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Em todas as células ocorre continuamente a hidrólise do ATP (formando ADP

Glicólise e desidrogénase do piruvato + Pi) a uma velocidade tal que, mesmo em repouso, todo o “stock” de ATP se
esgotaria em menos de 3 min.

ADP
O2 nutrientes +
Pi

Na+
Ca2+

ATP
CO2 + H2O
Apesar disto a concentração de ATP mantém-se “estacionária” porque na esmagadora
maioria das situações as velocidades de síntese e de hidrólise do ATP são iguais.
Rui Fontes, Outubro de 2008
Nos seres vivos os nutrientes são oxidados pelo O2 (catabolismo) gerando a energia
necessária para a síntese de ATP (a partir de ADP + Pi).

As enzimas da glicólise Alguns aspectos relevantes da glicólise:


GLUT são, no seu conjunto, “a
máquina” que permite a 1- Todas as enzimas da glicólise se situam no
glicose acoplagem dos processos citoplasma das células.
de conversão de glicose em
piruvato ou lactato 2- A aldólase é a enzima que catalisa a cisão
(exergónico) com o de (lise) da molécula de frutose 1,6-bisfosfato (6C)
formação de ATP em gliceraldeído 3-P (3C) e dihidroxiacetona-P
(3C).
(endergónico).
3- A transformação da dihidroxiacetona-P
glicose (C6H12O6) em gliceraldeído 3-P e a posterior
2 ADP + 2 Pi transformação deste composto em
2 NAD+ piruvato (3C) permite compreender que
uma molécula de glicose (6C) dê
∆G>0 ∆G<<0 origem a duas de piruvato (2 * 3C).

2 ATP 2 NADH

2 ác. pirúvico (C3H4O3)


4- Antes da lise da frutose 1,6-bisfosfato duas moléculas 6- Também já depois da lise da
de ATP servem como substratos dadores de fosfato em frutose-1,6-bisfosfato ocorrem
reacções de fosfotransferência (fisiologicamente reacções em que se forma ATP
irreversíveis) catalisadas pelas cínases da glicose e da por transferência do fosfato de
frutose 6-P. intermediários da glicólise para o
ADP.
5- Já depois da lise da frutose 1,6-bisfosfato ocorre
a redução do NAD+ (e consequente formação do
NADH) numa reacção em que, concomitantemente, “Fosforilações a
com a reacção de oxi-redução ocorre a adição de nível do substrato”
fosfato inorgânico (Pi): esta reacção é a catalisada
pela desidrogénase do gliceraldeído 3-P. glicose (C6H12O6)
2 ADP + 2 Pi
2 NAD+

∆G>0 ∆G<<0

2 ATP 2 NADH

2 ác. pirúvico (C3H4O3)

Os eritrócitos são as células mais simples do organismo. A maioria das células do organismo tem mitocôndrias.
Glicose Glicose Glicose

2 Gliceraldeído-3-P 2 Ac. láctico 2 Gliceraldeído-3-P O2


2 NAD+ 2 NAD+
Pi Pi
Cadeia
2 NADH 2 NADH respiratória
2 ADP + 2 Pi Se não houvesse desidrogénase do 2 ADP + 2 Pi
2 lactato o eritrócito não poderia 2
ATPases 1,3-BisP-glicerato 1,3-BisP-glicerato
manter a síntese de ATP porque
2 ATP todo o NAD+ seria reduzido a NADH 2 ATP
em cerca de 60 segundos. 2 Ac. pirúvico CO2 +
H2O

2 Ac. pirúvico 2 Ac. láctico 2 Ac. pirúvico

A glicose dos eritrócitos diz-se anaeróbia e pode ser resumida assim:


glicose (C6H12O6) → 2 ác. láctico (C3H6O3)

Na maioria das situações a glicólise é aeróbia e pode ser descrita assim:


O ácido láctico é um “fundo de saco metabólico”: a enzima que o forma é a mesma que,
noutros tecidos, permite a metabolização do ácido láctico. glicose (C6H12O6) + O2 + 2 ADP + 2 Pi → 2 ác. pirúvico (C3H4O3) + 2 ATP + 2 H2O
Em condições aeróbias o No miocárdio a glicólise é normalmente de tipo aeróbio...
piruvato entra (transporte
Glicose
mediado) para a mitocôndria e
converte-se em acetil-CoA por
acção da desidrogénase do
2 Gliceraldeído-3-P O2
piruvato que catalisa uma
NAD
2 + +
NAD
“oxidação descarboxilativa”. Pi
Fosforilação
1- A reacção catalisada pela 2 NADH
2 NADH oxidativa
desidrogénase do piruvato 2
é fisiologicamente irreversível (= ∆G sempre negativo). 1,3-BisP-glicerato

2- Dentro da mitocôndria o único mecanismo de re-oxidação do NADH formado na reacção é a


cadeia respiratória e, por isso, nos seres vivos a reacção em análise só ocorre em sistema
aeróbio.

3- A desidrogénase do piruvato é de facto um complexo multienzímico composto por 5 tipos 2 Ac. pirúvico 2 Ac. láctico
diferentes de proteínas organizadas em agregados visíveis por microscopia electrónica que se
O2
designam por: ...mas no coração isquémico o deficit de O2 faz com
(1) desidrogénase do piruvato, (2) transacetílase do dihidrolipoato e (3) desidrogénase do que a maior parte do piruvato e do NADH formados na
dihidrolipoato, glicólise sejam convertidos em lactato e NAD+ pela
...que são colectivamente responsáveis pela reacção... CO2 + H2O
desidrogénase láctica:
(4) cínase da desidrogénase do piruvato e
(5) fosfátase da desidrogénase do piruvato no coração isquémico uma grande parte da
...envolvidas na regulação da actividade do complexo. glicólise passa a ser anaeróbia.

A fermentação láctica (ou glicólise anaeróbia) tem um baixo rendimento em termos de


moles de ATP formadas (apenas 2) por mole de glicose oxidada mas foi conservada ao
longo da evolução...
...porque pode fazer a diferença entre a vida e a morte. No músculo esquelético a
glicólise anaeróbia é uma
importante A glicose anaeróbia pode ser
via metabólica quando há resumida:
necessidade de subir a um
poste fugindo de um leão. glicose (C6H12O6)

Ao contrário dos metabolismos 2 ác. láctico (C3H6O3)
aeróbios que dependem do
aporte de oxigénio e são
limitados por este

... a glicólise anaeróbia não


depende da disponibilidade de
oxigénio e pode aumentar de
velocidade até cerca de 1000 CH3CHOHCOOH CH3CHOHCOO- + H+
vezes a velocidade em pKa ≈ 4
repouso.
Durante a glicólise anaeróbia o citoplasma do músculo vai acidificar o que
...os 2 ATP/mol glicose podem impede a continuação da acção da ATPase da actina-miosina.
representar muitos ATPs/min.
As células funcionam como se houvesse uma lei deste tipo: Na glicólise as enzimas “marca passo” são a cínase da glicose, a cínase da
(1) “mantém a concentração de ATP estacionária; frutose-6-P e a cínase do piruvato. A cínase da frutose-6-P
(2) se a velocidade de hidrólise do ATP aumentar, aumenta a velocidade da Embora, em condições fisiológicas, o ATP não varie de é especialmente
sua síntese”. concentração o AMP e o ADP podem aumentar importante na
quando aumenta a velocidade de hidrólise do ATP. regulação da
No entanto, os velocidade da glicólise:
via
mecanismos que nos activação embora o ATP seja um
mamíferos permitem da AMPK substrato é também um
manter a célula (?) inibidor alostérico; o
informada acerca da
velocidade de hidrólise
↑ Esforço AMP e o ADP são
activadores.
de ATP são ainda mal muscular
conhecidos. O AMP aumenta na
célula sempre que ADP
aumenta porque
Ca2+ a cínase do adenilato
(que é uma enzima
muito activa) catalisa a
seguinte reacção: ADP
+ ADP ↔ ATP + AMP
A actividade da glicólise
aumenta
... quando há aumento
do consumo de ATP.

No fígado tem uma grande importância a glicemia e a A insulina promove o consumo de glicose também
concentração de insulina e glicagina. porque faz aumentar a concentração intra-hepática de
frutose-2,6-bisfosfato.

A glicose está alta após as


refeições e provoca a dissociação A insulina promove a conversão 2
do complexo glicocínase – A cínase 2 da frutose-6-P leva à
proteína nuclear inibidora da formação de frutose-2,6-bisfosfato que
glicocínase. estimula a glicólise (via activação da
cínase 1 da frutose-6-P).
Glicemia alta glicose
1 A secreção glicagina
Glicose-6-P 2
(células alfa do pâncreas)
+ frutose-6-P aumenta quando a glicemia
desce e a glicagina poupa
frutose-1,6-bisP glicose porque induz, no
Síntese de insulina nas +
fígado, a diminuição do
células beta dos ilhéus + fosfoenolpiruvato consumo de glicose.
pancreáticos
+
acetil-CoA piruvato
A insulina induz a expressão de genes (glicocínase, cínase 1 da frutose-6-P e cínase do A frutose-2,6-bisfosfato estimula a glicólise mas a glicagina (alta em jejum) estimula
piruvato) e reprime a expressão de outros genes (cínase da desidrogénase do piruvato) conversão 1 :a frutose-2,6-bisfosfátase baixa a concentração de frutose-2,6-bisfosfato
favorecendo a glicólise e a oxidação do piruvato... diminuindo o consumo de glicose.

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