Pensei, escrevi, perdi tempo riscando e rabiscando; projectei o autêntico e
o absurdo, mas no fim não extraíra mais do que meia dúzia de linhas. Meia dúzia de suposições que acabaram por que me fazer sopitar, nesta tarde desolada e melancólica. O que se vem a verificar, é que não estás cá, neste mundo que se torna gradualmente sem cor, amortecido em mágoa e ilustrado de impaciência. A saudade (aquele sentimento inoportuno e doloroso), essa sim, não pára de correr diante de mim, trazendo consigo um rasto desmedido que tende a tornar-se maior à medida que o tempo desliza. Mudando o flanco de visão, observo agora o sol a pôr-se e com ele esvai-se também o sentimento vazio que me amarga a alma. Tenho-te no centro das minhas emoções, contigo quero atravessar esta dor e voltar a agarrar as bolas de sabão movidas magicamente ao sabor do vento. No entanto, reflicto só, encurralado nestas memórias soltas e sem nexo que vão percorrendo o meu ser. Meu doce, anseio cada sorriso, cada palavra, cada momento que em tempos partilhámos. Um toque teu encher-me-ia de satisfação, a minha alma transbordaria de ternura. Por isso, sigo, sem cessar, o desejo de permanecer ao teu lado, mas sou impedido por esse ser tão fugaz, que se perde num desfocado e longínquo horizonte. Sou submetido a forças inexplicáveis que me arrastam desmesuradamente até a um fundo circundante de medo a defrontar (esse mesmo que guardo receosamente moldado dentro de mim). Contudo, o pressentimento que me assombra já não é mais uma barreira inquebrável, porque acredito e lanço toda a minha bravura para o alcançar, a META que se dispõe a ser erguida por aquele que ousou todas as objecções e afortunado abraçou aquilo que mais queria. Posteriormente, ouve-se um grito de glória que se faz ecoar livremente. Por fim, sou intrometido pelo vento que atravessa a janela entreaberta do meu quarto e me vem suspirar à cara, fazendo-me acordar deste momento singular. Oh, já se faz noite! Miguel Abrantes, 10ºB