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ORAÇÕES SUICIDAS

Agora eu sinto os efeitos de minha demência,


minha dificuldade de convivência, minha reclusão;
não tenho paz não tenho paixão, minha percepção
está confundida em gestos obscenos, minha ousada
garota quer meu pescoço, meu usurpado estilo de
vida fora da realidade sem que possa manifestar-se
com as suas fragrâncias, simplório espirito, espirito
atormentado, translúcido e gentil, rastejando-se nas
areias quentes da ilusão. Meu pequeno medo de
viver está se tornando uma armadilha de sussurros
que cortam o maníaco rugido da multidão, traçados
por acordes estridentes, gritantes e inspirados, o
centro da criação maníaca, debilmente sentida em
rabiscos, o fim, o inicio de uma caverna onde o
cheiro da morte percorre cegamente os rudes
labirintos e desboca num mar de desespero pessoal,
a chuva de empatia sobe os portões do equilíbrio,
não consigo ouvir os aplausos, não consigo ver seus
olhos, tenho medo, sinto falta da minha mente,
onde está meu amigo agora? Não consigo ler as
cartas de minha garota.
Estuprado senhor no Olimpo, esperando as
manifestações, o choro cruel da fome pulou da
janela, depressiva escolha de movimentos, o
fantasma cego que me persegue não suporta a
minha presença.
Estou preso em meu quarto, as barras de aço
tampam a paisagem do meu jardim de orquídeas
negras manchadas com o sangue escorrido das
rosas envenenadas, onde está o túmulo que ganhei
de natal? Ganhei peiote de Deus, seus olhos ficam
maior que o universo quando estão dilatados,
Orações Suicidas.

Emerson Ehing, Orações Suicidas, Livro 1, Diabolus


in Referendum, 1999.

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