O Médico
By Rubem Alves
()
About this ebook
Read more from Rubem Alves
Palavras para desatar nós Rating: 4 out of 5 stars4/5Ostra feliz não faz pérola Rating: 5 out of 5 stars5/5A Escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir Rating: 5 out of 5 stars5/5Pensamentos que penso quando não estou pensando Rating: 5 out of 5 stars5/5As Melhores crônicas de Rubem Alves Rating: 5 out of 5 stars5/5O Deus que conheço Rating: 5 out of 5 stars5/5Ao professor, com carinho: A arte do pensar e do afeto Rating: 5 out of 5 stars5/5Rubem Alves essencial Rating: 4 out of 5 stars4/5Encantar o mundo pela palavra Rating: 5 out of 5 stars5/5A grande arte de ser feliz Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsSe eu pudesse viver minha vida novamente Rating: 5 out of 5 stars5/5A educação dos sentidos Rating: 5 out of 5 stars5/5O Aluno, o professor, a escola: Uma conversa sobre educação Rating: 5 out of 5 stars5/5A Poesia do encontro Rating: 5 out of 5 stars5/5Perguntaram-me se acredito em Deus Rating: 4 out of 5 stars4/5Fomos maus alunos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsE aí? Cartas aos adolescentes e a seus pais Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFilosofia da ciência: Introdução ao jogo e às suas regras Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsNa morada das palavras Rating: 5 out of 5 stars5/5Sobre o tempo e a eternaidade Rating: 5 out of 5 stars5/5Por uma educação romântica Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLições do velho professor Rating: 2 out of 5 stars2/5Quer que eu lhe conte uma estória? Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Retorno e terno Rating: 4 out of 5 stars4/5Navegando Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA música da natureza Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Eternidade Numa Hora Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Related to O Médico
Related ebooks
A Eternidade Numa Hora Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsNa morada das palavras Rating: 5 out of 5 stars5/5Mansamente pastam as ovelhas... Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDesfiz 75 anos Rating: 5 out of 5 stars5/5Navegando Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsReverência pela vida: A sedução de Gandhi Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEncantar o mundo pela palavra Rating: 5 out of 5 stars5/5Perguntaram-me se acredito em Deus Rating: 4 out of 5 stars4/5As Cores do crepúsculo: A estética do envelhecer Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPor uma educação romântica Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCenas da vida Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Retorno e terno Rating: 4 out of 5 stars4/5A Festa de Maria Rating: 5 out of 5 stars5/5A Poesia do encontro Rating: 5 out of 5 stars5/5Quando eu era menino Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Maçã e outros sabores Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsSobre o tempo e a eternaidade Rating: 5 out of 5 stars5/5Cantos do Pássaro Encantado Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO ponto cego Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA música da natureza Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Deus que conheço Rating: 5 out of 5 stars5/5Eu escolho não ser mãe Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsReunião de poesia: 150 poemas selecionados Rating: 4 out of 5 stars4/5Se eu pudesse viver minha vida novamente Rating: 5 out of 5 stars5/5Retratos de amor Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsRubem Alves essencial Rating: 4 out of 5 stars4/5O grito da seda: Entre drapeados e costureirinhas: a história de um alienista muito louco Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO velho que acordou menino Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsQuer que eu lhe conte uma estória? Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTrechos de um inconsciente poético Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
General Fiction For You
Para todas as pessoas intensas Rating: 4 out of 5 stars4/5A Arte da Guerra Rating: 4 out of 5 stars4/5MEMÓRIAS DO SUBSOLO Rating: 5 out of 5 stars5/5Poesias Rating: 4 out of 5 stars4/5Pra Você Que Sente Demais Rating: 4 out of 5 stars4/5A Sabedoria dos Estoicos: Escritos Selecionados de Sêneca Epiteto e Marco Aurélio Rating: 3 out of 5 stars3/5Invista como Warren Buffett: Regras de ouro para atingir suas metas financeiras Rating: 5 out of 5 stars5/5Onde não existir reciprocidade, não se demore Rating: 4 out of 5 stars4/5A Morte de Ivan Ilitch Rating: 4 out of 5 stars4/5Novos contos eróticos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsGramática Escolar Da Língua Portuguesa Rating: 5 out of 5 stars5/5Mata-me De Prazer Rating: 5 out of 5 stars5/5Noites Brancas Rating: 4 out of 5 stars4/5Vós sois Deuses Rating: 5 out of 5 stars5/5Coroa de Sombras: Ela não é a típica mocinha. Ele não é o típico vilão. Rating: 5 out of 5 stars5/5Prazeres Insanos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO amor não é óbvio Rating: 5 out of 5 stars5/5SOMBRA E OSSOS: VOLUME 1 DA TRILOGIA SOMBRA E OSSOS Rating: 4 out of 5 stars4/5Para todas as pessoas apaixonantes Rating: 5 out of 5 stars5/5Tudo que já nadei: Ressaca, quebra-mar e marolinhas Rating: 5 out of 5 stars5/5A batalha do Apocalipse Rating: 5 out of 5 stars5/5O Morro dos Ventos Uivantes Rating: 4 out of 5 stars4/5O Casamento do Céu e do Inferno Rating: 4 out of 5 stars4/5Declínio de um homem Rating: 4 out of 5 stars4/5
Reviews for O Médico
0 ratings0 reviews
Book preview
O Médico - Rubem Alves
médico.
Sumário
Apresentação
I. O médico
II. O médico à procura do ser humano
III. Em defesa da vida
IV. O anestesista
V. A doença
VI. O acorde final
VII. A chegada e a despedida
VIII. Saúde mental
IX. A morte como conselheira
X. Quero viver muitos anos mais...
XI. Tempus fugit – Carpe diem
Sobre o autor
Outros livros de Rubem Alves
Redes sociais
Apresentação
Instrumentos musicais existem não por causa deles mesmos mas pela música que podem produzir. Dentro de cada instrumento há uma infinidade de melodias adormecidas, à espera de que acordem do seu sono. Quando elas acordam e a música é ouvida, acontece a Beleza e, com a Beleza, a Alegria.
O corpo é um delicado instrumento musical. É preciso cuidar dele, para que ele produza música. Para isso, há uma infinidade de recursos médicos. E muitos são eficientes.
Mas o corpo, esse instrumento estranho, não se cura só por aquilo que se faz medicamente com ele. Ele precisa beber a sua própria música. Música é remédio. Se a música do corpo for feia, ele ficará triste – poderá mesmo até parar de querer viver. Mas se a música for bela, ele sentirá alegria, e quererá viver.
Em outros tempos, os médicos e as enfermeiras sabiam disso. Cuidavam dos remédios e das intervenções físicas – bons para o corpo – mas tratavam de acender a chama misteriosa da alegria. Mas essa chama não se acende com poções químicas. Ela se acende magicamente. Precisa da voz, da escuta, do olhar, do toque, do sorriso.
Médicos e enfermeiras: ao mesmo tempo técnicos e mágicos, a quem é dada a missão de consertar os instrumentos e despertar neles a vontade de viver...
I
O médico
... e, de repente, um canto de minha memória que o esquecimento escondera se iluminou, e eu o vi de novo, do jeito como o havia visto pela primeira vez: o quadro. Vejo-me, menino, na sala de espera do consultório médico. Estou doente. Meus olhos assustados passeiam pelos objetos à minha volta, até que o encontram. Pendia, solitário, na parede branca. Levanto-me e me aproximo, para ver melhor. Leio o nome da tela: O médico.
É a sala de uma casa. Cena familiar.
Tudo está mergulhado na sombra, exceto o lugar central, iluminado pela luz de um lampião. Mas a luz é inútil. O lugar mais iluminado é o mais obscuro: uma menina doente. A clareza dos detalhes só serve para indicar o lugar onde o mistério é mais profundo. Quando a luz se acende sobre o abismo, o abismo fica mais escuro. Seus olhos estão fechados, mergulhados em um esquecimento febril. Nada sabe do que acontece à sua volta. Por onde andará ela? Infinitamente longe, num lugar ignorado, onde gesto algum poderá tocá-la. Seu braço pende, inerte, sobre o vazio.
O lampião ilumina a menina doente. Mas os olhos de quem examina a tela com atenção desconfiam e percebem a presença de uma outra luz. Do lampião a querosene sai uma outra luz que ilumina a menina. Mas a menina doente sai da luz que ilumina a cena inteira: luz triste, luz sombria, que inunda a sala com o seu mistério: a luz da morte. Também a morte tem a sua luz.
O artista escolheu de propósito. Se, em vez de uma menina, fosse um velho, a morte seria uma outra. A morte tem muitas faces. A morte dos velhos, por mais dolorosa que seja, é parte da ordem natural das coisas: depois do crepúsculo segue-se a noite. A morte dos velhos é triste mas não é trágica. É como o acorde final de uma sonata. O fim é o que deveria ser. Mas a morte de um filho é uma mutilação.
A luz da vida é alegre, brincalhona, esbanja cores, vive de uma exuberância que pode se dar o luxo de desperdiçar. Todos os objetos ficam coloridos ao seu toque – os grandes e os pequenos, os importantes e os insignificantes. A luz da morte, entretanto, só ilumina o essencial. Naquela sala se sabe a verdade essencial. O universo inteiro está encolhido. O centro absoluto, em torno do qual