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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(7/7 memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenga católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


■ - Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
"'] controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
i dissipem e a vivencia católica se fortalega no
Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
""" este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaca depositada


em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xxxix Dezembro 1998

"Na Plenitude dos Tempos" (Gl 4,4)

Iminente vinda de Cristo?

A data do Rm do Mundo: Previsóes

Martinho Lutero ontem e hoje

Luteranos e católicos em diálogo

Espiritualidade oriental e catolicismo

Santo Expedito: quem foi?

Pedido que urna enanca faz a seus pais


PERGUNTE E RESPONDEREMOS DEZEMBRO1998
Publica9áo Mensal N°439

Diretor Responsável
SUMARIO
Estéváo Bettencourt OSB "Na Plenitude dos Tempos"
Autor e Redator de toda a materia (Gl 4,4) 529
publicada neste periódico Profecías e admoestagóes:
Iminente vinda de Cristo? 530
Diretor-Administrador:
Predigóes constantes:
O. Hildebrando P. Martins OSB
A data do Fim do Mundo: previsóes .... 540
Administracáo e Distribuicáo: Figura controvertida:
Edicóes "Lumen Christi" Martinho Lutero ontem e hoje 548
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501 Sobre a Justificacáo:
Tel.: (021) 291-7122 Luteranos e católicos em diálogo 557
Fax (021) 263-5679 Pe. Anthony de Mello S.J.:
Espiritualidade Oriental e Catolicismo.. 563
Endereco para Correspondencia:
Ed. "Lumen Christi" Devocáo popular:
Santo Expedito: quem foi? 574
Caixa Postal 2666
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Pedido que urna crianza faz
a seus país 576
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índice Geral de 1998 578
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
na INTERNET: http://www.osb.org.br
e-mail: LUMEN.CHRISTI @ PEMAIL.NET

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O filme "Contato". - Hipnose e fenómenos mediúnicos. - "O Dogma da Infalibilidade" (M.


Schultze). - O Cardeal Rossi e Aníbal Pereira dos Reis. - "Por Amor aos Católicos
Romanos" (R. Jones). - Ordena?áo de Mulher na Irlanda? - Os perigos do tabagismo.

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NA PLENITUDE DOS TEMPOS...
(Gl 4,4)

Sao Paulo nos diz que "na plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho á
Térra" (Gl 4,4).

"Plenitude dos tempos" é expressáo derivada do uso do relógio de agua ou


de areia: um cilindro cheio de agua ou de areia deixava pingar regularmente, por
um orificio pequeño, o seu conteúdo dentro de outro cilindro vazio. Quando este
se achava cheio, dizia-se que o tempo estava preenchido ou que chegara a ple
nitude do tempo. - Pois bem: na linguagem paulina, a mesma expressáo designa
o tempo adequadamente preparado pela Providencia Divina para a vinda do Sal
vador do mundo.

E como foi preparado?


- Nao por um aperfeicoamento constante do género humano, de tal modo
que a humanidade estivesse em ótimas condicóes éticas para receber o Messi-
as. Muito ao contrario, o Apostólo mostra o triste cenarlo da humanidade em Rm
1,18-2,29: com efeito, o mundo greco-romano, dado á idolatría, havia-se entre
gue a todo tipo de perversáo moral: Irocaram a gloria do Deus ¡ncorruptível pelas
imagens do homem corruptível, de aves, quadrúpedes e reptéis... Por isto foram
entregues a paixóes aviltantes" (Rm 1,23-27). Quanto ao povo judeu, nao era
idólatra, mas se ensoberbecía frente aos pagaos, julgando-se condutor de ce-
gos, quando ele mesmo estava sujeito a graves faltas (cf. Rm 2,17-24). Além do
qué, dominado pelos romanos, achava-se dividido em varios partidos: fariseus,
saduceus, herodianos, zelotes, sicarios... Em suma, a humanidade se encontra-
va em baixo nfvel moral e filosófico, presa de erros doutrinários, ecleticismo,
ceticismo e vicios moráis.
Ora foi precisamente tal época que o Senhor Deus quis escolher para
enviar seu Filho ao mundo. Ele veio nao para ser o remate ou o vemiz de urna
humanidade bem estruturada e auto-satisfeita, mas para preencher o vazio dos
homens cansados de procurar urna resposta para os seus anseios. Havia, alias,
na época de Cristo prurridos que anunciavam discretamente a vinda de algo novo
que transformaría a historia (ver pp. 540s deste fascículo). Jesús Cristo veio para
responder aos anseios mais profundos do ser humano desejoso de Verdade,
Amor, Felicidade, Vida... É o que explica a rápida propagacáo da Boa-Nova no
ambiente hostil e perseguidor do Imperio Romano. O jurista Tertuliano (t após
220), convertido do paganismo á fé crista, podia exclamar: "Ó testemunho da
alma humana naturalmente crista!". Tertuliano e muitos outros verificavam que
o ser humano tinha demandas que só a mensagem do Evangelho podia preencher.
O Senhor Jesús prolonga sua vinda, procurando atualmente cada coráceo
humano. Ele nao espera encontrar coracoes satisfeitos consigo mesmos, mas a
consciénda espontánea de que todo homem é pecador e precisa da misericordia
divina. O que Ele quer de cada um de nos, é um coracáo de pobre que ele possa
preencher com a heranca da vida eterna!

529
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXIX - Nfi 439 - Dezembro de 1998

Profecías e admoestacdes:

IMINENTE VOLTA DE CRISTO?

Em síntese: Varías "profecías" modernas prevéem a instauragáo


de um reino de paz e bonanga sobre a Térra, estando Satanás acorrentado.
Restaurase assim a doutrina do milenarísmo ou quiliasmo, que teve cer
ta voga nos prímeiros séculos do Cristianismo, mas foi rejeitado pela Te
ología a partir de S. Agostinho (f 430). Este santo doutor entende os mil
anos de paz em sentido espiritual; significam a históría mesma da Igreja
na medida em queja desfruta, pela graga, o penhor da bem-aventuranga
definitiva.

Nao cessam de aparecer as previsóes de abalo da historia em vir-


tude de iminente vinda de Cristo sobre a Térra, a fim de instaurar um
reino de paz e bonanga, estando Satanás acorrentado: nao haverá mais
pecado, como dizem, e a morte será urna transicáo suave para vida me-
Ihor. Nao se prediz propriamente o fim do mundo, mas o fim de urna era
e o comeco de mil anos de felicidade terrestre.

A seguir, proporemos o teor das "profecías" assim concebidas, tais


como circulam em folhas volantes entre fiéis católicos, e Ihes teceremos
alguns comentarios.

1. As previsóes

A mensagem é assim sintetizada em páginas enviadas aos fiéis:

"Nao há que esperar nenhuma nova revelagao pública ANTES da


gloriosa manifestagao de Nosso Senhor Jesús Cristo." (DV2- Catecis
mo da Igreja Católica n° 66).

Todavia depois...:

530
IMINENTE VOLTA DE CRISTO?

"DEPOIS do Glorioso Retorno de Jesús, anunciado insistentemen


te por Nossa Senhora - especialmente ao Pe. Gobbi - pode haver Nova
Revelagáo Pública. Pode haver um 3S Testamento. Essa Nova Revela-
gáo pode ser estudada ou ratificada no que alguns denominam de Conci
lio Vaticano III, mas que seria melhor significada por CONCÍUO DE JE-
RUSALÉM (23 ?), pois, com a conversáo dos Judeus, é possível que lá
fique a Sede da Igreja".

A síntese assim proposta é explicitada pelos dizeres de alguns vi


dentes tanto do Brasil como do estrangeiro. Eis os principáis desses orá
culos:

1) Vidente John Leary:

"... quando viero Meu Reino Glorioso voces se rejubilaráo por ver o
Meu Dia, entáo Me veráo TODO PODEROSO e Sata em cadeias. Vos-
sas vidas, a partir daf, será O CEU NA TÉRRA. Rezem agora para esta-
rem preparados para a provagáo. A recompensa que receberáo valerá
qualquer sacrificio queporMinha causa fizerem, porpiorque seja."(John
Leary 1,21)

"Será um tempo semelhante ao vivido antes do pecado de Adáo,


em urna térra renovada. Oprocesso de envelhecimento cessará aos trin
ta - os idosos rejuvenesceráo - as críangas atingiráo a plenitude aos
trinta anos. Os animáis e as pessoas viveráo em harmonía porque todos
cresceráo em períeigáo naquele tempo. Em qualquer momento que Me
chamarem EU responderei e estarei presente. TERÁO PLENO CONHE-
CIMENTO DO UNIVERSO. Viveráo até urna idade avangada e muitos
até o fim da Era de Paz. Sentiráo Meu Amor e Paz, SERÁ O CEU NA
TÉRRA. Naquele tempo o mundo será como sonhei que fosse, sem o
mal. Quando virem a gloria da Minha Criagáo, procuraráo agradar-Me em
todos os momentos da vida."

"O tempo continuará, mas nao haverá mais guerras porque cada
um amará seu próximo como amam a MIM. Somente os meus fiéis res-
suscitaráo em corpos glorificados. Teráo tempo para adorar-Me e servir-
Me todos os dias. O vosso agradecimento será continuo por terem sido
admitidos nesta Era. Esta é urna mensagem de esperanga que Ihes dou.
Os que forem purificados gozaráo como premio o Esplendor do Meu Rei
nado." (John Leary, I, 28)

"Quando EU vier novamente, urna grande mudanga ocorrerá em


toda a térra. Sata será derrotado e renovarei a térra, tornando-a igual a
que era antes da queda de Adáo. Alegrem-se porque MEU dia chegará
logo para dissipar as trevas e destruir os maus. Entáo vossa felicidade
será sem limites, e Me daráo gragas e louvores por Minha Vitoria. Te-

531
TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

nham esperanga, Minhas criangas, e, com Minha ajuda, permanegam fir


mes na provagáo contra os homens maus e os demonios."

"Meu amor se derramará sobre todos os animáis, de modo que


homens e animáis viveráo em harmonía. Assim como cuidei dos animáis
no tempo de Noé, assim também agora os salvarei. A beleza se estende
rá sobre tudo, homens e natureza. Protegerei ambos do fogo da Tribuía-
gao." (JL I, 33)

"Sata serájogado no inferno com todos os seus demonios, e reno-


varei a Térra. Reinará grande paz e amor por mais de mil anos. O mal nao
terá mais poder algum e Eu reinarei triunfante." (John Leary II, 1)
2) Fala o vidente de Jacareí (SP):

"Em breve, quando Eu (María) vencer o inimigo, expulsare'! para


sempre o pecado da face da Terral Vtráo novos céus e térras!" (Jacareí,
25/9/93)

"No Triunfo do Meu imaculado Coragáo, OS PECADOS SERÁO


EXTINGUIDOS, junto com o seu autor, e chegará, finalmente, a Era da
Graga, esmagando a Nova Era de Lucifer que agora quer destruir nossa
Santa Igreja." (Jacaréf, 27/1/94)

"Haverá um 2B Grande Pentecostés que há de renovar Céus e Tér


ras. O PECADO SERÁ BANIDO UMA VEZ POR TODAS DA FACE DA
TÉRRA e vira o Reino de Cristo com sua Gloría" (Jacareí, 4/6/94)

"No dia do Triunfo do Meu Imaculado Coragáo TUDO SERÁ LI


BERTADO DO MAL E DO PECADO". (Jacareí, 1/1/95)

"Nunca mais ouviráo falar de prostituigáo, nunca mais ouviráo falar


de roubos nem de mortes. Porque tudo e todos amarao a Deus, pois o
Espirito Santo descera em um segundo Pentecostés mundial..." (Jacareí,
7/9/95)

3) Fala o Manual do Movimento Sacerdotal Mariano

"Entao (na Nova Era de María) toda a Criagáo, LIBERTADA DA


ESCRAVIDAO DO PECADO E DA MORTE (?!!!). Conhecerá o esplen
dor de um Segundo Paraíso TERRESTRE." (Movimento Sacerdotal
Mariano, p. 699)

"A vossa libertagáo coincidirá com o FIM DA INIQUIDADE, com a


COMPLETA libertagáo de toda a Criagáo da escravidao do PECADO e
domal." (MSMp. 790)

"O Filho instaura (NA NOVA ERA) o seu Reino de Graga e de San-
tidade, libertando TODA A CRIAQÁO da escravidao do mal E DO PECA
DO." (MSM p. 742)

532
IMINENTE VOLTA DE CRISTO?

"De modo que (o Universo Criado) seja COMPLETAMENTE liber


tado de todo espirito do mal, DE TODA SOMBRA DE PECADO, e assim
possa abrirse ao encanto de um novo Paraíso TERRESTRE."(MSMp. 801)

"A Cidade Santa deve, enfim, recolher a humanidade remida e sal


va depois que... tiver sido COMPLETAMENTE libertada da escravidáo
de Satanás, DO PECADO e do mal." (p. 805)

4) John Leary novamente:

"Os que morrerem ressuscitaráo com corpos gloriosos e jamáis


morreráo (Ap 20,4), e os que sobreviverem á Tríbulagáo teráo urna vida
longa sobre a Térra na Nova Jerusalém. O fim desta Era vira com a Minha
Purifícagáo. No Fim da Era de Paz vira o Julgamento (Juizo Final)." (II45)

"Depois que as pragas da Revelagáo passarem, EU acorrentarei


sata, os demonios e todos os impíos no Inferno. EntSo a Térra será reno
vada e EU trarei de volta Meus fiéis e comegará a Era da Minha Paz.
Alegrem-se, porque os que viverem gozaráo do paraíso na térra como no
tempo de Adáo" (idem, John Leary II, 55).

"Aqueles que permanecerem fiéis a MIM durante a Tríbulagáo vive-


ráo Comigo na Era da Paz. Todos os presentes ficaráo admirados com a
imponencia e beleza da Criagáo na térra renovada. Tudo será providen
ciado para voces e ficaráo maravilhados com o Novo Jardim do Paraíso.
Voces ME louvaráo e glorificaráo todos os días, como os anjos. Voces
Me agradeceráo continuamente por viver no Novo Mundo da Paz, sem a
presenga do mal."

"Com a proximidade da Minha Era de Paz, todos alcangaráo a per-


feigáo necessária para serem admitidos no Paraíso. EU vos preparare'!
para o Céu enquanto se aperíeigoam na Era da Paz. Meus santos ensi-
naráo a voces tudo o que devem aprender para alcangara perfeigáo no
paraíso. Estes professores seráo os que foram martirizados por cau
sa do Meu Nome e que EU ressuscitarei (Ap 20, 4). Regozijem-se,
pois seráo graduados no paraíso terrestre para alcangar o paraíso celes
te. Para os Meus fiéis será urna recompensa além de toda expectativa."
(John Leary, 4/5/98)

"Meu povo, alegrem-se com antecedencia pela Minha Era de Paz,


quando meus fiéis nela viverem. A temperatura será perfeita todo o tem
po. Voces gozaráo a beleza da Criagáo com um completo conhecimento
de como funciona a vida. Viveráo vidas longas porque estaráo no Meu
Jardim do Éden com todos os elementos vitáis. Tenham esperanga e con-
fianga no tempo da provagáo, e a alegría do mundo perfeito será vossa
para usufruir. Esta ó outra cena da Era da Paz, voces experimentado
Templos de Luz e lugares de Adoragáo para adorar-ME a qualquer hora

533
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

do dia ou da noite. Nao haverá mais qualquer medo de guerra. O medo


dos animáis desaparecerá e poderao acariciá-los sem perigo de mordi
das ou picadas (vide Is 11,6-9). A harmonía deste mundo será além do
que podem imaginar ao verem como tudo pode ser sem a presenga do
mal" (John Leary, 11/6/98).

5) Videntes de Pedralva (MG):

"Em 1999 Satanás será langado no abismo mais profundo do Infer


no. Voces, queridos filhos, nao veráo mais sangue, angustia, maldade.
Voces nao vio precisar mais de dinheiro. Vira o Espirito Santo. Voces,
queridos filhos, veráo tanta beleza na natureza!" (23/1/95, Aparigóes a
Lázaro e María do Carmo em Pedralva, MG)

6) Vidente de Camboriú (SC):

"Eu (Jesús), meu filho, só irei dar protegáo, com os Meus Anjos,
para os que Me obedecerem, cumprindo as Minhas leis. Esses, nada irá
atingir. A Minha cidade santa descera do céu como uma noiva que se
preparoupara o seu noivo, toda ornamentada, com esplendor saindo de
Mim. Alf será o lugar para todos os Meus servidores. Será o ponto de
partida para toda a térra, dando atengáo aos filhos que forem dignos do
Meu amor. Ninguém precisará mais de passaporte para ir a outro lugar,
porque tudo será uma térra livre. Os próprios animáis nao feriráo nin
guém. Os frutos seráo dados em abundancia. Cresceráo na térra sem
precisar mais de adubos ou inseticidas. Em muitos lugares correráo /e/te
e mel em abundancia. Filho nenhum passará fome. A morte sumirá da
face da térra com o seu autor, que é o diabo." (Revelagoes a Bento Con-
ceigao em Camboriú - Santa Catarina: 18/5/96)

"Quero ser o Vosso Amigo aqui e depois. A sementé que EU plan-


tei tem que ser colhida. Ela ME pertence. Só falta voces ME ajudarem,
porque, depois, todos seráo bem recompensados. Um Rei, que tudo criou,
nao deixará nenhum filho de máos vazias, na hora de receber o seu
galardáo. A alegría será geralpara todos que MEseguem. Nunca houve
festa maiordo que esta, que está táo próxima. Os convidados sentaráo a
mesa todos iluminados com suas vestes todas brancas feitas pelo seu
Criador. A fisionomía de cada um será como a de umjovem de 20 anos.
Cada filho ou filha que estiver dentro deste banquete, nada mais se lem-
brará do passado, porque Eu sou a Vida e o Caminho. Lamentagoes, dor
ou morte, isto nao vai mais existir. O Pao da Vida que Sou Eu faz que
Meus filhos sejam eternos, como Eu Sou, tornando todos uma familia só."
(o mesmo, em 12/6/96)

Pergunta-se: que dizer dessas diversas "profecías", táo belas e táo


minuciosas?

534
IMINENTE VOLTA DE CRISTO?

2. Refletindo...

2.1.0 texto de Ap 20,1-10

Verifica-se que os oráculos em foco pretendem basear-se em Ap


20,1-10, texto que foi, durante os primeiros séculos, fundamento de teo-
rias ditas "do milenarismo ou do quiliasmo" e que ainda hoje inspiram
algumas denominacoes de origem bíblica. - Eis o que diz o autor sagra
do:

20,1 "Vi descer do céu um anjo, que trazia na máo a chave do


abismo e urna grande corrente. 2 Capturou o dragáo, a serpente antiga,
que é o Diabo e Satanás, e acorrentou-o por mil anos, 3 e atirou-o no
abismo; ele o fechou á chave e o selou, a fim de que nao seduzisse mais
as nagdes até que se tivessem passado os mil anos. Depois disto, deve-
rá ser soltó por um pouco de tempo.

4 A seguir, vi tronos sobre os quais se assentaram aqueles a quem


foi dado o poder dejulgan eram as almas dos que foram decapitados por
causa do testemunho de Jesús e por causa da Palavra de Deus, e os que
nao adoraram o Animal nem a sua imagem, nem receberam o seu sinal
sobre a fronte e a máo. Voltaram á vida e reinaram com Cristo durante mil
anos. 5 Os outros morios nao voltaram á vida antes que os mil anos se
tivessem passado. É esta a prímeira ressurreigáo. 6 Feliz e santo aquele
que tem parte na prímeira ressurreigáo! Sobre estes a segunda morte
nao tem poder; seráo sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarao com Ele
durante os mil anos.

7 Quando os mil anos se tiverem passado, Satanás será soltó da


sua prisáo. Sairá para seduzir as nagóes que se acham ñas quatro extre
midades da térra, Gog e Magog, a fim de as reunir para o combate; seu
número é como o da areia do mar. 8 Subiram ao interior do país e inves-
tiram contra o acampamento dos santos e a cidade bem-amada; 9 toda
vía, do céu caiu fogo, que as devorou. E o Diabo, que as seduzia, foi
atirado ao lago de fogo e enxofre, onde estavam a Besta e o falso profe
ta; 10 lá seráo atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos".
2.2. Ap 20,1-10: Interpretares questionáveis
No inicio da era crista, o texto de S. Joáo foi por vezes interpretado
á luz de concep$5es judaicas. Ora, os profetas no Antigo Testamento
propuseram a vinda do Messias como inicio de urna era de grande pros-
peridade para Israel; cf. Is 9,1-6; 11,1-9; 54,2s; 60,1-22; Ez 40,1-48; Dn
7,1-28; 12,1-13. Os escritores judaicos subseqüentes, autores de livros
apócrifos, deram colorido muito vivo a tais vaticinios; descreveram o rei
nado do Messias como período de abundancia e felicidade material nes-
te mundo; os homens viveriam um número de anos maior do que a cifra

535
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

de seus días de outrora: "Nao haverá mais anciáo, ninguém que nao seja
saciado de días; seráo todos enancas e jovens" (cf. Is 65,20). Enquanto
alguns judeus identificavam esse bem-estar terrestre com a bem-
aventuranca definitiva do homem, outros assinalavam-lhe um termo após
o qual se dariam o juízo final e a consumacáo de todas as coisas. A
duracáo do reino messiánico assim concebido era, nao raro, calculada
em funcáo dos sete días em que se julgava ter sido criado o mundo: a
historia anterior ao Messias se estenderia por 6.000 anos; o sétimo mile
nio seria o período do reino messiánico, em que os justos neste mundo
gozariam de repouso e bem-estar, paralelos ao repouso de Deus após a
obra de criacáo. Terminados os sete milenios, dar-se-ia finalmente a en
trada de cada criatura no seu estado definitivo. Eis o sistema escatológico
que, na base de Ap 20, construíram os milenaristas cristáos antigos:

1) segunda vinda de Cristo (em gloria e majestade);


2) primeira ressurreicáo (para os justos apenas);
3) juízo universal;
4) reino messiánico de mil anos, ou milenario;
5) ressurreicáo segunda ou geral (para os demais homens);
6) juízo final;
7) premio ou sancáo definitiva.

A primeira ressurreicáo será concedida únicamente aos justos.


Ressuscitados, estes se assentaráo com Cristo como assessores no juízo
que logo a seguir se efetuará. Este é dito universal porque seráo julgados
os povos como coletividades, nao os individuos de per si. Após tal solene
julgamento, inaugurar-se-á urna fase de mil anos ou mais; Satanás es
tando impedido de exercer sua acáo nociva, os justos ressuscitados rei-
naráo com Cristo na cidade de Jerusalém, renovada e gloriosa, gozando
de toda bonanca; em torno deles, no restante do mundo, viveráo os ho
mens aínda nao ressuscitados, usufruindo de melhores condicóes de vida
do que nos tempos anteriores á segunda vinda de Cristo. Terminando tal
período, Satanás moverá a derradeira perseguicáo contra o reino de Cristo,
e será definitivamente prostrado. Dar-se-á entáo a ressurreicáo segun
da, a dos homens que nao tiverem tomado parte na primeira, e proceder-
se-á ao juízo final, juízo de cada individuo em particular, juízo em que
Cristo nao terá assessores, mas examinará tanto os pecadores como os
justos. Este julgamento final é também dito juízo dos morios, enquanto o
anterior (o universal) é chamado, outrossim, o juízo dos vivos.1 Eis os
traeos característicos do Quiliasmo;2 nem todos os pontos do sistema

1É distinguindo assim que os milenaristas interpretam a fórmula das Escrituras (2Tm


4,1; At 10,42; 1Pd 4,5) e do Símbolo de 16: Cristo há de virjulgaros vivos e os morios.
* Quiliasmo vem do grego chillo! = mil.

536
IMINENTE VOLTA DE CRISTO?

sao devidamente esclarecidos pelos seus fautores: nao indicam, por exem-
plo, que tipo de relacóes teráo entre si os homens ressuscitados e os nao
ressuscitados; como poderá o exército diabólico fazer a guerra ao reino
de Cristo glorioso, etc.

O sistema apresenta-se sob duas modalidades:

a) o Mílenarismo grosseiro, que faz consistir a bem-aventuranca


do reino terrestre de Cristo nos prazeres da carne: uso e abuso do matri
monio, da comida e da bebida... Esta forma foi propalada por gnósticos
heréticos no séc. II d.C. e mereceu a condenacao unánime dos Padres e
Doutores da Igreja. Depois de ter caído em esquecimento a partir do séc.
III, a teoría foi ressuscitada por ¡novadores religiosos do séc. XVI;
b) o Milenarismo espiritual ou mitigado, que concebe a felicida-
de em termos mais dignos; afirma que os justos, após a ressurreicáo
primeira, já nao se casaráo nem seráo sujeitos á fome ou á dor, segundo
o que diz Jesús em Le 20,35.

Nos primeiros séculos, o Milenarismo espiritual era doutrina pro-


fessada por varios Padres e escritores da Igreja.1 Sto. Agostinho, depois
de Ihe ter aderido em seus primeiros escritos, propós novo modo de en
tender Ap 20, excluindo o reino milenario2. A autoridade do Santo Doutor
fez com que o sistema caísse em descrédito na sá tradicáo crista; defen-
deram-no, porém, na Idade Media, escritores "iluminados", fanáticos, e
ainda o professavam recentemente alguns estudiosos católicos. Estes
reivindicavam para a sua doutrina o nome de Milenismo, a fim de serem
devidamente diferenciados do Milenarismo crasso, erróneo.

2.3. Ap 20,1-10: o Magisterio da Igreja

O Magisterio da Igreja, embora nao tenha formalmente condenado


0 Milenismo, é-lhe francamente desfavorável. Com efeito, recentemente
ainda foi apresentada ao Santo Oficio a seguinte questáo:
"Que pensar do sistema dito 'Milenarismo mitigado', o qual ensina
que o Cristo Senhor, antes do jufzo final, há de vir á Térra para reinar

1 Assim S. Justino (t cerca de 165), Sto. Irineu (t cerca de 202), Tertuliano (t após
220), Latáncio (f após 317), S. Metódio de Olimpo (f 311).
Urna das expressóes mais fortes da mentalidade milenarísta mitigada tem-se, por
exemplo, na seguinte descrígáo que, do reino terrestre de Cristo, dá Papias (f cer
ca de 130):
"Viráo dias em que as videiras cresceráo, tendo cada qual dez mil cachos; em cada
cacho, haverá dez milbagos; e cada bago espremido dará vinte e cinco medidas de
vinho. E, quando algum dos santos colher um cacho, outro clamará: Sou cacho de
melhor qualidade; toma a mim; por mim bendize ao Senhor. Da mesma forma, o
grao de trigo..." (Na obra de Sto. Irineu, Adversus haereses 5,33).
8 Cf. De clvltate Del 20,7-9.

537
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

visivelmente, quer se admita, quer nao, a ressurreigáo previa de mu'rtos


justos?"

Ao que a Santa Sé respondeu em 1944:

"O sistema dito 'Milenarismo mitigado' nao pode ser ensinado sem
perigo para a fé. - Systema millennarismi mitigati tuto doceri non potest.m

Com efeito, nao se vé como conciliar o Milenarismo com a doutrina


geral da Sagrada Escritura e dos símbolos de fé, que associam a segun
da vinda de Cristo com o juízo final e a inauguracáo de estados definiti
vos, sem que fique margem para um reino de Cristo intermediario entre o
juízo universal e o final, entre o juízo dos vivos e o dos mortos.2
2.4. Ap 20,1-10: A Interpretacáo mais comum

Após S. Agostinho (t 430), a interpretacáo mais comum dada a Ap


20 é a seguinte:

Considere-se tal texto á luz de um paralelo encontrado em outra


obra de S. Joáo (autor do Apocalipse) e que é Jo 5,25.28.29:

"2S Em verdade, em verdade vos digo: vem a hora -eé agora - em


que os mortos ouviráo a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem, viverao...

28 Nao vos admiréis por feto: vem a hora em que todos os que re-
pousam nos sepulcros, ouviráo a voz19 e sairáo; os que tiverem feito o
bem, para urna ressurreigáo de vida; os que tiverem cometido o mal, para
urna ressurreigáo de julgamento".

Como se vé, S. Joáo fala ai de duas ressurreicoes, como também


em Ap 20.

A primeira ressurreicáo dá-se agora (v. 25), ao passo que a outra


nao ocorre agora (v. 28).

Como entender essas duas ressurreicoes?

- A primeira é sacramental; é a passagem da morte espiritual para


a vida espiritual crista mediante o Batismo; esta se dá agora, isto é, no

1 Acta Apostolicae Sedis 36 (1944) 212. Cf. G. Gilleman, Condamnation du


mlllénarisme mltigé, em "Nouvelle Revue Théologique" (1945) 239.
2 Basta lembraras palavras de Jesús:
"O Filho do homem há de vir na gloria de Seu Pal com os anjos, e retribuirá a cada
um conforme as suas obras" (Mt 16,27).
S. Pedro também é claro:
"Os céus devem recebar (o Messias, Jesús) até o momento da restauragáo de
todas as coisas, de que Deus falou pela boca de seus santos profetas" (At 3,21).
A volta do Senhor e a consumacáo de todas as criaturas sao ¡mediatamente asso-
ciadas entre si nestes dois textos.

538
IMINENTE VOLTA DE CRISTO?

decorrer da historia da Igreja. A outra será a ressurreicáo corporal, que


ocorrerá no fim dos tempos, consumando a ressurreicáo sacramental.

Ora a primeira ressurreicáo, de que fala Ap 20,5, vem a ser a pri-


meira ressurreicáo de Jo 5,25; é a batismal. A segunda ressurreicáo (im
plícitamente mencionada em Ap 20,13) identifica-se com a ressurreicáo
corporal a que se refere Jo 5,28. - Entre a ressurreicáo batismal, que
ocorre em cada batizado, e a ressurreicáo corporal, o Apostólo coloca
um reino de Cristo milenar sobre a térra, estando Satanás acorrentado.
Esse milenio significa o tempo da Igreja (que vai para 2000 anos!) na
medida em que é um tempo penetrado pela Vitoria de Cristo sobre o
pecado (mil tem um simbolismo de bonanca); Satanás é, conforme S.
Agostinho, um cao acorrentado, que pode ladrar, mas nao pode morder
senáo a quem se Ihe chega perto.

No fim dos mil anos de Ap 20,7, ou seja, no fim da historia da Igre


ja, dar-se-á o assalto final de Satanás contra os membros da Igreja, a fim
de arrebatá-los para o mal. Mas o Senhor Jesús vira na sua gloria e os
morios ressuscitaráo (ressurreicáo segunda) para o juízo universal. A
segunda morte, de que fala Ap 20,6, é a morte espiritual ou a ruina defi
nitiva do inferno.

Eis esquemáticamente o paralelismo:

Jo 5,25: Jo 5,28:
ressurreicáo 1a < > ressurreicáo 2a

1000 anos de reinado de Cristo sobre a térra


(o penhor da vida eterna nos foi dado; Ef 1,14)

Ap20,5: Ap 20,13:
ressurreicáo 1a < > ressurreicáo 2a

Tal paralelismo e a interpretado que dele fazem os teólogos, nao


surpreendem a quem conhece o estilo simbolista de Sao Joáo. - Verda-
de é que o recurso a simbolismo pode ser, muitas vezes, arbitrario e
preconcebido. No caso presente, porém, tem respaldo no linguajar mes-
mo do Apocalipse e do Evangelho segundo Sao Joáo.

Por conseguinte, carecem de fundamento sólido as férvidas ex


pectativas de próxima vinda de Cristo á térra para instaurar um reino
milenar de paz e bonanca.

539
Predicóes constantes:

A DATA DO FIM DO MUNDO: PREVISÓES

Em síntese: Em nossos dias há quem preveja o fim do mundo ou,


ao menos, o fim de urna era para breve oupara o ano 2000. A expectativa
de fim do mundo ou de urna era ocorre freqüentemente na historia da
humanidade. Deve-se a urna reagáo psicológica diante da inclemencia
dos tempos. Muitos pensam: "Só Deus dá um jeito!" e imaginam aconte-
cimentos drásticos que marcaráo a intervengáo de Deus na historia dos
homens maus. Até hoje aspredigóes de fim do mundo foram desmentidas
pelos acontecimentos. - O artigo subseqüente propóe um elenco de tais
"profecías" desde a época pré-cristá.

Periódicamente, em épocas calamitosas, e nao somente em nos-


sos dias, os homens sao propensos a admitir a proximidade do término
da historia, com flagelos e acidentes múltiplos. Trata-se de urna necessi-
dade psicológica ou de urna reagáo espontánea á inclemencia dos tem
pos; os homens assim criam para si urna garantía ou seguranza mera
mente humana na falta de perspectiva de tempos melhores.

Nao será inútil percorrer a lista das principáis "profecías" já enunci


adas sobre o assunto. Esta visáo de conjunto facilitará um juízo sobre o
que se deva pensar no tocante á data do fim do mundo.

1. Na Antigüidade paga

O mundo pagáo, nos decenios que cercam o nascimento de Cristo,


estava impregnado de forte expectativa de catástrofe e renovacáo; o que
em muitos individuos produzia acentuado pessimismo; em outros, ao
contrario, esperanca jubilosa.

O brilho e a prosperidade que o Imperio romano atingirá sob Augusto


(t 14) e Tiberio (t 37), comecaram a declinar rápidamente sob Calígula
(t 41), monarca pouco idóneo; Claudio (t 54) permitiu que mulheres de
pravadas (Messalina, Agripina) e seus cortesáos cometessem crimes de
ambicáo e vinganca que muito infelicitavam a vida pública. A isto pareci-
am associar-se estranhos fenómenos na natureza; falava-se de cometas
de mau agouro recém-avistados, chuvas de sangue, partos monstruo
sos, pestes, inundacóes, raios que espedacavam estatuas de Imperado
res e templos da divindade. Em conseqüéncia, julgava-se que o mundo

540
A DATA DO FIM DO MUNDO: PREVISÓES 13

caminhava para o seu fim. Nao faltavam, porém, vozes que procuravam
reerguer os ánimos abatidos; do Oriente soprava uma onda de expectati
va otimista; pelos oráculos das Sibilas (figuras mitológicas e proféticas
dos orientáis) propalava-se a idéia de que viria uma nova fase da histo
ria; um ser divino-humano, nascido de uma virgem, apaziguaria a cólera
da divindade provocada pelos homens e introduziria no mundo uma era
de bonanca, era de Saturno - ou de ouro. Esta crenca, recebida direta-
mente da Sibila de Cuméia, foi adotada e elegantemente formulada pelo
poeta romano Virgilio (t 19 a.C.) em sua famosa quarta écloga.

Aos olhos da fé, esta expectativa de renovacáo no limiar da era


crista tem caráter providencial. Suscitando-a, Deus preparava os ánimos
para receberem o Salvador, que haveria de ser apregoado ao mundo
como a resposta auténtica aos anseios do género humano; poria, de fato,
um fim e um novo inicio na Historia universal.

2. Entre os judeus antigos

Contemporáneamente ao que se dava entre os pagaos, também


no povo judaico era forte a crenca de que próximo estava o "dia do Se-
nhor", ou seja, a vinda do Messias, que havia de se tornar o Chefe religi
oso e político de seu povo. Libertaria a este e exerceria juigamento punidor
sobre os pagaos que o oprimiam, restaurando, por fim, a era paradisíaca
(cf. 4 Esdr 5,1-20; 5,35-7,45). Donde o grande número de falsos messias
que surgiram pouco antes e depois de Cristo.

3. Entre os cristaos do século I

Nao há dúvida de que as idéias ventiladas por pagaos e judeus


concorriam para avivar entre os fiéis a expectativa de que o Senhor Je
sús nao tardaría a voltar; tenham-se em vista as epístolas aos
Tessalonicenses, aos Hebreus e a 2Pd (69/8s decenios d.C), em que os
Apostólos procuraram reanimar os pusilánimes, que, diante da demora
de Cristo, perdiam a esperanca, e também a fé, no Evangelho. Em
Tessalónica, os cristaos, esperando o Senhor de um dia para outro, já
nao trabalhavam mais, entregando-se ao ocio e ás divagacdes da fanta
sía; isto disseminava a inquietude entre os irmáos e acarretava graves
desordens moráis (cf. 2Ts 3,10-12).

4. No Cristianismo até o inicio da Idade Medía

A tensáo escatológica chegou ao extremo em fins do séc. II e inicio


do III na Asia Menor. Montano e suas duas profetisas, Priscila e Maximila,
apregoaram a vinda iminente do Paráclito, prometido por Jesús em Jo
16; acabar-se-ia entáo o mundo presente para dar lugar ao Reino de

541
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

Deus. Demonstracoes de fanatismo se produziram em conseqüéncia.1

Todavía, a expectativa de um iminente fim do mundo se foi dissi-


pando com o decorrer dos tempos. Isto nao impedia que certos cristáos
procurassem, por cálculos e conjeturas, perscrutar a época da catástrofe
final, que, se nao estava as portas, nao podia tardar muito... Assim:

O Ps. Barnabé, em fins do séc. I ou inicios do II, afirmava que o


ano 6000 após a criacáo do mundo seria o ano terminal da historia. Ra-
záo alegada: conforme Gn 2,2, Deus consumou o mundo em seis dias;
ora um día para Deus equivale a mil anos dos homens, segundo SI 90,4.
Donde se seguia que, no seu ano 6000, a historia deste mundo deveria
estar consumada (cf. epist. 15,4). Sto. Irineu (t cerca de 202) repetía a
mesma tese;2

S. Hipólito de Roma (t 235), partindo dos mesmos principios, ain-


da precisava que o ano final seria o 500, já que entre Adáo e Cristo havi-
am decorridos 5500 anos;3

S. Ambrosio (t 397) e S. Hilario de Poitiers (t 367) apoiavam a


tese do Ps. Barnabé sobre o tato de que Jesús se transfigurou sobre o
Tabor seis dias depois de ter dito aos discípulos: "Em verdade vos digo:
há alguns aqui presentes que nao provaráo a morte antes de ter visto o
Filho do homem vindo em seu reino" (cf. Mt 16,28 e 17,1). A transfigura-
cao, produzida seis dias mais tarde, significaría, no caso, a volta do Cris
to glorioso;4

S. Gaudéncio de Bréscia (f após 405) indicava o ano 7000 (I)


após a criacáo como data para a ressurreicáo universal. Apoiava-se no
preceito da Lei mosaica que manda cessem todas as obras deste mundo
no 7a dia da semana e entrem os fiéis no repouso de Deus (cf. Ex 12,16);
ora, já que um dia de Deus equivale a mil anos dos homens (cf. SI 90,4),

' Eis o que refere Hipólito Romano no inicio do séc. III:


"Um bispo na Siria persuadiu muitos irmáos a irem para o deserto ao encontró de
Cristo, com suas esposas e seus filhos; estes vaguearam pelas montanhas e ao
longo das estradas; pouco faltou para que o Govemo o$ mandasse prender como
salteadores... No Ponto, outro bispo, homem piadoso e humilde, mas demasiado
confiante em suas visdes, teve tres sonhos e pós-se a profetizan 'Acontecerá isto e
aquilo'. E, por fim: 'Sabei, irmáos, que ojufzo se realizará dentro de um ano, e, caso
nao aconteca o que vos digo, nao deis mais fé as Escrituras, mas procedei como
bem quiserdes'. Ora, nada do previsto se verificou; o bispo se viu confuso, os ir-
máos se escandalizaram, as virgens se casaram e os que haviam vendido seus
campos foram obrigados a mendigar" (In Danielem 3,18s).
2 AdvHaer. 5,23,2
3 In Danielem 4,23.
4 Cf. Sto Ambrosio, In Le 7,7; Sto. Hilario, In Mt 17,2.

542
A DATA DO FIM DO MUNDO: PREVISÓES 15

o ano 7000 seria o da cessacáo definitiva das obras deste mundo e o da


ressurreicáo dos corpos.1

No séc. V a idéia da iminéncia do fim do mundo foi de novo avivada


pelo desenrolar dos acontecimentos: invasdes dos Godos assolavam o
Imperio Romano e sua capital, até que, em 476, Odoacre se apoderou de
Roma, destituindo o último Imperador, Rómulo Augusto. A queda da ci-
dade que até entáo fora um foco da civilizacáo, uniáo e bem-estar entre
os povos, parecia ser prognóstico eloqüente de que o mundo nao subsis
tiría; como poderia continuara historia sem a orientacáo de Roma? Estes
anseios sao calorosamente testemunhados por S. Jerónimo (f 420), S.
Joáo Crisóstomo (t 407), S. Leáo Magno (t 461 ).2

Ainda nos séc. VI/VI I, S. Gregorio Magno (t 604) em suas prega-


cóes indicava como próxima a vinda de Cristo, já que as guerras e as
miserias da época pareciam ser os sinais precursores da parusia.3

5. Na Idade Medía

No séc. X fizeram-se ouvir pressentimentos de próximo fim do


mundo, pressentimentos cujas proporcóes tém sido por vezes exagera
das por historiadores e romancistas. Alguns escritores e pregadores
medievais julgavam que no ano 1000 o Anticristo seria desencadeado
sobre o mundo e, em breve, se teria o juízo universal; a sentenca se
baseava principalmente em Ap 20,1-15, texto que fala de um reino
milenario de Cristo, após o qual se deve dar a ressurreicáo final.4

Em fins do séc. XII, o Abade Joaquim de Fiore (f 1202) distinguía


tres idades do mundo: a do Pai, correspondente ao Antigo Testamento; a
do Filho, que duraría desde o inicio da era crista até 1260, já que 42 sao
as geracóes indicadas na árvore genealógica de Cristo em Mt 1,17 (gera-
cóes a cada urna das quais Joaquim de Fiore atribuía 30 anos); em 1260
comecaria nova fase, a do Espirito Santo, caracterizada por um entendi-

*Serm. 10
2 Cf. S. Jerónimo, Ep 71,11 (o Santo Doutor comenta 2Ts 2,5); Latáncio (t após 317)
já antes escrevera: "Esta (Roma) ó a cidade que ainda tudo sustenta" (Divinae
Institutiones 7,25,5).
Vejam-se também S. Joáo Crisóstomo, in Mt20,6; In lo 34,3: S. Leáo Magno, serm.
19.1.
3 Moral. 17,9,11.
* Multo significativo é o episodio seguinte:
Na Lorena corría o rumor de que o mundo terminaría em 970, pois nesse ano a
sexta-feira santa cairia a 25 de margo, festa da Anunciagáo do Anjo a María; ora,
certos crístáos nao podiam compreender que o mesmo dia assinalasse simultanea'
mente a conceigáo e a morte do Senhor. Felizmente, porém, houve quem demons-
trasse que o mesmo "paradoxo'já se verificara mais de urna vez, particularmente em
908, sem que o mundo, por isto, tivesse cessado de existir!

543
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

mentó mais profundo e espiritual das Escrituras Sagradas; seria a era


definitiva, norteada pelo "Evangelho eterno" de que fala Ap 14,6. Estas
idéias encontraram larga difusáo, principalmente em círculos dados á
alegoría e a um esplritualismo unilateral.

Das obras de S. Tomás (t 1274), colhe-se a informacáo seguinte:


alguns doutores medievais julgavam que os astros cessaráo de se mover
no fim dos tempos, para ocupar exatamente a mesma posicáo que ti-
nham no inicio do mundo, de sorte que nenhuma trajetória astral ficará
incompleta. Ora, os sabios atribuíam entáo a duracáo de 36.000 anos á
revolucáo de alguns corpos celestes. Donde se previa que a historia aín
da duraría mais 30 mil anos aproximadamente! A S. Tomás um futuro táo
extenso parecia pouco provável...1

O séc. XV foi mais urna vez marcado por expectativas de consu-


macáo iminente. O desejo de nova era, lancado ao público por Joaquim
de Fiore e seus numerosos amigos, encontrava terreno propicio para
grassar em meio ás desordens religiosas e políticas dos séc. XIV e XV
(transferencia dos Papas para Avinháo, grande Cisma do Ocidente cris-
táo; novas teorías relativas ao governo da Igreja, do Estado). A evocacáo
do fim do mundo servia freqüentemente de tema aos pregadores para
excitar os homens á penitencia e ao mutuo entendimento. S. Vicente
Ferrer (t 1418), talvez mais por artificio oratorio, assinalava-lhe o ano de
1412. Principalmente em fins do séc. XV esperava-se urna ¡ntervencao
apocalíptica de Deus; oráculos e profecías aterradores se difundiam fe
brilmente; as numerosas narrativas de fenómenos portentosos excita-
vam ñas imaginacóes o desejo de os ver, mesmo á custa de arduas pere-
grinacóes e penitencias; falava-se de um Papa angélico, etc. Os ánimos
fermentavam cada vez mais... A explosáo deu-se realmente em 1517,
nao por urna catástrofe cósmica (fim do mundo), mas pela irrupcáo do
luteranismo e da reforma protestante. Esta, sem dúvida, pos fim a muitos
valores veneráveis da Idade Media, e deu ocasiáo a que novos valores
surgissem por obra da auténtica Reforma, empreendida pelo Concilio de
Trento (1545-63).

6. Na Idade Moderna

Nao faltam igualmente individuos e correntes de pensamento que


se propóem prever a data final. Assim:

Pico de Mirándola (f 1494) humanista famoso, colocava a volta


de Cristo no ano de 1994, baseando-se em pressupostos de mística
neoplatónica e cabalística.

Tiago Nacchiante O.P. (t 1569), bispo de Chioggia, predizia o fim

1 Cf. Suma Teol. Supl. III91, a.2 ad 8.

544
A DATA DO FIM DO MUNDO: PREVISÓES 17

do mundo para o ano de 1800.

Sobre a dita "Profecías de S. Malaquias", veja-se nosso Curso


sobre Ocultismo, Módulo 32.

Cornélio a Lapide (f 1637), exegeta católico, em 1626 julgava


que próximo estava o fim do mundo, apelando, entre outras razóes, para
um oráculo comum entre os turcos: a religiáo de Maomé haveria de durar
mil anos; ora, pouco faltava para se preencher esse prazo; o Islamismo,
pois, haveria de mover em breve a última perseguicáo contra a Igreja e
sofrer o seu golpe mortal pela vinda de Cristo.

Joáo Bengel (t 1752), exegeta luterano da corrente pietista, pro-


punha o seguinte cálculo, todo baseado em presumidas indicacóes cro
nológicas da Biblia:

Desde a criacao do mundo até o nascimento de Cristo decorreram


3943 ou, redondamente, 3940 anos. Ora, segundo 1 Pd 4,7, "o fim de
todas as coisas está próximo"; o que significa que a era iniciada por Cris
to deve ser de menor duracao que a anterior. Esta nossa era crista, po-
rém, certamente há de compreender, antes do juízo universal e da con-
sumacáo do mundo, os 2000 anos de que fala Ap 20 (um milenio, duran
te o qual Satanás permanecerá ligado no abismo, e outro milenio, em
que os santos reinaráo com Cristo sobre a Térra); por conseguinte, o
inicio do primeiro milenio nao podia distar muito da época em que Bengel
vivia (1740 + 2000 = 3740; a era crista devia durar menos de 3940 anos!).
Ulterior precisao: o número 7 tem preponderancia ñas indicacóes crono
lógicas da Sagrada Escritura, donde Bengel julgava poder concluir que a
duracao total da Historia será de 7777 anos. Ora, se esta é a duracáo
total da historia, nao se pode atribuir á era crista extensao maior do que
7777 - 3940, isto é, 3837 anos; o que implicava que o primeiro milenio
devia comecar no ano 3837 - 2000, ou seja, em 1837. Por conseguinte,
vivendo no séc. XVIII Bengel esperava para 1837 a próxima vinda de
Cristo, que inauguraría urna nova ordem de coisas, provisoria, até a con-
sumacáo definitiva da historia no ano de 3837 (7777, a partir da criacáo
do mundo).

Os adventistas foram fundados por Guilherme Miller (t 1849), que,


depois de aderir ao racionalismo de sua época, se conveliera á corrente
protestante dos batistas. Partía do principio de que todas as profecías
bíblicas referentes ao Messias se devem cumprir ao pé da letra. Ora, já
que o Messias foi pobre e mal recebido em sua primeira vinda, há de
voltar urna segunda vez á Térra, e estabelecerá um reino glorioso
milenario, que será a realizacáo verbal da era messiánica profetizada
pelo Antigo Testamento; terminado o milenio, verificar-se-á o juízo final
(cf. Ap 20).

545
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

E quando se dará a vinda inaugurativa do reino milenario?

Miller lia em Dn 8,14: "(A abominacáo durará) até duas mil e tre-
zentas tardes e manhás; a seguir, o santuario será purificado". Neste
texto muito enigmático, tomando as lardes e manhás" por anos, julgava
que Cristo viria instaurar o milenio no ano 2300 a partir da data do orácu
lo, ou seja, a partir de 457 a.C; o que equivalía a dizer que o Senhor
voltaria para instaurar justíca e paz no ano 1843 da nossa era ou, mais
precisamente, entre marco de 1843 e marco de 1844. Quando em 1831 a
profecía de Miller comecou a ser propalada, suscitou muitos adeptos en
tusiastas, principalmente entre batistas e metodistas, os quais passaram
a ser chamados adventistas (urna chuva de asteroides, em 1833, parecía
ser o abalo de estrelas - prenuncio do fim). Todavía, o ano de 1843 trou-
xe a grande decepcáo aos 50.000 discípulos! Miller continuou a afirmar
que o Senhor nao tardaría; S. Snow refez os cálculos, anunciando o fim
do mundo para 22 de outubro de 1844; em conseqüéncia, em certas
regioes dos EEUU da América do Norte, camponeses e operarios aban-
donaram o trabalho e passaram as noites ao relente, esperando com
impaciencia febril a vinda de Cristo: a desilusáo sofrida aínda foi mais
amarga. Os adventistas ató hoje conservam a crenca no próximo regres-
so do Senhor; alguns dizem que o prazo previsto por Daniel de fato termi-
nou em 1844, mas que Cristo ainda está a purificar o santuario; vira logo
depois de completar esta obra.

Os "Serios Estudiosos da Biblia" ou, a partir de 1931, as "Teste-


munhas de Jeová", fundados por Charles Russell (t 1916), sofreram a
influencia dos adventistas. Conforme os cálculos fantasistas de Russell,
os sete días da criacáo (cf. Gn 1) significam que o mundo durará um
múltiplo de sete; a cronología bíblica revela que nao estamos longe de
findar este período. Pois que deve haver um paraíso terrestre de 1.000
anos antes da consumacáo, Russell afirmava que a sua geracáo nao
passaria sem ter visto o Reino de Deus. Aguardava, pois, a segunda
vinda de Cristo, espiritual e invisível, para 1874; a partir deste ano até
1914, o Senhor faria a colheita dos seus fiéis; em 1914 inauguraría o
reino milenario, ao qual no ano de 2914 se seguiriam os céus novos e a
Térra nova. Russell repartía a historia do mundo em tres fases: a antiga,
desde a criacáo até o diluvio; a atual, subdividida em período patriarcal
(do diluvio até o Patriarca Jaco), período judaico (de Jaco até Cristo),
período cristáo (desde Cristo até o inicio do milenio); a fase futura com-
preenderia o milenio (1914-2914) e a era do mundo renovado, definitivo.
O cálculo foi refeito: apontaram o ano de 1925; depoís, o de 1975! Mas
até hoje nada do previsto aconteceu!

Em 1917, já que as profecías nao se cumpriam, Alexandre Freytag


(t 1947) separou-se da seita e fundou o ramo dissidente dito "dos Ami-

546
A DATA DO FIM DO MUNDO: PREVISÓES 19

gos do Homem" ou "dos Amigos do Eterno" ou "dos Discípulos de


Cristo". Pós-se a pregar e escrever, anunciando a vinda próxima do Rei
no de Deus, no qual todos os homens habitariam em vilas dotadas de
todo o conforto e higiene; nao haveria nem proprietários nem patróes;
tudo seria dado a todos gratuitamente...; haveria vegetacáo abundante,
temperatura amena e uniforme em todo o globo, etc.

7. Em nossos dias

Últimamente a proximidade do ano 2000 tem inspirado a varios


videntes novas "profecías"; há quem preveja tres dias de trevas, que so-
mente velas bentas poderáo iluminar. "Urna só vela será suficiente para
os tres dias, mas ñas casas dos ímpios nao arde rao. Durante os tres dias
de trevas os demonios aparece rao com as formas mais odiosas e espan
tosas. Ouvír-se-ao pelos ares as blasfemias mais horrfveis. Nuvens ver-
melhas como o sangue percorreráo o céu; os estrondos do trováo sacu-
dirao a térra; raios sinistros sulcaráo as nuvens em urna época em que
eles nunca se produziram... O sangue correrá com tanta abundancia que
os homens o teráo até a cintura. A térra se transformará num ¡menso
cemitério... Haverá prodigios diabólicos nos ares. Corpos se elevaráo no
ar...".

Há varios paralelos deste tipo de "profecía", que nao tem o caráter


de autenticidade, mas de invencio fantasiosa. As auténticas profecías,
que sao as bíblicas, sao sobrias e recatadas. Como dito, tais "profecías"
sao urna réplica natural e espontánea á ingratidáo dos tempos; popular
mente se diz: "Só Deus pode dar um jeito neste mundo!".

(Continuacáo da p. 573):

dade humana é permanente em toda a historia da Igreja. Disto, porém,


nao se segué que o fiel católico possa ou deva minimizar o magisterio da
Igreja; hoje, mais do que nunca, os pronunciamentos do magisterio, mes-
mo quando nao definem dogmas, sao cuidadosamente preparados por
estudos e pesquisas de varios peritos e sempre acompanhados pela as-
sisténcia do Espirito Santo. Sé um fiel católico tem algo a observar ao
magisterio, faga-o pelos cañáis oficiáis, evitando a contestagio pública e
escandalosa. Procure, também, ver sempre na Igreja o Sacramento pelo
qual Cristo continua a exercersua obra redentora e santifícadora através
dos séculos.

O livro em foco nao pondera estes dados; nao distingue os pronun


ciamentos da Igreja com suas modalidades próprias, tornándose assim
tendencioso e um tanto caricatural.

547
Figura controvertida:

MARTINHO LUTERO ONTEM E HOJE

Em síntese: A personalidade de Martinho Lutero é, a seguir, consi


derada pelo sabio historiador que é o Prof. Ricardo Garcia-Villoslada, da
Universidade Gregoriana (Roma). O autorprocura sertáo imparcial quanto
possível; por feto poe em relevo diversos aspectos da figura de Lutero,
freqüentemente contrastantes entre si. Écerto, porém, que Lutero quería
revestirse de autoridade indiscutível, que nao aceitava o diálogo e injuri-
ava com palavras de baixo cálao nao somente os católicos, mas também
os reformadores que nao pensassem como ele. -Jamáis Lutero aceitaría
ser canonizado pela Igreja Católica; ele preferiría "o maior dos ultrajes
diabólicos", como ele mesmo diz. O brado revolucionario de Lutero den
tro da Igreja Católica encontrou ampia ressonáncia e reforgo por parte da
nagáo alema, que alimentava um complexo anti-romano e passou a ver
em Lutero o porta-bandeira da identidade germánica.
* * *

Últimamente tém-se aproximado luteranos e católicos, realizando


coloquios a respelto de temas teológicos que motlvaram a separacáo de
Lutero em relacáo á Igreja Católica. As conversares tém chegado a
resultados positivos e alvissareiros. Em conseqüéncia há quem diga que
Lutero foi reabilitado ou será reabilitado e até ... canonizado ...
Tais sentencas nao partem de quem conhece adequadamente a
figura e o pensamento de Lutero; sao extrapolacóes emotivas mais do
que racionáis. Eis por que, ñas páginas subseqüentes, proporemos as
consideracóes de abalizado estudioso de Lutero, que procura ser impar
cial ao ponderar a figura do reformador. Trata-se do Professor da Univer
sidade Gregoriana Ricardo Garcia-Villoslada, autor da obra Martín Lutero,
em dois volumes publicados na colecáo "Biblioteca de Autores Cristianos"
em Madrid. Tal autor escreveu em seu volume I (1976) as reflexóes que
váo abaixo traduzidas para o portugués.

1. Martinho Lutero: quem é?

"Sempre suscitará altercacóes esse alemáo 'puro sangue', esse


filho da Saxónia, intimamente apegado ao seu país e, doutro lado, arauto
de mensagem universal, superadora de fronteiras, pregador da angustia
desesperada e, ao mesmo tempo, nuncio de interna consolacáo produzi-
da pela fé, advogado da absoluta liberdade evangélica e, simultanea-
mente, da incapacidade do livre arbitrio e das obras humanas para levar

548
MARTINHO LUTERO ONTEM E HOJE

o crente á salvacáo; doutor de intuicóes religiosas táo profundas quanto


unilaterais e táo vivamente sentidas que, ao dar-lhes expressáo, fazia
perder a paciencia a quem o ouvisse; teólogo popular e sublime, prisio-
neiro da palavra de Deus, como ele mesmo disse em Worms (capta
conscientia in verbis Del), mas, ao mesmo tempo, desligado e soltó por
sua interpretacáo pessoal, muitas vezes subjetiva e arbitraria, da Escritu
ra Divina..., Escritura Divina que ele exaltou constantemente e que, ao
mesmo tempo, ele recortou e depauperou; homo religiosus, que, viven-
do a religiáo crista mais trágicamente do que nínguém, nao se deu conta
de que tendía a secularizá-la, porque, ao emancipar-se da hierarquia e
do magisterio para depender somente de Deus, caia num individualismo
humano demasiadamente humano, exposto á anarquía doutrinal, as ilu-
soes pseudomísticas e á idolatría da razáo por ele táo odiada; monstro
sagrado - especie de dragáo mitológico, mésela de serpente, de leáo e
de anjo -, que guardava zelosamente o templo santo do Deus das mise
ricordias e soprava fogo abrasador, odio e maldicóes contra aqueles que
se recusavam a aceitar a sua verdade.

A respeito de Lutero pode-se afirmar que era isto, isso e aquilo, e


também o contrario. Todos os qualif¡cativos sao verídicos e falsos, se
entendidos de maneira absoluta. As imagens desenhadas por seus ami
gos e seus inimigos háo de ser sobrepostas urnas ás outras, para que nos
proporcionem urna terceira imagem, mais próxima da realidade" (pp. 15s).
Pouco adiante o Prof. R. Garcia-Villoslada se refere á historiografía
de Lutero.

2. Como apresentar Lutero?

Eis o que responde o autor:

"O historiador fará o possível para que os feitos narrados sejam


auténticos; ao interpretá-los, será sempre possível o erro. Cortamente a
eliminacáo de todo preconceito e a imparcialidade absoluta sao
inalcancáveis tanto de urna parte como de outra; mas é evidente que a
historiografía crítica progride e, na medida em que se fazem novas investi-
gacoes sobre um problema ou sobre um personagem, mais e mais luz aflora;
assim dá-se um passo adiante no conhecimento da verdade objetiva...

Explico-me:

Se urna mulher foi caluniada, vilipendiada, ultrajada, e amaldicoa-


da por um homem poderoso e influente, é natural que, quando tal ho-
mem passa para a historia, nao será fácil a um filho daquela mulher es-
crever a biografía serena, imparcial, objetiva, fríamente crítica... do
ultrajador, esbofeteador e execrador de sua máe, ainda que aplique a
essa tarefa a máxima boa vontade. Pois bem; é coisa manifesta - muitas

549
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

vezes ignorada pelo comum dos protestantes, que apenas léem livros de
edificacáo - que Lutero passou os últimos vinte e sete anos de sua vida
(aneando, sem cessar, em suas publicacóes, em suas cartas, em suas
conversas de familia, maldicóes ferozes, ultrajes indizíveis, acusacóes
moráis e doutrinais, as vezes absolutamente falsas, outras vezes desme
didamente exageradas, contra a Igreja e o Pontífice de Roma, contra
todos os Bispos, contra todos os monges e monjas e sacerdotes, contra
todos os que ele denominava 'papistas', asnos papáis, seguidores do
anticristo e da prostituta babilónica. E tudo isto sem a mínima intencáo
de compreender o adversario.

Nao conheco em toda a historia um transbordamento táo atroz e


persistente de odio (refiro-me ás expressóes verbais, nao ao fundo do
coracao, que talvez se mantivesse inocente e sem fel) para com urna
instituicáo sagrada que o havia amamentado com seu leite e Ihe tinha
dado o melhor que Ihe podia dar: a Biblia, os sacramentos, a Tradicáo
apostólica, o símbolo da fé, as oracóes da Liturgia. Nesses continuos
ímpetos de odio, irracional á primeira vista, era ele plenamente sincero?
Fazia-o por imperativo de sua consciéncia ou, antes, por instinto de cau-
dilho e tática de guerra, a fim de desacreditar o inimigo, criando-lhe um
ambiente desfavorável frente ao povo, de modo que ninguém sonhasse
em retornar á obediencia a Roma, poco e arcabouco de todas as alucina-
coes? Se era esta a meta que ele tinha em vista, é certo que ele a alcan-
cou. E, em conseqüéncia, a Igreja Católica, aquela Igreja que havia civi
lizado e educado cristámente o grande povo alemáo dos séculos anteri
ores, ficou marcada, para todo crente luterano, até nossos días, com o
estigma de meretriz do Apocalipse e de prostituta do diabo...
Lutero caí ñas gracas de muitos católicos hodiernos...; é tornado
simpático, de modo que nao duvidam em elogiá-lo, mesmo que nao te-
nham lido urna página de seus escritos. Qualquer livro ou artigo de revis
ta que ponha ñas nuvens a sua profunda religiosídade, proclame seus
protestos irados contra os abusos e desordens da Igreja e até canonize
sua 'ortodoxia dogmática', é lido com entusiasmo e aplaudido em toda
parte1. Ao contrario, quem tenha a incrível ousadia de chamá-lo herege
ou cismático ou falsificador de algumas passagens da Escritura, censu-
1 "Que dizer dos que - com humor ou inconsciencia - falam de canonizar Martinho
Lutero? Lutero mesmo se levantaría do túmulo para protestar furiosamente contra
tamanha 'abominacao e idolatría'. Que é que se canonizaría nele? Suas obras e
virtudes, como as dos outros Santos? Precisamente essa santidade das obras
(Werkheiligkeit) é que ele esteve continuamente amaldigoando... Ao hipotético Papa
que tentasse inscrevé-lo no catálogo dos Santos, ele replicaría sem hesitan 'Prefiro,
querido papa, o maior dos ultrajes diabólicos. - Mache nur míen zum helligen,
lieberPapst, umbmeiner Werkwlllen, derTeufel beschiesse mich" (WA 41, 165).
Esta frase, ele a proferíu num sermao de 29 de maio de 1535. Nem mesmo se pode
pensar na hipótese de que um Papa venha a anular o decreto de excomunhao pelo

550
MARTINHO LUTERO ONTEM E HOJE 23

rando-o de algum modo, será condenado ao ostracismo ou aos cárceres


do silencio como réu de desobediencia aos sinais dos tempos ou refratá-
rio á atualizacáo pos-conciliar.

Estes facéis louvadores do reformador nao o conhecem bem. Os


que no frade de Wittenberg contemplam nao a imagem do protestante,
mas a do moderno contestatario, enganam-se de ponta a ponta. Nada
sabem de sua intolerancia total em questóes de fé, nem dos seus precei-
tos de submissáo quase servil á autoridade do Estado, ainda que este seja
opressor e tiránico, nem do seu absoluto desinteresse pela política
(praedicator non debet politica agere, o pregador nao deve fazer política).
Aos que alegremente Ihe estendem a máo - sem, porém, ter a
intencáo de passar para os seus acampamentos -, ele respondería com
urna bufada de touro ou com urna maldicáo de profeta. Creio que aquele
frade agostiniano (que muito de frade conservou sempre até a morte no
seu modo de pensar, na sua piedade e no seu estilo), aquele saxáo de
granito e ardente dogmatismo levantaría a cabega em nossos dias, flagelaría
sem compaixáo, com o chicote ruidoso da sua palavra, certas irenistas ami
gos de conciliar o inconciliável, como flagelou em seu tempo o humanista
Erasmo (dignus odio magno, digno de grande odio), e os que nao queriam
entender luteranamente o Evangelho: Zvinglio e Ecolampádio (nlmium
blasphemi, demasiado blasfemos); entre outros, Lutero muito mais ain
da rejeitaria os que apregoavam um profetismo revolucionario, como
Karlstadt (diabo encarnado) Münzer (assassino e arquidemónlo), e ou
tros 'fanáticos', contra os quais langou o vocábulo de Schwarmer (faná
ticos). Frei Martinho nao tolerava oposicáo nem quería diálogo. Dizia ele
a Erasmo na disputa contra o livre arbitrio: "Nao dialoguei contigo, mas
afirmei e continuo afirmando, e a ninguém permitirei que seja meu juiz!"
Para falar bemou mal de Lutero, é preciso primeiramente estudá-
lo com seriedade e devagar... As obras completas do reformador, em sua
última edicáo crítica, compreendem cerca de cem volumes in folio, parte
em latim e parte em alemáo antigo" (pp. 20-22). Seráo citados pela sigla
WA (= Weimarer Ausgabe).
A seguir, vai urna apreciacáo de urna das principáis obras de Lutero,
que tem por título
3. De Captivítate Babilónica (A respeito do Catíveiro Babilónico)
"Murtas coisas surpreendem neste tratado demolidor da teología
tradicional...

qual Leáo X o declarou herege".


O redator desta revista observa que a retirada da excomunháo significaría a volta
de Lutero á comunhao com a Igreja peregrina na térra. Ora Lutero já nao ó peregrino;
pertence a outra jurisdigáo; Deus o tem sob o seu santo juízo.

551
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

Para Lutero, nao existe a dúvida, nem a tolerancia para com a opi-
niáo contraria, mesmo que esta seja doutrina corrente e certa em todas
as Faculdades de Teología da Europa. Nao se pode entender a Sagrada
Escritura se nao no sentido em que ele a entende. Nao vacila em aceitar
todas as conseqüéncias teóricas e todos os resultados práticos, despre-
zando anatemas e excomunhóes de urna Igreja que até pouco antes ele
amava. A resposta que ele dá a todas as questóes, é taxativa, clara e
categórica, como se a tivesse meditado durante anos e anos, embora na
realidade seja algumas vezes quase improvisada. Sente-se arrebatado
por um furacáo misterioso, que o empurra nao sabe para onde; impelido
por urna forca superior á razáo e á prudencia humana, forca á qual Ihe é
impossível resistir.

Outra coisa surpreendente para o leitor que raciocina, é a superio-


ridade majestática com que ele se ergue ácima de todos, como um orá
culo inapelável. Ninguém tem direito a objetar-lhe a mínima dificuldade.
O papado romano é o anticristo desde o momento em que ele é o anti-
Lutero. A palavra deste se identifica com a palavra de Deus. Por isto ele
estabelece e afirma suas teses mais temerarias como evidentes e
indubitáveis, derrubando com bofetadas as teorías mais fundamentadas
e tidas como certas por milhares de doutores. Que os Santos Padres e
os Concilios e os mais eximios teólogos tenham dito o contrario durante
longos séculos e após discutir atentamente os argumentos, que a Igreja
inteira com todo o povo cristáo tenha sentido diversamente do professor
de Wittenberg, que todos os Códigos Civis estabelecam urna praxe pou
co conforme com a mente luterana, e, por fim, para usar urna expressáo
hiperbólica de Lutero, que venha um anjo do céu para ensinar doutrina
diferente, nada disso o demove nem Ihe provoca a mais leve sombra de
dúvida, pois todos se equivocaram, mas Lutero nao pode errar, já que a
palavra de Deus nao admite outra interpretacáo senáo a de Freí Martinho
Lutero. Tal atitude mental nao toca as raías do patológico?" (p. 483s).

Eis o que o Prof. García-Villoslada apresenta a respeito da figura


religiosa de Lutero após prolongados estudos, que procuraram ser táo
¡mparciais quanto possível. Em grande parte, o brado revolucionario de
Lutero dentro da Igreja foi bem sucedido porque encontrou a nacáo ale
ma preparada para se voltar abertamente contra Roma em virtude de
tendencias nacionalistas e políticas existentes desde a Idade Media. O
mesmo Prof. Garcia-Villoslada descreve os acordes nacionalistas das
teses de Lutero nos seguintes termos:

4. O Brado á Nacáo Alema

"A obra An den christlíchen Adel deutscher Nation (Á Nobreza


Crista da Nacáo Alema) foi por Lutero escrita em junho e publicada em
meados de agosto de 1520, quando o reformador esperava de um mo-

552
MARTINHO LUTERO ONTEM E HOJE 25

mentó para outro a excomunháo que viria de Roma e podia atingir seu
protetor, o príncipe Frederico da Saxónia. É um escrito em que o político
e o social prevalecem sobre o teológico. Redigido em alemáo nutria épo
ca de grande excitacáo e com linguagem dura e áspera, esse livro nao é
dirigido aos doutos e eruditos de qualquer nacionalidade como os anteri
ores escritos latinos, mas aos compatriotas leigos de Lutero, comecando
pelo Imperador Maximiliano e pelos príncipes, principalmente os cavalei-
ros germánicos, que eram os mais dispostos a urna revolucáo social e
religiosa. A obra, que bem revela o estado efervescente do ánimo de
Lutero no ano mais crítico de sua vida, assim comeca seu discurso aos
nobres:

"Antes do mais, a graga e a forga de Deus! Altezas Sereníssimas,


benignísimos e diletos Senhores,

Nao é por mera impertinencia ou temeridade que um pobre homem


como eu ousa falar a vossas Altas Excelencias. Os agravos e as angus
tias que oprimem toda a Cristandade, especialmente os países
germánicos, movem a mim e a qualquer homem a clamar, pedindo ajuda,
e agora me obrígam a gritar e vociferar para que Deus conceda a alguém
0 ánimo e a vontade de estender sua máo a esta miserávei nagao. Já foi
tentado algo neste sentido por meto de Concilios, mas a astucia de uns
poucos homens o impediu hábilmente, e a situagáo se tornou pior. Agora,
com o favor de Deus, tenciono por em relevo esta astucia maligna, a fím de
que, revelada, nao possa mais causar daño ou estorvo" (WA 6, 409ss).
A obra continua, procurando demolir a autoridade da Igreja Católica.
No mesmo ano de 1520, Frederico da Saxónia enviou a Lutero
duas cartas de Roma que pediam a este príncipe procurasse colaborar
para trazer de volta á casa paterna o filho pródigo desgarrado. Lutero
respondeu ao capeláo da corte, Jorge Spitlitz, o seguinte, com a data de
9/7/1520:

"Espero que o ilustríssimo príncipe responda de tal maneira que


essas cabegas romanas entendam que a Alemanha, por oculto juízo de
Deus, foi até agora oprimida nao por causa de sua própria rudez, mas por
causa da rudez dos italianos" (Bríefe I1134-136).
O nacionalismo de Lutero se tornava ainda mais transparente quan-
do no dia seguinte (10/7/1520) escrevia:
"Desojaría que o príncipe, em sua carta ao Cardeal de Sao Jorge,
insinué que, se, com seus anatemas, me rechagarem de Wittenberg, nao
conseguirao senáo agravara situagáo, visto que nao na Boémia1, mas no
1 Na Boémia, Joño Hus (1372-1415) havia levantado a bandeira do nacionalismo
anti-romano. (N.d.R.).

553
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

meló da Alemanha, existem aqueles que me pedem e querem defender,


a revelia de Roma, contra os raios desta... Da minha parte, a sorte está
¡angada; desprezo tanto o furor como o favor de Roma. Nao quero recon-
ciliar-me nem estar em comunháo com eles por toda a eternidade. Con-
denem e queimem meus livros; eu condenarei e queimarei publicamente,
enquanto tiver fogo na máo, todo o Direito Pontificio, esse lamagal de
heresias... Como seria bom se o príncipe acrescentasse que a doutrina
luterana está táo propagada e arraigada dentro e fora da Alemanha, que,
se os romanos nao a vencerem com a razio e a Escritura, entendam que,
com as violencias e as censuras, só conseguiráo fazer da Alemanha uma
segunda Boémia! Eles já sabem que os germanos sao ferozes por sua
própria índole (germanorum ferocia ingenia); sao tais que, se ninguém
os convence pela Escritura e a razáo, será perigoso para os Papas irríta
los, principalmente agora, quando as letras e as linguas reinam na Ale
manha, e até os seculares (leigos) comegam a instruirse. Portanto, ele,
como príncipe crístáo, os admoeste e Ihes dé a saber que nao confiem
em suas torgas e nao deixem de dar razáo do que fazem, a fim de que
nao suscitem contra simesmos um tumulto irremediável" (Bríefe I1137).

Os alemaes que em seus castelos prometiam defesa e protecáo a


Lutero, eram os nobres cavaleiros Francisco de Sickingen e Silvestre de
Schaumberg, além do príncipe Frederico da Saxónia. Á sombra da tutela
destes maiorais, podía Lutero desafiar qualquer autoridade" (pp. 466s).

Vejamos agora a repercussáo da figura de Lutero na posteridade.

5. O Herói Nacional

No fim da vida dizia Lutero aos seus amigos em tom confidencial:

"Há mil anos, Deus a nenhum Bispo concedeu táo grandes dons
quanto a mim (In mille annis Deus nulli episcopo tanta dona dedit ut
míhi. Gloriandum est enim de donis Dei)" (Tischreden 5494 V 189).

O mesmo foi repetido pelos discípulos do reformador, que, alias,


dizia: "Ego propheta Germaniae (Eu sou o profeta da Alemanha)" (WA
41,706). Quando ele morreu em 17/2/1546, elevou-se um coro sinfónico
de elogios ao mestre, embora já houvesse dissensóes e rupturas entre
os seus seguidores. Na própria Universidade de Wittenberg, onde Lutero
ensinara, ocorria a infiltracáo de doutrinas calvinistas, favorecidas pelo
príncipe Augusto da Saxónia, que governou de 1553 a 1586.

1) A ortodoxia luterana ou a fidelidade a Lutero se estendeu por


todo o século XVII. Na Alemanha e fora da Alemanha foi acatada. Em
1617, primeiro aniversario das 95 teses, foram cunhadas medalhas festi
vas com dizeres de panegírico. Lutero foi celebrado como mestre. Suas
reliquias eram veneradas como as dos Santos medievais mais popula
res. O século XVII, alias, foi a época do estilo barroco, de tal modo que a

554
MARTINHO LUTERO ONTEM E HOJE 27

piedade do povo luterano tinha suas expressoes exuberantes, como re


fere o historiador Boehmer em Luther im Lichte 7:

"O povo contava maravilhas a respeito de suas profecías, de seus


milagres, de suas ¡magens; na casa de Lutero em Wittenberg, se corta-
vam com grande zelo pequeñas lascas dos postes de madeira como sen
do algo de poderoso, como nos países católicos se veneravam as reliqui
as de Santa Apolónia para eliminar a dor de dentes".

Foram publicados livros com títulos cheios de adjetivos:

Thaumasiander (Taumaturgo) et Triumphator Lutherus (Leipzig


1610), da autoría de M. Hoe;
Memoria Thaumasiandri Lutheri renovata (Estrasburgo 1661),
de J. C. Dannhauer e J. F. von der Strass; e em traducáo portuguesa:

Delicioso aroma de rosas da vida imaculada e do nome dura-


douro do fiel homem de Deus Dr. Lutero, de boa memoria (1695), de
P. Kawerau, que atribuí a Lutero os epítetos de Santo, Admirável,
Taumaturgo, Taumasiandro, Herói. Em alemáo: Lieblicher Rosengeruch
des unbefleckten Wandls und immer wáh renden Ñamen des weiland
teuren Mannes Gottes Dr. Luther;

Der wunderbare, wunderthátige und wundersame Luther, de J.


Kraus (Praga 1716).
O poeta F. G. Klopstock venerava "o santo Lutero, que fez da lín-
gua patria urna língua de anjos", tendo em vista a traducáo alema da
Biblia feita pelo reformador.
2) O século XVIII ofuscou essa gloria, pois foi marcado pelo pietis-
mo, que muito enfatizou práticas de piedade e devocáo, sem se preocu
par com dogmas teológicos; mais do que a fé fiducial, os pietistas prega-
vam a pureza de coracáo e as-boas obras, reagindo contra a imoralidade
que campeava na Alemanha por efeito da guerra dos Trinta Anos e de
dogmas mal entendidos como o de "somente a fé". Lutero era apreciado por
suas cancóes religiosas e nao por seus escritos polémicos e dogmatizantes.

Juntamente com o pietismo, o lluminismo ou Aufklárung (Racio


nalismo) contribuiu para empalidecer a figura de Lutero no século XVIII.
O lluminismo nao admitía a revelacáo crista; negava o milagre, a inspira-
cáo divina da Biblia e o sobrenatural - o que equivalía a negar radical
mente Lutero. Este, portanto, foi tido como doente mental e seus dogmas
como extravagancias medievais. Frederico, rei da Prússía, considerava
Lutero e Calvino como "pobres diabos". G. E. Lessíng o censurava por
sua intolerancia religiosa e seu autoritarismo.

Os burgueses racionalistas reconheciam em Lutero um modelo de

555
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

virtudes domésticas e bom pai de familia, obediente aos príncipes, convi


va humorista e amigo dos prazeres da vida. A respeito escreveu o poeta
J. E. Voss em sua ode An Vater Luther (1775), pondo nos labios de
Lutero os seguintes versos, que se inspiram em Tíschreden (Conversas
de Mesa) 3476 III 344:

"Quem nao ama o vinho, o canto e a mulher,

Louco por toda a vida haverá de ser".

3) No século XIX floresceu o romantismo, que reconhece os geni


os, os homens origináis e dá largas a intuicáo e á fantasía. A estes tragos
associou-se um sentimento nacionalista e patriótico, que restaurou a ima-
gem de Lutero como herói nacional.

O filósofo J. G. Fichte, grande patriota e lutador contra a invasáo


napoleónica, em 1845 propós Lutero "como o homem alemáo", "o proto
tipo dos alemáes" (Reden an die deutsche Natíon, disc. 6). Em 1817,
terceiro aniversario das 95 teses, os protestantes de modo geral se uni-
ram na proclamacao de Lutero como "o herói germánico da fé".

Era fervoroso luterano "o chanceler de Ferro" Otto von Bismarck,


que fez a unificacáo da Alemanha após a vitória sobre a Austria (1866) e
a Franca (1870), potencias católicas. Com ele cresceu enormemente o
nacionalismo germánico e, conseqüentemente, o culto de Lutero; muitos
governantes e escritores tendiam a identificar sempre mais Lutero com o
espirito, o caráter e a religiosidade do povo alemáo.

4) Todavía o racionalismo no século XX prevaleceu, ameacando


apagar por completo a figura de Lutero, pois negava a inspiracáo bíblica,
o pecado original e a Redencáo efetuada por Cristo.

O reformador, porém, reviveu na mente germánica por ocasiáo da


primeira guerra mundial (1914-18): estes anos de tragedia nacional leva-
ram a apelar para "Lutero germánico", "Generalíssimo da guerra", "o maior
dos alemáes". Ser antiluterano equivaleria a ser antigermánico e vice
versa. Em 1917 R. Seeberg escreveu que o luteranismo era a ¡nterpretacáo
germánica do Cristianismo. Durante a mesma guerra o Imperador alemáo
Guilherme II vía em Lutero o genio unificador do seu povo e da sua raca.

Hoje em dia Lutero continua sendo exaltado por sua genialidade


alema; no plano teológico, porém, percebe-se que suas teses foram, em
parte, inspiradas pelas circunstancias em que ele pessoalmente (angus
tiado por nao saber se era predestinado ou nao) e a nacáo alema se
achavam no século XVI. O diálogo entre luteranos e católicos tende a
superar as divergencias e favorecer a aproximacáo dos irmáos separa
dos. Queira Deus inspirar os dialogantes!

Esta temática continuará a ser explanada no artigo seguinte.

556
Sobre a Justificacáo:

LUTERANOS E CATÓLICOS EM DIÁLOGO

Em síntese: O luteranismo afirma que o homem se torna justo di


ante de Deus ou amigo de Deus apenas pelo lato de que Cristo o recobre
com o seu manto dejustiga e santidade, fícando, porém, o homem sem-
pre pecador ou vendido ao pecado. O Catolicismo, seguindo a Biblia e a
Tradigáo, afirma que a justificagáo se faz mediante urna regeneragáo
ontológica ou a infusáo de vida nova, que póe o cristáo em comunháo
com a vida trinitaria. Teólogos luteranos e católicos tém estudado conjun
tamente a questáo, chegando a pontos de convergencia; falta, porém,
aínda esclarecer alguns tópicos que váo apontados na Resposta da Igre-
ja Católica á Declaragáo conjunta de teólogos luteranos e católicos, res-
posta cujo texto vai publicado a seguir.
* * *

Justificacáo, na linguagem do Novo Testamento, significa tornar


justo ou amigo de Deus. Todo homem é pecador, mas pode receber o per-
dáo de seus pecados e vir a ser justo ou amigo de Deus. Como se dá ¡sto?
1) A tese bíblica e tradicional afirma que, quando o pecador se
arrepende sinceramente, Deus, pelo Batismo ou o sacramento da Re-
conciliacáo, Ihe infunde a sua graca, que é urna nova realidade ontológica
ou urna comunháo de vida com Deus; o homem justificado recebe o Es
pirito, que o faz filho no Filho e pelo qual ele clama: Abba, Pai!; cf. Rm
8,15; Gl 4,6. Trata-se de um principio de vida nova, que tende a desabro
charla criatura, absorvendo o que é velho e transfigurando-o, como en-
sina Sao Joáo:
"Vede que prova de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos
de Deus. E nos o somos!... Caríssimos, desde já somos filhos de Deus,
mas o que nos seremos, aínda nao se manifestou. Sabemos, que, por
ocasiáo dessa manifestagáo, seremos semelhantes a Ele porque O vere
mos tal como Ele é" (Uo 3,1s).
Essa comunháo de vida com Deus co-existe no cristáo com os
resquicios do "velho homem" (cf. Ef 4,22-24), de modo que o cristáo sen-
te dentro de si a concupiscencia ou a cobica desregrada. Esta, porém, se
é sentida, mas nao é consentida ou aceita (se é rechacada), nao constituí
pecado. O pecado propriamente dito é sempre um ato consciente e vo
luntario; se falta voluntariedade ou aceitacáo por parte da vontade, nao
há pecado.

557
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998 •

2) Ora, a partir do século XVI, o luteranismo ensina que nao há


regeneracáo ontológica no Batismo; o Batismo nao infunde urñ principio
de vida nova, porque a concupiscencia desregrada permanece por toda
a vida do cristáo; o homem está vendido ao pecado. Ele é justificado ou
feito amigo de Deus porque Jesús Cristo o recobre com o seu manto de
justica e santidade, de modo que, diante do Pai, o homem assim recoberto
passa por justo ou goza de urna justificacáo forense ou jurídica; Deus
nao Ihe imputa os seus pecados. Entáo ele é simultáneamente justo e
pecador-justo por fora e pecador por dentro. Esta tese luterana deve-se
ao fato de que Lutero se atormentava por nao poder vencer a cobica
desregrada, que ele julgava ser pecado.

3) Pois bem. Passados mais de 450 anos após a morte de Lutero


(1546), luteranos e católicos se encontram para estudar as divergencias
relativas ájustif¡cacao. Após longas sessóes de diálogo, chegaram a certo
acordó, que foi assinado em 1997. Levado á autoridade oficial luterana,
tal acordó foi aprovado integralmente pela Federacáo Luterana Mundial.
- A Igreja Católica examinou o texto em dois de seus órgáos: A Comis-
sáo para o Diálogo com os Cristáos e a Congregacáo para a Doutrina da
Fé. Deste exame resultou urna Resposta á Declaracáo Conjunta, que
exprime regozijo pela convergencia de idéias em varios pontos, mas indi
ca algumas questóes importantes a ser aínda ulteriormente estudadas.

Já em PR 437/1998, pp. 463-464 fizemos alusáo a tais fatos, que a


imprensa leiga julgou equivalerem a um consenso de parte a parte. A
bem da verdade, seja, a seguir, reproduzida a Resposta á Declaracáo
Conjunta, que bem evidencia o que deverá ser ulteriormente aprofundado
nos próximos tempos.

RESPOSTA Á DECLARACAO CONJUNTA


A "Declaracáo Conjunta sobre a doutrina da Justificacáo entre a
Igreja Católica e a Federacáo Luterana Mundial" ("Gemeinsame
Erkláruncf') representa um progresso notável na compreensáo mutua e
na aproximacáo das partes em diálogo: ela mostra que numerosos sao
os pontos de convergencia entre a posicáo católica e a luterana sobre
urna questáo tao debatida durante sáculos. Pode-se certamente afirmar
que se atingiu um alto grau de acordó, no que se refere quer á aborda-
gem da questáo, quer ao juízo que ela merece... É justa a constatacáo de
que existe "um consenso em verdades fundamentáis da doutrina da Jus
tificacáo11.

A Igreja Católica, contudo, considera que aínda nao se pode falar


de um consenso tal que elimine todas as diferencas entre os católicos e
os luteranos na compreensáo da justífícacáo. A própria Declaracáo Con
junta faz referencia a algumas destas diferencas. Na realidade, nalguns
pontos as posicóes aínda sao divergentes. Tendo por base, entáo, o acordó

558
LUTERANOS E CATÓLICOS EM DIÁLOGO 31

já alcancado sobre muitos aspectos, a Igreja Católica pretende contribuir


para a superacáo das divergencias ainda existentes, oferecendo em se
guida um elenco de pontos, citados segundo a ordem de importancia,
que sobre este tema ainda impedem um entendimento em todas as ver
dades fundamentáis entre a Igreja Católica e a Federacáo Luterana Mun
dial. A Igreja Católica espera que as seguintes indicacóes possam ser
um estímulo para continuar o estudo dessas questóes, no mesmo espiri
to fraterno que caracterizou nos últimos tempos o diálogo entre a Igreja
Católica e a Federacáo Luterana Mundial.

Esclarecimentos

1. As maiores dificuldades para poder afirmar um consenso total


entre as partes sobre o tema da justificacáo verificam-se no parágrafo
4.4 Das Sündersein des Gerechtfertigterí (cf. nn. 28-30). Embora tendo
em consíderacáo as diferencas, em si legítimas, resultantes de aborda-
gens teológicas diferentes sobre o dado de fé, do ponto de vista católico
já o título suscita perplexidades. Segundo a doutrina da Igreja Católica,
com efeito, no batismo é cancelado tudo o que é verdadeiramente peca
do, e por isso Deus nao odeia nada naqueles que nasceram de novo. Daí
resulta que a concupiscencia, que permanece no batizado, nao é propri-
amente pecado. Por isso, para os católicos a fórmula "zugleich Gerechter
und Sündei", (ao mesmo tempo justo e pecador), tal como é explicada no
inicio do n. 29 ("Er ist ganz gerecht, weil Gott ihm durch Wort und
Sakrament seine SOnde vergibt... In Blick auf sich selbst aber erkennt
er... dass er zugleich ganz Sünder bleibt, dass die Sünde noch in ihm
wohnt...f, nao é aceitável. Esta afirmacáo nao parece, de fato, compa-
tível com a renovacáo e a santificacao do homem interior, de que fala o
Concilio de Trento. O termo "oposicáo a Deus" (Gottwidrigkeif), que se
usa nos nn. 28-30, é entendido de modo diverso pelos luteranos e católi
cos, e torna-se por isso, na realidade, um termo equívoco. Neste mesmo
sentido, pode ser também ambigua para um católico a frase do n. 22 "...
rechnet ihm Gott seine Sünde nicht an und wirkt in ihm tátige Liebe durch
den Heiligen GeisV3, visto que a transformacáo interior do homem nao
aparece com clareza. Por todas estas razóes permanece, portante, difícil
ver como se pode afirmar que esta doutrina sobre o "simul iustus et
peccator"4, no estado atual da apresentacáo que se faz na Declaracáo
Conjunta, nao é tocada pelos anatemas dos decretos tridentinos sobre o

1 Sündersein...: o ser pecador do homem justificado (N.d.R.)


3 Ele ó todo justo, porque Deus Ihe perdoa seu pecado mediante a Palavra e o Sacra
mento... Mas, olhando para si mesmo, ele reconhece que, ao mesmo tempo fica
sendo todo pecador, pois o pecado ainda habita nele (N.d.R.)
3 Deus nao Ihe imputa o seu pecado e nele opera um atuante amor por obra do
Espirito Santo (N.d.R.)
4 Ao mesmo tempo, justo e pecador (N.d.R.)

559
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

pecado original e a justificacáo.

2. Oütra dificuldade encontra-se no n. 18 da Declaracáo Conjunta,


onde se evidencia urna clara diferenca na importancia que a doutrina da
justificacáo tem para os católicos e os luteranos, enquanto criterio para a
vida e para a praxe da Igreja. Enquanto para os luteranos esta doutrina
assumiu um significado muito singular, no que se refere á Igreja Católica
a mensagem da justificacáo, seguindo a Escritura e desde os tempos
dos Padres, deve ser orgánicamente inserida no criterio fundamental da
"regula fidei"1, isto é, a confissáo de Deus uno e trino, cristologicamente
centrada e enraizada na Igreja viva e na sua vida sacramental.

3. Como se afirma no n. 17 da Declaracáo Conjunta, luteranos e


católicos compartilham a conviccao comum de que a vida nova vem da
misericordia divina e nao de um nosso mérito. Porém, é preciso recordar,
como se diz em 2Cor 5,17, que esta misericordia divina opera urna nova
criacio e, portanto, torna o homem capaz de responder ao dom de Deus,
de cooperar com a graca. A respeito disso, a Igreja Católica considera
com satisfacáo que o n. 21, em conformidade com o can. 4 do Decreto
sobre a Justificacáo do Concilio de Trento (DS 1554), afirma que o ho
mem pode rejeitar a graca; mas dever-se-ia também afirmar que a esta
liberdade de rejeitar, corresponde urna nova capacidade de aderir á von-
tade divina, capacidade justamente chamada "cooperatio"2. Esta nova
capacidade, dada na nova criacáo, nao permite o uso da expressáo "mere
passive" (n. 21 )3. Por outro lado, o fato de esta capacidade ter caráter de
dom, é bem expresso no cap. 5 (DS 1525) do Decreto tridentino, quando
diz: "ita ut tangente Deo cor hominis per Spiritus Sancti illuminationem,
ñeque homo ipse nihilomnino agat, inspirationem Mam redpiens, quippe
qui Mam et abicere potest, ñeque tamen sine gratia Dei moveré se ad
iustitiam coram Mo libera sua volúntate possif.4

Na realidade, também da parte luterana, no n. 21 afirma-se urna


plena participacáo pessoal na fé {"sein volles personales Beteiligtsein im
Glauberí'). Seria necessário, porém, um esclarecí mentó sobre a compa-
tibilidade desta participacáo com o acolhimento da justificacáo "mere
passive", a fim de determinar com mais precisáo o grau de coincidencia
com a doutrina católica. Depois, quanto á frase final do n. 24: "Gottes
Gnadengabe in der Rechtfertigung unabhángig bleibt von menschlicher

1 Regra ou Norma da fé (N.d.R.)


2Cooperagáo (N.d.R.)
3 De modo meramente passivo (N.d.R.)
4 Quando Deus toca o coracáo do homem pela iluminacño do Espirito Santo, o ho
mem que recebe essa inspiragao nao pode fícar inerte, pois ele a pode rejeitar, como
também pode por sua livre vontade moverse para serjusto diante de Deus, mas nao
sem a graga de Deus (N.d.R.)

560
LUTERANOS E CATÓLICOS EM DIÁLOGO 33

Mitwirkuncf'\ ela deve ser entendida no sentido de que os dons da graca


de Deus nao dependem das obras do homem, mas nao no sentido de
que a justificacáo pode ocorrer sem a cooperacáo humana. A frase do n.
19, segundo a qual a liberdade do homem "¡st keine Freiheit auf sein Heil
hin"2, deve análogamente ligar-se com a impossibilidade do homem de
aceder á justificacáo com as próprías forcas.

A Igreja Católica afirma também que as boas obras do justificado


sao sempre fruto da graca. Mas, ao mesmo tempo, e sem tirar nada á
total iniciativa divina, elas sao fruto do homem justificado e transformado
interiormente. Por isso, pode-se dizer que a vida eterna é, ao mesmo
tempo, tanto graca como recompensa dada por Deus pelas boas obras e
os méritos. Esta doutrina é conseqüéncia da transformacáo interior do
homem, de que se falou no n. 1 desta "Nota". Estes esclarecimentos
ajudam a justa compreensáo, sob o ponto de vista católico, do parágrafo
4. 7 (cf. nn. 37-39) a respeito das boas obras do justificado.

4. Na continuacáo do estudo dever-se-á tratar do sacramento da


Penitencia, do qual faz mencáo o n. 30 da Declaracáo Conjunta. Segun
do o Concilio de Trento, com efeito mediante este sacramento o pecador
pode ser de novo justificado (rursus testifican): o que implica a possibili-
dade, por meio deste sacramento, distinto do batismo, de recuperar a
justica perdida. Nem todos estes aspectos se encontram suficientemen
te observados no mencionado n. 30.

5. Estas observacóes tém em vista mostrar com clareza o ensina-


mento da Igreja Católica a respeito daqueles pontos sobre os quais se
chegou a um acordó total, e completar alguns dos parágrafos que ex-
póem a doutrina católica, para melhor por em evidencia a medida do
consenso a que se chegou. O alto nivel de acordó alcancado aínda nao
permite afirmar que todas as diferencas que separam os católicos e
luteranos na doutrina acerca da justificacáo, sao simples questóes de
expressáo ou de linguagem. Algumas se referem a aspectos de conteú-
do e, portanto, nem todas sao reciprocamente compatíveis, como ao con
trario se afirma no n. 40.

Se é verdade, além disso, que naquelas verdades sobre as quais


um consenso foi alcancado, as condenacóes do Concilio de Trento já
nao se aplicam, as divergencias que se referem a outros pontos devem,
porém, ser superadas antes de se poder afirmar, como se diz de maneira
geral no n. 41, que esses pontos já nao recaem sob as oondenacdes do
Concilio de Trento. Isto vale em primeiro lugar para a doutrina sobre o
"simul iustus etpeccatoi" (cf. n. 1, ácima).
1 Na justificagáo a graga de Deus permanece independente da cooperagáo humana
(N.d.R.)
2 Nao é liberdade para realizar a sua própria salvagáo (N.d.R.)

561
34 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

6. É necessário, enfim, observar o caráter diverso, sob o ponto de


vista da representatividade, dos dois signatarios, que assinaram esta
Declaracáo Conjunta. A Igreja Católica reconhece o grande esforco feito
pela Federacáo Luterana Mundial, para chegar ao "magnus consensué'
através da consultacáo dos Sínodos, a fim de dar um verdadeiro valor
eclesial á sua assinatura; permanece, porém, a questáo da autoridade
real desse consenso sinodal, hoje e também amanhá, na vida e na dou
trina da comunidade luterana.

Perspectivas para o trabalho futuro

7. A Igreja Católica deseja reafirmar o seu auspicio de que este


importante passo avante, rumo a um acordó na doutrina acerca da justi
ficacáo, seja seguido por ulteriores estudos que permitam esclarecer, de
modo satisfatório, as divergencias ainda existentes. Em particular, seria
para desejar um aprofundamento do fundamento bíblico que constituí a
base comum da doutrina da justificacáo, tanto para os católicos como
para os luteranos. Esse aprofundamento deveria estender-se ao conjun
to do Novo Testamento, e nao só aos escritos paulinos. Com efeito, se é
verdade que Sao Paulo é o autor neotestamentário que mais falou sobre
este argumento, o que requer urna certa atencáo preferencial, nao faltam
consistentes referencias a este tema também nos outros escritos do Novo
Testamento. Quanto aos diversos modos com que Paulo descreve a nova
condicáo do homem, mencionados pela Declaracáo Conjunta, poder-se-
iam acrescentar as categorías da filiacáo e da heranca (Gl 4, 4-7; Rm 8,
14-17). A consideracáo de todos estes elementos poderá ser de grande
ajuda para a mutua compreensáo e permitir resolver aquelas divergenci
as na doutrina acerca da justificacáo, que ainda subsistem.

8. Por fim, deveria ser preocupacáo comum de luteranos e católi


cos encontrar urna linguagem capaz de tornar a doutrina da justificacáo
mais compreensível também aos homens do nosso tempo. As verdades
fundamentáis da salvacáo dada por Cristo e acolhida na fé, da primazia
da graca sobre qualquer iniciativa humana, do dom do Espirito Santo
que nos torna capazes de viver de acordó com a nossa condicáo de fi-
Ihos de Deus, etc., sao aspectos essenciais da mensagem crista que
deveriam iluminar os crentes de todos os tempos.

Esta Nota, que constituí a Resposta católica oficial ao texto da De


claracáo Conjunta, foi elaborada de comum entendimento entre a Con-
gregagaopara a Doutrina daFéeo Pontificio Conselhopara a Promogáo
da Unidade dos Cristáos, e é assinada pelo Presidente do mesmo Ponti
ficio Conselho.

562
Pe. Anthony de Mello S. J.:

ESPIRITUALIDADE ORIENTAL E CATOLICISMO

Em síntese: O Pe. Anthony de Mello S. J., indiano, falecido em


1987, deixou obras de teología dogmática e de espiritualidade queestáo
em aberto contraste com o pensamento católico. Tais obras sao difundi
das em varias tradugoes, que tém deixado muitos leitores perplexos. To-
cam em temas de relevo como o conceito de Deus, o de religiáo, o de
oragáo, o de vida postuma... Dai a necessidade de um pronunciamento
da Congregagao para a Doutrina da Fé, que vai abaixo publicado junta
mente com urna Nota Ilustrativa do caso.
* * *

A espiritualidade oriental, principalmente a da india, tem penetrado


no Ocidente, encontrando acolhida em grupos católicos. Um espécimen
da tentativa de fundir pensamento religioso oriental e pensamento católi
co está ñas obras do Pe. indiano Anthony de Mello S. J., que, já falecido,
deixou diversas obras de teología e espiritualidade traduzidas para algu-
mas línguas. Visto que tais escritos tém provocado dúvidas e indaga-
cóes, a Congregacio para a Doutrina da Fé houve por bem pronunciar
se a respeito, apontando as divergencias entre o pensamento do Pe. de
Mello S. J. e a doutrina católica. Atendendo a um pedido da Santa Sé e
em vista da problemática existente também no Brasil, publicamos, a se
guir, o texto oficial da Congregacáo para a Doutrina da Fé, que veio acom-
panhado de urna Nota Ilustrativa, a qual explica mais detidamente os
porqués da nao aceitacáo da espiritualidade proposta por Anthony de
Mello.

CONGREGAQÁO PARA A DOUTRINA DA FÉ


NOTIFICACÁO
SOBRE OS ESCRITOS DO PADRE ANTHONY DE MELLO SJ
«O Padre jesuíta indiano Anthony de Mello (1931-1987) é muito
conhecido pelas suas numerosas publicacóes, que, traduzidas para di
versas línguas, tiveram urna notável difusáo em muitos países, mesmo
se nem sempre se trata de textos por ele autorizados. As suas obras,
quase sempre em forma de pequeños contos, contém elementos váli
dos, provenientes da sabedoria oriental, que podem ajudar a adquirir um
auto-controle, a romper os lacos e afetos que nos impedem de ser livres,
563
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

a enfrentar com serenidade os acontecimentos bons e maus da vida.


Sobretudo nos seus primeiros escritos, o Padre de Mello, embora já evi
denciando uma clara influencia das correntes espirituais budistas e
taoístas, manteve-se todavía dentro das linhas da espiritualidade crista.
Nesses livros, trata dos diversos tipos de oracáo: de peticao, de interces-
sáo e louvor, bem como da contemplacáo dos misterios da vida de Cris
to, etc.

Já porém em algumas passagens dessas primeiras obras, e cada


vez mais ñas sucessivas publicacóes, nota-se um progressivo afasta-
mento dos conteúdos essenciais da fé crista. A revelacáo, feita em Cris
to, é substituida por uma intuicáo de Deus, sem forma e sem imagens, a
ponto de falar de Deus como de um puro vazio. Para ver a Deus, basta
olhar diretamente para o mundo. Nada se pode dizer de Deus; o único
conhecimento é o nao conhecimento. Por a questáo da existencia de
Deus é já um sem-sentido. Um tal apofatismo radical leva também a ne
gar que naja na Biblia afirmacóes válidas sobre Deus. As palavras da
Escritura sao indicacóes que deveriam servir apenas para chegar ao si
lencio. Em outras passagens, o juízo sobre os livros sagrados das religi-
oes em geral, sem excluir a própria Biblia, é ainda mais severo: tais livros
impedem as pessoas de seguir o próprio bom senso, fazendo com que
se tornem obtusas e cruéis. As religióes, inclusive a crista, sao um dos
principáis obstáculos á descoberta da verdade. Jamáis se poderá, alias,
definir essa verdade nos seus conteúdos precisos. Pensar que o Deus
da própria religiao é o único, é puro fanatismo. "Deus" é visto como uma
realidade cósmica, vaga e onipresente. O seu caráter pessoal é ignorado
e praticamente negado.

De Mello mostra ter apreco por Jesús, de quem se diz "discípulo".


Considera-o porém um mestre ao lado dos outros. A única diferenca frente
aos outros homens é ser Jesús "esperto" e totalmente livre, quando os
outros nao o sao. Nao é reconhecido como Filho de Deus, mas simples-
mente como aquele que nos ensina que todos os homens sao filhos de
Deus. Também as afirmacoes sobre o destino definitivo do homem susci-
tam perplexidades. Por vezes, fala-se de uma "dissolucáo" no Deus im-
pessoal, como a do sal na agua. Em diversas ocasioes, considera-se
irrelevante também a questáo do destino depois da morte. Só a vida pre
sente é digna de interesse. E nesta, uma vez que o mal é apenas igno
rancia, nao existem regras moráis objetivas. O bem e o mal sao só valo-
rizacoes mentáis impostas á realidade.

Coerentemente com quanto foi dito, pode compreender-se como,


segundo o Autor, qualquer credo ou profissáo de fé, tanto em Deus como
em Cristo, só serve para impedir o acesso pessoal á verdade. A Igreja,
fazendo da palavra de Deus na Sagrada Escritura um ídolo, acabou por

564
ESPIRITUALIDADE ORIENTAL E CATOLICISMO 37

expulsar Deus do templo. Por conseguinte, perdeu a autoridade de ensi-


nar em nome de Cristo.

Com a presente Notificacáo, esta Congregacáo, no intuito de tute


lar o bem dos fiéis, vé-se na obrigacáo de declarar que as posicóes áci
ma expostas sao incompatfveis com a fé católica e podem causar graves
danos.

O Sumo Pontífice Joáo Paulo II, na Audiencia concedida ao


abaixo-assinado Prefeito, aprovou a presente Notificacáo, decidida
na Sessáo Ordinaria desta Congregacáo, e mandou que fosse
publicada.

Roma, sede da Congregacáo para a Doutrina da Fé, 24 de Junho


de 1998, solenidade do Nascimento de Sao Joáo Batista.
+ Joseph Card. Ratzinger
Prefeito

+ Tarcísio Bertone, SDB,


Arcebispo emérito de Vercelli
Secretario

NOTA ILUSTRATIVA*

Introducáo

Os escritos do jesuíta indiano Padre Anthony de Mello (1931 -1987)


alcancaram urna notável difusáo em muitos países e entre pessoas de
diferentes condicóes1. Neles, num estilo direto e de leitura fácil, sendo a
maior parte em forma de breves narracoes, recolheu alguns elementos
válidos da sabedoria oriental, que podem ajudar a conseguir o dominio
de si, romper aqueles lacos e afetos que nos impedem de ser realmente
livres, evitar o egocentrismo, enfrentar com serenidade as vicissitudes
da vida sem nos deixar influenciar pelo mundo exterior, e ao mesmo tem-
po perceber a riqueza do mundo que nos circunda. É justo assinalar es
tes valores positivos, que se podem encontrar em muitos dos escritos do
Pe. de Mello, sobretudo ñas obras que sao dos seus primeiros anos de
atividade como diretor de retiros. Embora revelando evidentes influénci-

• A divisáo do texto se deve á ñedacáo de PR.


1 É preciso assinalar que nem todas as obras de A. de Mello foram publicadas por ele
mesmo. Algumas foram publicadas depois da sua morte, tendo por base os seus
escritos, anotacóes ou gravagoes de conferencias. Na presente Nota Ilustrativa
referimo-nos á edigáo italiana, exceto quanto ao texto «La iluminación es la
espiritualidad. Curso completo de autoliberación interior» (Vida nueva 1987, pp. 27/
1583 - 66/1622).

565
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

as das correntes espirituais budistas e taoístas, ele manteve-se em mui-


tos aspectos aínda dentro das linhas da espiritualidade crista: fala da
expectativa, no silencio e na oracáo, da vinda do Espirito, puro dom do
Pai (Incontro con Dio, 11-13). Apresenta muito bem a oracáo de Jesús e
a que Ele nos ensina, tomando como base o Pal Nosso (ibid, 40-43).
Fala também da fé, do arrependimento, da contemplacáo dos misterios
da vida de Cristo segundo o método de Santo Inácio. Na sua obra
Sádhana. Un cammino verso Dio, publicada pela primeira vez em 1978,
sobretudo na sua parte final (La devozione, pp. 175-235), Jesús ocupa
um lugar central: fala-se da oracáo de súplica, da oracao de intercessáo,
tal como Jesús a ensina no Evangelho, da oracao de louvor, da invoca-
cáo do nome de Jesús. O llvro é dedicado á Bem-aventurada Virgem
María, modelo de contemplacáo (pág. 11).

Evolucáo do Pensamento

Mas já neste llvro ele desenvolve a sua teoría da contemplacáo


como autoconsciéncia (ou conhecimento), que nao parece isenta de
ambigüidade. No inicio da obra, a nocáo da revé lacao crista é equipara
da á de Lao-Tse, com certa preferencia pela deste último: ««"O silencio é
a grande revelacáo", disse Lao-Tse. Segundo o nosso modo comum de
pensar, a Revelacáo encontra-se na Sagrada Escritura. E é assim. Mas
hoje quereria que descobrisses que a revelacáo pode-se encontrar no
Silencio» (pág. 15; cf. pág. 18). No exercícío da consciéncia (ou conheci
mento) das nossas sensacóes corpóreas, entramos já em comunicacáo
com Deus (pág. 44). Urna comunicacáo que é explicada nestes termos:
«Muitos místicos dizem-nos que, além da mente e do coracáo com que
ordinariamente comunicamos com Deus, somos, todos nos, dotados de
urna mente mística e de um coragáo místico, urna faculdade que nos
torna capazes de conhecer Deus diretamente, de O captar e intuir no seu
próprio ser, embora duma maneira obscura» {ibid). Mas esta intuicáo,
sem imagens nem forma, é a de um vazio: «O que é que fixo quando
contemplo Deus? Urna realidade sem imagens, sem forma. Um vazio!»
(pág. 45). Para comunicar com o infinito, é necessário «fixar um vazio»

Assim se chega á conclusáo, «aparentemente desconcertante, de


que a concentracáo no vosso respiro ou ñas vossas sensacóes corpóreas
é urna ótima contemplacáo, no sentido estrito da palavra» (pág. 51)1.
1 A este tipo de propostas parece fazer referencia a Carla da Congregagio para a
Doutrína da Fé «Orationis formas», de 15 de Outubro de 1989, n. 12 (cf. AAS 82
[1990] 369): «Alii demum temeré audent aequare absolutum illud, sine imaginibus et
conceptibus, quod est proprium ¡heoriae Buddhisticae, Dei maiestati, in Christo
revelatae, quae supra res finitas elevatur». É oportuno recordar a respeito disso os
ensinamentos sobre a Inculturagáo e sobre o diálogo inter-religioso da Carta Encícli
ca de Joño Paulo II Redemptorís mlssio, nn. 52-57; cf. AAS 83 [1991] 299-305.

566
ESPIRITUALIDADE ORIENTAL E CATOLICISMO 39

Noutras obras sucessivas fala-se do «despertar», da iluminacáo


interior ou do conhecimento: «Como despertar? Como saber se alguém
está a dormir? Os místicos, quando véem aquilo que os circunda, desco-
brem urna grande alegría que brota do coracao das coisas. Concordes,
falam desta alegría e do amor que inunda tudo... Como chegar a isto?
Mediante a compreensáo, libertando-nos das ilusoes e das idéias erra
das» {Istruzioni di voló per aquile e polli, 77; cf. Chiamati all'amore, 178).
A iluminacáo interior é a verdadeira revelacao, muito mais importante do
que aquela que nos chega mediante a Escritura: «Um gurú prometeu a
um estudioso urna revelacáo muito mais importante do que qualquer ou-
tra contida ñas Escrituras... Quando tens o conhecimento, usas urna tocha
para iluminar o caminho. Quando tens a iluminacáo, tu mesmo te tornas
urna tocha» (Lapreghiera della rana, vol. I,126-127). «A santidade nao é
urna conquista, a santidade é urna Graca. Urna Graca chamada 'Conhe
cimento', urna Graca que é 'olhar', 'observar', 'entender'. Se tu aceitas-
ses acender a luz do conhecimento e te observasses a ti mesmo e cada
coisa que está ao teu redor na vida de cada dia; se te visses refletido no
espelho do conhecimento do mesmo modo como vés o teu rosto refletido
num espelho... sem emitir juízo algum ou qualquer condenacjio, haverias
de perceber as maravilhosas mudancas que acontecem em ti» (Chiamati
all'amore, 176).

Nestes escritos sucessivos, o Pe. de Mello chegou progressiva-


mente a concepcoes sobre Deus, a revelacáo, Cristo, o destino final do
homem, etc. que nao sao compatíveis com a doutrina da Igreja. E, dado
que muitos dos seus livros nao se apresentam sob forma de ensinamen-
to, mas como colecáo de pequeñas narracoes, com freqüéncia muito
engenhosas, as idéias subjacentes podem fácilmente passar inobserva
das. Torna-se, portante, necessário chamar a atencáo para alguns as
pectos do seu pensamento, que, de diversas formas, afloram no conjunto
da sua obra. Servir-nos-emos dos textos do Autor, que, mesmo com as suas
características particulares, mostram com clareza o pensamento de fundo.

O Conceito de Deus

O Pe. de Mello em diversas ocasióes faz afirmacoes sobre Deus


que ignoram, ou até mesmo negam de modo explícito, o seu caráter pes-
soal e O reduzem a urna vaga realidade cósmica omnipresente. Ninguém
nos pode ajudar a encontrar a Deus, assim como ninguém pode ajudar o
peixe a encontrar o océano (cf. Un minuto di saggezza, 77; Messaggio
per un'aquila che si crede un pollo, 115). De maneira análoga, Deus e
nos nao somos urna coisa só, mas também nao somos duas, assim como
o sol e a luz, o océano e as ondas nao sao urna coisa só, mas também
nao sao duas (Un minuto di saggezza, 44). Com clareza ainda maior, o
problema da Divindade pessoal é posto nestes termos: «Dag

567
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

Hammarskjóld, ex-Secretário-Geral das Nacóes Unidas, disse urna frase


muito bonita: "Deus nao morre no dia em que deixamos de crer numa
divindade pessoal..."» (Messaggio per un'aquila..., 140; o mesmo em La
iluminación es la espiritualidad, 60). «Se Deus é amor, entáo a distancia
entre Oeus e ti é a exata distancia entre ti e o conhecimento de ti mesmo»
(Shock di un minuto, 287).

Critica-se e faz-se muitas vezes ironia principalmente a respeito de


toda tentativa de linguagem sobre Deus, a partir de urna refutacáo unila
teral e exagerada, conseqüéncia da concepcáo de divindade menciona
da ácima. A relacáo entre Deus e a criacáo exprime-se freqüentemente
com a imagem hindú do bailarino e da danca: «Vejo Jesús Cristo e Judas,
vejo vítimas e perseguidores, os algozes e os crucificados: urna única
melodia de notas contrastantes... urna única danca feita de passos dife
rentes... Por fim, ponho-me diante de Deus. Vejo-0 como o bailarino e
toda esta realidade louca, insensata, hilariante, agonizante, espléndida a
que chamamos vida como a sua danca...» (Alie sorgenti, 178-179; cf. //
canto degli ucceili, 30). Que é ou quem é Deus e que sao os homens
nesta «danca»? «Se queres ver Deus, observa diretamente a criacáo.
Nao O rejeites, nao refutas sobre Ele. Limita-te a olhar» (pág. 41).

Nao se vé como possa entrar aquí a mediacáo de Cristo para o


conhecimento do Pai. «Deus nada tem a ver com a idéia que tendes
d'Ele... Há só um meio para O conhecer: o nao conhecimento» (Istruzioni
di voló per aquile e polli, 11; cf. idib. 12-13; Messaggio..., 136; Preghiera
della rana, vol. 1, 351). Sobre Deus, portanto, nada se pode dizer: «O
ateu erra ao negar Aquele sobre o qual nada se pode dizer... E o teísta
comete o erro de afirmá-l'O» {Shock di un minuto, 30; cf. ibid. 360).

A Sagrada Escritura

Nem sequer as Escrituras, sem excluir a própria Biblia, fazem co


nhecer Deus; sao apenas urna especie de placa indicadora, que nao me
diz nada sobre a cidade para onde me dirijo: «Chego diante de urna pla
ca onde está escrito "Bombaim"... Aquela placa nao é Bombaim, nem se
parece com ela. Nao é um retrato de Bombaim. É urna indicagáo. As
Escrituras sao isto: urna indicacáo» {Istruzioni di voló..., 12). Prolongan
do a metáfora, poder-se-ia dizer que a indicacáo se torna inútil quando
chego ao lugar de destinacáo. E é o que parece afirmar A. de Mello: «A
Escritura é a parte excelente, o dedo indicador que aponta a Luz. Usa
mos as suas palavras para ir mais além e chegar ao silencio» (ibid. 15). A
revelacáo de Deus paradoxalmente nao se exprime na sua palavra, mas
no seu silencio (cf. também Un minuto disaggezza, 129, 167, 201, etc.;
Messagio per un'aquila che sicrede un pollo, 112-113). «Na Biblia é-nos
indicado apenas o caminho, como sucede com as escrituras muculma-

568
ESPIRITUAUDADE ORIENTAL E CATOLICISMO

ñas, budistas, etc.» (La iluminación es la espiritualidad, 64). Proclama


se, portante-, um Deus impessoal que está ácima de todas as religióes,
ao mesmo tempo que se movem objecóes ao anuncio cristáo de Deus
amor, que seria ¡ncompatível com a necessidade da Igreja para a salva
cáo: «O meu amigo e eu fomos á feira. A feira internacional das religi
óes... No balcáo hebreu, deram-nos boletins que diziam que Deus era
compassivo e os hebreus eram o seu povo eleito. Os hebreus. Nenhum
outro povo era táo eleito como o povo hebreu. No balcáo muculmano,
aprendemos que Deus era misericordioso e Maomé o seu único profeta.
A salvacáo vem da escuta do único profeta de Deus. No balcáo cristáo,
descubrimos que Deus é amor e nao há salvacáo fora da Igreja. Entra na
Igreja ou correrás o perigo da condenacáo eterna. Enquanto nos afastá-
vamos, perguntei ao meu amigo: "Que pensas de Deus?" Ele respondeu:
«É beato, fanático e cruel». Tendo retornado á casa, eu disse a Deus:
"Por que predispóes.este género de coisas, Senhor? Nao vés que desde
sáculos Te proporcionam urna má fama?" Deus respondeu: "Nao fui Eu
quem organizou a feira. Envergonhar-Me-ia até de a visitar"» (// canto
degli uccelli, pág. 186s., a narracáo La fiera internazionale delle religionr,
cf. também pp. 190-191, 194).
A Salvacáo do Homem

O ensinamento da Igreja sobre a vontade salvífica universal de Deus


e a salvacáo dos náo-cristáos nao está exposto de modo correto. E tam
bém o que se refere á mensagem crista de Deus amor: «"Deus é amor. E
ama-nos e recompensa-nos para sempre, se observarmos os seus man-
damentos". "SE?", disse o mestre. "Entáo a noticia nao é assim táo boa,
nao?" (Shockdiun minuto, 218; cf. ibid. 227). Toda religiáo concreta é um
impedimento para chegar á verdade. Da religiáo em geral diz-se aquilo
que foi afirmado a respeito das Escrituras: «Todos os fanáticos queriam
agarrar-se ao seu Deus e fazé-l'O o único» (La iluminación es la
espiritualidad, 65; cf. ibid. 28; 39). O que importa é a verdade, quer ela
venha de Buda, quer de Maomé, visto que «o importante é descobrir a
verdade onde todas as verdades coincidem, porque a verdade é urna
só» (ibid. 65). «A maior parte das pessoas, infelizmente, tem bastante
religiáo para odiar, mas nao a suficiente para amar» (La preghiera della
rana, vol. 1,146; cf. ibid. 56-57; 133). Quando se enumeram os obstácu
los que impedem de ver a realidade, a religiáo ocupa o primeiro lugar:
«Primeiro, a tua fé religiosa. Se tu consideras a vida como comunista ou
capitalista, como muculmano ou entáo como hebreu, vives a vida duma
maneira preconcebida e tendenciosa: eis urna barreira, urna carnada de
gordura entre a Realidade e o teu espirito, que já nao chega a vé-la nem
tocá-la diretamente» (Chiamati all'amore, 62). «Se cada ser humano fos-
se dotado de um coracáo assim, ninguém mais se etiquetaría a si mesmo

569
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

como "comunista" ou "capitalista", "cristáo" ou "muculmano" ou "budista".


A lúcida clareza da sua visáo revelar-lhes-ia que todos os pensamentos,
todos os preconceitos, todas as crencas sao lanternas carregadas de
trevas, nada mais do que sinais da sua ignorancia» (ibid. 172; cf. também
Un minuto disaggezza, 169; 227, sobre os perigos da religiáo). O que se
afirma a respeito da religiáo, diz-se concretamente também das Escritu
ras (cf. // canto degli uccelli, 186s; Shockdi un minuto, 28).

Jesús Cristo

A filiacáo divina de Jesús dilui-se na filiacáo divina dos homens:


«Ao que Deus replicou: "Um dia de festa é sagrado, porque demonstra
que todos os dias do ano sao sagrados. E um santuario é santo porque
demonstra que todos os lugares sao santificados. Do mesmo modo, Cristo
nasceu para demonstrar que todos os homens sao filhos de Deus"» (//
canto degli uccelli, 188). A. de Mello mostra certamente urna adesáo pes-
soal a Cristo, do qual se declara discípulo (Alie sorgenti, 13, 99), no qual
eré (pág. 108) e com o qual se encontra pessoalmente (pág. 109ss; 117ss).
A sua presenca transfigura (cf. pág. 90s). Mas outras afirmacóes sao
desconcertantes: Jesús é mencionado como um mestre entre muitos:
«Lao-Tse e Sócrates, Buda e Jesús, Zarathustra e Maomé» (Un minuto di
saggezza, 13). Na cruz, Jesús aparece como aquele que Se libertou per-
feitamente de tudo: «Vejo o Crucificado despojado de tudo: Privado da
sua dignidade... Privado da sua reputacáo... Privado de todo o apoio...
Privado do seu Deus... Enquanto olho para aquele corpo sem vida, com-
preendo pouco a pouco que estou a olhar para o símbolo da libertacáo
suprema e total. Precisamente porque pregado na cruz, Jesús torna-Se
vivo e livre... Assim agora contemplo a majestade do homem que se li
bertou de tudo aquilo que nos torna escravos, que destrói a nossa felici-
dade...» (Alie sorgenti, 92-93). Jesús na cruz é o homem livre de todos os
lagos, tornou-Se portante o símbolo da libertacáo interior de tudo aquilo a
que estávamos apegados. Mas Ele é algo mais do que o homem livre? É
Jesús o meu salvador ou me remete simplesmente para urna realidade
misteriosa que O salvou? «Entrarei porventura em contato, Senhor, com
a fonte da qual derivam as tuas palavras e a tua sabedoria? Encontrarei
talvez as fontes da tua coragem?» (ibid. 116). «O aspecto melhor de Je
sús ó que Se encontrava á vontade com os pecadores, porque entendía
que em nada era melhor do que eles... A única diferenca entre Jesús e os
pecadores era que Ele estava despertó e eles nao» (Messagio per
un'aquila che si crede un pollo, 37; também La iluminación es la
espiritualidad, 30; 62). A presenca de Cristo na Eucaristía nao é senáo
um símbolo, que remete para urna realidade mais profunda, a presenca
de Cristo na criacáo: «Toda a críacáo é Corpo de Cristo, e tu acreditas
que só está na Eucaristía. A Eucaristía indica essa críagáo. O Corpo de

570
ESPIRITUALIDADE ORIENTAL E CATOLICISMO 43

Cristo está em toda parte, e tu so reparas no seu símbolo que está a


indicar-te o essencial que é a vida» (La iluminación es la espiritualidad,
61).

A Sorte Final do Homem

O ser do homem parece destinado a urna dissolucáo, como a do


sal na agua: «Antes que aquele último pedacinho se dissolvesse, a bo-
neca (de sal) exclamou admirada: "Agora sei quem sou!"» (// canto degli
uccelli, 134). Noutros momentos declara-se irrelevante a questáo da vida
para além da morte: «"Existe a vida depois da morte?... e essa a ques
táo!", respondeu o mestre de maneira enigmática» {Un minuto disaggezza,
93; cf. ibid. 37). «Um bom sintoma de que estáis acordados é que nao
vos importa nada daquilo que acontecerá na próxima vida. O pensamen-
to nao vos perturba; nao vos importa. Nao vos interessa... e basta»
(Messagio per un'aquila che sicrede un polio. 50-51; também Messagio...,
166). Talvez ainda com maior clareza: «Para que preocupar-se com o
amanhá? Há urna vida depois da morte? Sobreviverei após a morte?
Para que preocupar-se com o amanhá? Entrai no presente» (Messagio...,
126). «A idéia que a gente tem da eternidade é estúpida. Pensa que dura
para sempre porque está tora do tempo. A vida eterna é agora, está aqui»
(La iluminación es la espiritualidad, 42).

A Igreja

Em diversos pontos dos seus livros, sao criticadas de modo


indiscriminado as instituicoes eclesiásticas: «Profissionais assumiram
completamente o controle da minha vida religiosa...» (// canto degli uccelli,
74s). A funcáo do Credo ou a profissáo da fé é julgada de maneira nega
tiva, como aquilo que impede o acesso pessoal á verdade e á ilumina-
cáo. Assim aparece com diversos matizes em ibid. pág. 50; 59; 52s; 212.
«Quando já nao te fizer falta agarrar-te ás palavras da Biblia, esse será o
momento em que esta se converterá para ti em algo muito bonito e
revelador da vida e da sua mensagem. Ó mais triste é que a Igreja oficial
se dedicou a configurar o ídolo, a encerrá-lo, defendé-lo, coisificando-o
sem saber contemplar o que realmente significa» (La iluminación es la
espirítualid, 66). Idéias semelhantes sao expostas em La preghiera della
rana, vol. 1,21; 133; 135; 139: «Um pecador público foi excomungado e
foi-lhe proibido entrar na igreja. Ele foi lamentar-se com Deus. "Nao me
deixam entrar, Senhor, porque sou um pecador". "De que te lamentas?",
disse Deus. "Nao sequer Me deixam entrar a Mim!"» (ibid. 148).

O Pecado

O mal é apenas ignorancia, falta de iluminacáo: «Quando Jesús


olha para o mal, chama-o com o seu nome e condena-o sem hesitacáo.

571
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

Só que onde eu vejo maldade, Ele vé ignorancia... «Pai, perdoa-lhes..."


(Le 23, 34)» (Alie sorgenti, 191). Certamente, este texto nao reflete todo
o ensinamento de Jesús sobre o mal do mundo e sobre o pecado; Jesús
acolheu os pecadores com profunda misericordia, mas nao negou o seu
pecado, antes convidou á conversao. Noutras passagens, encontramos
afirmacóes ainda mais radicáis: «Nada é bom ou mau, é o pensamento
que assim o torna» (Un minuto di saggezza, 115). «De fato, nao existe
nem bem nem mal, nos homens ou na natureza. Existe apenas urna ava-
liacáo mental imposta a esta ou áquela realidade» (Istruzioni di voló per
aquile e polli, 100; ibid. 104-105). Nao há motivo para se arrepender dos
pecados, urna vez que a única coisa que conta é despertar para o conhe-
cimento da realidade: «Nao choréis sobre os vossos pecados. Por que
chorar pelos pecados que cometestes no sonó?» (Messaggio per un'aquila
che si crede un pollo, 33; ibid. 51, 166). A causa do mal é a ignorancia
(Shockdiun minuto, 260). O pecado existe, mas é um ato de loucura (La
iluminación es la espiritualidad, 63). Assim o arrependimento consiste
em voltar á realidade (cf. ibid. 48). «O arrependimento é urna mudanca
da mente: urna visáo radicalmente diversa da realidade» (Shock di un
minuto, 262).

Entre estas diversas afirmacóes existe, certamente, urna conexáo


interna: se se póe em questáo a existencia de um Deus pessoal, nao tem
sentido que Ele Se nos dirija com a sua palavra. A Escritura, portante
nao tem um valor definitivo. Jesús é um mestre como os outros; só ñas
primeiras obras do Autor é que aparece como o Filho de Deus. Esta afir-
macáo teria pouco sentido dentro da concepcio de Deus a que nos aca
bamos de referir. Conseqüentemente nao se pode atribuir valor ao ensi
namento da Igreja. A nossa sobrevivencia pessoal para além da morte é
problemática, se Deus nao é pessoa. É claro que tais concepcóes sobre
Deus, sobre Cristo e sobre o homem nao sao compatfveis com a fé crista.

Portante nao podia faltar urna tomada de posicáo esclarecedora


por parte de quem tem a responsabilidade de tutelar a doutrina da fé,
para por de sobreaviso os fiéis quanto aos perigos presentes nos escri
tos do Padre A. de Mello ou, em todo o caso, a ele atribuidos.

Refletindo...

Como insinúa a Nota Ilustrativa em sua Conclusáo, a raíz das di


vergencias entre o pensamento de Anthony de Mello e o pensamento
católico está no conceito de Deus. A nocáo de um Deus impessoal con
trasta com a nocáo bíblica de um Deus pessoal... Pessoal, nao porque
tenha configuracao humana, mas porque é um Serperfeitíssimo, imaterial,
dotado de inteligencia e vontade. Segundo as Escrituras, Deus é distinto
do homem; conhece-o e ama-o. Deus criou cada ser humano por amor

572
ESPIRITUALIDADE ORIENTAL E CATOLICISMO 45

gratuito, a fim de o levar ao consorcio da bem-aventuranca divina; acom-


panha cada qual com a sua graca no decorrer desta vida, porque seu
amor é irreversível, apesar das deficiencias da criatura. Alias, o nome
com que Deus se revelou ao povo santo é Javé - o que quer dizer: "Eu
sou Aquele que está contigo"; "estou contigo" é expressáo que retorna
freqüentemente no texto bíblico. Desta verdade se segué a re-criacáo do
homem após o pecado dos primeiros pais mediante a obra de Jesús
Cristo, verdadeiro Deus, que assumiu tudo o que é do homem para dar-
Ihe um sentido positivo. Segue-se a continuacáo da obra de Cristo no
Grande Sacramento da Igreja, que tem por centro a Eucaristía, penhor
da vida eterna.

O cristáo nao é seu próprio salvador; ele conta com a iniciativa de


Deus, que Ihe suscita confianca e paz na luta de cada dia.

A Autoridade da Verdade, por José Ignacio González Faus. Tradugáo


de Gilmar Saint Clair Ribeiro. - Ed. Loyola, Sao Paulo 1998, 160 x 220
mm,283pp.

O livro tem por subtítulo "Momentos obscuros do magisterio eclesi


ástico". Enumera trinta e seis casos em que o magisterio da Igreja parece
terse engañado. O livro impressiona o leitorporsua erudigáo, pondo em
foco episodios da historia da Igreja, que váo desde o século IX até nos-
sos tempos (atitude perante o nacional-socialismo). A conclusáo que, á
primeira vista, vem sugerida, diría que é preciso relativizar o magisterio
da Igreja. Todo cristáo teña o direito dejulgaro magisterio, colocándose
ácima dele. - Tal atitude seria deletéria, redundando no esfacelamento
da Igreja, de que é vítima o protestantismo. - Na verdade, devemos dizer
que o Senhor Jesús quis garantirá sua Igreja (a minha Igreja, conforme
Mt 16,18) a indefectibilidade em materia de fé e Moral, de modo a asse-
gurar a transmissáo incólume do depósito da Revelagáo divina; cf. Mt
16,16-19; Le 22,31s; Jo 21,15-17; Jo 14,26; 16,13-15. Afirmou: "Estarei
convosco até a consumagáo dos séculos" (Mt 28,20), referindose aos
Apostólos e seus sucessores. Em questóes que nao afetam diretamente
o Credo, os Bispos podem estar sujeitos ás limitagóes humanas; González
Faus aponta os casos de Joana d'Arc, Galileo Galilei, a supressáo da
Companhia de Jesús, a oposigáo aos principios da Revolugáo Francesa,
á democracia, ao mundo moderno, ao ecumenismo, a Teilhard de
Chardin... Sao questóes portadoras de facetas diversas, que outrora po-
diam ser consideradas de modo diferente da maneira como hoje as enca
ramos. Também nao se pode negar que tenha havido erros cometidos
por prelados eaté por Papas em materia nao explícitamente ligada á fé;
o misterio da Encarnagáo ou do Deus que fala e salva mediante a fragili-
(Continua na p. 547)

573
Devocio popular:

SANTO EXPEDITO: QUEM FOI?

Em síntese: A devogao popular venera Santo Expedito como


patrono das causas urgentes. Na verdade, pouca coisa de ceño se sabe
a respeito deste Santo, cuja existencia mesma é posta em dúvida, como
se depreende de quanto vai, a seguir, ponderado. É de estranhar que a
comunidade oriental ortodoxa convide os católicos para venerar Santo
Expedito, Santo latino (?), numa igreja oriental.
* * *

O jornal O DÍA, edicáo de 1s/9/98, publicou a seguinte noticia pro


veniente da Igreja Oriental Ortodoxa do Rio de Janeiro situada á Rúa
Leopoldina Regó 917 (Penha):
Santo Expedito Venerado na Igreja
Se vocé está com algum PROBLEMA DE DIFÍCIL SOLUCÁO e
precisa de AJUDA URGENTE, pega ajuda a SANTO EXPEDITO, que é o
Santo dos Negocios que precisam de Pronta Solugáo e cuja invocagáo
nunca é tardía.

OragSo1 - Meu Santo Expedito das causasjustas e urgentes, interce


da por mim junto ao nosso Senhor Jesús Cristo, socorre-me nesta hora de
afligao e desespero. Vos que sois o Santo dos desesperados, Vos que sois
o Santo das causas urgentes, proteja-me, ajuda-me, dai-me forga, coragem
e serenidade. Atenda ao meu pedido. Tazer o pedido"; Meu Santo Expedito!
Ajuda-me a superar estas horas difíceis, proteja-me de todos que possam
me prejudicar, proteja a minha familia, atenda ao meu pedido com urgencia.
Devolva-me a Paz e a tranquilidade. Meu Santo Expedito! Serei grato pelo
resto de minha vida e levareiseu nome a todos que tem fé. Muito obrigado.
Rezar um Pal Nosso, urna Ave Mana e fazer o sinal da Cruz.
Tal noticia sugere algumas reflexóes:

1) Santo Expedito é conhecido no Ocidente como um grande


taumaturgo, patrono das causas urgentes que váo sendo proteladas, pois
0 nome Expedítus em latim quer dizer despachado, rápido.
2) Quem foi Santo Expedito?
A resposta é lacónica. O Martirologio Romano (catálogo de San
tos), aos 19/4 registra os nomes de seis Santos, entre os quais Expedi-
to, sobre o qual nao refere noticia alguma. O próprio nome é de origem
1 Nao podemos deixar de registrar os varios erros de concordancia que há nesta
oragáo (N.d.R.)

574
SANTO EXPEDITO: QUEM FOI? 47

discutida, pois a pessoa de Expedito nao é conhecida na historia. Encon-


tram-se duas explicares para tal nome:
a) Seria devido a um erro de copista, que nave ría escrito Expeditas
em lugar de Elpidius, nome este que se encontra em algumas recensóes
do Martirologio Romano.
b) A outra explicacáo narra que um caixote portador de reliquias
retiradas de catacumbas da Italia foi enviado a um convento de Religio
sas de Paris. A data da respectiva remessa estava assinalada mediante
a palavra italiana spedito (expedido, entregue ao Correio), mas as Irmas
teráo confundido esse vocábulo funcional com o nome do presumido mártir
cujas reliquias estariam dentro do caixote. Em conseqüéncia teráo pro
pagado a devocáo a esse pretenso Santo. O respectivo nome Ihe terá
valido o título de patrono das causas urgentes, mas proteladas. - Esta
explicacáo é pouco verossímil, merecendo mais crédito a anterior.
O fato é que no século XVIII os católicos da Alemanha tinham San
to Expedito como tutor das causas demoradas. Algumas imagens o re-
presentavam a esmagar um corvo debaixo dos pés, pois o corvo costu-
ma gritar Cras! Cras! - o que em latim significa Amanhá! Amanhá! O
corvo era considerado como o símbolo dos adiamentos ou das pro-cras-
tinacóes dos negocios deixados para o dia seguinte. O nome e a imagem
de Santo Expedito significariam a prontidáo ou a rapidez da solucáo.
Pode-se ainda notar que em 1781 a cidade de Aureale na Sicilia
tinha Santo Expedito como padroeiro.
Em suma, a devocáo a Santo Expedito tem origem obscura; talvez
nunca tenha existido tal Santo. A Igreja Católica nao se opóe á devocáo
a S. Expedito considerado como patrono das causas urgentes. Nada de
herético ai se pratica. Mas a Igreja reconhece que nada se sabe a respei-
to desse Santo, cujo nome pode estar equivocado. Muito menos se pode
dizer que foi guerreiro, como sugere a oracáo transcrita atrás.
É estranho que urna comunidade oriental nao católica chame os
fiéis católicos para venerar Santo Expedito (Santo latino?) num templo
oriental. Algo de semelhante se dá com a invocacáo de S. Antonio de
Categeró (franciscano de Cartago, África, que nunca foi canonizado) na
mesma igreja oriental nao católica.

(Continuagáo da pág. 576):


Nao tenham vergonha de dizer que me amam. Eu necessito desse
carinho e amor para poder transmití-lo a voces e aos outros.
Nao desistam nunca de me ensinar o bem, mesmo quando eu pare
cer nao estar aprendendo. Insistam através do exemplo e, no futuro, voces
veráo em mim o fruto daquilo que plantaram.
Autor Desconhecido.

575
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS' 439/1998

PEDIDO QUE UMA CRIANZA FAZ A SEUS PAÍS

Nao tenham medo de ser firmes comigo. Pref¡ro assim. Isto faz com
que eu me sinta mais seguro.

Nao me estraguem. Sei que nao devo ter tudo o que peco. Só estou
experimentando voces.

Nao deixem que eu adquira maus hábitos, dependo de voces para


saber o que é certo e o que é errado.

Nao me corrijam com raiva nem na presenca de estranhos. Apren-


derei muito mais se me falarem com calma em particular.
Nao me protejam das conseqüéncias de meus erros, ás vezes eu
preciso de aprender pelo caminho áspero.
Nao levem muito a serio as minhas pequeñas dores. Necessito de-
las para poder amadurecer.

Nao sejam irritantes ao me corrigirem. Se assim o fizerem, eu pode-


rei fazer o contrario do que me pedem.
Nao me facam promessas que nao poderáo cumprir depois. Lem-
brem-se de que isto me deixa profundamente desapontado.
Nao ponham á prova a minha honestidade, sou fácilmente levado a
dizer mentiras.

Nao me apresentem um Deus carrancudo e vingativo, isto me afas-


taria d'Ele.

Nao desconversem quando faco perguntas; senáo serei levado a


procurar as respostas na rúa todas as vezes que nao as tiver em casa.

Nao se mostrem para mim como pessoas infalíveis. Ficarei extre


mamente chocado quando descobrir um erro de voces.
Nao digam simplesmente que meus receios e medos sao bobos.
Ajudem-me a compreendé-los e vencé-los.
Nao digam que nao conseguem controlar-me. Eu me julgarei mais
forte que voces.

Nao me tratem como urna pessoa sem personalidade. Lembrem-se


de que eu tenho o meu próprio modo de ser.
Nao vivam apontando-me os defeitos das pessoas que me cercam,
isto irá criar em mim, mais cedo ou mais tarde, o espirito de intolerancia.
Nao se esquecam de que eu gosto de experimentar as coisas por
mim mesmo. Nao queiram ensinar tudo para mim.
(Continua na pág. 575)

576
Pergunte

Responderemos

índice Geral de 1998


ÍNDICE

(Os números á direita indicam, respectivamente, fascículo, ano de edicáo e página)

ABORTO- ACADEMIA DE MEDICINA DO PARAGUAI 433/1998, p. 282


"CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR" (CDD)... 430/1998, p. 115
E BERNARD NATHANSON 429/1998, p. 70
E CRUELDADE DOS ADULTOS 438/1998, p. 526
FATO REAL 438/1998, p. 526
PAPA E BISPOS ALEMÁES 434/1998, p. 303
ACCATTOLI, LUIGI - "QUANDO O PAPA PEDE PERDÁO" 434/1998, p. 463
ACORDÓ LUTERANO-CATÓLICO SOBRE A JUSTIFICACÁO ... 437/1998, p. 470
AGOSTINHO E FLÓRIA EMÍLIA 433/1998, p. 275
ANTHONY DE MELLO S.J. E CATOLICISMO 439/1998, p. 563
ANTICRISTO: QUEM É ELE? 436/1998, p. 411
APOSTA DE BLAISE PASCAL 437/1998, p. 434

BALASURIYA, TISSA E EXCOMUNHÁO 433/1998, p. 256


BETTO, FREÍ: "QUERIDO PAPA" 430/1998, p. 101
BÍBLIA: A IGREJA ACRESCENTOU LIVROS? 432/1998, p. 194
CAMELO E FUNDO DE AGULHA 431/1998. p. 146
MAGNÍFICAT DE MARÍA 435/1998, p. 383
RESSURREICÁO DE LÁZARO, SIMBÓLICA? 435/1998, p. 383
BOFF, LEONARDO: INFERNO EXISTE? 432/1998, p. 212
"BRIDA" DE PAULO COELHO 438/1998, p. 509

CALENDARIO DAS RELIGIÓES ABRAÁMICAS 431/1998, p. 173


CAMELO E FUNDO DE AGULHA 431/1998, p. 146
CANON BÍBLICO CATÓLICO 432/1998, p. 194
DOS CRISTÁOS ORIENTÁIS 432/1998, p. 234
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA: EDigÁO OFICIAL 429/1998, p. 74
E LIMITACÁO DA PROLE 429/1998, p. 78
E PENA DE MORTEA 429/1998, p. 79
E HOMOSSEXUALISMO 429/1998, p. 77
E TRANSPLANTE DE ÓRGÁOS 429/1998, p. 77
CATOLICISMO E ESPIRITUALIDADE ORIENTAL 439/1998, p. 563
CATÓLICOS E LUTERANOS EM DIÁLOGO 439/1998, p. 557

578
ÍNDICE GERAL DE 1998 51

NO MUNDO: ESTATÍSTICA 429/1998, p. 91


PELO DIREITO DE DECIDIR (CDD) 430/1998, p. 115
CÍRCULOS DA FÉ E OBRAS SOCIAIS: que é? 428/1998, p. 35
CLONAGEM E IMPLICACÓES 428/1998, p. 29
HUMANA? 433/1998, p. 242
CÓDIGO DE DIREITO CANÓNICO COMPLEMENTADO 438/1998, p. 496
COELHO PAULO: "BRIDA" 438/1998, p. 496
"ÑAS MARGENS DO RIO PIEDRA EU
SENTEI E CHOREI" 438/1998, p. 515
COMUNHÁO EUCARÍSTICA E DIVORCIADOS
RE-CASADOS 431/1998, p. 162
COMUNISMO: QUEDA DO 433/1998, p. 251
COMUTACÓES DE PENITENCIA 437/1998, p. 459
CONCEITOS DE DEUS: AMBIGÜIDADES 438/1998, p. 516
CONCETTI, GINO: ESPIRITISMO E IGREJA CATÓLICA 434/1998, p. 325
CONGELAMENTO DE CADÁVERES HUMANOS 435/1998, p. 378
CURAS PORTENTOSAS E CHARLATANISMO 428/1998, p. 24

DECLARAQÁO DO RIO DE JANEIRO SOBRE A FAMÍLIA 429/1998, p. 50


"DER STELLVERTRETER" (O REPRESENTANTE): pega de
Rolf Hochhut 434/1998, p. 290
DEVOQÁO POPULAR: SANTO EXPEDITO 439/1998, p. 574
"DÍA DO SENHOR": CARTA APOSTÓLICA DE JOÁO
PAULO II 438/1998, p. 482
DÍAS SANTOS DE GUARDA 438/1998, p. 490
DIVORCIADOS RE-CASADOS E COMUNHÁO
EUCARÍSTICA 431/1998, p. 162
DÍZIMO E IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS 436/1998, p. 417
DONOHUE, WILLIAM A.: PIÓ NAO SE CALOU 438/1998, p. 528
DOUTORES DA IGREJA: ELENCO 429/1998, p. 87
DUARTE, LENEIDE: "A RECONCILIAQÁO DO VATICANO COM
LUTERO" : 437/1998, p. 464
"DUAS BABILONIAS" por Mary Schultze 437/1998, p. 473

ESPIRITISMO: IGREJA RESOLVE ACEITAR? 434/1998, p. 325


ESPIRITUALIDADE ORIENTAL E PADRE ANTHONY DE
MELLO, S.J 439/1998, p. 563
ESPÓRTULAS DE MISSA: QUE SAO? 435/1998, p. 345
"COLETIVAS" 435/1998, p. 355
EVOLUCÁO DEMOGRÁFICA: REALIDADE E RESPONSABILI
DADES 435/1998, p. 366
EXPEDIDO, SANTO: QUEM FOI? 439/1998, p. 574

579
52 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

FÁMÍLIA: DECLARACÁO DO RIO DE JANEIRO 429/1998, p. 50


E ORGANIZACÓES INTERNACIONAL 429/1998, p. 56
FERRAMENTAS DO DIABO 432/1998, p. 237
FESTAS DAS RELIGIÓES ABRAÁMICAS 431/1998, p. 173
FIM DO MUNDO E ANTICRISTO 436/1998, p. 411
DATA DO 439/1998, p. 540
IMINENTE VOLTA DE CRISTO? 439/1998, p. 530
"FOLHA UNIVERSAL": GRAVES ERROS 435/1998, p. 372
"AS DUAS BABILONIAS" 437/1998, p. 473
CURIOSIDADE SOBRE OS PAPAS 435/1998, p. 375
IMPERIO ROMANO E VATICANO
SEGUNDO A BÍBLIA 435/1998, p. 372
JURAMENTO DOS JESUÍTAS 434/1998, p. 335
FUNDAMENTALISMO MUQULMANO 437/1998, p. 466

GLENDON, MARY ANNE, E FAMILIA 429/1998, p. 56


GOBBI, PE. STEFANO E LOCUCÁO INTERIOR 436/1998, p. 408
GONQALVES DO AMARAL, EDVALDO, E DIVORCIADOS
RECASADOS 436/1998, p. 431

HIV E PRESERVATIVOS 438/1998, p. 523


HOCHHUT, ROLF: "DER STELLVERTRETER" 434/1998, p. 290
HOMEM E MACACO: DIFERENQAS PSÍQUICAS 428/1998, p. 21
HORÓSCOPO: FALHAS 432/1998, p. 216
HORRELL, J. SCOTT: "MACONARIA E FÉ CRISTA" 430/1998, p. 124

IGREJA CATÓLICA E ESPIRITISMO 434/1998, p. 325


E DINHEIRO 435/1998, p. 350
NORMAS DE COMPORTAMENTO NA 435/1998, p. 383
OPINIÁO PÚBLICA 433/1998, p. 283
PESSOA E PESSOAL 434/1998, p. 306
e 435/1998, p. 362
POR SER FIEL A 435/1998, p. 361
SANTIDADE E PECADO NA 435/1998, p. 363
UNIVERSAL DO REINO DE DEUS 434/1998, p. 335
UNIVERSAL E DÍZIMO 436/1998, p. 417

580
ÍNDICE GERAL DE 1998 53

IMAGENS SAGRADAS E JOÁO PAULO II 430/1998, p. 98


INCESTO: "VOCÉ DECIDE" 432/1998, p. 224
INDULGENCIAS: QUE SAO? 437/1998, p. 457
INFERNO: EXISTENCIA 432/1998, p. 212
INQUISICÁO EM PORTUGAL E PODER REGIO 435/1998, p. 338
INQUISIDORES, MANUAL DOS 436/1998, p. 392

JESUÍTAS: "MÓNITA SECRETA" 434/1998, p. 335


JOÁO PAULO II: ABORTO 434/1998, p. 316
BÉNCÁO PAPAL 430/1998, p. 411
COMUNISMO 433/1998, p. 251
ELENCO DAS OBRAS CARITATIVAS 434/1998, p. 308
IMAGENS SAGRADAS 430/1998, p. 98
"PARA TUTELA DA FÉ" 438/1998, p. 492
"SALVOU-ME A VIDA" 432/1998, p. 210
JOSEPH, MONS. JOHN - PROTESTO DE UM BISPO 437/1998, p. 465
JURAMENTO E PROFISSÁO DE FÉ 438/1998, p. 492
JUSTIQA E PAZ: DOCUMENTO SOBRE REFORMA AGRARIA.. 434/1998, p. 328
JUSTIFICACÁO: LUTERANOS E CATÓLICOS EM DIÁLOGO .... 439/1998, p. 557

KRAMER, HENRICH E JAMES SPRENGER "O MARTELO DAS


FEITICEIRAS" 436/1998, p. 392

LARRAÑAGA, FREÍ IGNACIO - OFICINAS DE ORACÁO 436/1998, p. 386


LECOMTE, BERNARD: "O PAPA QUE VENCEU O
COMUNISMO" 433/1998, p. 251
LEIGOS E CLÉRIGOS: COLABORACÁO 431/1998, p. 152
LIMITACÁO DA PROLE E CATECISMO 429/1998, p. 78
LOCUCÁO INTERIOR: QUE É? 436/1998, p. 408
LUTERANOS E CATÓLICOS EM DIÁLOGO 439/1998, p. 557
LUTERO, MARTINHO: AS 95 TESES 437/1998, p. 439
E MARÍA SANTÍSSIMA 429/1998, p. 81
ONTEM E HOJE 439/1998, p. 548
RICARDO GARCÍA VILLOSLADA 437/1998, p. 456

MACCARI, CARLO: "A NOVA ERA DIANTE DA FÉ CRISTA" 430/1998, p. 136

581
54 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

"MAQONARIA E FÉ CRISTA" (J. SCOTT HORRELL) 430/1998, p. 124


MAGIA E PAULO COELHO 438/1998, p. 509
e 515
"MALLEUS MALEFICARUM" ("O Martelo das Feiticeiras") 436/1998, p. 392
MANUAL DOS INQUISIDORES: ("O Martelo das Feiticeiras") 436/1998, p. 392
MARÍA SANTÍSSIMA E LUTERO 429/1998, p. 81
MARTÍNEZ GARCÍA E BÁRRELA TREBOLLA: "OS HOMENS DE
QUMRAN" 432/1998, p. 203
MATERNIDADE: DIREITOS 426/1998, p. 2
MATLARY, JANNE HAALAND: DIREITOS DA MATERNIDADE .. 428/1998, p. 2
MELLO, S. J. PADRE ANTHONY DE 439/1998, p. 563
MISSA: ESPÓRTULAS DE 435/1998, p. 345
MISSAS "COMUNITARIAS" 435/1998, p. 355
PARTICIPAQÁO MEDIANTE TV E RADIO 438/1998, p. 487
PRECEITO DOMINICAL 438/1998, p. 485
VALOR INFINITO, FRUTOS LIMITADOS 435/1998, p. 348
MÓNITA SECRETA (ADMOESTACÓES SECRETAS) 434/1998, p. 335
MÓRMONS: QUEM SAO? 433/1998, p. 263
MORTE E MADRE TERESA DE CALCUTA 431/1998, p. 184
"MUNDO EVANGÉLICO": FALHAS 428/1998, p. 46

"NA MARGEM DO RIO PIEDRA EU SENTEI E CHOREI" de


PAULO COELHO 438/1998, p. 515
NATALIDADE DECLÍNIO DA 435/1998, p. 366
NA AMÉRICA LATINA 435/1998, p. 369
NATHANSON, BERNARD E ABORTO 429/1998, p. 70
NATURIVIDA: QUE É? 433/1998, p. 262
NECROMANCIA E CONTAMINAgÁO 437/1998, p. 478
NOVA ERA E FÉ CRISTA (C. MACCARI) 430/1998, p. 136
NUNES, ISMAEL ESTÉVÁO DA SILVA - quem é? 428/1998, p. 35

OBJEgÁO DE CONSCIÉNCIA 428/1998, p. 48


OFICINAS DE ORACÁO: RECONHECIDAS E APROVADAS 436/1998, p. 386
"O MARTELO DAS FEITICEIRAS" (Manual dos Inquisidores) 436/1998, p. 392
OPINIÁO PÚBLICA E IGREJA 433/1998, p. 283
ORACÁO - OFICINAS DE 436/1998, p. 386
ORAQÓES E COPA DO MUNDO 437/1998, p. 470

PAPA E IMAGENS SAGRADAS 430/1998, p. 98

582
ÍNDICE GERAL DE 1998 55

E PRIMADO DE PEDRO NO NOVO TESTAMENTO 436/1998, p. 424


PEDE PERDÁO 434/1998, p. 303
PAPADO, ORIGEM DO 436/1998. p. 423
PAQUISTÁO E FUNDAMENTALISMO 437/1998, p. 465
PARÁBOLAS NAO BÍBLICAS 432/1998. p. 235
PASCAL, BLAISE: A APOSTA DE 437/1998, p. 434
PECADO ORIGINAL E POVOS PRIMITIVOS 429/1998, p. 94
PEDIDO QUE UMA CRIANCA FAZ A SEUS PAÍS 439/1998, p. 576
PENA DE MORTE NO CATECISMO 429/1998, p. 75
e 79
PENITENCIA: COMUTAQÓES DE 437/1998, p. 459
PEREIRA, JADER: "UM ANJO FALA COMIGO: UNJA OS
DOENTES" 428/1998, p. 40
PIÓ XII E OS JUDEUS em "DER STELLVERTRETER" 434/1998, p. 290
E WILLIAM A. DONOHUE 438/1998. p. 528
PIUS WASNT SILENT - PIÓ NAO SE CALOU 438/1998, p. 528
PLÍNIO O JOVEM A TRAJANO IMPERADOR 432/1998. p. 230
PODER REGIO E INQUISICÁO EM PORTUGAL 435/1998, p. 338
PRESERVATIVOS E HIV 438/1998, p. 523
PROFECÍAS. ADIVINHAQÁO E REALIDADE HISTÓRICA 437/1998, p. 470
DE FIM DE ANO 431/1998. p. 192
DE LOCUCÁO INTERIOR 436/1998, p. 408
IMINENTE VOLTA DE CRISTO? 439/1998, p. 530
SETEMBRO 1998: MES SINISTRO? 436/1998, p. 405
PROFISSÁO DE FÉ E JURAMENTO 438/1998, p. 492
PROSPERIDADE MATERIAL E RELIGIÁO 438/1998, p. 504
PROTESTANTISMO E MARÍA SANTÍSSIMA 429/1998, p. 81
PROTESTO DE UM BISPO 437/1998. p. 465
PSIQUISMO: DIFERENCAS NO HOMEM E NO MACACO 428/1998, p. 21

«QUANDO O PAPA PEDE PERDÁO": LUIGI ACCATTOLI 434/1998. p. 303


"QUERIDO PAPA" (FREÍ BETTO) 430/^9f' P' 1J1
QUMRAN: "OS HOMENS DE QUMRAN" 432/1998, p. 203

RATZINGER, JOSEPH: "SAL DA TÉRRA" 431/1998, p. 188


ESCLARECIMENTO AO MOTU PROPRIO AD
TUENDAMFIDEM 438/1998, p. 498
NOTIFICACÁO SOBRE ESCRITOS DO PE.
ANTHONY DE MELLO. S.J 439/1998, p. 563
REFORMA AGRARIA E DOCUMENTO DA SANTA SÉ 434/1998. p. 328
RELIGIÁO- FATOR DE PROSPERIDADE MATERIAL? 438/1998, p. 504
RIQUEZA E SABEDORIA 438/1998. p. 506
583
56 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

"SAL DA TÉRRA" (JOSEPH RATZINGER) 431/1998 p 188


SALVAQÁO DO HOMEM E ANTHONY DE MELLO 439/1998* p 569
FORA DA IGREJA VISÍVEL 438/1998 p 499
SEGUNDO A MAQONARIA 430/1998 p 128
"MISSÁO DO REDENTOR" 438/1998 p 502
SANTIDADE E PECADO NA IGREJA 435/1998 p 363
SCHULTZE, MARY - "AS DUAS BABILONIAS" 437/1998* p 473
"CUIDADO COM A BÉNQÁO DO PAPA" 430/1998, p. 111
SfJA! 438/1998,'p. 507
SÉNECA E VALOR DO TEMPO 429/1998 p 96
SEPARADOS E RE-CASADOS : 436/1998 p 429
SETEMBRO 1998: MES SINISTRO? 436/1998* d' 405
SEXO SEGURO? 438/1998¡ £ 523
SÍMBOLOS RELIGIOSOS E PUBLICIDADE 432/1998 p 219
SUICÍDIO E PROTESTO DE UM BISPO 437/1998* p. 465

TEMPO NA CONCEPQÁO JUDAICO-CRISTÁ 429/1998 p 93


TESES DE MARTINHO LUTERO, AS 95 437/1998* p 439
TERESA DE CALCUTTÁ (ME.) E MORTE 431/1 ggs' p 184
LISIEUX, DOUTORA DA IGREJA 429/1998* p 187
TISSA BALASURIYA E EXCOMUNHÁO 433/1998 p' 256
TRANSPLANTE DE ÓRGÁOS E CATECISMO 429/1998* p. 77

UM RATO REAL (testemunho) 438/1998 p 526


"UM POUCO DE ETIQUETA NAO FAZ MAL" 435/1998,' p. 383

VIDENTES - IMINENTE VOLTA DE CRISTO? 439/1998 p 531


VILLOSLADA, R. GARCÍA, E LUTERO 437/1998* D 456
"VITA BREVIS" 433/1998; £ 275

WEISS, KARL - GRAVES ERROS DA "FOLHA UNIVERSAL" 435/1998 p 372


"JURAMENTO DOS JESUÍTAS" 434/1998, p. 335

584
ÍNDICE GERAL DE 1998 57

"WOJTYLA SALVOU-ME A VIDA" 432/1998, p. 210

ZIRER, EDITH: "KAROL WOJTYLA ME SALVOU A VIDA" 432/1998, p. 210

EDITORIAIS

A DAMA SABEDORIA 432/1998, p. 193


A PARÁ-OIKIA (PARÓQUIA) DO CRISTÁO 429/1998, p. 49
CHAMADOS AO HEROÍSMO 436/1998, p. 385
"EIS QUE FAQO NOVAS TODAS AS COISAS" (Ap 21,5) 428/1998, p. 1
"NA PLENITUDE DOS TEMPOS" (Gl 4,4) 439/1998, p. 529
O CORAQÁO ABERTO 433/1998, p. 241
O CORPO HUMANO 435/1998, p. 337
"Ó MORTE, ONDE ESTÁ A TUA VITORIA?" (1Cor 15,54) 438/1998, p. 481
O OITAVO DÍA 437/1998, p. 433
QUEM É O MAIOR? 430/1998, p. 97
"RESSUSCITOU AO TERCEIRO DÍA..." (1Cor 15,3) 431/1998, p. 145
VENCER 434/1998, p. 289

LIVROS APRECIADOS

ACCATTOLI, LUIGI. QUANDO O PAPA PEDE PERDÁO 433/1998, p. 287


AQUINO, PROF. FELIPE. "A MINHA IGREJA" 437/1998, p. 477
ENTRAI PELA PORTA ESTREITA 437/1998, p. 477
FAMÍLIA "SANTUARIO DA VIDA" .... 437/1998, p. 480
BATTISTINI, F. O CAMINHO DA FELICIDADE 435/1998, p. 382
BONGERIE, DENIS. "SETESTEMUNHAS DE JEOVÁ
BATEREM Á SUA PORTA" 437/1998, p. 456
BRUN, PE. NADIR JOSÉ. GRANDES ORACÓES 435/1998, p. 371
FAUS, JOSÉ IGNACIO GONZÁLEZ. A AUTORIDADE DA
VERDADE 439/1998, p. 573
JOURNET, CHARLES. DEUS ESPÍRITO SANTO 438/1998, p. 508
LEWIS, C.S. MERO CRISTIANISMO 428/1998. p. 28
MAILER, NORMA. O EVANGELHO SEGUNDO O FILHO 436/1998, p. 416
MARIA-JESUS, PEDRO DE. MENSAGEM DA "MISERICORDIA
INFINITA" 435/1998, p. 384
MARTIN-PRÉVEL, MICHEL REFAZER A VIDA? CARTA
ABERTA A UMA DIVORCIADA 436/1998, p. 410
PAGELS. ELAINE. ADÁO, EVA E A SERPENTE 428/1998, p. 45

585
58 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

PAGNONCELLI, MARÍA LUCIA DE CARVALHO. ENCONTROS


DE CATEQUESE - CRISMA 432/1998, p. 223
PAIVA, MARÍA DE PIEDADE MEDEIROS. CASAMENTO, PRA
QUE TE QUERO? 428/1998, p. 39
PASSOS, ANTONIO CARLOS DE MORAES E ISABEL
CRISTINA LABATE MARCONDES. HIPNOSE .... 437/1998, p. 469
SILBERSTEIN, AUGUSTO E PAULO MARCOS BRANCHER.
PERGUNTE AO PAPA, 50 PERGUNTAS A
JOÁO PAULO II 429/1998, p. 80
TANNUS, ROBERTO ANDRADE. O ESPIRITISMO E A
DOUTRINA CRISTA 437/1998, p. 456
VALDÉS, ARIEL ÁLVAREZ. QUE SABEMOS SOBRE A BÍBLIA? 429/1998, p. 73
VARIOS AUTORES. GUIA LITERARIO DA BÍBLIA 437/1998, p. 438
JESÚS 431/1998, p. 187

AOS AMIGOS

CARO(A) LEITOR(A), JÁ QUE SE APROXIMA O NATAL, POR QUE


NAO PENSAR EM OFERECER A SEUS AMIGOS UMA ASSINATURA DE
PR, QUE TORNE VOCÉ PRESENTE A CADA UM(A) DELE(A)S TODOS
OS MESES DE 1999? A NOSSA REVISTA PRETENDE SER UM INFOR
MATIVO QUE AJUDE A PONDERAR OS PROBLEMAS DE NOSSOS
DÍAS. TODOS PRECISAMOS DE PENSAR PARA MAIS AMAR O NOSSO
IDEAL.

VOCÉ TAMBÉM TEM A SUA DISPOSICÁO DEZESSEIS CURSOS


POR CORRESPONDENCIA, QUE LHE PERMITIRÁO CONSOLIDAR A
SUA FE, TAO SOLICITADA POR PROPOSTAS RELIGIOSAS HETERO
GÉNEAS, E AJUDAR SEUS AMIGOS A DESCOBRIR A VERDADE. O
MAIS RECENTE DESSES CURSOS É O DE DEUS EM SUA UNIDADE E
TRINDADE. EIS OS DEMAIS: INICIACÁO BÍBLICA, INICIACÁO TEOLÓ
GICA, TEOLOGÍA MORAL, HISTORIA DA IGREJA, LITURGIA, DIÁLO
GO ECUMÉNICO, OCULTISMO, PARÁBOLAS E PÁGINAS DIFÍCEIS DO
EVANGELHO, DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA, ESCATOLOGIA, FILO
SOFÍA, CRISTOLOGIA, MARIOLOGIA, ECLESIOLOGIA, ANTROPOLO
GÍA TEOLÓGICA.
ALÉM DO MAIS, VINTE OPÚSCULOS QUE ABORDAM OS NO-
VOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS E A FIGURA DE JESÚS CRISTO.
PEDIDOS A ESCOLA "MATER ECCLESIAE", CAIXA POSTAL 1362,
20001-970 RIO (RJ). TELEFAX: (021) 242-4552.

CONHECA MELHOR A SUA PROFISSÁO DE FÉ. NINGUÉM AMA


O QUE NAO CONHECE. MAIS AMAMOS AQUILO QUE MELHOR CO-
NHECEMOS.

586
ÍNDICE GERAL DE 1998 59

AO LEITOR E COLABORADOR

AMIGO, SE ESTA REVISTA LHE FOI ÚTIL, QUEIRA DIFUNDI-LA.


LEMBRE-SE DE QUE MUITOS SEMELHANTES SOFREM DE PROBLE
MAS QUE ELES NEM SABEM EQUACIONAR POR FALTA DE DADOS
BÁSICOS. PR DESEJA OFERECER MATERIA PARA REFLEXÁO.
QUEM OBTIVER TRES ASSINATURAS NOVAS.TERÁ DIREITO A
QUARTA ASSINATURA GRATUITA. QUEIRA, POIS, DESTACAR ESTA
FOLHA E ENVIÁ-LA A PR, CAIXA POSTAL 2666, 20001-970 - RIO DE
JANEIRO (RJ), DEVIDAMENTE PREENCHIDA, COM O NUMERARIO
DAS ASSINATURAS.

ASSINATURAS NOVAS

1) Nome:

Enderezo completo:

2) Nome:

Endereco completo:

3) Nome:

Endereco completo:

ASSINATURA DE CORTESÍA

Nome:

Endereco completo:

Doador:

587
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 439/1998

NO PRÓXIMO NATAL
E NO DECORRER DO ANO VINDOURO,
TORNE-SE PRÉSENTE AOS SEUS AMIGOS
DANDO-LHES O PRESENTE DE UMA ASSINATURA DE PR.
É AJUDANDO OS OUTROS A DESCOBRIR
A BOA-NOVA DE JESÚS CRISTO

QUE SOMOS MAIS E MAIS PENETRADOS


POR ESSA BOA-NOVA.

SANTO NATAL E FELIZ 1999,

CHEIO DE GRACAS E BÉNCÁOS


EM PREPARACÁO DO TERCEIRO MILENIO,
É O QUE DE CORACÁO DESEJA
A TODOS OS AMIGOS

A DIRECÁO DE PR

588
Ediles "Lumen Christi"

Báf3 AB EXCELSIS é um CD de música sacra interpretada por D. Félix Ferrá, osb,


contendo arranjos instrumentáis de quatorze composicoes de Palestrina e Lassus, os
dois maiores músicos católicos de todos os tempos «512,00.
- O MOSTEIRO DE SAO BENTO DO RIO DE JANEIRO EM VÍDEO R$ 30,00.
Urna visita á igreia do Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro, guiada por Dom Marcos
Barbosa, OSB ao som dos sinos, do órgáo e das vozes de seus monges em canto

Quatrocentos anos de trabalho e louvor em 20 minutos, frutos da paz e paciencia beneditina.


Roteiro e locucáo: Dom Marcos Barbosa, OSB.
Producáo: Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro ^^

ALGUNS LIVROS DE DOM ESTÉVÁO, DISPONÍVEIS EM NOSSA LIVRARIA:


- CRENCAS RELIGIÓES & SEITAS: QUEM SAO? Um livro indispensável para a familia
católica (Coletánea de artigos publicados na revista "O Mensageiro de Santo Antonio )
2a edicáo. 165 págs. 1997 R5 7)ÜU-
- CATÓLICOS PERGUNTAM. Coletánea de artigos publicados na secio de cartas da
revista "O Mensageiro de Santo Antonio". 1997. 165 págs ■. RS 7,00.
- PÁGINAS DIFÍCEIS DO EVANGELHO. (O livro oferece-nos um subsidio seguro para
esclarecer as dúvidas mais freqüentes que se levantam ao leitor de boa vontade, trazen-
do-nos criterios claros e levando-nos a compreender que todas as palavras de Cristo sao
de aplicacáo perene e universal), 2a edicáo. 1993, 47 págs RS 5,00.
- DIÁLOGO ECUMÉNICO, TEMAS CONTROVERTIDOS. Seu autor, D. Estéváo
Bettencourt, considera os principáis pontos da clássica controversia entrecatohcos_e
protestantes, procurando mostrar que a discussáo no plano teológico perdeu muito de
sua razio de ser, pois, nao raro, versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou
proposicóes. 3a edi?áo. 1989, 380 págs K* ™>w-
Pedidos pelo Reembolso Postal ou pagamento conforme 2a capa.

AOS AMIGOS

CAROfM LEITOR(A) JÁ QUE SE APROXIMA O NATAL, POR QUE NAO PENSAR EM OFE-
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Pergunte e Responderemos ano 1997:


Encadernado em percalina, 590 págs. com índice
(Número limitado de exemplares) R$ 50,00.
N O V I D A D E
Dom BENTO SILVA SANTOS, O.S.B.
A imortalidade da alma no "Fédon" de Platáo. Porto Alegre,
EDIPUCRS (em preparacáo).
Trata-se de um estudo sobre a dimensáo místico-ascética de Platáo, isto é, acerca
da conviccáo da existencia de uma vida para além da morte. "Na morte de Sócrates
homem justo, Platáo deixa entrever ao leitor um lampejo de imortalidade e simultanea-
mente a sua concepcáo radical da filosofía como 'exercício de morte' (...) Mesmo que
seja afirmada através de raciocinios inseguros e limitados, a imortalidade da alma tra-
duz na obra de Platáo uma ansia profunda de busca de explicacóes acerca do problema
existencial humano de todos os tempos: com a morte termina tudo ou há uma vida para
além da dissolucáo do corno?" (Conclusáo do livro).
Outros livros de Dom Bento Silva Santos, O.S.B.:
; ;jpéP!f>9lfá<tó Evangelhode $áó Joño: Aparecida (¿P), Éd, Sárttuárió;-Í994,;
"Devo parabenizá-lo pelo éxito neste emprendimento. Estou certo de que sua teolo
gía joanina será um instrumento multo útilpara o estudo de Sao Joáo tanto nos semina
rios e cursos superiores de teología quanto em cursos de teología para leigos" (Padre
JaldemirVitório, S. J., Carta, 3.07.1995).
"Os escritos de Dom Bento demonstram uma ampia e bem organizada leitura das
obras importantes para os estudos que vem fazendo. A questáo que o presente volume
estuda é o da relacáo entre fé e sacramentos. 'A salvacáo provém de uma confianca
subjetiva (sola fides) ou de uma mediacáo sacramental?1" (Padre Paschoal Ranqel
S.D.U., Atualizagáo 256 [1995] 382). '
"Este hvro dá continuidade a duas obras precedentes do autor, que versam sobre os
escritos joaninos, adotando sempre a mesma metódica: explanar o sentido religioso ou
teológico do texto sagrado... explanacáo esta que deve ser o ponto de partida da exegese
católica. Exorta o Concilio Vaticano II: 'A Sagrada Escritura há de serlida e interpretada
segundo aquele mesmo Espirito por quem foi escrita'(Const Dei Verbum, ne 12)" (Dom
Estéváo Bettencourt, O.S.B., Apresentagáo da obra).
Pedidos pelo Reembolso Postal ou pagamento conforme 2a capa.

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