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Em busca do prazer do texto literário em aula de Línguas
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Ebook338 pages5 hours

Em busca do prazer do texto literário em aula de Línguas

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About this ebook

A presente obra reúne estudos e diálogos realizados por investigadores da linha de pesquisa Ensino de Línguas Estrangeiras, pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino da Universidade Federal de Campina Grande. Nos textos, os autores discutem a relação entre a formação do professor de línguas estrangeiras e a influência da interculturalidade, propondo metodologias diferenciadas a determinadas situações. Trata-se de uma iniciativa pertinente aos sujeitos envolvidos com Educação, em todos os seus âmbitos.
LanguagePortuguês
Release dateOct 8, 2014
ISBN9788581485553
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    Em busca do prazer do texto literário em aula de Línguas - Josilene Pinheiro Mariz

    Josilene Pinheiro-Mariz (org.)

    Em Busca do Prazer do Texto Literário em Aula de Línguas

    Copyright © 2014 by Paco Editorial

    Direitos desta edição reservados à Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

    Coordenação Editorial: Kátia Ayache

    Revisão: Sara G. Gersom

    Capa: Márcio Santana

    Diagramação: Renato Santana

    Edição em Versão Impressa: 2013

    Edição em Versão Digital: 2014

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Conselho Editorial

    Profa. Dra. Andrea Domingues (UNIVAS/MG) (Lattes)

    Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha (UFRGS/RS) (Lattes)

    Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa (FURG/RS) (Lattes)

    Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes (UNISO/SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira (UNICAMP/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins (UNICENTRO-PR) (Lattes)

    Prof. Dr. Romualdo Dias (UNESP/RIO CLARO/SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Thelma Lessa (UFSCAR/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes)

    Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes)

    Prof. Dr. Antonio Carlos Giuliani (UNIMEP-Piracicaba-SP) (Lattes)

    Paco Editorial

    Av. Carlos Salles Block, 658

    Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21

    Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100

    Telefones: 55 11 4521.6315 | 2449-0740 (fax) | 3446-6516

    atendimento@editorialpaco.com.br

    www.pacoeditorial.com.br

    Sumário

    Folha de Rosto

    Página de Créditos

    PREFÁCIO: Em busca do prazer do texto literário em aula de línguas

    INTRODUÇÃO

    CAPÍTULO 1: CULTURA, INTERCULTURALIDADE E ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: ALGUNS FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

    INTRODUÇÃO

    1. CULTURA E SUAS CONJECTURAS TEÓRICAS

    2. INTERCULTURALIDADE – TEORIA OU CONDUTA?

    3. CULTURA, INTERCULTURALIDADE E A SALA DE AULA DE LE

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 2: QUESTÕES DE IDENTIDADE E CULTURA NACIONAL NO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO: PERSPECTIVAS E PROPOSTAS

    INTRODUÇÃO

    1. LITERATURA, IDENTIDADE E CULTURA NACIONAL: APROXIMAÇÕES

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 3: SOBRE AS TROCAS INTERCULTURAIS NAS ATIVIDADES COM TEXTO LITERÁRIO EM LIVROS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DO FLE

    INTRODUÇÃO

    1. PELOS CAMINHOS METODOLÓGICOS

    2. IDENTIDADE CULTURAL E LINGUÍSTICA

    2.1 CONSCIÊNCIA DO EU E DO OUTRO

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 4: MARGINALIZAÇÃO DAS LITERATURAS FRANCÓFONAS NAS ANTOLOGIAS E DICIONÁRIOS LITERÁRIOS

    PALAVRAS INICIAIS

    1. A HISTÓRIA DA LITERATURA... E A FABRICAÇÃO DAS FRONTEIRAS

    2. QUANDO CLASSIFICAR É FABRICAR AS FRONTEIRAS

    3. REPENSANDO AS FRONTEIRAS ESTABELECIDAS

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 5: LITERATURAS DITAS FRANCÓFONAS E O ENSINO/APRENDIZAGEM DO FRANCÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM ENCONTRO PERDIDO?

    NOTAS INTRODUTÓRIAS

    1. DE ONDE FALO

    2. ENSINO DE FLE E LITERATURAS FRANCÓFONAS: UMA RELAÇÃO DE DESCONFIANÇA

    3. AS LITERATURAS FRANCÓFONAS E A DIDÁTICA DO FLE: RETICÊNCIAS/ RESISTÊNCIAS: AS LACUNAS E A NORMA

    4. LEGITIMIDADE / ILEGITIMIDADE

    CONCLUSÃO E QUESTÃO: FLE E ELABORAÇÃO DE IMAGINÁRIOS DESALIENADOS: É POSSÍVEL? 

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 6: LEITURA LITERÁRIA E APOIO FÍLMICO: DA LITERATURA À ADAPTAÇÃO

    INTRODUÇÃO

    1. LITERATURA: MATERIALIDADE DA SUBJETIVIDADE SOCIAL, E ENSINO

    1.1 O Estudo do Texto Literário em Contexto de Línguas Estrangeiras

    2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CINEMA E A TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

    2.1 O Ensino da Literatura e a Adaptação Fílmica: Uma Possibilidade

    3. A ADAPTAÇÃO FÍLMICA E SEU USO COMO PARATEXTO

    ALGUMAS CONCLUSÕES

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 7: LENDO OBRAS-PRIMAS PELOS CAMINHOS DA ADAPTAÇÃO: POR UMA FORMAÇÃO LITERÁRIA EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

    INTRODUÇÃO

    1. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE FLE EM QUESTÃO

    2. LITERATURA ADAPTADA NO ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

    2.1 Um Rápido Histórico da Adaptação no Brasil

    2.2 A Literatura Adaptada para Adultos

    3. OBRAS ADAPTADAS EM AULAS DE FLE

    3.1 La Reine Margot, de Alexandre Dumas

    3.2 Madame Bovary, de Gustave Flaubert

    3.3 Maigret et la Jeune Morte, de Georges Simenon

    3.4 Les Trois Mousquetaires, de Alexandre Dumas

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 8: POR UMA LEITURA FRUIÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

    INTRODUÇÃO

    1. UMA PROPOSTA DE LEITURA FRUIÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

    2. CHAPEUZINHO VERMELHO: NEGAÇÃO, RECUSA OU CATARSE?, UM EXEMPLO DE LEITURA LITERÁRIA NA EI

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 9 - LEITURA LITERÁRIA EM AULA DE FLE PARA CRIANÇAS: ENTRE O REAL E O SIMBÓLICO

    INTRODUÇÃO

    1. AS REPRESENTAÇÕES DO UNIVERSO IMAGINÁRIO INFANTIL

    2. A CRIANÇA E O PENSAMENTO SIMBÓLICO

    3. LENDO LITERATURA NA AULA DE FLE PARA CRIANÇAS

    3.1 A Literatura como Ponte entre o Real e o Simbólico

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 10: O DESENVOLVIMENTO DA EXPRESSÃO ESCRITA DO DEFICIENTE VISUAL NAS AULAS DE ESPANHOL: UM OLHAR PARA O TEXTO LITERÁRIO

    INTRODUÇÃO

    1. O PROYECTO ALLENDE: PELO DESENVOLVIMENTO DA EXPRESSÃO ESCRITA EM ESPANHOL (COLÉGIO UNIVERSITÁRIO/COLUN-UFMA)

    2. UM ENFOQUE INCLUSIVO NA EXPRESSÃO ESCRITA EM ESPANHOL

    ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 11: O ENSINO DE LITERATURA CLÁSSICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: DISCURSO E PODER NA SALA DE AULA

    ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    1. CONCEITOS ESSENCIAIS

    2. LITERATURA, DISCURSO E PODER NA EJA: EMBATE COM O LIVRO DIDÁTICO

    2.1 O Livro e a Leitura: A EJA Vista por Dentro

    Tema de leitura em aula de Língua Portuguesa – Pluralidades

    3. ANTES DE LER É PRECISO CONHECER: ANALISANDO A EJA

    4. TENTATIVA DE SÍNTESE: O ENSINO DE LITERATURA NA EJA

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 12: SOBRE O TEXTO LITERÁRIO NAS AULAS DE LÍNGUA ESPANHOLA

    INTRODUÇÃO

    1. UMA ÓTICA SOBRE A LEITURA

    2. Refletindo sobre Leitura Literária

    3. O TEXTO LITERÁRIO EM ELE: TEORIA E PRÁTICA

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 13: GÊNEROS TEXTUAIS E ESTRATÉGIAS PARA A LEITURA LITERÁRIA EM AULA DE FRANCÊS INSTRUMENTAL

    INTRODUÇÃO

    1. CAMINHOS PARA A PESQUISA

    2. ALGUMAS SINALIZAÇÕES SOBRE ESTRATÉGIAS DE LEITURA

    2.1 Leituras Literárias: O Macorvo e O Caco e Les Trois Vérités de Bouc

    2.2 Leitura de um Conto Africano de Tradição Oral

    2.3 Leitura de um Conto Literário Contemporâneo

    ALGUMAS CONCLUSÕES

    REFERÊNCIAS

    CAPÍTULO 14: A LITERATURA NOS ESTUDOS DE COMPREENSÃO E EXPRESSÃO ORAL NO ENSINO DO FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA

    INTRODUÇÃO

    1. UMA BREVE HISTÓRIA DA ORALIDADE NO ENSINO DE LÍNGUAS

    2. UM TEXTO LITERÁRIO NA APRENDIZAGEM DA COMPREENSÃO ORAL EM FLE

    3. REFLEXÕES SOBRE A EXPRESSÃO ORAL

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    Autores

    Paco Editorial

    PREFÁCIO: Em busca do prazer do texto literário em aula de línguas

    Ana Luiza Ramazzina Ghirardi

    Coordenadora do Grupo de Pesquisa: Língua e literatura: interdisciplinaridade e docência Professora de Língua Francesa na UNIFESP

    Língua ou literatura? Por que não língua e literatura?

    A premissa de que língua e literatura são dois processos distintos tem um espaço considerável no universo acadêmico e pode levar a uma redução significativa da dimensão da qual esses dois fenômenos fazem parte. Frequentemente se esquece, na prática das salas de aula, na ideia primeira e poderosa de que a literatura, como manifestação, pressupõe a língua e que a linha que separa essas duas manifestações é tão tênue que nos impede de imaginá-las como elementos insulares.

    De fato, o ensino de uma língua não é feito a partir de um código limitado, organizado em torno de um sistema com regras absolutas. Ele implica apresentação de modos específicos de construir e expressar visões de mundo, de elaborar conjuntos diversos de representações e ideias.

    A língua, em suas múltiplas manifestações, representa o espaço para a construção e a negociação de sentidos. Talvez, por essa dimensão fundamental da linguagem ser tão amiúde esquecida, aprendizes entendem muitas vezes a aula de língua como aula de gramática, reduzindo assim de forma drástica o universo linguajar.

    Precisamos então despertar a atenção e a criatividade do aprendiz para a forma como é negociado o sentido que perpassa toda a estrutura da língua, desde seus aspectos mais formais até suas matizes mais contextuais.É nesse sentido que o ensino de uma língua buscando como suporte um texto literário contribui decisivamente para a compreensão da complexidade fascinante das manifestações linguísticas; o gênero literário permite levar o aprendiz a entender, com maior clareza, a existência de outros modos de produzir, receber e funcionar da língua.

    Ao perceber e compreender a especificidade do uso da linguagem no gênero literário, o aprendiz é levado a vislumbrar possibilidades de um tipo de funcionamento da língua que permite melhor entender a lógica da construção de outros usos da linguagem. A compreensão do literário como gênero passa pela compreensão de usos específicos de recursos e nuances que estão presentes na língua. Nesse processo de olhar a intersecção necessária entre os dois campos (língua/literatura), alarga-se a experiência linguística e aprofunda-se o aprendizado.

    A partir dessa perspectiva, o aprendiz pode compreender a ausência de barreiras efetivas entre esses dois campos do saber. Ao entrever, por exemplo, os efeitos de sentido que decorrem do uso dessa ou daquela estrutura, desse ou daquele tempo, voz ou aspecto verbal, o aprendiz encontra um caminho menos árduo para perceber a língua não como neutra ou estática, mas sim como um sistema complexo de modos de significar e representar.

    Diante dessa perspectiva, cabe a nós mais do que nunca refletir sobre a importância do texto literário em aula de língua e questionar a pertinência desse tipo de texto como ferramenta privilegiada para o ensino de uma língua. Este livro representa um instrumento precioso para qualificar tal debate.

    INTRODUÇÃO

    Em uma demanda natural oriunda das aulas de línguas (materna ou estrangeiras), Em busca do prazer do texto literário em aula de língua reflete um pouco da inquietação que nos foi legada por Roland Barthes, no seu Prazer do Texto e por Marcel Proust na sua inquietante busca do tempo perdido. Como em uma junção de Proust e Barthes, vivemos já há algum tempo em busca desse prazer que não é tão prazeroso, - posto que, por vezes, doloroso-, de se trabalhar um texto tão complexo e polissêmico como o literário, em sala de aula, no âmbito do ensino da língua.

    Citar Jakobson ou Valéry, que discutiram há mais de 30 anos, de modo tão claro, o quanto esses dois domínios são interdependentes; ou, na atualidade, quando estudiosos como Beth Brait e J. L. Fiorin nos apontam em inúmeros textos o quanto a língua e a literatura são elementos indissociáveis, só ratifica a importância de não se perder de vista que esses dois grandes eixos do mundo das Letras é tão indissociável.

    Nesse sentido, este livro reflete essa inquietação que nos nasceu no início dos anos 2000, quando ao cabo de um mestrado em Literatura Francesa, na Faculdade de Filosofia (FFLCH), Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo (USP), me preparava para um doutorado (em literatura francesa? e depois?). Foi assim que busquei estudar um pouco mais essa intrínseca relação no domínio do ensino de línguas estrangeiras (da língua francesa, particularmente), uma vez que trabalhava como professora de língua francesa, na Aliança Francesa de São Luís-MA. Então, como trabalhar literatura quando se é professor de língua?

    As descobertas feitas me mostraram que, na França, essa discussão não é recente e que, no Brasil, foi uma questão didática que precisou separar a Língua da Literatura nas Faculdades de Letras. Evidentemente, essa separação ocasionou uma forma diferente de formar professores como se devêssemos, absolutamente sempre, optar por língua ou por literatura como instrumento de trabalho. E por que não os dois? É possível? A resposta é sim e vem acompanhada de É indispensável!

    Algumas dessas possibilidades estão presentes nesta reunião de escritos que buscam o prazer da leitura em aulas de línguas e, portanto, abordam o texto literário não apenas na aula de língua estrangeira, mas também em momentos especiais como na Educação Infantil e no Ensino Médio, quando o leitor já tem (ou deveria ter) uma maturidade para fazer suas buscas peculiares por textos literários.

    Nessa perspectiva, os quatorze capítulos deste livro circulam em torno dessa temática. Na sua maioria, são frutos de discussões que resultaram (alguns ainda em andamento) em trabalhos de mestrado ou de iniciação científica que oriento ou já orientei . O primeiro capítulo, de Lino Dias Correia Neto, aponta fundamentos ligados aos estudos interculturais que, a nosso ver, é um dos principais caminhos para se abordar o texto literário em aula de língua. Assim, em Cultura, interculturalidade e ensino de língua estrangeira: alguns fundamentos teóricos e metodológicos identificamos o que é o intercultural e a sua importância no ensino de línguas. Já no segundo capítulo, Questões de identidade e cultura nacional no Exame Nacional do Ensino Médio: perspectivas e propostas, Aluska Silva discute um dos pilares do Enem: a preparação para a vida. As reflexões caminham no sentido de mostrar que embora haja uma preocupação com a formação integral do aprendiz, as questões de literatura no Enem ainda estão distantes de preparar para a vida, uma vez que elas estão ainda em uma perspectiva que não aponta para aspectos evidentes de cultura e identidade nacional.

    Em outro bloco, os capítulos de Divaneide Cruz Rocha Luna, Sobre as trocas interculturais nas atividades com texto literário em livros didáticos para o ensino do FLE, de Ferroudja Allouache, Marginalização das literaturas francófonas nas antologias e dicionários literários e de Nicole Blondeau, refletindo sobre Literaturas ditas francófonas e o ensino/aprendizagem do francês língua estrangeira: um encontro perdido?¹ encontramos uma necessária reflexão sobre o material didático que dá apoio ao ensino do francês. Nesses três capítulos, percebemos o quanto os textos literários ainda são negligenciados nos livros didáticos e demais materiais que dão suporte ao ensino do FLE.

    Em um terceiro momento, encontramos Leitura literária e apoio fílmico: da literatura à adaptação, de Nyeberth Emanuel Pereira dos Santos e Lendo obras-primas pelos caminhos da adaptação: por uma formação literária em língua estrangeiras de Josilene Pinheiro-Mariz, textos nos quais são ressaltadas as questões de adaptação como um dos principais recursos para um letramento literário em língua estrangeira.

    Na continuidade, Núbia Verônica Ferreira Avelino e Maria Rennally Soares da Silva trazem experiências de leituras literárias em um espaço que por vezes, é esquecido, o universo infantil; a primeira, com Por uma leitura fruição na Educação Infantil e a segunda com Leitura literária em aula de FLE para crianças: entre o real e o simbólico. Ainda dentro de um universo menos favorecido, Marinez Souza Tamburini Brito propõe textos literários em língua espanhola a estudantes de baixa visão e Aldenora Márcia Chaves Pinheiro Carvalho a estudantes da Educação de Jovens e Adultos. Essas propostas são feitas em O desenvolvimento da expressão escrita do deficiente visual nas aulas de espanhol: um olhar para o texto literário e em O ensino de literatura clássica na educação de jovens e adultos: discurso e poder na sala de aula. Ainda na língua espanhola, Isolda Alexandrina Silva Beserra apresenta reflexões Sobre o texto literário nas aulas de língua espanhola, considerando a formação inicial do professor dessa língua em um contexto de formação de professores de espanhol.

    Os dois últimos capítulos são fruto de pesquisas de iniciação científica, já concluídas: Gêneros textuais e estratégias para a leitura literária em aula de francês instrumental, de Janaína Araújo Coutinho e A literatura nos estudos de compreensão e expressão oral no ensino do francês língua estrangeira, de Viviane Moraes de Caldas Gomes. Esses textos mostram que desde a primeira formação científica, o estudante de Letras deve ter a consciência que Língua e Literatura são indissociáveis e, portanto, necessários à formação do profissional.

    Este livro contou com a leitura de Patrícia Pinheiro Menegon e Francinaldo de Souza Lima a quem agradecemos imensamente.

    Assim, caro leitor, saboreie os textos com sabor, como nos diria Barthes, e encontre o prazer nesta leitura.

    Josilene Pinheiro-Mariz

    (organizadora)

    Nota

    1. Esses dois textos contaram com o apoio da tradução de duas estudantes de Letras Português/Francês: Jéssica Rodrigues Florêncio e Déborah Alves Miranda.

    CAPÍTULO 1: CULTURA, INTERCULTURALIDADE E ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: ALGUNS FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

    Lino Dias Correia Neto

    INTRODUÇÃO

    O tratamento do componente cultural no ensino de língua estrangeira (doravante LE) tem ocupado um lugar importante na agenda de pesquisas em linguística aplicada. Tomada a consciência de que os elementos estruturais não são suficientes para apoiar a comunicação e a interação, estudiosos da área apontam elementos que, mesmo não sendo restritamente linguísticos, oferecem subsídios para garantir a interação. No ensino e aprendizagem de LE, o componente cultural constitui um campo de análise em relação de linearidade com a língua/linguagem já que, em diversas pesquisas e ensaios, encontramos a terminologia ensino e aprendizagem de língua-cultura (Zarate, 1988; Verbunt, 2011, 2012; Amossy, 2005; Windmüller, 2011), o que já pode nos revelar a constituição de um paradigma de ensino e aprendizagem de LE em que a língua e a cultura são elementos relacionais e, portanto, interdependentes.

    Diante das consequências oriundas da globalização e dos incessáveis avanços das tecnologias de comunicação, podemos afirmar que o diálogo entre culturas é uma proeminência cotidiana. O contato com o outro não está mais condicionado às fronteiras geográficas como outrora. Como efeito, as diferenças entre os sistemas culturais são colocadas em relevo e as representações sociais que os membros de determinada cultura têm sobre as outras ganham um caráter mais ativo e dinâmico, dada a fluidez de informação e a maior possibilidade de interação como outro. Dentro dessa realidade, é observável a emergência de uma interação dialógica respaldada pela alteridade entre os sujeitos de diferentes culturas.

    Esse fenômeno traz novas demandas significativas para o processo de ensino e aprendizagem de uma LE. No ambiente de aprendizagem formal, a sala de aula é um espaço onde as representações sociais circulam entre os sujeitos envolvidos no processo – aluno e professor – e os recursos didáticos. Com propriedade, podemos afirmar que essas representações são capazes de interferir desde o momento de escolha da língua a ser estudada até as interações em contextos comunicacionais autênticos. Quanto aos recursos didáticos, reconhecemos que eles têm um papel importante e são um meio de transmissão de representações sociais. Contudo, em alguns casos, acreditamos que eles também sejam capazes de abordar esses elementos usando pressupostos que relativizam a cultura do outro, capazes de desenvolver nos aprendizes uma sensível capacidade de lidar com diferença cultural promovendo uma abertura para o conhecimento de si mesmo através de uma relação de flexibilidade entre as culturas envolvidas.

    Neste capítulo, apresento alguns fundamentos elementares para tratar dos aspectos (inter) culturais na aula de LE. Considerando a gama de conceitos atribuídos aos termos cultura e interculturalidade, selecionamos e discutimos os aspectos teóricos que contribuem diretamente com a elaboração de uma abordagem intercultural para o ensino de LE. Fundamentos que são capazes de direcionar e interpretar o posicionamento dos recursos presentes no processo de ensino e aprendizagem, sejam eles humanos ou materiais.

    1. CULTURA E SUAS CONJECTURAS TEÓRICAS

    A partir de diversos pressupostos epistemológicos, podemos encontrar distintas definições do termo cultura. Nas diferentes formas de apresentar seus significados, o que observamos em comum é a presença do algoritmo humano material ou imaterial com destaque em aspectos como conhecimento, sociedade ou comportamento. Assim, os estudiosos de diferentes áreas apresentam concepções de cultura atendendo às suas implicações ao objeto de estudo do seu ramo de conhecimento. Embora reconheçamos essa diversidade de fragmentos teóricos, trataremos especificamente de duas concepções de cultura: a antropológica e a sociológica. Em seguida, apresentaremos suas alusões nos estudos sobre cultura na linguística aplicada.

    Laraia (2008, p. 25) reconhece que Edward Tylor (1871) foi o primeiro a definir cientificamente o termo cultura do ponto de vista antropológico. Em sua definição, Tylor (apud Laraia, 2008) diz que o termo reflete um

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