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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(¡n memoristm)
APRESErvTTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
' visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofLindamente do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
j|_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
. dissipem e a vivencia católica se fortaleca
* no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
ANO XXXV

AGOSTO

1994

SUMARIO
<

"Creio na Igreja Santa..."


3
A "Inteligencia" dos animáis
en
UJ
O Fundamental ismo

Mais urna vez os Preservativos


(O
<
Casamento de Homossexuais?

OQ Violencia na Televisao

8
Q. Jérdme Lejeune e sua obra
PERGUNTE E RESPONDEREMOS AGOSTO 1994
Publicacao mensal N9 387

Diretor-Responsável
Estévao Bettencourt QSB SUMARIO
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico "Creio na Igreja Santa..." 337
Existe...?
Diretor-Administrador:
A "Inteligencia" dos animáis 338
0. Hildebrando P. Martins OSB
Que é
O Fundamentalismo? 353
Administracao e distrjbuicáo:
Edicoes "Lumen Christi" Resposta a VEJA:
Rúa Dom Gerardo, 40 — 5? andar — sala 501 Mais urna vez os Preservativos 361
Tel.: (021) 291-7122
Parlamento Europeu e Brasil:
Fax (021) 263-5679
Casamento de Homossexuais? 366

Endereco para correspondencia:


O Impacto sobre as Criancas.
Violencia na Televisáo 375
Ed. "Lumen Christi"
Caixa Postal 2666 Chamado á Casa do Pai:
Cep 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Jéróme Lejeune e sua obra 380
Impressao e Encaderna(3O

"MARQUESSARAIVA "
GRÁFICOS E EDITORES S.A.
Tels.: (021) 273-9498/273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO: ,
"Os Cinco Evangelhos" (Jesús Seminar). - A Ordenacao de Mulheres
(Joao Paulo II). - O Efeito "Placebo". - "Sexo como no Primeiro Mun
do". - "Um Jogo pela Vida". - Campanhas contra a AIDS na Contramao
(H. Begliomini). - Acompanhando um Jovem Aidético. — Na Albania que
renasce. — Movimento Sacerdotal Mariano.

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA - ANO: 94/95:


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-' A L

'CREIO NA IGREJA SANTA.. j

Esta pofissSo
profíssSo de fé dos Concilios de Nicéia I (325) e Constantino
Constantino"
pía I (381) ressoa até hoje entre os fiéis católicos... E sempre a propósito.
A Igreja é santa, porque, como diz o Apostólo, é o Corpo de Cristo
prolongado (cf. Cl 1,24); Cristo nela vive e garante a sua indefectibilidade
e santidade. Ela é também dita, sob outro aspecto, "a Esposa sem mancha
nem ruga, santa e ¡rrepreensivel" (Ef 5,27). É incessante a santidade da
■greja, porque é indissolúvel a sua uniao com Cristo.
EntSo como entender o pecado na Igreja?
Visto que prolonga o misterio da Encamacio, a Igreja é revestida de
humanidade. Ela consta também de seres humanos frágeis e limitados su-
jeitos a falhas, em demanda da plenitude da vida e da perfeicao. Daí di-
zer-se com razSo: "Igreja santa de homens pecadores" (Karl Rahner). Po
demos até afirmar que a Igreja n§o existe sem pecadores. Mas Ela nao tem
pecado. O pecado existe na Igreja, mas nao é da Igreja.
Com outras palavras: considerada segundo aquilo que a constituí pro-
priamente, a Igreja nao comete pecado, pois é constituida pelo misterio da
EncarnacSo prolongada. O pecado se encontra ñas criaturas humanas,...
criaturas ñas quais existem elementos da Igreja e elementos que nao sao da
Igreja; sim, em todo cristao fica algo de paga*o ou urna tendencia á infideli-
dade á sua vocacSo de membro do Corpo de Cristo. Conseqüentemente
deve-se dizer que as fronteiras da Igreja nao passam longe de nos, mas atra-
vessam o coracao de cada cristSo, na medida em que nele há algo que aín
da nao foi plenamente cristianizado. Somente a Virgem María realizou
adequadamente em sí a santidade da Igreja; por isto Ela é o tipo perfeito
ou a imagem definitiva da Igreja.
Aínda em outros termos: o sujeito do pecado ná*o pode ser a Igreja
pois todo pecado é sempre obra de urna pessoa física individual. Porseus
principios próprios e constitutivos, a Igreja é sem mancha. Quanto aos ho
mens que a Ela pertencem, deve-se dizer: na medida em que sao pecadores,
nSojsSo Igreja, mas estSo na Igreja. Os pecados estío fora do programa é
do ámago da Igreja; todavía os que cometem o pecado, est§o dentro da
Igreja. Jacques Maritain distinguía sabiamente entre a Pessoa da Igreja
(Corpo Místico de Cristo) e o pessoal da Igreja (que somos nos). Acrescen-
temos, porém: é a própria MSe Igreja quem tira do seu tesouro de vida o
remedio eficaz pare curar as feridas de seus filhos; Ela n3o precisa de re
correr a outra fonte senao ao próprio Senhor Jesús, que nela vive e conti
nua a sua a^So redentora. - S2o estas verdades que a Constituido Lumen
Gentium recorda em seu § 8:
"A Igreja é fortalecida pela forca do Senhor Ressuscitado,... para po
der revelar ao mundo o misterio dele, embora entre sombras, mas com f¡-
delídade, até que no fim dos tempos seja manifestado em plena luz".
Que o fiel católico, portanto, ame a Igreja, e a Ela se dedique genero
samente, pois "ná"o pode ter Oeus por Pai no céu quem nSo tem a Igreja
por Mae na térra" (S. Cipriano).
E.B.

337
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XXXV - N9 387 - Agosto de 1994

Existe... ?

A "INTELIGENCIA" DOS ANIMÁIS

Em sfntese: As pub/icacoes científicas falam freqüentemente de


"inteligencia dos animáis" — o que é ambiguo. Inteligencia é a faculdade
de conceber nocdes abstraías, universais, formular definicdes, falar (utili
zando diversos vocábulos para significar o mesmo conceito), progrédir em
cultura e civilizacao, distinguindo o essencial e o acidental... Ora os ani
máis infra-humanos nSo realizam tais coisas; sSo dotados, sim, de estimati
va, que os leva a avallar o que convém e o que nSo convém entre os obje
tos que os cercam; sao também dotados de instinto, que Ihes permite efe-
tuar seus abrigos (teias, galerías, ninhos...), captar a presa com precisSo,
cuidar dos filhotes com grande dedicacao, mas sSo cegos no exercfcio de
suas funcdes; nao sSo capazes de corrigir algum defeito ocorrente ou de
melhorar e progrédir. *

A mera observacao empírica, que nSo procura causas latentes dos fe


nómenos, pode igualar entre si fenómenos diversos, ao passo que a refle-
xSo filosófica ultrapassa a aparéncia visível dos fatos e descobre as diféren-
cas reais latentes, que caracterízam os fatos e os diferenciam entre si.

* * *

A revista Science et Vie. n. 919, de abril 1994, pp. 65-71, disserta so


bre a "inteligencia dos animáis", apresentando varios casos de comporta-
mentó dos animáis que parecem supor inteligencia. — O assunto é de gran
de importancia, pols a inteligencia ou o intelecto é urna faculdade da alma
espiritual. Por conseguirte, se os animáis tém inteligencia, tém alma espiri
tual e ¡mortal. Continuam a viver no além, após a morte física, é preciso,
pois, esclarecer, com a possível nitidez, o que é inteligencia exorno julgar
a conduta perspicaz e hábil dos animáis infra-humanos.

338
. A "INTELIGENCIA" DOS ANIMÁIS 3

Observamos que em PR 232/1979, pp. 135-150 já fo¡ estudada a


"linguagem dos animáis"; em PR 347/1991, pp. 155-160, o instinto dos
mesmos.

1. QUE É INTELIGENCIA?

1. Inteligencia ou intelecto é a faculdade (a capacidade) de intus-lege-


re, ler dentro, isto é, de perceber o essencial de cada ser, dist¡ngu¡hdo-o do
que Ihe é acidental. Assim, por exemplo, ao ver um homem, urna mulher,
uma pessoa magra, urna gorda, um anciSo, urna crianca..., o olhar registra
as diferencas que caracterizam esses objetos (diferencas de tamanho, de
cor da pele, do formato dos olhos, do nariz...), mas a inteligencia é capaz
de perceber a unidade íntima ou unidade da esséncia, que está latente nes-
ses seres: sao todos viventes... e viventes racionáis (tém a capacidade de ra
ciocinar). Ao provar agua do rio, agua do mar, agua da fonte mineral, agua
gasosa, agua sulfurosa, agua limpa, agua suja, uma pedra de gelo..., meu pa
ladar observará as diferencas de gosto, meus olhos observarao as diferencas
de cor, o tato sentirá também a diferenca entre o líquido e o sólido, mas a
inteligencia me dirá que todos esses objetos tém a mesma esséncia ou a
mesma realidade íntima; sSo H2O.

2. A inteligencia, que abstrai das notas concretas para perceber o que


está intus (dentro) ou o essencial, é, por isto, capaz de formular definieses
ou conceitos abstratos, universais; assim o conceito de flor compreende ro
sa, cravo, violeta, margarida...; ná"o existe flor abstraía senao em mlnha
mente; mas o conceito de flor corresponde a diversas realidades concretas,
das quais a inteligencia o abstrai, concebendo o essencial de toda flor e
formulando uma definicao que compreende qualquer tipo de flor.

3. Por isto também a inteligencia é capaz de levar o homem a progre-


dir em seus artefatos e em sua civilizacSo; o homem que se abrigava ñas
cavernas, viu que o essencial da caverna nSo era a rocha nem a escuridSo,
nem o frío; era, sim, o abrigo e a defesa que a caverna Ihe proporcionava;
por isto o homem pós-se a procurar algo que Ihe propiciasse abrigo e defe
sa em melhores condicoes, passando para casebres, choupanas, casas de ti-
jolos, até chegar aos arranha-céus modernos. É a percepcao do essencial,
em oposicSo ao acidental, que permite ao homem progredir na sua civi-
lizacáo.

4. Mais: a linguagem é outra expressSo da inteligencia. Os conceitos


que estío no intelecto, podem ser exteriorizados mediante sons convenció-
nais, dispostos em ordem lógica (sujeito, verbo, objeto direto, objeto indi-
reto...); o homem que fala, pode nSo somonte escolher os sons que queira,
mas pode também trocar esses sons sem alterar os conceitos, ou seja, pode

339
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

dizer a mesma coisa em outras h'nguas mediante traducoes; estas, aos ouvi-
dos, soam muito diversamente, mas a inteligencia as aceita como exteriori-
zacoes fiéis dos mesmos conceitos da inteligencia do brasileiro, do inglés,
do japonés, do africano...

Visto que a inteligencia é capaz de abstrair do concreto material, diz-


se que ela nao é material; é uma faculdade espiritual, própria da alma hu
mana espiritual. Por conseguinte, o vívente que consiga conceber nocSes
abstratas, rever suas atividades, a fim de as aperfeicoar,... consiga falar em
linguagem concatenada, traduzindo seus vocábulos para diversas h'nguas, é
indivi'duo intelectivo; tem alma intelectiva, que, por seu modo de agir, re
vela nao estar limitada ao material, concreto, mas ser de ordem espiritual.

Vejamos agora algumas das expressSes dos animáis ¡nfra-humanos


que, segundo a revista Science et Vie, sao indicios de inteligencia.

2. O COMPORTAMIENTO DOS ANIMÁIS

A primatologia tem progredido sempre mais, especialmente a partir


da década de 1970, esmerando-se em observar meticulosamente a conduta
dos animáis (primatas) ¡nfra-humanos. Em conseqüéncia, os pesquisad ores
em nossos dias apontam casos atentamente acompanhados, que Ihes pare-
cem sintomáticos da "inteligencia" animal. Entre outros, sejam menciona
dos os seguintes:

Um bando de macacos babuinos hamadryas é surpreendido por uma


chuva torrencial, que durante a noite cai sobre o seu lugar de pouso. Os
macacos, mol hados, tiritam de frío. Tém que mudar de lugar. Dirigem-se
entao para um local onde tinham estado no dia anterior. Um deles, porém,
mais velho, toma a direcao oposta, após ter-se copado muito (sinal de con
futo jnteripr). Os outros machos (que ge ral mente lideram os deslocamen-
tos) sentam-se e também se cocam; finalmente seguem o mais velho. — A
decisSo foi sabia, porque, na direcSo que o grupo ja seguir, havia um córre-
go dágua transbordante que teria dificultado a passagem do bando. Julga o
articulista de Science et Vie: "Nessas tomadas de decisao de tais macacos,
há todas as aparéncias de um debate democrático" (p. 66).

Eis outro exemplo: um chimpanzé verifica que certos ramos de uma


árvore que Ihe fornece alimento, Ihe sSo inacessi'veis. Que faz? — Senta-se
e examina a árvore por muito tempo. Depois vai buscar um tronco e ergue-
o em direccSo oblíqua contra a árvore do lado em que se encontra o ali
mento. Feito ¡sto, precipita-se pela rampa assim improvisada, e atinge fi
nalmente os ramos que ele deseja! Cf. art. cit. p. 67.

Os animáis seriam capazes de elaborar uma estrategia psicológica. Tal


seria o caso do pássaro-fémea, que, perseguido por um predador, finge es-

340
A "INTELIGENCIA" DOS ANIMÁIS

tar ferido para desviar a atencio do mesmo e assim salvar a sua ninhada
(art. cit. p. 68). Conta-se também a historia de umchimpanzé que esperou
a noite, quando seus companheiros estavam adormecidos, para ir desenter
rar sua presa captada durante o día, a fim de a devorar sem ter que a repar
tir; ver art. cit. p. 68.

A arquitetura dos animáis também chama a atencao: a teia de urna


aranha, as galerías das formigas, o favo de mel das abelhas, as digas dos cas
tores... O labro (peixe) constrói um poco para morar, servindo-se de pe-
dras e conchas; a larva da cigarra torna-se impermeável á agua e aos fatores
que a ameacam, soprando ar dentro de um líquido viscoso que ela produz,
e dentro do qual ela se envolve.

3. QUEDIZER?

Os fenómenos apontados nao sSo necesariamente indicios de inteli


gencia dos animáis. Explicam-se pelo uso das facuidades sensitivas desses
viventes; tais faculdades neles sao agudas e perspicazes por generosidade
da natureza ou do Criador, que os quis dotar dos recursos aptos a sobrevi-
ver em meio ás ameacas do ambiente. Os animáis infra-humanos, portan-
to, ficam no plano da vida sensitiva, nao chegando á intelectiva, pois nao
concebem nocSes abstratas, universais, nem linguagem. Para exprimir tais
conceitos, n3o formulam principios e leis gerais, ná*o progridem na sua cul
tura ou "civil izagao".

Aprofundemos estas afirmacoes.

3.1. Memoria e aprendizagem

Os animáis gozam de conhecimento sensitivo e de afetos ou emocoes:


véem, ouvem, gemem, choram, alegram-se...

A essas faculdades acrescenta-se a capacidade de reter ou a memoria.


Com efeito; os animáis reconhecem seu dono, por exemplo; isto quer di-
zer que guardam as imagens percebidas no passado e identificam com elas
imagens que eles véem no presente, é o que acontece com o cao, com o
elefante...: reconhecem pessoas que os acompanham de perto.

Ora quem tem a capacidade de reter ou guardar na memoria, tem


também a capacidade de aprender, pois o reter na memoria na*o é senSo
urna forma de aprendizado. Os animáis aprendem, embora em proporcdes
mais reduzidas que o homem. Assim o Prof. Swift, da Washington Univer-
sity, acompanhou um animal e um homem dados á aprendizagem e notou
grande semelnanea entre um e outro. Concretamente: Swift observou os

341
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

erros e os progressos que um cao esfomeado faz para sair de um labirinto,


e um datilógrafo que aprende a escrever á máquina; esta observacSo Ihe
permitiu tracar duas curvas que de perto correspondiam urna á outra.

De resto, há cinco modos de aprender: 1) por imitacSo instintiva;


2) por associacSo casual; 3) por domesticarlo; 4) por raciocinio e 5) por
¡nstrucao intelectual. — Ora os animáis infra-humanos podem aprender se
gundo os tres primeiros modos. Com efeito,

— por imitacao instintiva. O animal aprende quando espontánea ou


instintivamente é levado a reproduzir as ac5es dos outros, como fazem os
papagaios e os macacos; daí os termos "papagaiada" e "macaquear";

— por associacao casual. O animal aprende quando encontra imprevis


tamente algo de útil ou agradável, e reproduz esse algo associando a ¡ma-
gem de tal coisa e a ¡magem da acao que a causou. É assim, por exemplo,
que os cSes e outros animáis aprendem a fazer girar o batente das portas
e a manipular os botSes automáticos de suas gaiolas... Nao se trata ai de
raciocinio, mas, sim, do efeito de um fato imprevisto e de urna associacao
de imagens. Mais precisamente: o animal encerrado numa gaiola se enfure
ce por estar preso, e se movimenta desordenadamente até o momento
em que empurra por acaso o batente da porta ou toca um botSo automá
tico. A imaginacao do animal é entao impressionada pelo éxito obtido e
associa automáticamente as duas imagens: a de empurrar o batente ou
acionar o botao e a de abrir-se a porta e obter um efeito imprevisto. A
capacidade de conservar na memoria tais imagens faz que o animal possa
repetir a operacao todas as vezes que ele queira obter o efeito descoberto
por acaso. Gomo se vé, nao há raciocinio, mas fatos casuais e memoria as-
sociativa; é assim que os animáis domésticos conseguem aprender muitas
facanhas que surpreendem os observadores;

-* por domesticacao. 0 animal aprende quando a associacao de idéias


é provocada pelo homem segundo um planejamento de aprendizado espe
cial. Muitas vezes o domesticador faz que o animal associe em sua memo
ria um determinado comportamento e um premio correspondente. Assim
procedendo, os operadores podem ensinar aos animáis {cSes, cávalos, ma
cacos...) acoes complexas e dif icéis, que slo exibidas nos circos.

Quanto ao aprendizado por raciocinio ou por instrucSo, é exclusivo


do homem, porque supoe a inteligencia, que o animal n3o possui.

22. A Estimativa e o Instinto

Em todo animal infra-humano (e também no homem), há urna facul-


dade do plano sensitivo que se chama "estimativa" ou "senso apreciativo".

-M9
A "INTELIGENCIA" DOS ANIMÁIS

Pela estimativa ou pelo senso apreciativo o animal percebe as coisas


concretas que o cercam na medida em que Ihe slo úteis ou nocivas, ou se-
ja, do ponto de vista prático. Percebendo-as, o animal toma as atitudes
correspondentes de procura ou de fuga, de defesa ou de ataque...

A essa estimativa está associado o instinto ou know-how natural (o


instinto que sabe como fazer). O instinto é o conjunto das tendencias na-
turais que derivam das necessidades fundamentáis ou primarias do ser vivo.
Em virtude dessas necessidades, o animal é levado a exercer todos os atos
condizentes com a sua conservacao individual ou da especie. Essas tenden
cias naturais se identificam com a natureza do ser vivo, sensível, e se defi-
nem por ela.

O know-how (saber como...) do animal é maravilhoso, surpreendendo


o observador por sua precisSo, mas ná*o supde raciocinio ou inteligencia,
pois é um saber mecánico (certeiro, mas cegó), a tal ponto que o animal é
incapaz de corrigir algum erro ou desviar algum contratempo que ocorra no
exercício das suas funcBes instintivas. O instinto é limitado a certas fun-
c8es: quando nSo as pode exercer, porque, de algum modo, mutilado, o
animal nSo procura um procedimento substitutivo ou outra maneira de
atingir sua meta. Assim, por exemplo, a abelha deposita o polen em seu
favo...; todavía, se um operador faz um buraco no fundo do vaso provo
cando a evasSo do polen, a abelha verifica o ocorrido, entra dentro do favo
para o inspeccionar (véem-se as suas antenas passando pelo buraco do fun
do), mas nSo remedia nem corrige o desastre; continua o seu trabalho.

A finalidade em mira é o bem do individuo, quando este caca a sua


presa, ou o da especie quando se trata de alimentar os filhotes.

Leve-se em conta o proceder de certos insetos himenópteros carnívo


ros: procuram assegurar a subsistencia da prole, antes que esta nasca: em
vista disto, assaltam um grilo, urna borboleta ou urna aranha, que o hime-
nóptero assaltante leva para seu ninho a fim de por seus ovos no ventre do
mesmo. Surge, porém, um problema: é preciso que a presa nSo seja capta
da morta, pois, urna vez morta, entraría em decomposicao e na*o serviría
mais de nutrimento aos filhotes; doutro lado, é preciso que n3o seja intro-
duzida simptesmente viva no ninho, pois um golpe de suas patas, debaten-
do-se, poderia matar o embriSo no ovo ou a larva recém-nascida.

O problema, porém, resolve-se de modo estupendo. Esses himenóp


teros possuem um ferrSo na extremidade do abdomen, com o qual desfe-
rem um ou mais .golpes nos centros nervosos motores da vftima, imobili-
zando-a por completo; a morte só após longo intervalo decorre desse feri-
mento. Ora, para atingir tais centros nervosos, requer-se minucioso conhe-

343
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

cimento de anatomía e precisSo extraordinaria no golpear, pois as vftimas


sSo "encourapadas", de modo que o ferrSo do agressor só pode penetrar
através de pontos debéis correspondentes ás articulacoes dos segmentos
do tórax e do abdomen. O mesmo agressor deve outrossim saber (ou agir
como se soubesse) que, assim ferindo, ele imobiliza a vftima sem a matar.
Isto tudo quer dizer:... deve ter a competencia que somente alguns estu
diosos especialistas possuem. - Esta qualidade se torna particularmente
notoria se se considera que, conforme experiencias efetuadas por Fabre, a
atividade dos referidos himenópteros é de todo inconsciente.

Esse "saber-fazer" também é inato, nao adquirido; desencadeia-se


sem aprendizagem e sem experiencia previa, com toda a perfeicao1. A pro-
pria natureza torna ¡mpossfvel a aprendizagem, como no caso de insetos
(borboletas, besouros...) que vivem apenas urna estacSo. O saber instintivo
é, ao mesmo tempo, muito competente, mas também muito limitado,co
mo dito atrás; o animal nao sabe por que procede deste ou daquele modo;
por isto também nSo sabe corrigir as falhas que ocorram na sua atividade2.
Em conseqüéncia, nao se pode atribuir inteligencia ao animal. Atribu ¡-se,
antes, ao animal urna estrutura psicológica adequada, que varia de especie
para especie de acordó com a finalidade a atingir.

Notamos aínda que o instinto dos irracionais é uniforme e estável. Is


to quer dizer que é realmente admirável e certeiro, mas incapaz de progre-
dir; já Aristóteles (t 322 a.C.) descrevia o procedimiento das abelhas tal co
mo ele hoje ocorre.3 Cada animal age de modo excelente dentro da sua
modalidade, mas, fora desta, é ignorante e inepto. É importante notar isto,
quando se trata de "ensinar" aos animáis; os respectivos instintos podem
ser aprimorados, principalmente nos animáis superiores, mas o domestica-
dor tem que se ater estritamente á lógica e ao sentido do instinto; sempre
que o aperfeicoamento sai desta área (aínda que isto nos pareca muito sim-

1 Por exemp/o, o patinho, chocado por urna galinha, procura ¡mediata


mente a agua e nada, apesar dos chamados da ave-mae espantada. O esqui
lo faz a previsSo de nozes para o prímeiro invernó de sua vida (que ele nSo
conhece de modo nenhum),como ele a fara para os invernos subseqüentes.

2 Caso se substitua o casulo de urna aranha por urna bolinha de cortica,


a aranha arrasta e defende esse e/emento heterogéneo, como se fosse
o anterior.

3 Cada especie de aranha rece o mesmo tipo de teta; cada especie de ave
construí o mesmo tipo de ninho, de sorte que com facilidade se depre-
ende, pela análise do ninho, qual o pássaro que o arquitetou. '

344
A "INTELIGÉNC|A" DOS ANIMÁIS

pies), o animal se desinteressa, porque n3o alcanca o que se I he quer trans


mitir.

Procuremos desenvolver estas breves nocoes de instinto, analisando


mais alguns exemplos fomecidos pela Psicología Experimental, a fim de
distinguir nítidamente instinto e inteligencia.

3.3. Dependencia e independencia de circunstancias particulares

No animal irracional, a atividade dos sentidos influi de maneira pode


rosa sobre o respectivo ritmo de vida; o animal dirige a sua conduta em es-
treita dependencia das informacSes que os órgaos dos sentidos, "aquí e
agora", Ihe comunicam: os irracionais cujos sentidos tenham sido mutila
dos, experímentam notável diminuicáo de sua vitalidade, chegando por ve-
zes a morrer sem demora. O mesmo n3o se dá com o homem; este parece
ter, além dos sentidos e dos instintos que a estes estao associados, um prin
cipio de ativídade que transcende sentidos e instintos. Em outros termos:
o homem caracteriza os objetos de seu conheci mentó, de modo a reconhe-
cé-los em qualquer situacao, independentemente do quadro em que os
conheceu pela primeira vez. É o que as seguintes observacSes ¡lustram:

Urna galinha que esteja a chocar cuidadosamente os ovos, caso venha


a quebrar um deles, come tranquilamente o seu conteúdo como se nao fo-
ra o objeto que ela anteriormente tanto acalentava.

0 naturalista Volkelt refere que urna especie de aranha, a "Zilla",


além de construir a sua teia, fabrica também um ninho no qual ela se ocul
ta; logo que vé um inseto capturado pela teia, precipita-se sobre ele. Caso,
porém, o mesmo inseto Ihe seja oferecido dentro do próprio ninho, taí
aranha foge, como se nao o reconhecesse.

Bierens de Hann narra que os pólipos se mostram geralmente muito


atentos e rápidos na caca de pequeños caranguejos; desde, porém, que tais
animaizinhos Ihes ocorram atados a um fio, fogem assustados.

Desses fatos parece poder-se concluir que, para a galinha, urna coisa é
o ovo inteiro visto no conjunto dos demais ovos a ser chocados; outra coi
sa é o ovo quebrado. Para a aranha, urna coisa é a mosca na teia; outra coi
sa é a mosca no ninho. Para o pólipo, urna coisa é o caranguejo que cami-
nha livremente; outra coisa, o caranguejo que aparece nagua pendurado a
um fio. Dir-se-á que o animal irracional contempla cada quadro ¡solada-
mente, nfio chegando a relacionar urnas com as outras as situacSes em que
se acha.

345
15 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

No ser humano, ao contrario, embora o uso dos sentidos seja de gran


de valor, a ausencia de um ou mais destes nSo impede intensa atividade
psíquica. Fo¡ o que se deu, por exemplo, com Helena Keller, a qual, cega,
surda e muda, alcancou elevado grau de cultura, chegando a redigir obras
de filosofía. Outras pessoas, mutiladas em sua vida sensitiva, puderam, nao
obstante, aprimorar sua formacSo intelectual. - Nótese outrossim: o ho-
mem pode dizer "o ovo, a mosca, o caranguejo", sem se referir a determi
nado ovo, a determinada mosca ou a determinado caranguejo... A verifica-
gao destes fatos permite concluir, como já o fizemos, que a atividade psí
quica do homem emerge ácima dos sentidos e dos objetos sensíveis que o
cercam.

3.4. Domesticacao do animal e educacao da crianca

Há certos animáis domesticados que parecem tSo espertes ou "inteli


gentes" quanto um ser humano. Tal é o caso, por exemplo, dos macaqui-
nhos de circo, que executam exercicios em trapézio, montam a cávalo, an-
dam de bicicleta, tocam acordeSo, fumam cigarro, comem á mesa com fi-
dalguia, etc. Dir-se-ia que entre esses animáis e um homem educado há
mais afinidade do que entre um indio das selvas e um cidadSo do séc. XX.

Observando de mais perto, porém, o estudioso verifica que, aquilo


que o macaco executa de estupendo, ele o faz únicamente para imitar o
comportamento do homem, sem perceber o significado intrínseco de seus
atos (nao foi em vio que os antigos deram ao macaco o nome de "simius",
isto é, simulador ou imitador). Em outros termos: a conduta do macaco
se deve a mera associacao de imagens e impressoes; ele aprende cegamente
(isto é, sem saber por qué) a realizar tal gesto ou a efetuar tais e tais acdes
desde que seja impressionado por tal estímulo.1 Com efeito, o animal que
aprendeu alguma "arte", nunca evoluiu nem se aperfeicoa na execucao da
mesma; jamáis chega ao limite máximo de suas possibilidades; ele apenas
tolera a arte que Ihe ensinaram, sem perceber a finalidade da mesma. Des
de que se veja emancipado do seu domesticador, liberta-se dos costumes
que aprendeu, ou emprega despropositadamente os instrumentos qué ele
antes parecía manejar com sabedoria.

Assim um macaco pode aprender a comer com a colher; desde, po


rém, que o homem o deixe entregue a sí mesmó, tal animal usará da colher
para brincar ou para qualquer outra atividade, n3o, porém, para comer. O
macaco que toca acordeSo, assim que o pode, serve-se deste instrumento

1 Vejase o que ás pp. 341s deste fascículo foi dito sobre memoria e
aprendizagem.

346
A "INTELIGENCIA" DOS ANIMÁIS _n

como se fora um trampolim, um projétil ou um bastao para atingir deter


minada fruta. 0 simio que veste trajes humanos, nSo consegue deixar de
comer seus próprios excrementos, apesar dos muitos castigos que Ihe sao
infligidos.

Estes dados mais urna vez mostram que o irracional nao possui a ca-
pacidade de apreender proporcoes ou de perceber as relacSes vigentes en
tre meio e fim ou entre causa e efeito.

A crianca, ao contrario, após aprender a manejar determinado instru


mento, tende a perscrutar as leis do seu funcionamento, chegando a des
montar tal objeto, a fim de se tornar consciente das causas dos respectivos
efeitos. Se possível, a criatura humana, tendo percebido as relacoes que
existem entre as diversas partes do instrumento, ainda procura aperfeicoar
a este, tomando-o mais adaptado á sua finalidade.

Em outros termos dir-se-á: o irracional vive exclusivamente no pre


sente; utiliza, sim, conhecimentos adquiridos no passado, mas apenas na
medida em que beneficiam a situac3o presente; nao possui a capacidade de
se emancipar das circunstancias atuais para conceber de algum modo tam-
bém o futuro; é isto que comunica á conduta do animal a índole prática
e realista que por vezes suscita a nossa admiracao. — O homem, ao invés,
tende a abarcar os acontecimentos passados e presentes numa só visao dé
conjunto, na qual o futuro já é previsto e contemplado; ao desenrolar su-
cessivo dos acontecimentos o homem costuma dar urna interpretacao, pro
curando os fios condutores ou as linhas-mestras da historia; e é por essa
interpretacao ou por essa "filosofía" que a pessoa humana costuma, antes
do mais, guiar a sua conduta; a situacao concreta de determinado momen
to nao toma entao senao valor secundario.

3.5. Instrumentos de trabalho

"Instrumento de trabalho" vem a ser um objeto preparado para a exe-


cuelo fiel de certa tarefa; deve adequadamente corresponder as exigencias
dessa tarefa; todo instrumento traz em si a marca do emprego que Ihe
compete. Assim o balde é fabricado para carregar agua; toda a sua confi-
guracSo exprime tal finalidade; o balde pode também ser utilizado como
instrumento de defesa ou de ataque; contudo este emprego é evidentemen
te alheio á idéia que inspirou a fabricacSo do balde.

Ora observa-se que o macaco se pode servir de um bastao para atingir


determinado objeto, chegando por vezes a modificar o pau para o utilizar.
Tal uso, porém, nao pode ser considerado "uso de instrumento", pois de
modo nenhum depende do propósito de "proporcionar tal meio a tal

347
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

fim"; o animal visa apenas a alargar, no momento presente, o raio de


acao de seu organismo, prolongando com um cajado a extensao de seu
braco; nSo tenciona produzir um instrumento para sempre adaptado á
consecucSo de tal ou tal objetivo. Em conseqüéncia, o macaco, depois de
haver usado urna vez o bastió para resolver o "caso", abandona-o, f¡cando
na emergencia de ter que reconstituir o utensilio qüando se vir diante de
problema sernelhante. 0 homem, ao invés, além de talhar previamente o
seu instrumento, adaptando-o a urna finalidade bem concebida, conserva-
o após o uso, tendendo a aperfeicoá-lo; o mesmo instrumento pode passar
para o servico de outras pessoas, as.quais por sua vez ¡ntroduzem novos
melhoramentos no utensilio; assim um instrumento chega a ter existencia
independente da existencia de quem o usa.

3.6. Macaco e chanca

O fato de que a conduta da criancinha nao se diferencia da do maca


co nos seus primei ros meses, nao quer dizer que o bebé nSo seja verdadei-
ro ser humano desde os seus primeiros días, mesmo desde a concepcao
no seio materno. Apenas as suas faculdades intelectivas permanecem laten
tes em grau maior ou menor, enquanto nao estío plenamente desenvolvi
dos o cerebro e, em geral, os sentidos, que fomecem á inteligencia os ele
mentos sobre os quais ela raciocina. A medida que o desenvolvimento se
dá, a enanca man¡festa a presenca e as qualidades do seu intelecto.

Os estudiosos tém realizado experiencias muito significativas neste se-


tor. Assim, por exemplo, o casal Kellog permitiu que seu filhinho Donald,
dos dez aos dezenove meses de idade, fosse educado ao lado de urna cria-
zinha de macaco chamada "Gua", a qual, no inicio da experiencia, conta-
va sete meses de idade. Os observadores submeteram o filhote de macaco e
a enanca exataménte as mesmas pravas (necessidade de fazer um desvio ou
um circuito para alcancar o seu alimento, subir sobre um tamborete,
manejar um objeto, obedecer a urna ordem, etc.). Após minucioso con
fronto, verificaram que durante alguns meses Donald e Gua apresentavam
semelhantes reaedes aos estímulos extrínsecos; respondiam aos mesmos
testes com sucesso variável, mas geralmente obtendo empate final; apenas
o macaco se mostrava mais hábil e ligeiro nos seus movimentos físicos,
enquanto a enanca manifestava mais capacidade de prestar atencSo. Após
determinado prazo, porém, observaram que a enanca, por seus progressos,
se distanciava do concorrente, de sorte a tornar va qualquer ulterior com-
paracSo. A enanca comecou a falar propríamente; transpds o limiar da lin-
guagem, que a caracterizaría como ser humano.

Experiencia semelhante á do casal Kellog foi empreendida pela cien-


tista russa Sra. Kohts, que confrontou o comportamento de seu filho com

348
A "INTELIGENCIA" DOS ANIMÁIS 13

o de seu chimpanzé a partir de um ano e meio até os quatro anos de idade.


Observou que o chimpanzé aprendía, sim, certas facanhas, mas de modo
mecánico e rotineiro, sem manifestar tendencias a se aperfeicoar; ao con
trario, o menino demonstrava a propensio a realizar trabalho cada vez
mais produtivo, ou seja, a superar continuamente os dados que aprendía.
Isto é, mais uma vez, indi'cio de que a enanca estava consciente do signifi
cado ou das proporcSes das artes que assimilava, ao passo que o macaco
nSo percebia tais proporcQes.

Assim a faculdade de falar constituí o sinal de demarcacao colocado


entre o reino dos irracionais e o do homem; essa demarcacSo é intrans-
ponfvel, mesmo ao mais perfeito dos viventes meramente sensitivos.

3.7. Ainda a percepcao do universal: a inteligencia

Outras duas experiencias vém ao caso para mostrar a diferenca entre


inteligencia e instinto. Aquela apreende o invisivel; este, nao.

O prof. G. Révesz apresentou a macacos, enancas e homens oito cai-


xas fechadas, das quais uma continha chocolate. Na primeira experiencia
colocou o chocolate na primeira caixa; na segunda experiencia, deslocou-o
para a segunda caixa; na terceira experiencia... para a terceira caixa; assim,
de cada vez, na caixa sucessiva. Ora homens e enancas dos seis, sete anos
em diante descobriram sem demora a lei que regia essas experiencias: im-
portava saber que o alimento se encontrava na caixa n + 1, sendo n o nú
mero da experiencia anterior. Ao contrario, os macacos, sumetidos ao
mesmo teste, na*o descobriram a lei abstrata geral (n + 1), mas de cada vez
se precipitaram sobre a caixa que na experiencia anterior fora "premiada".
Isto quer dizer que o animal infra-humano é incapaz de superar o concre
to, material, para perceber o abstrato, universal. Donde se conclui que I he
falta a capacidade de conhecer espiritual, ¡material, ou a inteligencia.

A análoga conclusSo chegou o Prof. Hamilton: fez urna mesma expe


riencia com dez individuos humanos (um adulto normal, um adulto defi
ciente, seis enancas normáis de dez a cinco anos, uma crianca de 26 me
ses, uma crianca anormal de onze anos) e 27 animáis (cinco macacos, de-
zesseis cSes, cinco gatos e um cávalo). A experiencia consistía em introdu-
zir os individuos num recinto fechado com quatro portas. Uma destas po
día abrir-se com um empurrio, ao passo que as outras estavam hermética
mente fechadas por fora. A porta que podía ser aberta com um empurrio
variava de experiencia para experiencia, mas nSo de modo que pudesse ser
identificado pela memoria, pois as mudancas eram efetuadas segundo uma
lei simples que seria preciso descobrir. — Ora também neste caso somente
os individuos humanos sadios de mais de dois anos chegaram a perceber a

349
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

lei secreta das mudancas. Aos animáis o problema ficou sendo insolúvel.
Isto quer dizer, mais urna vez, que os animáis infra-humanos s3o incapazes
de perceber principios abstratos; nSo tém inteligencia.

4. PONDERACOES FINÁIS

Ainda duas reflexSes importantes nos ocorrem.

4.1. Fatos básicos

Quando fatos concretos sio apresentados á discussao dos filósofos,


psicólogos, antropólogos..., importa, antes do mais, ter relatos objetivos
e fidedignos de tais ocorréncias. Ora quem refere as suas experiencias, nao
raro tende a interpretá-las simultáneamente ou, com outras palavras, refe
re-as a partir das premissas filosóficas que Ihe sSo próprias; assim o leitor
recebe n3o somente a noticia fría e objetiva das ocorréncias, mas é, ao
mesmo tempo, sugestionado a aceitar determinada ¡nterpretacao de tais
fatos ou dados empíricos.

Com isto nao queremos necesariamente dizer que os observadores de


Science et Vie tenham retocado a realidade dos fatos ou hajam apresenta-
do relatos pouco fidedignos. Apenas chamamos a atencSo para urna norma
fundamental de metodología científica: antes de qualquer discussao filosó
fica, é necessário estabelecer com exatidSo o teor, as dimensoes ou a reali
dade dos fatos empi'ricos a ser discutidos.

É muito significativo o que tem ocorrido em outrostcampos de pes


quisa: assim, por exemplo, no tocante á reencarnacSo, as revistas noticia-
ram em 1955 e 1956 ter sido comprovada pelas experiencias de Morey
Bernstein referentes á Sra. Virginia Tighe (= Bridey Murphy, em su posta
encamacao anterior). Quem lesse os noticiarios dos periódicos naquela
época, daría a tese como firmada e confirmada pelos estudos de Bernstein.
Ora pouco depois entraram em foco elementos novos apresentados pelo
pastor protestante Wally White. Este estudioso conhecia Virginia Tighe
desde a juventude; quando leu o relato das experiencias a que fora subme-
tida, resolveu entrar em cena e comunicar dados novos, desconhecidos,
que dispensavam a interpretacio reencamacionista e elucidavam os fatos
de maneira simples esatisfatória.1 Semelhantes casos tém ocorrido na histo
ria das pesquisas: já houve relatos de experiencias que pareciam, em sua
época, comprovar urna tese filosófica nova e revolucionaría, mas que, com
0 tempo, foram reconsiderados de maneira objetiva, evidenciando-se entSo
que n3o tinham o alcance filosófico que se Ihes atribuía. Veríficou-se que
os primeiros relatos de tais experiencias ná*o foram relatos puramente cien-

1 Ver PR 49/1962, pp. 3-10.

350
A "INTELIGENCIA" DOS ANIMÁIS 15

tíficos, mas foram também interpretacoes pessoais e subjetivas de fatos


objetivos (tais ¡nterpretacBes na*o depSem contra a honestidade dos den
tistas que as propuseram, pois estes geralmente procederam de boa fé e
mais ou menos inconscientemente); é, sím, espontáneo ao ser humano in
terpretar os fatos ao mesmo tempo que os descreve, ou apresentar os da
dos históricos a partir de suas premissas filosóficas.

4.2. Empirismo e Metafísica

A psicología moderna apresenta, entre outras correntes, a do empi


rismo, que se difundiu principalmente nos países de língua inglesa. Está
outrossim muito influenciada pelo positivismo e o neopositivismo. Estas
escolas apenas registram dados empíricos ou fenómenos e renunciam a
procurar causas nSo empíricas (causas metafísicas) para os mesmos; veri-
ficam que o fenómeno A se segué ao fenómeno B e renunciam a procurar
saber se existe relacSo de causalidade entre AeBe, eventual mente, qual
seria essa causalidade. De modo especial, note-seta psicología que o empi
rismo inspira, é urna psicología sem "anima" ou sem sujeito definido dos
fatos psicológicos; ela se limita á descricSo fenomenología dos fatos psí
quicos. Por isto, quando alguém diz que o comportamento do animal
¡nfra-humano é semelhante (ou mesmo idéntico) ao do ser humano, guar
dando apenas diferenca gradativa em relacSo a este, p5e-se legítimamente a
pergunta: que entende o observador por "semelhante" ou "idéntico" no
caso? — Reconhecemos, sim, a semelhanca das atitudes dos animáis com
aquilo que o ser humano geralmente pratíca. Trata-se de semelhanca de
fenómenos ou de dados experimentáis, que n5o implica necesariamente
identidade de esséncia ou de consciéncia psicológica. Oizemos que o ani
mal pré-humano e o homem s§o capazas de exprimir sentimentos e afetos,
mas só o homem emite conceitos ou tem pensamento e linguagem concei-
tuais. Com outras palavras: o homem e o animal infrahumano sao aptos
a dizer que concebem afetos de simpatía ou que sentem dor, mas somente
o homem é capaz de dissertar sobre a simpatía, o amor e a dor. O animal é
capaz de pedir agua para beber, para refrescar-se ou para lavar-se, porque
ele pode experimentar os efeitos da agua e, por conseguinte, pode desejar
experiméntalos; todavía só o homem é apto a discorrer sobre a agua,
enunciando, de maneira teórica e especulativa (nao meramente pragmáti
ca), o que a agua é e aquilo de que ela se compSe.

Ora um psicólogo empirista contenta-se com a descrícao dos-fenóme


nos experimentados ou averiguados e, na base de tais averiguacoes, estabe-
lece confrontos e afirma semelhancas ou identidades. Todavia o filósofo
que n3o seja meramente empirista, mas que, através dos fenómenos, ana-
lisa as estruturas do ser e sonda as esséncias de cada qual, poderá ver dife-
rencas essenciais por detrás de idénticos comportamentos fenomenais ou

•JK1
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

empíricos. Ora, se o dentista adota a filosofía empirista, entender-se-á que


ele tenha conceito de inteligencia diferente daquilo. que se entende por
inteligencia humana em filosofía clássica. Em conseqüéncia, o seu relatório
nao será suficiente para se dizer que o animal e o homem diferem entre si
apenas por graus de perfeicSo no tocante á sua conduta.

Em conclusSo, afirmamos que o homem é dotado de alma intelectiva


a qual é espiritual, ao passo que qualquer animal infra-humano é vivificado
por alma sensitiva, meramente material. Entre o grau de vida sensitivo e o
intelectivo n3o há meio-termo, como nSo o há entre materia e espirito Es
te fica sendo característico do ser humano. Só o homem é capaz de conce-
ber nocSes universais ou definicoes, abstraindo dos objetos sensíveis e ma-
tenais que o cercam, os conceitos imateriais ou essenciais que se realizam
nesses diversos objetos. O homem apreende as esséncias ou as notas consti
tutivas, estruturais dos seres que o cercam, ao passo que o animal inferior
apenas constata os fenómenos concretos e os concatena entre si com o au
xilio da sua memoria sensitiva. Ora tal operacSo supSe uma faculdade ¡ma
terial ou espiritual que se chama "o intelecto" e que é a expressao da alma
intelectiva ou espiritual própria do ser humano.

A propósito citamos, dentre ampia bibliografía,

ADLER, MORTIMER J.( The Diference of Man and the Difference


it Makes. Holt, Rinehart and Winston, New York 1967.

LANGER, SUSANNE K., Philosophyin a new Key. A study in the


symbolism of Reason, Rite and Art. A Mentor Book, 7th ed. published
by the New American Library, New York 1955.

FAGGIN, G. Empirismo, ¡n Enciclopedia Filosófica I. Venezia-Roma


1957, cois. 1878-1894.

KOPPERS, WILHELM, O Homem Primitivo e a sua Visio do Mundo


Porto 1954.

MARCOZZI, VITTORIO, II Senso del la Vita Umana. Milano 1947.

ÍDEM, A EvolucSo Hoje. Ed. Paulinas, Sao Paulo 1969.

MARCOZZI-SELVAGGI, Problemi del le Origini. Roma 1966.

ROLDAN, ALEJANDRO, EvolucSo, Rio de Janeiro 1958.

352
Queé

O FUNDAMENTALÍSIMO?

Em sfntese: O Fundamentalísimo é urna atitudepresente, de modo es


pecial, entre os protestantes norte-americanos e trazidapara o Brasil. Dian
te dos progressos das ciencias, que parecem revolver as proposicoes da fé,
muitos protestantes se prendem a verdades fundamentáis deduzidas da le
tra da Biblia, rejeitando qualquer método crítico de estudo do texto sa
grado. Isto torna tal corrente fortemente agressiva nao somente á cultura
moderna, mas também ás demais correntes do Cristianismo, inclusive ao
Catolicismo.

Os fundamenta/istas baseiam suas atitudes na suposicao de que os


Estados Unidos sSo urna nació esco/hida por Deus (em lugar da Inglaterra,
que falhou) e essa nació deve estender sua fé religiosa protestante a toda a
América Latina.

Nio há dúvida, o Fundamentalismo se baseia sobre premissas erró


neas, nio levando em conta que o texto sagrado fot' escrito mediante a tra-
mitacio de escritores orientáis, distantes de nos e dotados de um exprés-
sionismo que nio éodo homem contemporáneo.

• * •

Ouve-se dizer que varios dos Novos Movimentos Religiosos sSo funda-
mentalistas. Todavía nem a todos os cristSos é claro o que significa "Fun
damentalismo". Eis por que dedicaremos as páginas seguintes á análise des-
te conceito tal como é vivido por correntes protestantes (sabemos que há
também o Fundamentalismo católico, o judaico e o islámico).

1. ORIGEM DO TERMO E DO MOVIMIENTO

O vocábulo "Fundamentalismo" tem origem no protestantismo nor


te-americano da segunda metade do sáculo XIX e do comeco do sáculo
XX. Com efeito; entre 1876 e 1918 formaram-se, dentro do protestantis-

353
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

mo dos Estados Unidos, duas correntes: uma dita "fundamentalista" e a


outra "modernista" ou "liberal". A diversidade entre uma e outra estava
no modo de interpretar a Biblia. Os fundamentalistas ensinavam que a
Biblia é obra de Oeus, e n3o dos homens; Deusterá inspirado palavra por
palavra a homens santos; por isto o texto sagrado há de ser tomado ao pé
da letra, quer se trate de historia, de poesia, quer de profecía, quer de apo-
calipse... Qualquer tentativa de recolocar os livros sagrados em seu ambi
ente histórico e penetrá-los mediante o instrumental da lingüistica, da lite
ratura antiga, da geografía, da arqueología... é tida como concessao á pou-
ca fé e á profanacao do texto inspirado. Aos fundamentalistas se opunham
os modernistas, professores da Universidade de Chicago, tidos como in
fléis; recorriam aos subsidios das ciencias profanas para entenderá Biblia
e, além disto, se filiavam á corrente protestante liberal tendente ao ra
cionalismo.

Para combater o modernismo, em 1910 os fundamentalistas Lyman


e Milton Stewart, da California, financiaram a publicacao de uma colecao
de doze volumes redigidos pelos "melhores e mais ortodoxos estudiosos
da Biblia", sob a direcao do evangelista A. C. Dixon e intitulada The Fun
damentáis: A Testimony to the Truth (Os Fundamentalistas: Um Teste-
munho á Verdade); desta obra derivou-se o nome de "cristaos fundamen
talistas". Estes julgavam poder deduzir da Biblia, com toda a certeza e sem
necessidade de recorrer a ciencias humanas, as seguintes verdades: a
SS. Trindade, a Divindade de Jesús Cristo, a concepcao virginal de
Jesús Cristo, a Redencao pelo Sangue de Cristo, a ressurreicao cor
poral do Crucificado, a sua segunda vinda no fim dos tempos para
julgar os homens e instaurar o Reino de Deus definitivo, a infali
bi lidade da Biblia tomada ao pé da letra, a autenticidade dos milagresdo
Evangelho. Tais artigos de fé ná*o poderiam sofrer a mínima hesitacao. -
Conseqüentemente era rejeitada a Escola da Historia das Formas, que es-
tuda o desenvolvimento dos conceitos e paiavras da Biblia com o cabedal
das ciencias modernas; esse método de trabalho era tido como deletério e
contrario á veracidade da S. Escritura, pois ensina que Moisés nSo é o úni
co autor do Pentateuco, que o livro de Daniel n3o data do século VI a.C,
mas do século II a.C. oü da época dos Macabeus e de Antioco IV Epifánio
(175-164 a.C), que o livro de Isai'as encerra tres compendios de profecias
datadas de séculos diversos... Além do mais, os fundamentalistas, enten-
dendo literalmente Génesis 1,1-3,24, ensinavam (e ensinam) a criacao do
homem a partir do barro, a formacio da mulher a partir de uma costela de
Adá*o, nao aceitando qualquer hipótese evolucionista; em 1925 promove-
ram em Dayton Tennesee "o processo dos macacos" contra o biólogo
J.T. Scopes, que defendía a origem do homem por evoluc3o da materia vi
va preexistente. Para completar o quadro, seja mencionada a expectativa
fundamentalista de ¡mínente fim do mundo, de reinado de Cristo sobre a

354
O FUNDAMENTALÍSIMO 19

térra por mil anos (milenarismo). Na política foram muito ativos na déca
da de 1950, aderindo a J. MacCarthy contra o trío satánico, constituido
peló liberalismo, o secularismo e o comunismo.

2. CONCEITUAQAO DE FUNDAMENTALISMO

O fundamentalismo tem semelhancas com o integrismo, o conserva -


dorismo, o tradicionalismo, mas distingue-se destas correntes afins porsua
origem histórica e sua atuacao.

1. Podern-se atribuir dois significados ao Fundamentalismo (um mais


ampio, outro mais restrito), como nota F. Galindo na obra El protestantis
mo fundamentalista. Una experiencia ambigua para la América Latina
pp. 136-138:

"Em sentido ampio, o Fundamentalismo é urna tendencia atual das


tradicdes judaica, cristi e muculmana, que costuma manifestarse em rea-
coes mais ou menos violentas contra as mudancas cufturáis. Os estudos de
psicoiogia descrevem os seus adeptos mais zelosos como pessoas autorita
rias, individuos que se sentem ameacados num mundo dominado por po
tencias malvadas que estSo em permanente atitude de conspiracao. Pensam
segundo esquemas simplicistas e imutáveis; diante dos problemas de ho/e
sao propensos a dar respostas autoritarias e moralizantes. Quando as mu
dancas culturáis chegam a um ponto crítico, essas pessoas se agrupam em
movimentos radicáis dentro das suas próprías tradicdes religiosas.

Em sentido estrito, o fundamentalismo é urna modalidade do protes


tantismo norte-americano, urna 'subespécie de evangelismo' (Marsden).
Mais precisamente, do ponto de vista histórico, é um movimento protes
tante recente, que tem suas raízes no séculoXIXeseorganizou no inicio
do século XX; na década de 1920 envolveu-se em controversias com di
versas denominacoes protestantes norte-americanas. Surgiu como reagao
a correntes sociais e teológicas, que os fundamentalistas designaran) como
liberalismo e modernismo, correntes tidas como ameacas ao Cristianismo
tradicional ou como apostasia religiosa... Mais precisamente, o Fundamen
talismo pode ser definido como um evangelismo reacionárío frente a um
evangelismo liberal ou social".

0 Fundamentalismo estrito alimenta urna concepcao pessimista do


mundo e da historia, tidos como irremediavelmente entregues ao pecado e
fadados a urna catástrofe apocalíptica. Por isto concluí que o cristao nSo
se deve ocupar com obras sociais, a fim de tentar melhorar um mundo que
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

nSo pode ser rnelhorado, mas deve apregoar a conversio pessoal, para que
cada cidadSo possa escapar dos males ¡minantes que pesam sobre o mundo
e assim participar do Reino milenar que Cristo há de instaurar após julgar
este mundo.

2. Tal pessimismo se deriva de duas fontes principáis: 1) a doutrina


do luteranismo, que afirmava estar a natureza humana ¡rremediavelmente
deteriorada pelo pecado e propunha a Biblia como único fundamento e
fonte de fé; 2) o puritanismo e o pietismo dos "País Peregrinos" que, para
fugir da intolerancia da Comunhio Anglicana (High Church), embarcaram
em setembro de 1620 a bordo do Mayflower em demanda da colonia de
Massachusetts nos Estados Unidos, onde fundaram um protestantismo fer-
vilhante e um tanto agressivo.

Esse protestantismo norte-americano assim institui'do inspirava-se


fortemente no puritanismo calvinista, que era acentuadamente pessimista:
ensinava que o homem é incapaz de fazer o que seja, para salvar-se; por te
to é irrevogavelmente predestinado por Deus para salvar-se ou para conde-
nar-se; o homem também seria incapaz de transformar o mundo e a socie-
dade; donde se seguia aceitacao passiva da (des) ordem de coisas vigente
como sendo disposta por Deus; dar, por exemplo, a manutencSo da escra-
vidio dos negros; esta teria sido decretada por Deus, que amaldicoou Cam
— de quem descenderiam os negros — e submeteu Cam e os seus descendentes
a Sem e a Jafé (Jafé, do qual descendem os brancos, conforme errónea
interpretado de Gn 9,21-27). Na verdade, os puritanos calvinistas que fo-
ram para a América, julgavam que a Inglaterra, a "nacao elejta", o "novo
Israel", escolhido por Deus para ser "um povo sujeito a Deus", falhara, de
modo que tocava a eles ser essa nació santa sujeita a Deus; deviam criar
urna nova térra de CanaS na nova Inglaterra; cumpririam assim os desig
nios de Deus. Deste modo o puritanismo comunicou ao protestantismo
norte-americano a conviccio de ser "urna nació sujeita a Deus", até mes-
mo "a única nació Cristi do mundo", portadora da maravilhosa missio de
instaurar o Reino de Deus sobre a térra e, de modo especial, estender a
todo o continente americano (e, por conseguinte, á América Latina) "a
excelencia dos seus principios divinos". Daf se seguia a conquista, por
direito divino, dos territorios do Caribe, a tutela sobre Cuba, a anexio de
Porto Rico e o predominio económico-político sobre todo o continente
americano, segundo o principio de Monroe: "A América para os america
nos (do Norte)".

O pietismo, por sua vez, enfatizava a conversio pessoal a recusava


toda discussio teológica que pudesse suscitar alguma dúvida de fé; daf a
rejeicio do espirito critico-cientffico, dos principios racionáis de inter-
pretacio da Biblia, e o apego á letra da Escritura Sagrada. Estas caracte-

356
O FUNDAMENTALÍSIMO

rísticas do pietismo se tomaram particularmente notorias e acentuadas


quando o protestantismo norte-americano teve que se confrontar com os
estudos científicos da Biblia realizados ñas Universidades européias, prin
cipalmente na Alemanha, e com as teorías antropológicas evolucionistas.

Eis, pois, em que consiste o Fundamentalismo:

— interpretacao literal da Biblia, com desconfianza do instrumental


da razao e da ciencia;

— oposicSo ao mundo moderno, com as suas teorías evolucionistas,


com os seus sistemas socialistas, com as suas tendencias a conquistar o
universo (obra satánica, segundo os fundamentalistas); toda essa projecSo
dos dentistas será destruida quando o Senhor vier julgar o mundo!

— oposicSo a todo tipo de ecumenismo.

3. AS FACETAS DO FUNDAMENTALISMO HOJE

Verifica-se que o Fundamentalismo norte-americano, do qual acaba


mos de tratar, se tem fragmentado em faccSes de consistencia duvidosa.
Compreende, porém, duas grandes correntes:

— a neo-evangélica: afirma que os Estados Unidos ainda nSo foram


devidamente evangelizados e precisam de forte movimento de acao religio
sa e social, que Ihes imponha o auténtico e único Cristianismo, a saber: o
protestantismo;

— a corrente neo-fundamentalista: despreza todo compromisso social


e temporal para apregoar um renascer espiritual (born-again) mediante in
tensa experiencia religiosa.

Todavia ambas as correntes sao contrarias ao ecumenismo, pois, sob


o influxo do Calvinismo, nSo tém estima pelas outras denominacoes cris
tas. Sao contrarias ao luteranismo, porque é religiSo de urna raca estrangei-
ra, a alema*; contrarías ao anglicanismo, pois este depende de Londres e da
Inglaterra, que os "Padres peregrinos" tiveram de abandonar por causa da
sua intolerancia; contrarías á Igreja Católica, porque esta é a Igreja dos es-
trangeiros, que acolhe racas inferiores (irlandeses, italianos, poloneses, ne
gros...), ao passo que o auténtico americano ó WASP (White - branco;
Anglo-saxon = anglo-saxSo; Protestant = protestante). Por estas mesmas ra-
z5es, os fundamental istas nSo fazem parte do Conselho Mundial das Igre-
jas, mas criaram o "Conselho Americano das Igrejas CrístSs".

357
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

Atualmente nos Estados Unidos sao, de modo geral, fundamentalistas


os pastores el etron icos, que fazem sucesso no país, principalmente na clas-
se media branca. Os pregadores eletrdnicos exprimem a mentalidade dessa
classe conservadora, puritana e nacionalista, convicta de que os Estados
Unidos sao a nacao eleita, cuja missÉSo é estender o Reino de Deus a todo o
continente americano; a esta conviccao se associam as teses fundamentalis
tas relativas á letra da Biblia, á expectativa de fim do mundo apocalíptico,
ao repudio do comunismo e do ateísmo; acreditam no poder da oraciío pa
ra obter curas milagrosas em grande escala.

Os pregadores eletrdnicos que, conforme algumas estatísticas, atin-


gem setenta milhoes de telespectadores ou radioouvintes, costumam pedir
dinheiro, que eles recebem em elevadas quantias. Um exemplo, entre ou-
tros, seja o do famoso missionário televisivo J. Swaggart, que em 1988
atingia semanalmente 9.300.000 pessoas e tinha a receitade 140.000.000
de dólares; suas pregacSes visavam principalmente ao comunismo, ao hu
manismo secularista e á Igreja Católica, tidos como inirnigos.

A córreme neo-fundamentalista nao se contenta com sua atividade


nos Estados Unidos; estende a sua influencia á América Latina, onde já
numerosas seitas estao atuando. Em nossos países, esse fundamentalismo
assume característica fortemente anticatólica; os americanos que vém
para cá, alimentam, ao menos em seu íntimo, a persuasSo de que estío
desempenhando um papel providencial e, de certo modo, messiánico. Sá*o
proselitistas e comunicam esse afa proselitista aos adeptos que vao conse-
guindo conquistas. Desejam ocupar o lugar da Igreja Católica, considerada
como "Cristianismo viciado".

A penetrapSo relativamente fácil desse Fundamentalismo em nossos


países latino-americanos explica-se, em grande parte,

— pela ignorancia religiosa de nossa gente; os católicos estao despre


parados para enfrentar a capciosa e agressiva pregacSo dos novos arautos;
n3o sabem o que professam em seu Credo;

— pela pobreza económica e cultural de nossas populacoes, que se


deixam fácilmente atrair por promessas de curas e grapas extraordinarias,
assim como por "profecías relativas a ¡ntervencSes drásticas de Deus, que
pora ordem no mundo";

— pelo poderoso apoio financeiro que vem dos Estados Unidos e fa


cilita o uso dos meios de comunicapao, as viagens, as instalapSes de ordem
escolar e hospitalar, o recurso á imprensa escrita, a divulgapao de panfletos
impressos nos Estadas Unidos em diversas línguas;

3S8
O FUNDAMENTALÍSIMO 23

— há quem julgue que certos regimes latino-americanos favorecem os


fundamentalistas por causa do anticomunismo professado por estes.

4. CONCLUSÁO

Diz-se que em todo erro está latente um cerne de verdade. Na base


deste principio pode-se dizer que o Fundamentalismo faz questao de de
fender certos valores ameacados pela cultura pluralística ou mesmp mate
rialista do mundo atual. Os fundamentalistas querem preservar a ¡dentida-
de crista ¡nconfundível na sociedade contemporánea.

Todavía, ao defender tais valores, o Fundamentalismo se mostra ce


gó, pois pretende ignorar que a Biblia foi escrita segundo trámites huma
nos, ou seja, por homens de épocas recuadas, dotados de recursos de ex-
pressao muito diversos dos do homem moderno, é esta conviccao que jus
tifica — ou mesmo torna obrigatório — o estudo científico das Escrituras,
com recurso ás ciencias auxiliares (lingüística, historia, arqueología, paleo
grafía, papirologia...). Ignorar os géneros literarios e o procedimento dos
antigos escritores é fechar-se ao mundo da Biblia e á sua mensagem, em
vez de cultivar fielmente a sua doutrina. Em última análise, a recusa de
reconhecer os moldes humanos da Palavra de Deus é, indiretamente, a re
cusa do próprio misterio da Encarnacao, pois na plenitude dos tempos o
Verbo de Deus falbu aos homens mediante a natu reza humana assumida
no seio de Maria Virgem em térra oriental, dentro do quadro histórico e
geográfico da Palestina.

A propósito do Fundamentalismo escreveu a Pontificia ComissSo


Bíblica num relatório datado de 18/11/1993:

"O Fundamentalismo recusa admitir que a Palavra de Deus inspirada


tenha sido expressa em Iinguagem humana e ha/a sido redigida, sob a ins-
piracSo divina, por autores humanos cuja capacídade e cu/os recursos eram
limitados. Por isto, tende a tratar o texto bíblico como se fora ditado lite
ralmente pelo Espirito e nSo chega a reconhecer que a Palavra de Deus foi
formulada em Iinguagem e fraseología condicionadas por determinados
modos humanos de pensar presentes nos textos bíblicos... O Fundamenta
lismo insiste também, de modo indevido, sobre a inerrancia dos pormeno
res dos textos bíblicos, principalmente quando se trata de fatos históricos
ou de pretensas verdades científicas... O Fundamentalismo assim esvazia
o apelo /aneado pelo próprio Evangelho.

O Fundamentalismo, além disto, leva a grande estreiteza de vistas:


tem como conforme á realidade, porque contida na Biblia, urna cosmolo-

359
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

gia antiga superada, o que impede o diálogo ou urna concepcao mais aber-
ta das relacoes entre cultura e fé. Baseia-se sobre urna leitura nSo crítica
de alguns textos da Biblia para confirmar idéias políticas e diretrizes so-
ciáis marcadas por preconceitos, por exemplo, racistas, totalmente contra
rios ao Evangelho".

O Fundamentalismo vem a ser perigoso, porque dá a ¡mpressio ilu


soria de que .as pessoas necessitadas de respostas para seus problemas as
possam encontrar interpretando á Biblia ao pe* da letra. Na verdade, a Bi
blia nSo responde di ratamente a todos os problemas humanos; ela apre-
senta nSo raro principios gerais, dos quais cada qual deverá tirar conclu-
soes precisas. Em nossa época, tSo angustiada e atormentada por interro-
gacoes sobre o futuro, muitas pessoas sentem a necessidade de uma ori
entado precisa e segura, e imaginam poder encontrá-la na Biblia; os secta
rios, como as Testemunhas de Jeová, exploram o texto sagrado prometen-
do intervencSes drásticas de Deus que satisfazem aos anseios de solucao
alimentados por muitos dos nossos contemporáneos. Tal abuso da Biblia
é condenável. "A letra mata, o espirito vivifica", diz Sao Paulo (2Cor 3,6).

Como quer que seja, os fundamentalistas lembram aos fiéis católicos


a exigencia de guardarem a sua identidade, sem deixar de responder ás
indagacSes e interpelares do mundo contemporáneo.

Este artigo muito deve ao Editorial de La Civita Cattolica 1994 II,


pp.3-16.

* * *

A Forca do Pardeo. O Cura d'Ars. Có/ecao "C/ássicos da Espiritual!-


dade", organizada e dirigida por Frei Patricio SciadiniO.C.D. - Ed. Cidade
Nova, Rúa Ce/. Paulino Car/os 29, 04006-040 SSo Paulo (SP) 1994,
105 x 150 mm, 131 pp.

O livro é uma coletSnea de meditacdes e pensamentos de Sao Joao


María Batista Vianney, o Cura d'Ars (1786-1859), sacerdote simples, mas
impregnado do Espirito de Deus. Sua uniSo com o Senhor transparecia
sobre o seu porte e a sua pa/avra, atraindo multiddes é pequeña aldeia de
Ars. Os dizeres do Santo em suas homilías eram despojados de retórica,
mas penetravam profundamente os coracdes dos ouvintes, — Ora a Ed. Ci
dade Nova oferece ao público preciosa colegio dos testemunhos desse san
to sacerdote, colhidos principalmente em suas homilías. O livro será certa-
mente de grande proveito a quem o quiser utilizar.

360
Resposta a VEJA:

MAIS UMA VEZ


OS PRESERVATIVOS

A revista VEJA, em sua edicSo de 23/02/1994, publicou um artigo


intitulado "CAMISINHA É PECADO". Nesta página a Igreja é acusada de
estar prejudicando a saúde dos brasileiros pelo fato de reprovar o uso dos
preservativos. Com efeito; a Campanha da Fraternidade de 1994 teve por
tema "a Familia". Como se compreende, o Manual da Campanha abordou
o assunto "preservativos" e afirmou que este artificio só concorre para
promover a promiscuidade de relacoes sexuais (hétero e homossexuais).
Ora o articulista de VEJA despreza esse risco e supSe que os preservativos
sejam meios eficazes, de modo que condená-los significaría combater a
saúde da populacao brasileira.

Já temos abordado o assunto em números anteriores de PR; ver


377/1993, pp. 466. Todavía, a pedido de leitores, nSo podemos deixar de
voltar ab mesmo; reproduziremos o artigo de D. Antonio Afonso de Miran
da, Bispo de Taubaté (SP), escrito em resposta a VEJA e publicado no
jornal O LUTADOR, edicao de 2 a 9 de abril de 1994, p.2. A linguagem é
jornal ística e candente, mas focaliza com muito acertó e sabedoria a pro
blemática.

* * *

CORROMPER ADOLESCENTES E JOVENS É PECADO

Há dias recebi um recorte da revista VEJA, em que na coluna sobre


ReligiSo se publicou a materia: "Camisinha é pecado". Pedem-me urna res-
posta a este montSo de impropríedades e de pesados ataques á atitude pas
toral da Igreja do Brasil, na atual Campanha da Fratemidade.

NSo assino, n3o compro, e nSo leio a revista VEJA. E aconselho que
outros nSo o facam também. Prefiro nSo dizer os motivos. Fica ao leitor
sensato deduzi-los.

Mas, quando está em foco tema sobre ReligiSo, que é preciso esclare
cer, nSo posso furtar-me ao dever de olhar o que me enviam, e de dizer
a verdade que importa seja dita. Eisporque vou ocuparme, mais urna

361
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

vez, com bastante repugnancia, da materia anti-religiosa que esta revis


ta publicou em sua edigao de 23 de fevereiro.

VEJA tem sempre o intuito de desacreditar a Igreja Católica, porque


a Igreja Católica é urna instituicSo seria, honesta, que n§o se tem deixado
corromper, e, por isso, como revelou há pouco tempo urna pesquisa, é a
¡nstituicao que ainda goza da maior credibilidade perante o público.

A sua doutrina pode nao ser sempre acatada: Porque nao condescen-
de com os interesses, o comodismo, a sensualidade e a baixeza de costu-
mes reinantes. Mas o povo sabe que a Igreja Católica merece credibilidade,
porque ela é fiel á doutrina de Jesús Cristo, e nunca deixa de dizer a verda
de, mesmo quando esta verdade condena até alguns de seus membros, que
erram por motivos humanos.

O CASO DA "CAMISINHA"

O título da materia publicada por VEJA de 23 de fevereiro é sensa-


cionalista: "Camisinha é pecado."

Malicia e bandalheira de mau gosto. O pecado n§o atinge um objeto


inerte como tal. Pecado é ato humano, consciente e livre, que se desvia da
ética e moral crista. A sem-vergonhice da prática sexual fora do matrimo
nio, e a corrupcSo da juventude, induzindo-a á banalizacao dos atos se-
xuais, a que o uso da "camisinha" conduz, é que é pecado.

Induzir também as pessoas á idéia falsa deque a camisinha é o meio, e


único, de precaver-se contra Aids, quando a ciencia bem informada já
comprovou que a porosidade da camisinha nem sempre obsta á contami-
nacao, isto também é pecado, porque vai levar á difusao cada vez maior
de urna doenca, que é hoje o terror da humanidade.

Todo o mundo sabe que a Aids mata e causa sofrimentos horríveis.


A revista VEJA observa: "Qualquer adolescente sabe isto de cor." Mas
a revista VEJA, de propósito, deixa de informar que a Aids se contrai,
na maioria quase absoluta dos casos, através de relacSes hétero ou ho-
mossexuais, quando aquele que a contrai se entrega á orgia, aos abusos
sexuais, e que nunca se contrai dentro do matrimonio, quando marido e
mulher sSo honestos e nao vao buscar fora relacoes malandras.
Ora, propagar camisinhas, distribu Mas no meio de jovens e adoles
centes, dá-lhes a entender que podem entregar-se a todo desregramento
sexual que quiserem, contanto que usem camisinha. é um sistema dese-
ducativo, perverso, que vai levar fatalmente o jovem a se entregar ao sexo
para mera satisfacSo sem compromisso e expd-lo a, mais cedo ou mais
tarde, contrair Aids. Por isso foi que o texto-base da Campanh'a da Fra-

362
MAIS UMA VEZ OS PRESERVATIVOS 27

temidade deste ano lembrou: "O uso de preservativos ñas relacoes sexuais
colabora para deturpacao do sexo, como coisa banal a ser usada indis
criminadamente em relacSes hétero ou homossexuais." Advertencia sa
bia, prudente, honesta, educativa dos bons costumes sexuais.

NSo importa a citacao que VEJA aduz da senadora Eva Blay: "Ao
fazer tal pregacao, a Igreja assume responsabilidade pela disseminacao do
virus da Aids." Absolutamente. Quem assume esta responsabilidade é
quem contribuí para a corrupcao dos costumes sexuais. No caso, também
a revista VEJA e a própria senadora.

É muito claro: expSe-se fácilmente a contrair Aids quem se entrega


á dissolucao dos costumes, mesmo quando usa camisinha, porque esta
nem sempre preserva. O mesmo artigo de VEJA registra: "Os estudos mais
recentes mostram que a Aids se alastrou muito além dos grupos de risco.
Entre mulheres paulistas de 20 a 35 anos, por exemplo, já é a primeira
causa de morte." Por qué? Porque a devassidao dos costumes abre por
tas mais largas á disseminacSo do virus.

INTROMISSÁO INACEITÁVEL DA IGREJA?

VEJA cita urna psicanalista, que diz: "Nosso medo é que o lobby
católico prejudique a campanha (das "camisinhas"...), o quesería urna in-
tromissSo inaceitável da Igreja nos assuntos da saúde pública." O medo
é porque a Igreja Católica goza de credibilidade, esta credibilidade que
falta freqüentemente aos órgaos públicos.

NSo intenta a Igreja qualquer intromissao. Ela simplesmente cumpre


o seu dever de ensinar a moral. E estamos num pai's livre, nao estamos? Se
assiste á psicanalista o direito de ensinar o que ela quer, mesmo expondo
a juventude ao risco da Aids, por que seria intromissao da Igreja o vir ela
a público ensinar costumes honestos?

A Igreja exerce urna missSo que foi sempre muito benéfica no mun
do. Principalmente do ponto de vista moral. Ninguém pode negar que a
Igreja Católica só ensina os bons costumes. Ela nao pode ser acusada de
intromissSo porque usa o direito, que Ihe assiste, de ensinar: os principios
moráis que sempre contribuiram para o bem da humanidade.

A IGREJA AGRADECE OS CONSELHOS E


REVI DA AOS ATAQUES

Atentem bem para o seguinte conselho e injuria enviados pela revista


á Igreja: "Se fosse mais flexfvel, a Igreja contribuiría para proteger a saúde

363
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

de seus próprios membros. Entre 1987 e o'ano passado, pelo menos 35 pa


dres morreram de Aids no Brasil."

Convenhamos honestamente nos seguintes pontos. Primeiro: cumpre


lembrar que, sendo só 35 padres que morreram de Aids em 6 anos (de
1987 a 1993), o número abastante reduzido entre os nurnerosfssimos casos
de Aids registrados no Brasil, para que a revista VEJA faca carga sobre este
ponto. Este número tao pequeño prova que, gracas a Deus, apesar da fra-
queza humana a que est3o expostos também sacerdotes, no seio da Igreja
ainda existe real fidelidade aos bons costumes. Em segundo lugar, nem
todos estes 35 contra íram Aids por relacoes sexuais; varios podem ter sido
vi'timas de transfusao de sangue, como é o caso do Betinho e seus irmSos.
Em terceiro lugar, se alguns padres contrairam a molestia por quebra do
voto de castidade, n§o é isto responsabilidade da Igreja Católica, e, sim,
pessoalmente, desses mesmos religiosos, homens livres, suficientemente
instruidos, que tiveram longa e esmerada formacao. Enfim: num mundo
erotizado como este em que vivemos, nao é de estranhar que as fragilida
des da carne possam atingir também os sacerdotes, que nao sao Anjos.

É assim muito desairoso na senadora Blay que ela venha a dizer esta
injuria: "Se eles n3o conseguem nem mesmo evitar a Aids na Igreja, que
autoridade tém para orientar seus fiéis?" Eu posso simplesmente retrucar:
se a senadora Blay na*o tem fineza, sensibilidade, nem bom senso, para en
tender o que dissemos ácima, que aprumo tem para assentar-se numa ca-
deira de senadora e dali atirar pedras contra a Igreja Católica, instituicao
entre todas respeitável pelos ensinos e pela conduta moral da maioria
incontestável de seus Pastores? «

CONCLUINDO

"O melhor que a Igreja tem a fazer, se nao endossa o uso da camisi-
nha, é ficar calada" — concluí a revista VEJA.

NSo. A Igreja nSo se calará jamáis diante do erro moral da propagan


da de camisinhas, porque ela trará conseqüéncias lastimáveis: por ex., a
licenciosidade dos costumes e a multiplicacSo incalculável dos casos de
Aids. A ciencia bem informada já o faz entrever, e o futuro o demonstrará.
A Igreja nao pode e na*o deve calar-se diante dos engañosos ardis pelos
quais se busca implantar por toda a parte a devassidio dos costumes.

A Igreja nao teme a injuria, a mentira, os insultos, como nSo temeu


nunca nem a perseguicSo feroz dos Césares e dos ditadores. A Igreja prega
a verdade, ensina a verdade, porque sabe que só a verdade libertará as
consciéncias.
* * *

36*
MAIS UMA VEZ OS PRESERVATIVOS 29

APÉNDICE

Completamos e confirmamos o artigo de D. Antonio Afonso de Mi


randa com urna noti'cia extraída do O LUTAOOR, de 13 a 19 de marco de
1994, p. 7. é importante pelos dados numéricos e os fatos concretos
que refere.

CUIDADO COM A MÁ INFORMACAO SOBRE AIDS

O Boletim SELAT (Servicios Latino Americanos) de informacao


católica, ligado á ACI - PRENSA, trouxe, em seu número de Janeiro de
1994, p. 5, urna informacSo sobre homossexuais e AIDS, que merece ser
levada em conta.

Um especialista em AIDS, o norte-americano Malcolm Potts, sustenta


que as pravas científicas contra a "seguranca" do famoso "sexo seguro"
baseado em preservativos ou "camisinhas", s3o esmagadoras. "O HIV" -
diz ele — "é 450 vezes menor que o espermatozoide, e tanto os preservati
vos quanto as luvas cirúrgicas tém normalmente poros de até 5 mícrons,
enquanto o vi'rus da AIDS tem um tamanho de 0.1 de mícron. Por isso,
segundo Malcolm Potts, "dizer a urna pessoa envolvida em comportamen-
to de alto risco que use preservativo, é como dizer a um chofer inteiramen-
te embriagado que ponha o cinto de seguranca e guie tranquilo".

Recentemente, dizia Potts que a melhor maneira de testar a convic-


cao de seguranca da camisinha, era propor a um médico responsável e es
pecializado em AIDS que ele se submetesse aos mesmos riscos que ele ga
rante aos seus pacientes nao existirem, usando ele as mesmas medidas de
seguranca que recomenda aos "outros".

Algo parecido resolveu fazer a Dra. Theresa Crenshaw, durante o


último Congresso Mundial de Sexologia em Heidelberg (Alemanha). A
especialista perguntou aos 800 sexólogos presentes: "Se voces encontras-
sem o companheiro de seus sonhos e soubessem que tem o virus da AIDS,
quantos de voces teriam relacSes sexuais com ele dependendo do uso de
preservativos como protecSo?"

Nenhum dos presentes no auditorio levantou a mSo, apesar de a


maioria deles ter admitido que já tinham recomendado essa protéelo a
seus pacientes — informou o Boletim SELAT (Jan /1994, p.8).

Sem comentarios...

365
Parlamento Europeu e Brasil:

CASAMENTO DE HOMOSSEXUAIS?

Em si'ntese: O Parlamento Europeu, aos 8/2/1994, resolveu reconhe-


cer as unioes lésbicas e homossexuais como legítimas e recomendar aos
países membros da Comunidade Européia que adotem legislacSo favorável
a tais unioes, permitíndo-lhes até mesmo a adocao de enancas.

A propósito levantou-se uma celeuma na opiniao pública. Verdade é


que nao se devem humilhar e maltratar os cidadSos homossexuais; isto, po-
rém, nao implica que se Ihes reconheca o direito ao "casamento hornos-
sexual" e á adocao de enancas. O S. Padre Joao Paulo II em sua alocucao
dominical de 20/2 pp. refereiu-se negativamente á ResolucSo do Parlamen
to. A razSo da oposicao da Moral católica a tal decisao e á proposta con
génere de um Partido Político brasiieiro é que o homossexualismo é uma
aberracao ou uma violacao da natureza; o homem tem predicados que a
mulher nSo tem, e vice-versa, de modo que a uniao heterossexual pode be
neficiar as duas partes e redundar no fruto do amor que é a prole. 0
mesmo nao se dá nos casos homossexuais, que, por isto, sSo mais fadados
é instabilidade. A prole numa casa de homossexuais nSo dispoe dos predi
cados masculinos e femininos dos educadores de que ela precisa para um
auténtico desenvolvimento de si mesma.

Além do mais, o principio segundo o qual se deve atribuir o mesmo


tratamento a todos os cidadSos independentemente da sua conduta sexual
é um sofisma: quando há diversos comportamentos sexuais públicos a in
terpelar a sociedade, a justa ordem quer que se Ihes atribuam diversos
tratamentos.

■k * *

Os jomáis tém difundido a tentativa de legitimadlo de casamentas


homossexuais (de hornens e mulheres) por parte do Parlamento Europeu,
como também tém divulgado a noticia do "casamento" de dois rapa-
zes no Rio de Janeiro realizado em 29/04/1994: um déles é Adauto
Belarmino Silva, de 29 anos de idade, paulistano, estudante da Faculdade
Benett, do Rio; o outro é Claudio Nascimento Silva, baiaño, de 23 anos

366
CASAMENTO DE HOMOSSEXUAIS 31

de idade, estudante de Ciencias Sociais na Universidade Federal fluminen


se. A cerimónia realizou-se na sede do Sindicato dos Previdenciários (onde
Claudio trabalha), sendo oficiante o exseminarista Eugenio Ibiapino dos
Santos, paramentado como padre. Os dois rapazes pretendem adotar urna
enanca, que eles tentarao educar. - Além disto, um programa de Partido
Político anunciado á nacSo brasileira (e depois revogado) incluía, entre os
seus itens, a legitimacSo de uniñes homossexuais.

A problemática assim levantada sugere algumas considéracoes que


teceremos levando em conta a ResolucSo do Parlamento Europeu:

1. A REVOLUCÁO DO PARLAMENTO EUROPEU

Em sua sessao de 8/2/94, o Parlamento Europeu, reunido em Estras


burgo (Franca), aprovou urna "ResolucSo concernente á Paridade de Direi-
tos para os Homossexuais na Sociedade". Estavam presentes á votacao 275
parlamentares sobre 5181; votaram a favor da Resolucao 159 parlamenta
res; 98 contra e 18 se abstiveram.

O texto da Resolucao se abre recordando documentos anteriores rela


tivos ao assunto, documentos normativos ou meramente informativos, que
o Parlamento diz querer levar em conta.

Segue-se urna lista de fatores socíais e jurídicos, tidos como motiva-


cao para as proposícoes subseqüentes. Antes do mais, é recordado o em-
penho da Comunidade Européia em favor de igualdade de tratamento a ser
dado a todas as cidadSs e a todos os cidadSos, independentemente do seu
comportamento sexual. Com atencao particular ás lésbícas e aos homosse
xuais, o texto observa que o número se multiplica e que os estilos de vida
se tornam sempre mais variegados; tais pessoas sao expostas, desde a ju-
ventude, á intimidacao e discriminacSo, até á violencia da parte da socie
dade. Ora, diz o texto da Resoluc3o, tal discriminacao tem que acabar,
mesmo naqueles países que oficialmente a adotam, cedendo á paridade dé
tratamento para todos os cidadSos, independentemente da sua conduta
sexual.

Segue-se o Corpo da ResolucSo em 16 artigos: artigos 1-4 (Consíde-


racBes Gerais); artigos 5-11 (Postulados dirigidos aos Estados-membros do
Parlamento); artigos 12-15 (Postulados dirigidos á Comissao do Parlamen
to); artigo 16 (Convite do Parlamento ao seu Presidente para que transmi
ta o texto da Resolucao aos Parlamentos dos Estados-membros)..

1 Para haver quorum no caso, basta um terco dosmembros do Parlamento.

367
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

As ConsideracSes Gerais (art. 1-4) insistem na necessidadededar a to


dos os cidadSos o mesmo tratamento, tocando á Comunidade Européia o
dever de promover esse idéntico tratamento. Os artigos seguintes (5-15)
estabelecem normas concretas para a realizacSo do propósito: "abolir to
das as disposicSes legislativas que incriminam relacSes sexuais entre pes-
soas do mesmo sexo" (art. 5 e 7); fazer que "os limites de idade para se
iniciar a vida sexual legítima sejam os mesmos para homossexuais e hete-
rossexuais" (art. 6); adotar medidas e campanhas, em cooperacao com as
sociedades de homossexuais, contra os atos de violencia que sempre mais
tém atetado os cidadSos homossexuais (art. 9 e 1);assolicitac3ese reivin-
dicac8es das organizacoes de homossexuais sejam consideradas e valori
zadas tanto quanto as peticSes procedentes de outras entidades (art.11). O
artigo 8 dirige-se especialmente á Gr3-Bretanha: pede a este país que revo-
gue as disposicSes discriminatorias destinadas a impedir a propaganda do
homossexualismo, ficando plena liberdade aos cidadaos homossexuais para
escrever, publicar, informar, divulgar tudo o que diz respeito ao homosse
xualismo1 . Esta liberdade plena para os homossexuais é recomendada a to
dos os Estados-membros da Comunidade Européia.

1 Eis a noticia que se lé no JORNAL DO BRASIL de 22/02/94, 19 Ca-


derno:

GRÁ-BRETANHA JÁ ADMITE HOMOSSEXUALISMO AOS 18

LONDRES - Ao contrario do que recomendavam a Associacao Mé


dica Británica e o Parlamento Europeu, o Parlamento da Gra-Bretanha
decidiu ontem á noite manter a distincSo entre a "idade de consentimen-
to"para relacBes heterossexuais e homossexuais. Por 307 a 280 votos, der-
rotou a emenda da deputada conservadora Edwina Currie, que defendía
que jovens homossexuais poderiam fazer sexo aos 16 anos, como é ga
rantido por lei aos heterossexuais. Mas houve urna concessao: por 427 a
162 votos, o Parlamento reduziu a idade para relacSes homossexuais de 21
para 18 anos.

^ Peter Tatchell, da organizacSo gay Out Rage, reagiu violentamente:


E urna vergonha, urna derrota para a democracia. Os. homossexuais conti-
nuam sendo ameacados de até dois anos de prisao se tiverem sexo antes
dos 18 anos. Somos tratados como cidadSos de segunda classe. NSo pode
mos respeitar um Parlamento que nao nos respeita. Se nos tratam como
criminosos, vamos agir como criminosos. Reduzirpara 18 anos nSo é con-
cessSo, é discríminacio."

Apesar de toda a campanha de igualdade feita nSo so por homosse


xuais mas também por liberáis, a votacSo refiete a opiniSo da maioria dos

368
CASAMENTO DE HOMOSSEXUAIS 33

O artigo 12 pede á Comissa'o Executiva que "aprésente urna proposta


de recomendacao da paridade de di reí tos dos homossexuais". O artigo 13
justifica essa recomendado pela necessidade de se remover toda discrimi
nado baseada em comportamento sexual. O artigo 14 indica, como metas
a ser atingidas:

— a extincao da diversidade dos limites de idade para legítimas rela-


coes homossexuais e heterossexuais;

— o fim da perseguicüo ao homossexualismo como se fosse um ultraje


ao pudor público e um crime contra os bons costumes;

— acabar com as discriminacSes aplicadas aos homossexuais que pro-


curam trabalho ou pleiteiam funcSes públicas; por fim também as restri-
coes vigentes contra os homossexuais no plano dos contratos e do co
mercio;

— acabar com o registro eletrdnico de informacoes relativas ao com


portamento sexual de um indivi'duo, sem que ele o saiba ou aceite; impe
dir a divulgacSo nSo autorizada e o uso improprio de tais ¡nformagoes;

— extinguir qualquer impedimento que se oponha ao matrimonio


de homossexuais entre si ou a qualquer instituicao equivalente; garantir-se-
Ihes-ao os plenos di reítos e as vantagens resultantes do casamento, inclusi
ve o registro de tais uniSes em cartório;

— abolir qualquer restricto aos di reítos, desses "casáis", de adotar


enancas para educá-las.

A fim de poder exercer vigilancia sobre a execucSo de tais indicacSes,


o Parlamento pede á Comissao Executiva que, de cinco em cinco anos, Ihe
aprésente um relatório sobre as condicSes de existencia dos homossexuais
na Comunidade Européia (art. 13).

británicos. Todas as pesquisas demonstran) que cerca de metade dos en


trevistados seque gostaria de ver a idade reduzida para 18 anos. O sentí-
mentó predominante é que os rapazes amadurecem mais tarde do que as
mocas e que seriam mais fácilmente seduzidos por homens mais velhos.
É o que acredita John Guly, de urna organizacao pró-fami'lla: "Preferiría
que continuasse em 21 anos a idade mínima para sexo entre homens."
Guly nao se abala com a mencSo de que a decisao británica contraria o
Tribunal Europeu de Direitos Humanos: "Em Chipre", comentou Guly,
"todos os atos homossexuais sao proibidos; o Parlamento Europeu pode
chamar isso de imoral, mas tem gente que acha imoral ser homossexual".

369
34 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

É certo que tal Resoluto do Parlamento Europeu nao tem vigor de


leí para nenhum país da Europa; como quer que seja, insinúa, sugere e po
de exercer certa pressao moral sobre os Parlamentos Nacionais.

2. ASREAQOES

Está claro que, da parte dos grupos gay, se levantou um concertó de


aplausos á Resolucao pelo fato de que os homens homossexuais estavam
sendo assim retirados se ná*o da clandestinidade, ao menos da marginaliza-
c5o e da humilhacao.

A imprensa e outras instancias revelaram atitudes diversas. Ao lado


da aprovacao, verificou-se também a recomendacao de prudencia e mode-
racao. Ern geral, a opiniSo pública europóia parece ter aceito com agrado a
tendencia a se tratar com respeito os homossexuais, sem aprovar o que os
parlamentares propuseram de concreto em seu favor. Na Italia, porexem-
plo, a pesquisa Doxa entrevistou quinhentas pessoas sobre o assunto: so-
mente 37% se mostraram de acordó com a equiparacao de uni6es hetera e
homossexuais; 51% se manifestaran! francamente contrarias. No tocante
a adocao de changas, só 37% julgaram válida a entrega de urna crianca a
duas mulheres lésbicas, e 23% apenas... a dois homens homossexuais. 0
direito de adocSo, em geral, foi mais contestado do que a legitimacSo dos
uni5es homossexuais.

O S. Padre JoSo Paulo II se manifestou fortemente contrario á Reso


lucao em qualquer de seus aspectos. Assim se exprimiu em sua AlocucSo
do Ángelus de domingo 20 de fevereiro pp.:

1... Infelizmentedevem-seregistrar, precisamente neste Ano da Familia,


iniciativas divulgadas por notável parte dos mass media, que, na substan
cia, se revelam "antifamiliares". Sao iniciativas que dSo a prioridade áqui
lo que decide da decomposicSo das familias e da derrota do ser humano —
homem ou muiher ou filhos. De fato, chama-se bem áquilo que na rea/ida-
de é mal: as separacoes decididas com leviandade, as infidelidades conju
gáis nao só to/eradas mas até exaltadas, os divorcios e o amor livre sao por
vezes propostos como modelo a imitar. A quem serve esta propaganda? De
que fontesela nasce? 'Toda árvore boa - observa Jesús — dá bons frutos
e toda árvore má dá maus frutos" (Mt 7,17). Tratase, pois, de urna árvo
re má que a humanidade traz dentro de si, cultivando-a com a a/'uda de in
gentes despesas financeiras e o apoio de poderosos mass media.

2. O nosso pensamento dirígese, agora, para a recente e bem conhe-


cida resolucSo aprovada pelo Parlamento Europeu. Nela nSó é simples-

370
CASAMENTO DE HOMOSSEXUAIS 35

mente tomada a defesa das pessoas com tendencias homossexuais, rejeitah-


do discriminacdes injustas em relacao a e/as. Sobre isto também a Igreja
está de acordó, antes, aprova-o, fá-lo seu, urna vez que toda pessoa hu
mana é digna de respeito. O que nSo é mora/mente admissível é a aprova-
cSo jurídica da prática homossexual. Ser compreensivo em relacao a quem
peca, a quem nSo é capaz de se libertar desta tendencia, nSo equivale, com
efeito, a diminuir as exigencias da norma moral fcf. Veritatis Splendor,
95). Cristo perdoou á mulher adúltera, salvando-a da lapidacSo (cf. Jo. 8,
1-11), mas disse-lhe ao mesmo tempo: "Vai e doravante nao tornes a pe
car" (Jo 8,11).

Digo isto com grande tristeza, porque todos temos grande respeito
pela Comunidade Européia, pelo Parlamento Europeu; conhecemos os nu
merosos méritos desta Instituicao. Mas deve-se dizer que, mediante a Reso-
lucao do Parlamento Europeu, se pediu que fosse legitimada urna desor-
dem moral. O Par/amento conferiu indevidamente um valor institucional a
comportamentos dissuasivos, nSo conformes ao plano de Deus: debilidades
existem — sabemo-lo —, mas o Parlamento agindo assim favoreceu as debi
lidades do homem.

Nao se reconheceu que o verdadeiro dimito do homem é a vitória sobre


si mesmo, para viver em conformidade com a reta consciéncia, Sem a cons-
ciéncia fundamental das normas moráis, a vida humana e a dignidade do
homem estao expostas á decadencia e é destruicao. Esquecendo a palavra
de Cristo: "a verdade libertar-vos-á" (Jo 8,32), procurou-se indicar aos ha
bitantes do nosso Continente o mal moral, o desvio, urna certa escravidao,
como via de libertacSo, falsificando a esséncia mesma da familia.

Nao pode constituir urna verdadeira familia o lígame de dois homens


ou de duas mulheres, nem sequer se pode a essa uniSo atribuir o direito á
adocSo de fílhos privados de familia. A estes fiihos causase um grave da
ño, porque nesta "familia suplente" e/es nao encontram nem opainem a
mae, mas "dois pais" ou entSo "duas mies".

3. Esperamos que os Parlamentares dos Países da Europa saibam, so


bre este ponto, tomar as distancias e, na ocasiSo do Ano da Familia, quei-
ram proteger as familias de antiquissimas sociedades e nacdes deste perigo
fundamental. Nao há dúvida, porém, de que estamos na presenca de urna
terrivel tentacSo... As únicas instancias a que podemos apelar sao a consci
éncia e o sentido de responsabilidade das nacdes, as quais nSo devem per
mitir que se destrua a familia, porque déla depende o futuro de cada um
de nos.

371
36 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

3. A RECUSA DA MORAL CATÓLICA

A Moral Católica, neste ponto, se baseía nSo somente na S. Escritura,


mas também na Ie¡ natural. O Criador fez dois sexos — o masculino e o fe-
minino — para que sejam complementares entre si. O homem encontra na
mulher aquilo que ele nSo tem, e vice-versa. Por isto o casamento, con
forme as leis da natureza e a Leí de Deus, só tem sentido entre o homem e
a mulher; somente o homem e a mulher podem ter como fruto do seu
amor mutuo a prole.

O homossexualismo é urna aberracao fisiológica. As pessoas homos


sexuais podem nao ter culpa de ser tais; podem até ser vítimas de malva
dos. Nem por ¡sto háo de ser habilitadas para uni3es homossexuais e ado-
cao de filhos. Alias, é digno de nota que em 1992 nos Estados Unidos os
parlamentares se mostraram dispostos a aprovarasuniSes homossexuais. Os
bispos norte-americanos se pronunciaram entao, e a Santa Sé os aprovou
neste sentido: '

As pessoas homossexuais, por sentirem tendencias homossexuais, nSo


devem ser condenadas. Podem nao ter culpa disto. Mas, visto que o ho
mossexualismo é urna aberracSo, nao pode ser tido como o terceiro sexo;
por isto, os legisladores tém de fazer o possfvel para evitar que o homos
sexualismo se propague na sociedade, contagiando pessoas inocentes;
devem zelar pelo bem comum, que está ácima dos interesses particulares.
Daí a necessidade de certas cautelas: nao haja "casamentos" de homosse
xuais nem adocao de filhos, pois estes nSo terSo os elementos necessários
para urna conveniente educacao; n3o se devem reconhecer a um par hornos-
sexual os direitos de habitacSo, propriedade e hereditariedade, que tocam
aos casáis heterossexuais; também é para desojar que nao haja homosse
xuais ñas torcas armadas, no magisterio ou ñas escolas por causa do perigo
de contaminaclo. Ver PR 366/1992, pp. 496-593.

De resto, a pessoa homossexual que saiba conter-se ou abster-se da


prática sexual, deve ser respailada e estimada como qualquer outra pessoa:
goza do direíto de trabalhar, de ter sua habitacSo e nSo sofrer vexames que
ofendam a sua dignidade humana, é preciso apoiar a pessoa homossexual
para que observe a continencia, talvez numa luta heroica. É cortamente
um irmSo ou urna irm3 que sofre e que pode ser estimulada a urna vida
digna, integrada na sociedade, se conseguir viver em continencia. As pes
soas homossexuais n§o se devem julgar condenadas por Deus em conse-
qüéncia das suas inclinacdes homossexuais. Elas tém a vocacSo á perfeiclo
crista ou á santidade (que é sempre heroísmo) como os demais cristaos.
Confiem no chamado de Deus, que n3o abandona ninguém a meió-caminho.

372
CASAMENTO DE HOMOSSEXUAIS 37

Pelas razSes atrás indicadas, vé-se que é absolutamente ¡mpensável


realizar uniSes homossexuais em cerimónia religiosa áimitapao do que se
dá em casamentos heterossexuais. O abuso de símbolos religiosos consti
tuí grave sacrilegio e está longe de obter a béncao de Deus.

4. CONSIDERAQOES DE ORDEM JURÍDICA

1. O argumento básico da Resolucao do Parlamento Europeü é a ne-


cessidade de dar igual tratamento a todos os cidadaos e cidadas indepen
dentemente da sua conduta sexual. A propósito fazem-se oportunas re-
flexSes:

O principio alegado parece um tanto cegó em relacao á realidade


atual. Sim; é justo dar o mesmo tratamento a idénticos sujeitos. Mas será
que um par homossexual é idéntico a um par heterossexual? No par hete
rossexual a mesma pessoa é esposo, pai e educador dos filhos ou esposa,
mae e educadora... No caso dos homossexuais nao há a complementacao
mutua dos dois sexos (portanto nao há esposo e esposa); também nao há
paternidade nem maternidade; por isto as uniSes homossexuais nao po-
dem ser equiparadas ás unides heterossexuais.

A nocao jurídica de paridade ou igualdade nao pode ignorar as d¡fe-


rencas concretas existentes entre os respectivos sujeitos. As mesmas pala-
vras em nossos días tém sentidos múltiplos, que outrora nao tinham: assim
o conceito de m3e, que outrora era unívoco, hoje é polivalente; pode sig
nificar a esposa legítima fecundada por seu marido, gestante e educadora
de seus filhos, mas pode também significar: 1) a mera doadora da sementé
vital, 2) a m3e de aluguel, que recebe o feto fecundado fora déla, 3) a me
ra educadora da crianca. Com outras palavras, pode significar: 1) a mu-
Iher fecundada por seu marido, 2) a mulher fecundada por um terceiro,
3) a mulher que nao quer a gestacao, mas quer a prole, 4) a mulher que
quer a gestacao (porque paga), mas renuncia á prole. Pergunta-se: pode-se
dar o mesmo tratamento de mae a qualquer dessas muiheres? Esta inter-
rogacao, muito válida, bem mostra o sofisma existente na alegacio de que
se deve dar igual tratamento a todos os cidadaos independentemente do seu
comportamento sexual. Observamos em réplica: se diverso é o comporta-
mentó sexual, diverso há de ser o tratamento atribuido a tais pessoas, des
de que o comportamento sexual seja público e interpele a sociedade.

Quanto á adocao de filhos, há quem observe que, para educar as


enancas, nSo é necessário haver um homem e urna mulher em cooperacio,
mas há também quem afirme que dois homens ou duas muiheres nSo po-
dem substituir um homem e urna mulher no papel de educadores. Para

373
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

dirimir as dúvidas, é oportuno considerar que a adocao é urna instituiqSo


jurídica que tem em vista defender e proteger o menor; nSo visa propria-
mente a satisfazer ás exigencias afetivas dos casáis esteréis. Para atingir o
objetivo de proteger e favorecer o menor, procura-se recriar a familia,
com as figuras de pai, mSe, avós... ou seja, procura-se recriar as condi-
c5es normáis para que se dé o desenvolvimento harmonioso da personali-
dade da crianca.

é raro o caso de urna pessoa solteira receber urna crianca como fi-
Iho(a) adotivo(a). Ora bem; um par de lésbicas ou de homossexuais nSo
preenche os requisitos que somente pai, m3e e os familiares podem ofere-
cer á formacSo e educacá*o de urna crianca. Muito a propósito escreveu
JoSo Mohana o seu livro "Prepare seus filhos para o Futuro", mostrando
o indispensável papel do homem (esposo e pai) e da mulher (esposa e
m§e) no sadio desenvolvimento das enancas (ed. Globo, Porto Alegre
1971).

Concluimos, pois, que nem na Europa nem no Brasil é desejável a le


gal ¡zacao das unioes homossexuais. Representam urna auténtica aberracao
acobertada pelo sofisma da democracia ou da igualdade para todos, igual-
dade que pode redundar em genui'na injuria á sociedade (sem beneficiar
os individuos ¡nteressados).

* * *

Morte, minha Irma, por Frei fíaniero Cantalamessa. — Ed. Santuario,


Rúa Pe. Claro Monteiro 342, 12570-000 Aparecida (SP), 150 x 175 mm,
63 pp.

Eis um livro de grande valor. Trata de um tema do qual fogem multas


pessoas, mas que na verdade vem a ser a única certeza que o ser humano
tem. O autor encara a morte de duas maneiras: 1) do ponto de vista sapi
encial, ou se/a, como realidade que deve orientar os passos do homem
fin ómnibus réspice finem, em tudo considera o fim, diziam os sabios ro
manos); 2) do ponto de vista pasca! ou como realidade transfigurada por
Cristo e feita passagem para a vida eterna. "A morte humana ¡á nSo é a
mesma. Houve um fato decisivo. Pela fé se acoihe a incrfvei novidade que
somente a vinda de Deusá térra podía provocar. A morte perdeu seu agui-
IhSo como serpente cu/o veneno agora é capaz apenas de fazer a vftima
dormir durante algum tempo, sem a matar" (p. 15).

374
O Impacto sobre as Criancas:

VIOLENCIA NA TELEVISÁO

Em síntese: Mais urna vez os estudiosos trazem ao conhecimento do


grande público a poderosa influencia exercida pelos espetáculos de violen
cia na televisao. Especialmente as criancas sSo vulneráveis, como regís-
tram experiencias diversas. Verificase outrossim que, nos países industria
lizados, a televisSo é o segundo eletrodoméstico mais adquirido pelas
familias, ficando apenas atrás da geladeira. Observase igualmente que,
quanto mais certos países sSo dotados de televisores, mais aícresce a onda
de homicidios; tal é o caso averiguado nos Estados Unidos, no Canadá,
na África do Sul. Recomendase aos pais o acompanhamentó dos filhos;
saibam vigiar sobre o que véem, e comentem com e/es o que deixa mar-
gem para mal-entendidos,... ou o que pode fascinar pela retórica da infor-
macSo, da imagem e pela pujanca das técnicas aplicadas. Assim despena-
rSo nos mais j'ovens um senso crítico sadio, que os preparará para os em
bates da vida.

* * *

Freqüentemente léem-se reportagens e estudos que comentam a in


fluencia da televisao sobre os seus espectadores. A televisSo tornase urna
escola de costumes poderosa, ... tanto mais poderosa quanto menos decla
rada ou quanto mais espontáneamente procurada. Já temos abordado o
assunto em PR; ver 383/1994, pp. 176-192. Retomamo-lo, levando em
conta especialmente a influencia da televisSo sobre as changas, na base
de um artigo publicado em Science et Vie, n? 917, fevereira 1994 nn
34-43. '

1. O PROBLEMA

Nos últimos anos tém-se registrado bárbaros crimes cometidos por


enancas e adolescentes em escala totalmente inédita e imprevista. Assim,
por exemplo, em Liverpool (Inglaterra), fevereiro 1993, dois meninos, de
dez e onze anos respectivamente, seqüestraram e mataram urna enanca de
dois anos de idade. Em Vitoy-sur-Seine (Franca), outubro 1993, trésestu-

375
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

dantes, da faixa de nove-dez anos de idade, slo apontados como partici


pantes do linchamento mortal de um homem que ná*o tinha domicilio
fixo. Em Newcastle, dezembro 1993, na Inglaterra dois pequeños de seis
e-onze anos respectivamente foram responsabilizados por torturas infli
gidas a urna enanca de seis anos de idade. Na mesma época, em Saarbrück
(Alemanha), tres estudantes alemies tentaram enforcar um colega de es-
tudos dentro do recinto da sua escola.

O horror que esses delitos juvenis suscita, tem levado os estudiosos a


procurar as causas respectivas: chegaram á conclusao de que a televisao,
exibindo cenas violentas, é, em grande parte, responsável pelo surto de cri-
minalidade infantil. Nos Estados Unidos, cuja televisSo é tida como urna
das mais agressivas do mundo, a Academia Americana de Pediatría e a
Associacao dos Psicólogos Americanos declararam publicamente que a
violencia na televisao gera a agressividade das enancas. Com efeito; entre
1981 e 1990 o aumento de detencoes de menores chegou a 60%, ao passo
que foi de 5% entre os que tinham mais de dezoito anos. Na California
10% dos homicidios eram cometidos por adolescentes; em 1992 esta quo-
ta aumentou para 19%. Isto foi tao significativo que os legisladores da
California e de nove outros Estados estao pensando em baixar de dezesseis
para quatorze anos a idade mínima após a qual o delinqüente é julgado
nao por um tribunal para menores, mas por um tribunal comum destinado
a adultos.

Na Franca os delitos cometidos por menores abaixo dos treze anos


passaram de 36.000 em 1980 para 48.000 em 1987; s3o, alias, delitos
mais agressivos, violentos e complexos do que os de épocas anteriores.

Diante de tais resultados os responsáveis pelos espetáculos televisi


vos apelam para a liberdade de expressao; observa-se que os movem inte-
resses financeiros.

Entremos mais a fundo no problema.

2. A PSICOLOGÍA DA CRIANQA E A DO ADULTO

As enancas tém prazer em contemplar a tela. As estatfsticas mostram


que, em certos países ou regiSes, passam tanto tempo diante do televisor
quanto na escola. O sucesso da televisSo se explica pela índole atraente da
imagem; esta exerce um fasemio muito mais poderoso que a palavra lida
ou ouvida. O telespectador encontra-se geralmente num estado de recep-
tividade muito especial, da qual ele nao tem consciéncia. Principalmente
os mais jovens telespectadores sio impressionáveis. Varios estudiosos se

376
VIOLENCIA NA TELEVISÁO

tém dedicado á atitude das criancas e dos adolescentes frente á televisao,


destacando-se, entre outros, Wright e Huston com a sua obra Children and
Formal Features (Meyer M. Ed., 1983): verificaram que um desenho ani
mado ou urna imagem comercial de caráter tranquilo, mas de colorido e
som bem nítidos, estimulam comportamentos agressivos em criancas de
escola maternal.

É claro, porém, que o conteúdo das imagens como tal provoca rea-
coes específicas ná*o só das criancas, mas também dos adultos, como se
comprovou em laboratorio; os telespectadores participam emocionalmente
das acSes dos heróis apresentadas na tela. Sim; no eletroencefalograma de
um espectador quevéumator efetuar um movimento simples, as ondas al
fa da regiSo anterior do gráfico seguem o ritmo do movimento realizado
pelo ator. Este incita o espectador a executar o mesmo movimento. Expe
riencias de laboratorio permitirán! avaliar outras reapoes do telespectador:
o eletroencefalograma e o oculograma de urna pessoa bruscamente impres-
sionada pela luz forte de urna lámpada assumem um tragado que revela
desagrado. Se a urna pessoa se mostra urna cena de semblante sofredor vio
lentado, os tracados respectivos mostram que o telespectador experimenta
um desagrado semelhante áquele que o ator apresenta.

Desde tenra idade, a enanca é capaz de perceber o sentido das ima


gens e de ser influenciada por elas. É o que averigüou o Prof. And rew Mett-
zoff, da Universidade de Washington em 1988; quería saber se os bebés
eram capazes de compreender o conteúdo de urna seqüéncia televisada de
modo a assimilá-lo no seu comportamento. Para tanto, colocou quarenta
criancas de um ano diante de urna tela na qual um adulto manipulava um
brinquedo, realizando alguns gestos muito precisos. Depois, dividiu o gru
po em dois, de vinte criancas cada qual; entregou o brinquedo em foco a
um dos grupos logo depois da exibicao da imagem na televisSo; a outra
metade das criancas recebeu o brinquedo 24 horas mais tarde, sem ter vis
to de novo as imagens nesse intervalo. Ora verificou que os dois grupos re-
produziram os gestos do modelo televisivo em proporcao muito mais ele
vada do que outras criancas que nSo haviam assistido á exibicao da ima
gem na televisSo.

Colocada diante dessa caixa de imagens, que poderia ser comparada


a urna ama-seca e que as influencia desde a mais tenra idade, as criancas —
pequeñas ou grandes - ná"o tém escolha. Elas se adaptam á escolha de seus
pais ou absorvem os programas destinados a estes. Com razSo descreve o
sociólogo Dominique Wolton: "Se há um público que nio tem autonomía
e nSo pode tomar distancia, é o das criancas, que, mais do qué outros es
pectadores, olham para tudo o que Ihes é proposto". A sua fragilidade
emocional torna-os telespectadores muito vulneráveis.

377
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

Fácilmente entram em estado de dependencia do televisor. A própria


familia parece contribuir para isto, pois é de notar que, nos países indus
trializados, o televisor é o segundo eletrodoméstico mais adquirido pelos
casáis, ficando apenas atrás da geladeira ou do frigorífico. Assim a televi-
s3o vai sendo integrada no ritmo de vida da familia e suscita hábitos tena-
zes, especialmente entre adolescentes e jovens. E com a televisSo é inevi-
tavelmente introduzida a exibicSo da violencia, que ocorre através de to
dos os cañáis, da manhS á noite, mesmo nos programas montados para
enancas.

Eis aínda outro teste efetuado por psicólogos para avaliar o impacto
da televisSo: resolveram medir a transpiracao cutánea ou da pele das crian-
cas. Para tanto, apresentaram a crianzas de quatro ou cinco anos de idade
varios segmentos de filmes e desenhos animados neutros ou violentos. As
criancas experimentaran! reacbes mais fortes diante dos trechos de violen
cia que envolviam pessoas; mostraram-se também mais sensíveis aos acón-
tecimentos violentos apresentados como fatos reais históricos do que a ce
nas tidas como fict Cejas e imaginadas. A violencia real impressionou mais do
que a fantasiosa.

Ora o que os produtores de programas procuram, é precisamente o


impacto, a sensacSo de um público ¡mpressionável. A propósito cita-se o
caso, que cáusou enorme impacto, de um acídente de aviapSo ocorrido no
cabo Skirring (Senegal, África) em fevereiro de 1992: o enviado do tele-
jornal da noite de France 2 (canal de televisSo) tentou insistentemente en
trevistar as vi'timas gravemente feridas.

A exibicSo, quase compláceme, da violencia pode provocar a banali-


zacSo desta. Os telespectadores de qualquer idade tendem a insensibilizar
se ao espetáculo como se a agressividade fosse uma componente normal da
vida cotidiana, componente que acaba sendo legitimada. Em conseqüén-
cia, verifica-se estranho fenómeno: quanto mais um país é dotado de tele
visores, tanto maior é o número de homicidios ai ocorrentes; com efeito,
nos Estados Unidos e no Canadá, o número de morticinios aumentou 93%
entre 1950 (ano em que a tevé ai foi introduzida) e 1970. Na África do
sul, a televisSo foi autorizada em 1975; doze anos mais tarde, a quotade
homicidios aumentou 130% (dados resultantes de um pesquisa do Prof.
Brandon Centerwall), da Universidade de Washington.

Mais: a psicóloga Liliane Lurcat chegou á conclusSo de que a televi


sSo perturba o. desenvolvimento da ¡maginacSo da crianca. Com efeito;
uma crianca que' brinca, recorre ás suas próprías imagens mentáis; mas,
quando as suas brincadeiras e jogos sSo orientados por programas de tele
visSo, a crianca já nSo é autora das suas idéias; ela interpreta oureproduz o

378
VIOLENCIA NA TELEVISÁO 43

pensamento alheio. Além disto, há programas ditos reality shows, que


mesclam fatos históricos e tentativa de reconstituir a historia completa;
neles tornam-se muito vagos os limites entre o imaginario e o real; a enan
ca corre entSo o risco de evoluir para um mundo irracional; a televisSo ge-
ra a confusao entre ficcSo e realidade, precisamente na idade em que se fa-
ria a distincSo entre urna e outra. Muitas enancas, em conseqüéncia, vivem
num mundo ficti'cio, inventando estórias, ñas quais a morte pode ser mero
incidente como qualquer outro.

3. CONCLUSÁO

é certo que a televisao ná"o é única responsável pela onda crescente


de crimes na sociedade contemporánea. Levem-se em conta outros fatores:
o álcool, a droga, problemas de familia, doenpas psíquicas...
Também é certo que os efeitos da televisSo nao s3o os mesmos em
todos os telespectadores: a sensibilidade, o desenvolvimento afetivo, o
grau de amadurecimento, o acompanhamento da familia tém seu peso na
avaliapao dos resultados da tevé.

Como quer que seja, toca aos genitores exercer vigilancia sobre os
programas a que assistem seus filhos, e comentar o respectivo conteúdo
com as enancas. A conversa sobre o que foi apresentado, se é bem dirigida,
pode desmitizar as imagens nocivas da telinha; eduquem os pais, em seus
filhos, a capacidade de análise dos documéntanos, o senso crítico, que
questiona a retórica da imagem e as técnicas utilizadas... Esta solidtude
dos pais, quando devidamente praticada, tem sido benéfica; quando, po-
rém, falta, deixa seria lacuna, que favorece perturbacoes emocionáis
das enancas.
* * *

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379
Chamado á Casa do Pai:

JÉRÓME LEJEUNE E SUA OBRA

Faleceu no domingo de Páscoa 3 de abril de 1994 o Dr. Jérdme Le-


jeune, ilustre dentista francés, que nascera aos 13/06/1926. Foi médico
pediatra, biólogo, geneticista, professor de Genética Fundamental. Por sua
descoberta da causa genética da Síndrome de Down, recebeu o Premio
Kennedy; foi-lhe concedida a "Memorial Alien Award Medal", a mais alta
distinc3o mundial no campo da Genética. Foi membro de varias Acade
mias científicas, como: Academia Americana de Artes e Ciencias, Real
Academia de Medicina e Real Sociedade de Ciencias de Estocolmo, Aca
demias de Ciencias da Italia e da Argentina, Pontificia Academia de Cien
cias, Instituto Francés de Ciencias Moráis e Políticas, Academia Francesa
de Medicina.

Nos últimos quatro meses de sua vida, o grande sabio sofreu de um


cáncer, cujo desenlace Ihe era claro; nao obstante, a partir de seu leito de
hospital, trabalhou com sua equipe.

Aos 11/2/1994 o S. Padre JoSo Paulo II fundou a Academia Pontifi


cia para a Vida, da qual o primeiro Presidente nomeado foi o Dr. Jéróme
Lejeune. Este, ao receber a noticia de sua nomeacao aos 10/3/1994, de-
clarou: "Consagrarei a essa tarefa o resto da minha vida". O S. Padre
acompanhou, á distancia, o Prof. Lejeune em suas últimas semanas, recon-
fortando-o com a sua palavra e a sua béncSo. Após o falecimento do cien-
tista, Jólo Paulo II escreveu urna carta ao Cardeal Jean-Marie Lustiger, ar-
cebispo de París, cujo teor vai, a seguir, traduzido.

1. ESCREVE JOÁO PAULO II

" 'Eu sou a ressurreicSo e a vida. Quem eré em mim, mesmo que mor
ra, vivera'(Jo 11,25).

Estas palavras de Cristo nos vém á mente, ao nos vermos diante da


morte do Prof. Jérdme Lejeune. Se o Pai dos cáus o chamou a Si no dia
mesmo da RessurreicSo de Cristo, é difícil nio ver nessa coincidencia um

380
JÉRÓME LEJEUNE E SUA OBRA 45

sinal. A ressurreicSo de Cristo vem a ser um grande testemunho dado á vi


da, que é mais forte do que a morte. Iluminados por estas palavras do Se-
nhor, vemos em toda morte humana urna partidpacao na morte de Cristo
e na sua RessurreicSo, especialmente quando a morte ocorre no d¡a mesmo
da ressurreicSo. Urna tal morte dá testemunho ainda mais forte á Vida, á
qual o homem é chamado em Jesús Cristo. Ao longo da vida de nosso ir-
mao Jerónimo, esse chamado constituiu urna linha diretriz. Em sua funcSo
de cientista biólogo, ele se apaixonou pela vida. Em sua área de trabalho,
foi urna das maiores autoridades de nivel mundial. Varios organismos o
convidavam para fazer conferencias e solicitavam seu parecer. Era respei-
tado até mesmo por aqueles que nao compartilhavam suas conviccoes mais
profundas.

Desejamos hoje agradecer ao Criador, de quem toda paternidade deri


va seu nome (Ef 3,5), o carisma especial do defunto. Devemós falar de ca-
risma, porque o professor Lejeune sempre soube utilizar o seu profundo
conhecimento da vida e de seus segredos para o auténtico bem do homem
e da humanidade, e tao sómente para isto. Tornou-se um dos ardentes de
fensores da vida, particularmente da vida dos nascituros, que em nossa ci-
vilizacá*o contemporánea é muitas vezes ameacada, a ponto de se poder
pensar em ameaca programada. Hoje a ameapa se estende outrossim ás pes-
soas idosas e doentes. As instancias humanas, os Parlamentos democrática
mente eleitos, usurpam o direito de determinar quem tem o direito de vi-
ver, e, vice-versa, quem deve sofrer a recusa desse direito, sem culpa da sua
parte. De maneiras diferentes, o nosso sáculo fez a experiencia dessa ati-
tude, especialmente durante a segunda guerra mundial, e também após o
fim da guerra. O Prof. Jéróme Lejeune assumiu plenamente a responsabili-
dade peculiar do cientista, disposto a tomar-se um 'sinal de contradicSo',
sem levar em coma as pressSes exercidas pela sociedade permissiva nem ó
ostracismo do qual era objeto.

Vemo-nos hoje diante da morte de um grande cristao do século XX,


de um homem para quem a defesa da vidasetornou um apostolado. Está
claro que, na atual situacSo do mundo, essa modalidade de apostolado dos
leigos é particularmente necessária. Desejamos agradecer a Deus hoje, a
Ele, o Autor da Vida, por tudo o que foi para nos o Professor Lejeune, por
tudo o que ele fez para defender e promover a dignidade da vida humana.
Eu quisera agradecer-lhe especialmente a iniciativa de criar a Academia
Pontificia Pro Vita. Membro da Academia Pontificia das Ciencias, havia
mu ¡tos anos, o Professor Lejeune preparou todos os elementos necessários
a essa nova fundacSo e tomou-se o seu primeiro Presidente. Estamos cer-
tos de que ele doravante rogará á Sabedoria Divina em favor desta institui-
cSo tSo importante, que, em grande parte, deve a ele a sua existencia.

381
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

Cristo disse: 'Eu sou a ressurreicao e a vida. Quem eré em mim, mes-
rrto que morra, vivera...'. Cremos que estas palavras se cumpriram na vida
e na morte de nosso irmao Jerónimo. Que a verdade concernente á vida
seja também urna fonte de forca espiritual para a familia do defunto,
para a Igreja em París, para a I groja na Franca e para todos nos, a quem o
Prof. Lejeune deixou o testemunho realmente reluzante de sua vida de no-
mem e de cristao.

Na oracSo uno-me a todos os que participam das exequias, e envió a


todos, por intermedio do Cardeal-arcebispo de París, minha bénc3o apos
tólica.

Do Vaticano, 4 de abril de 1994


JoSoPauloPp.il"

Esta bela carta foi lida na Catedral de Notre-Dame de París, repleta de


fiéis e autoridades diversas, antes de se iniciar a Missa de corpo presente do
Prof. Lejeune. A essa Missa assistiram também numerosas pessoas afetadas
de alguma deficiencia física ou mental, que, de cada lado do altar, teste-
munhavam a sua gratidSo áquele que só vivera para as ajudar a viver e a
viver melhor.

2. LEJEUNE SINTETIZA SEU PENSAMENTp

Aos 27/08/1991, o Prof. Lejeune proferiu no Auditorio Petrónio


Portella, do Senado Federal, urna conferencia sobre Genética, mostrando
que desde a fecundacao do óvulo pelo espermatozoide existe um ser hu
mano, que merece o respeito devido a qualquer pessoa; o óvulo fecundado
se torna "a célula mais especializada sobre a Térra; nenhuma outra célula
tem a mesma riqueza de instrucSes para desenvolver a vida". O conferen
cista terminou, proferindo o seguinte epílogo:

"Desejo resumir meu pensamento relativo á contracepcSo, ao aborto,


a tudo o que disse até aqui.

Desejo lembrar-lhes que o homem é o único ser neste planeta que


sabe existir urna relacSo natural entre o ato sexual e a procríacao. O mais
astuto chimpanzé nunca saberá que existe urna relacao entre o fato de
cruzar com sua mona e a aparicSo, nove meses depois, de um macaquinho
parecido com ele. Ele n§o é capaz de compreender essa relacao. O ser hu
mano sempre entendeu isso.

382
JÉRÓME LEJEUNE E SUA OBRA 47

Tanto isso é verdade que os antigos, para traduzir a paixao amorosa


e o prazer do sexo, representavam-nos por um menino — o cupido. E to
dos entendiam o seu significado.

Disto se pode concluir que o comportamento sexual do homem é


certamente o que mais o distingue dos demais seres vivos, porque só ele
sabe que as enancas s3o o fruto do amor. Portante, no comportamento
sexual separar o prazer e o amor da reproducao e, por conseqüéncia, do
filho, é um erro de método.

Isto pode ser assim resumido:

a pi'lula significa fazer amor sem fazer filho,


a fecundacao extracorpórea significa fazer filho sem fazer amor,
o aborto significa desfazer o filho.
a pornografía e a promiscuidade significam desfazer o amor.

Nada disso é compatível com a dignidade humana".

Segue-se outro documento, ou seja, o texto do compromisso assumi


do por cada membro da Nova Academia Pontificia Pro Vita, é um teste-
munho e um programa.

3. COMPROMISSO

"Diante de Deus e dos homens, nos, servidores da vida, declaramos


que todo membro da nossa especie é urna pessoa. A dedicacSo devida a ca
da um n8o depende nem da sua idade, nem da enfermidade que o possa
acabrunhar. Desde a sua conceicSo até os seus últimos instantes, é o mes-
mo ser humano que se desenvolve, amadurece e morre.

Os direitos da pessoa sao, sem dúvida alguma, ¡nalienáveis. O ovo fe


cundado, o embriSo, o feto nao pode ser dado nem vendido. O seu desen
volví mentó continuo, no seio materno, n2o Ihe pode ser denegado. Nin-
guém tem o direito de o submeter a exploracao, qualquer que seja. A nin-
guém, nem ao pai, nem á mae, nem a alguma autoridade, compete atentar
contra os seus di as.

Eis por que a vivisseccSo, o abortamento, a eutanasia nao podem ser


praticados por um servidor da vida.

Declaramos igualmente que as fontes da vida devem ser preservadas.

383
48 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 387/1994

O genoma humano, do qual cada geracSo é apenas um depositario,


nao pode ser objeto de especulacSes ideológicas ou mercantis. As respecti
vas fórmulas nSo podem ser patenteadas.

Solícitos por perpetuar a tradicao de Hipócrates e por conformar


nossa praxe aos preceitos moráis do magisterio romano, reje¡tamos toda
deterioracSo deliberadas do genoma, toda exploracao dos gametas e todo
desvio das funcSes reprodutoras provocado intencionalmente.

O alivio do sofrimento e a cura das molestias, a preservacao da saúde


e a reparacSo dos erros hereditarios s3o a meta de nossos esforcos, ressal-
vado, porém, o respeito á pessoa humana".

O académico que, por atitudes ou palavras públicas e deliberadas,


contradiga aos principios enunciados nesta fórmula, perde ¡mediatamente
a sua condicao de académico.

Possa o testemunho do Dr. Jéróme Lejeune frutificar copiosamente


entre os dentistas e no grande público!

Estéváo Bettencourt O.S.B.

* * *

Carismas, pelo Conselho Nacional da Renovacao Carísmática Católica


(Escritorio da Comissao Nacional). Colecao "Paulo Apostólo" n9 3. - Ed.
Santuario, Rúa Pe. Claro Monteiro 342, 12570-000 Aparecida (SP),
137x210 mm, 180 pp.

Este livro apresenta os carismas como "dons ou aptidoes lideradas e


impulsionadas pelo Espirito Santo e postas a sen/ico da edifícacao do Cor-
po de Cristo, a Igre'/a" (4a. capa). O conteúdo do livro explana o papel dos
carismas na Igre/'a de modo geral, tendo em vista a Sagrada Escritura e os
documentos do Concilio do Vaticano II; afirma que "os carismas devem
ser exercidos na obediencia a Cristo e ás autoridades constituidas" (p.44),
o que é sabio e muito válido. Após os capítulos de índole genérica, o texto
expde sucessivamente cada um dos principáis carismas (linguas e interpre-
tacSo das Iínguas, profecía, discemimento dos espiritos, curas, mi/agres...),
procurando seguir a doutrina oficial da Igre'/a, que é cautelosa ao analisar
os fenómenos extraordinarios. — Aobra foi concebida como roteiro para
Seminarios de formacSo. Poderá ser Iida com proveito por quantos se in-
teressem pelo aprofundamento da sua vida espiritual.
E.B.

384
€M COMUNHñO
ANO XIX JAN-ABR1994 103
Revista bimestral (5 números: marco a dezembro)

Editada pelo Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro,


1976 (já publicados 102 números), destina-se a Oblatos
beneditinos e pessoas ¡nteressadas em assuntos de
espiritualidade bi'blica e monástica. - Além de artigos, contém
traducoes e comentarios bíblicos e monásticos, e, aínda a
crónica do Mosteiro.

1994, assínatura ou renovacao, R$ 5,00


Dirija-se ás EdicSes "LUMEN CHRISTI".

Novidade

-O COMPROMISSO CRISTÁO DO MONGE, Augusto Pascual, OSB.


Traducao do Mosteiro da Virgem, de Petrópolis. CIMBRA-1994.
350 p R$ 28,60

Palavras de Madre Eugenia Teixeira, OSB:

"O autor, monge de Leyre, Espanha, oferece estas páginas aos mon-
ges e monjas que tém como norma ¡mediata de vida crista a Regra bene-
ditina.
Sao conferencias dadas através dos tempos e em variadas circunstan
cias, a grupos monásticos.
0 autor eré que possam interessar também a outros cristaos, especial
mente religiosos e religiosas, urna vez que a vida monástica está na raíz e
na base dos institutos de vida consagrada que se multiplicaram através dos
séculos. Ele nota que nossos dias carecem de um conhecimento aprofunda-
do da espiritualidade monástica. Nao temos obras deste género."
V y

RENOVÉ QUANTO ANTES SUA ASSÍNATURA DE PR PARA 1994/1995:


R$ 13,00.
(PARA PAGAMENTO. VEJA 2? CAPA).

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS": de 1994:


Encadernado em percal ¡na, 590 págs. com índice.
R$ 19,00.
Pedido pelo Reembolso Postal ou conforme 2a capa.
NOVIDADES

SALTERIO ILUSTRADO

PARA
CRI ANCAS E ADULTOS
COM ALMA DE CRIANCA...
Formato: 21,5x16.00... R$ 8,50

OS 150 SALMOS PELAS


MONJAS BENEDITINAS
DE SANTA MARÍA-S.P.
2a edicSo- 1994

A PROCURA DE DEUS, segundo a Regra de Sao Bento. Esther


de Waal.

Traduzido do original inglés pelas monjas do Mosteiro do


Encontró, Curitiba-PR. CIMBRA-1994. 155 p R$ 14,30
A presentado pelo Dr. Robert Runde, arcebispo anglicano
de Cantuária, pelo Cardeal Basil Hume, OSB, arcebispo de West-
minster e de D. Paulo Rocha, OSB, abade de SSo Bento da Bahia.

Palavras do Cardeal Basil Hume, OSB.:


"É. bom ter um livro sobre a Regra de SSo Bento que ve-
nh'a, como diz a autora "da experiencia de vida de urna míe e
dona-de-casa". Temos grande necessidade de obras que nos aju-
dem a viver os ideáis do Evangelho. A le ¡tura espiritual é indis-
pensável para conhecer e amar melhor a Deus.
Muitas pessoas ficarSo gratas á autora deste livro que mos-
trou ser a sabedoria antiga, quando auténtica, também muito
moderna e contemporánea.

Pedido pelo Reembolso Postal ou conforme 2a capa.

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