You are on page 1of 8

Universidade Federal de Uberlândia

Instituto de Geografia
Política e Gestão da Educação
Professora Doutora Joelma Lúcia Vieira Pires

A Gestão Democrática na Educação Escolar Brasileira

Eunir Augusto Reis Gonzaga


83458

Uberlândia
2009
Introdução

O presente artigo faz uma reconstrução histórica da realidade da escola pública no


Brasil. É possível perceber toda a influência do Estado nas decisões e nos rumos tomados pela
escolarização, evidenciando que as medidas tomadas não foram as melhores para a sociedade,
mas atenderam ao objetivo do governo da época, autoritário e pragmático.
Destituiu-se do poder diretoras de caráter pedagógico consolidado, que trabalhavam
em prol do desenvolvimento social, inserindo administradores tecnicistas, que aplicaram
conceitos ideais ao âmbito corporativo, porém deslocados da função social da escola pública.
Analisou-se, ao longo da confecção deste artigo, o quadro atual da escola pública,
mostrando-se procedimentos metodológicos para determinar a realidade atual das
comunidades escolares espalhadas pelo país.
Discutiu-se como deve ser feita a gestão escolar, quem deve ter o poder e quais as
conseqüências de se implantar conselhos escolares nas redes municipais, analisando tanto os
aspectos positivos quanto negativos desta implantação.
Abordam-se as diferentes concepções da administração capitalista, destacando a
especificidade da gestão educacional, seus desdobramentos, limites e possibilidades, no que
concerne aos atuais processos de organização e gestão. Além disso, analisa-se também os
limites e as possibilidades de construção de processos de participação que contribuam para o
repensar da gestão da educação e da escola pública no país, envolvendo os diferentes sujeitos
da comunidade local e escolar: estudantes, professores, funcionários, pais, equipe gestora e
comunidade, dando ênfase ao papel dos funcionários da educação.

2
Desenvolvimento

Surgiu no Brasil, precisamente na década de cinqüenta do século passado, a


Administração Escolar. O foco foi discutir as questões administrativas da escola, desde a
organização à gestão da mesma. No entanto, apenas foi normatizada em 1988, com a
Constituição Federal.
A Administração Escolar deixou de lado as questões políticas, focando no âmbito
estritamente técnico. Para isso, foi apoiada pelo regime autoritário da época, sendo que os
princípios científicos aplicados buscavam como parâmetro os ambientes corporativos. A
teoria aplicada para a consolidação deste formato foi o Taylorismo, buscando resolver os
problemas da gestão da escola, em detrimento do seu caráter formador social.
A Gestão da Escola Pública sofreu com um processo de complexificação, devido ao
crescimento físico das redes de ensino. Este processo incidiu tanto na estrutura e
funcionamento do ensino, quanto na organização do trabalho da escola. O Estado Brasileiro,
para dar sustentabilidade às medidas e garantir suas implantações, criou a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDBEN – 5692/71), passando a fornecer obrigatoriamente 4
anos de escolaridade gratuita aos seus cidadãos.
A falta de definição do papel do Estado na sociedade fez com que surgissem
movimentos que buscavam garantir direitos fundamentais (por exemplo: moradia, saúde,
liberdade de expressão). O foco dos movimentos era o direito à escolarização gratuita,
resgatando a dignidade do magistério público.
Os movimentos colocaram em debate a administração da escola pública. O debate foi
em torno da função social desta escola, exigindo participação. Esta focou nos objetivos da
administração e em quem deve administrar uma escola social, já que os novos
administradores eram tecnicistas e nada faziam em prol do âmbito social, tratando a escola da
mesma maneira com que se tratava uma empresa na época.
A atual escola é deslocada da realidade social: neutra, hermética. O objetivo de uma
escola é ser uma instituição social, e não produtora e reprodutora das relações sociais
capitalistas. Considerando toda uma comunidade escolar, com suas funções sociais, não se
pode assumir uma escola como local corporativo, seguindo uma lógica objetiva. Foi sendo
produzido um consenso em torno da crise educacional brasileira a partir deste momento
histórico.

3
A escola pública tem um papel muito importante com relação à sociedade. Com o
decorrer dos fatos históricos ela se tornou uma escola de massas. Estas são compostas por
indivíduos marcados por graves problemas sociais e menor nível de escolaridade. A escola
pública, em seu papel, precisa chegar a este público. Para isso foram implantados conselhos,
infelizmente a partir de determinações político-partidárias e não de uma demanda própria, que
foi requerida pelos movimentos sociais.
Para analisar os atuais ambientes educacionais públicos é necessário aplicar pesquisas
metodológicas de caráter quanti e qualitativo. As pesquisas precisam reunir o maior número
de informações da população, através de entrevistas, visando ao aprofundamento e maior
abrangência das questões suscitadas. Entrevista semi-estruturada e questionários são
utilizados como instrumentos de pesquisa e coleta de dados. O tamanho das amostras é fixado
em 10% da população das comunidades escolares que são submetidas às pesquisas
metodológicas.
As comunidades escolares em sua grande maioria desconhecem o que se realiza no
âmbito administrativo, não participando das decisões. A participação como convivência não é
valorizada, sendo o foco maior das discussões os problemas sociais e como atuar, sobre eles,
buscando uma melhoria na qualidade de ensino. Ao mesmo tempo em que os segmentos
escolares são favoráveis à descentralização do poder de decisão das mãos do diretor escolar,
os professores são favoráveis a manter esta proposição, desde que a participação na gestão
escolar fique restrita à área administrativa. Os demais funcionários se preocupam com seus
direitos e deveres, acreditando não exercer função educativa, e os pais apenas querem ver a
escola funcionando e avaliar o desempenho de notas de seus filhos.
A implantação de conselhos escolares nas redes municipais caminha, vagarosamente,
em direção aos objetivos propostos. Algumas escolas avançam mais do que outras, devido à
heterogeneidade de nosso país. A iniciativa, a determinação e o compromisso de alguns
professores e especialistas são fatores determinantes para melhorar a vivência democrática no
ambiente escolar público.
Analisando os efeitos negativos dos conselhos escolares implantados nos últimos anos,
deve-se mencionar os horários impróprios, o desinteresse dos pais com relação às reuniões, a
burocracia, a falta de autonomia das escolas, o baixo nível de instrução dos pais e a falta de
tempo para a realização de outras tarefas que não as específicas.
Já os efeitos positivos apontados após a implantação dos conselhos escolares foram a
melhoria da qualidade de ensino, a aprendizagem mais adequada, pais cientes do

4
funcionamento escolar, ampliação da comunicação família-escola e professores interessados
em ouvir os alunos.
Os estudiosos da gestão democrática afirmam a necessidade de se levar em conta,
além dos condicionantes relacionados, os determinantes de ordem econômica (condições de
vida da população) e os de natureza cultural (concepções das pessoas sobre a participação na
escola).
A participação dos pais e alunos na escola não deve ficar restrita aos órgãos oficiais.
Deve-se dar sobre variadas formas e estar vinculada, tanto quanto possível, a outros
movimentos e espaços políticos. Os avanços que se derem no sentido da democratização das
relações da unidade escolar serão em função das lutas que se fizerem em toda a sociedade
civil.
É preciso refletir sobre a administração ou gestão da escola: as principais concepções e
abordagens, tomando-a como um campo de disputa de projetos, cujos desdobramentos
implicam formas de organização e gestão das escolas e a efetivação da educação como um
direito social. Deve-se abordar, ainda, a reforma de Estado brasileiro e as perspectivas para a
gestão escolar, buscando situar a relação entre educação, escola e Estado no Brasil e as
políticas educacionais em curso no país. Ao mesmo tempo, procura-se contextualizar as
políticas educacionais com a gestão democrática, para o avanço das lutas em prol da educação
pública como direito social.
A análise da gestão da educação e da escola por meio da compreensão da estrutura
escolar no Brasil e dos contornos legais de seu funcionamento revela conceitos, concepções e
significados. Nessa busca, percebe-se a discussão da gestão democrática como princípio e
motor nas lutas dos trabalhadores em educação, na conquista do direito à educação para todos
como dever do Estado, expresso na atuação dos diversos entes federativos: União, Estados,
Distrito Federal e os municípios.
A gestão democrática da escola pública aponta concepções, implicações legais e
operacionais, com ênfase no projeto político-pedagógico e no trabalho coletivo na escola.
Ressaltam-se os processos de trabalho na escola, vinculando-os à construção da gestão
democrática.
A discussão sobre os mecanismos de participação da unidade escolar e a construção de
graus progressivos de sua autonomia é fundamental. Ao enfatizar os processos e os
mecanismos de participação, destaca-se, entre outros, a escolha de diretores, os conselhos
escolares e os grêmios estudantis, como espaços de vivência e aprendizado do jogo
democrático.

5
Retoma-se a discussão sobre a gestão democrática e os trabalhadores da educação,
evidenciando conceitos e concepções trabalhadas ao longo do período histórico analisado e
discutidas neste artigo. Visa-se, fundamentalmente, destacar a ação pedagógica que se realiza
na escola por meio do trabalho docente e não-docente e pretende-se ressaltar a necessidade da
efetiva participação dos trabalhadores da educação na construção da gestão democrática na
escola e na garantia da educação como um direito social.

6
Considerações Finais

É preciso considerar a função social do ambiente escolar, não a tratando da mesma


forma que o ambiente corporativo. Administradores tecnicistas nada contribuem para a real
função da escola. O Gestor Escolar deve ser alguém que possua uma história dentro da
comunidade, pois desta forma é possível trazer melhorias em todos os âmbitos.
Percebe-se que a implantação de conselhos escolares, por mais pacienciosa e lenta,
traz benefícios para a comunidade, devendo ser considerada em todas as escolas da rede
pública de ensino.
Espera-se que, além do educador, o funcionário de escola possa compreender as
diferentes concepções e abordagens da administração capitalista e a especificidade da gestão
educacional, bem como aprenda a identificar as relações entre a reforma do Estado brasileiro
e a gestão escolar. Deseja-se, ainda, que o cursista, no exercício de seu fazer profissional e
nos espaços de formação educativa na escola, possa compreender os princípios da gestão
democrática e, principalmente, construí-la em seu cotidiano.
Os parâmetros curriculares nacionais (PCNs), que não foram abordados no
desenvolvimento, são diretrizes elaboradas pelo Governo Federal que orientam a educação no
Brasil e são separados por disciplina. Além da rede pública, a rede privada de ensino também
adota os parâmetros, porém sem caráter obrigatório.
Fica claro perceber que os PCNs, não sendo obrigatórios na rede privada, mas sim na
rede pública, são um mecanismo de coerção social, sendo que o Governo faz uso desta
ferramenta para moldar a sociedade tecnicista e alienada que temos no Brasil hoje.

7
Referências

DOURADO, Luiz Fernandes. Gestão da Educação Escolar. Universidade de Brasília,


Centro de Educação à Distância. Brasília, 2006.

OLIVEIRA, Dalila Andrade. A gestão democrática da escola pública: entre a afirmação


do público e a conspiração do privado. Belo Horizonte, setembro de 1995.

SANDER, Benno. A produção do conhecimento em política e gestão da Educação. In: ___.


Políticas públicas e gestão democrática da Educação. Brasília. Líber Livro Editora, 2005.
p. 117-138.

You might also like