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Gestos e Paralinguagem em Narrativas Orais Populares
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Gestos e Paralinguagem em Narrativas Orais Populares

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Gestos e paralinguagem em narrativas orais populares lança um novo olhar sobre as narrativas orais, ao investigar, à luz da Análise da Conversação, os gestos e a paralinguagem produzidos pelos contadores de histórias do imaginário popular. A obra propõe-se a descrever e analisar esses elementos não verbais para ratificar a hipótese de que eles não só desempenham funções relacionadas à construção do sentido das narrativas orais, contribuindo, assim, para a coesão e a coerência desse gênero textual, mas também atuam no contexto da percepção dos sujeitos engajados no ato de contar histórias, favorecendo, dessa forma, o processo de acercamento e compreensão das narrativas por parte do ouvinte. O autor revela que os gestos e os recursos paralinguísticos "entonação enfática" e "alongamento vocálico" funcionam como marcadores não verbais que coatuam com marcadores discursivos verbais para produzir a coesão e a coerência dos fatos narrados, bem como para imprimir certas impressões na audiência, provocando nos ouvintes situações de tensão, suspense, medo, humor, satisfação etc., a fim de promover-lhes maior interesse pela história relatada. Ademais, tomando como base as diferentes instâncias enunciativas em que os gestos são produzidos, o autor descreve e explica o fenômeno que designou de policinésica, o qual consiste na multiplicidade de gestos manifestos pelos contadores de história ao longo do processo interacional em que as narrativas são contadas. Por seu conteúdo inovador e pela abordagem diferenciadora ao tratamento dos gestos e da paralinguagem nas narrativas orais do imaginário popular, este livro, de linguagem simples e acessível, torna-se uma leitura substancial a todos aqueles que se interessam por descobrir ou conhecer um pouco mais sobre os variados papéis dos elementos não verbais na comunicação humana.
LanguagePortuguês
Release dateNov 19, 2018
ISBN9788547310790
Gestos e Paralinguagem em Narrativas Orais Populares

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    Gestos e Paralinguagem em Narrativas Orais Populares - Antonio Messias Nogueira da Silva

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

    Aos meus dois amores,

    Antonio Martínez Nodal e Teo da Silva Nodal,

    por todo amor e cuidados a mim dispensados,

    e por estarem sempre presentes e engrandecerem,

    dia após dia, minha vida.

    AGRADECIMENTOS

    À Maria Eulália Sobral Toscano, pela amizade sincera e inquestionável, pelo constante incentivo, seriedade e paciência com que sempre me tem orientado e tratado.

    À Megan Parry de Castro Duque Estrada (in memoriam), pelas ótimas ideias, sugestões preciosas e inspiração constante.

    À Isabel Cristina Rodrigues Soares, à Fátima Cristina Pessoa Rocha, à Célia Macêdo de Macêdo e à Maria do Socorro Simões, pelo ânimo e pelas valiosas contribuições acadêmicas.

    Às minhas famílias brasileira e espanhola, pelas permanentes demonstrações de carinho, compreensão e estímulo.

    APRESENTAÇÃO

    As narrativas orais populares, cuja temática versa sobre as histórias de encantamento e assombração, são relatos de experiência pessoal ou de experiência vicária dos contadores. Essas histórias são ricas em personagens do imaginário popular, desde aqueles que protagonizam lendas regionais até os que participam de histórias de caráter particular dos contadores. Partindo da hipótese de que os fenômenos não verbais apresentam-se com múltiplas funções nessas narrativas, pois desempenham funções textuais relacionadas aos processos de construção do texto e funções discursivas atinentes ao processo de condução da interação e ainda à tensão entre o mundo imaginário e o real, comprometendo-se com a veracidade do universo narrado e concorrendo para a criação de um efeito de verdade, neste livro procuro identificar o papel dos gestos e da paralinguagem nas narrativas orais populares, no sentido de contribuir para as investigações linguísticas ou não linguísticas que se desenvolvem sobre tais narrativas. Trata-se de um estudo sobre elementos de variada natureza, dimensão, aparentemente supérfluos para a compreensão do fato narrado, mas de indiscutível significação e relevância para qualquer análise de texto oral e para sua boa e perfeita compreensão.

    Antonio Messias Nogueira da Silva

    PREFÁCIO

    Gestos e paralinguagem em narrativas orais populares tematiza os usos e as funções dos elementos não verbais (gestos e paralinguagem) em histórias que fazem parte do imaginário popular.

    O trabalho de Antonio Messias Nogueira da Silva distingue-se pela revisão da literatura, até então existente, sobre a comunicação não verbal, e pelo tratamento analítico dado às narrativas orais. Ademais, inegável é sua importância para o registro de narrativas que constituem a memória e a identidade cultural do brasileiro.

    O autor faz um trabalho de garimpagem bibliográfica sobre os estudos realizados sobre a comunicação não verbal e, assim, faz desfilar aos olhos do leitor diferentes taxionomias e posições, todas, contudo, destacando a importância da comunicação não verbal para a construção dos sentidos do texto e a condução do processo interacional.

    Ainda que afirme que gestos e paralinguagem são fenômenos diferentes no âmbito da comunicação não verbal, o autor considera que um gesto pode ser de natureza paralinguística quando pertencer ao domínio vocal, ou de natureza cinésica quando pertencer à linguagem corporal¹, o que destaca o movimento expressivo que tal noção encerra.

    Com base na análise das narrativas orais populares, o autor elege, como objeto de estudo, o que se configura como produtivo e recorrente na dimensão não linguística desse gênero textual, qual seja, os gestos e a paralinguagem. E, da análise minuciosa dessas narrativas, propõe uma classificação para os tipos e para as funções desses elementos não verbais.

    No que tange aos tipos de gestos, classifica-os em lexicais e não lexicais. O primeiro tipo insere-se na construção textual, funcionando como palavras; o segundo tipo coocorre com o ato verbal, representando-o visualmente e imprimindo-lhe dramaticidade.

    No que diz respeito às funções dos gestos e da paralinguagem, tem-se que esses elementos não verbais operam na dimensão do texto e na dimensão do discurso. Na dimensão textual, tecem os fatos narrados de forma coesa e coerente, e, na dimensão discursiva, geram efeitos de sentido (suspense, humor, tensão), sinalizam mudança de enquadre interativo e conduzem a interação.

    Por fim, o autor cunha o termo policinésica, a partir do fenômeno da polifonia, para referir a multiplicidade de gestos oriundos de diferentes fontes enunciativas:

    [...] gestos produzidos pelo entrevistado/informante (sujeito que participa da entrevista); gestos produzidos pelo narrador (entrevistado enquanto narrador), a quem o entrevistado atribui a responsabilidade pela enunciação; e gestos produzidos pelos personagens em um nível mais interno de interação.²

    E, com base na recorrência funcional dos gestos em relação a essas fontes enunciativas, define a cinésica do entrevistado, a do narrador e a dos personagens.

    Considero que a pesquisa empreendida pelo autor contribui, de forma significativa, para os estudos da fala em interação, por destacar a importância dos elementos não verbais na produção dos sentidos do texto, e no contexto de produção e recepção dos enunciados. Ressalto, ainda, que o tratamento dado ao corpus, seja em termos de registro e transcrição, seja em termos de análise, aponta para o rigor teórico-metodológico que orientou a construção do trabalho.

    Um livro, certamente, de leitura obrigatória para todos aqueles que se deixam seduzir pela comunicação não verbal e pela interação face a face, bem como para os que são fascinados pela arte de contar histórias e pela magia e encantamento dos personagens que habitam o imaginário popular.

    Professora doutora Maria Eulália Sobral Toscano

    Universidade Federal do Pará

    SUMÁRIO

    capítulo 1

    INTRODUÇÃO

    1.1 ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO E ELEMENTOS NÃO VERBAIS NAS NARRATIVAS ORAIS

    1.2 ESCOLHA DO GÊNERO NARRATIVA ORAL 

    capítulo 2

    COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL

    capítulo 3

    ELEMENTOS NÃO VERBAIS: PARALINGUAGEM E CINÉSICA

    3.1 FENÔMENO DA PARALINGUAGEM 

    3.2 FENÔMENO DA CINÉSICA 

    capítulo 4

    TIPOS E FUNÇÕES DOS GESTOS NAS NARRATIVAS ORAIS

    4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS GESTOS QUANTO AO TIPO 

    4.1.1 Tipo lexical 

    4.1.2 Tipo não lexical 

    4.2 CLASSIFICAÇÃO DOS GESTOS QUANTO ÀS FUNÇÕES

    capítulo 5

    MARCADORES CINÉSICOS E PARALINGUÍSTICOS ENTONAÇÃO ENFÁTICA E ALONGAMENTO VOCÁLICO NAS NARRATIVAS ORAIS

    5.1 FUNÇÕES DOS MARCADORES NÃO VERBAIS 

    5.1.1 Função de destacar (marcadores não verbais de relevo positivo) 

    5.1.1.1 Relevo positivo estabelecido por marcadores cinésicos e marcador paralinguístico alongamento vocálico 

    5.1.1.2 Relevo positivo estabelecido por marcadores cinésicos e marcador paralinguístico entonação enfática 

    5.1.2 Função de reforçar (marcadores cinésicos reforçadores) 

    5.1.3 Função de demonstrar ações

    5.1.4 Marcadores cinésicos dêiticos 

    5.1.5 Marcadores cinésicos finalizadores da narrativa 

    capítulo 6

    FENÔMENO DA POLICINÉSICA NAS NARRATIVAS ORAIS

    6.1 DIFERENTES NÍVEIS DE INTERAÇÃO DA POLICINÉSICA

    6.2 DIFERENTES CINÉSICAS: CINÉSICA DO ENTREVISTADO, CINÉSICA DO NARRADOR E CINÉSICA DOS PERSONAGENS 

    6.2.1 Cinésica do entrevistado 

    6.2.2 Cinésica do narrador 

    6.3.3 Cinésica dos personagens 

    PALAVRAS FINAIS

    REFERÊNCIAS

    SÍMBOLOS EMPREGADOS NA TRANSCRIÇÃO DAS NARRATIVAS ORAIS POPULARES

    MOSTRA DE NARRATIVAS ORAIS POPULARES

    capítulo 1

    INTRODUÇÃO

    Lembro os olhos tão verdadeiros de meu pai, a voz verossímil, o tom seguro, os gestos honestos³ que adotava ao nos contar, distribuindo verdade às suas palavras, que tanta certeza me davam da existência daquele ente encantado.

    ~Izabel Cristina R. Soares

    As histórias de botos, matintapereras, cucas, mapinguaris, boitatás, mulas sem cabeça, curupiras, mães d’água, cobras grandes, visagens, lobisomens, vaqueiros misteriosos, pais da mata etc., habitantes dos rios, das matas e de pequenos interiores das regiões do Brasil, mantêm-se vivas em nossas lembranças da mesma forma como aqueles que as relataram se mantêm. Quem conta uma história dessas, além de dar vazão a momentos inesquecíveis do passado, como aqueles de nossa infância, permite que nos recordemos serena e ternamente, na idade adulta, de nossos avós, pais, tios, vizinhos, amigos e de lugares especiais pelos quais passamos quando crianças.

    Quem é brasileiro, ou mesmo aquele que não o é, mas morou ou mora durante anos em alguma região do Brasil, conhece a magia e o fascínio dessas histórias que habitam o imaginário do povo. Narrativas orais que mantêm vivos, no universo do brasileiro, seres encantados que enfeitiçam nossas mentes, nos amedrontam, nos seduzem, alimentam a nossa imaginação, os nossos sonhos, nos transportam para um mundo fantástico cujo cenário reflete a imagem de nossas matas, rios, igarapés, noites em interiores ribeirinhos, personagens heroicos, encantados ou assustadores.

    Ler e analisar essas histórias sob o enfoque linguístico é uma maneira de contribuir para o registro e o resgate das narrativas orais populares que fazem parte de um acervo literário produzido pela voz e pela memória do povo; além, é claro, de homologar a importância do ato de contar histórias, costume popular necessário para a preservação da memória e da identidade cultural do brasileiro. Acredito que essas histórias se fixam na memória das pessoas não apenas pelo fato de serem mágicas, encantadoras e impressionistas, mas também pelos diversos recursos linguísticos e não linguísticos de que se valem os contadores para as transmitirem no momento da interação. Onomatopeias, interjeições, silêncios, recursos suprassegmentais, em geral, e os gestos, principalmente, atribuem à voz do narrador maior valor de verdade, certeza da existência do ser encantado, legitimando o fato narrado e tornando-o, ao longo do tempo, vivo na memória de várias outras gerações.

    Os elementos extralinguísticos empregados durante a interação em que as narrativas orais são contadas são tão significativos quanto o estudo de outros fenômenos linguísticos ou suprassegmentais que também ocorrem no ato dessa interação. Os gestos e os recursos paralinguísticos entonação enfática e alongamento vocálico, por exemplo, atribuem maior veracidade ao universo narrado e concorrem para a criação de um efeito de verdade da história contada. No caso dos gestos, esses elementos exercem um papel bastante relevante no contexto da percepção dos sujeitos engajados no ato de contar histórias, visto que a postura que se emprega e as expressões faciais e corporais, que acompanham a intencionalidade do narrador e dos personagens, favorecem o processo de acercamento e compreensão dessas narrativas. A função desses gestos, nas narrativas orais, é pontuar o discurso do narrador, apresentando-se nesse discurso como uma espécie de sinalização interpretativa, sugerindo ao ouvinte (narratário) como o seu texto deve ser compreendido. Duque Estrada⁴ também fez essa mesma observação quando desenvolveu pesquisa sobre os marcadores linguísticos empregados nas narrativas orais paraenses. Tal observação é válida, da mesma forma, para os elementos extralinguísticos que fazem parte do processo interacional em que essas narrativas são produzidas. No que concerne aos recursos paralinguísticos entonação enfática e alongamento vocálico, tais elementos coatuam com os gestos na construção da coesão e da coerência e na recepção do discurso narrativo oral, bem como ajudam a imprimir certas impressões na audiência, fomentando nos ouvintes situações de tensão, suspense, medo, humor, satisfação etc., a fim de promover-lhes maior interesse pela história relatada.

    Apesar de os elementos não verbais serem fundamentais para a construção do sentido dos textos orais, as pesquisas relacionadas à linguagem não verbal ainda são escassas no Brasil. Geralmente, as investigações até então realizadas têm limitado o seu escopo a análises de textos conversacionais do tipo diálogo e se voltado para os elementos verbais primordialmente. Nesta obra pretendo fazer uma abordagem diferente: seu objetivo maior é descrever e analisar, à luz da Análise da Conversação (AC), os fenômenos não verbais (os gestos e os recursos suprassegmentais entonação enfática e alongamento vocálico), produzidos pelos contadores de histórias do imaginário popular. É, portanto, uma nova proposta em termos de análise dos fenômenos não verbais, tendo em vista que se prende a investigar a ocorrência e a recorrência desses fenômenos ainda não tão explorados por pesquisadores, no gênero discursivo narrativa oral.

    1.1 ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO E ELEMENTOS NÃO VERBAIS NAS NARRATIVAS ORAIS

    Estudar as narrativas orais à luz da Análise da Conversação (AC), debruçando-me, precisamente, sobre os gestos e os fenômenos paralinguísticos entonação enfática e alongamento vocálico, assim como sobre o fenômeno que aqui intitulo policinésica⁵, tornou-se, a priori, uma decisão audaciosa, pois, pelo que parece, ainda são poucos os estudos desenvolvidos sobre tais fenômenos sob essa perspectiva teórica.

    A AC tem suas origens no seio da Etnometodologia, com os teóricos norte-americanos Emanuel Schegloff, Harvey Sacks e Gail Jefferson. Ao investigar a linguagem em situações reais de uso, e não em enunciados isolados, a AC objetiva explicitar os procedimentos utilizados pelos falantes para conduzirem suas ações, cuja realização ocorre durante um encontro social, com vistas à intercompreensão. Partindo da ideia de que para a Etnometodologia a conversação é uma instância básica da vida social, uma verdadeira instituição que penetra em todas as relações sociais⁶, considero que o processo de interação em que as narrativas orais são contadas inscreve-se num tipo de conversação que tem como propósito construir relações sociais entre as pessoas, de modo a revelar suas experiências, conhecimentos, visões de mundo etc. Para a consecução desse fim, postulo ser difícil, no tipo de encontro social em que as narrativas são relatadas, imaginar narrativas orais bem-sucedidas, caso não fizermos uso dos mais diversos recursos que entram em ação durante a atividade de linguagem, ou seja, se não nos valermos dos fenômenos gestuais e paralinguísticos conjuntamente com o linguístico.

    Segundo Marcuschi⁷, a AC considera que a interação verbal é um espaço onde se empreende uma atividade de cooperação mútua que visa à intercompreensão entre os interactantes. Para ratificar essa afirmação o autor lembra que:

    Iniciar uma interação significa, num primeiro momento, abrir-se para um evento cujas expectativas mútuas serão montadas. Em certos casos, há alguém que inicia com um objetivo definido em questão de tema a tratar e então supõe que o outro esteja de acordo para o tratamento daquele tema, o que indica que além do tema em mente ele tem também uma pressuposição básica, que é a aceitação do tema pelo outro. Iniciada a interação, os participantes devem agir com atenção tanto para o fato linguístico como para os paralinguísticos, como os gestos, os olhares, os movimentos do corpo, e outros.

    Essa observação de Marcuschi revela que os elementos não verbais também contribuem para a eficácia e a coerência da conversação e para o funcionamento total da interação verbal, gerando os sentidos pretendidos pelos produtores dos textos. Sendo assim, a interação se constrói com esses elementos tão diversos e tão necessários à comunicação e às atividades de linguagem.

    Segundo Gumperz, a AC deve preocupar-se, sobretudo, com a especificação dos conhecimentos linguísticos, paralinguísticos e socioculturais que devem ser partilhados para que a interação seja bem-sucedida⁹. Fundamentado nessa e em outras preocupações da AC, as quais ressaltam o aspecto interacional dos encontros sociais, trato de situar este estudo dentro das correntes teóricas dessa subárea da Linguística. Como a AC procede pela indução e suas bases analíticas partem de dados empíricos em situações reais (o foco é apontado para situações específicas que ocorrem durante a conversação), que refletem e produzem o conhecimento prático, considero pertinente e necessário fundamentar este trabalho em suas orientações teóricas e metodológicas, não só por ela refletir o objeto principal desta obra – descrição e análise de elementos não verbais que se evidenciam nas interações em que as narrativas orais são contadas – mas também por apresentar em suas bases metodológicas uma vocação naturalista com a prevalência de descrições e interpretações qualitativas.

    Portanto, por influência da AC, neste estudo, levo em conta o princípio de que aquilo que é dito – entenda-se aqui como aquilo que é dito por meio do verbal e do não verbal – proporciona não só os dados para o desenvolvimento de análises, mas a certeza para obter conjecturas e conclusões, pois, segundo Schiffrin, é a própria conduta dos participantes que deve fornecer evidência da presença de unidades, da existência de padrões e da formulação de regras¹⁰.

    1.2 ESCOLHA DO GÊNERO NARRATIVA ORAL

    A escolha do gênero narrativa oral partiu da apreciação de um projeto intitulado O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia

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