Como alfabetizar? Na roda com professoras dos anos iniciais
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Esse livro não traz receitas prontas; o que as autoras pretendem é contribuir para novas reflexões e ações, individuais e coletivas, no movimento permanente de formação docente. Elas colocam em discussão modos de conceber as relações de ensinar, de elaborar e definir conteúdos, e também de conversar – demandas que, certamente, ocupam e preocupam professores que não abrem mão de seu papel de educadores. Tudo isso é ilustrado com situações de sala de aula, muitas falas e produções escritas de crianças e professoras.
A obra é um convite ao diálogo, para que os professores entrem nesta roda de conversa sobre a atividade de ensinar-aprender a ler e a escrever como práticas que, além de pedagógicas, são sociais, históricas e políticas. Perguntas que surjam, e que gerem outras formas de encontrar e enredar as crianças, anunciam novas possibilidades de vida na escola, novas metodologias de trabalho alfabetizador. Papirus Editora
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Como alfabetizar? Na roda com professoras dos anos iniciais - Marta Lima de Souza
85-95.
1
AS CRIANÇAS. QUEM SÃO AS CRIANÇAS?
Adriana Santos da Mata
As reflexões deste capítulo pretendem nos instigar a olhar as crianças de nossas escolas públicas a partir de outros referenciais, para conhecê-las em seus modos próprios de pensar, sentir e agir. Buscamos também discutir e tentar conhecer um pouco mais quem são as professoras, destacando alguns aspectos que influenciam diretamente nos fazeres e nos saberes docentes.
De que crianças estamos falando?
A pergunta do título pode nos soar estranha, afinal, convivemos cotidianamente com crianças nas escolas, pensando modos de ensinar, planejando atividades, preparando materiais, avaliando processos de aprendizagem... Enfim, preocupamo-nos com o que consideramos ser melhor para as crianças e para o seu futuro como cidadãs. Não é assim?
No entanto, parece faltar um elemento crucial à nossa prática docente: conhecer as crianças. Não nos referimos aqui aos dados pessoais que constam das fichas de matrícula, às informações fornecidas pelas famílias nas entrevistas, nem ao comportamento que as crianças apresentam em sala nem a seu rendimento escolar. Vamos além.
Há estudos produzidos sobre crianças e infâncias em várias áreas de conhecimento, tais como educação, psicologia, sociologia, desenvolvimento cultural, antropologia, geografia da infância, neurociência, ciências médicas, direito. As pesquisas vêm apresentando, ao longo das épocas históricas, diferentes saberes que são muitas vezes conflitantes e antagônicos. Mesmo sem nos darmos conta, esses estudos interferem diretamente na elaboração das políticas públicas para a educação, nas propostas pedagógicas, na seleção dos conteúdos, na produção de livros didáticos, nos instrumentos de avaliação, nos modos de fazer e nos procedimentos que adotamos com as crianças.
Na maioria dos cursos de formação de professores e nas faculdades de Pedagogia, ainda somos preparadas para exercer a função docente na escola bancária
, de que trata Paulo Freire. Nessa escola, os professores transmitem o conhecimento, e os alunos aprendem; as turmas são supostamente homogêneas
; os alunos idealizados apresentam o mesmo nível de desenvolvimento
, estão na mesma etapa cognitiva
e devem aprender certos conteúdos
, previamente selecionados de acordo com a faixa etária e o "grau de