tempo protegendo os solos da degradação, tais como: a
rotação de culturas, lavoura mínima e uso de estrumes verdes e forragens na criação animal
(Getaneh, 2002, ADPP 2004).
Este modelo vigorou durante muitos anos e vigora ainda hoje em muitos países como é caso de
Moçambique. Embora o modelo tenha permitido o aumento da produtividade em 1% por ano,
não consegue acompanhar o ritmo de crescimento da população a nível mundial.
2. Modelo de Fronteira
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depende dos custos de transporte e acessibilidade; a terra é homogénea e difere apenas na
localização medida a partir do centro (vila ou cidade); há, contudo, escassez de terra arável junto
do centro, daí a necessidade de expansão (Getaneh, 2002). Foi nesta perspectiva que se
desencadeou a expansão colonial efectuada por portugueses, espanhóis, ingleses e japoneses,
entre os séculos XV e XIX (Mucavele, 2009).
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Ruttan (1988) apud Getaneh (2002), defendeu que o desenvolvimento industrial estimula a
demanda de produtos agrícola, oferta de insumos industriais necessários para o melhoramento da
produtividade e aumento do surplus da mão-de-obra nas indústrias proveniente da agricultura.
Para Schultz (1953) apud Mucavele (2009) o desenvolvimento económico na ordem do modelo
de impacto industrial – urbano respeita matrizes geográficas específicas que são primariamente
urbano industrial na sua composição e a existência de organização económica contribui melhor
quando situada perto de um centro urbano.
4. Modelo de Difusão
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Duma forma geral o modelo permite o melhoramento de sementes e animais, mas não está livre
de criticas. O modelo é criticado porque:
O modelo de Altos Rendimentos foi introduzido por Theodore Schultz, no seu livro
Transforming traditional agriculture, publicado pela primeira vez em 1964. De acordo com
Schultz apud Dall’Acqua (1983:925),
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Podemos assim compreender que, à luz do Modelo de Altos Rendimentos, as tecnologias devem
adaptar-se aos contextos específicos e requerem investigação agrária, agro – indústrias, mercados
agrícolas e serviços de extensão agrária. Este modelo implica o envolvimento de instituições
públicas e privadas de pesquisa na produção de conhecimento técnico; do sector industrial na
produção e comercialização de insumos agrícolas e dos agricultores na aquisição e utilização
eficiente de novos conhecimentos e de novos insumos. Trata-se de desenvolvimento de capital
humano que pode permitir a produção de tecnologias e agricultores mais produtivos.
Neste modelo, o governo e o sector industrial são vistos como guardiães do desenvolvimento
agrário, não só na criação de condições políticas e macroeconómicas seguras e sustentáveis e
concessão de créditos, mas também na oferta de insumos agrícolas através de fomento de
mercados agrícolas.
Todavia, este modelo foi criticado por não trazer uma explicação exaustiva das condições
económicas e sociais que conduzem as instituições a gerar tecnologias e pessoas a absorverem e
usar eficientemente essas tecnologias, nem clarifica o processo pelo qual a relação entre preços
dos factores e do produto induzem investimento em pesquisa numa determinada direcção. Por
isso Hayami e Ruttan (1971:p.43)1 apud Dall’Acqua (1983:925) consideram o Modelo de
Insumos de Altos Rendimentos incompleto. Hayami e Ruttan propõem, portanto, mudanças de
técnicas endógenas como forma crucial de desenvolvimento da agricultura. Para esses autores a
mudança técnica é qualquer mudança nos coeficientes de produção resultante das actividades
dirigidas para o desenvolvimento de novas técnicas incorporadas em projectos, materiais ou
organizações. Em suma, Hayami e Ruttan defendem o modelo de inovações induzidas, que se
fundamenta na programação da educação em interligação com investigação e extensão agrárias,
cujo lema é inovação.
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HAYAMI, Y., e RUTTAN, V.W. Agriculture Development: an international Perspective. London, The Johns
Hopkins University Press, 1972.
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6. Modelo de Inovações induzidas
Como se referiu acima, o modelo de inovações induzidas foi introduzido na economia agrária
por Hayami e Ruttan em 1971. De acordo com este modelo, a transformação na agricultura
resulta da combinação de quatro elementos: disponibilidade de capital físico, disponibilidade
capital social, tecnologia e instituições (Getaneh, 2002). Assim, Hayami e Ruttan discutem os
factores de produção terra, capital trabalho e a capacidade de geração e transferência de
tecnologia, bem como os níveis de especialização, instituições de pesquisa e educação dos
produtores rurais, como elementos a serem considerados na análise do desenvolvimento.
Para Machado (1998), o modelo de inovações induzidas procura explicar a inovação tecnológica
da agricultura, tendo em conta que as tecnologias biológico - químicas e mecânicas resultam da
necessidade de facilitar a substituição de factores de produção relativamente escassos e, portanto,
mais caros, por outros relativamente abundantes.
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Por conseguinte, trata-se de interligar os programas de educação com a investigação e extensão,
onde o desenvolvimento da agricultura assenta sobre a inovação, rumo à resolução dos
problemas do aumento da demanda em produtos alimentares resultante da explosão demográfica
e ao desenvolvimento da agro – indústria.
O desenvolvimento agrário em Moçambique não pode ser guiado com base em um único
modelo. Existe uma necessidade de aumento das áreas de cultivo e da produtividade tal como se
preconiza o modelo de fronteira, ao mesmo tempo que conserva a fertilidade dos solos,
recorrendo ao uso de novas tecnologias (modelo de conservação). As assimetrias regionais não
explicam o desenvolvimento desigual da agricultura no país, muito pelo contrário, as assimetrias
regionais podem jogar um papel importante na diversificação de produtos agrícolas e na
competitividade agrícola entre as diferentes regiões, pois cada região tem suas condições agro –
ecológicas. Mesmo as cinturas das cidades contribuem consideravelmente para o aumento de
produtos alimentares nos centros urbanos. Desta forma o modelo de impacto industrial não se
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revela tão aplicável na realidade moçambicana, a menos que haja argumentos mais do que
contrários.
Por outro lado, Moçambique está empenhado em aumentar os serviços de extensão agrária
através do aumento do número de extensionistas agro-pecuários nas zonas rurais, cuja função é
difundir as práticas de melhoramento de animais e plantas para aumentar a produtividade e o
crescimento da agricultura. Estes serviços são acompanhados com a investigação agrária
responsável de geração de novas tecnologias, melhoramento de sementes e animais, actualmente
encabeçada pela Faculdade de Agronomia da Universidade Eduardo Mondlane, Instituto de
Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) e Institutos Politécnicos de Agricultura e Institutos
Médios Agrários. Nesse contexto, podemos também citar a empresa ProCampo que desenvolve
novas tecnologias agrícolas e as coloca no mercado agrícola moçambicano. Porém, esse processo
deve ser acompanhado de programas de educação em interligação com a investigação e extensão.
Estes exemplos mostram a aplicabilidade conjugada dos modelos de difusão, de insumos de altos
rendimentos e de inovações induzidas.
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Bibliografia
DEFARGES, Phillip Moreau ( 1993), A Mundialização e o Fim das Fronteiras, Instituto Piaget,
Lisboa.
MACHADO, Rosa Teresa Moreira (1998), “Fundamentos sobre o Estudo da Dinâmica das
Inovações do Agribusiness”, in RAC, v.2, nº2, Maio/Agosto, 1998, São Paulo, p. 127 – 141.
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